Prévia do material em texto
Exercícios 2ª Geração Modernista Profº Mari Neto Página 1 de 16 1. (Enem PPL 2018) E fui mostrar ao ilustre hóspede [o governador do Estado] a serraria, o descaroçador e o estábulo. Expliquei em resumo a prensa, o dínamo, as serras e o banheiro carrapaticida. De repente supus que a escola poderia trazer a benevolência do governador para certos favores que eu tencionava solicitar. — Pois sim senhor. Quando V. Exª. vier aqui outra vez, encontrará essa gente aprendendo cartilha. RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1991. O fragmento do romance de Graciliano Ramos dialoga com o contexto da Primeira República no Brasil, ao focalizar o(a) a) derrocada de práticas clientelistas. b) declínio do antigo atraso socioeconômico. c) liberalismo desapartado de favores do Estado. d) fortalecimento de políticas públicas educacionais. e) aliança entre a elite agrária e os dirigentes políticos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: (...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (...) Carta de Graciliano Ramos a sua esposa. (...) Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinhá Vitória guardava o cachimbo. (...) Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. Graciliano Ramos, Vidas secas. 2. (Fuvest 2018) As declarações de Graciliano Ramos na Carta e o excerto do romance permitem afirmar que a personagem Baleia, em Vidas secas, representa a) o conformismo dos sertanejos. b) os anseios comunitários de justiça social. c) os desejos incompatíveis com os de Fabiano. d) a crença em uma vida sobrenatural. e) o desdém por um mundo melhor. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Texto para a(s) questão(ões) a seguir. Carta do escritor Graciliano Ramos ao pintor Cândido Portinari Rio – 18 – Fevereiro – 1946 1Caríssimo Portinari: A sua carta chegou muito atrasada, e receio que 2esta resposta já não 3o ache 4fixando na tela a nossa pobre gente da roça. Não há trabalho mais digno, penso eu. 5Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações; 6contudo as deformações e miséria existem fora da arte e são cultivadas pelos que nos censuram. O que às vezes pergunto 7a mim mesmo, com angústia, Portinari, é 8isto: se elas desaparecessem, poderíamos continuar a trabalhar? Desejamos realmente que elas desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão perversos como os outros, quando expomos desgraças? Dos quadros que você mostrou 9quando almocei no Cosme Velho pela última vez, o que mais me comoveu foi aquela mãe com a criança morta. Saí de sua casa com um pensamento horrível: numa sociedade sem classes e sem miséria seria possível fazer-se aquilo? Numa vida tranquila e feliz que espécie de arte surgiria? Chego a pensar que faríamos cromos, anjinhos cor-de-rosa, e isto me horroriza. Felizmente a dor existirá sempre, a 10nossa velha amiga, nada a suprimirá. E 11seríamos ingratos se 12desejássemos a supressão dela, não 13lhe parece? Veja como os nossos ricaços em geral são burros. Julgo naturalmente que seria bom enforcá-los, mas se isto nos trouxesse tranquilidade e felicidade, eu ficaria bem desgostoso, porque não nascemos para tal sensaboria. O meu desejo é que, eliminados os ricos de qualquer modo e os sofrimentos causados por eles, venham novos sofrimentos, 14pois sem isto não temos arte. E adeus,15 meu grande Portinari. Muitos abraços para você e para Maria. Graciliano sensaboria: contratempo, monotonia 3. (Mackenzie 2018) Depreende-se corretamente do texto que o escritor Graciliano Ramos: a) compreende a miséria humana e os sofrimentos como motivadores da produção artística, que não pode ser apenas ornamental. b) entende que a função da pintura é oferecer as soluções práticas para o erradicamento da miséria humana. c) se refere a pinturas que ele mesmo produziu sobre as diferenças sociais que afetam o povo brasileiro. d) se dirige ao pintor Portinari com o claro objetivo de propor a formação de uma política que exclua os ricos da sociedade. e) escreve ao pintor Portinari para tentar amenizar o remorso que sente por explorar a miséria humana. 4. (Fmp 2017) A obra de Graciliano Ramos alcançou o equilíbrio ao reunir duas linhas: a psicológica e a sociopolítica. Página 2 de 16 A vertente sociopolítica de sua obra é exemplificada em: a) “Sim, não, sim, não. Um relógio tenta chamar-me à realidade. Que tempo dormi? Esperarei até que o relógio bata de novo e me diga que vivi mais meia hora, dentro deste horrível jato de luz.” RAMOS, G. Insônia. 9. ed. São Paulo: Martins, 1971. p. 19. b) “Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar- se. Estava preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia trabalhando como um escravo. Desentupia o bebedouro, consertava as cercas, curava os animais - aproveitara um casco de fazenda sem valor. Tudo em ordem, podiam ver. Tinha culpa de ser bruto? Quem tinha culpa?” RAMOS, G. Vidas secas. 22. ed. São Paulo: Martins, 1969. p. 73. c) “Eu é que me podia considerar um sujeito feliz. Repetia isso maquinalmente, enquanto apalpava as caixinhas de veludo. Soltei-as com raiva, ergui-me, esfreguei as mãos. O sentido das palavras que me dançavam no espírito tornou-se claro. Perfeitamente, um sujeito feliz. Que é que me faltava?” RAMOS, G. Angústia. 12. ed. Rio de Janeiro: Martins, 1970. p. 93. d) “O que estou é velho. Cinquenta anos pelo São Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada.” RAMOS, G. São Bernardo. 40. ed. Rio de Janeiro: Record, 1983. p. 181. e) “Nesse tempo, em razão de culpas indecisas, costumavam prender-me algumas horas na loja. Sentenciavam-me sem formalidades, mas o castigo implicava falta. E ali, no silêncio e no isolamento, adivinhando o mistério dos códigos, fiz compridos exames de consciência, tentei catalogar as ações prejudiciais e as inofensivas, desenvolvi à toa o meu diminuto senso moral.” RAMOS, G. Infância. 9. ed. São Paulo: Martins, 1972, p. 112. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Despedida Zélia Gattai Sobre nossa casa, de Jorge e minha, na rua Alagoinhas, 33, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador da Bahia, muito já se disse, muito se cantou. Citada em prosa e verso, sobra-me, no entanto, ainda o que dela falar. Fico pensando se alcançarei escrever todas as histórias, tantas, de gente e de bichos que nela passaram nesses quarenta anos lá vividos. Neste momento, quando me despeço do lugar onde passei o melhor tempo de minha vida, ao deixar Jorge repousando sob a mangueira por nós plantada no jardim, mil lembranças afloram-me à cabeça. Lembro-me de coisas que para muitos podem parecer tolas, mas que para mim não são. Lembro-me, por exemplo, de duas mimosas lagartixas que viviam atrás de um quadro de Di Cavalcanti, acima da televisão da sala, e que tanto nos divertiram. Um belo dia elas apareceram, sem mais nem menos: umatoda rosada, quase transparente; a outra com listras escuras em volta do corpo. Jorge foi logo escolhendo: ‘A zebrinha é minha.’ A mais bonita, pois, ficou sendo a dele. A outra, que jeito? De dona Zélia. Recostados em nossas poltronas, após o jantar, para assistir aos noticiários de TV, vimos, pela primeira vez, as duas saírem de seu esconderijo, uma atrás da outra, direto para uma lâmpada acesa, no alto, reduto de mosquitos e de bichinhos atraídos pela luz. – Elas agora vão jantar – disse Jorge. Dito e feito: as duas se aproximaram docemente da claridade, estancaram a uma pequena distância da lâmpada e, imóveis, na moita, só observando. De repente, o bote fatal foi desfechado e lá se foi um dos insetos para o bucho da lagartixa de Jorge. Diante do perigo, quem era de voar voou, quem era de correr, correu, lá se foram os bichinhos, não sobrou um pra remédio, o campo ficou limpo. Estáticas, as duas sabidas aguardaram pacientes a volta das vítimas, que, inocentes, aos poucos foram criando coragem e se chegando para, ainda uma vez, cair na boca do lobo. Ainda uma vez o lobo foi a zebrinha, que, como num passe de mágica, abocanhou um mosquito. Encantado, Jorge ria de se acabar, provocando-me: ‘A tua não é de nada!’ Eu protestei e ele riu mais ainda. Brincadeira boba, inocente, passou a ser nosso divertimento durante muitas e muitas noites, muitas e muitas noites voltamos à nossa infância. (Disponível em http://bsp.org.br/2012/05/17/relembre-zelia-gattai/. Acesso em 08 out. 2015.) 5. (Unisinos 2016) No que se refere à temática do texto, assinale a alternativa que o apresenta de forma adequada. a) Zélia Gattai, por conta de sua saída da casa em que morou por muitos anos, faz uma reflexão sobre a vida e a perda de seu marido, Jorge Amado. b) Ao relembrar uma história aparentemente banal, Zélia Gattai nos apresenta as peculiaridades de sua vida com Jorge Amado, na casa do Rio Vermelho. c) A intenção de Zélia Gattai, ao contar a história das lagartixas, é demonstrar que devemos respeitar os animais, pois eles fazem parte de nosso cotidiano. d) Enaltecer a figura de Jorge Amado, o escritor famoso e reconhecido, é o principal objetivo do texto escrito por Zélia Gattai sobre sua antiga casa. e) O personagem que se destaca no texto é a casa em que Jorge Amado e Zélia Gattai moraram por várias décadas, na cidade de Salvador, Bahia, estado natal do escritor. 6. (Fuvest 2020) Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela Página 3 de 16 era no dia em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra. Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer. Helena Morley, Minha Vida de Menina. Perguntas Numa incerta hora fria perguntei ao fantasma que força nos prendia, ele a mim, que presumo estar livre de tudo eu a ele, gasoso, (...) No voo que desfere silente e melancólico, rumo da eternidade, ele apenas responde (se acaso é responder a mistérios, somar‐lhes um mistério mais alto): Amar, depois de perder. Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que a) ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira. b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais. c) a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o sentido filosófico da morte. d) a menina está inquieta por conhecer o destino das almas, enquanto o poeta critica o ceticismo. e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares. 7. (Fuvest 2019) Leia os textos. – Eu acho que nós, bois, – Dançador diz, com baba – assim como os cachorros, as pedras, as árvores, somos pessoas soltas, com beiradas, começo e fim. O homem, não: o homem pode se ajuntar com as coisas, se encostar nelas, crescer, mudar de forma e de jeito… O homem tem partes mágicas… São as mãos… Eu sei… João Guimarães Rosa, “Conversa de bois”. Sagarana. Um boi vê os homens Tão delicados (mais que um arbusto) e correm e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente falta-lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno, como também parecem não enxergar o que é visível e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes e no rasto da tristeza chegam à crueldade. (...) Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os homens”. Claro enigma. a) Em ambos os textos, o assombro de quem vê decorre das avaliações contrastantes sobre quem é visto. Justifique essa afirmação com base em cada um dos textos. b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem-se de uma mesma figura de linguagem. Explicite essa figura e justifique sua resposta. 8. (G1 - cftmg 2019) Um boi vê os homens Tão delicados (mais que um arbusto) e correm e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente falta- lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno, como também parecem não enxergar o que é visível e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes e no rasto da tristeza chegam à crueldade. Toda a expressão deles mora nos olhos - e perde-se a um simples baixar de cílios, a uma sombra. Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade, e como neles há pouca montanha, e que secura e que reentrâncias e que impossibilidade de se organizarem em formas calmas, permanentes e necessárias. Têm, talvez, certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem perdoar a agitação incômoda e o translúcido vazio interior que os torna tão pobres e carecidos de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme (que sabemos nós), sons que se despedaçam e tombam no campo como pedras aflitas e queimam a erva e a água, e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade. ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. Página 4 de 16 No texto, a perspectiva adotada pelo poeta a) opõe a fragilidade física à racionalidade humana. b) compara a vida na manada ao homem na multidão. c) constata a falta de finalidade da existência humana. d) elabora uma representação desiludida dos homens. 9. (Espm 2019) Considere os textos que seguem. Eu tenho um coração maior que o mundo, tu, formosa Marília, bem o sabes; um coração, e basta, onde tu mesma cabes. (Tomás Antônio Gonzaga, Marília de Dirceu) Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem sequer as minhas dores. (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo) Assinale a afirmação correta sobre os dois textos: a) Por pertencer à fase heroica ou iconoclas¬ta do Modernismo, Carlos Drummond de Andrade parodia o lirismo sentimental do árcade Tomás Antônio Gonzaga. b) Por pertencer à fase heroica ou iconoclas¬ta do Modernismo, Carlos Drummond de Andrade parodia o lirismo sentimental do árcade Tomás Antônio Gonzaga. c) Gonzaga, como muitos árcades, é alheio ao que está a seu redor, já Drummond ex¬pressa um sentimentode revolta ante um mundo que não compreende as dores do poeta. d) Em Gonzaga, o coração do poeta alcança a plenitude com a presença da amada. Em Drummond, o coração é insuficiente para abarcar as próprias dúvidas existenciais. e) Tomás A. Gonzaga usa a imagem do “mundo” para instigar a musa Marília a aceitá-lo; Drummond retoma o procedi-mento do poeta árcade, ressaltando o so-frimento por causa da amada. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Os ombros suportam o mundo Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, preferiram (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. ANDRADE, Carlos Drummond. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967. p. 110-111. 10. (Fmp 2018) Entre as características da obra de Carlos Drummond de Andrade, a que está presente nesse poema é a a) valorização do cotidiano e das raízes culturais brasileiras b) nostalgia da vida provinciana relacionada à terra natal c) denúncia constante da monotonia observada no dia a dia d) esperança na sobrevivência do sentimento amoroso e) manifestação de cansaço diante dos problemas da vida TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Os Velhos Carlos Drummond de Andrade Todos nasceram velhos — desconfio. Em casas mais velhas que a velhice, em ruas que existiram sempre — sempre assim como estão hoje e não deixarão nunca de estar: soturnas e paradas e indeléveis mesmo no desmoronar do Juízo Final. Os mais velhos têm 100, 200 anos e lá se perde a conta. Os mais novos dos novos, não menos de 50 — enormidade. Nenhum olha para mim. A velhice o proíbe. Quem autorizou existirem meninos neste largo municipal? Quem infringiu a lei da eternidade que não permite recomeçar a vida? Ignoram-me. Não sou. Tenho vontade de ser também um velho desde sempre. Assim conversarão comigo sobre coisas seladas em cofre de subentendidos a conversa infindável de monossílabos, resmungos, tosse conclusiva. Nem me veem passar. Não me dão confiança. Confiança! Confiança! Dádiva impensável nos semblantes fechados, nos felpudos redingotes, nos chapéus autoritários, nas barbas de milénios. Sigo, seco e só, atravessando Página 5 de 16 a floresta de velhos. ANDRADE, Carlos Drummond. Boitempo II. São Paulo: Record.1986. Velhas Árvores Olavo Bilac Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores moças, mais amigas, Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas... O homem, a fera e o inseto, à sombra delas Vivem, livres da fome e de fadigas: E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas. Não choremos, amigo, a mocidade! Envelheçamos rindo. Envelheçamos Como as árvores fortes envelhecem, Na glória de alegria e da bondade, Agasalhando os pássaros nos ramos, Dando sombra e consolo aos que padecem! BILAC, Olavo. Velhas Árvores. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/bilac3.html#velhas. Acesso: 24.9.17 11. (Uece 2018) Quanto à linguagem empregada nos poemas Os velhos e Velhas árvores, é correto afirmar que a) ambos respeitam o rigor formal da métrica do verso clássico. b) enquanto o poema de Carlos Drummond expressa contentamento com a velhice, o de Olavo Bilac acentua o aspecto da solidão e da tristeza nesta fase da vida. c) os poemas procuram ater-se a uma linguagem cheia de coloquialismos para manterem-se mais próximos dos leitores. d) os versos do poema de Drummond, apesar de serem escritos no padrão culto da língua portuguesa, não têm o mesmo tom elevado da linguagem rebuscada dos versos do poema de Bilac. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Entre 11 de fevereiro e 03 de junho de 2018, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) abrigou a primeira exposição nos Estados Unidos dedicada à pintora brasileira Tarsila do Amaral. Leia a apresentação de uma das pinturas expostas para responder à(s) questão(ões) a seguir. The painting Sleep (1928) is a dreamlike representation of tropical landscape, with this major motif of her repetitive figure that disappears in the background. This painting is an example of Tarsila’s venture into surrealism. Elements such as repetition, random association, and dreamlike figures are typical of surrealism that we can see as main elements of this composition. She was never a truly surrealist painter, but she was totally aware of surrealism’s legacy. (www.moma.org. Adaptado.) 12. (Unesp 2019) A apresentação sublinha a influência de uma determinada vanguarda europeia sobre a pintura de Tarsila do Amaral. A influência dessa vanguarda europeia também se encontra nos seguintes versos do poeta modernista Murilo Mendes: a) No fim de um ano seu Naum progrediu, já sabe que tem Rui Barbosa, Mangue, Lampião. Joga no bicho todo dia, está ajuntando pro carnaval, depois do almoço anda às turras com a mulher. As filhas dele instalaram-se na vida nacional. Sabem dançar o maxixe conversam com os sargentos em bom brasileiro. (“Família russa no Brasil”) e) O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo que invade a sombra das casas no espaço elástico. Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas que retomam seu lugar na série do planeta. Os homens largam a ação na paisagem elementar e invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito. (“O mundo inimigo”) b) Eu sou triste como um prático de farmácia, sou quase tão triste como um homem que usa costeletas. Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher mas só ouço o tectec das máquinas de escrever. Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda. Quantas meninas pela vida afora! E eu alinhando no papel as fortunas dos outros. (“Modinha do empregado de banco”) c) Ele acredita que o chão é duro Que todos os homens estão presos Que há limites para a poesia Que não há sorrisos nas crianças Nem amor nas mulheres Que só de pão vive o homem Que não há um outro mundo. (“O utopista”) d) A costureira, moça, alta, bonita, ancas largas, os seios estourando debaixo do vestido, (os olhos profundos faziam a sombra na cara), morreu. Desde então o viúvo passa os dias no quarto olhando pro manequim. (“Afinidades”) e) O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo que invade a sombra das casas no espaço elástico. Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas que retomam seu lugar na série do planeta. Os homens largam a ação na paisagem elementar e invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito. Página 6 de 16 (“O mundo inimigo”) 13. (Enem 2017) O farrista Quando o almirante Cabral Pôs as patas no Brasil O anjo da guarda dos índios Estava passeando em Paris. Quando ele voltou de viagem O holandês já está aqui. O anjo respira alegre: “Não faz mal, isto é boa gente, Vou arejar outra vez.” O anjo transpôs a barra, Diz adeus a Pernambuco, Faz barulho, vuco-vuco, Tal e qual o zepelim Mas deu um vento no anjo, Ele perdeu a memória... E não voltou nunca mais. MENDES. M. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1992 A obra de Murilo Mendes situa-se na fase inicial do Modernismo,cujas propostas estéticas transparecem, no poema, por um eu lírico que a) configura um ideal de nacionalidade pela integração regional. b) remonta ao colonialismo assente sob um viés iconoclasta. c) repercute as manifestações do sincretismo religioso. d) descreve a gênese da formação do povo brasileiro. e) promove inovações no repertório linguístico. 14. (Enem PPL 2016) Quinze de Novembro Deodoro todo nos trinques Bate na porta de Dão Pedro Segundo. – Seu imperadô, dê o fora que nós queremos tomar conta desta bugiganga. Mande vir os músicos. O imperador bocejando responde: – Pois não meus filhos não se vexem me deixem calçar as chinelas podem entrar à vontade: só peço que não me bulam nas obras completas de Victor Hugo. MENDES, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 1994. A poesia de Murilo Mendes dialoga com o ideário poético dos primeiros modernistas. No poema, essa atitude manifesta-se na a) releitura irônica de um fato histórico. b) visão ufanista de um episódio nacional. c) denúncia implícita de atitudes autoritárias. d) isenção ideológica do discurso do eu lírico. e) representação saudosista do regime monárquico. 15. (Upe-ssa 3 2016) Há textos literários que se aproximam pelos conteúdos tratados, tal como ocorre com o tema da distância da pátria, cujo início remonta Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias. Contudo, nem sempre um ratifica, de modo claro, a ideia do outro. Muitas vezes, a retomada se realiza de maneira irônica, em que o texto mais recente assume uma dimensão crítica inovadora, em relação ao texto anterior. Outras vezes, dá-se a retomada por uma paráfrase, pois se mantém o sentido do texto original. Considerando o exposto, analise os poemas a seguir: Poema 1 Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. (Gonçalves Dias) Poema 2 Poema 3 Canto de regresso à pátria Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Página 7 de 16 Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo (Oswald de Andrade) Canção do Exílio Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! (Murilo Mendes) Poema 4 Minha terra Minha terra não tem terremotos... nem ciclones... nem vulcões... As suas aragens são mansas e as suas chuvas esperadas: chuvas de janeiro... chuvas de caju... chuvas-de-santa-luzia... Que viço mulato na luz do seu dia! Que amena poesia, de noite, no céu: – Lá vai São Jorge esquipando em seu cavalo na lua! – Olha o Carreiro-de-São-Tiago! – Eu vou cortar a minha língua na Papa-Ceia! O homem de minha terra, para viver, basta pescar! e se estiver enfarado de peixe, arma o mondé e vai dormir e sonhar... que pela manhã tem paca louçã, tatu-verdadeiro ou jurupará... pra assá-lo no espeto e depois comê-lo com farinha de mandioca ou com fubá. [...] O homem de minha terra tem um deus de carne e osso! – Um deus verdadeiro, que tudo pode, tudo manda e tudo quer... E pode mesmo de verdade. Sabe disso o mundo inteiro: – Meu Padinho Pade Ciço do Joazero! [...] Os guerreiros de minha terra já nascem feitos. Não aprenderam esgrima nem tiveram instrução... Brigar é do seu destino: – Cabeleira! – Conselheiro – Tempestade! – Lampião! Os guerreiros de minha terra já nascem feitos: – Cabeleira! – Conselheiro – Tempestade! – Lampião! (Ascenso Ferreira) Analise as afirmativas a seguir e coloque V nas Verdadeiras e F nas Falsas. ( ( ) A Canção do Exílio, escrita por Gonçalves Dias, poema do período romântico, exalta a natureza brasileira. Possui versos em que o eu poético, ausente da pátria, traça as diferenças existentes entre o lugar onde se encontra, denominando-o de cá, e a pátria, da qual está distante, de lá, criando assim uma relação antitética e metonímica. ( ( ) Os três outros poemas pertencem à primeira e à segunda fase do Modernismo. Caracterizam-se por um discurso irônico, que se contrapõe ao tom de exaltação presente no poema 1, contrariando uma máxima da geração de 1922, cuja retomada do passado ocorre sempre de modo ratificador. ( ( ) O poema 4, ao contrário do 1, pertence à geração de 1922 e resgata temas que integram a cultura brasileira quando traz à tona aspectos do folclore do Nordeste. Além disso, por meio de expressões negativas, tais como: “Não tem terremotos... nem ciclones... nem vulcões..”./ exalta a pátria, mas o faz respeitando a linguagem oral nordestina, aspecto comum na primeira fase do Modernismo Brasileiro. ( ( ) Os poemas 2 e 3 apresentam pontos em comum quanto à linguagem, pois, em ambos, predomina a crítica ao derramamento sentimental do Romantismo. Isso se justifica porque eles trazem uma imagem crítica da sociedade brasileira bem diferente daquela contida no poema 1. Desse modo, eles se relacionam como retomada intertextual e parodística. Página 8 de 16 ( ( ) Os quatro poemas integram a literatura da terceira fase do Modernismo Brasileiro, pois obedecem à métrica rígida e apresentam uma secura de linguagem que se aproxima daquela utilizada por Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Ambos, em sua produção poética, se aproximam do antilirismo. AAssinale a alternativa que contém a sequência CORRETA. a) V - V - F - F - F b) V - F - V - V - F c) F - F - F - F - V d) V - V - V - V - F e) V - F - V - F - V 16. (Ita 2019) Leia o poema de autoria de Cecília Meireles. “Epigrama n. 04” O choro vem perto dos olhos para que a dor transborde e caia. O choro vem quase chorando como a onda que toca a praia. Descem dos céus ordens augustas e o mar chama a onda para o centro. O choro foge sem vestígios, mas levando náufragos dentro. (MEIRELES, Cecília, Viagem/Vaga música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.p.43) O texto I. aproxima metaforicamente um fenômeno humano e um fenômeno natural a partir da identificação de, pelo menos, um traço comum a ambos: água em movimento. II. sugere que, enquanto o movimento do choro é ligado à variação das emoções, o movimento da onda deve-se a forças naturais, responsáveis pela circularidade marítima. III. ameniza o dramatismo do choro humano, pois, quando acomete o sujeito, ele passa naturalmente, como a onda que volta ao mar. IV. leva-nos a perceber que o choro contido tem um impacto emocional que o torna desolador. Estão corretas: a) I e II apenas; b) I, II e IV apenas;c) I, III e IV apenas; d) II e III apenas; e) todas. 17. (Ufrgs 2019) Leia trechos dos poemas “Fanatismo”, de Florbela Espanca, e “Imagem”, de Cecília Meireles. Fanatismo (...) “Tudo no mundo é frágil, tudo passa...” Quando me dizem isto, toda a graça Duma boca divina fala em mim! E, olhos postos em ti, digo de rastros: “Ah! Podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...” Imagem Tão brando é o movimento das estrelas, da lua, das nuvens e do vento, que se desenha a tua face no firmamento. Desenha-se tão pura como nunca a tiveste, nem nenhuma criatura. Pois é sombra celeste da terrena aventura. (...) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre os poemas. ( ) Ambos os sujeitos líricos comparam o ser amado à perfeição divina. ( ) Ambos os sujeitos líricos veem o amor de modo idealizado. ( ) Ambos os sujeitos líricos falam diretamente ao ser amado. ( ) Ambos os poemas citam diretamente a voz da opinião pública. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V – V – V – F. b) V – V – F – V. c) F – F – V – V. d) F – V – F – V. e) V – F – V – F. 18. (G1 - ifpe 2018) Leia o texto abaixo para responder à questão. CANTIGA Ai! A manhã primorosa do pensamento... Minha vida é uma pobre rosa ao vento. Passam arroios de cores sobre a paisagem. Mas tu eras a flor das flores, Imagem! Vinde ver asas e ramos, na luz sonora! Ninguém sabe para onde vamos agora. Os jardins têm vida e morte, noite e dia... Página 9 de 16 Quem conhecesse a sua sorte, morria. E é nisto que se resume o sofrimento: cai a flor, — e deixa o perfume no vento! MEIRELES, Cecília. Viagem. In: Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1991. p. 115-116. A leitura atenta do poema “Cantiga”, de Cecília Meireles, permite-nos afirmar que a) os jardins, representados de forma monocrática, representam a crise existencial do eu lírico, sua tristeza e solidão. b) o sofrimento amoroso é representado pela rosa. c) o perfume que cai ao vento, nos últimos versos do poema, é metáfora que representa a paixão. d) a imagem sinestésica do verso “na luz sonora”, terceira estrofe, atribui ao jardim característica de melancolia. e) a efemeridade da vida é retratada, principalmente, na quarta estrofe. 19. (Upe-ssa 3 2017) Texto 1 Mapa de anatomia: O Olho O Olho é uma espécie de globo, é um pequeno planeta com pinturas do lado de fora. Muitas pinturas: azuis, verdes, amarelas. É um globo brilhante: parece cristal, é como um aquário com plantas finamente desenhadas: algas, sargaços, miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro. Mas por dentro há outras pinturas, que não se veem: umas são imagens do mundo, outras são inventadas. O Olho é um teatro por dentro. E às vezes, sejam atores, sejam cenas, e às vezes, sejam imagens, sejam ausências, formam, no Olho, lágrimas. (Cecília Meireles) Texto 2 A um ausente Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair. Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada? Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste. (Carlos Drummond de Andrade) Texto 3 Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces. Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada. Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. Página 10 de 16 E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. (Vinícius de Moraes) Após a leitura dos poemas, analise as proposições a seguir. I. O Texto 1 é um poema, cujo eu lírico trata das ausências, recorrendo aos sentidos, e fala de seus sentimentos, valendo-se da forma e da cor que as imagens poéticas sugerem. II. Os três poemas falam de ausência ou de saudade na mesma proporção, como também de relações amorosas frustradas. III. No Texto 2, o eu lírico questiona a ausência de quem partiu, sem sequer anunciar sua partida. Percebe-se que a morte foi o motivo da ausência da amizade sugerida pelas imagens poéticas. IV. Vinícius de Moraes é dono de um lirismo de caráter confidencial, com uma visão familiar do mundo; é um poeta singular. No Texto 3, percebe-se um eu lírico carregado de sentimentos de afeto por uma amada, entre o universo espiritual e físico. Estão CORRETAS: a) I e II, apenas. b) I, II e III, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 20. (Unisc 2017) Leia atentamente o trecho do poema Cantiguinha, de Cecília Meireles, e analise as afirmativas a seguir. (...) Veio vindo a ventania, – te juro – as águas mudam seu brilho, quando o tempo anda inseguro. Quando as águas escurecem, – te juro – todos os barcos se perdem, entre o passado e o futuro. São dois rios os meus olhos, – te juro – noite e dia correm, correm, mas não acho o que procuro. MEIRELES, Cecília. Obra Poética. 2. ed. Rio de Janeiro: Jose Aguilar, 1967, p. 120.) I. A exaltação da natureza, observada nos versos de Cecília Meireles, permite afirmar que sua obra pertence à primeira geração do Romantismo brasileiro. II. Nos versos de Cecília Meireles, percebe-se o tom intimista e a reflexão sobre a condição humana, que se dá a partir da analogia entre o rio e as lágrimas do eu lírico. III. A singeleza da linguagem, verificada nos versos, configura uma das principais características da obra de Cecília Meireles. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II estão corretas. b) Somente as afirmativas II e III estão corretas. c) Somente as afirmativas I e III estão corretas. d) Nenhuma afirmativa está correta. e) Todas as afirmativas estão corretas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A um passarinho Para que vieste Na minha janela Meter o nariz? Se foi por um verso Não sou mais poeta Ando tão feliz! Se é para uma prosa Não sou Anchieta Nem venho de Assis. Deixa-te de histórias Some-te daqui! (Vinicius de Moraes) 21. (Espm 2019) A partirda leitura do poema e da observação da imagem, assinale a afirmação correta. a) Tanto no texto poético quanto na imagem fica evidente que a fonte de inspiração para a prática literária são os elementos da natureza. b) Enquanto a imagem mostra a alienação de vários leitores, o poema de Vinicius de Moraes sugere o engajamento do escritor com personagens históricas. c) O texto poético diz que a produção literá¬ria é consequência da tristeza; a imagem deixa claro que só se faz poesia com a distração. d) O poema de Vinicius e a imagem apre-sentam a ideia de que a poesia é algo fu-gidio, volúvel, consequência também de um estado de espírito. e) A noção de que poesia e prosa são gêne-ros distintos fica evidente no texto poético; já a imagem não discrimina qualquer tipo de leitura literária. 22. (Enem PPL 2017) O exercício da crônica Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a Página 11 de 16 tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se diante de sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com duas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991. Nesse trecho, Vinicius de Moraes exercita a crônica para pensá-la como gênero e prática. Do ponto de vista dele, cabe ao cronista a) criar fatos com a imaginação. b) reproduzir as notícias dos jornais. c) escrever em linguagem coloquial. d) construir personagens verossímeis. e) ressignificar o cotidiano pela escrita. 23. (Unicamp 2017) “O Sinhô foi açoitar sozinho a negra Fulô. A negra tirou a saia e tirou o cabeção, de dentro dêle pulou nuinha a negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê, cadê teu Sinhô que Nosso Senhor me mandou? Ah! Foi você que roubou, foi você, negra Fulô? Essa negra Fulô!” Jorge de Lima, Poesias Completas, v. 1. Rio de Janeiro/Brasília: J. Aguilar e INL, 1974, p. 121. “A Sinhá mandou arrebentar-lhe os dentes: Fute, Cafute, Pé-de-pato, Não-sei-que-diga, avança na branca e me vinga. Exu escangalha ela, amofina ela, amuxila ela que eu não tenho defesa de homem, sou só uma mulher perdida neste mundão. Neste mundão. Louvado seja Oxalá. Para sempre seja louvado.” (Idem, p. 164.) Essas duas cenas de ciúmes concluem dois textos diferentes de Jorge de Lima. A primeira pertence ao conhecido poema modernista “Essa negra Fulô”; a segunda, ao poema “História”, de Poemas Negros (1947). Em relação a “Essa negra Fulô”, o poema “História”, especificamente, representa a) a reiteração da denúncia das relações de poder, muito arraigadas no sistema escravocrata, que colocam no mesmo plano violências raciais e sexuais. b) a passagem de uma caracterização da mulher negra como sedutora para uma postura solidária em relação à escrava, que explicita as estratégias compensatórias de que se vale para sobreviver. c) a permanência de uma visão pitoresca sobre a situação da mulher negra nos engenhos de açúcar, que oculta os mecanismos de poder que garantiam sua exploração. d) a superação da visão idílica da vida na senzala, graças a uma postura realista e social, que revela a violência das relações entre senhores e escravos. 24. (Enem PPL 2016) Maria Diamba Para não apanhar mais falou que sabia fazer bolos: virou cozinha. Foi outras coisas para que tinha jeito. Não falou mais: Viram que sabia fazer tudo, até molecas para a Casa-Grande. Depois falou só, só diante da ventania que ainda vem do Sudão; falou que queria fugir dos senhores e das judiarias deste mundo para o sumidouro. LIMA, J. Poemas negros. Rio de Janeiro: Record, 2007. O poema de Jorge de Lima sintetiza o percurso de vida de Maria Diamba e sua reação ao sistema opressivo da escravidão. A resistência dessa figura feminina é assinalada no texto pela relação que se faz entre a) o uso da fala e o desejo de decidir o próprio destino. b) a exploração sexual e a geração de novas escravas. c) a prática na cozinha e a intenção de ascender socialmente. d) o prazer de sentir os ventos e a esperança de voltar à África. e) o medo da morte e a vontade de fugir da violência dos brancos. 25. (Fuvest 2021) Remissão Tua memória, pasto de poesia, tua poesia, pasto dos vulgares, vão se engastando numa coisa fria a que tu chamas: vida, e seus pesares. Mas, pesares de quê? perguntaria, se esse travo de angústia nos cantares, se o que dorme no base da elegia vai correndo e secando pelos ares, e nada resta, mesmo, do que escreves e te forçou ao exílio das palavras, Página 12 de 16 senão contentamento de escrever, enquanto o tempo, e suas formas breves ou longas, que sutil interpretavas, se evapora no fundo do teu ser? Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma. Claro enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo, o posicionamento do escritor perante a sua condição no mundo. Considerando-o como representativo desse seu aspecto, o poema “Remissão” a) traduz a melancolia e o recolhimento do eu lírico em face da sensação de incomunicabilidade com uma realidade indiferente à sua poesia. b) revela uma perspectiva inconformada, mesclando-a, livre da indulgência dos anos anteriores, a um novo formalismo estético. c) propõe, como reação do poeta à vulgaridade do mundo, uma poética capaz de interferir na realidade pelo viés nostálgico. d) reflete a visão idealizada do trabalho do poeta e a consciência da perenidade da poesia, resistente à passagem do tempo. e) realiza a transição do lirismo social para o lirismo metafísico, caracterizado pela adesão ao conforto espiritual e ao escapismo imaginativo. 26. (Upf 2021) Leia os poemas de Carlos Drummond de Andrade. CIDADEZINHA QUALQUER Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar… as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus. POESIA Gastei uma hora pensando um verso que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo. Ele está cá dentro e não quer sair. Mas a poesia deste momento inunda minha vida inteira. QUADRILHA João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. Considere as afirmações a seguir em relação aos poemas de Drummond: I. “Cidadezinha qualquer” aborda a questão do cotidiano ao associar a rotina de uma pequena cidade a uma determinada condição existencial. II. “Poesia” se encontra dentre os textos metapoéticos do autor, quando a própria poesia é tematizada. III. “Quadrilha” trata da ordem social violenta e injusta, acentuada no traço trágico da finitude humana. Está correto o que se afirma em: a) I e III, apenas. b) II e III, apenas. c) I, II e III. d) I e II, apenas. e) I, apenas. Gabarito: Resposta da questão 1: [E] Ao revelar ao leitor que a intenção de mandar construir a escola na fazenda São Bernardo era granjear a simpatia do governador para que atendesse aos seus próprios interesses, Paulo Honório demonstra a prática de alianças entre a elite agrária e os dirigentes políticos. Assim, é correta a opção [E]. Resposta da questão 2: [B] O mundo de preás referido na carta de Graciliano e nos “pensamentos”de Baleia antes de morrer representa, metaforicamente, os anseios por uma vida digna, pela justiça social referida na opção [B]. Resposta da questão 3: [A] Através da carta a Portinari, Graciliano Ramos defende a ideia de que arte é um ato de consciência crítica com a função de expor os Página 13 de 16 aspectos negativos da sociedade, provocar interrogações e reflexões, assim como discussões sobre os acontecimentos no mundo. Resposta da questão 4: [B] Em [B], vemos o narrador colocando vários questionamentos de ordem sociopolítica. Ele questiona a prisão de um homem que trabalhava “como um escravo”. Essa é justificada pela sua brutalidade, associada à falta de oportunidade de aprendizado. Assim, vemos uma crítica social, associada à política, nesse trecho. Resposta da questão 5: [B] No texto, Zélia Gattai narra uma cena absolutamente prosaica: ela e o marido, como crianças, observando as lagartixas na casa onde viviam. Para ela, no entanto, essa lembrança tem muito significado, pois representa um aspecto do modo de viver do casal. Para o leitor, revela também traços de sua personalidade e a da de Jorge Amado e peculiaridades de suas vidas. É interessante, por exemplo, observar que as “duas mimosas lagartixas” residiam atrás de um quadro de Di Cavalcanti. Resposta da questão 6: [C] Enquanto no texto I a personagem aborda a temática da morte como finitude da vida a partir da perda de Bella, uma negra agregada, o texto II reflete filosófica e metafisicamente sobre o mesmo tema, como transcrito em [C]. Resposta da questão 7: a) Tanto o excerto de “Conversa de bois” como o de “Um boi vê os homens” transcrevem reflexões dos animais sobre a condição humana. No primeiro, o boi Dançador constata a supremacia do Homem sobre os irracionais pelo fato de ser provido de mãos: “O homem tem partes mágicas… São as mãos”. Já no segundo, as reflexões recaem sobre a natureza íntima do ser humano, desprovida de atributos essenciais que pudessem torná-lo mais sensível ao mundo que o rodeia:” Certamente falta-lhes/não sei que atributo essencial”, “não escutam/ nem o canto do ar nem os segredos do feno”. b) O conto de Rosa e o poema de Drummond, por apresentarem conceitos elaborados por seres irracionais, valem-se da prosopopeia ou personificação, figura de linguagem pela qual o autor atribui características humanas a seres inanimados ou a animais. Resposta da questão 8: [D] No texto, vemos que o homem é uma criatura de certa melancolia, que apresenta um vazio interior e pobreza. Vemos, portanto, uma representação bastante desiludida dos seres humanos, que devem ruminar sua verdade. Resposta da questão 9: [D] As opções [A], [B], [C] e [E] são incorretas, pois [A] Carlos Drummond de Andrade está vinculado ao Segundo Tempo do Modernismo, período em que escritores amadurecem as propostas de 22, eliminando exageros sem deixar de dar continuidade às pesquisas estéticas; [B] no excerto de Drummond não existem referências a questões ideológicas, mas reflexões existenciais sobre o próprio ser, provocadas pelos conflitos que se abatem sobre a Humanidade; [C] Gonzaga, como árcade, recolhe-se na natureza (locus amoenus) para usufruir o momento de prazer (carpe diem) que a presença da mulher amada lhe causa; Drummond expressa frustração e desencanto perante o mundo ameaçado com a ascensão do fascismo, do nazismo e dos conflitos regionais, como a Guerra Civil Espanhola; [E] Tomás A. Gonzaga usa a imagem do “mundo” como termo de comparação com o sentimento que nutre pela amada. Assim, é correta apenas [D]. Resposta da questão 10: [E] [A] Incorreto. Em “Os ombros suportam o mundo”, o eu lírico está prostrado diante da situação vivida, assim como em grande parte dos poemas que compõem Sentimento do Mundo. [B] Incorreto. Em “Os ombros suportam o mundo”, o eu lírico expressa a dor de viver no momento então presente, assim como em grande parte dos poemas que compõem Sentimento do Mundo. [C] Incorreto. Em “Os ombros suportam o mundo”, o eu lírico comunica a dor de viver o então momento presente, assim como em grande parte dos poemas que compõem Sentimento do Mundo. [D] Incorreto. Em “Os ombros suportam o mundo”, o eu lírico está sem esperanças amorosas, assim como em grande parte dos poemas que compõem Sentimento do Mundo. [E] Correto. Em “Os ombros suportam o mundo”, o eu lírico está prostrado diante da situação vivida, e nada lhe resta, como se verifica em “Chegou um tempo em que não adianta morrer. / Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. / A vida apenas, sem mistificação.”. Resposta da questão 11: [D] [A] Incorreto. Em Os velhos, não há padronização de verso. [B] Incorreto. Em Velhas árvores, o eu lírico afirma que as árvores mais antigas são mais belas, logo há beleza na velhice. [C] Incorreto. Ambos poemas empregam padrão culto da língua. [D] Correto. É característica de Bilac, autor Parnasiano, a preocupação formal e o emprego de linguagem elevada em suas produções. Resposta da questão 12: [E] [Resposta do ponto de vista da disciplina de Inglês] A alternativa [E] está correta, pois os versos relacionam-se ao Surrealismo, vanguarda europeia com a qual Tarsila do Amaral teve Página 14 de 16 contato. O poema possui imagens impossíveis, oníricas (manequim pensativo, espaço elástico, pesadelos de mármore). [Resposta do ponto de vista da disciplina de Português] A apresentação da obra de Tarsila do Amaral no Museu de Arte Moderna de Nova faz referência ao Surrealismo, estética artística que terá influenciado o quadro “Sono”, uma representação onírica da paisagem tropical com uma figura repetitiva que desaparece ao fundo. A estrofe em [E] apresenta características dessa mesma estética, através da reconstrução elaborada de um mundo ilógico, típico de sonho: “O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo”, “a vida move direitinho as estátuas” ou “invocam os pesadelos de mármore na beira do infinito”. Resposta da questão 13: [B] O poema “O farrista”, de Murilo Mendes, relata, em linguagem coloquial, a chegada de Cabral ao Brasil, desconstruindo a visão ufanista dos colonizadores. O tom cômico transparece na figura de um anjo que gosta de farras, displicente com a tarefa de proteger os nativos e que, na volta de uma viagem a Paris, encontra o Brasil ocupado por portugueses e holandeses, o que não o impediu de ir embora para sempre, despreocupado com o que viesse a acontecer. Assim, é correta a opção [B]. Resposta da questão 14: [A] No poema “Quinze de Novembro”, Murilo Mendes apresenta a proclamação da república de forma caricatural, atribuindo uma linguagem coloquial aos personagens, linguagem considerada inadequada se levarmos em conta a relevância social do acontecimento. Assim, é correta a opção [A]. Resposta da questão 15: [B] I. Verdadeiro. Poeta da 1ª geração romântica brasileira, Gonçalves Dias participa do movimento nacionalista e, no texto em questão, contrapõe o Brasil, sua terra natal idealizada, e Portugal, país em que está “exilado” por motivos de saúde. Em tom de saudade, afirma: “As aves que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá”. II. Falso. Oswald de Andrade e Ascenso Ferreira são poetas da 1ª geração modernista, Murilo Mendes pertence à 2ª. Realmente não há exaltação em seus versos, porém esse posicionamento é típico ao Modernismo: tais poetas prezam pela revisão crítica e humorística do nacionalismo. III. Verdadeiro. Ascenso Ferreira é poeta da 1ª geração modernista, valorizando a oralidade. Agrega a esse grupo o regionalismo, o qual, usualmente, caracteriza a prosa da 2ª geração modernista. IV. Verdadeiro. É premissa da 1ª geração modernista criticar o posicionamento idealizado dos poetas românticos: por esse motivo, dialogam com tais obras, a fim de deixar nítida a oposição entre a visão de mundo deles.V. Falso. Como afirmado anteriormente, Gonçalves Dias é poeta da 1ª geração romântica brasileira. Finalmente, Oswald de Andrade e Ascenso Ferreira são poetas da 1ª geração modernista, e Murilo Mendes pertence à 2ª geração modernista. Resposta da questão 16: [B] [I] Correta. A poesia aproxima choro e ondas. [II] Correta. Em “O choro vem quase chorando / como a onda que toca a praia”, o primeiro verso mostra a variação das emoções; o segundo, o movimento das marés. [III] Incorreta. O sentimento humano não é amenizado, uma vez que “o choro foge sem vestígios / mas levando náufragos dentro”; desse modo, o sentimento é potencializado, principalmente ao aproximar a ideia de sofrimento e de perda de orientação simbolizada pela imagem do náufrago. [IV] Correta. “O choro (...) cala” indica que há contenção do sentimento; porém, por tragar náufragos, a dor é desoladora. Resposta da questão 17: [A] Apenas em “Fanatismo”, o verso assinalado entre aspas, “Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”, transmite o discurso alheio da opinião pública, estabelecendo o contraditório com o que pensa e sente o eu- lírico, desmentindo a última afirmação. Como as demais são verdadeiras, é correta a opção [A]. Resposta da questão 18: [E] Na quarta estrofe, o eu lírico trata da imagem do jardim, que tem noite e dia, vida e morte. Assim, revela como a vida é efêmera, passando rapidamente da vida para a morte, do dia para a noite. Resposta da questão 19: [C] [II] Incorreta: apesar de os três poemas apresentarem a temática da ausência, é possível observar que o fazem de formas distintas. o primeiro recorre aos sentidos para construir imagens de ausência; o segundo, trata da ausência de alguém que partiu inesperadamente, criando uma forte imagem de morte; por fim, o terceiro pinta um cenário de ausência com intensos sentimentos de amor e afeto. Resposta da questão 20: [B] [I] Incorreto. Apesar de retomar expedientes românticos, como a subjetividade, a obra de Cecília Meireles faz parte da 2ª geração Modernista. [II] Correto. A abordagem intimista se dá por ocorrência da subjetividade (“te juro”) e da reflexão sobre a condição humana (assim como os barcos, o eu lírico também se perde). Resposta da questão 21: [D] As opções [A], [B], [C] e [E] são incorretas, pois [A] o poema “A um passarinho”, de Vinicius de Moraes, sugere a ideia de que a poesia resulta do sentimento de tristeza e nostalgia que domina o eu lírico; Página 15 de 16 [B] nem a imagem pretende assinalar a distração de leitores, nem a referência a Anchieta e Assis no poema tem a ver com o engajamento do poeta com figuras históricas. O nome de Anchieta representa a prosa do Padre José de Anchieta e Assis, a cidade onde nasceu São Francisco, protetor dos animais e com poder de afastar o passarinho; [C] a imagem não pretende associar produção poética à distração, mas sim a outros gêneros literários; [E] no poema, não existe menção ao fato de que poesia e prosa são gêne¬ros distintos, enquanto que na imagem trespassa essa sensação, pois os personagens mergulhados em diversas leituras contrastam com o último da fila que é absorvido pelo voo de uma borboleta. Assim, é correta apenas [D], pois tanto o poema de Vinicius quanto a imagem apre¬sentam a ideia de que a poesia é algo fugidio, volúvel, consequência também de um estado de espírito. Resposta da questão 22: [E] Vinicius de Moraes, ao afirmar que o cronista retrata o cotidiano de forma criativa (“artimanhas peculiares”) de maneira a introduzir novos sentidos (“sangue novo”) ao que está a ser relatado, expressa a opinião de que cabe ao cronista ressignificar o cotidiano pela escrita, como se afirma em [E]. Resposta da questão 23: [B] Apesar de haver a reiteração da denúncia de violência, como indica a alternativa [A], o que se evidencia de um poema para o outro é justamente uma mudança na caracterização da mulher negra, como corretamente aponta a alternativa [B]. Nos dois poemas não há uma visão que oculta os mecanismos de poder que garantiam a exploração da mulher negra, diferentemente do que afirma a alternativa [C]. Tampouco existe no primeiro poema uma visão idílica da escravidão para que fosse superada no segundo texto. Resposta da questão 24: [A] O poema retrata a trajetória de vida de Maria Diamba, uma mulher negra que, para se livrar do jugo da chibata, trabalhou como cozinheira na casa do seu senhor e que, de tanto lidar na cozinha, se transformou no próprio espaço em que trabalhava: a cozinha. Vítima de abuso sexual, reprimida pela violência com que era tratada, mas consciente da sua triste condição e das injustiças sociais, divagava sozinha (“só diante da ventania / que vinha do Sudão”), exprimindo o seu desejo de fugir “dos senhores e das judiarias deste mundo”. Ou seja, a resistência dessa figura feminina é assinalada no texto pela relação que se faz entre o uso da fala e o desejo de decidir o próprio Resposta da questão 25: [A] No poema “Remissão’, os versos “Tua memória, pasto de poesia,/tua poesia, pasto dos vulgares” e “o que dorme na base da elegia/vai correndo e secando pelos ares” expressam a frustração do eu lírico pela condição vulgar e efêmera da sua poesia, ao mesmo tempo que se instala a sensação de incomunicabilidade, ao reconhecer que o fazer poético serve apenas para seu próprio contentamento:” e nada resta, mesmo, do que escreves/e te forçou ao exílio das palavras,/senão contentamento de escrever”. Assim, é correta a opção [A]. Resposta da questão 26: [D] [III] Incorreta: “Quadrilha”, na verdade, trata das vivências amorosas, destacando a imprevisibilidade e a dificuldade de uma real correspondência ao associar o “jogo amoroso” a uma espécie de dança, a quadrilha. Página 16 de 16