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História do Brasil – Frente 1 Economia Açucareira Prof. Filipe Leite Página 1 de 6 Aula: 4 1 – Características gerais Causas da opção pela produção açucareira no Brasil colonial *Alto valor de mercado do produto Usos: remédio ou condimento exótico *Modelo já testado nas Ilhas Atlânticas Modelo produtivo: Plantation *Grande Propriedade *Mão-de-obra escrava negra africana *Monocultura *Produção voltada para o mercado externo ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 2 – Estrutura produtiva Engenho *Unidade produtiva do açúcar *Composição Área de plantio Casa grande e senzala Moenda (real ou trapiche) Casa de purgar Fabrico do açúcar Produtos *Açúcares: Mascavo ou Barreada *Subprodutos: Rapadura e Cachaça Parceria comercial com a burguesia Holandesa *Banco de Amsterdam Financiamento, transporte, refino e comercialização do açúcar na Europa ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 3 - Sociedade Açucareira Sociedade rural, patriarcal, aristocrática e com pouca mobilidade (estamental) Composição *Senhor de Engenho *Trabalhadores livres *Escravizados Formação da sociedade brasileira *Processo de mestiçagem *Princípio da exclusão social – “Pureza de Sangue” Impossibilidade de mestiços ocuparem cargos públicos, ter títulos de nobreza ou participar de irmandades ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ 4 – Escravidão Africana Negra no Brasil Origem do conceito de escravidão *Antiguidade oriental Justificativas ao sistema *Econômica: Lucros para a coroa de Portugal *Política: existência de escravizados na África *Religiosa: Bula Dum Diversas ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Processo de mercantilização dos escravizados *Origem dos cativos na África Prisioneiros de guerras tribais comercializados pelos Chefes das tribos vencedoras com mercadores lusos Trocas de escravizados por armas, joias ou cachaça. *Estoque de almas em feitorias Navios Negreiros *Transporte de almas entre África e América Comércio de almas no Brasil *Portos, feiras *Interprovíncias ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Tipos de Escravizados *Doméstico: casa grande *Campo: Produção agrícola ou mineração *Forros: libertos por compra ou merecimento Modelos de Escravos *Boçais, Ladinos e Crioulo Principais etnias de africanos no Brasil *Bantos, Sudaneses, Nagôs e Costa da Mina Resistência dos escravizados ao sistema *Violência (homicídio, suicídio, aborto) *Revoltas *Quilombos *Cultural ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Orientações de Estudos Leitura: Livro I, página 461 até 464 Tarefa: Lista: ex: 1, 2, 3, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 14, 15, 17, 18, 20 Livro I, pg 465 ex 3 e 5 / pg 467 ex: 1, 2, 3 e 4 Aprofundamento: Lista: ex: 4, 5, 10, 13, 16, 19 Livro I, pg 465 ex: 6 e 8 Leitura Complementar: Lopez, Adriana; Mota, Carlos Guilherme. História do Brasil: uma interpretação. Ed Senac. SP. 2008 Página 2 de 6 Exercícios de Tarefa 1. (Enem PPL 2020) Ao longo de uma evolução iniciada nos meados do século XIV, o tráfico lusitano se desenvolve na periferia da economia metropolitana e das trocas africanas. Em seguida, o negócio se apresenta como uma fonte de receita para a Coroa e responde à demanda escravista de outras regiões europeias. Por fim, os africanos são usados para consolidar a produção ultramarina. ALENCASTRO, L. F. O trato dos viventes. São Paulo: Cia. das Letras, 2000 (adaptado). A atividade econômica destacada no texto é um dos elementos do processo que levou o reino português a a) utilizar o clero jesuíta para garantir a manutenção da emancipação indígena. b) dinamizar o setor fabril para absorver os lucros dos investimentos senhoriais. c) aceitar a tutela papal para reivindicar a exclusividade das rotas transoceânicas. d) fortalecer os estabelecimentos bancários para financiar a expansão da exploração mineradora. e) implementar a agromanufatura açucareira para viabilizar a continuidade da empreitada colonial. 2. (Famerp 2019) O sistema de plantation, predominante na colonização portuguesa do Brasil, baseou-se na a) produção agrícola voltada à subsistência e ao comércio local. b) exportação dos excedentes agrícolas não consumidos internamente. c) aplicação de moderna tecnologia europeia à agricultura. d) rotação de culturas em pequenas propriedades rurais. e) monocultura extensiva com emprego de trabalho compulsório. 3. (Famema 2018) Havia muito capital e muita riqueza entre os lavradores de cana, alguns ligados por laços de sangue ou matrimônio aos senhores de engenho. Havia também um bom número de mulheres, não raro viúvas, participando da economia açucareira. Digno de nota até o fim do século XVIII, contudo, era o fato de os lavradores de cana serem quase invariavelmente brancos. Os negros e mulatos livres simplesmente não dispunham de créditos ou capital para assumir os encargos desse tipo de agricultura. (Stuart Schwartz. “O Nordeste açucareiro no Brasil Colonial”. In: João Luis R. Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa (orgs). O Brasil Colonial, vol 2, 2014.) O excerto indica que a sociedade colonial açucareira foi a) organizada em classes, cuja posição dependia de bens móveis. b) apoiada no trabalho escravo, principalmente o dos lavradores de cana. c) baseada na “limpeza de sangue”, portanto se proibia a miscigenação. d) determinada pelos recursos financeiros, o que impedia a mobilidade. e) hierarquizada por critérios diversos, tais como a etnia e riqueza. 4. (Fgv 2018) A agromanufatura da cana resultaria em outro produto tão importante quanto o açúcar: a cachaça. Alambiques proliferaram ao longo dos séculos coloniais. A comercialização da bebida afetava profundamente a importação de vinhos de Portugal. Esse comércio era obrigatório, pois por meio dos tributos pagos pelas cotas do vinho importado é que a Coroa pagava as suas tropas na Colônia. A cachaça produzida aqui passou a concorrer com os vinhos, com vantagens econômicas e culturais. Essa concorrência comercialentre colônia e metrópole se estendeu para as praças negreiras e rotas de comercialização de escravos na África portuguesa. A cachaça brasileira, por ser a bebida preferida para os negócios de compra e venda de escravos africanos, colocou em grande desvantagem a comercialização dos vinhos portugueses remetidos à África. A longa queda de braço mercantil acabou favorecendo afinal a cachaça, porque sem ela, nada de escravos, nada de produção na Colônia, com consequências graves para a arrecadação do reino. (Ana Maria da Silva Moura. Doce, amargo açúcar. Nossa História, ano 3, nº 29, 2006. Adaptado) A partir dessa breve história da cachaça no Brasil, é correto afirmar que a) essa produção prejudicou os negócios relacionados ao açúcar, porque desviava parte considerável da mão de obra e dos capitais, além de incentivar o tráfico negreiro em detrimento do uso do trabalho compulsório indígena, que mais interessava ao Estado português. b) esse item motivou recorrentes conflitos entre as elites colonial e metropolitana, condição em parte solucionada quando as regiões africanas fornecedoras de escravos tornaram-se também produtoras de cachaça, o que desestimulou a sua produção na América portuguesa. c) essa bebida tem uma trajetória que comprova a ausência de domínio da metrópole sobre a América portuguesa, porque as restrições ao comércio e à produção de mercadorias no espaço colonial não surtiam efeitos práticos e coube aos senhores de engenho impor a ordem na Colônia. d) esse produto desrespeitava um princípio central nas relações que algumas metrópoles europeias impunham aos seus espaços coloniais, nesse caso, a quebra do monopólio de grupos mercantis do reino e a concorrência a produtos da metrópole. e) essa mercadoria recebeu um impulso importante, mesmo contrariando as determinações metropolitanas, mas, gradativamente, perdeu a sua importância, em especial quando o tabaco e os tecidos de algodão assumiram a função de moeda de troca por escravos na África. 5. (Fuvest 2017) Durante as obras relativas ao projeto urbanístico Porto Maravilha, na zona portuária do Rio de Janeiro, foram encontradas, na escavação da área, as lajes de pedra do antigo Cais do Valongo. Esse cais de pedra foi construído no local que era utilizado para o desembarque de africanos escravizados desde o século XVIII. Quase um quarto de todos os africanos escravizados nas Américas chegou pelo Rio de Janeiro, podendo esta cidade ser considerada o maior porto escravagista do mundo. a) Considerando as atividades econômicas importantes do século XVIII que utilizavam predominantemente mão de obra escravizada, escreva, na legenda do mapa a seguir, duas dessas atividades e as localize no mapa utilizando os números I e II. Página 3 de 6 b) Indique dois motivos que explicam por que, no Brasil, durante o período colonial, a mão de obra escravizada dos indígenas foi substituída pela mão de obra escravizada dos africanos. 6. (Espcex (Aman) 2017) As relações entre a metrópole e a colônia foram regidas pelo chamado pacto colonial, sendo este aspecto uma das principais características do estabelecimento de um sistema de exploração mercantil implementado pelas nações europeias com relação à América. Com relação ao Brasil, do que constava este pacto? a) As colônias só poderiam produzir artigos manufaturados. b) A produção agrícola seria destinada, exclusivamente, à subsistência da colônia. c) A produção da colônia seria restrita ao que a metrópole não tivesse condições de produzir. d) A colônia poderia comercializar a produção que excedesse às necessidades da metrópole. e) Portugal permitiria a produção de artigos manufaturados pela colônia, desde que a matéria-prima fosse adquirida da metrópole. 7. (Espm 2016) Quem vir na escuridade da noite aquelas fornalhas tremendas perpetuamente ardentes, o ruído das rodas, das cadeias, da gente toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mesmo tempo sem momento de tréguas, nem de descanso; quem vir enfim toda a máquina e aparato confuso e estrondoso daquela Babilônia, não poderá duvidar, ainda que tenha visto Etnas e Vesúvios, que é uma semelhança de inferno. (Padre Antonio Vieira. Citado por Lilia Schwarcz e Heloisa Starling in Brasil uma Biografia) A leitura do trecho deve ser relacionada com: a) o trabalho indígena na extração do pau-brasil; b) o trabalho indígena na lavoura da cana-de-açúcar; c) o trabalho de escravos negros africanos no engenho de cana-de- açúcar; d) o trabalho de escravos negros africanos no garimpo, na mineração; e) o trabalho de imigrantes italianos na lavoura cafeeira. 8. (Unesp 2016) Os diários, as memórias e as crônicas de viagens escritas por marinheiros, comerciantes, militares, missionários e exploradores, ao lado das cartas náuticas, seriam as principais fontes de conhecimento e representação da África dos séculos XV ao XVIII. A barbárie dos costumes, o paganismo e a violência cotidiana foram atribuídos aos africanos ao mesmo tempo em que se justificava a sua escravização no Novo Mundo. A desumanização de suas práticas serviria como justificativa compensatória para a coisificação dos negros e para o uso de sua força de trabalho nas plantations da América. (Regina Claro. Olhar a África, 2012. Adaptado.) As “plantations da América”, citadas no texto, correspondem a a) um esforço de coordenação da colonização ao redor do Atlântico, com a aplicação de modelos econômicos idênticos nas colônias ibéricas da América e da costa africana. b) uma estratégia de valorização, na colonização da América e na África, das atividades agrícolas baseadas em mão de obra escrava, com a consequente eliminação de toda forma de artesanato e de comércio local. c) um modelo de organização da produção agrícola caracterizado pelo predomínio de grandes propriedades monocultoras, que utilizavam trabalho escravo e destinavam a maior parte de sua produção ao mercado externo. d) uma forma de organização da produção agrícola, implantada nas colônias africanas a partir do sucesso da experiência de povoamento das colônias inglesas na América do Norte. e) uma política de utilização sistemática de mão de obra de origem africana na pecuária, substituindo o trabalho dos indígenas, que não se adaptavam ao sedentarismo e à escravidão. 9. (Unesp 2015) A casa-grande, residência do senhor de engenho, é uma vasta e sólida mansão térrea ou em sobrado; distingue-se pelo seu estilo arquitetônico sóbrio, mas imponente, que ainda hoje empresta majestade à paisagem rural, nas velhas fazendas de açúcar que a preservaram. Constituía o centro de irradiação de toda a atividade econômica e social da propriedade. A casa-grande completava-se com a capela, onde se realizavam os ofícios e as cerimônias religiosas [...]. Próximo se erguia a senzala, habitação dos escravos, os quais, nos grandes engenhos, podiam alcançar algumas centenas de “peças”. Pouco além serpenteava o rio, traçando através da floresta uma via de comunicação vital. O rio e o mar se mantiveram, no período colonial, como elementos constantes de preferência para a escolha da situação da grande lavoura. Ambos constituíam as artérias vivificantes: por meio delas o engenho fazia escoar suas safras de açúcar e, por elas, singravam os barcos que conduziam as toras de madeira abatidas na floresta, que alimentavam as fornalhas do engenho, ou a variedade e a multiplicidade de gêneros e artigos manufaturados que o engenho adquiria alhures [...]. (Alice Canabrava apud Déa Ribeiro Fenelon (org.). 50 textos de história do Brasil,1986.) Quanto à organização da vida e do trabalho no engenho colonial, o texto a) destaca a ausência de quaisquer relações de trabalho e de amizade dos senhores com os seus escravos. b) demonstra a distribuição espacial das construções e seu papel nofuncionamento e na lógica do poder dentro do engenho. c) enfatiza a predominância do trabalho compulsório e os lucros obtidos na comercialização de escravos de origem africana. d) denuncia o descaso dos senhores de engenho com a escolha da localização para a instalação do engenho. e) atesta a irracionalidade do posicionamento das edificações e os problemas logísticos trazidos pela falta de planejamento espacial. 10. (Unicamp 2021) Em estudo amplamente divulgado pela historiografia luso-brasileira, o historiador Charles Boxer afirmou: “entre as instituições que foram características do império marítimo português e que ajudaram a manter unidas as suas diferentes Página 4 de 6 colônias, contavam-se o Senado da Câmara, as irmandades de caridade e as confrarias laicas”. (Adaptado de Maria Fernanda Bicalho, “As Câmaras Municipais no Império Português: o Exemplo do Rio de Janeiro”. Revista Brasileira de História, São Paulo: ANPUH, v. 18, n. 36, p. 252, 1998.) A partir da leitura do texto e dos seus conhecimentos, a) cite e explique uma função de uma das instituições citadas no texto que contribuía para a manutenção da unidade de diferentes colônias do império marítimo português; b) explique duas razões pelas quais a existência de quilombos no período colonial problematiza a noção de integridade do império português. 11. (Unesp 2021) O consumo dos alimentos nas propriedades de monocultura de cana-de-açúcar estava […] baseado no que se podia produzir nas brechas de um grande sistema subordinado ao mercado externo, resultando em uma grande quantidade de farinha de mandioca, feijões de diversos tipos, batata-doce, milho e cará comidos com pouco rigor, além de uma cultura do doce, cristalizada na mistura das frutas com açúcar refinado e simbolizada, popularmente, pela rapadura. (Paula Pinto e Silva. “Sabores da colônia”. In: Luciano Figueiredo (org). História do Brasil para ocupados, 2013.) O texto caracteriza formas de alimentação no Brasil colonial e revela a) o esforço metropolitano de diversificar a produção da colônia, com o intuito de ampliar as vendas de alimentos para outros países europeus. b) a diferença entre a sofisticação da alimentação da população colonial e o restrito conjunto de alimentos disponíveis na metrópole. c) a articulação entre um sistema de produção voltado ao atendimento das necessidades e interesses da metrópole e as estratégias de subsistência. d) o interesse dos grandes proprietários de terras na colônia de produzir para o mercado interno, rejeitando a submissão ao domínio metropolitano. e) a separação entre as lavouras voltadas ao fornecimento de alimentos para os países vizinhos e as plantações destinadas ao consumo interno. 12. (Fuvest 2021) [No Brasil] a transição da predominância indígena para a africana na composição da força de trabalho escrava ocorreu aos poucos ao longo de aproximadamente meio século. Quando os senhores de engenho, individualmente, acumulavam recursos suficientes, compravam alguns cativos africanos, e iam acrescentando outros à medida que capital e crédito se tornavam disponíveis. Em fins do século XVI, a mão de obra dos engenhos era mista do ponto de vista racial, e a proporção foi mudando constantemente e favor dos africanos e sua prole. Stuart Schwartz, Segredos internos. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p.68. Com base na leitura do trecho e em seus conhecimentos, podemos afirmar corretamente que no Brasil a) a implementação da escravidão de origem africana não fez desaparecer a escravidão indígena, pois o emprego de ambos poderia variar segundo épocas e regiões específicas. b) do ponto de vista senhorial, valia a pena pagar mais caro por escravos africanos, porque estes viviam mais do que os escravos indígenas, que eram mais baratos. c) o comércio de escravos africanos foi incompatível com o comércio de indígenas, porque eram explorados por diferentes traficantes, que competiam entre si. d) havia crédito disponível para a compra de escravos africanos, mas não de escravos indígenas, pois a Igreja estava interessada na manutenção de boas relações com os nativos. e) a escravização dos indígenas pelos portugueses foi impossibilitada pelo fato de que os povos nativos americanos eram contrários ao aprisionamento de seres humanos. 13. (Unicamp 2020) Um dos eixos da bipolaridade escravista que unia a África à América portuguesa girava, justamente, na rota aberta entre as duas margens do mar por correntezas e ventos complementares. Na ida, a rota principal seguia o inverso dos ponteiros do relógio, no sentido dos ventos oeste-leste, entre o Trópico de Capricórnio e 30 5. Na volta, a rota principal seguia no sentido dos alísios de sudeste, abaixo da linha do Equador. Na medida em que se zarpava com facilidade de Pernambuco, da Bahia e do Rio de Janeiro até Luanda ou a Costa da Mina, e vice-versa, a navegação luso-brasileira que se desenvolveu naquelas rotas foi transatlântica e negreira. Vários tipos de trocas uniam as duas margens do oceano. (Adaptado de Luiz Felipe de Alencastro, O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 61 - 63.) Com base no excerto e em seus conhecimentos, responda às questões. a) Explique a direção dos ventos alísios no Atlântico Sul e a sua funcionalidade no transporte marítimo da África para o Brasil. b) Cite e explique um exemplo de relação estabelecida entre o Brasil e a África na época da colonização portuguesa na América. 14. (Famema 2020) O avanço das culturas sul-americanas nas zonas tropicais africanas conhece três etapas. Num primeiro tempo, a América exporta mandioca através da Guanabara e do litoral vicentino. Numa segunda etapa, a mandioca, o milho, a batata-doce e frutas sul-americanas passam a ser plantados nas terras africanas. Num terceiro tempo, tais culturas espalham-se pelos sertões africanos. O uso do milho e da mandioca como ração dos povos da região permitiu que os guerreiros negreiros dilatassem suas áreas de captura. Roças de mandioca e milho são abertas nas áreas de parada e descanso dos bandos, facilitando o transporte terrestre de um maior número de cativos do sertão. (Luiz Felipe de Alencastro. O trato dos viventes, 2000. Adaptado.) O historiador a) relaciona a influência cultural africana com o desenvolvimento da agricultura na América. b) mostra o intercâmbio econômico entre os indígenas americanos e os guerreiros africanos. c) associa a introdução de novos cultivos na África com o aumento do tráfico negreiro. d) evidencia o escambo de produtos agrícolas americanos por cativos do interior africano. Página 5 de 6 e) destaca a importância da monocultura de exportação desenvolvida no Atlântico Sul. 15. (Mackenzie 2020) “Com a longa depressão dos preços do açúcar brasileiro que persistiu na maior parte do século XVIII, o tráfico baiano com a Costa da Mina tornou-se a principal fonte de escravos na economia colonial em um sistema assemelhado ao uso da geritiba (cachaça) pelos comerciantes do Rio na compra de escravos em Benguela e Luanda. Os baianos compravam escravos no ocidente da África com tabaco de rolo feito com a parte não vendida da colheita e resultante de um processamento inferior que o tornava um produto agrícola de baixo custo em relação à indústria do fumo orientada para mercados metropolitanos.” (PANTOJA, Selma e SARAIVA, José Flávio. Angola e Brasil nas rotas do Atlântico. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998. p.27) É possível inferir que o trecho acima indica que a) A lucratividade do tráfico negreiro está relacionada com o baixo custo na aquisição dos escravos em território africano e o alto valor desses vendidos no litoral brasileiro. b) A crise do açúcar brasileiro acarretada pela concorrência com o açúcar antilhano dinamizou o tráficode escravos para o sudeste da colônia. c) A geritiba e a tabaco eram os únicos produtos aceitos nas trocas entre traficantes de escravos africanos e baianos. d) O preço do escravo africano caiu vertiginosamente no litoral brasileiro, durante o século XVIII, devido às crises econômicas coloniais. e) A economia brasileira foi menos dependente da mão de obra escrava, durante o século XVIII, devido à mineração e a uma nova dinâmica econômica. 16. (Fuvest 2020) O suplício tem então uma função jurídico‐política. É um cerimonial para reconstituir a soberania lesada por um instante [...]. A execução pública, por rápida e cotidiana que seja, se insere em toda a série dos grandes rituais do poder eclipsado e restaurado (coroação, entrada do rei numa cidade conquistada, submissão dos súditos revoltados). [...] O suplício não restabelecia a justiça; reativava o poder. No século XVII, e ainda no começo do XVIII, ele não era, com todo o seu teatro de terror, o resíduo ainda não extinto de uma outra época. Suas crueldades, sua ostentação, a violência corporal, o jogo desmesurado de forcas, o cerimonial cuidadoso, enfim, todo o seu aparato se engrenava no funcionamento político da penalidade. [...] Mas nessa cena de terror o papel do povo é ambíguo. Ele é chamado como espectador: é convocado para assistir às exposições, às confissões públicas; os pelourinhos, as forcas e os cadafalsos são erguidos nas praças públicas ou à beira dos caminhos; os cadáveres dos supliciados muitas vezes são colocados bem em evidência perto do local de seus crimes. As pessoas não só têm que saber, mas também ver com seus próprios olhos. Porque é necessário que tenham medo; mas também porque devem ser testemunhas e garantias da punição, e porque até certo ponto devem tomar parte nela. Michel Foucault, Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1983. a) Identifique uma das práticas punitivas descritas no texto empregadas na sociedade colonial brasileira. b) Explique as relações entre a exibição do poder monárquico e as punições judiciais na sociedade do Antigo Regime europeu. c) A participação do povo nas execuções conferia a elas um caráter democrático? Justifique. 17. (Enem digital 2020) Associados a atividades importantes e variadas na evolução das sociedades americanas modernas, os africanos conseguiram impor sua marca nas línguas, culturas, economias, além de participar, quase invariavelmente, na composição étnica das comunidades do Novo Mundo.A sua influência alcançou mais fortemente as regiões do latifúndio agrícola, em comunidades cujo desenvolvimento ocorreu às margens do Atlântico e do mar das Antilhas, do sudeste dos Estados Unidos até a porção nordeste do Brasil, e ao longo das costas do Pacífico, na Colômbia, no Equador e no Peru. KNIGHT, F. W. A diáspora africana. In: AJAYI, J. F. A. (Org.). História geral da África: África do século XIX à década de 1880. Brasília: Unesco, 2010 (adaptado). Uma das contribuições da diáspora descrita no texto para o continente americano foi o(a) a) fim da escravidão indígena. b) declínio de monoculturas locais. c) introdução de técnicas produtivas. d) formação de sociedades estamentais. e) desvalorização das capitanias hereditárias. 18. (Unesp 2020) Nem existia Brasil no começo dessa história. Existiam o Peru e o México, no contexto pré-colombiano, mas Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, Canadá, não. No que seria o Brasil, havia gente no Norte, no Rio, depois no Sul, mas toda essa gente tinha pouca relação entre si até meados do século XVIII. E há aí a questão da navegação marítima, torna-se importante aprender bem história marítima, que é ligada à geografia. [...] Essa compreensão me deu muita liberdade para ver as relações que Rio, Pernambuco e Bahia tinham com Luanda. Depois a Bahia tem muito mais relação com o antigo Daomé, hoje Benin, na Costa da Mina. Isso formava um todo, muito mais do que o Brasil ou a América portuguesa. [...] Nunca os missionários entraram na briga para saber se o africano havia sido ilegalmente escravizado ou não, mas a escravidão indígena foi embargada pelos missionários desde o começo, e isso também é um pouco interesse dos negreiros, ou seja, que a escravidão africana predomine. [...] A escravização tem dois processos: o primeiro é a despersonalização, e o segundo é a dessocialização. (Luiz Felipe de Alencastro. Entrevista a Mariluce Moura. “O observador do Brasil no Atlântico Sul”. In: Revista Pesquisa Página 6 de 6 Fapesp, no 188, outubro de 2011.) A “despersonalização” e a “dessocialização” dos escravizados podem ser associadas, respectivamente, a) ao fato de que os escravos eram identificados por números marcados a ferro e à interdição do contato entre os cativos e seus senhores. b) à noção do escravo como mercadoria e ao fato de que os africanos eram extraídos de sua comunidade de origem. c) à noção do escravo como tolerante ao trabalho compulsório e ao fato de que ele era proibido de fazer amizades ou constituir família. d) ao fato de que os escravos eram etnologicamente indistintos e à proibição de realização de festas e cultos. e) à noção do escravo como desconhecedor do território colonial e ao fato de que ele não era reconhecido como brasileiro. 19. (Enem PPL 2019) A população africana residente nesta província, bem como a de todo o Império, compõe-se de indivíduos de diferentes lugares da África que variam em costumes e religiões; a que aqui segue o maometismo, à qual pertencemos, é uma população pequena, porém, distinta entre si, e notando a necessidade de sustentarmos nosso culto e fundados ainda no artigo 5º da Constituição do Império, requeremos ao sr. chefe de polícia licença para exercermos o culto. REIS, J. J.; GOMES, F. S.; CARVALHO, M. J. M. O Alufá Rufino: tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico negro (1822-1853). São Paulo: Cia. das Letras, 2010 (adaptado). O pedido de um grupo de africanos de Recife ao chefe de polícia local tinha como objetivo, naquele contexto, a) criticar a doutrina oficial. b) professar uma fé alternativa. c) assegurar a cidadania política. d) legalizar os terreiros de candomblé. e) eliminar algumas tradições culturais. 20. (Enem 2019) O processamento da mandioca era uma atividade já realizada pelos nativos que viviam no Brasil antes da chegada de portugueses e africanos. Entretanto, ao longo do processo de colonização portuguesa, a produção da farinha foi aperfeiçoada e ampliada, tornando-se lugar-comum em todo o território da colônia portuguesa na América. Com a consolidação do comércio atlântico em suas diferentes conexões, a farinha atravessou os mares e chegou aos mercados africanos. BEZERRA, N. R. Escravidão, farinha e tráfico atlântico: um novo olhar sobre as relações entre o Rio de Janeiro e Benguela (1790- 1830). Disponível em: www.bn.br. Acesso em: 20 ago. 2014 (adaptado). Considerando a formação do espaço atlântico, esse produto exemplifica historicamente a a) difusão de hábitos alimentares. b) disseminação de rituais festivos. c) ampliação dos saberes autóctones. d) apropriação de costumes guerreiros. e) diversificação de oferendas religiosas. Gabarito: 1: [E] 2: [E] 3: [E] 4: [D] 5: a) Podemos citar a mineração (indicando no mapa os estados de Minas Gerais ou Mato Grosso) e o ciclo do açúcar (indicando no mapa os estados de Pernambuco ou Bahia). b) Podemos citar como motivos: 1. a oposição dos jesuítas à escravidão indígena; 2. o lucro português com o tráfico negreiro. 6: [C] 7: [C] 8: [C] 9: [B] 10: a) Podemos citar as Câmaras Municipais, comandadas pelos homens-bons. A partir da proeminência da elite local, as Câmaras Municipais auxiliavam na conexão entre as vilas – em geral no interior da Colônia – e a autoridade colonial, contribuindo, assim, para a manutenção da unidade colonial portuguesa.b) Basicamente, as duas razões foram que (1) a escravidão africana não esteve presente em todas as colônias portuguesas e que (2) a existência de quilombos denota revolta, e nem em todas as possessões portuguesas ocorreram revoltas escravas. 11: [C] 12: [A] 13:a) Os ventos alísios sopram no hemisfério Sul na proximidade do Trópico de Capricórnio em direção ao Equador, recebem inclinação em função da rotação da terra. Desta forma, ganham direção aproximada oeste-leste atuando durante o ano inteiro. As embarcações que saiam da África com os africanos aproveitavam os ventos alísios para chegar ao Brasil. b) Havia uma troca (escambo) entre Brasil e África. Os africanos enviados ao Brasil eram trocados por tabaco e aguardente, entre outros produtos. 14: [C] 15: [A] 16: a) O texto cita o pelourinho – a aplicação de castigos públicos corporais aos escravos – e a forca e o cadafalso – a execução pública de infratores mediante enforcamento. b) As punições judiciais físicas tinham caráter exemplar e serviam para reafirmar o poder monárquico. c) Não, porque a participação popular se dava através da execução de função inferior ou através da formação de um público para assistir as punições. 17: [C] 18: [B] 19: [B] 20: [A]