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E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 1 E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 2 E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 3 INTRODUÇÃO CAP. I E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 4 A história monetária brasileira é de destruição do valor da moeda. Voltei no tempo, peguei a história desde a época do Império Romano, e para minha grande surpresa, a história da mo- eda no Império Romano também é de destrui- ção do valor da moeda. Comecei a me atentar, principalmente, em certos momentos do ciclo econômico, para essa classe de ativos que man- tém o valor - o grande objetivo de uma reserva de valor - para que você não sofra os efeitos da inflação e da destruição monetária que ge- ralmente acontece com moedas sujeitas a um monopólio governamental. Comecei a investir com 17 anos por influência do meu pai, em 2006. Naquele ano, praticamen- te tudo que você comprasse em Bolsa estava subindo, não importava se era bom ou ruim. Ha- via fundos de investimento que cobravam taxa de administração de 3 a 4% para investir em uma única ação, esses fundos subindo 50, 60, 70%, alguns até dobrando de valor no ano. 5 Passei em um concurso do Exército, ganhava 400 reais por mês, resolvi pegar parte desse valor e começar a investir. Fui ao hoje extinto Banco Real, adquirido depois pelo Santander; procurei uma opção de investimento que acei- tasse um aporte de 100 reais, que era 25% do que eu ganhava, e havia uma única opção de fundo. Por coincidência, era um fundo até inte- ressante, porque investia em algumas empresas, não só em uma. Era um fundo de ações, e já tinha uma preocu- pação, porque tinha empresas que não eram en- volvidas em esquemas de corrupção, com preo- cupação ambiental, quase um antecessor dessa política que vemos hoje do ESG, Environmental, Social and Governance. Investi e depois de dois meses o fundo tinha rendido 40%. Um grande resultado proporcional, mas em termos absolu- tos não era muita coisa; afinal, investi 100 reais e tinha 140. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 6 Mesmo assim, aquilo mudou uma chave na mi- nha cabeça. Comecei a fazer contas de juros compostos, sabia que um dia conseguiria che- gar ao meu objetivo de liberdade financeira. Desde então, fui estudando mais sobre o assun- to, fui investindo mensalmente. Quando tinha 20 anos, defini uma meta de ter, até os 30 anos de idade, 1 milhão de reais. Depois, essa meta mudou, porque descobri a inflação, também es- tudando; com 1 milhão em 1994 comprava-se muito mais coisas do que se compra com 1 mi- lhão de reais hoje; então, mudei essa meta para viver de renda. O que seria viver de renda? Queria que meu pa- trimônio acumulado tivesse algum tipo de renda maior do que aquilo que eu ganhava na minha profissão da época, como oficial do Exército. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 7 Nem sempre valorizei o papel da reserva de valor dentro do meu portfólio, um erro devido à minha ignorância na época. Não tinha para- do para estudar a história das moedas no Brasil, demorei para conhecer, verdadeiramente, o que era o conceito de inflação, e por conta disso, não via tanto valor em ouro. Depois, quando descobri o bitcoin, inicialmente não via como uma possível reserva de valor, não considerava essa classe de ativos no meu por- tfólio. Eu pensava, como muitas pessoas ainda pensam, que devia comprar apenas ativos que gerassem caixa e me pagassem juros. Não via porque mobilizar uma parte do capital em um metal amarelo que não faria nada, ficaria parado dentro do cofre de um banco. 8 Apenas para citar um exemplo extremamen- te atual, podemos pegar os dados da Bolsa de Valores de Caracas, na Venezuela. Eles têm um índice chamado IBC, que seria o Índice da Bol- sa de Valores de Caracas, que iniciou o ano de 2020, em torno de 90.224 pontos. Esse índice subiu muito, subiu mais de 1.000%, terminando o ano de 2020 uma pontuação acima de um 1 milhão e 332 mil pontos, isso dá uma rentabili- dade de uns 1.300%. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 9 Você deve estar pensando, “Nossa, que mara- vilha investir na Bolsa de Caracas, o socialismo deu certo. Viva Bolívar!”; e não é assim, porque nesse mesmo período nós tivemos uma infla- ção calculada pelo próprio governo venezue- lano acima de 3.000%. Então, de que adianta a Bolsa subir 1.300% se a moeda desvaloriza em mais de 3.000%; e isso não aconteceu só na Ve- nezuela, isso já aconteceu no Brasil, aconteceu na Argentina, no passado e agora, aconteceu em vários países do mundo que sofreram com esses efeitos. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 10 Durante esse período, se um venezuelano tivesse alocado parte do seu capital em algum daqueles elementos que reúnem as caracte- rísticas necessárias para que possam ser considerados uma reserva de valor, ele teria protegido seu capital de maneira a não sofrer os efeitos dessa grande desvalorização da moeda, que pode, inclusive, ser muito maior do que esse número que foi divulgado pelo governo venezuelano. Se é para medir a inflação, nós pegamos o aumento do preço dos itens no mercado. Como você faz para medir o aumento do preço de itens que estão faltando no mercado, já que na Venezuela existe um grande desabastecimento por conta do grande intervencionismo do governo, e uma total falta de liberdade econômica? E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 11 Pense no seguinte: vemos diversas pessoas fa- lando no mercado que, para você ficar rico com investimentos no longo prazo, basta que faça igual ao que Warren Buffett fez: compre ativos durante 50 anos e espere que alguns deles se valorizem muito, enquanto outros podem não dar certo; mas esses que vão se valorizar muito, tendem a compensar as perdas, que possam vir a acontecer com os outros ativos ao longo do caminho - isso é uma meia verdade. Vamos pensar no exemplo de um Warren Buffett Venezuelano, que comprou os melhores ativos que a Venezuela tinha ao longo dos últimos 20 anos. No final, como já vimos aqui, a Bolsa pode ter subido muito, mas devido à grande desva- lorização da moeda, ele está incrivelmente po- bre hoje em dia, mesmo comparado com outros venezuelanos que não investiram - ele vai estar praticamente no mesmo lugar, com a diferença de que, pelo menos o venezuelano que não in- vestiu, ainda consumiu mais no presente. Ele fez um sacrifício se abstendo do consumo no presente para construir um patrimônio maior no futuro, mas como a moedadesvalorizou de- mais, ele não conseguiu o objetivo. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 12 Isso seria óbvio se ele estivesse atento às con- sequências econômicas do que estava aconte- cendo na Venezuela, e investisse em algo que fosse uma reserva de valor. Pelo menos, teria conservado parte do seu patrimônio, o que lhe daria a possibilidade de ir para um outro país e utilizar essas estratégias vencedoras do Warren Buffett em um mercado que não foi altamente perdedor. Uma coisa que confundem muito é achar que a trajetória do mercado é a trajetória de um indi- víduo: não é. Para que isso aconteça, o indiví- duo tem que estar vivo; e se, simplesmente, ele abrir mão, pensando que pode só contar com a estratégia simples de comprar ativos, sem ob- servar o ciclo econômico, a inflação, e sem uma reserva de valor portfólio; em determinados momentos, pode acabar igual ao venezuelano pobre, ao invés de acabar como Warren Buf- fett, que ficou rico. Eu sou Bruno Perini e essa é a minha Finclass. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 13 O QUE É UMA RESERVA DE VALOR? CAP. II E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 14 O que é uma reserva de valor? Existem algumas características que tornam certos elementos uma reserva de valor; outros acabam sendo ex- cluídos por não a possuírem. São cinco características para que algo seja considerado reserva de valor: é necessário que o elemento seja ao mesmo tempo escasso, não deteriorável, negociado em mercado global, tenha um longo histórico de aceitação, e pos- sua, na ausência de melhores palavras, um cer- to valor intrínseco. 15 Escassez Se algo for muito abundante, o valor tende a ser menor. Por que a areia vale tão pouco, en- quanto o ouro ou os diamantes valem muito? Simplesmente porque a areia é extremamente abundante, enquanto o ouro e diamantes são escassos. Existem reportagens falando sobre uma possí- vel mineração de metais preciosos em outros planetas, com a evolução tecnológica; sobre meteoros de ouro que estão rondando a terra. Já vi uma reportagem que falava “se conseguir- mos pegar um meteoro de ouro e minerar, todos ficariam milionários”; mas não, isso não aconte- ceria, porque se o ouro passasse a ser abundan- te, seu preço cairia muito e poderíamos ver o ouro sendo tão usado quanto qualquer outro metal barato - as pessoas colocariam portas de ouro, piso de ouro. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 16 O ouro desperta uma atração no homem há mui- to tempo; incluindo as culturas antigas, que não tinham contato entre si, valorizavam o ouro por diferentes motivos; mas a questão é que essa escassez é importante. Citando um exemplo histórico muito conhecido: a corte de Napoleão III, sobrinho de Napoleão, que governou a França na metade do século 19: Napoleão III guardava lingotes de alumínio - conhecido por nós, hoje, como um metal usa- do para embrulhar sanduíches - no cofre, como algo extremamente valioso, e tinha talheres de alumínio separados para os seus convidados mais ilustres em banquetes. Os outros convida- dos, não tão ilustres, tinham que se contentar com meros talheres de ouro; o alumínio era mui- to valorizado porque era tremendamente escas- so, até mais do que o ouro. 17 O processo de mineração do alumínio não havia evoluído, era muito complicado separar o alumí- nio de outros metais, para fazer lingotes de alu- mínio ou talheres de alumínio, era preciso achar um bom pedaço do metal puro, ou submetê-lo a processos caríssimos para separá-lo. Com a evolução tecnológica, o processo ficou cada vez mais barato, e no começo do sécu- lo 20, o alumínio já havia caído muito de pre- ço, enquanto o ouro, que permaneceu escasso, manteve o seu valor - por isso a escassez é im- portante. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 18 Negociação Global A próxima característica para ser considerado uma reserva de valor é que o elemento tem que ser negociado em um mercado global. O ouro é negociado no mercado global, não há distinções claras entre o ouro que é produzido na Améri- ca do Sul, na Austrália, ou nos Estados Unidos. Na China, existe uma distinção por falsificações no teor de pureza, mas somente por isso há um desconto no preço do ouro de lá. Se não hou- vesse a falsificação, o ouro teria o mesmo preço no mercado global, e outros elementos também passam nessa característica. Prata, café, soja; as commodities, no geral; o próprio petróleo tem barris diferentes, mas de modo geral, é negocia- do como uma mercadoria global. No entanto, das commodities citadas, maté- rias-primas negociadas no mercado global que não têm muita distinção entre si, algumas não passariam em outros critérios. Esse critério da negociação global também acaba barrando um elemento que é conhecido por muitos como re- serva de valor (na minha opinião, não se enqua- dra) - as terras. 19 Você pode pensar, terras são escassas, terras podem ser negociadas com pessoas de fora do país - posso, como brasileiro, vender um apar- tamento, uma casa para um estrangeiro, ela não se deteriora com o tempo; as construções po- dem se deteriorar, mas basta que você construa algo novo, ou se usa a terra para plantio, e plan- te novamente alguma coisa ali, corrija possíveis defeitos daquela terra -, elas possuem valor in- trínseco, e têm um longo histórico de aceitação - terras são valiosas desde sempre. Por que as terras não se enquadram como re- serva de valor? Porque enquanto o ouro, a prata, e os outros elementos têm portabilidade, as terras não po- dem ser entregues - elas ficam no local para que a pessoa venha e tome posse. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 20 Você pode considerar vários exemplos históri- cos de terras mantendo o valor do patrimônio, como já aconteceu no Brasil durante tempos anteriores ao Plano Real. Nós sofremos com um longo histórico de inflação muito alta, uma hipe- rinflação em algumas vezes. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 21 No período do Brasil de 1954 a 1994, até o co- meço do Plano Real, nós tivemos 40 anos inin- terruptos de inflação de no mínimo dois dígitos; às vezes, três; às vezes, quatro dígitos. Durante esse período prolongado, as terras mantiveram o seu valor no país, o que leva muitos brasileiros a acreditarem que “quem investe em terra não erra”. Contudo, pense no caso de países socialistas: o que adiantava ter terras como reserva de valor na Rússia Imperial, se, em 1917, os revolucioná- rios bolcheviques liderados por Vladimir Lenin falaram: o que era seu, agora é nosso, do gover- no. A sua reserva de valor deixou de preservar o valor do seu patrimônio, graças ao poder de uma canetada lastreada com alguns canos de fuzis. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X XX - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 22 Por isso, as terras seriam algo interessante para preservar valor, mas até certo ponto. Elas po- dem ser confiscadas com muito mais facilidade do que se confiscaria o ouro. O ouro também já foi confiscado em 1933 pelos americanos - e não estamos falando de Hitler confiscando ouro na Alemanha, estamos falando sobre os líderes do mundo livre confiscando o ouro de sua própria população, e punindo a população com multa de 10 mil dólares ou cadeia para quem não qui- sesse entregar o ouro. Felizmente, o governo americano não che- gou ao cúmulo de invadir a casa das pessoas em busca desse ouro; mas, se invadisse, como ouro é portátil e é possível concentrar grandes quantidades de riqueza em pequenos espaços, as pessoas ainda conseguiriam se proteger escondendo o metal, muito diferente do que acontece com as terras. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 23 não deteriorável Uma reserva de valor tem que ser algo não de- teriorável. Havia um grego antigo, Simônides de Ceos, que falava “O tempo tem dentes afiados que devoram tudo, até mesmo as coisas mais sólidas”. Já citei que café, soja, e petróleo são negocia- dos em um mercado global; mas porque a soja e o café, embora sejam escassos - produzidos em grande quantidade, logicamente são abundan- tes, mas ainda há algum tipo de limitação - não podem ser enquadrados como reserva de valor? Por que ninguém fica acumulando soja, pensan- do em passar isso para as próximas gerações? Porque é um alimento, tem um prazo de vali- dade para aquilo; já o ouro, a prata, o bitcoin , até mesmo o dinheiro normal, reais ou dólares, como não tem prazo de validade, acabam se encaixando melhor dentro dessa característica de ser algo não deteriorável. 24 A joia de ouro mais antiga já achada na história da hu- manidade data de 6.500 anos atrás. Uma joia de ouro, produzida há milênios, até hoje permanece com as mes- mas características: o metal permanece dourado, com sua coloração amarela, que chamou a atenção de muita gente durante a Antiguidade; inclusive de civilizações que não tinham contato entre si, todas acabaram valori- zando o ouro de alguma forma; seja para uso monetário, seja para uso religioso, ou uso na indústria de adornos. Já outros metais, que não tinham essa mesma caracte- rística, como por exemplo o cobre (que torna as coisas mais esverdeadas, através de reações com outros ele- mentos); ou ferro (que enferrujando com o passar do tempo); acabaram não sendo utilizados como reserva de valor, porque perdiam suas propriedades ao longo do tempo. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 25 Histórico de Aceitação Uma reserva de valor tem que ter um longo his- tórico de aceitação; e quanto mais longo o his- tórico melhor, pelo chamado Efeito Lindy. Um termo cunhado pelo matemático e escritor Nas- sim Taleb, que observou uma dinâmica entre co- mediantes americanos que se reuniam em uma loja chamada Lindy, que vendia cheese cakes e outros lanches. Os comediantes que já estavam na carreira há mais tempo, cerca de 20 anos, tendiam a ter um tempo de carreira mais longo no futuro; e aqueles que apareciam do nada com um suces- so repentino ao longo de um ano, geralmente sumiam no ano seguinte. 26 Quem tinha um histórico grande de trabalho, geralmente tinha mais tempo de expectativa quanto ao seu trabalho no futuro; já aqueles que tinham um histórico pequeno, geralmente não tinham muito mais tempo de carreira à frente. Pegando isso das coisas orgânicas, como acon- teceu com os comediantes, para as inorgânicas, acabamos observando a mesma coisa. O ouro, que já é valorizado há milhares de anos, pro- vavelmente será valorizado por mais tempo; o alumínio já foi valorizado durante um curto es- paço de tempo e acabou perdendo seu valor também em um curto espaço de tempo. A mes- ma coisa acontece com outros metais. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 27 Aquilo que tem esse histórico de negociação muito antigo, já consolidado, tende a ser uma melhor reserva de valor comparado àquilo que é muito novo. Nós já temos até mesmo uma ima- gem mental, e ninguém precisa ensinar para as crianças que o ouro é valioso, elas ouvem tanto isso, temos na cabeça que o ouro tem valor. Uma vez me perguntaram: por que o ouro tem tanto valor se ele não serve para nada? Devolvi a pergunta: se ele não serve para nada, por que tem tanto valor? Se o ouro ficasse muito bara- to, várias pessoas começariam a usá-lo, deixa- riam de usar bijuterias para usar somente joia de ouro, colocariam ouro como objeto de decora- ção, piso, porta, quadros; mas como ele é caro, não acontece. Contudo, repare que esse longo histórico joga muito a favor de certos elementos, e contra ou- tros que veremos mais à frente, que podem ser enquadrados com uma reserva de valor - mas com certas ressalvas no histórico de aceitação. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 28 Valor Intrínseco Não gosto muito do termo “valor intrínseco”, porque passa a impressão de que as coisas têm um valor fixo e imutável, o que já foi uma ideia econômica. Adam Smith, o pai do liberalismo; Karl Marx, que tinha a ideia do valor do trabalho, de que as coisas deveriam ter um valor compa- tível com o trabalho utilizado para produzi-las - mas a ideia caiu por terra com o conceito que veio do Carl Menger, do valor mutável das coi- sas, ou seja, subjetivo até, de maneira que duas pessoas podem olhar o mesmo item e valorizar de modo diferente. Um grande exemplo é o próprio mercado de arte. De vez em quando, nós vemos algum tipo de obra de arte, principalmente, aquelas mais modernas como mictório no meio da sala, ou uma banana pregada num quadro com uma fita. Para mim, não vale nada, mas algumas pessoas chegam a dar milhões em leilão para ter a posse. 29 Por que o valor das coisas é subjetivo? O valor vai variar devido à oferta e demanda: aquilo que é mais escasso, tem uma oferta limitada e uma grande demanda, tende a ter um valor mais alto; o que é abundante e não tem demanda, tende a ter um valor mais baixo. Um outro ponto é o chamado teorema da utili- dade marginal decrescente, do mesmo econo- mista Carl Menger, da Escola Austríaca. Ele cita- va o exemplo do diamante vs. o copo de água. Um diamante é algo escasso, não deteriorável, tem um longo histórico de aceitação, é negocia- do no mercado global, e as pessoas valorizam muito mais do que um simples copo de água - a água é extremamente abundante. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 30 Contudo, se você está vagando no deserto durante dois dias, sem água, com um monte de diamantes no seu bol- so, e de repente um comerciante aparece e oferece um copo d’água, mas fala “esse copo custa um dos seus dia- mantes.”. Você trocaria um diamante por um copo d’água? Muito provavelmente, na situação, sim, porque nesse estágioem que você depende de água para sobreviver, e os dia- mantes não têm nenhum tipo de serventia no seu bolso - mostrando como o valor das coisas muda de acordo com as condições a que o indivíduo ou a população es- tão submetidos. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 31 Interessante também notar que você até pode- ria comprar um copo de água por um diamante; um segundo copo de água por outro diaman- te, talvez até um terceiro, dependendo da sede; mas, se você bebesse três, quatro, cinco copos de água, e já estivesse satisfeito, você não tro- caria mais um diamante por um copo de água, porque veria que tinha dado diamantes demais, e já estaria com a sede saciada; de agora em diante esses diamantes passam a valer mais do que a água. Por isso não gosto da ideia de valor intrínseco, mas como podemos interpretar dentro de uma ótica de uma reserva de valor? Pensando que aquilo tem que ter valor por outros motivos que não só os atuais, como o dinheiro. Tenho aqui uma nota de 1 real e por que essa nota tem va- lor? Porque o papel tem um custo, a tinta utili- zada na nota também, mas esse é um custo bai- xo - não é por isso que o real tem valor; ele tem valor porque o governo falou “Isso aqui vale um real e todo mundo dentro do território nacional é obrigado a aceitar esse tipo de moeda”. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 32 Repare que, se não houvesse essa obrigação da aceitação, um curso forçado da moeda, não te- ria valor nenhum - afinal, é só papel colorido, deveria valer menos que um papel em branco; em um papel em branco, posso desenhar; já o dinheiro, não posso fazer mais nada com ele. Observe que o papel, em si, tem um valor in- trínseco muito baixo. Já o ouro, por mais que as pessoas deixassem de valorizar o ouro como um recurso financeiro, uma proteção, ele ainda tem algum tipo de uso industrial. Tudo bem que, se fôssemos utilizar o ouro ape- nas para uso industrial, o valor dele tenderia a ser muito mais baixo, aquele valor percebido pelas pessoas. Contudo, ele tem um certo va- lor intrínseco; a prata, a mesma coisa, tem um uso industrial, possui um certo valor intrínseco. E quando falarmos de O bitcoin, será que ele possui um certo valor intrínseco? Bem, veremos isso mais à frente. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 33 A questão do valor intrínseco é importante para entendermos o que é uma reserva de valor de fato. 34 Pegando essas cinco características e resumin- do, vamos lembrar: tem que ser escasso, nego- ciado no mercado global, não deteriorável, com longo histórico de aceitação, e possuir, na au- sência de melhores palavras, algum valor intrín- seco. Para fechar este capítulo, vamos pensar no exemplo da construção de um portfólio com três carteiras diferentes, uma totalmente com- prada em S&P 500, que é o índice da Bolsa de Valores Americana, composta pelas 500 maio- res empresas do país; vamos pensar em uma ou- tra carteira comprada apenas em ouro; e pensar em uma terceira carteira com 80% em SP 500 e 20% em ouro, que seria um elemento com as cinco características da reserva de valor. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 35 Nessa comparação, o melhor desempenho veio para a carteira mista entre S&P 500 e ouro, observando o ciclo econômico, talvez não tives- se ouro durante todo esse caminho. Entretanto, ele acabou diminuin- do a volatilidade do portfólio, e dando uma rentabilidade final mais alta, com menos variação. Muita gente pensa “Não vou ter uma reser- va de valor no meu portfólio porque, afinal, o ouro não paga juros, não produz fluxo de caixa”. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 36 Observe que, quando a Bolsa caiu, o ouro se- gurou um pouco o desempenho da carteira; e quando a Bolsa subiu durante muito tempo, o ouro até pode ter ficado para trás, mas, na mé- dia, como você poderia subir 25% do que a Bol- sa sobe, ficando para trás, porque o ouro não tem um desempenho tão bom em certos perí- odos; mas na hora que cai, cai apenas 20% do que a Bolsa cai, porque o ouro segurou o seu portfólio. Ao longo do tempo, como você tende a subir mais percentualmente do que cai, e a Bolsa sobe caindo, e cai subindo - ela está sempre com al- gum nível de volatilidade - o ouro deixaria o seu portfólio menos volátil e, dependendo do ciclo econômico, poderia entregar uma melhor renta- bilidade com mais segurança. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 37 CRIAÇÃO E FUNCIONALIDADES DA MOEDA CAP. III E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 38 Vamos falar agora sobre a criação e as funcio- nalidades da moeda. Pensemos primeiro em uma economia antiga, na qual as pessoas fa- ziam o escambo; pense no nível de complexi- dade que existia para conseguir algo, adequado para a simples manutenção e sobrevivência do indivíduo. 39 Se você era, por exemplo, um criador de porcos e, de repente, se dá conta de que precisa de uma espada e um escudo para defender as suas terras, então você vai até o ferreiro que produz espadas e escudos e fala “Olha, tenho porcos para trocar por armas”. Porém, o ferreiro fala “Não como porco, porque sou judeu. Na verdade, tenho que comer peixe”, você vai até o pei- xeiro para tentar trocar o seu porco por peixes, só que o peixeiro fala “Olha, até gosto de porco. Mas agora, que- ro maçãs, porque gosto de ter uma dieta equilibrada”. Você vai até o produtor de maçã levando o seu porco; e, enquanto isso, talvez o ferreiro já tenha vendido o que você queria para uma outra pessoa que trouxe os peixes para ele. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 40 Com menos trocas, a economia crescia menos, a vida das pessoas era mais miserável. Até que, naturalmente, as pessoas foram vendo, nem sempre o ferreiro quer porco, nem sempre quer peixe, mas ele sempre precisa de sal, porque todos nós temos que consumir sal de alguma maneira; e começaram a trocar as suas merca- dorias por bens que eram mais líquidos. O termo liquidez significa a capacidade que algo tem de se transformar em dinheiro; como o sal era um bem muito líquido, acabou sendo utilizado como dinheiro durante um certo tem- po - e disso vem a palavra salário. No entanto, o sal não era um dinheiro adequado, porque nin- guém quer um dinheiro que, se molhado, desa- parece. 41 Pensemos nos elementos que nós temos, pegando a popular - ou não tão popular assim - Tabela Periódica. Olhando a tabela periódica, o que você poderia utilizar como o dinheiro? De cara, teríamos que cortar o que é gasoso em temperatura ambien- te, não poderia ter umdinheiro de oxigênio, de nitrogênio, de hidrogê- nio, até porque um dinheiro de hidrogênio seria altamente explosivo; ou feito de gases raros, embora sejam raros e escassos - mas como você faria trocas com dinheiro que não é palpável? Isso pensando em culturas antigas, porque hoje nós temos um dinheiro digital - aí você já corta os gases. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 42 Passamos para o que é líquido: por que um di- nheiro líquido não é bom para ser negociado? É difícil de ser armazenado - então, também tira o que é líquido em temperatura ambiente. Alguns metais já não poderiam ser utilizados como dinheiro, por exemplo, o mercúrio, que além de ser líquido em temperatura ambiente, também é tóxico - demoramos muito tempo para descobrir isso, muitas pessoas morreram intoxicadas por mercúrio ao longo da história, durante um tempo foi utilizado como remédio - mas como moeda não era adequado. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 43 Seguindo o mesmo raciocínio, também tiramos outros elementos nocivos ao ser humano, por- que ninguém quer carregar um dinheiro que vai deixar o povo doente; tira elementos radioati- vos, como urânio, porque ninguém quer um di- nheiro que cause câncer; e você vai ficando res- trito a um grupo cada vez menor de elementos. Dentro desse grupo, temos alguns metais que eram raríssimos, a ponto de dificilmente serem encontrados - como foi o caso do alumínio até a mudança do seu processo de mineração; outros metais são deterioráveis, e não resistem à ação do tempo, como o ferro; vão perdendo suas ca- racterísticas, como o cobre, que vai mudando de cor. Fechando cada vez mais o grupo, nós chega- ríamos a alguns poucos metais que poderiam ser utilizados como moeda, porque teriam uma relativa escassez, mas não tão grande a pon- to de serem encontrados somente em regiões muito particulares do Globo; e apresentariam uma facilidade na cunhagem de certos objetos por culturas primitivas que não tinham acesso à metalurgia avançada como nós temos nos dias de hoje. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 44 Que metais seriam esses? Seriam basicamente oito: prata, platina, pa- ládio, ródio, irídio, ósmio, rutênio e ouro. Só que dentre esses oito me- tais, o único dourado era o ouro, os outros eram parecidos. O rutênio é mais escuro do que a prata, a platina é um pouco mais clara, mas todos são mais ou menos prateados. Algumas características interessantes que nós já vimos na reserva de valor: além de serem escassos, não se deterioram, têm um longo his- tórico de aceitação, foram valorizados por diferentes culturas que ti- nham zero ou pouco contato entre si. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 45 Quando os espanhóis chegaram na América, no século 16, viram que embora astecas e incas não utilizassem moeda, eles valorizavam tanto o ouro quanto a prata. Para os incas, o ouro era o suor do Sol, e a prata eram as lágrimas da Lua; então, aquilo tinha um valor tanto por termos religiosos, quanto para confecção de artefatos. Pegando esses poucos elementos, as culturas começaram a fabricar moedas para dinamizar as trocas comerciais, e essas moedas têm três características precípuas e básicas, e sem essas três características fica difícil que algo se torne uma boa moeda. Quais seriam elas? A primeira coisa é que uma moeda é utilizada como um meio de troca; se uma moeda não é aceita por ambas as partes, então aquela não é uma boa moeda. A segunda característica é que a maioria tem que ser uma unidade de conta, as pessoas possam facilmen- te fazer planos, programações e contratos utili- zando aquilo como uma unidade de referência. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 46 A terceira coisa é que moedas devem ser uma reserva de valor, porque se não forem, as pes- soas tendem a não querer acumular aquelas moedas. Acúmulo de capital leva à poupança, o excesso de poupança leva ao surgimento de um mercado de crédito; e, através do mercado de crédito, a economia tem mais trocas e cresce mais. Citando exemplos de moedas antigas: a primei- ra moeda é do ano 650 A.C., cunhada pelos an- tigos reis da Lídia e são moedas famosas, carís- simas hoje em dia. Foram feitas de uma liga de ouro e prata chamada electro. Infelizmente, não sou rico o suficiente para ter uma dessas moe- das, mas tenho uma outra moeda muito antiga chamada de tetra dracma de prata, da cidade- -Estado de Atenas. 47 De um lado tem a coruja, símbolo da sabedoria associada à deusa Atena, e do outro lado a própria figura da deusa Atena. Essa moeda foi cunhada entre os anos de 450 e 400 a.C, a cidade de Atenas se preocupava com a pureza da prata e buscava fazer moedas muito si- milares: elas tinham que ser parecidas, com o mesmo peso, com a efí- gie da deusa Atena, mostrando que haviam sido cunhadas por aquela cidade, que praticamente se transformaram numa unidade monetária na região da Grécia. Repare que ela possui todas as características de uma moeda. Era um adequado meio de troca; era uma reserva de valor - afinal, ela é feita de prata, e a prata bate em todos os critérios já citados anteriormente, e também era uma unidade de conta, a ponto dos antigos gregos po- derem fazer contratos utilizando a moeda como referência. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 48 Uma outra questão interessante podemos ana- lisar através dessa moeda feita por Felipe II. Ele era da Macedônia, uma região tida pelos gregos como uma região bárbara; falavam um idioma diferente, eram vistos como pessoas atrasadas - com exceção de Aristóteles que, apesar de ter uma ligação com a Macedônia, era admirado pelos gregos, exceto durante um período em que ele teve que fugir de Atenas, achando que podia ser morto devido à xenofobia que existia pelo que acontecia na Grécia por Filipe II e seu filho Alexandre. O interessante dessa moeda é que Filipe II, du- rante muito tempo, tentou competir nos Jogos Olímpicos, mas não era aceito. Até que conse- guiu anexar uma região da Grécia, e ganhou o direito de disputar como um grego. Ele ganhou os Jogos Olímpicos em três modalidades dife- rentes, em três edições diferentes. Na primeira que ganhou, no ano de 356 a.C, queria espalhar a notícia para os gregos - porque a crença era de que se você ganhasse os Jogos Olímpicos, você devia ser favorecido pelos deuses, e isso facilitaria um processo de dominação do Filipe sobre a Grécia. 49 Como ele fez isso? Enviou mensageiros para diferentes cidades? Não. Ele até fez isso também, mas cunhou uma moeda comemorativa com Zeus de um lado, e no seu anverso, há um cavaleiro dando a sua volta olímpica - porque a primeira modalidade que ele ganhou na Olimpíada foi uma corrida de cavalos - dessa forma, ele conseguiu a simpatia dos gregos e cunhou uma moeda que chegou até aos nossos dias, porque foi feita num metal que não se deteriora com o tempo. E - B O O K -X X X - C O NT E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 50 Esparta demorou muito tempo para começar a cunhar moedas - e sabe por quê? Porque em Es- parta a economia era baseada em mão de obra escrava. Os Hilotas produziam, enquanto os es- partanos se dedicavam ao treinamento militar. Como a economia não tinha muitas trocas, os es- partanos demoraram muito tempo para cunhar uma moeda, mostrando que a própria criação de uma moeda veio a favor da liberdade; por- que com ela, fica mais fácil das pessoas fazerem trocas voluntárias, enquanto sem ela, não tinha trocas, mas sim a dominação de alguém mais forte sobre o mais fraco. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 51 INFLAÇÃO E AS MOEDAS FIDUCIÁRIAS CAP. IV E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 52 No capítulo anterior, falamos sobre um breve histórico de criação da moeda, mostrando como a moeda foi uma evolução natural tão boa, que passou a ser adotada por culturas que tiveram contato com ela, para dinamizar as trocas. No entanto, quando falamos de história da moeda, não podemos deixar de falar sobre a história da destruição da moeda através da inflação. A inflação é um conceito explicado de forma diferente por diferentes escolas econômicas. Aqui no Brasil, costumamos chamar de infla- ção o simples aumento dos preços. Utilizamos esse tema de uma forma muito errônea, falando sobre a inflação do tomate, a inflação do arroz, utilizando essa palavra, que deveria mostrar um aumento generalizado nos preços, para alguns poucos itens. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 53 O aumento de um único item pode estar rela- cionado a questões de oferta e demanda: as pessoas começaram a demandar mais, porque descobriram que tal alimento tem propriedades curativas, antioxidantes, boas para a saúde; ou teve um problema de safra que ocasionou uma diminuição da oferta, enquanto ainda há uma demanda muito grande, levando ao aumento dos preços. Falar de inflação de um item espe- cífico não faz absolutamente nenhum sentido, pensando na inflação quanto à definição. Para a Escola Austríaca de Economia, que é uma escola de que gosto bastante pelo pensa- mento e linha de raciocínio, a inflação não seria um aumento dos preços, mas a consequência de um aumento da oferta monetária - essa, sim, responsável pelo surgimento da inflação; não só agora, como em épocas muito, muito anti- gas. Se citamos a Grécia Antiga para falar so- bre o surgimento das moedas, citaremos agora Roma, na sua fase de República e Império, para falar sobre o mal chamado inflação. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 54 INFLAÇÃO Essa é a moeda feita por Sula, ditador que go- vernou Roma, durante o período do século II a.C., já chegando próximo do século I a.C. Pri- meiro, vamos falar o que era um ditador. Roma era uma república; e então, o Senado escolhia seus representantes, seus cônsules. Em um perí- odo de grande turbulência, o cônsul poderia ter poderes absolutos, e no período de Sula houve uma guerra civil. 55 A moeda de Sula, feita de prata, pesa 4 gramas. O nome dessa moeda é denário, que vem de denaro (dinheiro em italiano); dinar, utilizado pelos muçulmanos durante muito tempo; diñero, em espanhol; e em português dinheiro. O denário seria o começo do dinheiro moderno, foi introduzido em Roma mais ou menos em 200 a.C., com um peso de 4,5 gramas de prata. Na época de Sula, que enfrentou uma guerra civil e teve que cunhar mais moedas para poder enfrentar essa ameaça, o denário já pesava 4 gramas. Depois de Sula, tivemos mais alguns governantes até o tér- mino da República com Júlio César, e começamos a fase do Império. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 56 A moeda do primeiro imperador romano, Otaviano Augusto, sobrinho neto de Júlio César. É um denário, também feito de prata, muito boni- to, mas já não pesava 4 gramas, pesava 3,8 gramas; e depois, o proble- ma do peso do denário foi se agravando, até que na época do impera- dor Commodus (o imperador famoso que aparece no filme Gladiador, ele entrava no Coliseu para combater gladiadores; a questão é que a espada dele era muito afiada e a dos outros não tinha fio, então ele ti- nha uma certa vantagem), no século II d.C., pesava apenas 2,6 gramas. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 57 Por que o denário foi perdendo seu peso em prata? Porque, com a mesma quantidade de prata, conseguiam cunhar mais moedas; duran- te a história do Império Romano, houve um aumento de oferta mone- tária que ocasionou a diminuição do poder de compra do denário, e o aumento dos preços do que era negociado em denários. Até porque, a palavra denário deu origem à palavra moderna dinheiro, mas teve o seu significado retirado de um dia de trabalho. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 58 Originalmente, o denário era o pagamento por um dia; depois de muito tempo, com a degrada- ção da moeda, o salário passou a ser muito mais do que um denário por dia trabalhado, porque, com menos prata, o denário comprava cada vez menos coisas. A queda do Império Romano do Ocidente tam- bém tem a ver com o aumento de oferta mone- tária, que levou a uma desarticulação da eco- nomia, a um grande aumento de preços, e às intervenções cada vez maiores feitas pelos im- peradores da época. 59 Ficou famosa a história do imperador Dioclecia- no, que assumiu após a crise do século III, um período em que Roma trocava de imperador a todo instante; foram mais ou menos vinte impe- radores em um período de cinquenta anos - o que é muita coisa, considerando que, durante o início do Império, houve cerca de 26 imperado- res durante quase duzentos anos. Com as trocas e uma falta de mentalidade de longo prazo, o denário foi ficando cada vez mais leve em prata, até que desapareceu da econo- mia romana. Eles passaram a utilizar moedas feitas de uma liga com um pouquinho de prata e muito cobre, chamada bilhão, em que cerca de 5% da moeda era prata, comparado aos 100% de antigamente. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 60 Durante a crise, com preços aumentando, Diocleciano tabelou os preços do Império Romano. A desobediên- cia ao imperador, era a morte no Coliseu, para ser comi- do por leões - o que era um grande estímulo para que as pessoas respeitassem o tabelamento de preços. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 61 Contudo, assim como no Brasil, na época do governo Sarney, o tabe- lamento de preços na época de Diocleciano levou à escassez de bens. Se você proíbe as pessoas de venderem as mercadorias pelo preçoque deveriam custar, coloca um preço tabelado, às vezes, abaixo do custo de produção, o fazendeiro romano que queria vender o seu li- tro de leite por 10 denários, mas devido a um decreto do imperador não poderia vender por mais de 5 denários, observava que não valia a pena vender o leite, porque são 6 denários para produzir. Então, parou de vender e começou a transformar o leite em queijo. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 62 O imperador foi lá e tabelou o queijo. Ele viu que o preço do queijo não era atrativo, pois gastava mais para produzir. Ele parou de vender o queijo e começou a consumir, e às vezes, até matou a vaca para poder vender a carne. O imperador, no seu édito de preços máximos, estabeleceu o preço da carne. A restrição à atividade econômica ficou tão grande, que os romanos começaram a sair das cidades e voltar para o campo para cultivar e sobreviver do que cultivavam - sem comércio. Foram se fechando nas vilas romanas, e quan- do o império caiu, já estava todo mundo nas vi- las. Foi um pulo para se transformar nos feudos, porque muitas vezes parece que tocaram um sino e acabou a Roma das togas, e todo mundo virou cristão dentro de um feudo, senhores da nobreza, e não foi uma transição rápida, foi gra- dual, e muito por causa da inflação. Apesar dos vários erros cometidos no passado, que nos levaram a um aprendizado, hoje co- metemos o mesmo tipo de erro ao aumentar a oferta monetária, muito além do aumento da produção dos bens na economia, se você come- ça a ter muito mais dinheiro circulando do que bens, a quantidade de dinheiro começa a com- petir por bens escassos, levando ao aumento dos preços, e isso é a inflação. 63 Lastro das Moedas Com o conceito de inflação como aumento da oferta monetária definido, é interessante falar sobre algo que existiu durante boa parte da his- tória da humanidade: o lastro em metais. Já falei de várias moedas de prata, e agora vou falar de uma moeda de ouro do imperador Nero, um sujeito que não era muito querido pelos ro- manos e foi culpado de botar fogo em Roma, embora nem em Roma ele estivesse. Em todo caso, a moeda tinha um lastro em algum tipo de metal; para mais moedas produzidas, era ne- cessário ter mais metal acumulado; segurava o processo inflacionário de algum modo, evitando que ele fosse muito grande. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 64 Esse tipo de lastro em metal, que acaba sendo um lastro na escassez, esteve presente durante boa parte da história da humanidade. O sécu- lo 20 foi um século extremamente tumultuado. Nós tínhamos um lastro em ouro no começo do século 20, que foi quebrado no período da Pri- meira Guerra Mundial. Um filósofo grego chamado Heráclito, muito co- nhecido pela ideia de que as coisas estão em permanente mutação - aquela frase que diz que você nunca poderá mergulhar duas vezes nas águas do mesmo rio, porque nem o rio será o mesmo, e nem você - falava que a guerra é a mãe de todas as coisas. De fato, podemos colocar a guerra também como a mãe da inflação. Estados lutando pela sobrevivência, não tinham mais ouro para cunhar mais moeda, e começaram a aumentar a oferta de papel moeda, sem ter o lastro em ouro respectivo. Depois da guerra, eles viam como resolver e, geralmente, a medida resultava em um novo acordo econômico. Durante o come- ço do século 20, havia um lastro em ouro. Por causa da Primeira Guerra Mundial, o lastro foi modificado. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 65 No final da Segunda Guerra Mundial, tivemos novamente uma mo- dificação, em que o dólar assumiu um papel central na economia mundial, que antes era ocupado pela libra. O dólar passaria a ter um lastro em ouro, e todas as moedas teriam um lastro em dólar. Durante esse tempo, aparece em um gráfico utilizado pelo autor Jeremy Seagal, quando compara rendimentos de diferentes aplica- ções, ouro ainda era dinheiro e tem uma performance quase linear do ouro, durante bastante tempo, porque dinheiro não paga juros. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 66 Como não paga juros, se ponho dinheiro no ban- co e recebo juros? Sim, porque você transfor- mou seu dinheiro em depósito bancário - aquilo deixou de ser papel moeda, é um meio de troca que pode utilizar naquele momento de liquidez máxima, afinal todos são obrigados a aceitar aquele dinheiro na economia -, um passivo que o banco tem com você, a obrigação que passa a ter de devolver aquele valor. Por isso você recebe juros sobre os depósitos bancários, mas o dinheiro em si não paga juros, por isso a performance do ouro era extrema- mente linear, segurando a inflação da época. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 67 Esse acordo, que passou a vigorar colocando o dólar em um papel central, a partir de 1944, ficou conhecido como o Acordo de Bretton Woods. Ele vigorou até 1971, quando o governo americano sofreu um ataque especulativo, nas palavras do presidente Richard Nixon. Ele fala- va que vários países estavam querendo acabar com as reservas de ouro dos Estados Unidos; só esqueceu de falar que os Estados Unidos frau- daram um acordo que haviam feito com outros países. O acordo era, se o dólar tem um lastro em ouro, só poderá emitir mais dólares tendo mais ouro em reservas; mas, como os americanos não dei- xavam os outros países vistoriarem suas reser- vas de ouro, começaram a criar cada vez mais dólares, sem ligar para o lastro em ouro, e espa- lhar aquilo pelo mundo. Imagine que você cria todo esse dinheiro, e ele primeiro está nas mãos dos americanos; então, os americanos podem começar a consumir sem que o dinheiro rode pela economia toda, au- mentando os preços - esse é o chamado Efei- to Cantillon, observado pelo banqueiro francês, Richard Cantillon, no século 18. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 68 Uma bolha especulativa conhecida como a Bolha do Mississippi, em que o Estado francês começou a emitir muito mais moeda do que tinha em lastro metálico; essa moeda foi investida na Bolsa de Valores, nas ações da Companhia do Mississippi, que explorava negócios no Novo Mundo, e falaram que o Mississippi era uma terra de riqueza sem igual, quando na verdade era só um grande pântano. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 69 Essa bolha chegou ao fim, quando alguns fran- ceses começaram a querer trocar os seus lucros acionários por metal, e os bancos não tinham metal suficiente. Com os Estados Unidos, a história era pratica- mente a mesma, porque os outros países que tinham a moeda lastreada em dólares poderiam a qualquer momento trocar seus dólares por ouro, junto ao banco central americano. À medida que os países começaram a descon- fiar que os Estados Unidos estavam fraudando o acordo, começaram a pedir o ouro para os Esta- dos Unidos; esse ouro,de fato, saiu dos Estados Unidos em navios, e os americanos viram que ficariam sem ouro. 70 Em 1971, o presidente Nixon falou “A partir de hoje, temporariamente, a nossa moeda não tem mais um lastro em ouro”. Como nada é mais permanente do que uma política temporária do governo, até hoje, 50 anos depois da medida temporária, as moedas não possuem mais nenhum lastro real. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 71 Nós vimos em capítulos anteriores que, para que algo seja considerado uma boa moeda, é necessário ser um meio de troca, unidade de conta, e uma reserva de valor; e vimos também que uma reserva de valor tem que ser escassa - agora que não há mais nenhum lastro real, o dinheiro passou a ser algo abundante. Quando o Banco Central quer, vai lá e cria mais dinheiro. Hoje, esse processo de criação nem é mais impressão de moeda, porque se fosse, ain- da haveria algum tipo de limitação física, mas não, é apertar um botão para que mais dígitos sejam criados em telas de cristal líquido. 72 Pense no que aconteceu durante a crise de 2020. Nós vivemos, em um único ano, o aumento da oferta monetária do dólar em mais de 20%. Isso quer dizer que, de todos os dólares que existem no mundo, 20% foram criados em um único ano. Se fosse necessário imprimir esse dinheiro, ainda haveria uma limitação física; como não é necessário, o dinheiro se transformou em algo quase infinito, criado ao bel-prazer de governos pelo mundo. Se a inflação vem do aumento da oferta monetária, qual poderá ser a consequência de uma falta de limite do aumento da oferta monetária no mundo? Uma desvalorização cada vez maior do dinheiro. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 73 Os governos não escondem que querem fazer isso. Os países que possuem bancos centrais, e praticamente todos os países do mundo pos- suem um banco central há bastante tempo, cos- tumam ter suas metas de inflação. Pegando a meta de inflação do Brasil, atualmente está em 3,75% ao ano, com 1,5 pontos de tolerância, para cima ou para baixo. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 74 O que significa essa meta de inflação para o nosso país e para os outros países? O Banco Central está falando para todos os bra- sileiros, publicamente, sem esconder nada de ninguém, que eles pretendem desvalorizar o di- nheiro que você possui em 3,75%, com uma to- lerância de 1,5 pontos para cima ou para baixo. Se todo ano há uma meta de inflação, se sempre queremos desvalorizar o dinheiro em 5, em 4, em 3 % ao longo de bastante tempo, coloque isso em termos de juros compostos e nós temos a história da destruição monetária das moedas. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 75 O próprio real, criado em julho de 1994, é uma moeda extremamente nova, não possui nem 30 anos. Se fosse um ser humano estaria agora descobrindo o que ele quer da vida, é basica- mente essa a história do real. Qual foi o estrago feito pela inflação dessa mo- eda tão nova? Simplesmente, desde 1994, o real perdeu quase 90% do seu poder de compra, e isso não vai parar agora, porque se nós temos uma meta de inflação para esse ano, também temos uma para o ano que vem, fixada atual- mente em 3,5% - o que já acho uma meta extre- mamente baixa, é muito difícil de ser cumprida - e se você quer pensar no efeito que a inflação causa na sua vida, basta lembrar das idas que você teve ao mercado desde quando era pe- queno até os dias de hoje. 76 Gosto de usar o exemplo da inflação deixar os brasileiros mais fortes: quando era pequeno, meu pai, que era forte, precisava da minha ajuda para carregar 100 reais, em compras, do merca- do para a casa; hoje em dia, meu irmão pequeno consegue carregar 200 reais, em compras, sozi- nho. Isso mostra como a moeda foi perdendo o seu poder de compra ao longo do tempo. Existem alguns índices utilizados, aqui no Brasil, para que nós possamos medir a diminuição do poder de compra da moeda. Dois dos mais po- pulares são o IPCA, o índice de Preços ao Con- sumidor Amplo, que é uma média da variação, de certos preços, medidos em diversas cidades importantes no Brasil, para famílias que ganham entre 1 e 40 salários mínimos. O outro é o IGPM, muito utilizado para reajuste de alguns serviços, aluguéis (muita gente cha- ma até de inflação de aluguel), seguros. O IGPM costuma ter uma volatilidade mais alta do que o IPCA, porque o seu cálculo também leva em conta preços ao consumidor, mas apenas em cerca de 30% do índice. Tem outros 10% que le- vam em conta o índice Nacional de Custos da Construção, o chamado INCC, e 60% que levam em conta os índices de preços ao produtor. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 77 Podemos ter uma grande discrepância entre medidas de inflação vistas pelo IPCA e vistas pelo IGPM, porque o que está acontecendo é um grande au- mento de preços ao produtor, represado pelo produtor, porque ele entende que, se passar o preço de uma vez, vai perder mercado ou pode até quebrar, porque o aumento de preço também causa uma diminuição da demanda por aquele bem. Se o preço do arroz sobe muito, as pessoas acabam substituindo por outro tipo de carboidrato - o macarrão pode não ter subido tanto - a mesma coisa pode acontecer com um produtor, que repassa preços de maneira muito rá- pida. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 78 O Problema dos Índices de Inflação Repare que, quando falamos desses índices, es- tamos apenas medindo aumentos de preços - que são consequência de um processo inflacio- nário, segundo a Escola Austríaca de Economia, mas não a sua causa. Medir aumento de preços pode ser extremamente enganoso. Como já citei, no caso da Venezuela, que tem um grande desabastecimento de mercadorias: como você faz para medir o aumento de preços e mercadorias que não existem mais no merca- do? Um outro exemplo é o caso do governo ar- gentino, em que fazer medições de preços che- gou a ser considerado um crime. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 79 Somente o governo podia fazer esse tipo de coi- sa; e se só governo pode medir o aumento dos preços; a medição tende a ser usada em prol do governo para mascarar o efeito inflacionário. A minha primeira viagem internacional, feita no ano de 2012, quando fui para a Argentina; Buenos Aires é uma bela cidade, gosto muito da Argentina; mas o que me chamou a atenção na época, é que, indo ao McDonald’s, havia uma série de ofertas muito parecidas com as ofertas aqui no Brasil, ao fazer a conversão da moeda, mas o Big Mac era extremamente barato. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W WW .F IN C L A S S .C O M 80 Havia uma promoção permanente que colocava o preço do sanduíche lá embaixo. Achei curio- so, ainda estava no começo da minha jornada de aprendizado de economia, fui pesquisar, e descobri o chamado índice Big Mac, que é usa- do para medir a inflação em diferentes locais do mundo pela paridade do poder de compra. Já que o Big Mac é negociado praticamente no mundo todo, pode-se comparar o preço do Big Mac e ter ideia do poder de compra de uma mo- eda. Sabendo disso - não há nenhum documento ofi- cial, pelo menos nunca vi - o governo argentino pegava os elementos utilizados para a compa- ração de poder de compra e dava um jeito de fixar um valor mais baixo do que seria o natural da economia. Mostrando que índices inflacioná- rios podem vir a ser manipulados por governos sem escrúpulos. Por mais que você tenha um índice inflacioná- rio mediano, um certo aumento de preços, a in- flação real é calculada para o custo de vida, o aluguel, o mercado que você consome, a men- salidade da escola do seu filho, pode ser muito mais alta do que os índices oficiais divulgados pelo governo ou por agências que têm uma cer- ta aproximação com o governo. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 81 Efeitos Devastadores da Inflação Para fechar o capítulo dando dois exemplos prá- ticos do efeito da inflação, nós podemos pensar primeiro em imóveis. Muitas vezes, você vê al- guém se gabando de que comprou um imóvel em 1994, e esse imóvel se valorizou seis vezes desde então, defendendo que você tem que in- vestir em imóvel, porque é muito mais seguro do que outros mercados. Porém, se tirar o efeito inflacionário, muitas vezes a valorização não foi tão grande assim. 82 Não apenas sobre imóveis, como também sobre qualquer outro tipo de ativo, mesmo os ativos reais. Se pegarmos, por exemplo, um investi- mento de 100 reais feito no Ibovespa; o índice é formado por cerca das 70 maiores e melhores empresas mais líquidas da nossa Bolsa de Valo- res, feito no ano 2000, e levado até o ano de 2021, nós veríamos que o ganho real, retirando o efeito inflacionário de desvalorização do dinhei- ro, teria sido muito menor, com o seu investimento se transformando em cerca de 288 reais - ao investir em empresas altamente vencedoras. Pense no tanto de empresas que quebraram e não estão sendo obser- vadas em termos de investimento. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 83 Como última ideia, quero deixar o pensamento de um economista, Friedrich Hayek, que falava que a inflação é extremamente nociva, sobretu- do porque economistas e governos costumam pensar que pequenos índices de inflação não são nocivos, mas ao longo do tempo, como nós vemos através do efeito dos juros compostos, podemos ver que a inflação seria um juro com- posto ao contrário, ao invés de ser positivo, ela seria os juros compostos da destruição mone- tária. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 84 DÓLAR: A MOEDA MUNDIAL CAP. V 85 Chegou o momento de falarmos especificamen- te sobre uma das moedas mais poderosas do mundo. Não é a moeda mais valorizada, mas é aquela que assumiu o posto de moeda de re- serva mundial, unidade de troca utilizada no co- mércio mundial, e unidade de conta, já que é usada para contratos feitos entre países, nego- ciação de commodities em âmbito internacio- nal: estou falando do dólar. Primeiro, temos que pensar porque o dólar tem essa prerrogativa, como se tornou a moeda mundial e pensar no seu início. Poucas pessoas sabem, mas o dólar foi escolhido como moeda oficial dos Estados Unidos, após a sua indepen- dência em 1776, porque já era uma moeda utili- zada pelos americanos. O dólar, originalmente, assim como a libra dos ingleses, nada mais era do que uma medida de peso, uma prata. Um dó- lar, em 1792, equivalia a 24,057 gramas de prata. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 86 Tenho um dólar de prata conhecido como American Silver Eagle, que remonta à época em que o dólar era inicialmente uma unidade de peso em prata. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 87 Até a década de 60, as moedas de 10 e 25 cen- tavos americanas ainda eram feitas de prata, o que gerou um episódio interessante: como o va- lor da prata era mais alto do que o valor mone- tário das moedas, pegavam as moedas de 10 e 25 centavos e derretiam para vender como pra- ta, em vez de utilizarem como moedas em si. Apesar do dólar ser uma moeda muito antiga, com 245 anos de existência, passou por um pro- cesso inflacionário muito menor que o do real, que tem menos de 30 anos de existência. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 88 Se pegarmos as moedas anteriores, então, nem se compara - enquanto o dólar é o mesmo des- de a independência americana. No Brasil, desde a vinda da Família Real em 1808, fugindo das guerras napoleônicas, já tivemos dez tentati- vas de moeda, sendo que somente o real é uma tentativa bem-sucedida, porque várias outras foram um completo fracasso. Hoje, o real é a se- gunda moeda mais longeva que temos no Brasil. Por que a inflação do dólar acabou sendo me- nor do que a inflação em outras moedas fiduci- árias criadas por governos? E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 89 A DIFERENÇA DO DÓLAR PARA OUTRAS MOEDAS O primeiro motivo é, como já vimos em capítulos anteriores, a questão do lastro em ouro, que du- rante muito tempo segurou o valor do dólar. Uma onça de ouro, que é em torno de 31 gramas, va- lia 35 dólares pelo Acordo de Bretton Woods. Em 1971, esse acordo acabou, com uma inflação gran- de no dólar, que chegou até mesmo ao patamar de dois dígitos durante os anos 70. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 90 Os americanos, percebendo que o dólar poderia perder o status de moeda mundial, começaram a pensar (de uma maneira brilhante, diga-se de passagem), em termos geopolíticos: como po- demos garantir que o mundo todo vai continuar precisando de dólares, agora que o dólar não tem mais um lastro em ouro para servir como âncora da economia mundial? “Bom, se as pes- soas não precisam de dólares agora, porque não há mais um lastro seguro, do que elas precisam a ponto de não poder viver sem”? A resposta foi: o petróleo. “Se todos os países precisam de petróleo, e se dermos um jeito de garantir que o petróleo só possa ser negociado em dólares, todos continu- arão precisando de dólares”. O acordo foi feito, por isso até hoje os Estados Unidos são aliados da Arábia Saudita, que levou a uma negociação do petróleo em dólares, manteve o papel do dó- lar como uma moeda mundial. 91 Vamos pensar na moeda como qualquer outra mercadoria, sujeita às leis de oferta e demanda. Se no nosso país,com nossa moeda exótica, o real, nós começarmos a imprimir mais notas de 200 reais, ou mesmo com ausência de impres- são, através do simples apertar de um botão com a criação de dinheiro eletrônico, a conse- quência seria um aumento da oferta de reais, ao mesmo tempo que não há um aumento da de- manda por reais. Quem valoriza o real é basicamente o brasilei- ro e alguns povos vizinhos, na ausência de uma moeda melhor, já que por mais que o real te- nha seus defeitos, ainda é melhor do que o peso argentino, do que o bolívar venezuelano. Con- tudo, quanto mais você cria reais, menos eles tendem a valer. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 92 Para a moeda americana esse mesmo tipo de dinâmica não existe? Existe, mas o limite para a criação é muito maior, porque em vez de ser valorizado apenas por um único país ou alguns poucos países, como no caso do real, o dólar é valorizado pelo mundo todo. Quando japoneses vão fazer negócios com bra- sileiros, a moeda de referência é o dólar; quando europeus vão fazer negócios com africanos, a moeda utilizada é o dólar; quando os chineses vão fazer negócios com outros países - a China quer mudar essa dinâmica, mas por enquanto a moeda utilizada é o dólar. No dólar há uma dinâmica muito interessante, que foi observada durante o ano de 2020. Devi- do à crise, os americanos aumentaram muito a oferta monetária do dólar; e como nós já vimos neste capítulo, o aumento da oferta monetária deveria ocasionar uma diminuição do poder de compra do dólar, todos os preços deveriam au- mentar contra o dólar. No entanto, não foi essa dinâmica que nós ob- servamos, sobretudo, ao comparar o dólar com moedas de países emergentes, países com a economia mais fraca. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 93 Por quê? Novamente, temos que pensar sob a ótica de oferta e demanda. Vamos pegar o exemplo de um empresário, pensando individu- almente. Vamos supor que você esteja passan- do por dificuldades devido à crise, e pense em pegar um empréstimo. Após um breve estudo, chega à conclusão de que, no Brasil, nós cobra- mos juros mais altos do que os americanos co- bram. Ao pegar crédito nos Estados Unidos, você teria um custo com juros mais baixos, comparado ao custo que teria no Brasil; e uma outra questão é que, a todo momento, a mídia mostra o tanto de dólares que estão sendo criados pelo governo americano, e dez entre dez economistas falam que isso não vai terminar bem para o dólar. 94 Você, como uma pessoa inteligente, pensa “Bom, se lá fora os juros são menores do que aqui, e o dólar deve se desvalorizar, porque estão criando trilhões de dólares, é mais inteligente pegar crédito lá fora; imagine pegar emprestado com o dólar valendo quase 6 reais, e quando for pagar o empréstimo, o dólar está va- lendo 3 reais”. Talvez você nem tenha nada a pagar, você tem até um ganho na operação cambial. Agora, vamos pensar que não existe apenas um empresário inteli- gente. Existem milhões de pessoas inteligentes pelo mundo, com o mesmo raciocínio, pensando em pegar crédito lá fora a juros mais baixos, porque o dólar vai se desvalorizar. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 95 Entretanto, se todo mundo pega empréstimos em dólar, o que vai acontecer é que no tempo de pagamento dos empréstimos, as pessoas precisarão de dólares, já que a dívida está feita na moeda americana e, novamente, oferta e de- manda: se todos irão querer dólares no futuro, e o dólar, querendo ou não, ainda é algo escasso, pode ser criado em volumes cavalares, mas ain- da escasso (somente os Estados Unidos podem criar dólares), o que tende a acontecer com um preço de algo que é muito demandado, mas tem uma oferta menor do que a sua demanda? Esse preço tende a subir. Isso explica, em parte, porque os americanos têm praticamente um superpoder nas mãos, que é o dólar; por mais que eles criem, o dólar demora muito mais para perder valor, em com- paração com outras moedas. 96 Um ponto interessante: o dólar é uma reserva de valor? Pegando os cinco critérios que vimos anteriormente, não. Apesar de ser escasso, ele pode ser produzido em quantidades cada vez maiores; os políticos americanos podem decidir produzir muito mais dólares do que já tivemos em termos de produção pregressa. Em alguma hora, esse efeito do aumento da oferta monetária poderá chegar até os Estados Unidos. Ainda assim, o dólar é uma moeda mui- to melhor em termos de preservação de valor do que várias outras moedas pelo mundo. Ló- gico que não é a melhor moeda - pensando nas moedas fiduciárias, a mais interessante seria o Franco Suíço, que foi uma das poucas moedas que se valorizou contra o dólar ao longo do sé- culo 20 e século 21. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 97 Se voltarmos para a época da Primeira Guerra Mundial, a co- tação do dólar contra o franco suíço era muito parecida com a cotação do dólar contra o real agora. Você precisava de apenas um dólar para comprar cerca de 5,5 francos suíços. Hoje, essa relação já se inverteu, porque com um dólar você não consegue mais comprar um franco suíço. A Suíça conseguiu a difícil tarefa de ter sua moeda se valori- zando muito contra o dólar americano, que ainda é a moeda de reserva mundial, um meio de troca e a unidade de conta. É interessante notar que, na Suíça, também tivemos aumento de oferta monetária, mas, comercialmente, é menor do que em outros países, temos uma valorização da moeda suíça contra outras moedas que foram ainda mais desvalorizadas. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 98 DESVALORIZAÇÃO PELO MUNDO Podemos encontrar no livro A Desestatização do Dinheiro, do eco- nomista austríaco Friedrich Hayek, que teve a brilhante ideia, alta- mente heterodoxa em sua época, de imaginar um dinheiro que não dependesse do Estado. O interessante no livro é o seu apêndice, que tem uma tabela com a desvalorização monetária de diferentes moedas em 25 anos, desde 1950 até 1975. E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M E - B O O K -X X X - C O N T E Ú D O E X C L U S IV O -X X X - W W W .F IN C L A S S .C O M 99 Várias moedas, sobretudo aquelas de países emergentes, se desvalorizaram em 99% ao lon- go de 25 anos. Havia uma grande fragilidade monetária a que as pessoas estavam submeti- das. O dólar americano teve uma inflação inte- ressante após o final do lastro do ouro, em 1971. Já a moeda suíça valorizou mais de 60% nes- se mesmo período. Por que gosto de citar esse dado? Mostra que, embora o dólar não seja uma moeda de valor tão interessante, já é uma cama- da a mais para estar protegido contra a desvalo- rização do dinheiro. Vemos isso nos dias de hoje, em exemplos da Economia do Equador e da economia argentina. O Equador já abriu mão de ter a sua própria mo- eda, utilizando o dólar como moeda nacional. Vendo isso, muitas
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