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Modernismo A semana de 1922 Aula 1 - modernismo O início de tudo... 1917, São Paulo assistia à inauguração da Exposição de pintura moderna Anita Malfatti. Duas reações: 1) Adesão apaixonada (Futuros modernistas) 2) Crítica feroz - “A propósito da exposição Malfatti” – posteriormente conhecida como “Paranoia ou mistificação?” (Monteiro Lobato) São Paulo, a Capital Modernista O progresso de São Paulo: • Estado enriquecido pelo café • Desenvolvimento industrial • Crescimento demográfico • Fluxo migratório Consequência: Cria-se uma burguesia culta, que convivia com a alta cultura europeia Por que a semana não aconteceu no Rio de Janeiro? - Rio de Janeiro = capital do império - São Paulo = Cidade jovem nascida pelo progresso do café, menos conservadora, mais aberta ao novo e ao diferente. - Modernismo é patrocinado pela alta burguesia paulista Como entender o Modernismo? “Algo mais que um conjunto de experiências de linguagem: [...] uma crítica global às estruturas mentais das velhas gerações e um esforço de penetrar mais fundo na realidade brasileira.” (Bosi, História concisa da literatura brasileira) • Inconformismo cultural e vontade de transformação: - Artes - Literatura - História - Sociologia Situação intelectual/política estagnada A semana: 11-18 de Fevereiro de 1922 • Sarau, exposição e orquestra – Teatro Municipal de São Paulo Tônica do grupo: - Modernização da linguagem e da inteligência brasileira - Destruição da república das velhas letras - Influência vanguardista - Inimigos: parnasianos A semana: 11-18 de Fevereiro de 1922 Os escândalos da semana: 1) Declamação do poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira 2) Vaia para as composições de Villa-Lobos 3) Heitor Villa-Lobos de chinelos A semana: 11-18 de Fevereiro de 1922 2) https://www.youtube.com/watch ?v=Z6x7W5CPrUM https://www.youtube.com/watch?v=Z6x7W5CPrUM 3) Calo inflamado ou deboche modernista? Villa-Lobos de chinelo Futurismo, Cubismo, Primitivismo Maior influência para a semana de 22: Primitivismo Buscar a arte dos povos originais (ditos primitivos) como modelo a ser seguido. Para isso os modernistas exploravam as coleções etnográficas de museus de todo mundo em busca de inspiração. Arte primitiva representava para os modernistas que a buscavam, o oposto de tudo aquilo que estava sendo valorizado como arte e dominado pelo gosto convencional, como a arte acadêmica. Primitivismo - Traços simples - Referência à cultura popular ou a arte dos povos originais Futurismo X Primitivismo Compreensão do Brasil = a produção de uma literatura genuinamente nossa, sem cópia da Europa. Para tanto vai se conjugar o ideal vanguardista à cultura popular. O erudito modernista exige a cultura popular. O Primitivo, no Brasil, estava próximo Primitivismo e Vanguardas “Abaporu”, Tarsila do Amaral “A Negra”, Tarsila do Amaral Saldo da Semana de 1922 Publicações • Revista Klaxon – porta voz dos ideais da semana. • “Paulicéia desvairada”, 1922, Mário de Andrade. Repercussão dos novos ideais estéticos A divisão do Modernismo: 1ª Fase – 1922-1930 2ª Fase – 1930-1945 3ª Fase – 1945 - (?) Os artistas se preocupavam em fazer vigorar as novas proposições estéticas. Momento combativo que ansiava pelas transformações. 1ª Geração Autores: •Mário de Andrade •Oswald de Andrade •Manuel Bandeira Mário de Andrade 1893-1945 • “Pauliceia desvairada”, 1922 • Figuras de linguagem: elisão, parataxe (justaposição) e rupturas sintáticas. • Poema-telegrama/ poema-piada e criação de neologismos. • São Paulo uma cidade arlequinal Macunaíma (1928) – o primitivo na cidade. A questão da metamorfose. Composição de estilos: lenda + cômico + rapsódia. Rapsódia = composição a partir de fragmentos. Procura pela identidade brasileira, que termina indeterminada. Mário de Andrade • Projeto de Brasil – unidade do país, pesquisa folclórica (relação com o romantismo), pesquisa linguística • São Paulo = a cidade modernista, lugar do afeto. Eu-lírico fragmentado: “Eu sou trezentos, sou trezentos-e- [cinquenta, As sensações renascem de si mesmas [sem repouso, Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!” Triângulo Há navios de vela para os meus naufrágios! E os cantares da uiara rua de São Bento... Entre estas duas ondas plúmbeas de casas plúmbeas, as minhas delícias das asfixias da alma! Há leilão. Há feira de carnes brancas. Pobres arrozais! A cainçalha... A Bolsa... As jogatinas... Não tenho mais navios de vela para naufrágios! Faltam-se as forças! Falta-me o ar! [...] (Paulicéia desvairada, “Rua de São Bento”) Prefácio Interessantíssimo Leitor: Está fundado o Desvairismo. Este prefácio, apesar de interessante, inútil. Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão o prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para que me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou. Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio Interessantíssimo. Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei. E desculpem-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita si pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem. Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa é minha. Sabia da existência do artigo e deixei que saísse. Tal foi o escândalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. Não me pesaria reentrar na obscuridade. Pensei que se discutiram minhas idéias (que nem são minhas): discutiram minhas intenções. Já agora não me calo. Tanto ridicularizaram meu silêncio como esta grita. Andarei a vida de braços no ar, como indiferente de Watteau. Um pouco de teoria? Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada. [...] Oswald de Andrade 1890-1954 • Através deste autor podemos entender o melhor e o pior do legado do Modernismo de 22: convencionalismo e simplificações + poder de sátira. • Memórias sentimentais de João Miramar (1924) – “capítulos- instantes”. • Grande influência para a composição: Manifesto futurista e o cinema. • Tentativa de junção entre o modernismo e o primitivismo, mas caindo em estereótipos – Pau Brasil • Busca por uma literatura social (Pagu) Oswald de Andrade Bananeiras O sol O cansaço da ilusão Igrejas O ouro as serras de pedra A decadência (“São José Del Rei) - Mais revolucionário no trabalho estético - Preocupado em pensar o Brasil (Antropofagia) - “A poesia está nos fatos” - Uso de paródias/ poemas-piadas - Poesia sintética Manifestos de Oswald • Manifesto Pau-Brasil, 1924: - Arte baseada nas características do povo brasileiro (linguagem) - Primitivista, enfatiza a liberdade - Junção do mais moderno ao mais arcaico - Linguagem telegráfica e aforística. "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança” • Manifesto Antropofágico, 1928: - Muito baseado no manifesto Pau-Brasil; - Ideia da Antropofagia cultural como constituidora da cultura brasileira Manuel Bandeira 1886-1968 As questões biográficas: tuberculosodesde jovem, viveu esperando a morte. Contudo, morreu velho e experimentou a perda de todos os entes amados. Esta condição, o fez refletir muito sobre a morte, a família, a origem e lhe fez chegar à conclusões quase otimistas sobre a beleza da vida e da morte • Questões relativas à brasilidade + Família enquanto lugar mítico original (Recife) Manuel Bandeira • “Poeta menor” – atitude intimista, lirismo confidencial, auto irônico. Incapaz de emprenhar-se num projeto histórico. • Dos melhores poetas do verso-livre em língua portuguesa. • Nunca abriu mão, totalmente, das influências da tradição literária, nunca se deixou levar por padrões estéticos (futurismo, surrealismo etc.), ainda que sofresse influências. O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. Manuel Bandeira Consoada Quando a Indesejada das gentes chegar (Não sei se dura ou caroável), talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: — Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer. (A noite com os seus sortilégios.) Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, A mesa posta, Com cada coisa em seu lugar. • Enfoque na representação do Brasil popular • Poesia do cotidiano, numa linguagem cotidiana (simples) • Poesia que reflete sobre o sofrimento humano, a morte, a alegria • A tuberculose = dedicado reflexão sobre a morte • Infância = lugar mítico Manuel Bandeira, “Profundamente” Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Estrondos de bombas luzes de Bengala Vozes, cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam, errantes Silenciosamente Apenas de vez em quando O ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel. Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? — Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente. Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles? — Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente. (Unifesp 2020) Leia o trecho do poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira. O sapo-tanoeiro [...] Diz: — “Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. Vai por cinquenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A formas a forma. Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia Mas há artes poéticas...” (Unesp 2019) Indo às consequências finais da posição de José de Alencar no Romantismo, esse autor adotou como base da sua obra o esforço de escrever numa língua inspirada pela fala corrente e os modismos populares, não hesitando em usar formas consideradas incorretas, desde que legitimadas pelo uso brasileiro. Com isso, foi o maior demolidor da “pureza vernácula” e do “culto da forma”. (Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.) O texto refere-se a a) Olavo Bilac. b) Machado de Assis. c) Mário de Andrade. d) Aluísio Azevedo. e) Euclides da Cunha. (Unicamp 2016) Pobre alimária O cavalo e a carroça Estavam atravancados no trilho E como o motorneiro se impacientasse Porque levava os advogados para os escritórios Desatravancaram o veículo E o animal disparou Mas o lesto carroceiro Trepou na boleia E castigou o fugitivo atrelado Com um grandioso chicote (Oswald de Andrade, Pau Brasil. São Paulo: Globo, 2003, p.159.) A imagem e o poema revelam a dinâmica do espaço na cidade de São Paulo na primeira metade do século XX. Qual alternativa abaixo formula corretamente essa dinâmica? a) Trata-se da ascensão de um moderno mundo urbano, onde coexistiam harmonicamente diferentes temporalidades, funções urbanas, sistemas técnicos e formas de trabalho, viabilizando-se, desse modo, a coesão entre o espaço da cidade e o tecido social. b) Trata-se de um espaço agrário e acomodado, num período em que a urbanização não tinha se estabelecido, mas que abrigava em seu interstício alguns vetores da modernização industrial. c) Trata-se de um espaço onde coexistiam distintas temporalidades: uma atrelada ao ritmo lento de um passado agrário e, outra, atrelada ao ritmo acelerado que caracteriza a modernidade urbana. d) Trata-se de uma paisagem urbana e uma divisão do trabalho típicas do período colonial, pois a metropolização é um processo desencadeado a partir da segunda metade do século XX.