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05 27 - (Parnasianismo, Simbolismo e Pré-modernismo)

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Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
Página 1 de 22 
 
Parnasianismo, Pré-simbolismo e Pré-Modernismo 
 
Parnasianismo 
Torce, aprimora, alteia, lima 
A frase; e, enfim, 
No verso de ouro engasta a rima, 
Como um rubim. 
Olavo Bilac 
Fantástica 
Erguido em negro mármor luzidio, 
Portas fechadas, num mistério enorme, 
Numa terra de reis, mudo e sombrio, 
Sono de lendas um palácio dorme. 
 
Torvo, imoto em seu leito, um rio o cinge, 
E, à luz dos plenilúnios argentados, 
Vê-se em bronze uma antiga e bronca esfinge, 
E lamentam-se arbustos encantados. 
 
Dentro, assombro e mudez! quedas figuras 
De reis e de rainhas; penduradas 
Pelo muro panóplias1, armaduras, 
Dardos2, elmos3, punhais, piques4, espadas. 
 
E inda ornada de gemas e vestida 
De tiros5 de matiz6 de ardentes cores, 
Uma bela princesa está sem vida 
Sobre um toro7 fantástico de flores. 
 
Traz o colo estrelado de diamantes, 
Colo mais claro do que a espuma jônia8. 
E rolam-lhe os cabelos abundantes 
Sobre peles nevadas9 de Issedônia10. 
 
Entre o frio esplendor dos artefactos, 
Em seu régio vestíbulo de assombros. 
Há uma guarda de anões estupefactos11, 
Com trombetas de ébano nos ombros. 
 
E o silêncio por tudo! nem de um passo 
Dão sinal os extensos corredores; 
Só a lua, alta noite, um raio baço 
Põe da morta no tálamo12 de flores. 
 
(Alberto de Oliveira. In: Antonio Candido. Na sala de aula. 
5 ed. São Paulo: Ática, 1995, p. 54-55.) 
Alberto de Oliveira é um dos maiores poetas do 
Parnasianismo brasileiro. Esse poema, que faz parte do 
livro Meridionais (1884), o primeiro de sua fase 
 
 
1 Arranjo de armas cruzadas sob um escudo pregado na parede 
(Antonio Candido. Na sala de aula. 5 ed. São Paulo: Ática, 1995). 
2 Vara curta com ponta de aço que se atira sobre o adversário (idem, 
ibidem). 
3 Capacete fechado por viseira (idem, ibidem). 
4 Lança. 
5 Tecido cor de púrpura, chamado assim por metonímia, por ter se 
originado na antiga cidade de Tiro, no atual Líbano, difundido graças 
ao comércio dos fenícios (idem, ibidem). 
6 Tonalidades do tecido ou, mais provavelmente, cores vivas de 
bordados feitos sobre ele (idem, ibidem). 
7 Leito conjugal. 
parnasiana, é uma descrição desprovida de qualquer 
intervenção pessoal. O leitor depara com uma imagem 
pronta, um quadro feito para existir por si. Aqui, reinam os 
objetos; note que não há nenhuma voz em primeira 
pessoa, não há lugar para os sujeitos (tão presentes em 
poemas românticos). Por ser um poema absolutamente 
descritivo, seu sentido geral é facilmente apreensível. Se 
houver alguma dificuldade de entendimento, certamente 
estará no vocabulário, escolhido rica e cuidadosamente 
pelo autor. Estamos diante de um período que se opõe ao 
idealismo romântico e retoma a Antiguidade clássica em 
muitos aspectos. Influenciada pelo positivismo, pelo 
cientificismo e pelo agnosticismo (os poetas trabalham 
com o fenômeno que se propõem descrever, e não com a 
problemática do Infinito), é uma época pessimista, despida 
de grandes objetivos sociais e moralizadores, na qual as 
religiões têm valor apenas histórico. Não há um intuito 
educativo, doutrinário – a literatura visa ao entretenimento. 
Note como a forma de “Fantástica” é cuidadosamente 
trabalhada para que tenha um equilíbrio em relação ao 
conteúdo de que trata. Sobre o poema, diz Antonio 
Candido: 
A esterilidade egípcia e legendária [do poema “Fantástica”] 
configura um mundo fechado, no qual reinam as substâncias 
minerais, as peles, os artefatos; no qual as próprias flores 
parecem mineralizadas. O mundo natural foi elidido a favor de 
outro, inventado pela palavra. 
Chegando à hipótese sobre o significado final, a primeira 
pergunta que ocorre é se esse poema significa alguma coisa 
além dos sentidos parciais, porque como “objeto poético” ele 
seria apenas o que estes dizem, nada mais. [...] 
Nesse caso, [...] seu significado seria, por assim dizer, lateral, 
proposto pelo leitor quase como extrapolação, da mesma 
maneira por que se pode encontrar sentido no arranjo de um 
adorno ou no volteio de um arabesco. Visto assim, talvez seja a 
demonstração da poesia como artifício, do poema como 
artefato puro, cujo significado tende no fundo a ser ele próprio, 
integrado no silêncio de que o poeta cerca sua beleza morta e 
insignificante. Uma beleza desvitalizada, que, no entanto, vive a 
vida da arte. Desse modo, produz-se um objeto plasticamente 
belo, autônomo, existindo num espaço regido por leis sem 
medida comum com as que regem o mundo dos homens. Por 
isso talvez aqui a morte seja uma iniciação, e a morta, um 
símbolo. Esse mundo mineralizado e precioso, incrustado de 
objetos raros e fixado com um tom de irrealidade, exprime uma 
das ambições da mente poética: subverter as leis do mundo em 
benefício de outras, que ela estatui. Daí a criação de universos 
isentos, ricos, asperamente defendidos e, se necessário, eriçados 
de agressão contra o mundo das relações. Agressão latente 
nesse ambiente sepulcral murado, fechado, cheio de panóplias, 
narcotizado e esplendoroso. 
8 Referência ao mar Jônio. 
9 Branca como a neve, oriunda de países cujas neves, às vezes perenes, 
estão como materializadas na alvura da pelagem (idem, ibidem). 
10 Nome de uma vaga região da Antiguidade, no território da atual 
Sibéria. Heródoto se refere a ela como uma espécie de limite extremo 
do mundo conhecido naquela direção (idem, ibidem). 
11 No caso, não quer dizer “atônitos”, mas em estado de sono, 
entorpecido. Não se deve atualizar a ortografia nem a pronúncia nas 
palavras finais dos versos 21 e 23, porque a pausa forçada pelo grupo 
consonantal ct aumenta o efeito de suspensão, pasmo e mistério 
(idem, ibidem). 
12 O mesmo que toro. 
 
 Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
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Se assim for, o espaço fantástico de Alberto de Oliveira 
representa em geral em grau extremo a extensão de um dos 
ideais parnasianos, segundo o qual a vida morre, como a 
princesa, para renascer como arte intangível, na sua riqueza e 
sua pureza. 
Antonio Candido. Na sala de aula. 5 ed. São Paulo: 
Ática, 1995, p. 67. 
 
A leitura desse poema de Alberto de Oliveira já nos 
permite perceber diversas características da poesia dita 
parnasiana. Leia outros poemas do autor e note as semelhanças 
estilísticas entre eles. 
 
Vaso chinês 
 
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, 
Casualmente, uma vez, de um perfumado 
Contador sobre o mármor luzidio, 
Entre um leque e o começo de um bordado. 
 
Fino artista chinês, enamorado, 
Nele pusera o coração doentio 
Em rubras flores de um sutil lavrado, 
Na tinta ardente, de um calor sombrio. 
 
Mas, talvez por contraste à desventura, 
Quem o sabe?... de um velho mandarim 
Também lá estava a singular figura; 
 
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a, 
Sentia um não sei quê com aquele chim 
De olhos cortados à feição de amêndoa. 
 
(Alberto de Oliveira. In: Massaud Moisés. A literatura brasileira 
através dos textos. 21 ed. São Paulo: Cultrix, 1998, p. 241.) 
 
Vaso grego 
 
Esta de áureos relevos, trabalhada 
De divas mãos, brilhante copa, um dia, 
Já de aos deuses servir como cansada, 
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. 
 
Era o poeta de Teos que a suspendia 
Então e, ora repleta ora esvasada, 
A taça amiga aos dedos seus tinia 
Toda de roxas pétalas colmada. 
 
Depois... Mas o lavor da taça admira, 
Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas 
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce, 
 
Ignota voz, qual se de antiga lira 
Fosse a encantada música das cordas, 
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse. 
 
Alberto de Oliveira. In: Massaud Moisés. A literatura brasileira 
através dos textos. 21 ed. São Paulo: Cultrix, 1998, p. 241. 
 
 
13 Simbolicamente, a torre evoca Babel, porta do céu, fixada na Terra 
com o fim derestabelecer o elo primordial com (os) deus(es); pela 
brancura, conotar-se-ia com a pureza e o poder quase incorruptível do 
marfim. Contudo, embora construída com o propósito de elevar o 
homem à divindade, a torre acaba por perverter-se no seu contrário, 
símbolo do orgulho humano. O conceito de torre de marfim é 
Para melhor entender o que há em comum entre os textos 
de Alberto de Oliveira e de outros autores do período, 
vamos estudar o Parnasianismo. 
Parnasianismo início fim 
Brasil 1882 
publicação 
do poema 
“Fanfarras”, 
de Teófilo 
Dias 
1922 
Semana 
de Arte 
Moderna 
 
Parnasianismo é uma escola literária que desenvolveu 
apenas a poesia. Originado na França a partir de 1850, foi 
um movimento contemporâneo ao Realismo-naturalismo. 
O termo “parnaso” remete à antologia de poemas 
franceses (Le Parnase Contemporain, poemas publicados 
entre 1886, 1871 e 1876) e ao monte Parnaso, montanha 
de pedra caliça situada no centro da Grécia, cujo cume 
está a 2 457 metros de altitude, sobre a antiga cidade de 
Delfos, a norte do golfo de Corinto. Na mitologia grega, o 
monte era consagrado a Apolo e às musas. 
 
Monte Parnaso, na Grécia (fonte: http://farm1.static.flickr.com) 
Os autores parnasianos buscavam retomar os 
valores estéticos da Antiguidade clássica. O culto da 
beleza e a busca pela perfeição formal levaram os 
parnasianos ao princípio da arte pela arte, ou seja, a 
poesia deveria valer por si mesma, ser alheia às 
controvérsias que agitam seu tempo e repudiar o 
compromisso social: o poeta considera sua arte o 
destino supremo que a vida lhe reserva. É uma 
literatura racional e engenhosa, em que se busca 
desenvolver o instrumento do ofício do escritor – a palavra 
– a partir de uma métrica rigorosa, da musicalidade, da 
lógica, da estilística e do purismo linguístico. A arte seria 
um “luxo intelectual”, e o artista parnasiano, indiferente e 
distante do mundo exterior, contempla-o comodamente 
refugiado em sua “torre de marfim”13. Os autores 
privilegiam a sensação em detrimento da emoção, são 
impassíveis e impessoais. São comuns poemas com a 
largamente difundido no século XIX no contexto antipositivista de 
reação a uma certa tendência romântica de atribuir à arte um fim 
utilitário (Carlos Ceia, e-dicionário de termos literários. Fonte: 
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/T/torre_marfim.htm). 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gr%C3%A9cia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Metro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Delfos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Golfo_de_Corinto
 
 Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
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descrição de objetos, cenas históricas e fenômenos 
naturais. 
Autores parnasianos 
Profissão de fé 
Não quero o Zeus Capitolino 
Hercúleo e belo, 
Talhar no mármore divino 
Com o camartelo. 
 
Que outro – não eu! – a pedra corte 
Para, brutal, 
Erguer de Atene o altivo porte 
Descomunal. 
 
Mais que esse vulto extraordinário, 
Que assombra a vista, 
Seduz-me um leve relicário 
De fino artista. 
 
Invejo o ourives quando escrevo: 
Imito o amor 
Com que ele, em ouro, o alto relevo 
Faz de uma flor. 
 
Imito-o. E, pois, nem de Carrara 
A pedra firo: 
O alvo cristal, a pedra rara, 
O ônix prefiro. 
 
Por isso, corre, por servir-me, 
Sobre o papel 
A pena, como em prata firme 
Corre o cinzel. 
 
Corre; desenha, enfeita a imagem, 
A ideia veste: 
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem 
Azul-celeste. 
 
Torce, aprimora, alteia, lima 
A frase; e, enfim, 
No verso de ouro engasta a rima, 
Como um rubim. 
 
Quero que a estrofe cristalina, 
Dobrada ao jeito 
Do ourives, saia da oficina 
Sem um defeito: 
 
E que o lavor do verso, acaso, 
Por tão sutil, 
Possa o lavor lembrar de um vaso 
De Becerril. 
 
E horas sem conto passo, mudo, 
O olhar atento, 
A trabalhar, longe de tudo 
O pensamento. 
 
Porque o escrever – tanta perícia, 
Tanta requer, 
Que oficio tal... nem há notícia 
De outro qualquer. 
 
Assim procedo. Minha pena 
Segue esta norma, 
Por te servir, Deusa serena, 
Serena Forma! 
 
Deusa! A onda vil, que se avoluma 
De um torvo mar, 
Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma 
Deixa-a rolar! 
 
Blasfemo, em grita surda e horrendo 
Ímpeto, o bando 
Venha dos bárbaros crescendo, 
Vociferando... 
 
Deixa-o: que venha e uivando passe 
– Bando feroz! 
Não se te mude a cor da face 
E o tom da voz! 
 
Olha-os somente, armada e pronta, 
Radiante e bela: 
E, ao braço o escudo, a raiva afronta 
Dessa procela! 
 
Este que à frente vem, e o todo 
Possui minaz 
De um vândalo ou de um visigodo, 
Cruel e audaz; 
 
Este, que, de entre os mais, o vulto 
Ferrenho alteia, 
E, em jato, expele o amargo insulto 
Que te enlameia: 
 
É em vão que as forças cansa, e à luta 
Se atira; é em vão 
Que brande no ar a maça bruta 
À bruta mão. 
 
Não morrerás, Deusa sublime! 
Do trono egrégio 
Assistirás intacta ao crime 
Do sacrilégio. 
 
E, se morreres por ventura, 
Possa eu morrer 
Contigo, e a mesma noite escura 
Nos envolver! 
 
Ah! ver por terra, profanada, 
A ara partida 
E a Arte imortal aos pés calcada, 
Prostituída!... 
 
Ver derribar do eterno sólio 
O Belo, e o som 
Ouvir da queda do Acropólio, 
Do Partenon!... 
 
Sem sacerdote, a Crença morta 
Sentir, e o susto 
Ver, e o extermínio, entrando a porta 
Do templo augusto!... 
 
Ver esta língua, que cultivo, 
Sem ouropéis, 
 
 Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
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Mirrada ao hálito nocivo 
Dos infiéis!... 
 
Não! Morra tudo que me é caro, 
Fique eu sozinho! 
Que não encontre um só amparo 
Em meu caminho! 
 
Que a minha dor nem a um amigo 
Inspire dó... 
Mas, ah! que eu fique só contigo, 
Contigo só! 
 
Vive! que eu viverei servindo 
Teu culto, e, obscuro, 
Tuas custódias esculpindo 
No ouro mais puro. 
 
Celebrarei o teu oficio 
No altar: porém, 
Se inda é pequeno o sacrifício, 
Morra eu também! 
 
Caia eu também, sem esperança, 
Porém tranquilo, 
Inda, ao cair, vibrando a lança, 
Em prol do Estilo! 
Olavo Bilac. In: Massaud Moisés, op. cit., p. 224-227. 
O movimento parnasiano definiu-se em 1888, 
com Poesias, de Olavo Bilac (1865-1918), o “príncipe dos 
poetas”. Ao aderir à nova corrente poética, Bilac: 
[...] não só cuidou de materializá-la em suas composições, 
como também buscou traduzir- -lhe e divulgar-lhe a 
doutrina de modo tão direto quanto possível. Esta segunda 
preocupação exprime-se concretamente em “Profissão de 
fé”, que abre a coletânea de suas Poesias e representa 
algo como uma plataforma da poesia parnasiana. Apologia 
da forma (com maiúscula, no poema), do Belo, da Arte, do 
Estilo – constitui o timbre dessa modalidade poética em 
que se notam a retomada dos padrões de arte defendidos 
pelos clássicos e a recusa dos que os Bárbaros pregavam, 
isto é, os valores românticos. Tal concepção de poesia, 
com todo o seu projeto de universalidade e 
impassibilidade, e com toda a sua contradição interna, 
documenta-se nos sonetos. 
(Massaud Moisés, op. cit., p. 230.) 
Acompanhe no seguinte soneto os aspectos da 
poesia de Bilac comentados pelo professor Massaud 
Moisés. 
Velhas árvores 
Olha estas velhas árvores, mais belas 
Do que as árvores moças, mais amigas: 
Tanto mais belas quanto mais antigas, 
Vencedoras da idade e das procelas... 
 
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas 
Vivem, livres de fomes e fadigas; 
E em seus galhos abrigam-se as cantigas 
E os amores das aves tagarelas. 
 
Não choremos, amigo, a mocidade! 
Envelheçamos rindo. Envelheçamos 
Como as árvores fortes envelhecem: 
 
Na glória de alegria e da bondade, 
Agasalhando os pássaros nos ramos, 
Dando sombra e consolo aos que padecem! 
(Olavo Bilac. In: Massaud Moisés, op. cit., p. 229.) 
Há ainda outro poema de Bilac que merece 
leitura atenta. 13º soneto de “Via Láctea”, parte da obraPoesias, tem certa dose de subjetividade. Como veremos, 
o autor não seguiu à risca todas as convenções 
parnasianas, o que engrandece sua obra, por torná-la 
mais complexa: trata também da morte, da velhice e da 
história do Brasil (e não apenas de assuntos universais). 
Aqui, o diálogo entre o eu lírico e o tu lírico sobre uma 
metafórica conversação com as estrelas evidencia o 
lirismo amoroso presente em muitos de seus poemas. 
XIII 
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo 
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, 
Que, para ouvi-las, muita vez desperto 
E abro as janelas, pálido de espanto... 
 
E conversamos toda a noite, enquanto 
A via-láctea, como um pálio aberto, 
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, 
Inda as procuro pelo céu deserto. 
 
Direis agora: “Tresloucado amigo! 
Que conversas com elas? Que sentido 
Tem o que dizem, quando estão contigo?” 
 
E eu vos direi: “Amai para entendê-las! 
Pois só quem ama pode ter ouvido 
Capaz de ouvir e de entender estrelas.” 
Olavo Bilac (fonte: http://www.biblio.com.br) 
Outros autores também merecem destaque. 
Diferentemente dos outros poetas parnasianos, Raimundo 
Correia (1959-1911) não é obsessivo na busca da 
perfeição formal, característica notória de Alberto de 
Oliveira. Seu descritivismo é atenuado e, no lugar das 
notações precisas e impessoais, o poeta faz sugestões 
vagas e subjetivas. Leia a seguir um de seus mais belos 
poemas, com o qual fechamos esta aula. 
As pombas 
Vai-se a primeira pomba despertada... 
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas 
De pombas vão-se dos pombais, apenas 
Raia sanguínea e fresca a madrugada... 
E à tarde, quando a rígida nortada 
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, 
Ruflando as asas, sacudindo as penas, 
Voltam todas em bando e em revoada... 
 
 Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
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Também dos corações onde abotoam, 
Os sonhos, um por um, céleres voam, 
Como voam as pombas dos pombais; 
No azul da adolescência as asas soltam, 
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, 
E eles aos corações não voltam mais... 
(Raimundo Correia. In: Massaud Moisés, op. cit., p. 239.) 
Exercícios 
(UNIFESP) Texto para as questões 1 e 2. 
Não se mostre na fábrica o suplício 
Do mestre. E, natural, o efeito agrade, 
Sem lembrar a todos o edifício: 
Porque a beleza, gêmea da Verdade, 
Arte pura, inimiga do artifício, 
É a força e a graça na simplicidade. 
Olavo Bilac 
1. Nos versos, apresenta-se uma concepção de arte 
baseada __________, própria dos poetas ____________. 
Na frase, os espaços devem ser preenchidos por: 
a) na expressão dos sentimentos... românticos 
b) na sugestão de sons e imagens... parnasianos 
c) na construção dos valores sociais... simbolistas 
d) no extremo rigor formal... parnasianos 
e) na expressão dos conflitos humanos... Simbolistas 
2. Os versos denunciam: 
a) vocabulário simples e pouca preocupação com as 
qualidades técnicas do poema, já que as sugestões 
sonoras não estão nele presentes. 
b) emoção expressa racionalmente, embora seja bastante 
evidente o caráter subjetivo na construção das imagens. 
c) a busca da perfeição na expressão, visando ao 
universalismo, como exemplificam os termos Beleza e 
Verdade grafados com maiúsculas. 
d) o afastamento da realidade social, decorrente de uma 
visão idealizada do mundo, descrito por metáforas pouco 
objetivas. 
e) a forma de expressão pouco idealizada, resultante de 
uma concepção de mundo marcada pela complexidade 
que, nos versos, se manifesta em vocábulo seleto. 
 
3. (UEL) Olavo Bilac e Alberto de Oliveira 
representam um estilo de época de acordo com o 
qual: 
a) O valor estético deve resultar de linguagem 
subjetiva e espontânea que brota diferentemente 
das emoções. 
b) A forma literária não pode se afastar das tradições 
e das crenças populares, sem as quais não se 
enraíza culturalmente. 
c) A poesia deve sustentar-se como forma bem 
lapidada, cuja matéria-prima é um vocabulário raro, 
numa sintaxe elaborada. 
d) Devem ser rejeitados os valores do antigo 
Classicismo, em nome da busca de formas 
renovadas de expressão. 
e) Os versos devem fluir segundo o ritmo irregular 
das impressões, para melhor atender ao ímpeto da 
inspiração. 
4. (IBMEC-adaptado) Sobre o poema “Vaso chinês”, 
de Alberto de Oliveira, não é correto afirmar que: 
a) É um soneto descritivo, característico da 
produção literária parnasiana. 
b) O poeta assume uma postura impessoal diante do 
objeto descrito. 
c) A perfeição da linguagem é superada pelo 
enriquecimento no plano do conteúdo. 
d) A linguagem e as rimas são ricas e bem trabalhadas. 
e) A métrica é perfeita – versos decassílabos. 
5. Não caracteriza a estética parnasiana: 
a) Oposição aos românticos e distanciamento das 
preocupações sociais dos realistas. 
b) Objetividade advinda do espírito cientificista e o culto da 
forma. 
c) Obsessão pelo adorno e contenção lírica. 
d) Perfeição formal na rima, no ritmo, no metro e volta aos 
motivos clássicos. 
e) Exaltação do “eu” e a fuga da realidade presente. 
6. (UEL) Todos os elementos enumerados representam 
características da poesia parnasiana em: 
a) Pessimismo traduzido em melancolia sentimental; 
desejo de evasão; culto da solidão. 
b) Rebuscamento na linguagem; pessimismo traduzido em 
melancolia sentimental; temas e sentimentos 
nacionalistas. 
c) Temas e sentimentos nacionalistas; exaltação da 
natureza; condoreirismo. 
d) Busca da perfeição da forma; preciosismo no 
vocabulário; referências constantes à mitologia clássica. 
 
 Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
Página 6 de 22 
e) Referências constantes à mitologia clássica; 
confessionalismo lírico e espontâneo; idealização da vida 
bucólica. 
7. (FATEC) Texto para a próxima questão. 
Soneto parnasiano e acróstico em louvor de Helena de 
Oliveira 
Houve na Grécia uma Beleza rara 
(Em versos de ouro o grande Homero celebriu-a) 
Linda mais do que a mente humana imaginara, 
E cuja fama sem rival inda ressoa 
Não a compararei porém (quem a compara?) 
A que celebro aqui: a outra não era boa. 
O esplendor da beleza é sol que só me aclara 
Luzindo sob o véu do poder que afeiçoa. 
 
Inspiremos-nos, pois, não na Helena de Troia, 
Vérsatil coração, frio como uma joia, 
Em cujo lume ardeu uma cidade inteira 
 
Inspiremo-nos, sim, de uma Helena mais pura. 
Ronsard mostrou na sua uma flor de ternura: 
A Mesma flor que orna esta Helena brasileira. 
(Manuel Bandeira) 
Apesar de ser modernista, Bandeira chama de parnasiano 
o seu poema porque: 
I. Sua forma, o soneto metrificado com rimas ricas, 
caracteriza a poesia tipicamente parnasiana. 
II. Na sua descrição de Helena de Tróia e de Helena de 
Oliveira não há espaço para as apreciações subjetivas 
características da poesia romântica que precedeu o 
Parnasianismo. 
III. Em seu elogio a Helena, retoma uma personagem da 
Na antiguidade clássica, evitando tratar da mulher comum. 
Qu anto a essas afirmações, deve-se concluir que apenas: 
a) I e II estão corretas. 
b) I e III estão corretas. 
c) I I e III estão corretas. 
d) I I está correta. 
e) I está correta. 
(UNIFESP) Utilize como base para as próximas duas 
questões o poema “As pombas”, de Raimundo Correia. 
8. O poema de Raimundo Correia ilustra o Parnasianismo 
brasileiro. Dele, podem-se depreender as seguintes 
características desse movimento literário: 
a) Soneto em versos decassílabos, com predominância de 
descrição e vocabulário seleto. 
b) Versos livres, com predominância de narração e ênfase 
nos aspectos sonoros. 
c) Versos sem rima, liberdade na expressão dos 
sentimentos e recurso às imagens. 
d) Soneto com versos livres, exploração do plano 
imagético e sonoro. 
e) Soneto com rimas raras, com descrição e presença da 
mitologia. 
9. Há uma equivalênciaentre os dois quartetos e os dois 
tercetos do poema. Assim, é correto afirmar que pombas, 
metaforicamente, representa: 
a) A) a adolescência. 
b) B) os sonhos. 
c) C) os corações. 
d) D) o envelhecimento. 
e) E) a desilusão. 
 
10. (UNESP) Texto para a próxima questão. 
Tercetos 
Noite ainda, quando ela me pedia 
Entre dois beijos que me fosse embora, 
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia: 
 
“Espera ao menos que desponte a aurora! 
Tua alcova é cheirosa como um ninho... 
E olha que escuridão há lá por fora! 
 
Como queres que eu vá, triste e sozinho, 
Casando a treva e o frio de meu peito 
Ao frio e à treva que há pelo caminho?! 
 
Ouves? é o vento! é um temporal desfeito! 
Não me arrojes à chuva e à tempestade! 
Não me exiles do vale do teu leito! 
 
Morrerei de aflição e de saudade... 
Espera! até que o dia resplandeça, 
Aquece-me com a tua mocidade! 
 
Sobre o teu colo deixa-me a cabeça 
Repousar, como há pouco repousava... 
Espera um pouco! deixa que amanheça!” 
 
– E ela abria-me os braços. E eu ficava. 
Olavo Bilac, Alma inquieta. 
Embora seja considerado um dos mais típicos 
representantes do Parnasianismo brasileiro, cuja estética 
defendeu explicitamente no célebre poema “Profissão de 
fé”, Olavo Bilac revela em boa parte de seus poemas 
ingredientes que o afastam do rigor característico da 
escola parnasiana e o aproximam da romântica. Partindo 
dessa consideração: 
a) Identifique duas características formais do poema de 
Bilac que sejam tipicamente parnasianas. 
b) Aponte um aspecto do mesmo poema que o aproxima 
da estética romântica. 
 
Roda de leitura 
 
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Conheça agora um pouco da poesia de Vicente de 
Carvalho (1866-1924), convertido ao parnasianismo na 
maturidade. Apesar disso, não abandonou um certo 
romantismo inato e um pendor para a ironia, que 
caracterizam seu estilo desde os primeiros poemas. No 
soneto a seguir, note um patente camonismo salpicado de 
traços de melancolia ou desesperança confessional. 
Apesar de parnasiana, é uma poesia essencialmente 
emotiva. 
Velho tema 
Só a leve esperança, em toda a vida, 
Disfarça a pena de viver, mais nada; 
Nem é mais a existência, resumida, 
Que uma grande esperança malograda. 
 
O eterno sonho da alma desterrada 
Sonho que a traz ansiosa e embevecida, 
É uma hora feliz, sempre adiada 
E que não chega nunca em toda a vida. 
 
Essa felicidade que supomos, 
Árvore milagrosa que sonhamos 
Toda arreada de dourados pomos, 
 
Existe, sim: mas nós não a alcançamos 
Porque está sempre apenas onde a pomos 
E nunca a pomos onde nós estamos. 
Vicente de Carvalho. In: Massaud Moisés, op. cit., p. 244-
245. 
Gabarito das questões de Parnasianismo 
1. d 2. C 3. C 4. C 5. E 6. d 
7. e 8. A 9. b 
10. 
a) O poema de Bilac apresenta diversas características 
típicas da poesia parnasiana, entre elas, o rigor métrico 
(tercetos formados por versos decassílabos) e rítmico, 
além das rimas ricas. 
b) A noite e a escuridão criam o cenário para um eu lírico 
sentimentalista e exagerado (com hipérboles como: 
“morrerei de aflição e de saudade”), que confessa seu 
amor pela mulher amada com um tom intimista. 
Simbolismo 
Enquanto o romântico deseja abandonar a Terra para 
encontrar Deus, o simbolista deseja encontrar a unidade 
do material e do espiritual aqui na Terra, de modo a 
recuperar a unidade de um mundo artificialmente dividido. 
Álvaro Cardoso Gomes 
 
14 O poema é uma livre tradução de Gilberto Mendonça Teles do 
francês para o português. O original é todo eneassílabo, com acento 
Vincent van Gogh. A noite estrelada. 1889, Museu de Arte 
Moderna de Nova Iorque. 
Arte poética14 
A Charles Morice 
Antes de qualquer coisa, música 
e, para isso, prefere o Ímpar 
mais vago e mais solúvel no ar, 
sem que nada pese ou que pouse. 
 
É preciso também que não vás nunca 
escolher tuas palavras sem ambiguidade: 
nada mais caro que a canção cinzenta 
onde o Indeciso se junta ao Preciso. 
 
São belos olhos atrás dos véus, 
é o grande dia trêmulo de meio-dia, 
é, através do céu morno de outono, 
o azul desordenado das claras estrelas! 
nas quartas e nonas sílabas, com rimas opostas e, às vezes, internas. 
Conservou-se o número de versos por estrofe. 
 
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Porque nós ainda queremos o Matiz, 
nada de Cor, nada a não ser o matiz! 
Oh! O matiz único que liga 
o sonho ao sonho e a flauta à trompa. 
 
Foge para longe da Piada assassina, 
do Espírito cruel e do Riso impuro 
que fazem chorar os olhos do Azul 
e todo esse alho de baixa cozinha! 
 
Toma a eloquência e torce-lhe o pescoço! 
Tu farás bem, já que começaste, 
Em tornar a rima um pouco razoável. 
Se não vigiarmos, até onde ela irá? 
 
Oh! Quem dirá os malefícios da Rima? 
Que criança surda ou que negro louco 
nos forjou esta joia barata 
que soa oca e falsa sob a lima? 
 
Ainda e sempre, música! 
Que teu verso seja a coisa volátil 
que se sente fugir de uma alma em voo 
para outros céus e para outras paixões. 
 
Que teu verso seja o bem acontecimento 
esparso no vento crispado da manhã 
que vai florindo a hortelã e o timo... 
E tudo o mais é só literatura. 
(Paul Verlaine. In: Gilberto Mendonça Teles. Vanguarda europeia 
e Modernismo brasileiro. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 53-
54.) 
Contexto histórico-artístico 
A intensificação da Revolução Industrial e a 
tentativa de explicar o real a partir de pressupostos 
científicos teve rapidamente diversos efeitos para a 
 
15 Arnold Hauser. História social de la literatura y el arte. V. III, Madrid: 
Guadarrama, 1969, p. 201-202. 
sociedade: crescimento da produção de manufaturados, 
economia de recursos, diminuição das distâncias – 
proporcionada pelo desenvolvimento dos meios de 
locomoção e pela multiplicação dos serviços de imprensa 
– etc. O Positivismo, o Determinismo e as teorias 
evolucionistas buscavam compreender o mundo sob a 
ótica da razão e desprezavam a metafísica em nome de 
um conhecimento experimental da realidade. Por outro 
lado, paradoxalmente, essa euforia despertou também um 
sentimento de crise. “O rápido desenvolvimento da técnica 
não só acelera a mudança das modas, mas também as 
variações no critério do gosto estético.”15 As certezas 
positivistas passam a ser abaladas por novas concepções 
filosóficas. Schopenhauer, filósofo pessimista, desmistifica 
o esforço e a luta e desestimula a ideia de competição – 
base ideológica da Revolução Industrial e do Positivismo. 
Eduard von Hartmann, em sua Filosofia do inconsciente, 
explica que “o princípio do inconsciente dá aos fenômenos 
observados sua única explicação verdadeira”16, e Henri 
Bergson, em sua obra A evolução criadora, desvaloriza a 
inteligência em prol da intuição: 
A inteligência, tão hábil em manipular o inerte, exibe sua 
imperícia quando atinge o ser vivo. Quer se trate de cuidar 
da vida do corpo ou do espírito, ela age com rigor e a 
rigidez e a rusticidade de um instrumento que não havia 
sido destinado a semelhante uso. [...] A inteligência é 
caracterizada por uma incompreensão natural da vida. 
Henri Bergson. A evolução criadora. Rio de Janeiro: 
Zahar, 1979, p. 149. 
Ainda sobre a intuição: 
[...] pela comunicação que ela estabelecerá entre nós e o 
restante dos seres vivos, pela dilatação que obterá de 
nossa consciência, ela nos introduzirá no domínio próprio 
da vida, que é interpenetração recíproca, criação 
infinitamente continuada. 
Henri Bergson, op. cit., p. 149. 
Esse mal-estar de cultura gera duas tendências 
intimamente relacionadas: uma existencial, o 
Decadentismo, e outra literária, o Simbolismo. Sobre a 
primeira,Gilberto Mendonça Teles afirma: 
Por volta de 1880, na França, havia a ideia generalizada 
de que a civilização francesa do século XIX era a de uma 
nação em decadência. Essa ideia, que tomou vulto na 
década anterior, tinha várias origens, literárias e políticas. 
Literariamente, ela representa a transição do romantismo 
para o naturalismo. Através de Baudelaire, para quem “a 
língua da decadência latina” é a mais própria para a 
expressão do sentimento (paixão) do homem moderno, 
foram-se desagregando as essências culturais do 
romantismo que, na década de 1870, se ia transformando 
em decadentismo. Théophile Gautier, na primeira edição 
póstuma das poesias de Baudelaire (1868), redige uma 
“Notice” que é tida como o primeiro manifesto da poesia 
de temas decadentistas. No ano seguinte, na sua 
Hérodiade, Mallarmé desenvolve o tema da impotência e 
da esterilidade. Em 1882, surge a primeira revista 
“decadente”, a Nouvelle rive gauche. 
Gilberto Mendonça Teles, op. cit., p. 55-56. 
16 Eduard von Hartmann. Philosophie de l´inconscient. Paris: Bailière, 
1877, p. 3. 
 
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Nas artes plásticas também surge uma nova fase 
estética. Depois da ruptura inicial que fora o 
Impressionismo, as velhas convenções acadêmicas e os 
parâmetros tradicionais do gosto já pareciam 
definitivamente afastados. O pós-impressionismo é um 
período de choques e divergências, marcado pela 
radicalização das correntes e pelas relações 
tempestuosas entre seus líderes. Artistas renomados 
como Paul Cézanne, Paul Gauguin e Vincent Van Gogh 
são grandes representantes do movimento. 
 
Georges Seurat, Les Poseuses, 1887-88.17 
Antecedentes e características do movimento 
simbolista 
Mais uma vez, a literatura desse fim de século se desloca 
da baliza clássico-científica para a romântico-poética. Os 
poetas são fortemente influenciados pela música 
romântica (Richard Wagner, por exemplo) e, 
principalmente, pelo escritor estadunidense Edgar Allan 
Poe, com seus contos misteriosos povoados de seres 
fantasmagóricos. Ele foi um dos precursores do 
movimento, pois “havia formulado o que equivalia a um 
novo programa literário, que corrigia a frouxidão romântica 
e devastava a extravagância romântica, ao mesmo tempo 
em que visava não a efeitos naturalistas, mas a 
ultrarromânticos. [...] A miscelânea de imagens, as 
metáforas deliberadamente mescladas, a combinação de 
paixão e agudeza, de maneiras prosaicas e solenes, o 
amálgama audaz do material com o espiritual”18 e a 
indefinição sugestiva e vaga da música presentes em sua 
obra são marcas também da literatura simbolista. 
Algumas características do Simbolismo foram antecipadas 
por românticos e parnasianos: a capacidade sugestiva, a 
musicalidade de expressão e o idealismo de origem 
platônica. Se é óbvia a distinção entre os parnasianos e os 
simbolistas – aqueles são claramente influenciados pelas 
escolas clássicas e estes, pelo Romantismo –, entre estes 
e os românticos as diferenças são mais sutis: 
Enquanto o romântico sonhava ascender a um paraíso, o 
simbolista, embora também espiritualista, fazia, via de 
regra, do mundo sua morada, sua meta. 
Álvaro Cardoso Gomes. A estética simbolista. São Paulo: 
Atlas, 1994, p. 17. 
Por volta de 1750, o místico sueco Emmanuel 
Swedenborg, cujas teorias muito influenciaram os poetas 
 
17 O pintor Georges Seurat foi pioneiro do movimento pontilhista, que 
deu origem ao pós-impressionismo. 
simbolistas, teorizava um espiritualismo que contrastava 
com a visão materialista e positivista da época. Para ele: 
[...] todas as coisas que existem na natureza desde o que 
há de menor até o que há de maior são correspondências. 
A razão para que sejam correspondências reside no fato 
de que o mundo natural, com tudo o que contém, existe e 
subsiste graças ao mundo espiritual, e ambos os mundos, 
graças à Divindade. 
Emmanuel Swedenborg. In: Álvaro Cardoso Gomes, op. 
cit., p. 17. 
Gilberto Mendonça Teles resumiu didaticamente a 
doutrina do místico: 
Trata-se de um sistema tripartido: 1) O terceiro céu ou 
mundo terrestre, onde “existe” tudo o que á material, todos 
os seres, sem distinção de reinos; 2) O segundo céu ou 
mundo da verdade – é o reino intelectual: os seres são 
aqui percebidos através de leis que os ligam; 3) O primeiro 
céu ou mundo celeste ou íntimo – é o reino de Deus. 
Esses três céus se relacionam da seguinte maneira: como 
Deus não varia, sua permanença motiva as leis do 
segundo mundo, os quais estão relacionados com o 
terceiro mundo através do homem que é, ao mesmo 
tempo, corpo, alma e intelecto. Assim, os três céus se 
refletem nele: o homem é o microcosmo; logo, o universo 
é o GRANDE HOMEM. Mas há também correspondência 
entre outros seres através do símbolo. 
Gilberto Mendonça Teles, op. cit., p. 43. 
Swedenborg acredita que os objetos do mundo 
real não passam de símbolos do mundo espiritual, da 
Divindade. Caberia, portanto, ao homem, decifrá-los para 
alcançar o grande enigma do Universo. O poeta deveria 
ser um “decifrador de símbolos”, ou, nas palavras do poeta 
francês Rimbaud, um “vidente”, que se construiria a partir 
de um desregramento de todos os sentidos. A relação 
entre o mundo material e o espiritual recebe o nome de 
“correspondência”, título de um dos mais significativos 
poemas de Charles Baudelaire: 
Correspondências 
A natureza é um templo onde vivos pilares 
Deixam filtrar não raro insólitos enredos; 
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos 
Que ali o espreitam com seus olhos familiares. 
Como ecos longos que à distância se matizam 
Numa vertiginosa e lúgubre unidade, 
Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade, 
Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam. 
Há aromas frescos como a carne dos infantes, 
Doces como o oboé, verdes como a campina, 
E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes, 
Com a fluidez daquilo que jamais termina, 
Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente, 
Que a glória exaltam dos sentidos e da mente. 
18 Edmund Wilson. O castelo de Axel. São Paulo: Cultrix, 1987, p. 17. 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/19/Georges_Seurat_-_Les_Poseuses.jpg
 
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Charles Baudelaire. As flores do mal. Trad. Ivan Junqueira. Rio 
de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 115. 
Nesse poema, o autor de As flores do mal fala: 
[...] das relações entre o mundo concreto e o abstrato 
e da fusão das diferentes sensações no mundo material. O 
poema ilustra uma espécie de ritual em que o homem atinge a 
plenitude dos sentidos e do espírito para comungar com a 
Natureza, depois de decifrada a “floresta de símbolos”. [...] 
Encontrada a correspondência entre os sentidos, o homem está 
apto a participar do mundo da natureza, em que tudo tem 
íntima relação entre si, em que o mundo material não está de 
modo algum dissociado do espiritual. 
Álvaro Cardoso Gomes, op. cit., p. 18. 
A sinestesia é um esforço do poeta simbolista para 
recuperar a linguagem original, em que, mais do que simples 
representação dos objetos, a palavra é também um objeto. 
Somada à luminosidade sonora, ela desperta no leitor uma 
lembrança de algo que não poderia ser traduzido senão pela 
palavra evocativa. O poeta faz poesia com o intuito de alcançar 
o cerne da vida, misteriosa e indecifrável. O símbolo, portanto, 
deve ser usado na poesia para sugerir o mistério que não pode 
ser revelado (ou deixaria de ser um mistério). A expressão de 
um poema simbolista é indireta, de modo a sugerir um estado 
de alma que se prolongue ao máximo. Assim, para o simbolista, 
o símbolo não pode ser entendido apenas como uma palavra ou 
imagem que remete a algo desconhecido, mas também como 
um conjunto de palavras e/ou imagensque evoca determinado 
estado de espírito. O sentido simbólico pode ser evocado pela 
palavra, por uma frase, uma estrofe ou todo um poema. 
A mais sugestiva das artes porque extremamente 
subjetiva, incapaz de reproduzir objetos do mundo real, a 
música exprime estados de alma através da sonoridade. É isso 
que almejam os poetas simbolistas: um texto suficientemente 
musical para evocar, a partir da própria musicalidade, diferentes 
estados de espírito. Daí a presença tão forte de aliterações, 
assonâncias e ecos nos poemas da época: 
Violões que choram... [excerto] 
Ah! Plangentes violões dormentes, mornos, 
soluços ao luar, choros ao vento... 
Tristes perfis, os mais vagos contornos, 
bocas murmurejantes de lamento. 
Noites de além, remotas, que eu recordo, 
noites de solidão, noites remotas 
que nos azuis da Fantasia bordo, 
vou constelando de visões ignotas. 
Sutis palpitações à luz da lua 
anseio dos momentos mais saudosos, 
quando lá choram na deserta rua 
as cordas vivas dos violões chorosos. 
Quando os sons dos violões vão soluçando, 
quando os sons dos violões nas cordas gemem, 
e vão dilacerando e deliciando, 
rasgando as almas que nas sombras tremem. 
Harmonias que pungem, que laceram, 
dedos nervosos e ágeis que percorrem 
cordas e um mundo de dolências geram, 
gemidos, prantos, que no espaço morrem... 
E sons soturnos, suspiradas mágoas, 
mágoas amargas e melancolias, 
no sussurro monótono das águas, 
noturnamente, entre ramagens frias. 
Vozes veladas, veludosas vozes, 
volúpias dos violões, vozes veladas, 
vagam nos velhos vórtices velozes 
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. 
Cruz e Sousa. In: Frederico Barbosa (Org.). Clássicos da poesia 
brasileira. São Paulo: Klick, 1999, p. 161. 
A aproximação entre as palavras de um poema não é 
mais produzida por relações racionais (sintáticas, por exemplo), 
mas principalmente por uma orquestração melódica. Para 
alcançar os estados íntimos da experiência, os simbolistas 
optaram por usar a linguagem como um instrumento maleável, 
que buscava o intraduzível. O resultado foi uma poesia 
extremamente hermética. 
Edmund Wilson explica o que pretendiam os poetas 
simbolistas: 
Insinuar coisas, em vez de formulá-las ostensivamente, 
era, dessarte, um dos principais objetivos do Simbolismo [...]. Os 
pressupostos em que se baseia o Simbolismo levam-nos a 
formular uma doutrina como a seguinte: toda percepção ou 
sensação que tenhamos, a cada momento de consciência, é 
diferente de todas as outras; por conseguinte, torna-se 
impossível comunicar nossas sensações, conforme as 
experimentamos efetivamente, por meio da linguagem 
convencional e universal da literatura comum. Cada poeta tem 
uma personalidade única; cada um de seus momentos possui 
seu tom especial, sua combinação especial de elementos. E é 
tarefa do poeta descobrir, inventar a linguagem especial que 
seja a única capaz de exprimir-lhe a personalidade e as 
percepções. Essa linguagem deve lançar mão de símbolos: o que 
é tão especial, tão fugidio e tão vago não pode ser expresso por 
exposição ou descrição direta, mas somente através de uma 
sucessão de palavras, de imagens, que servirão para sugeri-lo 
ao leitor. Os próprios simbolistas, empolgados com a ideia de 
produzir, com a poesia, efeitos semelhantes aos da música, 
tendiam a considerar tais imagens como que dotadas de um 
valor abstrato, como o de notas e acordes musicais. Mas as 
palavras de nossa fala não são notação musical; na verdade, os 
símbolos do Simbolismo eram metáforas separadas de seu 
substrato, pois, além de certo ponto, não se pode, em poesia, 
desfrutar meramente o som e a cor por si mesmos: tem-se de 
presumir aquilo a que as imagens estejam sendo aplicadas. E o 
Simbolismo pode ser definido como uma tentativa, através de 
meios cuidadosamente estudados – uma complicada associação 
de ideias, representada por uma miscelânea de metáforas –, de 
comunicar percepções únicas e pessoais. 
Edmund Wilson. O castelo de Axel. São Paulo: Cultrix, 
1987, p. 22. 
 
 
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Dando as costas à mercantilização crescente dos objetos, 
o poeta simbolista se recusa a fazer de seu poema uma 
mercadoria e tenta recuperar estados de alma profundos 
do eu a partir de uma linguagem sensorial e alógica. 
Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens são os maiores 
nomes do Simbolismo brasileiro. Em Portugal, haverá 
importantes poetas como Eugênio de Castro, Antônio 
Nobre e Camilo Pessanha. 
 
Simbolismo início fim 
Brasil 1893 
publicação 
de Missal e 
Broquéis, de 
Cruz e 
Sousa 
1902 
publicação do 
romance Canaã, de 
Graça Aranha 
Portugal 1890 
publicação 
de Oaristos, 
de Eugênio 
de Castro 
1915 
lançamento do 
primeiro número da 
revista Orpheu 
 
Simbolismo em Portugal 
É pela poesia que o movimento alcança sua maior 
realização. É notável um permanente estado de 
contradição entre o modelo simbolista francês proposto 
por Verlaine, Mallarmé e Rimbaud e o Simbolismo 
português, cuja poesia mostrava-se indecisa entre o apelo 
universalista e o passado lusíada, confessional e 
regionalista. 
Vejamos alguns poemas portugueses de autores 
que merecem destaque. 
Texto I 
Tua frieza aumenta o meu desejo: 
Fecho os olhos para te esquecer, 
Mas, quanto mais procuro não te ver, 
Quanto mais fecho os olhos, mais te vejo. 
 
Humildemente atrás de ti rastejo, 
Humildemente, sem te convencer, 
Antes sentindo para mim crescer 
Dos teus desdéns o frígido cortejo. 
 
Sei que jamais hei-de possuir-te, sei 
Que outro, feliz, ditoso como um rei, 
Enlaçará teu virgem corpo em flor. 
 
Meu coração no entanto não se cansa: 
Amam metade os que amam com esp’rança, 
Amar sem esp’rança é o verdadeiro amor. 
Eugênio de Castro. In: Álvaro Cardoso Gomes. A poesia 
simbolista. São Paulo: Global, 1985, p. 34. 
 
 
Texto II 
Da influência da Lua 
Outono. O Sol, qual brigue em chamas, morre 
Nos longes de água... Ó tardes de novena! 
Tardes de sonho em que a poesia escorre 
E os bardos, a cismar, molham a pena! 
Ao longe, os rios de águas prateadas 
Por entre os verdes canaviais, esguios, 
São como estradas líquidas, e as estradas, 
Ao luar, parecem verdadeiros rios! 
Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos 
O xale pedem a quem vai passando... 
E os seus leitos nupciais, os ninhos, 
As lavandiscas noivas piando, piando! 
O orvalho cai do céu como um unguento. 
Abrem as bocas, aparando-os, os goivos; 
E a laranjeira, aos repelões do Vento, 
Deixa cair por terra a flor dos noivos. 
E o orvalho cai... E, à falta de água, rega 
O vale sem fruto, a terra árida e nua! 
E o Padre-Oceano, lá de longe, prega 
O seu sermão de Lágrimas à Lua! 
A Lua! Ela não tarda aí, espera! 
O mágico poder que ela possui! 
Sobre as sementes, sobre o Oceano impera, 
Sobre as mulheres grávidas influi... 
Ai os meus nervos, quando a Lua é cheia! 
Da Arte, novas concepções descubro, 
Todo me aflijo, fazem lá ideia! 
Ai a ascensão da Lua, pelo Outubro! 
Tardes de Outubro! ó tardes de novena! 
Outono! Mês de Maio, na lareira! 
Tardes... 
Lá vem a Lua, gratiae plena 
Do convento dos céus, a eterna freira! 
António Nobre. In: Álvaro Cardoso Gomes op. cit., p. 
69-70. 
Texto III 
Violoncelo 
Chorai, arcadas 
Do violoncelo! 
Convulsionadas, 
Pontes aladas 
De pesadelo... 
De que esvoaçam, 
Brancos, os arcos... 
Por baixo passam, 
 
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Se despedaçam, 
No rio, os barcos. 
Fundas, soluçam 
Caudais de choro... 
Que ruínas, (ouçam)! 
Se se debruçam, 
Que sorvedouro!... 
Trêmulos astro.., 
Soidões lacustres... 
– Lemes e mastros... 
E os alabastros 
Dos balaústres! 
Urnas quebradas. 
Blocos de gelo... 
– Chora, arcadas, 
Despedaçadas, 
Do violoncelo. 
Camilo Pessanha. In: op. cit., p. 103. 
Simbolismo noBrasil 
Aqui, o Simbolismo é praticamente contemporâneo ao 
Parnasianismo e ao Realismo. Para Alfredo Bosi, a 
diferença entre os parnasianos e os simbolistas no Brasil é 
apenas de grau: enquanto aqueles cultuam a forma, 
nestes encontramos a “religião do verbo”. Como técnica, o 
Simbolismo seria um sucedâneo fatal do Parnasianismo: 
O divisor de águas acompanha [...] a passagem da tônica, 
no nível das intenções: do objeto, nos parnasianos, para o 
sujeito, nos decadentes, com toda a sequela de antíteses 
verbais: matéria-espírito; real-ideal; profano-sagrado; 
racional-emotivo... Mas, se pusermos entre parênteses as 
veleidades dos simbolistas de realizarem, através da arte, 
um projeto metafísico; e se atentarmos só para a sua 
concreta atualização verbal, voltaremos à faixa comum do 
“estilismo” onde se encontram com os parnasianos. 
Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira. 3 ed. São 
Paulo: Cultrix, 1995, p. 302. 
Diferentemente da literatura europeia, em que o 
Simbolismo foi o movimento precursor do imagismo inglês, 
do surrealismo francês, do expressionismo alemão e da 
pura poesia espanhola, no Brasil, ele não rompeu com a 
literatura oficial. Cruz e Sousa precisou academizar-se 
para comover a vida literária de alguns centros menores 
do país e partilhar do prestígio dos poetas parnasianos. 
Acompanhe estes exemplares de poemas simbolistas 
brasileiros. 
Texto I 
Acrobata da dor 
Gargalha, ri, num riso de tormenta, 
como um palhaço, que desengonçado, 
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado 
de uma ironia e de uma dor violenta. 
 
Da gargalhada atroz, sanguinolenta, 
agita os guizos, e convulsionado 
salta, gavroche, salta clown, varado 
pelo estertor dessa agonia lenta... 
 
Pedem-se bis e um bis não se despreza! 
Vamos! retesa os músculos, retesa 
nessas macabras piruetas d’aço... 
 
E embora caias sobre o chão, fremente, 
afogado em teu sangue estuoso e quente, 
ri! Coração, tristíssimo palhaço. 
Cruz e Sousa. In: Massaud Moisés. A literatura brasileira através 
dos textos. 21 ed. São Paulo: Cultrix, 1998, p. 312. 
Texto II 
Música da Morte 
A música da Morte, a nebulosa, 
estranha, imensa música sombria, 
passa a tremer pela minh’alma e fria 
gela, fica a tremer, maravilhosa... 
 
Onda nervosa e atroz, onda nervosa, 
letes sinistro e torvo da agonia, 
recresce a lancinante sinfonia 
sobe, numa volúpia dolorosa... 
 
Sobe, recresce, tumultuando e amarga, 
tremenda, absurda, imponderada e larga, 
de pavores e trevas alucina... 
 
E alucinando e em trevas delirando, 
como um ópio letal, vertiginando, 
os meus nervos, letárgica, fascina... 
Cruz e Sousa. Massaud Moisés, op. cit., p. 312. 
Texto III 
Ismália 
Quando Ismália enlouqueceu, 
Pôs-se na torre a sonhar... 
Viu uma lua no céu, 
Viu outra lua no mar. 
 
No sonho em que se perdeu, 
Banhou-se toda em luar... 
Queria subir ao céu, 
Queria descer ao mar... 
 
E, no desvario seu, 
Na torre pôs-se a cantar... 
Estava perto do céu, 
Estava longe do mar... 
 
E como um anjo pendeu 
As asas para voar... 
Queria a lua do céu, 
Queria a lua do mar... 
 
As asas que Deus lhe deu 
Ruflaram de par em par... 
Sua alma subiu ao céu, 
Seu corpo desceu ao mar... 
Alphonsus de Guimaraens. Massaud Moisés op. cit., p. 
332. 
 
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 Literatura 
 
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Exercícios 
1. (UFPE) Quais são as características do simbolismo que 
podem ser observadas nos versos abaixo? 
Infinitos espíritos dispersos 
Inefáveis, edênicos, aéreos, 
Fecundai o mistério destes versos 
Com a chama ideal de todos os mistérios. 
 
a) Subjetividade, cor local, amor sensual. 
b) Nacionalismo, mitologia, impessoalidade. 
c) Mistério, musicalidade, hermetismo. 
d) Descrição da natureza, ironia, impessoalidade. 
e) Racionalismo, religiosidade, versos livres. 
2. (UFV) Texto para a próxima questão. 
Sinfonias do ocaso 
 
Musselinosas como brumas diurnas 
Descem do acaso as sombras harmoniosas, 
Sombras veladas e musselinosas 
Para as profundas solidões noturnas. 
 
Sacrários virgens, sacrossantas urnas, 
Os céus resplendem de sidéreas rosas, 
Da lua e das Estrelas majestosas 
Iluminando a escuridão das furnas. 
 
Ah! por estes sinfônicos ocasos 
A terra exala aromas de áureos vasos, 
Incensos de turíbulos divinos. 
 
Os plenilúnios mórbidos vaporam... 
E como que no Azul plangem e choram 
Cítaras, harpas, bandolins, violinos... 
 
Andrade Murici (Org. ). Cruz e Sousa. Obra completa. Rio de 
Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 86. 
Sobre o autor e o poema citados acima, é incorreta a 
afirmativa: 
a) O autor explora sensações impalpáveis, vagas; 
utilizando-se de linguagem hermética, difícil, busca 
expressar o belo e o sublime de um cenário mais 
interiorizado do que real. 
b) Cruz e Sousa, autor simbolista, faz uso do verso 
decassílabo, presente também na poesia parnasiana. 
c) No poema, são intensamente explorados os sentidos da 
audição, da visão e do olfato, buscando transmitir ao leitor 
as impressões do eu lírico diante do pôr-do-sol. 
d) O poema apresenta uma visão subjetiva da natureza, 
em que o fenômeno do ocaso é mais sugerido do que 
descrito. 
e) No poema, expressivo do ideal da “arte pela arte”, é 
evidente o repúdio ao subjetivismo e à emoção, pelo uso 
de vocabulário raro e preciso. 
3. (UFRS) Considere as seguintes afirmações em relação 
ao poema [“Acrobata da dor”] de Cruz e Sousa. 
a) Trata-se de um poema simbolista que não expressa 
nitidamente as emoções representadas, o que é 
incompatível com a forma do soneto. 
b) Os poetas do simbolismo, incapazes de captar as 
sensações e os sentimentos humanos em sua real 
dimensão, apelavam para imagens obscuras. 
c) O poema mistura em tom veemente imagens 
contraditórias de riso e dor, usando em diferentes 
metáforas a imagem do palhaço. 
Quais estão corretas? 
a) A) Apenas I. 
b) B) Apenas II. 
c) C) Apenas III. 
d) D) Apenas II e III. 
e) E) I, II, III. 
4. (UFPE) Texto para a próxima questão. 
Os miseráveis, os rotos 
São as flores dos esgotos 
 
São espectros implacáveis, 
Os rotos, os miseráveis 
 
São prantos negros de furnas 
Caladas, mudas soturnas. 
Cruz e Sousa 
Assinale com (V) as afirmações verdadeiras sobre o 
poema; com (F), as falsas: 
( ) esse autor representou o simbolismo no Brasil 
propondo uma poesia pura não racionalizada, explorando 
imagens e não conceitos. 
( ) a poesia simbolista é hermética, misteriosa e despreza 
a poética racional. 
( ) Cruz e Sousa, principal figura do movimento, era filho 
de escravos e, como tal, usou a escravidão e as injustiças 
como tema central de sua poética. 
( ) pela espiritualização contínua de sua poesia, tenta 
desfazer-se de todos os referenciais concretos, adotando 
para isso uma linguagem rebuscada e musical. 
( ) o trecho anterior pertence a “Litania dos pobres”, tem 
o tom de denúncia social, apesar do idealismo platônico 
do autor e de sua tendência à espiritualização. 
 
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5. (UFMG) Com base na leitura de Broquéis, de Cruz e 
Sousa, é incorreto afirmar que se trata de uma poesia: 
a) de tendência naturalista, que se compraz na descrição 
mórbida dos sentimentos, embora mostre otimismo em 
relação ao homem. 
b) próxima da música, não apenas no plano temático, mas 
sobretudo no trabalho detalhista da sonoridade. 
c) abstrata, pois se afasta de situações cotidianas e, além 
disso, exprime um intenso sentimento de dor e de 
angústia. 
d) de atmosfera intensamente misteriosa, criada pelo forte 
impulso de transfiguração da realidade imediata. 
6. (UFRS) Sobre o simbolismo brasileiro é correto afirmar 
que: 
a) reelabora a fala popular carioca em curtos poemas de 
temática urbana repletos de elipses e trocadilhosbilíngues. 
b) retoma a temática romântica com ânimo satírico e 
polêmico, inclusive parodiando trechos de romances do 
século XIX. 
c) explora a mitologia greco-latina e episódios da história 
antiga da Europa em sonetos descritivos com chave de 
ouro. 
d) explora a sugestividade dos sons da língua em poemas 
que reportam a sensações indefinidas e sentimentos 
vagos. 
e) reelabora a musicalidade dos vocábulos com 
experiências em que as palavras são segmentadas e a 
frase parte-se em fragmentos. 
 
7. (MACK) Leia as afirmações a seguir. 
I. Misticismo, amor e morte caracterizam a obra de 
Alphonsus de Guimaraens. 
II. A poesia de Cruz e Sousa apresenta aspectos ligados 
ao subjetivismo e à angústia pessoal, evoluindo para 
posições mais universalizantes. 
III. O Simbolismo nega o cientificismo, valorizando as 
manifestações metafísicas e espirituais. 
Assinale: 
a) se apenas I e III estiverem corretas. 
b) se apenas I estiver correta. 
c) se todas estiverem corretas. 
d) se todas estiverem incorretas. 
e) se apenas III estiver correta. 
 
 
 
19 Umedecidas, orvalhadas. 
8. (PUC-SP) Texto para a próxima questão. 
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras 
De luares, de neves, de neblinas!... 
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... 
Incensos dos turíbulos das aras... 
 
Formas do Amor, constelarmente puras, 
De Virgens e de Santas vaporosas... 
Brilhos errantes, mádidas19 frescuras 
E dolências de lírios e de rosas... 
 
Indefiníveis músicas supremas, 
Harmonias da Cor e do Perfume... 
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, 
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... 
 
Esse trecho do poema, que abre o livro Broquéis, é 
considerado uma espécie de profissão de fé simbolista. 
Reflita sobre as afirmações a seguir. 
I. O fragmento revela a preocupação do eu lírico pelas 
formas caracterizadas pela cor branca, pelas cintilações, 
pela vagueza, pelo diáfano e pelo transparente. 
II. O fragmento apresenta uma construção apoiada na 
justaposição de frases nominais, com o intuito de 
descrever os objetos com clareza. 
III. O fragmento mostra alguns procedimentos estilísticos 
do Simbolismo como, por exemplo, a musicalidade das 
palavras, o uso de reticências, o emprego de letras 
maiúsculas e a rarefação do referente. 
Conforme se verifica, está correto o que se afirma: 
a) A) apenas em I e II. 
b) B) apenas em I e III. 
c) C) apenas em II e III. 
d) D) apenas em I. 
e) E) em I, II e III. 
(UNESP) Texto para as questões 9 e 10. 
Eras a sombra do poente 
Eras a sombra do poente 
Em calmarias bem calmas; 
E no ermo agreste, silente, 
Palmeiras cheia de palmas. 
 
Eras a canção de outrora, 
Por entre nuvens de prece; 
Palidez que ao longe cora 
E beijo que aos lábios desce. 
 
Eras a harmonia esparsa 
Em violas e violoncelos: 
Em solitários castelos. 
 
Eras tudo, tudo quanto 
De suave esperança existe; 
Manto dos pobres e manto 
Com que as chagas me cobriste. 
 
 
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Eras o Cordeiro, a Pomba, 
A crença que o amor renova... 
És agora a cruz que tomba 
À beira da tua cova. 
Alphonsus de Guimaraens, Pastoral aos crentes do amor 
e da morte. 
9. O texto em pauta, de Alphonsus de Guimaraens, 
apresenta nítidas características do Simbolismo literário 
brasileiro. Releia-o com atenção e, a seguir: 
a) Aponte duas características tipicamente simbolistas do 
poema. 
b) Com base em elementos do texto, comprove sua 
resposta. 
10. A reiteração é um procedimento que, aplicado a 
diferentes níveis do discurso, permite ao poeta obter 
efeitos de musicalidade e ênfase semântica. Para tanto, o 
escritor pode reiterar fonemas (aliterações, assonâncias, 
rimas), vocábulos, versos, estrofes ou, pelo processo 
denominado “paralelismo”, retomar estruturas sintáticas de 
frases, repetindo alguns elementos e fazendo variar 
outros. Tendo em vista estas observações: 
a) Identifique no poema de Alphonsus um desses 
procedimentos. 
b) Servindo-se de uma passagem do texto, demonstre o 
processo de reiteração que você identificou no item a. 
Gabarito 
1. 1. C 2. E 3.C 4. V – V – F – V – V 5. A 
2. 6. D 7.C 8. B 
3. 9. 
4. a) Preocupação com a musicalidade (aliterações e assonâncias) 
e presença de misticismo religioso. 
b) Aliterações e assonâncias: “Eras a sombra do poente”; 
misticismo religioso: presença de metáforas bíblicas, como 
“pomba” e “cordeiro”. 
10. 
a) O poeta utiliza-se da figura de linguagem anáfora. 
b) A repetição do verbo “eras” no início de cada verso 
revela, gradativamente, os atributos da amada morta, 
chegando à sublimação mística da mulher ao relacioná-la 
com os termos “cordeiro” e “pomba”. 
Pré-Modernismo brasileiro 
Creio que se pode chamar de pré-modernista (no sentido 
forte de premonição dos temas vivos em 22) tudo o que, 
nas primeiras décadas do século, problematiza a nossa 
realidade social e cultural. 
Alfredo Bosi 
Chamamos pré-modernista a literatura brasileira 
que se produz nas duas primeiras décadas do século XX. 
É um período de transição e, portanto, não pode ser 
chamado de escola literária: não há um estilo artístico 
comum entre os autores. Ainda influenciados, uns mais 
que outros, pelo Realismo, pelo Parnasianismo e pelo 
 
20 Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira. 3 ed. São 
Paulo: Cultrix, 1995, p. 347. 
Simbolismo, o que os autores pré-modernistas têm em 
comum (e, ainda assim, não se pode dizê-lo de todos) é a 
problematização da nossa realidade social; revelam antes 
mesmo dos modernistas as tensões da vida nacional. 
Tudo o que rompe com a cultura oficial, alienada e 
verbalista, e busca novas sondagens sociais e estéticas 
pode ser dito pré-modernista. Já preocupados em 
denunciar os contrastes sociais e mais aproximados da 
vida cotidiana, é recorrente nesses autores uma grande 
influência do folclore nacional e, antecipando a busca 
modernista, inventam a oralidade na linguagem escrita. 
Os escritores que aqui estudaremos estão 
deslocados do período realista em que nasceram e se 
formaram porque, considerados na sua totalidade, formam 
uma crítica ao Brasil arcaico, rompem com a República 
Velha e negam todo o academicismo vigente. De alguma 
forma, antecedem a literatura em prosa que se fará nos 
anos 1930. 
Autores pré-modernistas 
1. O jornalismo literário de Euclides da Cunha 
O sertanejo é antes de tudo um forte. Não tem o 
raquitismo neurastênico dos mestiços do litoral. 
Euclides da Cunha 
Vinculado aos determinismos sociais do século 
XIX, o engenheiro Euclides da Cunha (1866-1909) pode 
ser considerado moderno na medida em que desvenda “o 
mistério da terra e do homem brasileiro com as armas da 
ciência e da sensibilidade”20. Sua grande obra é Os 
sertões (1902), que nasce do acompanhamento que fez, a 
mando do jornal O Estado de S.Paulo, das operações do 
Exército na região de Canudos. A paixão pela palavra fez 
com que o veio cientificista da obra ganhasse dimensões 
literárias – e fosse comparada aos romances da seca e do 
cangaço dos anos 1930. Comprometido com a natureza, o 
homem e a sociedade, o autor dividiu o livro em três 
partes, nas quais descreveu minuciosamente a terra, o 
homem e a luta. Situando a obra na evolução do 
pensamento brasileiro, afirma Antonio Candido: 
Livro posto entre a literatura e a sociologia 
naturalista, Os sertões assinala um fim e um começo: o 
fim do imperialismo literário, o começo da análise científica 
aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade 
brasileira (no caso, as contradições contidas na diferença 
de cultura entre as regiões litorâneas e o interior). 
Antonio Candido. Literatura e sociedade. São 
Paulo: Cia. Editora Nacional, 1965, p. 160. 
O livro alterna a certeza do fim das raças 
“retrógradas” e a denúncia da carnificina levada a cabo em 
Canudos.A partir de um “barroco científico”, expressão 
que muitos utilizam para justificar o conflito interior que se 
quer resolver pela aparência, pelo jogo de antíteses, 
descreve a luta do sertanejo contra o meio e, em outro 
plano, a corajosa resistência dos jagunços à invasão dos 
“brancos litorâneos”. Euclides teria evoluído de um 
determinismo racial e psicológico presentes no início da 
obra a uma forma de dialética socioeconômica. Para 
Alfredo Bosi: 
 
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O observador [Euclides da Cunha] espantado 
diante da miséria sertaneja não o é menos em relação ao 
contemplar os desequilíbrios que trouxe a técnica na fase 
expansionista do capitalismo. 
Alfredo Bosi. História concisa da literatura 
brasileira. 3 ed. São Paulo: Cultrix, 1995, p. 352. 
Interessante é notar como o jornalista 
republicano, que inicialmente se dirige a Canudos para 
testemunhar a morte do “foco monarquista”, passa a 
denunciar o absurdo de uma República que pune, em vez 
de curar, uma comunidade louca e miserável. 
Leia agora dois excertos de momentos diferentes da obra 
e compare-os. O primeiro faz parte do segundo capítulo da 
segunda parte do livro, “O homem”. O segundo é o fim da 
última parte, “A luta”. 
A mistura de raças mui diversas é, na maioria dos 
casos, prejudicial. Ante as conclusões do evolucionismo, 
ainda quando reaja sobre o produto o influxo de uma raça 
superior, despontam vivíssimos estigmas da inferior. A 
mestiçagem extremada é um retrocesso. O indo-europeu, 
o negro e o brasílio-guarani, ou o tapuia, exprimem 
estádios evolutivos que se fronteiam, e o cruzamento, 
sobre obliterar as qualidades preeminentes do primeiro, é 
um estimulante à revivescência dos atributos primitivos 
dos últimos. De sorte que o mestiço – traço de união entre 
raças, breve existência individual em que se comprimem 
esforços seculares – é, quase sempre, um desequilibrado. 
(Euclides da Cunha. Os sertões. 39 ed. Rio de 
Janeiro: Livraria Francisco Alves/Publifolha, 2000) 
II 
Fechemos este livro. 
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a 
história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado 
palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 
5, ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, 
que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois 
homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam 
raivosamente 5 mil soldados. 
Forremo-nos à tarefa de descrever seus últimos 
momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, 
imaginamo-la sempre profundamente emocionante e 
trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos. 
Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, 
a par de uma perspectiva maior, a vertigem... 
Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a 
narrativa de pormenores em que se amostrassem 
mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, 
abraçadas aos filhos pequeninos... 
E de que modo comentaríamos, com a só fragilidade da 
palavra humana, o fato singular de não aparecerem mais, 
desde a manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos na 
véspera, e entre eles aquele Antônio Beatinho, que se nos 
entregara, confiante — e a quem devemos preciosos 
 
21 Alfredo Bosi, op. cit., p. 367. 
esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa 
História? 
Caiu o arraial a 5. No dia 6, acabaram de o destruir, 
desmanchando-lhe as casas, 5 200, cuidadosamente 
contadas. 
O cadáver do Conselheiro 
Antes, no amanhecer daquele dia, comissão adrede 
escolhida descobrira o cadáver de Antônio Conselheiro. 
Jazia num dos casebres anexos à latada, e foi encontrado 
graças à indicação de um prisioneiro. Removida breve 
camada de terra, apareceu no triste sudário de um lençol 
imundo, em que mãos piedosas haviam desparzido 
algumas flores murchas, e repousando sobre uma esteira 
velha, de tábua, o corpo do "famigerado e bárbaro" 
agitador. Estava hediondo. Envolto no velho hábito azul de 
brim americano, mãos cruzadas ao peito, rosto tumefato e 
esquálido, olhos fundos cheios de terra — mal o 
reconheceram os que mais de perto o haviam tratado 
durante a vida. 
Desenterraram-no cuidadosamente. Dádiva preciosa — 
único prêmio, únicos despojos opimos de tal guerra! —, 
faziam-se mister os máximos resguardos para que se não 
desarticulasse ou deformasse, reduzindo-se a uma massa 
angulhenta de tecidos decompostos. 
Fotografaram-no depois. E lavrou-se uma ata rigorosa 
firmando sua identidade: importava que o país se 
convencesse bem de que estava, afinal, extinto aquele 
terribilíssimo antagonista. 
Restituíram-no à cova. Pensaram, porém, depois, em 
guardar sua cabeça tantas vezes maldita — e, como fora 
malbaratar o tempo exumando-o de novo, uma faca 
jeitosamente brandida, naquela mesma atitude, cortou-lha; 
e a face horrenda, empastada de escaras e de sânie, 
apareceu ainda uma vez ante aqueles triunfadores... 
Trouxeram depois para o litoral, onde deliravam multidões 
em festa, aquele crânio. Que a ciência dissesse a última 
palavra. Ali estavam, no relevo de circunvoluções 
expressivas, as linhas essenciais do crime e da loucura... 
Idem, ibidem, p. 514-515. 
2. O espírito aberto de Graça Aranha 
Graça Aranha (1868-1931) foi, sem dúvida, um espírito 
inovador: é o responsável por iniciar o pré-modernismo no 
Brasil e também por integrar o grupo que idealizou a Semana de 
Arte Moderna em 1922 – em nome da qual romperia com a 
Academia Brasileira de Letras, acusando-a de reacionária. Assim 
como Lima Barreto, expressou uma “atitude antipassadista e 
premonitória da revolução literária dos anos 1920 e 30”21. 
Impregnado de um sentimento nacional e de uma consciência 
crítica dos problemas brasileiros, é moderno em relação aos 
romancistas de épocas anteriores. Seu idealismo pode ser 
notado em obras como Canaã e A viagem maravilhosa, 
representantes de uma de suas faces. A outra seria o veio 
doutrinador de A estética da vida, de base evolucionista 
enriquecida pela filosofia irracionalista do século XIX 
 
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(Schopenhauer, Nietzsche, Hartmann) e Espírito Moderno, 
conferência proferida a seus pares da ABL enquanto ainda a 
integrava, em que os incita a escolher entre “evoluir ou 
morrer”. Precursor do Futurismo de Marinetti no Brasil, criou 
uma literatura cujo tema se voltado para o nacionalismo, apesar 
de não poder ser considerado propriamente um “modernista”. 
Uma coloração cômica perpassa sua obra. 
A literatura criada por Graça Aranha não é de todo 
consistente, mas há certos fragmentos que demonstram sua 
sensibilidade e intuição. 
Note, abaixo, o tom impressionista da descrição de 
Maria, personagem de Canaã, quando adormecida à noite na 
mata, coberta e aureolada por vaga-lumes: 
Aumentavam as sombras. No céu, nuvens colossais e 
túmidas rolavam para o abismo do horizonte... Na várzea, ao 
clarão indeciso do crepúsculo, os seres tomavam ares de 
monstros... As montanhas, subindo ameaçadoras da terra, 
perfilavam-se tenebrosas... Os caminhos, espreguiçando-se 
sobre os campos, animavam-se quais serpentes infinitas... As 
árvores soltas choravam ao vento como carpideiras fantásticas 
de natureza morta... 
Os primeiros vaga-lumes começavam no bojo da mata 
a correr as suas lâmpadas divinas... No alto, as estrelas miúdas 
e sucessivas principiavam também a iluminar... Os pirilampos 
iam-se multiplicando dentro da floresta, e insensivelmente 
brotavam silenciosos e inumeráveis nos troncos das árvores, 
como se as raízes se abrissem em pontos luminosos. [...] As 
montanhas acalmavam-se na imobilidade perpétua; as árvores 
esparsas na várzea perdiam o aspecto de fantasmas 
desvairados... No ar luminoso tudo retomava a filosofia 
impassível. Os pirilampos já não voavam, e miríades e miríades 
delescobriam os troncos das árvores, que faiscavam cravadas 
de diamantes e topázios. 
Graça Aranha. In: Alfredo Bosi, op. cit., p. 371. 
3. O romance social de Lima Barreto 
A biografia de Lima Barreto (1881-1922) – a 
origem humilde, a cor da pele, a vida penosa de jornalista 
e de amanuense, o preconceito sofrido e a consciência da 
própria situação social – explica, em certa medida, o 
ideário que perpassa sua obra. Iconoclasta de tabus, 
caracteriza-se por algumas contradições no ideário, que 
tipificam a modernização pela qual passava o Rio de 
Janeiro no início do século: cinema, futebol, arranha-céus, 
acesso das mulheres ao mercado de trabalho e mesmo 
uma crítica ao sistema republicano frente ao monárquico. 
O professor Alfredo Bosi pergunta: seria um instinto de 
defesa étnica, porque viera de uma classe média 
suburbana? 
Apesar dessas contradições, enxergou como 
ninguém “o ridículo e o patético do nacionalismo tomado 
como bandeira isolada e fanatizante”22. Em Triste fim de 
Policarpo Quaresma (1911), uma caricatura quixotesca 
(tipo, aliás, presente em diversas obras do autor) 
denuncia, de forma consistente e numa linguagem 
despojada e até displicente – que dá o grito de 
 
22 Alfredo Bosi, op. cit., p. 359. 
23 O estilo corrente na época era o de um Coelho Neto ou de um Rui 
Barbosa: “o da palavra a servir de anteparo entre o homem e as coisas 
e os fatos. Em Lima Barreto, ao contrário, as cenas de rua ou os 
encontros e desencontros domésticos acham-se narrados com uma 
independência em relação aos estilos literários vigentes23 
–, a realidade social brasileira, a partir de dois planos: o 
narrativo – relato dos percalços do brasileiro em sua pátria 
– e o crítico – enfoque dos limites da ideologia. Castello 
comenta o protagonista: 
Idealista e metódico, severo e irrestritamente 
patriota-nativista, a ponto de propor a adoção do Tupi 
como língua oficial, Policarpo Quaresma defende a 
adoção da nossa cultura popular, a fertilidade das nossas 
terras e riquezas latentes. Mas vê-se na contingência de 
quem enfrenta uma realidade hipócrita e individualista, 
embora acreditasse no contrário. Não seria, pois, de 
estranhar que o herói, de fracasso em fracasso, esbarre 
no hospício sobre o crivo das ideias fixas. 
José Aderaldo Castello, op. cit., p. 32. 
Em Recordações do escrivão Isaías Caminha, 
encarna a personagem principal a própria frustração do 
autor e os preconceitos de classe e cor que sofrera. O 
protagonista é um “pobre-diabo”, ofendido e humilhado, 
figura que materializa a denúncia social feita pelo autor e 
que passará a ser recorrente nas obras modernistas da 
segunda geração brasileira. 
Dotado de um estilo realista e intencional, como 
os cronistas, a modernidade estilística de Barreto é 
característica, e ele pode ser considerado um elo entre os 
realistas e os modernistas. 
Leia um excerto do romance Triste fim de 
Policarpo Quaresma: 
Como lhe parecia ilógico com ele mesmo estar ali 
metido naquele estreito calabouço. Pois ele, o Quaresma 
plácido, o Quaresma de tão profundos pensamentos 
patrióticos, merecia aquele triste fim? De que maneira 
sorrateira, o Destino o arrastara até ali, sem que ele 
pudesse pressentir o seu extravagante propósito, tão 
aparentemente sem relação com o resto da sua vida? 
Teria sido ele com os seus atos passados, com as suas 
ações encadeadas no tempo, que fizera com que aquele 
velho deus docilmente o trouxesse até a execução de tal 
desígnio? Ou teriam sido os fatos externos que venceram 
a ele, Quaresma, e fizeram-no escravo da sentença da 
onipotente divindade? Ele não sabia, e, quando teimava 
em pensar, as duas cousas se baralhavam, se 
emaranhavam e a conclusão certa e exata lhe fugia. 
 
Não estava ali há muitas horas. Fora preso pela manhã, 
logo ao erguer-se da cama; e, pelo cálculo aproximado do 
tempo, pois estava sem relógio e mesmo se o tivesse não 
poderia consultá-lo à fraca luz da masmorra, imaginava 
podiam ser onze horas. 
 
Por que estava preso? Ao certo não sabia; o oficial que o 
conduzira nada lhe quisera dizer; e, desde que saíra da 
ilha das Enxadas para a das Cobras, não trocara palavra 
com ninguém, não vira nenhum conhecido no caminho, 
nem o próprio Ricardo que lhe podia, com um olhar, com 
um gesto, trazer sossego às suas dúvidas. Entretanto, ele 
animação tão simples e discreta, que as frases jamais brilham por si 
mesmas, isoladas e insólitas (como resultava da linguagem 
parnasiana), mas deixam transparecer naturalmente a paisagem, os 
objetos e as figuras humanas” (Alfredo Bosi, op. cit., p. 359). 
 
 Profª. Cristiane 
 Literatura 
 
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atribuía a prisão à carta que escrevera ao presidente, 
protestando contra a cena que presenciara na véspera. 
 
Não se pudera conter. Aquela leva de desgraçados a sair 
assim, a desoras, escolhidos a esmo, para uma carniçaria 
distante, falara fundo a todos os seus sentimentos; pusera 
diante dos seus olhos todos os seus princípios morais; 
desafiara a sua coragem moral e a sua solidariedade 
humana; e ele escrevera a carta com veemência, com 
paixão, indignado. Nada omitiu do seu pensamento; falou 
clara, franca e nitidamente. 
 
Devia ser por isso que ele estava ali naquela masmorra, 
engaiolado, trancafiado, isolado dos seus semelhantes 
como uma fera, como um criminoso, sepultado na treva, 
sofrendo umidade, misturado com os seus detritos, quase 
sem comer... Como acabarei? Como acabarei? E a 
pergunta lhe vinha, no meio da revoada de pensamentos 
que aquela angústia provocava pensar. Não havia base 
para qualquer hipótese. Era de conduta tão irregular e 
incerta o Governo que tudo ele podia esperar; a liberdade 
ou a morte, mais esta que aquela. 
 
O tempo estava de morte, de carnificina; todos tinham 
sede de matar, para afirmar mais a vitória e senti-la bem 
na consciência cousa sua, própria, e altamente honrosa. 
 
Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que 
tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da 
miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, 
no intuito de contribuir para a sua felicidade e 
prosperidade. Gastara sua mocidade nisso, a sua 
virilidade também; e, agora que estava na velhice, como 
ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o 
condecorava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de 
gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não 
pandegara, não amara – todo esse lado da existência que 
parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não 
vira, ele não provara, ele não experimentara. 
 
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e 
por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe 
importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... 
Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos 
heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele 
tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas cousas 
de tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas... 
Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? 
Nenhuma! Nenhuma! 
 
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o 
escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a 
agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não 
era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando 
o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? 
Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois 
ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar 
prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era 
uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de 
decepções. 
 
A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma 
criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, 
nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava 
existir, havia. A que existia de fato era a do Tenente 
Antonino, a do Doutor Campos, a do homem do Itamarati. 
 
E, bem pensando, mesmo na sua pureza, o que vinha a 
ser a Pátria?

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