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Prof. Cristiane Literatura Página 1 de 14 Aulas 1 e 2: Introdução aos estudos literários Escrever e imitar a partir de um anseio é o que distin- gue o gênio dos pequenos artistas, que escrevem por escrever e imitam por imitar, que se contentam com o pequeno prazer ligado ao uso de seus talentos e que fazem de seus talentos, todo o seu anseio. Lessing, filósofo alemão (citado por Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. RJ: Difel, 2009, p.57-58) Caro estudante, Iniciaremos aqui nossos encontros semanais (quiçá cotidianos, o que dependerá apenas de você, do seu contato com o material didático) nos quais falaremos sobre um assunto para alguns, belo; para outros, chato e, para a maioria, enigmático: Literatura. Imagino algumas perguntas que devam surgir na mente de quem se depara com esta matéria pela primeira vez: “que é Literatura? Que estuda? Para que serve?” O problema é que o nosso objeto de estudo não possui uma fácil definição, tampouco uma utilidade prática... Num mundo cada vez mais utilitário – em que as coisas, para muitos, só fazem sentido se trouxerem algum tipo de retorno material – será difícil justificar a importância de estudar a arte da palavra. Tentaremos, porém, responder a essas questões, mas já adianto que não haverá conclusões definitivas, e sim meras especulações a respeito desse tema tão abrangente e complexo. Que seria, portanto, Literatura? Partamos para a maneira mais prática de encontrarmos definições: os verbetes de dicionário. Literatura: [Do lat. Litteratura.] S.f. 1. Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso. 2. O conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época. 3. Os homens de letras. (...) 4. A vida literária. 5. A carreira das letras. 6. Conjunto de conhecimentos relativos às obras ou aos autores literários. (...) 7. Qualquer dos usos estéticos da linguagem. (...) 8. Irrealidade, ficção. (...) 9. Bibliografia. (...) 10. Conjunto de escritos de propaganda de um produto industrial. Não podemos nos esquecer de que as conotações de um determinado termo dependem necessariamente do contexto em que está inserido e que, portanto, a palavra em estado de dicionário é fria, carente de um sentido que a transforme em coisa viva. Drummond, autor que estudaremos mais adiante, em um poema chamado “Procura da poesia”, comenta: Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? (Carlos Drummond de Andrade. “Procura da poesia”, in A rosa do povo. São Paulo: Círculo do livro, S/D. p.12) Entretanto, se partirmos do dicionário, se Literatura é “a arte de compor trabalhos artísticos em prosa ou verso”, talvez nos caiba primeiramente questionar que é arte. Para o crítico Alfredo Bosi: a arte é uma produção; logo, supõe trabalho. Movimen- to que arranca o ser do não ser, a forma do amorfo, o ato da potência, o cosmos do caos. Techné chama- vam-na os gregos: modo exato de perfazer uma tarefa, antecedente de todas as técnicas dos nossos dias. A palavra latina ars, matriz do português arte, está na raiz do verbo articular, que denota a ação de fazer junturas entre as partes de um todo. Porque eram ope- rações estruturantes, podiam receber o mesmo nome de arte não só as atividades que visavam a comover a alma (a música, a poesia, o teatro), quanto os ofícios de artesanato, a cerâmica, a tecelagem e a ourivesaria, que aliavam o útil ao belo. (Alfredo Bosi. Reflexões sobre a arte. SP: Ática, 7ª. ed, 2002. p. 14) Bosi comenta ainda o quanto Platão enxergou a conexão existente, numa obra de arte, entre a técnica e a transformação da realidade. Nas palavras do filósofo grego: Sabes que o conceito de criação (poiesis) é muito amplo, já que seguramente tudo aquilo que é causa de que algo (seja o que for) passe do não ser ao ser é criação, de sorte que todas as atividades que entram na esfera de todas as artes são criações; e os artesãos destas são criadores ou poetas (poietés). (Alfredo Bosi. op. cit. p. 14) Devemos ter em mente que, enquanto o conceito de arte podia ser identificado com o de techné dos gregos, não se separava o ato de criação, a que se refere Platão como poesia, da idealização de um aparelho mecânico ou da estruturação de um ato econômico, por exemplo. Se partirmos do pressuposto de que toda obra de arte necessariamente é constituída a partir de um ato de criação, podemos pensar o artista como um alguém criativo: É indiscutível que nenhuma obra destituída da prerro- gativa da criatividade poderia ser definida como obra de arte. A veracidade desta afirmação emerge da compa- ração entre a obra do chamado artista no momento em que ele se realiza como tal, e a obra de um operário especializado que é chamado a montar uma máquina de precisão, já tendo todas as peças prontas e o plano de montagem compreensivo da pormenorizada descri- ção de todas as etapas sucessivas. Este dará prova de aprimoramento técnico, isto é, da capacidade de executar os movimentos necessários a uma perfeita montagem segundo o plano previsto pelo engenheiro autor da máquina, sem nada acrescentar de seu, a não ser na hipótese em que a máquina apre- sente defeitos de concepção ou conste de elementos Prof. Cristiane Literatura Página 2 de 14 Essa definição, apesar de ser considerada por muitos a síntese mais perfeita do termo, está longe de findar a discussão sobre o assunto. Embora haja uma série de definições para “arte”, é impossível nos aproximarmos de um consenso a esse respeito, porque assim como a arte se transforma ao longo do tempo, os conceitos que pretendem dar conta de explicá-la também se modificam. Segundo Gombrich, conceituado crítico de arte, não podemos falar propriamente em Arte, mas em artistas – pessoas que deixaram suas marcas ao longo de diferentes períodos da história. Já que, em cada um desses momentos, a arte teve um significado específico, concluímos que, independente de qualquer definição formal, falar de arte é falar sobre processos expressivos protagonizados pelo ser humano e sobre a concretização sensível dos sistemas de valores de um determinado grupo. Portanto, a beleza da arte não estaria no belo de uma obra específica – por mais sublime que ela possa nos parecer – e sim na descoberta, na revelação do mundo. Através das obras de arte, podemos perceber como o mundo foi concebido e apreendido por diferentes pessoas em diferentes momentos históricos. Observemos os seguintes textos (imagens e poema) e atentemos para as questões abaixo. de imperfeita fabricação. O artista, em vez, a partir de um tema ou de um motivo que o tenham solicitado a operar, deverá dar prova de originalidade, isto é, de autenticidade, o que será alcançado graças ao desempenho daquela liberdade criadora que se contextua de uma dose imprescindível de novidade radical e de imprevisibilidade. (Galeffi, Romano. “A obra de arte como criação: a criação como obra de arte” in Novos ensaios de estética. Salvador: Centro Editorial e Didático da Universidade Federal da Bahia. 1979. p. 33-34) É bem verdade que não estamos falando de qualquer tipo de criatividade. Segundo Romano Galeffi, professor de estética da Universidade Federal da Bahia, é necessário reconhecer, dentro de uma obra de arte, os valores de bom, verdadeiro e útil e também o Belo, o que constituiria a “fonte essencial irredutível e autônoma para a realização e a contemplação ou fruição de toda obra de arte” (Galeffi, op.cit. p. 35). Segundo o filósofo Kant, “Belo é tudo aquilo que agrada sem interesse (econômico ou moral) e sem a representação de um conceito, naquele ato simples e intuitivo que caracteriza o juízo do gosto” (idem, p. 35). Na sua Crítica do juízo, vincula a concepção tecnológica de arte às tendências lúdicas do homem: A ideia da arte como jogo foi proposta (...) por Kant em termos de atividade ‘desinteressada’, embora não-arbi-trária, enquanto sujeita aos limites da natureza humana. O prazer estético que anima o jogo da criação é (...) puramente subjetivo, pois se exerce com representações e não com a realidade do objeto. Haveria uma verdade estética própria da representação, e que não precisa coincidir com a realidade objetiva. Assim, é esteticamente verdadeiro que o sol mergulha nas águas do mar na hora do poente, embora, à luz da ciência, essa imagem venha a ser a ilusão dos sentidos. (...) Em outras palavras: o jogo estético resolveria a contra- dição, à primeira vista insolúvel, entre a liberdade de formar (a arte é uma livre combinatória de imagens e representações) e a sua necessidade imanente: o juízo estético, que regula por dentro o fazer artístico, visa à harmonia das formas sensíveis. Caberia à faculdade do gosto perceber quando a síntese foi alcançada, isto é, quando o artista produziu uma bela representação da existência, ou quando malogrou no seu intento. (Bosi, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Série Fundamentos, ed. Ática. 2002. p. 15) Apesar de estarmos falando em um conceito de belo, sabemos que até mesmo esse conceito é deveras maleável, já que é determinado por homens que estão contextualizados, ou seja, que conceituam as coisas a partir de um ponto de vista filosófico pertencente ao seu tempo. Martin Heidegger, filósofo alemão, afirma que “arte é projeção da verdade do Ser como obra”. Ticiano. Vênus de Urbino. 1538 Eduard Manet. Olímpia. 1863 Prof. Cristiane Literatura Página 3 de 14 Repare: o que é esteticamente aceitável muda de tempos em tempos. As três imagens referem-se ao mesmo tema, podemos perceber entre elas intertextualidade. Seria, porém, apesar de falarem sobre um mesmo assunto, possível imaginar uma obra de Wesselmannn inserida no contexto do Renascimento cultural de Ticiano? Apesar da proximidade temática, o que notamos de diferente entre as pinturas? Será que caberia em qualquer momento histórico o poema de Augusto dos Anjos ou ele marca filosófica e formalmente uma determinada época? O que é considerado belo em um determinado período é enxergado da mesma forma em outro? Agora, voltemos a uma das nossas questões iniciais: para que serve a Literatura? Para “voar fora da asa”, já que “as coisas que não existem são mais bonitas”, como afirmaria o nosso grandioso poeta Manoel de Barros. Abaixo, segue para leitura, reflexão e delírio um poema desse impressionante cuiabano. No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para o som. Então, se a criança muda a função de um verbo, ele Delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é voz de fazer nascimentos – O verbo tem que pegar delírio. (Manoel de Barros. “Uma didática da invenção”, in O livro das ignorãças. São Paulo/ Rio de Janeiro: Record, 2007. 13ª. ed. p. 15) 1. Poesia, poema, verso, prosa e miscigenações Cabe-nos, agora, distinguir determinados termos que nos serão fundamentais, já que os utilizaremos durante todo o nosso curso. Porém, aqui teremos a mesma dificuldade que anteriormente já nos apareceu: conceituar algo é sempre tarefa árdua. Embasaremo-nos, portanto, em alguns teóricos para estabelecermos alguns parâmetros. 1.1 Poesia e poema A diferença entre os termos poesia e poema, para muitos, não há; é possível considerá-los sinônimos. No entanto, se entendermos que em nenhuma língua existem sinônimos perfeitos, podemos elencar algumas diferenças sutis entre eles. Comecemos pelos verbetes do Novo Dicionário Aurélio que nos interessam. a. Poesia: 1. Arte de escrever em verso; 2. Com- posição poética de pequena extensão; 3. Entusiasmo criador, inspiração; 4. Aquilo que desperta o sentimento Tom Wesselmann. Grande nu americano # 26. 1962 Versos íntimos Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera1. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa ainda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! (Augusto dos Anjos. Eu e outras poesias. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2001. p 85) Prof. Cristiane Literatura Página 4 de 14 1.2 Verso Segundo os gramáticos Celso Cunha e Lindley Cintra, verso é um período rítmico que se agrupa em séries numa composição poética, ocorre quando o autor delimita o número de sílabas na linha. Mais adiante falaremos sobre a questão do ritmo cautelosamente e a definição acima ficará mais clara. Para entendermos, no entanto, na prática, o que isso quer dizer, é só pensar em verso como a linha do poema. O texto de Manoel de Barros que acabamos de ler, por exemplo, tem doze versos. A partir do século XX, alguns textos subvertem a noção de poema como uma composição em versos. Observe os poemas abaixo e pense: possuem versos? Por que podem ser considerados poemas? Rimas da moda 1930 1960 1980 amor homem ama dor come cama fome (Paulo Leminski. Distraídos venceremos. 5. ed. SP: Brasiliense, 2002. p. 53) Segundo Roland Barthes, A poesia moderna, de fato, já que se deve opô-la à poesia clássica e à toda prosa, destrói a natureza espontaneamente funcional da linguagem e dela só deixa subsistir as bases lexicais. Das relações, ela só conserva o movimento, a música, não a verdade. A Palavra explode acima de uma linha de relações esvaziadas, a gramática fica desprovida de sua finalida- de, torna-se prosódia, não é mais do que uma inflexão que dura para apresentar a palavra. (...) Na linguagem clássica, são as relações que conduzem a palavra e depois a arrastam imediatamente rumo a um sentido sempre projetado; na poesia moderna, as relações não são mais do que uma extensão da palavra, é a Palavra que é a ‘morada’, é implantada como uma origem na prosódia das funções, ouvidas mas ausentes. (Barthes, Roland. O grau zero da escrita. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes: 2000. p. 43) A poesia clássica pressuporia, para o crítico, uma linguagem imediatamente social, porque seria consumida por pessoas da mesma classe e transmitida oralmente. Na poesia moderna, ao contrário, cada palavra seria reduzida ao seu grau zero por ser considerada uma categoria, um objeto inesperado, algo que não é constituído de uma especificação passada ou futura, um ato sem entornos. O verso, portanto, não possui na modernidade o valor tradicional de um período rítmico agrupado em séries. Deixaremos, porém, para nos aprofundarmos nos conceitos do belo; 5. O que há de elevado ou comovente nas pessoas e nas coisas; 6. Encanto, graça, atrativo. b. Poema: 1. Obra em verso; 2. Composição poética de certa extensão, com enredo. Apesar de serem, portanto, sinônimos, o termo poesia é mais abrangente. É possível dizer: “a poesia do olhar da moça” ou “o pôr do sol é poético” – adjetivo derivado de poesia, mas não é corrente a construção “o pôr do sol é poemático” – adjetivo derivado de poema. Isso porque poesia, além de ser uma composição tal como o poema, tem também está relacionada à beleza, à inspiração e à comoção. Tzvetan Todorov, teórico, parte do pressuposto de que não há possibilidade de definir exatamente o que é poesia: Curiosamente, nenhum estudo (...) faculta uma de- finição pragmática da poesia – ou, para falar uma linguagem mais simples, não a define de acordo com o estado de espírito do autor, que precedeu o seu apa- recimento, ou de acordo com o leitor, que o seguiu. (...) São conhecidas (...) as razões desta renúncia: sob a sua forma comum e ingênua, uma tal resposta não define verdadeiramente a poesia. (Tzvetan Todorov.“Teorias da poesia”. In O discurso da poesia – “Poétique” – revista de teoria e análise literárias. Coimbra: Livraria Almedina, 1982. p. 8) De qualquer forma, é necessário que se perceba que a poesia (a partir de agora, utilizaremos o termo como sinônimo de poema), diferentemente da prosa, busca uma conexão entre as imagens e a sonoridade criadas pelo poeta – por isso é tão importante entender a musicalidade de um poema para conseguir lê-lo conscientemente (e não apenas intuitivamente). Segundo Kristeva , o que caracterizaria a linguagem poética seria a lei da não comutatividade dos lugares, ou seja, A+B+C não é o mesmo que C+B+A. Na poesia, portanto, diferentemente da matemática, a ordem dos fatores altera o produto. Para o prof. Alfredo Bosi, a imagem é um dos aspectos mais marcantes de qualquer poema e, sobre ela, afirma: a experiência da imagem, anterior à da palavra, vem enraizar-se no corpo. A imagem é afim à sensação visual. O ser vivo tem, a partir do olho, as formas do sol, do mar, do céu. O perfil, a dimensão, a cor. A imagem é um modo da presença que tende a suprir o contato direto e a manter, juntas, a realidade do objeto em si e a sua existência em nós. O ato de ver apanha não só a aparência da coisa, mas alguma relação entre nós e essa aparência: primeiro e fatal intervalo. (Alfredo Bosi. O ser e o tempo da poesia. SP: Cia. das Letras, 2000. p. 19) Mais adiante, aprofundaremos o nosso estudo em algumas técnicas de versificação. O estudo da imagem poética propriamente dita deixaremos para o caderno de Interpretação de Textos. Prof. Cristiane Literatura Página 5 de 14 que teve de levá-los no próprio táxi até a casa de sua mãe. Ele mesmo comentou o absurdo que fora aquelas compras, mas vida de rico é isso mesmo, o negócio era gastar, tirar onda, curtir a vida. Daniel recebeu bagulho solto, além de uma quantia em dinheiro que nunca tinha colocado na carteira. Dava até para comprar uma prancha ou um skate importado. -- Sou playboy! – dizia Pardalzinho a todos que comenta- vam sua nova indumentária. Tatuou no braço um enorme dragão soltando labaredas amarelas e vermelhas pelo focinho, o cabelo ligeiramente crespo foi encaracolado por Mosca. Sentia-se agora definitivamente rico, pois se vestia como eles. O cocota pediu a Mosca que compras- se uma bicicleta Caloi 10 para que pudesse ir à praia todas as manhãs. Rico também andava de bicicleta. Iria frequentar a praia do Pepino assim que aprendesse o palavreado deles. Na moral, na moral, na vida tudo é uma questão de linguagem. Alguns bandidos tentaram fazer chacota do seu novo visual. O traficante meteu a mão no revólver dizendo que não tinha cara de palhaço. Até mesmo Miúdo prendeu o riso quando o viu dentro daquela roupa de garotão da Zona Sul. (Paulo Lins. Cidade de Deus. 2ª. ed. SP: Cia das Letras, 2002. p. 238) 1.4 Prosa poética Não existem gêneros puros, principalmente em se tratando de contemporaneidade. Há alguns textos que, apesar de não serem escritos em versos, têm características poéticas: ritmo, rimas, conexão entre as imagens e a sonoridade e preocupação com esta na utilização proposital de determinadas vogais e consoantes, em suma, utilizam-se de uma linguagem que não é meramente funcional. Um excelente exemplar de autor que transforma em poesia a prosa é Guimarães Rosa. Observemos o processo de criação desse grandioso mineiro. Interessante reparar como o autor consegue trabalhar com a sonoridade do texto para criar, além das imagens fortes e da palavra que tem um sentido nela mesma (além do contexto), uma reprodução do jeito de falar do sertanejo mineiro mesmo no sotaque do narrador. Aqui reproduzimos uma passagem em que Miguilim, personagem principal da novela Campo Geral, criança, presencia a morte do irmãozinho Dito, seu melhor amigo, arrebatado pelo tétano. Miguilim entrou, empurrando os outros.: o que feito uma loucura ele naquele momento sentiu, parecia mais uma repentina esperança. O Dito, morto, era a mesma coisa que quando vivo, Miguilim pegou na mãozinha morta dele. Soluçava de engasgar, sentia as lágrimas quentes, maiores do que os olhos. Vovó Izidra o puxou, trouxe para fora do quarto. Miguilim sentou no chão, num canto, chorava, não queria esbarrar de chorar, nem podia. – “Dito! Dito!...” Então se levantou, veio de lá, mordia a boca de não chorar, para os outros o deixarem ficar no quarto. Mãe segurava com jeito o pezinho machucado doente, como caso pudesse doer de clássico e moderno em outros cadernos. Agora, atentemo- nos para a diferença entre prosa e verso. 1.3 Prosa Prosa se opõe a verso, ao menos na poética tradicional. Nos tempos clássicos, prosa e poesia possuem diferenças mensuráveis. Segundo Barthes, a poesia clássica era sentida apenas como uma variação ornamental da prosa. Se entendermos A como metro, B como rima e C como imagens, teríamos: Poesia = prosa + A+ B+ C Prosa = poesia - A - B - C Se um poema clássico é composto por versos e estrofes, uma narrativa em prosa é composta por linhas e parágrafos. Vejamos como o teórico Laurent Jenny diferencia o poético do narrativo: O que constitui a especificidade do poema em relação à narrativa, é que a linguagem nunca é nele pura- mente funcional. Objeto denso e pesado, em que a ficção se carrega sem tréguas da argila das formas. Mas é também o fato de ser um objeto perfeitamente imanente a ele próprio, no sentido em que não reenvia a nenhuma referência, chegando mesmo a negá-las. A sua temporalidade é a da frase, o seu espaço, o do sentido. Segrega o seu próprio espaço-tempo na enun- ciação, o que é talvez o percurso dum total imaginário linguístico. Pura ficção de linguagem, o poema dirige- -se a esta linguagem para recriar o mundo. E neste movimento, encontra por vezes as histórias do mundo, – eco ensurdecido, quase inaudível, propagado pela metonímia. Murmúrio longínquo onde se distinguem por vezes fragmentos de narrativas perdidas. Mas se o poema se recorda delas, não se perde nessa recorda- ção. O seu propósito obstinado reside mais na confron- tação inacabável do ser das palavras e do ser do ser – metáfora ainda. (Laurent Jenny. “O poético e o narrativo”. In O discurso da poesia – “Poétique” – revista de teoria e análise literárias. Coimbra: Livraria Almedina, 1982. p. 95 – 109) Na prosa, as palavras não são apreendidas isoladamente, mas em conjunto. Na poesia, contrariamente, já que as combinações entre termos não são automáticas como na outra, devemos conceber cada palavra em si, essa seria mais uma diferença entre esse dois tipos de textos. Abaixo, segue um exemplar de texto em prosa de Paulo Lins, autor da conhecida narrativa que inspirou o filme Cidade de Deus. A madrugada já era alta quando pardalzinho acabou de experimentar as dezenas de shorts, camisetas e pares de tênis que Daniel lhe entregara no início da noite nas imediações do Bloco Sete. Agora só faltavam as calças Saint-Tropez. Os três embrulhos eram tão grandes Prof. Cristiane Literatura Página 6 de 14 2.1 Ritmo Observe o poema abaixo. Trem de ferro Café com pão Café com pão Café com pão Virge Maria que foi isto maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre cerca Ai, seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força Oô... Foge, bicho Foge, povo Pasa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho De ingazeira Debruçada No riacho Que vontade De cantar! Oô... Quando me prendero No canaviá Cada pé de cana Era um oficiá Oô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô... Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente ainda no Dito, se o pé batesse na beira da bacia. O carinho da mão de Mãe segurando aquele pezinho do Dito era a coisa mais forte neste mundo. –“Olha os cabelos bonitos dele, o narizinho...” – Mãe soluçava. – Como o pobre do meu filhinho era bonito...” Miguilim não agüentava ficar ali; foi para o quatrode Luisalti- no, deitou na cama, tapou os ouvidos com as mãos e apertou os olhos no travesseiro – precisava de chorar, toda-a-vida, para não ficar sozinho. (Guimarães Rosa. “Campo Geral” in Manuelzão e Miguilim. 9ª. ed, RJ: Nova Fronteira, 1984. p. 109) 1.5 Poema em prosa Diz-se que a origem desse gênero miscigenado está na tradução para o francês em prosa de poemas estrangeiros, mas é com Charles Baudelaire, poeta dessa mesma origem, que a expressão passa a ter real valor. Quando cria os seus “Pequenos poemas em prosa” em 1869, (também conhecidos como “Poemas noturnos” e, com maior frequência, “Le Spleen de Paris”), retoma explicitamente em prosa um tema que, anteriormente, havia sido trabalhado em verso n’ As flores do mal, obra prima do autor publicada pela primeira vez em 1857. A teórica Barbara Johnson teoriza o poema em prosa a partir de um estudo minucioso comparativo entre “La chevelure”, poema integrante d’As flores do mal e “Um hémisphère dans une chevelure”, poema em prosa pertencente à obra já citada. Nesse estudo, ela chega à conclusão de que o poema em prosa é uma repetição da poesia, através da qual a poesia se diferencia retrospectivamente dela própria. Subvertendo a oposição binária “prosa ou poesia” por uma indeterminação que não é completa- mente nem poesia nem prosa, nem “simultaneamente poesia e prosa”, o poema em prosa não é exterior nem interior à poesia: falando da poesia, ele fala-a e não a fala, desloca-a precisamente repetindo-a. Un hémis- phère dans une chevelure não é, assim, o reflexo, nem o outro, de La chevelure, mas uma reinscrição que apenas se distingue para pôr em questão a identidade do texto que o poema em prosa reescreve. Entre estes dois textos tece-se, não a dialética totalizante duma progressiva lucidez, mas a distância irredutível que separa toda a palavra de si mesmo. (Barbara Johnson. “Algumas consequências da diferença anatômica dos textos. Para uma teoria do poema em prosa” in O discurso da poesia – “Poétique” – revista de teoria e análise literárias. Coimbra: Livraria Almedina, 1982. p. 132-133) 2. Noções de versificação Para falar sobre a estrutura do verso, precisamos nos dar conta de que ele possui como características o ritmo e a rima, além de formar estrofes. Prof. Cristiane Literatura Página 7 de 14 A vírgula não indica uma pausa na fala. O “o” do primeiro verso não é pronunciado realmente como uma vogal o, mas como uma semivogal u (o wal, representado pela letra “w”), o que ocorre também com o segundo “e” do termo “sempre”: no verso, ele tem som de uma semivogal i (yode, representado pela letra “y”). Sabendo que cada sílaba em língua portuguesa é formada pela necessária presença de uma vogal (nem mais nem menos do que uma – lembremo- nos de que semivogal não é vogal...), fica mais fácil, agora, separar as sílabas dos versos. De/ tu /do, ao / meu / a / mor / se / rei / a / ten / to Di tu dwaw mew a mor se rey a t~e tu An /tes, / e / com / tal / ze / lo, e / sem / pre, e/ tan / to à ti zi kõ taw ze lwi s~e pri ta tu Para terminar, contaremos as sílabas apenas até a última tônica, ou seja, a última acentuada: De1/ tu2 /do, ao 3/ meu4 / a 5/ mor6 / se7 / rei8 / a 9/ ten10 An1 /tes,2 / e3/ com4 / tal5 / ze6 / lo, e7 / sem8 / pre, e9/ tan10 Ambos os versos, portanto, possuem dez sílabas poéticas. Embora existam exemplos de versos de treze ou mais sílabas poéticas, nomeamos apenas os versos que possuem até doze sílabas poéticas. Abaixo, segue tabela com a nomenclatura dos versos segundo o seu número de unidades métricas. Número de sílabas poéticas Nomenclatura 1 Monossílabo 2 Dissílabo 3 Trissílabo 4 Tetrassílabo 5 Pentassílabo (redondilha menor) 6 Hexassílabo (heróico quebrado) 7 Heptassílabo (redondilha maior) 8 Octossílabo 9 Eneassílabo Pouca gente Pouca gente... (Manuel Bandeira. Libertinagem & Estrela da manhã. 24ª. impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 94 - 95) Repare que esse texto se refere a um trem de ferro não apenas no conteúdo, mas também na forma. Sua sonoridade conota a imagem de um trem, principalmente por conta do ritmo criado pelo poeta. Num texto, ritmo é a alternância entre as sílabas tônicas (fortes) e átonas (fracas) com intervalos regulares ou não muito espaçados, para que a reiteração possa ser esperada e sentida pelo nosso ouvido.2 O ritmo é o elemento essencial do verso, pois este se caracteriza, em última análise, por ser o período rítmico que se agrupa em séries numa composição poética. Quando tais períodos rítmicos apresentam o mesmo número de sílabas em todo o poema, a versificação diz-se REGULAR. Se não há igualdade silábica entre eles, a versificação é IRREGULAR ou LIVRE. (Celso Cunha e Lindley Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 651) No excerto de poeta simbolista Cruz e Sousa, as sílabas tônicas, demarcadas em negrito, repetem-se depois de uma, duas ou três sílabas átonas e podemos considerar esse tipo de versificação, portanto, como regular. Vai, Peregrino do caminho santo, Faz da tu’alma lâmpada do cego, Iluminando, pego sobre pego, As invisíveis amplidões do Pranto. 2.2 Metrificação Para medir o tamanho de um verso, é necessário fazer o que chamamos de escansão, ou seja, a contagem das suas sílabas poéticas. Para tanto, separemos as unidades métricas como se o verso inteiro fosse uma única palavra, respeitando a sua sonoridade (ou seja, o modo como se pronunciam os termos) e não a forma como ele é grafado. Tomemos como exemplo os dois primeiros versos do “Soneto da Fidelidade” de Vinicius de Moraes. Abaixo de cada verso, estará transcrito o modo como o poema soa no nosso ouvido. De tudo, ao meu amor serei atento Ditudwawmewamorsereyat~etu Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Ãtizikõtawzelwis~epritãtu O modo como se pronunciam os termos, portanto, não necessariamente pode ser identificado com a sua grafia. Prof. Cristiane Literatura Página 8 de 14 estorvam. E tais apoios têm vida limitada: atravessam séculos e desaparecem. Desapareceu a quantidade nos velhos idiomas indo-europeus; desapareceu a aliteração nos germânicos... Não há formas universais nem eternas.” (excertos citados por Celso Cunha e Lindley Cintra. Op. cit. p. 674) Degustemos um belo exemplar de poema formado por versos livres da poetisa paulista Hilda Hilst, falecida em 2004. Porque há desejo em mim, é tudo cintilância. Antes, o cotidiano era um pensar alturas Buscando Aquele Outro decantado Surdo à minha humana ladradura3. Visgo e suor, pois nunca se faziam. Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo4 Tomas-me o corpo. E que descanso me dás Depois das lidas. Sonhei penhascos Quando havia o jardim aqui ao lado. Pensei subidas onde não havia rastros. Extasiada, fodo contigo Ao invés de ganir diante do Nada. (Hilda Hilst. Do desejo. São Paulo: Globo, 2004. p. 17) 2.3 Enjambement (cavalgamento) Há alguns poetas que se utilizam de um recurso estilístico que consiste em terminar o verso em discordância com a sintaxe, em que as palavras estreitamente ligadas por um mesmo grupo fônico são deslocadas para o verso seguinte. “A essa bipartição do grupo fônico pela suspensão inesperada da voz em seu interior e pelo relevo do segundo elemento, ansiosamente esperado pelo ouvinte, dá-se o nome de cavalgamento ou, na designação francesa, enjambement.” (Cunha e Cintra. Op. cit. p. 659). Os versos anteriormente citados de Vinicius de Moraes são um belo exemplo de utilização desse recurso, já que, se os passássemos para a ordem direta, teríamos: Antes de tudo, serei atento ao meu amor. 2.4 Rima Quando há identidade (ou semelhança) de sons em determinados lugares dos versos é o que chamamos de rima. Além de ter a função de satisfazer o ouvido por conta da musicalidade que cria, ela também marca o término de um período rítmico formado pelo verso. Porém, não é essencial do verso. A métrica latina de caráter culto e as literaturasmodernas utilizam-se em demasia dos versos brancos, ou seja, sem rimas. Para analisar a combinação entre as rimas de um poema, chamaremos sempre o fim do primeiro verso de A. Tudo o que rimar com ele, também será chamado de A, o verso que não rimar, será denominado B e assim sucessivamente, seguindo a ordem alfabética, como foi feito no exemplo abaixo, poema do ultrarromântico Álvares de Azevedo. 10 Decassílabo heróico (acentuado fundamentalmente na 6ª. e na 10ª. sílabas, com possibilidade de acentuação secundária na 8ª. e numa das quatro primeiras síla- bas Decassílabo sáfico (acentuado fundamentalmente na 4ª. e na 8ª. sílaba, com possibilidade de acen- tuação na primeira ou na segunda sílaba) 11 Hendecassílabo 12 Dodecassílabo (alexandrino) Di tu dwaw mew a mor se rey a t~e tu An /tes, / e / com / tal / ze / lo, e / sem / pre, e/ tan / to à ti zi kõ taw ze lwi s~e pri ta tu Para terminar, contaremos as sílabas apenas até a última tônica, ou seja, a última acentuada: De1/ tu2 /do, ao 3/ meu4 / a 5/ mor6 / se7 / rei8 / a 9/ ten10 An1 /tes,2 / e3/ com4 / tal5 / ze6 / lo, e7 / sem8 / pre, e9/ tan10 Ambos os versos, portanto, possuem dez sílabas poéticas. Embora existam exemplos de versos de treze ou mais sílabas poéticas, nomeamos apenas os versos que possuem até doze sílabas poéticas. Abaixo, segue tabela com a nomenclatura dos versos segundo o seu número de unidades métricas. O verso que possui sua existência própria e interior consubstanciada numa coerente unidade rítmica e semântica e que não desenha uma estrofe de maneira preestabelecida é chamado de livre. Veja o que comentam, respectivamente, os estudiosos Tomás Navarro Tomás e Pedro Henríquez Ureña a respeito desse tipo de verso: “No verso livre, o fator que coordena artisticamente a palavra em seus grupos respectivos se funda na sucessão dos apoios psicossemânticos que o poeta, intuitiva ou intencionalmente, dispõe como efeito da harmonia interior que o orienta na criação de sua obra. Por seu próprio sentido individual, esta espécie de ritmo exige de parte do autor uma fina sensibilidade expressi- va e um perfeito domínio do material lingüístico”. “Reduzido a sua essência pura, sem apoios rítmicos acessórios, o verso conserva intacto seu poder de expressar, sua razão de existir. Os apoios rítmicos que a uns parecem necessários, a outros sobram ou Prof. Cristiane Literatura Página 9 de 14 As tradicionais mais comuns são as seguintes: Numero de versos Nomenclatura 2 Dístico 3 Terceto 4 Quarteto ou Quadra 5 Quintilha 6 Sextilha 7 Estrofe de sete versos (não tem nome específico) 8 Oitava 9 Estrofe de nove versos (não tem nome específico) 10 Décima 2.6 Poemas de forma fixa Há poemas que são submetidos a regras determinadas quanto à combinação dos versos, das rimas ou das estrofes. O soneto, o rondó, o rondel, a balada, o canto real, o vilancete, a sextina, o haicai e a quadra popular são exemplos de poemas que se utilizam de uma forma fixa. Dentre eles, fixaremo-nos no soneto, por conta de sua tradição nas literaturas portuguesa e brasileira. a. Soneto italiano É composto por quatorze versos, geralmente decassílabos ou alexandrinos, agrupados em dois quartetos e dois tercetos. Abaixo, um soneto camoniano para exemplificar essa forma clássica de poema. A fermosura desta fresca serra E a sombra dos verdes castanheiros, O manso caminhar destes ribeiros, Donde toda a tristeza desterra ; O rouco som do mar, a estranha terra, O esconder do sol pelos outeiros , O recolher dos gados derradeiros , Das nuvens pelo ar a branda guerra ; Enfim, tudo o que a rara natureza Com tanta verdade nos of ŕece, Me está, se não te vejo, magoando. Sem ti, tudo me enjoa e me avorrece ; Sem ti, perpetuamente estou passando, Nas mores alegrias, mor tristeza. (Minchillo, Carlos Cortez e Torralvo, Izeti Fragata. A lírica de Camões. 3ª. ed. São Paulo: Ateliê editorial, 1998. p. 71) Minha desgraça Minha desgraça não é ser poeta, A Nem na terra de amor não ter um eco, B E meu anjo de Deus, o meu planeta A Tratar-me como trata-se um boneco... B Não é andar de cotovelos rotos, C Ter duro como a pedra o travesseiro... D Eu sei, o mundo é um lodaçal perdido E Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro... D Minha desgraça, ó cândida donzela, F O que faz que o meu peito assim blasfema, G É ter para escrever todo um poema G E não ter um vintém para uma vela. F As rimas podem ser combinadas de diversas maneiras. Nas estrofes, as disposições mais frequentes são as seguintes: a. Emparelhadas: AABBCC b. Alternadas: ABABAB c. Opostas ou interpoladas: ABBA d. Encadeadas: ABA BCB CDC Quanto à sua classificação, podem ser: a. Soante (ou consoante): quando a correspondência de sons é completa. b. Toante (assonante): quando a correspondência de sons ocorre nas vogais tônicas ou a partir delas. No poema de Mendes Leal, as rimas demarcadas em vermelho são soantes; as em azul, toantes. “Ama tudo o que é beleza, Quer da terra quer dos céus, Ama toda a natureza Ama o seu e o nosso Deus; Ama a doce melodia, Ama a noite como o dia, Ama instintiva a poesia, Que ela tem nos beijos seus!” (citado por Celso Cunha e Lindley Cintra, op. cit., p. 687) 2.5 Estrofes Do grego strophé: “volta”, “conversação”. É um agrupamento rítmico formado por dois ou mais versos que podem ou não serem combinados pelas rimas. Existem as estrofes polimétricas, ou seja, aquelas que apresentam versos agrupados sem obediência a qualquer regra. É a negação da estrofe no sentido tradicional da palavra. Prof. Cristiane Literatura Página 10 de 14 Eudoro Sousa. Lisboa, 1964, 1994), entendendo-se nesta tradução que a arte da poesia se concretiza em diferentes modalidades (gêneros) a partir de um modo único de realização: a mimesis. Toda a poesia é imitação, reclama Aristóteles, que encontra nas diferentes “espécies” ou gêneros literários como a gêneros, a tragédia ou a poesia ditirâmbica a mesma matriz de interpretação da realidade. Os gêneros literários só são, portanto, distinguíveis pelos meios da imitação (ritmo, canto e verso), pelos objetos que imitam (pelas personagens que são superiores ao próprio homem, como na epopeia e na tragédia; ou pelas personagens que lhe são inferiores, como na paródia e na comédia) e pelos modos de imitação (narrativo, como na gêneros, e dramático, como na tragédia e na comédia). Esta é a primeira distinção sistemática de dois gêneros literários: a imitação narrativa e a imitação dramática. Fica, para já, de fora a poesia lírica, porque esta não pertence ao domínio da poiesis (ou “ação”, à qual pertencem a música, a dança e a poesia épica, por exemplo) e também porque Aristóteles não considera a poesia lírica uma forma de imitação narrativa ou dramática. Carlos Ceia. e – dicionário de termos literários. (www2.fcsh. unl.pt/edtl/verbetes/G/gêneros_literarios.htm) Não é possível falarmos em gêneros puros, porém, principalmente após o Romantismo. É funcional, porém, que saibamos distinguir os textos em tipos para facilitar o nosso estudo sobre eles. O professor Emil Staiger, crítico contemporâneo que busca a compreensão do fenômeno literário, acredita ser realmente difícil catalogar em compartimentos estanques todos os poemas, porque “a individualidade de cada poesia exigiria tantas divisões quantas poesias existam – e isso tornaria supérflua qualquer tentativa de ordenação”. Apesar disso, escreve toda uma obra na tentativa de definir o lírico, o épico e o dramático. Pelo caráter didático de sua obra, utilizaremos dela alguns trechos para entendermos melhor a questão dos gêneros literários. 3.1 Épico É o gênero da apresentação. Composta por partes isoladas, a linguagem épica aponta alguma coisa, mostra-a. (...) um poeta que tudo contempla e a si mesmo apresenta, não há de ocupar-se muito tempo com os domínios interiores, já que eles, de qualquer modo, só dificilmente são representados como objetos. Dirige a vista de preferência para fora (...)e observa o que se apresenta a seus olhos como bens calculáveis da vida: armas, guerreiros, movimentos de batalhas, terras e homens maravilhosos, o mar, a praia, animais e plantas, mobiliário e criações de arte. (p.86) No estilo épico, é a palavra isolada a designar um objeto que (...) clama por seus direitos. Já no vocabulário das epopeias b. Soneto inglês Também é composto por quatorze versos, distribuídos em três quartetos e um dístico final. Foi introduzido nas literaturas de língua portuguesa apenas na modernidade. Manuel Bandeira nos legou este exemplar: Soneto inglês no 2 Aceitar o castigo imerecido, Não por fraqueza, mas por altivez, No tormento mais fundo o teu gemido Trocar num grito de ódio a quem o fez. As delícias da carne e pensamento Com que o instinto da espécie nos engana Sobpor ao generoso sentimento De uma afeição mais simplesmente humana. Não tremer de esperança nem de espanto. Nada pedir nem desejar, senão A coragem de ser um novo santo Sem fé num mundo além do mundo. E então Morrer sem uma lágrima, que a vida Não vale a pena e a dor de ser vivida. (Bandeira, Manuel. “Lira dos cinquent ános” in Estrela da vida inteira -- 20ª. ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 172) 3 Teoria dos gêneros literários Gênero é um agrupamento de indivíduos ou seres que possuem características comuns. Assim, em literatura, é uma forma de classificação de textos, agrupados por qualidades formais e conceituais em categorias fixadas e descritas por códigos estéticos. Durante a história da literatura, diversos autores buscaram definir os gêneros literários. Alguns, inclusive, como os pré- românticos alemães (autores de um movimento conhecido como “Strum uns Drang”), destacaram a autonomia da obra de arte literária em relação a quaisquer convenções impostas previamente para a sua criação e recepção. A mais conhecida das teorias dos gêneros, porém, na qual todos os teóricos posteriores necessariamente se baseiam para compor a sua própria, é a do filósofo grego Aristóteles, presente em uma obra intitulada Poética: A genologia aristotélica é a primeira a insinuar uma distinção entre os modos literários (a imitação narrativa que produz o literário) e as diferentes formas de representação textual que resultam do processo mimético artístico (os diferentes gêneros). No início da Poética, Aristóteles anuncia que vai falar da poesia e das suas “espécies” (Poética, tradução de Prof. Cristiane Literatura Página 11 de 14 Esquecimento Esse de quem eu era e era meu, Que foi um sonho e foi realidade, Que me vestiu a alma de saudade, Para sempre de mim desapareceu. Tudo em redor então escureceu, E foi longínqua toda a claridade! Ceguei... tateio sombras... que ansiedade! Apalpo cinzas porque tudo ardeu! Descem em mim poentes de Novembro... A sombra dos meus olhos, a escurecer... Veste de roxo e negro os crisântemos... E desse que era meu já me não lembro... Ah! a doce agonia de esquecer A lembrar doidamente o que esquecemos...! O esquecimento descrito pelo eu lírico: a) decorre do seu sentimento de perda e de saudade. b) é fruto dos seus sonhos, incompatíveis com a reali- dade. c) torna-o ciente de que sua agonia está por findar. d) traduz a esperança, pelo jogo de cores remetendo à claridade. e) mostra o amor como intenso e indesejável. 2. (UFSCar) Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia- me completamente feliz.Houve um tempo em que minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? quem as comprava? em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? e que mãos as tinham criado? e que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz. [...] Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim. (Cecília Meireles, A arte de ser feliz. Em Escolha seu sonho, p. 24.) homéricas acreditamos reconhecer a atuação do poeta épico. A torrente de palavras registra a multiplicidade dos fatos da vida em contínuo fluir, e admiramos o poeta épico, porque ele nos apresenta a plenitude da vida.(p. 161) 3.2 Lírico Este é o gênero da recordação. É o lugar da subjetividade de um eu que expressa seus sentimentos. É o estilo da coordenação das partes, as partes são coordenadas e não se relacionam umas com s outras. O valor dos versos líricos é justamente essa unidade entre a significação das palavras e sua música. É uma música espontânea, enquanto a onomatopéia – mutatis mutandis e sem valoração – seria comparável á música descritiva. Nada mais perigoso do que uma tal manifestação direta do clima espiritual. Em consequência disso, cada palavra ou mesmo cada sílaba na poesia lírica é insubstituível e imprescindível. (...) Isso é que dificulta ou mesmo impossibilita a tradução em línguas estrangeiras. (p. 22) 3.3 Dramático É o gênero da tensão, o estilo, por exemplo, das peças teatrais. Mostra-se num todo dividido em partes bem ordenadas. Entendidos em arte poética costumam inferir a essência dos estilo dramático de sua adaptação ou não ao palco, e mantêm a esperança de poder orientar e mesmo incentivar escritores nesse campo, já que ficou claro que nem a teoria da Épica e menos ainda a da Lírica oferecem utilidade prática. Não há dúvida que todo escritor que pensa em criar peças para teatro precisa ter conhecimento exato das possibilidades do placo; e que a orientação de alguém experiente facilita consideravelmente seu caminho. Apenas fica aqui a ressalva de que palco se presta igualmente aos mais diversos gêneros literários.(...) “Teatral” e “dramático” não significam, portanto, o mesmo.(...) Seria, então, aconselhável explicar essa relação dizendo que o dramático não tem que ser compreendido a partir de sua adaptação ao palco, e sim que a instituição histórica do placo decorre da essência do gênero dramático.(p.132) Para Staiger, dois estilos de tensão, que também fora do placo são possíveis e legítimos, marcariam o dramático: o pathos (não a própria paixão, mas o tom patético que provoca paixões, o qual pressupõe sempre uma resistência que busca romper com um ímpeto) e o problema. Exercícios 1. (Unifesp) A próxima questão baseia-se num poema de Florbela Espanca. Prof. Cristiane Literatura Página 12 de 14 II Porque há desejo em mim, é tudo cintilância. Antes, o cotidiano era um pensar alturas Buscando Aquele Outro decantado Surdo à minha humana ladradura. Visgo e suor, pois nunca se faziam. Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo Tomas-me o corpo. E que descanso me dás Depois das lidas. Sonhei penhascos Quando havia o jardim aqui ao lado. Pensei subidas onde não havia rastros. 3. No texto I, fala-se em aparente liberdade sexual, que deve ser entendida como a) a maneira incisiva e proibitiva como a sociedade hoje, muito mais que em anos passados, tem agido no que diz respeito à sexualidade dos jovens. b) a nova postura dos jovens de hoje, que têm mais liberdade em suas escolhas, porém as práticas sociais, de certa forma, influenciam de forma coercitiva seus valores. c) a banalização da sexualidade, que faz com que os grupos sociais, nos dias de hoje, deixem de se importar com questões dessa natureza. d) o total descaso da sociedade em relação à vida sexual dos jovens, apesar dos perigos a que eles estão expostos, como as doenças sexualmente transmissí- veis. e) a liberação sexual que incomoda a sociedade e faz com que se cobre muito mais dos jovens, evitando-se, dessemodo, a banalização da sexualidade. 4.De acordo com o texto I, é correto afirmar que a) os jovens modernos trabalham muito melhor sua se- xualidade, pois têm iniciado sua vida sexual mais cedo. b) a mídia tem um papel efetivo na conscientização dos jovens, pois freqüentemente rechaça valores detur- pados. c) a sexualidade dos jovens é analisada, sobretudo, pela ótica dos aspectos físicos e dos valores afetivos. d) a liberdade do jovem do século XXI não o exime de vivências problemáticas quanto à sua própria sexuali- dade. e) a relação entre sexo e afetividade faz com que questões ligadas à saúde fiquem em primeiro plano para os jovens. A alternativa que sintetiza mais adequadamente o conteúdo do texto de Cecília Meireles é: a) Quase sempre, água mole em pedra dura tanto bate até que fura. b) Os olhos somente vêem aquilo para que nossa men- te está preparada. c) Ceda à tentação; pode ser que ela não se apresente novamente. d) Aquilo que os nossos olhos não vêem o nosso cora- ção não sente. e) Quem é inteligente não se aborrece em nenhuma circunstância. (Unifesp 2007 - adaptada). Os textos a seguir devem ser utilizados para responder às próximas seis questões. I Os jovens e os dilemas da sexualidade Atualmente, os jovens estão iniciando a vida sexual mais cedo. A sexualidade tem sido discutida de forma mais “aberta”, nos discursos pessoais, nos meios de comunicação, na literatura e artes. Entretanto, essa aparente “liberdade sexual” não torna as pessoas mais “livres”, pois ainda há bastante repressão e preconceito sobre o assunto. Além disso, as regras de como devemos nos comportar sexualmente prevalecem em todos os discursos, o que se torna uma questão velada de repressão. O jovem do século XXI é visto como livre, bem informado, “antenado” com os acontecimentos, mas as pesquisas mostram que, quando o assunto é sexo, há muitas dúvidas e conflitos. Desde dúvidas específicas sobre questões biológicas, como as doenças sexualmente transmissíveis, até conflitos sobre os valores e as atitudes que devem tomar em determinadas situações. Apesar de iniciarem a vida sexual mais cedo, os jovens não têm informações e orientações suficientes. A mídia, salvo exceções, contribui para a desinformação sobre sexo e a deturpação de valores. A superbanalização de assuntos relacionados à sexualidade e das relações afetivas gera dúvidas e atitudes precipitadas. Isso pode levar muitos jovens a se relacionarem de forma conflituosa com os outros e também com a própria sexualidade. Enfim, hoje existe uma aparente liberdade sexual. Ao mesmo tempo em que as pessoas são, em comparação a anos anteriores, mais livres para fazer escolhas no campo afetivo e sexual, ainda há muita cobrança por parte da sociedade, e essa cobrança acaba sendo internalizada; assim, as pessoas acabam assumindo comportamentos e valores adotados pela maioria. (www.faac.unesp.br/pesquisa/nos/sexualidade, baseado nos estudos de Ana Cláudia Bertolozzi Maia. Adaptado.) Prof. Cristiane Literatura Página 13 de 14 Vendo o triste pastor que com enganos lhe fora assi negada a sua pastora, como se a não tivera merecida, começa de servir outros sete anos, dizendo: “Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida”. (Luís Vaz de Camões. Sonetos, 2001.) De acordo com a história narrada pelo soneto, a) Labão engana Jacob, entregando-lhe a filha Lia, em vez de Raquel. b) Labão aceita ceder Lia a Jacob, se este lhe entregar Raquel. c) Labão obriga Jacob a trabalhar mais sete anos para obter o amor de Lia. d) Jacob descumpre o acordo feito com Labão, negan- do-lhe a filha Raquel. e) Jacob morre antes de completar os sete anos de trabalho, não obtendo o amor de Raquel. 8. Do ponto de vista formal, o tipo de verso e o esquema de rimas que caracterizam este soneto camoniano são, respectivamente, a) dodecassílabo e ABAB ABAB ABC ABC. b) decassílabo e ABAB ABAB CDC DCD. c) heptassílabo e ABBA ABBA CDE CDE. d) decassílabo e ABBA ABBA CDE CDE. e) dodecassílabo e ABBA ABBA CDE CDE. (VUNESP) As questões de 9 a 12 abordam um poema de Raul de Leoni (1895-1926). A alma das cousas somos nós... Dentro do eterno giro universal Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente, Mas, se nesse vaivém tudo parece igual Nada mais, na verdade, Nunca mais se repete exatamente... Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente Que no-las leva e traz, num círculo fatal; O que varia é o espírito que as sente Que é imperceptivelmente desigual, Que sempre as vive diferentemente, E, assim, a vida é sempre inédita, afinal... 5. No primeiro texto, afirma-se que a sexualidade tem sido discutida de forma mais “aberta”, nos discursos pessoais, nos meios de comunicação, na literatura e artes. Comparando os trechos do poema de Hilda Hilst àquele texto, é correto afirmar que seus versos: a) se apresentam numa linguagem pouco acessível ao leitor comum, negando a ideia de que a sexualidade, na literatura, é tratada de forma mais aberta. b) degradam a literatura, banalizando, como se propõe no texto, temas universais ligados à sexualidade. c) confirmam as informações do texto, pois trazem, de forma menos idealizada, o sexo à poesia, elaborando-a numa linguagem mais erotizada. d) concebem o sexo de forma bastante diferente da apontada no texto, pois a sexualidade é sublimada e idealizada. e) comprovam a ideia exposta no texto de haver muita repressão e preconceito, mas não a de ser discutida de forma mais aberta. 6. A respeito apenas do texto II, leia as afirmações: I. Os termos laborioso e lascivo sugerem a frequência, a intensidade e o desejo da prática amorosa. II. O termo lidas pode ser considerado como um eufemismo para indicar a prática sexual. III. O desejo é algo que se realiza apenas nos sonhos do eu-lírico. Está correto o que se afirma apenas em a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III. 7. (Unifesp) Leia o soneto do poeta Luís Vaz de Camões (1525?-1580) para responder às próximas duas questões. Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; mas não servia ao pai, servia a ela, e a ela só por prêmio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, passava, contentando-se com vê-la; porém o pai, usando de cautela, em lugar de Raquel lhe dava Lia. Prof. Cristiane Literatura Página 14 de 14 12. No último verso do poema, o eu lírico conclui que a) os espíritos mostram-se insensíveis ao volúvel Uni- verso. b) o Universo acompanha de perto a alma ou espírito. c) o Universo é indiferente à relação entre o espírito e as coisas. d) a variação das coisas é indiferente ao espírito que as sente. e) as coisas têm espírito, mas o Universo não tem. Gabarito 1. a) 2. b) 3. b) 4. d) 5. c) 6. d) 7. a) 8. d) 9. c) 10. d) 11. a) 12. c) Estado de alma em fuga pelas horas, Tons esquivos e trêmulos, nuanças Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris Da sensibilidade furta-cor... E a nossa alma é a expressão fugitiva das cousas E a vida somos nós, que sempre somos outros!... Homem inquieto e vão que não repousas! Para e escuta: Se as cousas têm espírito, nós somos Esse espírito efêmero das cousas, Volúvel e diverso, Variando, instante a instante, intimamente, E eternamente, Dentro da indiferença do Universo!... (Luz mediterrânea, 1965.) 9. Uma leitura atenta do poema permite concluir que seu título representa a) a negação dos argumentos defendidos pelo eu lírico. b) a confirmação do estado de alma disfórico do eu lírico. c) a síntese das ideias desenvolvidas pelo eu lírico. d) o reconhecimento da supremacia do homem no mundo. e) uma afirmação prévia da incapacidade do homem. 10. Considerando o eixo temático do poema e o modo como é desenvolvido, verifica-se que nele se faz uma reflexão de fundo a) estético. b) político. c) religioso. d) filosófico. e) científico. 11. Embora pareça constituído de versos livres modernistas, o poema em questão ainda segue a versificação medida, combinandoversos de diferentes extensões, com predomínio dos de doze e dez sílabas métricas. Assinale a alternativa que indica, na primeira estrofe, pela ordem em que surgem, os versos de dez sílabas métricas, denominados decassílabos. a) 1 e 5. b) 3 e 4. c) 1, 2 e 3. d) 2 e 3. e) 1, 3 e 5.
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