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SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO Obj 1- Revisar anatomia da mão Obj 2- Definir a epidemiologia, etiologia , fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da síndrome do túnel do carpo. (fazer um comparativo entre os testes de phalen, allen e tínel). ANATOMIA DA MÃO A mão é composta pelo carpo, metacarpo e falanges, sendo uma região altamente sensível devido às terminações nervosas sensitivas para tato, dor e temperatura. • Carpo: Constituído por 8 ossos dispostos em duas fileiras para ampliar os movimentos da articulação do punho. Na fileira proximal, encontramos o escafoide, semilunar, piramidal e pisiforme. Na fileira distal, estão o trapézio, trapezoide, capitato e hamato. • Metacarpo: Formado por 5 ossos que compõem a estrutura da palma da mão. Cada osso possui uma base, corpo e cabeça, articulando-se com as falanges proximais. • Falanges: Cada dedo possui três falanges, exceto o polegar que possui apenas duas (proximal e distal). As falanges têm uma base proximal, corpo e cabeça distal. As falanges proximais são maiores e as distais são achatadas nas extremidades sob as unhas. • Inervação: Os nervos C5-C8 e T1 formam o plexo braquial, que fornece a maioria da inervação para os membros superiores. Cinco grandes ramos terminais se originam do plexo braquial, incluindo o nervo axilar, musculocutâneo, radial, mediano e ulnar. • Túnel do Carpo: É uma passagem onde o nervo mediano corre junto com os tendões dos músculos flexor longo do polegar, flexor superficial dos dedos e flexor profundo dos dedos, indo para os dedos desde o antebraço até a palma da mão. Este túnel é formado pelo pisiforme e hamato (no lado ulnar) e escafoide e trapézio (no lado radial), com a cobertura superior do retináculo dos músculos flexores. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO A neuropatia compressiva refere-se à compressão do nervo periférico por estruturas anatômicas adjacentes, sendo a síndrome do túnel do carpo a mais comum. → Ela afeta mais frequentemente mulheres, apresentando um acometimento bilateral em cerca de 50% dos casos e uma maior incidência entre 40 e 60 anos. A predominância feminina pode ser explicada em parte pela anatomia, uma vez que a área transversal do túnel do carpo é tipicamente menor em mulheres do que em homens. A gravidade da lesão compressiva do nervo periférico depende da intensidade da pressão e do tempo. → Pressões a partir de 20-30 mmHg já podem causar prejuízo na microcirculação neural, e com 80-120mmHg há sua interrupção. → Os distúrbios na microcirculação levam ao aumento da permeabilidade dos vasos epineurais e endoneurais, resultando em edema e aumento da pressão intrafascicular. → Além disso, pressões de 30 mmHg já podem levar à desmielinização, decorrente Laila Ingrid, 5°P Medicina/FIPGBI de necrose e apoptose das células de Schwann. → Alterações neurofisiológicas e sintomas de parestesia foram induzidos em voluntários humanos com a aplicação de 30 a 40 mmHg de compressão do nervo mediano. → O nervo mediano origina-se das cordas medial e lateral do plexo braquial e, em seu trajeto para o antebraço, acompanha a artéria braquial entre o tendão do bíceps e o músculo braquial. → O nervo interósseo anterior emerge do tronco do nervo mediano na parte distal da fossa antecubital, que, por sua vez, emite ramos para o flexor profundo dos dedos (indicador e médio), o flexor longo do polegar e o pronador quadrado. → Assim, o nervo mediano segue seu curso no antebraço entre os flexores superficiais e profundos até adentrar no túnel do carpo. Cerca de 4 a 5 cm do punho, o ramo sensitivo cutâneo palmar emerge para suprir a sensibilidade da região palmar radial. FATORES DE RISCOS Fatores Individuais: 1. Obesidade: O excesso de peso pode aumentar a pressão sobre os nervos e estruturas do punho. 2. Gênero feminino: As mulheres têm uma maior predisposição para desenvolver a síndrome do túnel do carpo. 3. Gravidez: Mudanças hormonais e retenção de líquidos durante a gravidez podem aumentar o risco. 4. Diabetes: A neuropatia diabética pode aumentar a vulnerabilidade aos danos nos nervos. 5. Artrite reumatoide e osteoartrite da mão: Condições inflamatórias das articulações podem causar compressão dos nervos. 6. Hipotireoidismo: A disfunção da tireoide pode afetar os nervos periféricos. 7. Doenças do tecido conjuntivo: Condições como síndrome de Ehlers-Danlos ou lupus eritematoso sistêmico podem aumentar o risco. 8. Mononeuropatia mediana pré-existente: Qualquer condição que já cause compressão do nervo mediano pode aumentar o risco de síndrome do túnel do carpo. 9. Predisposição genética: Certos indivíduos podem ter uma predisposição genética para desenvolver a condição. 10. Uso de inibidor de aromatase: Alguns medicamentos podem aumentar o risco, embora mais estudos sejam necessários para confirmar essa associação. Fatores no Local de Trabalho: 1. Uso repetitivo das mãos e pulsos: Atividades que exigem movimentos repetitivos das mãos e pulsos podem contribuir para a compressão do nervo mediano. 2. Uso vigoroso das mãos e pulsos: Trabalhos que exigem esforço físico significativo nas mãos e pulsos podem aumentar o risco. 3. Trabalhar com ferramentas vibratórias: A exposição a vibrações pode contribuir para a compressão nervosa. 4. Pressão sustentada do punho ou palma da mão: Posições de trabalho que envolvem pressão prolongada sobre o punho ou a palma da mão podem aumentar o risco de compressão do nervo mediano. ETIOLOGIA Síndrome do Túnel do Carpo (STC) pode ter várias causas, e para facilitar o raciocínio diagnóstico, podemos dividir essas causas em cinco grandes grupos: 1. Traumática: Inclui fraturas e luxações que podem levar à formação de hematomas, deformidades angulares, imobilizações inadequadas e consolidação viciosa. Um exemplo é a fratura de Colles, caracterizada por uma deformidade conhecida como "dorso de garfo", causada frequentemente por quedas sobre o braço estendido. 2. Condições relacionadas ao trabalho: Exposições ocupacionais a fatores biomecânicos que envolvem o punho, como repetição, força e vibração, estão associadas ao aumento do risco de STC. Alguns fatores ocupacionais propostos incluem uso repetitivo e vigoroso das mãos e pulsos, trabalho com ferramentas vibratórias, pressão sustentada do pulso ou da palma, extensão e flexão prolongadas do punho, e uso das mãos em baixas temperaturas. As categorias ocupacionais com alto risco incluem produção e fabricação, suporte administrativo e de escritório, e processamento e preparação de alimentos. 3. Condições preexistentes: A frequência da STC é aumentada em relação à população geral em pacientes com diabetes, artrite reumatoide, outras doenças do tecido conjuntivo, osteoartrite de mão, gravidez e doença da tireoide. Em mulheres grávidas, o acúmulo de líquidos é um mecanismo provável. Nos pacientes com acromegalia, a STC é justificada pelo aumento de tecidos moles, como edema sinovial e hiperplasia do tendão. 4. Infecciosa: Causas infecciosas também podem levar à STC pela formação de abscesso local com compressão do nervo mediano. Os tendões flexores nessa região são envolvidos por uma abundante quantidade de tecido sinovial, que em determinadas circunstâncias pode ser sede de reações inflamatórias, caracterizando as sinovites. Esse processo inflamatório leva a um aumento da pressão no canal cárpico, comprimindo o nervo mediano e dando origem aos sintomas característicos da patologia. 5. Idiopática: Quando não se identifica um fator etiológico claro, a síndrome é considerada idiopática. Pode ser devido a microtraumatismos de repetição, estenose do túnel do carpo devido à fibrose doligamento palmar, compressão por calo ósseo, acúmulo de líquido em várias condições médicas, aumento da espessura da sinóvia e cicatrizes nas bainhas tendíneas, irritação, inflamação e edema dos tendões, ou associada a artrites. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da Síndrome do Túnel do Carpo (STC) é multifatorial e envolve principalmente o aumento da pressão no canal do carpo. Em modelos experimentais, pressões a partir de 20 a 30 mmHg já causam prejuízo na microcirculação neural, e com 80 a 120 mmHg há interrupção total. Esse aumento de pressão leva a distúrbios na microcirculação, como aumento da permeabilidade dos vasos epineurais e endoneurais, resultando em edema e pressão intrafascicular. Além disso, pressões de 30 mmHg já podem causar desmielinização devido à necrose e apoptose das células de Schwann. Embora a etiologia precisa do aumento da pressão no túnel do carpo na STC seja incerta, evidências experimentais sugerem que a compressão anatômica e/ou a inflamação são possíveis mecanismos. O aumento da pressão pode ferir o nervo diretamente, prejudicar o transporte axonal ou comprimir os vasos no perineuro, levando à isquemia do nervo mediano. Os nove tendões flexores que passam pelo túnel do carpo podem inflamar-se ou espessar-se, comprimindo o nervo mediano. Outras causas possíveis de compressão incluem espaço anatômico congenitamente pequeno, lesões em massa (como cistos ou neoplasias), edema ou condições inflamatórias resultantes de doenças sistêmicas, como artrite reumatoide. A compressão e tração nervosa podem criar problemas na microcirculação sanguínea intraneural, lesões na bainha de mielina e no axônio, e alterações no tecido conjuntivo de suporte. Lundborg propôs uma classificação anatomoclínica da STC em três estágios: 1. Estágio precoce: Caracterizado por sintomatologia intermitente, principalmente noturna. Pressões acima de 40-50 mmHg interferem no retorno venoso da microcirculação intraneural, causando diminuição do aporte de oxigênio e estase venosa. O aumento da pressão por duas horas pode levar ao abrandamento progressivo do transporte axonal, corrigido pelo reposicionamento do punho e movimentos dos dedos. 2. Estágio intermediário: Os sintomas são noturnos e diurnos, com anomalias permanentes na microcirculação, resultando em edema intraneural. Após o alívio da compressão, ocorre uma melhoria rápida dos sintomas devido ao restabelecimento da microcirculação, embora a reparação da bainha de mielina seja mais lenta. 3. Estágio avançado: Caracterizado por sintomas permanentes e sinais de déficit sensitivo ou motor devido à interrupção de axônios importantes. A degeneração walleriana ocorre nos axônios interrompidos, e a recuperação depende da regeneração nervosa, podendo ser incompleta e demandar vários meses, principalmente em pacientes com menor potencial de regeneração axonal. Mecanismos adicionais de lesão que podem contribuir para o desenvolvimento da Síndrome do Túnel do Carpo incluem: → Movimentos que envolvem torção repetitiva do punho; → Exercícios ou atividades que requerem flexão extrema do punho por longos períodos; → Trauma agudo ou lesões súbitas que afetam diretamente o punho; → Padrões de sono que envolvem compressão do punho por longos períodos; → Fatores genéticos ou anatômicos, como predisposição a um túnel do carpo estreito; → Condições médicas pré-existentes, como síndromes metabólicas, que podem afetar a saúde dos nervos periféricos; → Fatores ambientais, como exposição a produtos químicos que possam causar danos aos nervos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A característica marcante da STC clássica é a dor ou parestesia no território do nervo mediano com envolvimento dos três primeiros quirodáctilos e da metade radial do quarto quirodáctilo. Os sintomas da STC são tipicamente piores à noite e muitas vezes despertam os pacientes do sono. Alguns pacientes reagem a esses sintomas agitando ou torcendo as mãos, ou colocando-as em água corrente quente. As sensações de parestesia podem se irradiar proximamente para o antebraço e o ombro podendo ser confundidas com neuropatias de origem cervical. Os sintomas são frequentemente provocados por atividades que envolvem: → Flexão ou extensão do punho → Elevação dos braços (dirigir, ler, digitar e segurar o telefone) Nos casos mais graves de STC, o envolvimento motor leva a queixas de fraqueza ou falta de jeito ao usar as mãos, como dificuldade em segurar objetos, girar chaves ou maçanetas, abotoar roupas ou abrir as tampas das jarras. Os sinais clínicos podem incluir fraqueza na abdução e oposição do polegar e atrofia da eminência tenar. Alterações da sudorese e da temperatura da mão no território do nervo mediano também podem ser encontradas. Obs.: O acometimento motor, representado pela atrofia tenar, é, em geral, um achado tardio na evolução da síndrome do túnel do carpo e normalmente representa doença avançada. DIAGNÓSTICO ANAMNESE → Dor noturna; → Parestesia. EXAME FÍSICO Inspeção: Na inspeção, pode ser identificada a hipotrofia ou atrofia da eminência tenar, que aparece em casos mais avançados. Os pacientes podem relatar a perda da "gordurinha" da mão. É importante informar aos pacientes que essa atrofia estabelecida persiste mesmo com a melhora da síndrome compressiva com o tratamento. Inspeção dinâmica: → Déficits sensoriais e motores podem estar presentes nas regiões da mão inervadas pelo nervo mediano, mas sua ausência não exclui o diagnóstico de STC. A sensação deve ser testada em todas as regiões da mão, antebraço e parte superior do braço. → Os déficits sensoriais geralmente ocorrem tardiamente no curso da STC e envolvem os dedos medianos inervados, mas poupam a eminência tenar. → A fraqueza muscular pode ocorrer na STC avançada e é limitada aos músculos da eminência tenar, manifestando-se principalmente como fraqueza na abdução e na oposição do polegar. TESTES ESPECIAIS Teste de Phalen: Consiste em manter os punhos na flexão máxima durante 1 minuto. A posição fletida do punho comprime ainda mais o nervo mediano já comprimido na posição neutra, no caso de STC. É positivo quando a sensação de formigamento ou dormência é relatada no território do nervo mediano e com mais frequência no dedo médio. Teste de Phalen Invertido: O teste de Phalen invertido tem o mesmo objetivo, porém com os punhos em extensão máxima, na "posição de oração", com as palmas das mãos juntas na frente do corpo. Teste ou Sinal de Tinel: Consiste na percussão leve sobre o punho, na localização do nervo mediano. O resultado positivo é encontrado quando essa percussão transmite uma sensação de parestesia na região de distribuição do nervo mediano. A percussão de um nervo em local de compressão, onde há desmielinização ou axônios em regeneração, desencadeia a sensação desagradável de choque. Teste de Durkan: Em 1991, Durkan propôs um novo teste no qual o examinador pressiona com os 2 polegares a região do carpo por 30 segundos. É considerado positivo se os sintomas comuns da STC se apresentarem ao longo do trajeto no nervo mediano. EXAMES COMPLEMENTARES Exame eletroneuromiográfico (ENMG): A eletroneuromiografia é um excelente exame para ajudar a confirmar a compressão nervosa. Nos casos típicos e de longa duração, não há necessidade desse exame complementar para estabelecer o diagnóstico. Ele é útil quando se deseja conhecer a intensidade da compressão e na presença de comprometimento motor, assim como para auxiliar na previsão do tratamento cirúrgico. Apesar de ser um exame de alta sensibilidade e especificidade, existe uma porcentagem de positividadeem pacientes assintomáticos (falso-positivo) ou de negatividade (falso-negativo) em indivíduos sintomáticos. A ENMG compreende uma etapa de estímulo e uma etapa de detecção. É bilateral. A etapa estímulo-detecção permite estudar a condução nervosa sensitiva e motora do nervo mediano e destaca o abrandamento eletivo na passagem do túnel do carpo. Ela permite igualmente a análise da amplitude e da duração das respostas motoras e sensitivas. Essa exploração é completada por uma medida da condução nervosa do nervo ulnar homolateral e por estudos do lado contralateral. Esse exame é operador-dependente, e a temperatura cutânea e a idade influem nos resultados. Radiografia: A radiografia representa valor diagnóstico limitado na STC. Pode ser usada na avaliação de partes ósseas para avaliar o formato, conformidade do túnel do carpo, presença de estenose óssea do carpo ou até mesmo de calcificações de partes moles. Ultrassonografia: A ultrassonografia em pacientes com STC mostra uma área transversal significativamente aumentada do nervo mediano. Os pontos de corte da área transversal ideais para o diagnóstico, bem como a sensibilidade e especificidade dessa técnica, variaram entre os estudos. TRATAMENTO Conservador: é reservado para pacientes com casos mais leves, nos quais não há atrofia tenar nem comprometimento da sensibilidade, e nos quais os sintomas da STC não interferem nas atividades de vida diária. Algumas opções para esses pacientes são o uso de: • Orteses • Injeção de glicocorticoides • Uso de corticoide oral • Técnicas de fisioterapia Tratamento cirúrgico: está reservado para falhas do tratamento conservador e para os casos mais graves em que há perda sensorial, fraqueza ou sintomas incapacitantes. A cirurgia consiste na descompressão do túnel do carpo realizada por meio da secção do ligamento transverso do carpo, também chamado de retináculo dos flexores. Três técnicas são atualmente usadas para sua realização: • Procedimento aberto (tradicional) • Minimamente invasivo: técnica conhecida como mini-open • Técnicas endoscópicas. Referências: MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne MR. Anatomia Orientada para Clínica. Grupo GEN, 2022. RAYMUNDO, José Luiz P.; MIRANDA, Isabel H. Ortopedia para clínicos: exame e diagnóstico. Editora Manole, 2021. CHAMMAS et al. Síndrome do túnel do carpo – Parte I (anatomia, fisiologia, etiologia e diagnóstico). Revista Brasileira de Ortopedia, 2014.