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Resumo do seminário de bio da conservação

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ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO EM NÍVEL REGIONAL: PRIORIZAÇÃO DE ÁREAS E CORREDORES DE BIODIVERSIDADE (ROBERTO B. CAVALCANTI)
· Objetivo
O objetivo de uma estratégia de conservação é munir a sociedade de mecanismos que permitam promover a proteção dos recursos naturais e sistemas biológicos com eficiência. Cabe ao governo implementar as estratégias de conservação, entretanto, é de responsabilidade da população, em geral, manter os meios para sustentar as gerações futuras. Os cientistas e ambientalistas tem responsabilidade de fornecer informações que validam as abordagens propostas para assegurar a conservação dos ecossistemas naturais e das espécies que neles existem.
· Obstáculos da Priorização
Devido a crescente ocupação antrópica na paisagem, necessita-se cada vez mais de serem estabelecidas prioridades para áreas conservadas. Para evitar a destruição inconsequente da biodiversidade, as necessidades de conservação têm de ser articuladas de modo que a sociedade tenha os instrumentos para avaliar os custos e benefícios futuros de suas ações no que se refere ao meio ambiente.
Um obstáculo muito grande para se determinar a prioridade de uma área é a limitação do conhecimento de campo sobre a biodiversidade, tanto no aspecto taxonômico quanto no geográfico. Grandes áreas do país ainda são desconhecidas biologicamente, muitos grupos são também mal conhecidos, poucos cientistas capazes de identificar as espécies e com pouquíssimas coleções de referência existentes, ou seja, a falta de informações impede a avaliação correta do valor das áreas. 
· Experiência com “Workshops”
1990, Manaus, Workshop 90. Esforço pioneiro de um conjunto de organizações governamentais e não governamentais com objetivo de identificar áreas mais importantes para a conservação em toda a Amazônia. Para isto optaram por um “consenso entre os especialistas, com apoio de informações científicas”.
100 cientistas foram distribuídos em áreas temáticas por critério taxonômico e cada grupo gerou um mapa de prioridade, segundo a sua visão. Os mapas foram sobrepostos usando sistemas de informações geográficas e obteve-se o nível de prioridade de conservação a partir do grau de coincidência de indicação por múltiplos grupos. Para isto foram combinados elementos subjetivos (opinião do especialista) com critérios objetivos (dados científicos de cada área). O critério de priorização foi refletido no consenso de opiniões, mas não garante a replicabilidade dos resultados, por ser dependente dos especialistas consultados.
O resultado desse evento estimulou a adoção desse método para realizar a avaliação de todos os biomas brasileiros. A metodologia foi aperfeiçoada em 1993 devido a realização do diagnóstico para a Mata Atlântica do Nordeste (1994). Os dados básicos de mapeamento de espécies foram coletados de antemão e organizados pelos coordenadores. De forma semelhante os dados de cobertura florestal e localização de áreas protegidas foram compilados pela equipe de geoprocessamento das entidades organizadoras. Os consensos gerais entre as prioridades indicadas por grupos taxonômicos foram feitos por grupos integradores, e não por sobreposição de polígonos temáticos. Ainda, cada área foi classificada conforme seu valor biológico e tipo de ação de conservação mais importante: criação de novas unidades, consolidação de unidades já existentes, manejo ou recuperação de áreas degradadas. 
Com base nos Workshops citados acima, foi estabelecida uma metodologia adotada de forma consciente para todos os demais exercícios (MMA, 1999):
1. Coleta de dados básicos como unidades políticas, rios, relevo, tipos de vegetação, centros populacionais, e densidade populacional mapeados em SIG.
2. Definição de grupos temáticos para avaliar as prioridades de conservação durante o Workshop: Fatores Abióticos, Botânica, Invertebrados, Biota Aquática, Répteis e Anfíbios, Aves, Mamíferos, Socio-economia e Desenvolvimento e UCs.
3. O coordenador de cada grupo se encarrega de organizar de antemão informações para cada grupo biológico, incluindo: resumo do conhecimento científico para a região na sua área de especialidade, com localidades inventariadas, esforço de inventário e principais publicações.
4. Fazer a interação, antes do Workshop, das informações coletadas sobre os grupos temáticos, representadas em mapas de cobertura vegetal, UCs, pressão antrópica, localidades de inventário científico e distribuição de espécies endêmicas, raras e ameaçadas de extinção.
5. Realização do Workshop em quatro etapas. Na primeira, um conjunto de apresentações para mostrar os resultados dos estudos prévios e nivelar o conhecimento entre os especialistas anteriores. Na segunda, reunião dos grupos temáticos para definir as áreas prioritárias para a conservação a visão de sua especialidade e tendo sido selecionadas através dos critérios: riqueza de spp, nível de endemismo, presença de spp rapas e/ou ameaçadas e presença de fenômenos únicos de alta importância biológica. Na terceira etapa, os grupos fazem a conciliação das prioridades identificadas por grupo temático, usando o grau de sobreposição entre as áreas e a importância biológica atribuída pelos especialistas, gerando um mapa dessas áreas. Na quarta etapa, todos dos participantes se reúnem em plenária para discutir e consolidar as áreas prioritárias definidas em um único mapa para o bioma.
6. Distribuição dos resultados na forma de mapa, sumário executivo e publicações. Apoio às entidades governamentais e não governamentais para implementação das recomendações do Workshop.
Surgiram algumas dificuldades devido à dependência dos diagnósticos através do consenso de especialistas. Primeiramente, a subjetividade deste consenso dificulta a reanálise e a atualização das prioridades. Por outro lado, o processo de geração de consenso da grande solidez política ao processo, facilitando a ação governamental e a alocação de recursos.
Em todos os aspectos, os Workshops cumpriram sua função de mobilizar a comunidade e dar condições a mecanismos mais preciosos de priorização da conservação.
· Corredores de Biodiversidade
São grandes polígonos contínuos de escala regional, que incluem ecossistemas e espécies prioritárias para a conservação de determinado bioma e onde áreas protegidas estão conectadas entre si na matriz da paisagem. Esse conceito de corredores de biodiversidade foi incorporado por Ayres et al. (1997), dentro do Plano Piloto para as Florestas Taropicais (PP-G7). Foram designados 7 corredores, sendo 5 cindo na Amazônia e dois na Mata Atlântica. 
O Corredor Central da Amazônia, o Corredor Central da Mata Atlântica e o Corredor Cerrado-Pantanal têm recebido um importante apoio financeiro e técnico de diversas agências de cooperação multilaterais e bilaterais, ONG’s, órgãos de governo, instituições acadêmicas e científicas, órgãos da sociedade e comunidade.
Os conceitos de corredores de biodiversidade e corredores ecológicos são distintos. Os corredores de biodiversidade visam manter a integridade da biota regional em grandes unidades da paisagem sujeitas a uma matriz de usos econômicos e conservacionistas. Já os corredores ecológicos referem-se a estratégias para manter e recuperar processos biológicos e a conectividade entre fragmentos de biota natural inseridos numa matriz de uso antrópico (BENNETT, 2003).
· Ações de conservação em Corredores de Biodiversidade
O Corredor Central da Mata Atlântica, com 86.000km², abrange algumas das áreas de maior importância biológica do bioma, no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo, inseridas em uma paisagem de altíssima fragmentação e avanços continuados de atividades de desmatamento (AGUIAR et al., 2003). A estratégia de conservação para este corredor tem enfatizado a recuperação florestal com finalidade de reconectar os grandes fragmentos, a criação de áreas protegidas públicas e privadas e a promoção de atividades econômicas e sociais que visam diminuir a pressão da derrubada das florestas nativas.
· Perspectivas para o futuro
Há alguns motivos para o otimismo..!
Na Mata Atlântica, a sucessãode campanhas de sensibilização, aliada a ações significativas dos governos estaduais e federal, como por exemplo, o Decreto 750, que proíbe a derrubada de floresta primária e aquela em estado avançado de regeneração, tem gerado um consenso popular de que a responsabilidade coletiva destina-as para a preservação e recuperação deste bioma.
O grande crescimento de organizações da sociedade civil, bem como o envolvimento dos sistemas de educação pública e pesquisa científica têm fornecido meios e pessoas capazes e motivadas para a conservação.
O grande obstáculo continua sendo a fragilidade institucional, aliada a pressão econômica e populacional, caracterizando erosão contínua das áreas mesmo quando nominalmente protegidas. Seria indispensável estabelecer imediatamente compromissos quantitativos com a manutenção das florestas e ecossistemas associados, sistemas hídricos e espécies que neles habitam.
· Referencial Bibliográfico
AGUIAR, A. O., CHIARELLO, A. G., MENDES, S. L. & MATOS, E. N. 2003. The Central and Serra do Mar Corridors in the Brazilian Atlantic Forest. Pp. 118-132. In Galiando-Leal, C. & I. de Gusmão Câmara (eds.). The Atlantic Forest of South America. Island Press, Washington, DC, USA, xviii+488 pp.
BENNET, A. F. 2003. Linkages in the Landscape: The Role of Corridors and Connectivity in Wildlife Conservation. IUCN, Gland, Switzerland and Cambridge, UK. xiv + 254 pp.
Ministério do Meio Ambiente, Funatura, Conservation International, Fundação Biodiversitas, Universidade de Brasília. 1999. Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Pantanal. 26p. Brasília, DF.
ROCHA, C. F D., BERGALLO, H. G., VAN SLUYS, M., ALVES, M. A. S. (2006), Biologia da conservação: Essências. São Carlos: Editora RiMa, 2006, cap. 14.

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