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Prof. Gustavo Gramática Página 1 de 8 LISTA DE EXERCÍCIOS – SINTAXE DE COLOCAÇÃO PRONOMIAL (EPCAR (AFA) 2020) Trecho da peça teatral A raposa e as uvas, escrita por Guilherme de Figueiredo. A cena ocorre na cidade de Samos (Grécia antiga), na casa de Xantós, um filósofo grego, que recebe o convidado Agnostos, um capitão ateniense. O jantar é servido por Esopo e Melita, escravos de Xantós. (Entra Esopo, com um prato que coloca sobre a mesa. Está coberto com um pano. Xantós e Agnostos se dirigem para a mesa, o primeiro faz ao segundo um sinal para sentarem-se.) XANTÓS (Descobrindo o prato) – Ah, língua! (Começa a comer com as mãos, e faz um sinal para que Melita sirva Agnostos. 1Este também começa a comer vorazmente, dando grunhidos de satisfação.) Fizeste bem em trazer língua, Esopo. 2É realmente uma das melhores coisas do mundo. (Sinal para que sirvam o vinho. Esopo serve, Xantós bebe.) Vês, estrangeiro, de qualquer modo é bom possuir riquezas. Não gostas de saborear 3esta língua e 4este vinho? AGNOSTOS (A boca entupida, comendo) – Hum. XANTÓS – Outro prato, Esopo. (Esopo sai à esquerda e volta imediatamente com outro prato coberto. 5Serve, Xantós de boca cheia.) Que é isto? Ah, língua de fumeiro! É bom língua de fumeiro, hein, amigo? AGNOSTOS – Hum. (Xantós serve-se de vinho) /.../ XANTÓS (A Esopo) Serve outro prato. (Serve) Que trazes aí? ESOPO – Língua. XANTÓS – 6Mais língua? Não te disse que trouxesse o 7que há de melhor para meu hóspede? Por que só trazes língua? Queres expor-me ao ridículo? ESOPO – Que há de melhor do que a língua? A língua é o que nos une todos, quando falamos. Sem a língua nada poderíamos dizer. A língua é a chave das ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças à língua dizemos o nosso amor. Com a língua 8se ensina, 9se persuade, 10se instrui, 11se reza, 12se explica, 13se canta, 14se descreve, 15se elogia, 16se mostra, 17se afirma. É com a língua que dizemos sim. É a língua que ordena os exércitos à vitória, é a língua que desdobra os versos de Homero. A língua cria o mundo de Ésquilo, a palavra de Demóstenes. Toda a Grécia, Xantós, das colunas do Partenon às estátuas de Pidias, dos deuses do Olimpo à glória sobre Tróia, da ode do poeta ao ensinamento do filósofo, toda a Grécia foi feita com a língua, a língua de belos gregos claros falando para a eternidade. XANTÓS (Levantando-se, entusiasmado, já meio ébrio) – Bravo, Esopo. Realmente, tu nos trouxeste o que há de melhor. (Toma outro saco da cintura e atira-o ao escravo) Vai agora ao mercado, e traze-nos o que houver de pior, pois quero ver a sua sabedoria! (Esopo retira-se à frente com o saco, Xantós fala a Agnostos.) Então, não é útil e bom possuir um escravo assim? AGNOSTOS (A boca cheia) – Hum. /.../ (Entra Esopo com prato coberto) XANTÓS – 18Agora que já sabemos o que há de melhor na terra, vejamos o que há de 19pior na opinião deste horrendo escravo! Língua, 20ainda? Mais língua? 21Não disseste que língua era o que havia de melhor? Queres ser espancado? ESOPO – A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que usam os maus poetas que nos fatigam na praça, é a língua que usam os filósofos que não sabem pensar. É a língua que mente, que esconde, que tergiversa, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que se mendiga, que impreca, que 22bajula, que 23destrói, que 24calunia, que vende, que seduz, é com a língua que dizemos morre e canalha e corja. É com a língua que dizemos não. Com a língua Aquiles mostrou sua cólera, com a língua a Grécia vai tumultuar os pobres cérebros humanos para toda a eternidade! Aí está, Xantós, porque a língua é a pior de todas as coisas! (FIGUEIREDO, Guilherme. A raposa e as uvas – peça em 3 atos. Cópia digitalizada pelo GETEB – Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro/UFSJ. Disponível para fins didáticos em www.teatroparatodosufsj.com.br/ download/guilherme-figueiredo- araposa-e-as-uvas-2/ Acesso em 13/03/2019.) 1. (EPCAR (AFA) 2020) Leia o trecho abaixo e responda à questão a seguir. “Mais língua? Não te disse que trouxesse o que há de melhor para meu hóspede? Por que só trazes língua? Queres expor-me ao ridículo?” (referência 6) Em relação à análise morfossintática desse fragmento, assinale a alternativa correta. a) Em “Não te disse que trouxesse (...)?”, é possível perceber o coloquialismo no uso concomitante de 2ª e 3ª pessoas gramaticais. b) Em “Por que só trazes língua?”, o pronome interrogativo, deslocando-se para o final da oração, seria grafado junto e com acento. c) Em “Queres expor-me ao ridículo?”, o pronome oblíquo poderá, de acordo com a norma padrão da Língua, vir antes do verbo ‘querer’. d) Em “(...) o que há de melhor para meu hóspede?”, o pronome demonstrativo exerce a função sintática de sujeito da oração. 2. (ESPCEX (AMAN) 2019) Analise as duas frases abaixo: I. Os ladrões estão roubando! Prendam-nos! II. Somos os assaltantes! Prendam-nos! Assinale a alternativa cuja descrição gramatical dos termos sublinhados está correta. Prof. Gustavo Gramática Página 2 de 8 a) Em I, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 1ª pessoa do plural. Em II, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 3ª pessoa do plural. b) Ambos são pronomes pessoais oblíquos referentes à 1ª pessoa do plural. c) Em I, “nos” é pronome reto da 3ª pessoa do plural. Em II, “nos” é pronome reto da 1ª pessoa do plural. d) Em I, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 3ª pessoa do plural. Em II, “nos” é pronome pessoal oblíquo da 1ª pessoa do plural. e) Ambos são pronomes pessoais retos referentes à 1ª pessoa do plural. TEXTO PARA PRÓXIMA QUESTÃO: O elefante Fabrico um elefante de meus poucos recursos. Um tanto de madeira tirado a velhos móveis talvez lhe dê apoio. E o encho de algodão, de paina, de doçura A cola vai fixar suas orelhas pensas. A tromba se enovela, é a parte mais feliz de sua arquitetura. Mas há também as presas, dessa matéria pura que não sei figurar. Tão alva essa riqueza a espojar-se nos circos sem perda ou corrupção. E há por fim os olhos, onde se deposita a parte do elefante mais fluida e permanente, alheia a toda fraude. Eis o meu pobre elefante pronto para sair à procura de amigos num mundo enfastiado que já não crê em bichos e duvida das coisas. Ei-lo, massa imponente e frágil, que se abana e move lentamente a pele costurada onde há flores de pano e nuvens, alusões a um mundo mais poético onde o amor reagrupa as formas naturais. Vai o meu elefante pela rua povoada, mas não o querem ver nem mesmo para rir da cauda que ameaça deixá-lo ir sozinho. É todo graça, embora as pernas não ajudem e seu ventre balofo se arrisque a desabar ao mais leve empurrão. Mostra com elegância sua mínima vida, e não há cidade alma que se disponha a recolher em si desse corpo sensível a fugitiva imagem, o passo desastrado mas faminto e tocante. Mas faminto de seres e situações patéticas, de encontros ao luar no mais profundo oceano, sob a raiz das árvores ou no seio das conchas, de luzes que não cegam e brilham através dos troncos mais espessos. Esse passo que vai sem esmagar as plantas no campo de batalha, à procura de sítios, segredos, episódios não contados em livro, de que apenas o vento, as folhas, a formiga reconhecem o talhe, mas que os homens ignoram, pois só ousam mostrar-se sob a paz das cortinas à pálpebra cerrada. E já tarde da noite volta meu elefante, mas volta fatigado, as patas vacilantes se desmancham no pó. Ele não encontrou o de que carecia, o de que carecemos, eu e meu elefante, em que amo disfarçar-me. Exausto de pesquisa, caiu-lhe o vasto engenho como simples papel. A cola se dissolve e todo o seu conteúdo de perdão, de carícia, de pluma,de algodão, jorra sobre o tapete, qual mito desmontado. Amanhã recomeço. ANDRADE, Carlos Drummond de. O elefante, 9ªed – São Paulo: Editora Record, 1983 Prof. Gustavo Gramática Página 3 de 8 3. (IME/ RJ - 2019) Observe os vocábulos destacados em negrito nos versos 39 a 44 do poema, transcritos abaixo: “Vai o meu elefante pela rua povoada, mas não o querem ver nem mesmo para rir da cauda que ameaça deixá-lo ir sozinho.” Sobre esses vocábulos, de acordo com a gramática normativa, considere as seguintes afirmações: I. o primeiro “o” é um artigo definido e o segundo é uma forma pronominal oblíqua, assim como a forma “lo” em “deixá-lo”. II. a colocação do segundo “o” junto ao advérbio de negação aproxima-se do registro mais utilizado no português falado no Brasil. III. “o” e “lo” nos versos “mas não o querem ver” e “deixá- lo ir sozinho” são formas pronominais que garantem a coesão referencial anafórica. Está(ão) correta(s) a(s) afirmação(ões) a) I apenas. b) III apenas. c) I e II apenas. d) I e III apenas. e) II e III apenas. (EFOMM/BR - 2019) Leia o texto e responda à questão. Passeio à Infância Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro! Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é só no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira. Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de panela? Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de- rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe vou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco. Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio gritando. Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê- la em menina para subir comigo pela capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma que para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco. Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? É um passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra. Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda rira: ele não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê- la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés. Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência e torturaria; mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi um silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem. Julho, 1945 – Crônica extraída do livro 200 crônicas escolhidas, de Rubem Braga 4. (EFOMM/BR - 2019) Assinale a opção em que, conforme a norma culta, NÃO é possível acrescentar vírgula ao período. a) Primeiro vamos lá embaixo (...). b) Agora devem ser três horas da tarde (...). Prof. Gustavo Gramática Página 4 de 8 c) Na minha adolescência você seria uma tortura. d) Na adolescência me torturaria; mas sou um homem maduro. e) Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras (...). (UFSC/SC - 2017) Leia o texto e responda à questão. dia 16 de outubro de 1983 Primeira noite decente. Sonhei com o consultório da Mary atravessado de papel higiênico, 1grande confusão: seria quem? Analista, amiga ou namorada? Nenhuma das três? Não quero agora computar as perdas. Perder é uma lenha. Lá fora está sol, quem escreve deixa um testemunho. 2Reesquentando. Joguei fora algumas coisas já escritas porque não era o testemunho que eu queria deixar. É outro. Outro agora. Acredite se puder. Rejane por perto, acompanhando meus progressos. Peço a ela encarecidamente que 3me faça o favor de lembrá- los. Eu mesma me exercito, mas que péssima memória! Notas, Armando. A memória Fraca para os progressos! Chega desse lero, Poesia virá quando puder. Por enquanto, Filho, é isso aí apenas. Saí ao sol onde tentei um do-in, 4me sinto exaurida. 5Lembra que o diário era alimento cotidiano? Que importa a má fama depois que estamos mortos? Importa tanto que 6abri a lata de lixo: quero outro testemunho. Diário não tem graça, mas 7esquenta, pega-se de novo a caneta abandonada, e o interlocutor é fundamental. Escrevo para você sim. 8Da cama do hospital. A lesma quando passa deixa um rastro prateado. Leiam se forem capazes. CESAR, Ana Cristina. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 309. 5. (UFSC/SC - 2017) Com base na leitura e interpretação do texto e de acordo com a variedade padrão escrita da língua portuguesa e com os componentes constitutivos do texto, é correto afirmar que: 01) o sinal de dois pontos em “grande confusão: seria quem?” (referência 1) e em “abri a lata de lixo: quero outro testemunho” (referência 6) é usado, nos dois casos, para introduzir uma retificação acerca do termo precedente. 02) em “me faça” (referência 3) e em “me sinto” (referência 4), a colocação pronominal poderia ser alterada para “faça-me” e “sinto-me”, pois a ordem do pronome em relação ao verbo é opcional nos dois casos. 04) as formas verbais “reesquentando”(referência 2) e “esquenta” (referência 7) são usadas com sentido denotativo, em referência direta ao calor do sol. 08) as cinco perguntas presentes no texto (referências 1 e 5) produzem uma impressão de colóquio, isto é, de conversa, ainda que seja uma fala de si para si em um texto escrito. 16) o excerto “Da cama do hospital. A lesma quando passa deixa um rastro prateado. Leiam se forem capazes” (referência 8) constitui uma provocação de Ana Cristina Cesar para que o leitor decifre a natureza do testemunho registrado. 32) a organização do texto obedece à natureza tradicional dos diários íntimos ao exigir um interlocutor externo, alguém diferente da própria pessoa que os escreve. 64) marcas textuais presentes no texto e que o caracterizam como pertencente ao gênero diário são: discurso em primeira pessoa, entrada de data, tom intimista e confessional. (EEAR/ BR - 2017) Leia: Meteoro (Sorocaba) Te dei o Sol Te dei o Mar Pra ganhar seu coração Você é raio de saudade Meteoro da paixão Explosão de sentimentos que eu não pude acreditar Aaaahh... Como é bom poder te amar [...] 6. (EEAR/ BR - 2017) O trecho da canção de autoria de Sorocaba, que ficou famosa na voz de Luan Santana, está escrito em linguagem coloquial. Quanto ao uso dos pronomes oblíquos, marque a alternativa correta. a) Se o autor tivesse optado pelo uso do pronome de acordo com a gramática normativa, e, desse modo, tivesse realizado a colocação do pronome oblíquo após as formas verbais com que se inicia os dois versos do início da canção, seria possível interpretações diferentes das apresentadas por conta de cacofonia (união sonora de sílabas que provoca estranheza auditiva). b) O fato de o texto trazer pronomes oblíquos em vez de retos acentua a ideia de precisão ao escrever de acordo com as normas estabelecidas pela gramática normativa, pois os oblíquos, de uso mais elaborado que os retos, garantem mais legibilidade ao texto escrito ou falado. c) A opção pelo uso de pronomes oblíquos é um indício das tentativas do autor de gerar duplo sentido em seus enunciados, uma vez que nos dois primeiros versos houve ajuste preciso ao que se determina nas gramáticas de língua portuguesa. d) Os pronomes oblíquos presentes no trecho da canção visam promover elegância e estilo, uma vez que estão estritamente de acordo com o que se preconiza nas gramáticas normativas. 7. (PUCRJ 2017) Leia os textos e responda à questão a seguir. Tentação Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam de calor − a Prof. Gustavo Gramática Página 5 de 8 cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos. Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo. Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro. A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam. Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá- lo. Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos. Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos. No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos − lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam. Mas ambos eram comprometidos. Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás. LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, Ternura Eu te peço perdão por te amar de repente Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos Das noites que vivi acalentado Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente. E posso te dizer que o grande afeto que te deixo Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias E só te pede que te repouses quieta, muito quieta E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar [extático da aurora MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.92-3. a) No poema Ternura, o eu lírico dirige-se à amada usando a 2ª pessoa tu. Reescreva o verso a seguir, substituindo os pronomes oblíquos sublinhados por seus correspondentes, de modo que a 2ª pessoa empregada passe a ser “você”. “Eu te peço perdão por te amar de repente” b) Em “Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo.” (8º parágrafo do conto Tentação), a palavra “se” apresenta dois comportamentos distintos. Explique a diferença de sentido entre eles. (UFPR/PR - 2017) Leia o texto e responda à questão a seguir. Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga,e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal! (Antônio Vieira, Sermão de Santo Antônio, em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000033.pdf>.) Prof. Gustavo Gramática Página 6 de 8 8. (UFPR/PR - 2017) Vieira é um homem do século XVII. É possível detectar, no texto de Vieira, características da língua portuguesa que divergem de seu uso contemporâneo. Pensando nessa diferença entre o português atual e o português usado por Vieira, considere as seguintes afirmativas: 1. Diferentemente de hoje, o pronome pessoal oblíquo átono antecedia a negação. 2. O “porque” é empregado no texto como conjunção explicativa e sua grafia é a mesma usada atualmente. 3. A conjunção “ou” tem no texto um uso que não é o de alternância. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. b) Somente a afirmativa 3 é verdadeira. c) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. (PUCCAMP/SP - 2017) Leia o quadrinho e responda à questão a seguir. 9. (PUCCAMP/SP - 2017) Considerada a norma-padrão da língua, a observação correta é: a) No quadrinho, a expressão Por quê? está empregada adequadamente, mas se a frase, com sentido equivalente, tivesse outra redação − “Ela se perguntava desesperadamente porque havia feito aquilo” − o que está em destaque também estaria empregado com correção. b) No quadrinho, a expressão Por quê? está empregada adequadamente, como também está na frase “Não entendo o por quê de tanta discussão”. c) A colocação do pronome em Me perdoa...!! é condenada pelas regras gramaticais, sendo considerada aceitável exclusivamente quando se trata de textos humorísticos. d) O sinal indicativo da crase em Induz à humildade está adequadamente empregado, como o estaria também em “Induz à esse tipo de virtude encontrado em pessoas despretensiosas”. e) A análise da composição do quadrinho evidencia que o verbo “encher” está empregado como transitivo direto e indireto, sendo que o objeto direto é indicado por meio da representação visual. (FGV/SP - 2017) Leia o texto para responder à questão a seguir. Duzentos dos que gozam da mesma cidadania que ela e quase o mesmo número dos que gozam da mesma que eu figuram entre os oitocentos mortos no naufrágio de 18 de abril de 2015 na costa da Sicília. Muitos são aqueles de quem já não se fala mais, aqueles dos quais nunca se falará, jogados nas fossas comuns que se tornaram o Deserto do Saara e o Mar Mediterrâneo. Seu filho único, um dia, partiu para a Europa com 89 outros jovens de Thiaroye (Senegal) a bordo de uma embarcação que o mar engoliu. Nós nos encontramos porque, no meu país, outras mães de migrantes desaparecidos que não querem esquecer nem baixar os braços me interpelaram: “Não vimos de novo nossos filhos nem vivos nem mortos. O mar os matou. Por quê?” Elas também não sabiam nada sobre esse mar assassino, já que nosso país não tem litoral. Me lembrarei para sempre, corajosa Yayi, deste profundo momento de acolhimento e de partilha que foi o “Círculo do Silêncio” que organizamos juntas no Fórum Social Mundial (FSM) de Dacar, em fevereiro de 2011. Aminata D. Traoré. “São nossas crianças”. Em: Le Monde Diplomatique Brasil, setembro de 2016. Adaptado. 10. (FGV/SP - 2017) Considerando o emprego de pronomes do texto, responda ao que se pede. a) A quem se referem os pronomes destacados nas passagens: “Duzentos dos que gozam da mesma cidadania que ela...”, “Seu filho único, um dia, partiu para a Europa...”, “Nós nos encontramos porque...” e “Elas também não sabiam nada sobre esse mar assassino...”? Justifique sua resposta com informações do texto. b) Observe a colocação dos pronomes destacados nas passagens: - “Muitos são aqueles de quem já não se fala mais, aqueles dos quais nunca se falará, jogados nas fossas comuns que se tornaram o Deserto do Saara e o Mar Mediterrâneo.” (1º parágrafo) - “Me lembrarei para sempre, corajosa Yayi, deste profundo momento de acolhimento e de partilha…” (último parágrafo) Comente, segundo os princípios da norma-padrão, a colocação desses pronomes nos respectivos contextos. Prof. Gustavo Gramática Página 7 de 8 (FGV/SP - 2017) Leia os textos para responder à questão a seguir. Texto I Quando se pensa em traçar um histórico sobre o aprendizado de línguas estrangeiras, 1poderia se retroceder aos 2primórdios dos tempos globalizantes, com os acadianos tentando se comunicar com os sumérios na antiga Mesopotâmia, por volta de 3.000 a.C., ou às conquistas do antigo império egípcio, ou ainda do império dos romanos, eles mesmos aprendendo o grego como segunda língua, em reconhecimento ao prestígio daquela civilização. É possível afirmar que, desde os primeiros intercâmbios entre sociedades, quando civilizações descobriram e dominaram outros povos, a necessidade de entendimento entre falantes de línguas distintas levava interessados a aprender novos idiomas com o propósito mais natural, o de comunicar-se; buscava-se, como hoje, a oralidade numa língua estrangeira em situações comunicativas. 3À parte o estudo do grego e do latim (este, 4detentor, por longo período, do título de língua franca), que se 5restringira à gramática e à tradução para fins culturais, políticos ou religiosos, é a partir de meados do século XVII [...] que a necessidade de aprender um novo idioma, com o 6intento 7genuíno de comunicação, se intensificou. Vera Hanna, Línguas estrangeiras: o ensino em um contexto cultural Texto II O domínio de uma língua estrangeira, em especial o inglês, é uma exigência cada vez mais frequente nas empresas. A maior parte dos candidatos às vagas, por sua vez, 1atesta no currículo que fez cursos – o que 2em geral é verdade. Mas, na prática, são poucos os que sustentam uma entrevista mais detalhada em outro idioma ou mantêm uma conversação em inglês sem grande esforço. Para muitos prevalece a sensação de só cometer um erro após outro. E o pior é que a insegurança quanto à gramática e o medo de cometer equívocos terminam por comprometer as possibilidades de acerto. Em muitos casos, nem mesmo anos de aula mudam essa situação. Jan Dönges, Revista Mente e Cérebro 11. (MACKENZIE/SP - 2017) Assinale a alternativa INCORRETA. a) No texto II, a forma verbal atesta (ref. 1) pode ser usada no singular ou no plural, como abonam gramáticas do português contemporâneo. b) No texto I, a forma se restringira (ref. 5) pode ser substituída por “tinha se restringido”, mantendo-se, mesmo assim, a correção gramatical do texto. c) A forma poderia se retroceder (ref. 1), tal como empregada no texto I, pode ser substituída por “poderia retroceder-se”, sem prejuízos para a correção gramatical. d) No texto I, é opcional o uso da crase na expressão à parte (ref. 3), tal como empregada no texto, pois as duas formas são corretas gramaticalmente. e) A expressão em geral (ref. 2), no sentido como é empregada no texto II, pode vir ou não isolada por vírgulas: “que, em geral, é verdade”. Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953. Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas,como linguista, cultor do 1vernáculo e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho. Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente 2ressabiada quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima- roupa, na segunda do singular: – Onde vais assim tão elegante? Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à 3lide caseira, queixou-se do fatigante 4ramerrão do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse: – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão. De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe: – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo: – É, canto às vezes, de brincadeira... Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador: – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática. Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou: – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro! E, a seguir, ponderou: – Agora, piano é diferente. Pianista ela é! E acrescentou: – Eximinista pianista! Para uma menina com uma flor, 2009. __________________________________________ Prof. Gustavo Gramática Página 8 de 8 1vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional. 2ressabiado: desconfiado. 3lide: trabalho penoso, labuta. 4ramerrão: rotina. 12. (UNESP/SP - 2017) Observa-se no texto um desvio quanto às normas gramaticais referentes à colocação pronominal em: a) “Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro.” (1º parágrafo) b) “Seu Afredo [...] tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador.” (1º parágrafo) c) “Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal.” (2º parágrafo) d) “[...] seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular [...].” (2º parágrafo) e) “Seu Afredo virou-se para ela e disse: [...].” (4º parágrafo) Gabarito: 1. [A] 2. [D] 3. [D] 4. [D] 5. 08 + 16 + 64 = 88 6. [A] 8. [C] 9. [E] 11. [D] 12. [B]