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A_Psicologia_Jurídica_E_As_Suas_Interfaces_Um_Panorama_Atua

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SILVIO JOSÉ LEMOS VASCONCELLOS
VIVIAN DE MEDEIROS LAGO
(organizadores)
A PSICOLOGIA JURÍDICA
E AS SUAS INTERFACES:
um panorama atual
Santa Maria, 2016
ORGANIZADORES
Silvio José Lemos Vasconcellos
Psicólogo (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Mestre em
Ciências Criminais (PUC-RS) e Doutor em Psicologia (UFRGS). Professor
Adjunto III da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professor do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSM. Coordenador do
grupo de Pesquisa e Avaliação de Alterações da Cognição Social (PAACS)
vinculado à Universidade Federal de Santa Maria.
Vivian de Medeiros Lago
Psicóloga (UCPel) e Graduada em Direito (UFPel). Possui
especialização em Psicologia Jurídica (Ulbra) e é Mestra e Doutora em
Psicologia (UFRGS). Atualmente é Pós-doutoranda em Psicologia no
Grupo de Estudo, Aplicação e Pesquisa em Avaliação Psicológica
(GEAPAP - UFRGS). Professora dos cursos de Psicologia da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e das Faculdades Integradas de
Taquara (FACCAT).
SUMÁRIO
Organizadores
Apresentação
Sobre os autores
Capítulo 1
As práticas de atuação do psicólogo no contexto jurídico
Vivian de Medeiros Lago
Tauany Brizolla Flores do Nascimento
Capítulo 2
Elaboração de documentos psicológicos no contexto forense
Sonia Liane Reichert Rovinski
Capítulo 3
Perícia psicológica no direito do trabalho
Helena Diefenthaeler Christ
Capítulo 4
Relacionamento parental em situações de disputa de guarda: o
que avaliar?
Vivian de Medeiros Lago
Denise Ruschel Bandeira
Capítulo 5
Alienação parental: uma análise psicojurídica
Victoria Muccillo Baisch
Lilian Milnitsky Stein
Capítulo 6
Sete erros na avaliação de situações de abuso sexual contra
crianças e adolescentes
Cátula da Luz Pelisoli
Débora Dalbosco Dell’Aglio
Steve Herman
Capítulo 7
A Psicologia na socioeducação de adolescentes
Analice Brusius
Magale de Camargo Machado
Capítulo 8
Incompreensões sobre a mente criminosa e as suas implicações
éticas e jurídicas
Silvio José Lemos Vasconcellos
Roberta Salvador Silva
Thiago Ferreira Mucenecki
Jaíne Foletto Silveira
Capítulo 9
Psicopatia: um olhar sobre a população feminina e suas
implicações jurídicas
Fernanda de Vargas
Fernanda Xavier Ho�meister
Priscila Flores Prates
Silvio José Lemos Vasconcellos
Capítulo 10
Análise do comportamento comunicativo – ACC: investigando
pistas de dissimulação em depoimentos
Rui Mateus Joaquim
Mônica Azzariti
Créditos
SOBRE OS AUTORES
Analice Brusius
Psicóloga (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) e Mestra em
Ciências Sociais (Universidade do Vale do Rio dos Sinos). Psicóloga da
Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul.
Atualmente é professora da Faculdade de Psicologia na Instituição
Evangélica de Novo Hamburgo. Também possui formação em Justiça
Restaurativa.
Cátula da Luz Pelisoli
Psicóloga (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Especialista em
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto WP - Centro de
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental, Mestra e Doutora em
Psicologia (UFRGS), com período de doutorado sanduíche na University
of Hawaii at Hilo. Atualmente é Psicóloga Judiciária do Tribunal de Justiça
do Estado do Rio Grande do Sul na Comarca de Passo Fundo, professora
da Faculdade João Paulo II e professora convidada do Instituto WP.
Débora Dalbosco Dell’Aglio
Psicóloga (PUC-RS), Mestra e Doutora em Psicologia do
Desenvolvimento (UFRGS). Atualmente é docente do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UFRGS, orientadora de mestrado e
doutorado, Editora da Revista Psicologia Re�exão e Crítica/Psychology e
Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Adolescência
(NEPA/UFRGS).
Denise Ruschel Bandeira
Psicóloga (PUC-RS), Mestra e Doutora em Psicologia (UFRGS). É a
atual Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
UFRGS, orientadora de mestrado e doutorado e Coordenadora do Grupo
de Estudos, Aplicação e Pesquisa em Avaliação Psicológica.
Fernanda de Vargas
Psicóloga (Unifra), Especialista em Psicologia, ênfase em Saúde
Comunitária (UFRGS) e Mestra em Psicologia com ênfase em Saúde
(UFSM). Concluiu o Programa Especial de Graduação em Formação de
Professores para a Educação Pro�ssional (PEG) pela UFSM, sendo assim
Licenciada em Psicologia.
Fernanda Xavier Ho�meister
Psicóloga (Unifra), Pós-graduada em Avaliação Psicológica (UNISC) e
Mestranda em Psicologia com ênfase em Saúde (UFSM). Concluiu o
Programa Especial de Graduação em Formação de Professores para a
Educação Pro�ssional (PEG) pela UFSM, sendo assim Licenciada em
Psicologia.
Helena Diefenthaeler Christ
Psicóloga (PUC-RS) e Mestra em Psicologia Clínica (PUC-RS). Possui
especialização em Psicologia Jurídica (Ulbra) e Formação em
Psicoterapia de Técnicas Integradas (Instituto Fernando Pessoa).
Atualmente é professora titular de graduação e pós-graduação da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI/FW)
e Diretora do Núcleo de Estudos e Atendimentos em Psicologia (Nexos).
Jaíne Foletto Silveira
Psicóloga (UFSM). Mestranda em Psicologia (UFSM).
Lilian Milnitsky Stein
Psicóloga (UFRGS), Especialista em Psicologia Escolar (PUC-RS).
Mestra em Applied Cognitive Science (Ontario Institute for Studies in
Education). Doutora em Cognitive Psychology (University of Arizona) e Pós-
doutora (Universidad de Barcelona). Atualmente é professora titular do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PUC-RS).
Magale de Camargo Machado
Psicóloga (Universidade Vale do Rio dos Sinos), integrante da equipe
no Centro de Atenção Psicossocial da Infância e Adolescência de Novo
Hamburgo (CAPSi/NH). Doutora em Educação (UFRGS). É professora da
Faculdade Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH), no curso de
Psicologia. Pesquisadora em estágio pós-doutoral no exterior/Brasil-
Universidade Paris 8/França.
Mônica Azzariti
Fonoaudióloga. Pós-graduada em Linguística (UGF), Pós-graduada
em Segurança Pública (FIAVM). Especialista em voz (título concedido
pelo CFFa). Mestre em Linguística (UERJ), pesquisadora do FSI Brasil.
Professora do IPEBJ. Instrutora do curso de negociações com reféns do
BOPE/RJ e perita no TJRJ.
Priscila Flores Prates
Psicóloga (Unifra), Especialista em Terapia Cognitivo-
Comportamental (UFRGS) e Mestranda em Psicologia com ênfase em
Saúde (UFSM). Atualmente é bolsista FAPERGS.
Roberta Salvador Silva
Psicóloga (Faculdades Integradas de Taquara). Especialista em
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (PUC-RS), Mestra e Doutoranda
em Psicologia também pela PUC-RS. Integra o Grupo de Pesquisa
Neurociência Afetiva e Transgeracionalidade (GNAT), coordenado pela
professora Adriane Arteche.
Rui Mateus Joaquim
Psicólogo. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e
Aprendizagem pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Ciências (UNESP). Doutorando do Programa de Ciências da Reabilitação
do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP.
Sonia Liane Reichert Rovinski
Psicóloga (PUC-RS), Mestra em Psicologia Social e da Personalidade
pela mesma universidade e Doutora em Psicologia (Universidade de
Santiago de Compostela, ES). Atualmente, atua na área da Psicologia
Forense como perita e assistente técnica. Coordena o curso de
Especialização em Psicologia Jurídica da Projecto - Centro Cultural e de
Formação (RS) e o curso de Especialização em Psicologia Jurídica do
Instituto Sapiens (PR). Pós-doutoranda na área de avaliação psicológica
forense (GEAPAP-UFRGS).
Steve Herman
Bacharel em Filoso�a pelo Reed College (Portland, EUA) e Doutor em
Aconselhamento Psicológico pela Stanford University (Califórnia, EUA).
Atualmente é professor assistente no Departamento de Psicologia da
University of Hawaii at Hilo (EUA).
Tauany Brizolla Flores do Nascimento
Psicóloga (Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT).
Thiago Ferreira Mucenecki
Psicólogo (Unifra), Especialista em Neuropsicologia pela Projecto -
Centro Cultural e de Formação e Mestre em Psicologia da Saúde (UFSM).
Atualmente é professor da Universidade RegionalIntegrada do Alto
Uruguai e das Missões (URI-Santiago).
Victoria Muccillo Baisch
Advogada especialista em Direito de Família Contemporâneo e
Mediação. Mestra em Psicologia pela Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUC-RS) na área de concentração Cognição Humana.
Advoga na área do Direito de Família e Sucessões e é professora
convidada da Pós-Graduação em Direito de Família Contemporâneo e
Mediação da FADERGS.
APRESENTAÇÃO
Conforme o dicionário Novo Aurélio, a palavra interface, em um dos
seus signi�cados recorrentes, descreve um conjunto de elementos
comuns entre duas ou mais áreas do conhecimento. Pode-se dizer,
nesses termos, que a Psicologia, ao aproximar-se das ciências jurídicas,
consolidou interlocuções e estabeleceu interfaces verdadeiramente
dinâmicas. A Psicologia Jurídica é, portanto, um campo caracterizado
por transformações que não cessam e diálogos que não se esgotam.
Retratar um panorama atual dessa complexa área do conhecimento
e seus desdobramentos no Brasil não é, por certo, uma tarefa simples ou
diante da qual seja possível prescindir de uma pluralidade de olhares.
Para tanto, torna-se necessário agregar perspectivas distintas e, ao
mesmo tempo, complementares. Mais do que reunir concepções, é
preciso, para esses �ns, produzir interlocuções.
Dessa forma, a obra A Psicologia Jurídica e as suas Interfaces: um
panorama atual objetiva não apenas retratar a realidade hodierna e
multifacetada dessa complexa área do conhecimento, mas também
explicitá-la a partir das suas interconexões e possibilidades epistêmicas.
Temas abrangentes, a exemplo da socioeducação de adolescentes em
con�ito com a lei; alienação parental e disputa de guarda; avaliação de
situações de abuso sexual; perícias e produção de documentos jurídicos;
bem como questões relacionadas à avaliação psicológica na esfera
criminal e outros temas perpassam os diferentes capítulos deste livro.
Se, por um lado, ao longo deste trabalho, algumas segmentações
tornam-se necessárias como forma de melhor organizá-lo, por outro, é
possível identi�car o caráter integrador que o perfaz. Uma integração
que, no que se refere à Psicologia Jurídica, permite fortalecer interfaces
historicamente consolidadas, bem como subsidiar, em termos teóricos,
práticas incipientes.
A partir dessa perspectiva, as autoras Vivian de Medeiros Lago e
Tauany Brizolla Flores do Nascimento discorrem, no primeiro capítulo
desta obra, sobre as práticas do psicólogo jurídico nos diferentes campos
de interface da Psicologia com o Direito. As atividades são descritas a
partir da divisão entre área Cível e área Penal, evidenciando trabalhos
mais consolidados, como perícias e acompanhamento psicológico, assim
como práticas mais recentes, como a mediação, o depoimento especial e
a justiça restaurativa.
No segundo capítulo, a autora Sonia Rovinski discorre sobre a
elaboração de documentos psicológicos forenses na área cível. Além dos
cuidados éticos necessários e das demandas da escrita técnico-cientí�ca,
também são discutidas as peculiaridades especí�cas da estrutura e
conteúdo do laudo pericial e do parecer crítico do assistente técnico.
O capítulo três, de autoria de Helena Diefenthaeler Christ, trata sobre
perícias psicológicas no âmbito do Direito do Trabalho. A autora destaca
a importância de avaliar a queixa apresentada, de considerar possíveis
simulações, de realizar diagnóstico e de estabelecer o nexo de
causalidade entre o dano e a ação praticada pelo empregador. Essas
perícias podem envolver depressão, transtorno de estresse pós-
traumático, estresse ocupacional, síndrome de burnout, além de
situações como assédio sexual e assédio moral.
No capítulo quatro, intitulado Relacionamento parental em situações
de disputa de guarda: o que avaliar?, as autoras Vivian de Medeiros Lago e
Denise Ruschel Bandeira assinalam os aspectos do relacionamento
parental que são relevantes para de�nir a guarda dos �lhos. Os estudos
teórico e empírico realizados oferecem diretrizes sobre o que deve ser
considerado no momento de fazer uma recomendação de quem deverá
�car com a guarda, ou o tipo de guarda e direito de convivência.
O quinto capítulo, de autoria de Victoria Muccillo Baisch e Lilian
Milnitsky Stein, analisa aspectos jurídicos e psicológicos da temática da
alienação parental. A sugestionabilidade infantil, com possibilidade de
formação de falsas memórias na criança vítima de alienação parental, e
suas implicações do fenômeno no âmbito jurídico também são
discutidas.
Cátula Pelisoli, Débora Dalbosco Dell’Aglio e Steve Herman
escreveram o sexto capítulo desta obra, que aponta e discute sete erros
frequentes na avaliação de situações de abuso sexual contra crianças e
adolescentes. Os equívocos abordados podem causar impactos
signi�cativos nas vidas das pessoas envolvidas e, por isso, é importante
buscar minimizar os riscos de erros nessas avaliações.
No sétimo capítulo da obra, as autoras Analice Brusius e Magale de
Camargo Machado exploram a temática da socioeducação de
adolescentes. Re�exões interessantes sobre o trabalho da Psicologia
com adolescentes autores de ato infracional que cumprem medidas
socioeducativas de internação são apresentadas. A articulação teórica
aliada à realidade de trabalho das autoras permite uma compreensão do
trabalho do psicólogo nessa seara.
No capítulo oito, os autores Silvio José Lemos Vasconcellos, Roberta
Salvador Silva, Thiago Ferreira Mucenecki e Jaíne Foletto Silveira
desenvolvem uma análise do estado atual de conhecimento sobre uma
das temáticas mais controversas da Criminologia. Mais do que explicar
como algumas pesquisas básicas são desenvolvidas nesse campo, o
trabalho visa tecer considerações sobre as implicações éticas desses
achados. Aborda, portanto, uma interface histórica e, ao mesmo tempo
atual, envolvendo o Direito Penal e as ciências da mente.
O nono capítulo, elaborado por Fernanda Xavier Ho�meister,
Fernanda de Vargas, Priscila Flores Prates e Silvio José Lemos
Vasconcellos, contempla a avaliação da psicopatia em mulheres e suas
implicações jurídicas. Explicitar os impasses que caracterizam essa
interface da Psicologia com o Direito é, portanto, o objetivo maior do
trabalho em questão. Para tanto, considerações sobre a sintomatologia
da psicopatia também integram a citada proposta.
No capítulo �nal desta obra, os autores Mônica Azzariti de Pinho
Barbosa e Rui Mateus Joaquim tecem considerações sobre um campo
recente de atuação dos psicólogos jurídicos e fonoaudiólogos forenses: a
análise do comportamento comunicativo. Explicitando essa recente
interface da Psicologia com o Direito Penal, o trabalho elucida os
pressupostos teóricos que fundamentam essa prática, bem como as
possibilidades relacionadas a esse campo especí�co de atuação
pro�ssional. Re�exões sobre a necessidade de fundamentar o trabalho
de forma ética e bem embasada também integram o capítulo que
encerra a obra.
De um modo geral, esta obra ilustra, tal como o subtítulo sugere, um
panorama atual da própria Psicologia Jurídica. Nesses termos, ao longo
de dez capítulos, os autores buscam caracterizar diferentes áreas
relacionadas à interface entre Direito, Psicologia e outras ciências a�ns,
apontando direções e indicando possibilidades de aperfeiçoamento no
que se refere a esse mesmo diálogo. O livro objetiva, portanto, não
apenas informar sobre determinadas práticas e seus respectivos aportes
teóricos, mas também contribuir para aprimorá-las dentro da ampla
realidade que perfaz a Psicologia Jurídica.
CAPÍTULO 1
AS PRÁTICAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO
CONTEXTO JURÍDICO
Vivian de Medeiros Lago
Tauany Brizolla Flores do Nascimento
A Psicologia Jurídica é reconhecida como especialidade pelo
Conselho Federal de Psicologia há quatorze anos. Como tal, ainda é uma
das especialidades mais recentes no Brasil e, por isso, tem sido alvo de
inúmeras discussões acerca das múltiplas solicitações convergidas a
quem atua nesse campo interdisciplinar(BRITO, 2012). Embora tenha
havido uma ampliação do trabalho do psicólogo jurídico na última
década, a demanda ainda é muito associada ao exercício da avaliação
psicológica, em que o pro�ssional busca diagnosticar as condições
psicológicas dos sujeitos em con�ito com a lei. Assim, o psicólogo busca
desmisti�car esse rótulo adquirido ao longo da história, implementando
outras ações e práticas no contexto jurídico (AGUIAR, 2005).
Muitas pessoas têm uma ideia equivocada ou distorcida do que faz
um psicólogo jurídico. Isso se deve à grande in�uência da mídia que,
diversas vezes, relaciona o psicólogo jurídico à aplicação de uma
determinada lei e também a um desconhecimento por parte da
sociedade em geral (HUSS, 2011). Assim sendo, o presente capítulo tem
como objetivo apresentar as diferentes possibilidades de atuação do
psicólogo jurídico, enfocando as áreas Cível e Criminal. Os capítulos
seguintes da obra explorarão temas especí�cos dentro dessas atuações.
Psicologia Jurídica
A de�nição de Psicologia Jurídica ainda é debatida entre os
psicólogos atualmente (HUSS, 2011). Para o autor, a especialidade refere-
se, exclusivamente, à “aplicação da psicologia clínica ao Poder Judiciário”
(p. 23), com foco na avaliação e tratamento, enquanto que em um nível
mais abrangente a Psicologia Jurídica pode ser vista como a aplicação da
Psicologia, em geral, no auxílio do sistema legal.
Clemente (1998) e Muñoz Sabaté (1980) citados por Trindade (2004),
ao buscarem de�nir a Psicologia Jurídica, discutem alguns conceitos. O
primeiro a de�ne de maneira mais teórica, como sendo o estudo
comportamental de indivíduos que, por alguma razão, devem se
desenvolver em um contexto juridicamente controlado, além do estudo
da evolução das leis que orientam esses espaços. Já o segundo, ao falar
sobre a Psicologia para o Direito, a de�ne como uma ciência intimada a
prestar auxílio no exercício do Direito.
Altoé (2003, p. 118) de�ne o trabalho da Psicologia Jurídica como o de
“informar, apoiar, acompanhar e dar orientação pertinente a cada caso
atendido nos diversos âmbitos do Sistema Judiciário”, prestando auxílio
aos pro�ssionais do Direito. Brito (2005) disserta que, inicialmente, a
Psicologia Jurídica era solicitada basicamente, pelo Poder Judiciário,
para a realização de avaliações e exames. Já, atualmente, a autora
entende que a especialidade busca expor aos pro�ssionais do Direito
uma determinada situação sob outro olhar que não o do Direito, mas o
da Psicologia.
Para uma melhor compreensão da Psicologia Jurídica, é importante,
didaticamente, dividi-la em inserções no âmbito penal/criminal e no
âmbito cível (HUSS, 2011). Essa divisão advém de uma separação legal
entre o Direito Penal e Civil, cujos propósitos divergem e,
consequentemente, trazem diferenças ao papel do psicólogo que
desenvolve trabalhos voltados para um ou outro âmbito.
O Direito Civil diz respeito ao direito privado de cada cidadão, sendo
que ao ocorrer a violação desse direito, causando alguma injustiça e/ou
prejuízo, caberá à pessoa que sofreu a injustiça decidir tomar alguma
atitude legal ou não. A violação de determinados direitos civis pode
ocorrer intencionalmente ou por negligência, quando um indivíduo está
em um nível elevado de desatenção, por exemplo. Dentro da esfera do
Direito Civil, as principais atuações do psicólogo estão ligadas às áreas
de guarda dos �lhos, responsabilidade civil, danos pessoais e
indenização a trabalhadores (HUSS, 2011). Além das citadas
anteriormente, destacam-se como áreas de atuação no Direito Civil:
interdição judicial, destituição do poder familiar, adoção,
regulamentação de visitas em casos de divórcio dos pais e trabalho com
adolescentes autores de atos infracionais (LAGO et al., 2009).
Já o Direito Penal tem seu cerne nos atos cometidos contra a
sociedade em geral, cabendo ao Estado proibir determinados
comportamentos, de�nir o que será, ou não, considerado crime e julgar
quais condutas serão passíveis de punição. Assim, o objetivo principal do
Direito Penal é prevenir o cometimento de crimes bem como manter um
senso de justiça na sociedade. Dessa forma, as principais áreas de
atuação do psicólogo, nesse campo, estão ligadas à inimputabilidade e
responsabilidade criminal, tratamento de agressores sexuais e
capacidade para se submeter a julgamento (HUSS, 2011). Ainda incluem-
se nas demandas do psicólogo no Direito Penal as práticas em Institutos
Psiquiátricos Forenses e no Sistema Penitenciário (LAGO et al., 2009).
Principais campos de atuação e suas demandas
Os principais campos de atuação do psicólogo jurídico estão
relacionados ao Direito Civil e ao Direito Penal. Acerca do Direito Civil
sugere-se uma subdivisão em Direito de Família, Direito da Criança e do
Adolescente e Direito do Trabalho, justi�cando-a por ser didaticamente
adequado e por se tratar de varas diferentes nas execuções dos
processos (HUSS, 2011; LAGO et al., 2009).
Direito Civil
No Direito de Família observa-se a solicitação de um psicólogo
jurídico, principalmente, em casos de divórcio litigioso, disputa de
guarda e regulamentação do direito de convivência. Nessas situações, o
psicólogo contribui com os operadores do Direito fornecendo
informações sobre a dinâmica familiar dos envolvidos no con�ito,
auxiliando nas decisões judiciais (LAGO et al., 2009).
O divórcio pode ser entendido como a anulação de um casamento
perante a lei, consequência de uma ruptura conjugal anterior. Assim,
caso o juiz ou as partes julguem necessário, podem solicitar o trabalho
de um psicólogo para prestar auxílio durante o processo. A principal
demanda do psicólogo nesse contexto é apresentar, como perito
exterior ao tribunal, subsídios técnicos que possam auxiliar na resolução
do processo, trabalhando no sentido de minimizar as consequências
negativas que um divórcio possa vir a apresentar a todos os sujeitos
envolvidos (COSTA et al., 2009; ROSA et al., 2005). A atuação do psicólogo
também pode estar voltada à mediação quando existir a possibilidade
de acordo entre as partes e, também, como avaliador (perito) se assim
solicitado pelo juiz (LAGO et al., 2009). Com isso, as intervenções do
psicólogo devem auxiliar em obter uma maior clareza sobre a situação
psicológica do caso, procurando ser realizadas totalmente com base em
teoria cientí�ca visando o bem-estar de todos os envolvidos (TRINDADE,
2004).
A disputa de guarda é o con�ito familiar que mais demanda auxílio
da Psicologia ao Direito. Dessa maneira, o principal trabalho do
psicólogo é o de realizar perícia psicológica, ou seja, realizar uma
avaliação psicológica, solicitada pelo juiz, com o objetivo de oferecer
contribuições para sua tomada de decisão (MACIEL; CRUZ, 2009). Assim,
nota-se ser fundamental avaliar a qualidade do relacionamento da
criança com ambos os genitores e com outros responsáveis que tomam
conta dela por meio da competência parental, ou seja, avaliar o conjunto
de práticas que os pais e/ou responsáveis assumem ao cuidar e se
responsabilizar por seus �lhos (MACIEL; CRUZ, 2009). Vale destacar que é
papel do psicólogo, ao realizar uma perícia de disputa de guarda,
assegurar que sejam preservados sempre os interesses da criança
envolvida, e não somente os de um dos genitores (LAGO; BANDEIRA,
2008). Conforme o tipo de guarda determinado na decisão judicial,
podem ser de�nidos aspectos relacionados ao direito de
convivência/visitas. Após essa decisão, se ainda houver con�itos
relacionados a ela, o psicólogo pode ser chamado pelo juiz para, após
avaliar a dinâmica familiar, sugerir alguma intervenção para a resolução
desse con�ito (LAGO et al., 2009).
Outro papel que o psicólogo pode desempenhar na área de interface
com o Direito de Família é o de mediador. A mediação é uma prática
alternativa na resolução de con�itos, em que as partes possuem
autonomia para buscar acordos, contando para isso com a �gura do
mediador. No Brasil, tem se tornado cada vez mais frequente a utilização
da mediação no contexto familiar, para auxiliar ex-cônjuges no processo
de divórcio. Embora aindanão regulamentada em nosso país, essa
técnica tem sido utilizada por pro�ssionais de diferentes áreas, de forma
voluntária. Não é uma prática de uso exclusivo do psicólogo, podendo
ser utilizada por advogados, assistentes sociais, sociólogos, por exemplo.
Independentemente da área de formação do pro�ssional, é importante
que ele conheça não apenas sobre as leis que regulamentam o divórcio,
mas também sobre os processos psicológicos envolvidos. Como bem
apontam Chaves e Maciel (2005), o divórcio envolve muito estresse, pois
demanda um período de transição da família para se adaptar a uma
situação nova. Assim sendo, as autoras defendem o serviço de Mediação
nas Varas de Família como um meio de oferecer suporte a essas famílias,
orientando-as e esclarecendo-as quanto a esse evento, buscando um
trabalho de fortalecimento das relações parentais, a �m de que
perdurem após o término da relação conjugal.
O psicólogo que atuar como mediador familiar procurará, por meio
de encontros e entrevistas com os membros da família, facilitar a
comunicação entre eles, objetivando uma solução consensual, que
respeite os direitos das crianças e dos adolescentes. O psicólogo deverá
ser neutro na relação, não lhe cabendo opinar, sugerir, decidir ou impor
nada. Uma vez realizado o acordo entre as partes, esse passa a ser um
compromisso entre todos os envolvidos (SILVA, 2006). Por ter sido
elaborado pelas próprias partes, espera-se que o acordado seja
cumprido de forma mais efetiva do que se imposto judicialmente.
O psicólogo que desenvolve trabalhos na área do Direito de Família,
seja como perito (nomeado pelo juiz), assistente técnico (contratado
pelas partes para questionar tecnicamente as análises do perito) ou
mediador, deve buscar conhecimentos interdisciplinares, que envolvem,
muitas vezes, legislações. É importante buscar constante atualização,
dominando temas e leis que envolvem, por exemplo, os tipos de guarda
e a alienação parental. Esse último tema será abordado de forma mais
especí�ca no capítulo 5.
No Direito da Criança e do Adolescente nota-se a demanda de um
psicólogo nos casos de adoção e destituição do poder familiar. Percebe-
se também o trabalho de psicólogos com adolescentes autores de atos
infracionais (LAGO et al., 2009).
Nos casos de adoção, o principal trabalho do psicólogo, nos Juizados
da Infância e da Juventude, é o de participar da seleção da família que
pretende fazer a adoção e acompanhar todo o processo. Assim, nota-se a
utilidade de intervenções psicológicas no sentido de poder, com base no
conhecimento cientí�co sobre as relações humanas, predizer o sucesso
do processo, bem como precaver sobre possíveis problemas que possam
vir a ocorrer (WEBER, 2005). Dessa forma, o psicólogo irá intervir como
um facilitador na formação de vínculos, devendo ser capaz de amparar
emocionalmente e favorecer a habituação entre a criança e a nova
família (ALVARENGA; BITENCOURT, 2013).
Para que se viabilize o desenvolvimento sadio de uma criança, o mais
adequado é que ela esteja com sua família, quando esta exerce com
e�cácia os cuidados parentais. Porém, muitas famílias não obtêm
sucesso no desempenho desse cuidado, prejudicando o
desenvolvimento físico, psíquico e social da criança. Nos casos em que é
comprovada a exposição da criança a esses riscos, os pais poderão vir a
perder o direito do poder familiar sobre seus �lhos (ALBORNOZ, 2009).
Com isso, torna-se fundamental a intervenção de um psicólogo que,
inserido em equipe multipro�ssional, tem como trabalho a realização de
perícia psicológica, a �m de subsidiar a decisão do juiz por deferir, ou
não, a decisão de destituição do poder familiar (FANTE; CASSAB, 2007;
LAGO et al., 2009). Além de um acompanhamento psicológico, o
psicólogo deve agir de modo a assegurar os direitos fundamentais e
favorecer a promoção da saúde mental da criança e de sua família de
origem (CESCA, 2004).
Uma solicitação frequente aos psicólogos são as perícias envolvendo
suspeita de abuso sexual, as quais podem estar associadas a processos
de destituição do poder familiar. Tais avaliações são um desa�o aos
pro�ssionais da área da saúde mental, em virtude de alguns fatores,
como a idade da criança supostamente abusada, o que implica
limitações na comunicação verbal. Conforme apontam Schaefer,
Rossetto e Kristensen (2012), especialmente nas situações de abuso
intrafamiliar, a criança nem sempre consegue identi�car aquele ato
como abusivo, em virtude da relação estabelecida com seu cuidador,
quem deveria zelar por sua proteção.
As perícias judiciais de suspeita de abuso sexual, solicitadas por
autoridades jurídicas, buscam uma con�rmação, ou não, do fato. A
preocupação com as consequências advindas do abuso não se
caracteriza como tipicamente papel da Psicologia Jurídica, mas sim do
contexto clínico. Contudo, conforme destacam Gava, Pelisoli e Dell’Aglio
(2013), essa con�rmação da ocorrência do abuso deve respeitar os
limites das técnicas psicológicas, que deverão ser abrangentes e
compreensivas, integrando diferentes fontes de informação.
Pelisoli, Gava e Dell’Aglio (2011) discutem em seu artigo sobre a
tomada de decisão em situações de abuso sexual infantil. Destacam o
elevado índice de discordâncias evidenciado na literatura, o que leva a
crer que possam existir posicionamentos errôneos acerca da existência
do fato. Tais erros podem signi�car tanto falsos positivos (quando o
abuso de fato ocorreu) quanto falsos negativos (quando o fato ocorreu e
o pro�ssional, por meio de sua avaliação, entende que não).
Infelizmente, falsas acusações de abuso sexual têm se tornado
frequentes, manifestando-se como uma forma de alienação parental, ou
seja, uma forma de romper totalmente o vínculo entre a criança e o
genitor. É muito importante que o psicólogo esteja atento a essas
possibilidades ao conduzir seu trabalho, como forma de garantir a
qualidade de sua avaliação.
Além das questões relacionadas ao poder familiar, entre elas a
avaliação de suspeita de abuso sexual, existe o trabalho desenvolvido
com os adolescentes em con�ito com a lei, aos quais são aplicadas
medidas socioeducativas. Tais medidas objetivam incitar a presença do
adolescente infrator na sociedade de maneira positiva, bem como ajudá-
lo a dominar a situação de estar, temporariamente, afastado dela (LAGO
et al., 2009). Nesse sentido, o psicólogo deve desenvolver intervenções
que possam minimizar, a partir das redes externas de apoio do
adolescente, a ocorrência de atos infracionais quando este retornar à
sociedade. Zappe e Ramos (2010), ao estudarem o per�l de adolescentes
privados de liberdade em Santa Maria/RS, referem à necessidade da
criação de políticas sociais básicas que objetivem o desenvolvimento
saudável de crianças e adolescentes, bem como o desenvolvimento de
atividades em que os adolescentes possam se sentir incluídos e
reconhecidos, estimulando-os a optar por tais atividades ao
cometimento de atos infracionais.
O cumprimento das medidas socioeducativas, sentenciadas pelo juiz,
pode dar-se em meio aberto, como, por exemplo, em instituições de
semiliberdade e liberdade assistida ou em meio fechado, em unidades
de internação, podendo o psicólogo atuar nos dois espaços. Assim, cabe
ao psicólogo planejar as rotinas do dia a dia dos adolescentes, atentando
para o cumprimento das regras da instituição, bem como organizar
atividades que ocupem o tempo ocioso e desenvolver, em conjunto com
o adolescente, a construção do Plano Individual de Atendimento (PIA),
em que o psicólogo assume o papel de ouvinte e orientador do
adolescente, autor de seu próprio plano a partir de suas re�exões sobre o
que está vivenciando e o que fará no futuro. Ainda, é papel do psicólogo
vincular a unidade de internação a outros programas e serviços visando
ao atendimento das necessidades, atuais e futuras, do adolescente,
buscando facilitar o momento da saída da internação. O pro�ssional
deve também ser capaz de identi�car indícios de situações de violência
dentro da instituição, tomando as providências cabíveis, bem como de
identi�caradolescentes em grande sofrimento mental e realizar os
encaminhamentos pertinentes, documentando todo o trabalho
conduzido com o adolescente. Também, o pro�ssional participa do
relatório técnico elaborado por equipe interdisciplinar, encaminhado ao
judiciário, acerca da personalidade do adolescente infrator (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2010a).
Além do trabalho desenvolvido nas Varas de Família e de Infância e
Juventude, existe também o trabalho nas Varas de Direito Civil. Nesses
casos, o psicólogo, na maior parte das vezes, busca investigar a
ocorrência de danos psíquicos e avaliar possíveis casos de interdições
judiciais (LAGO et al., 2009). Para tais práticas de perícia psicológica
forense, o psicólogo lança mão de seu conhecimento teórico-técnico na
área da Psicologia, adaptando-o às normas legais, diferentemente de
uma avaliação clínica (ROVINSKI, 2000).
Dano psíquico pode ser de�nido como sendo algo impossível de ser
averiguado objetivamente, “devendo esta tarefa �car a cargo de um
perito com formação na área da saúde mental e experiência forense”
(SILVA JUNIOR, 2006). França (2004) classi�ca-o como uma deterioração
das funções psíquicas, em consequência de uma ação deliberada ou
culposa de alguém. Castex (1997), citado por Rovinski (2000, p. 195),
menciona os estudos em que aponta que visto sob o prisma da
psicologia forense:
[...] o dano (psíquico) supõe a existência de uma agressão produzida por um evento
sobre o psiquismo de uma pessoa, de forma a provocar uma perturbação, distúrbio,
disfunção, transtorno e/ou diminuição de uma dimensão vital, de modo a
caracterizar-se como dano não patrimonial.
O trabalho do psicólogo, nesse contexto, dá-se como avaliador em
busca de comprovar, ou não, o nexo de causalidade entre o dano
psíquico reclamado e o evento traumático desencadeador. É importante
que o psicólogo busque se empenhar, por meio da perícia psicológica,
em mensurar o nível de funcionamento psicológico do sujeito antes da
ocorrência do evento, para que haja uma comparação com o nível de
funcionamento atual, sendo possível detectar se houve prejuízo ou não
do psiquismo do sujeito (HUSS, 2011). Assim, ao realizar a perícia, e para
que se con�rme a existência de fato de um dano psicológico, o psicólogo
deve identi�car comprometimentos psicológicos que não existiam
anteriormente ao evento traumático desencadeador (MACIEL; CRUZ,
2009).
A interdição judicial ocorre quando o sujeito perde a capacidade de
gerenciar sua própria pessoa e seus bens (TEIXEIRA; RIGONATTI;
SERAFIM, 2003). Na maior parte das vezes, a interdição é deferida ao
sujeito quando ele não possui mais discernimento su�ciente para a
prática dos atos da vida civil, podendo ser consequência de uma
de�ciência mental ou enfermidade. Nesses casos, o papel do psicólogo é,
por meio de perícia psicológica, sugerir ao juiz se o sujeito apresenta ou
não algum aspecto que o impeça de gerir sua própria vida (LAGO et al.,
2009).
Ainda dentro da área do Direito Civil, é possível a atuação do
psicólogo nos contextos ligados ao Direito do Trabalho, em questões
relacionadas a acidentes de trabalho e requerimento de indenizações.
Dessa maneira, o psicólogo trabalha na realização de perícias com a
�nalidade de veri�car se existem danos psicológicos causados por
doenças ou acidentes relacionados ao trabalho (LAGO et al., 2009). Cabe
ao psicólogo observar a possibilidade de simulação e/ou exagero dos
sintomas por parte do trabalhador com a intenção de aumentar o valor
indenizatório (HUSS, 2011).
Cruz (2002) destaca a importância da perícia psicológica na área do
trabalho para o aprimoramento do diagnóstico dos efeitos do trabalho
sobre as condições de saúde do trabalhador. O aumento das doenças
musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho acarreta, normalmente,
sintomas como o estresse, a depressão e a ansiedade. Vale destacar que
o psicólogo perito deve não apenas identi�car tais sintomas, mas
também estabelecer o nexo de causalidade entre eles e o trabalho
desempenhado pelo indivíduo, a �m de caracterizar o sofrimento
psíquico.
Uma última observação em relação às perícias psicológicas na área
trabalhista diz respeito à demanda por avaliações envolvendo assédio
moral. Battistelli, Amazarray e Koller (2011) apontam que o fenômeno
não é uma situação nova nas relações laborais, embora nos últimos anos
tenha atingido diferentes contextos de trabalho e categorias
pro�ssionais. A prática envolve atos abusivos, que ocorrem de forma
sistemática e repetida, prejudicando a integridade física ou psíquica do
trabalhador. Nessas situações, cabe ao psicólogo avaliar não apenas o
indivíduo, mas também seu contexto de trabalho e as relações ali
estabelecidas.
Direito Penal
No que diz respeito ao Direito Penal, a atuação do psicólogo se dá,
principalmente, no Sistema Penitenciário e nos Institutos Psiquiátricos
Forenses. Nesse sentido, Arantes (2005) destaca que a atuação do
psicólogo, relacionada ao Direito Penal, é de predominância avaliativa
no auxílio ao Judiciário. Por outro lado, Vettorazzi e Brito (2005) apontam
que, contemporaneamente, o Direito Penal não atua com o objetivo de
punir, mas sim de prestar auxílio na readaptação social dos apenados.
A elaboração de laudos, pareceres e relatórios técnicos, em equipe
multidisciplinar, é a principal atividade do psicólogo no Sistema
Penitenciário. Porém, existem outras atividades desenvolvidas por
psicólogos nesse contexto, como: atenção psicológica individual e
grupal, atendimentos psicológicos emergenciais, encaminhamentos,
reuniões de equipe, atuação nas relações institucionais, atuação em
rede, promoção de eventos, recrutamento e seleção e elaboração de
projetos e pesquisas (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009).
O psicólogo, ao restringir-se somente à elaboração de laudos e
pareceres no contexto penitenciário, pode gerar uma rotulação do
sujeito apenado. Assim, a intervenção do psicólogo deve ser no sentido
de promover a cidadania, buscando sempre a reintegração do apenado à
sociedade, de forma que esse sujeito possa optar por práticas não
criminalizadas (VETTORAZZI; BRITO, 2005). Kolker (2005), ao estudar o
sistema penitenciário brasileiro, a�rma que, por haver um
desconhecimento por parte do psicólogo sobre os reais problemas das
instituições prisionais e por, na maior parte das vezes, o trabalho do
psicólogo se reduzir a tarefas disciplinares e ‘julgamentos’ sobre os
presos, os pro�ssionais encontram muita di�culdade em realizar um
trabalho que possibilite um auxílio psicológico à população carcerária.
Aos sujeitos que violam a lei e apresentam algum transtorno mental
lhes é decretada, pelo juiz, uma medida de segurança e esses são
encaminhados aos Institutos Psiquiátricos Forenses (IPFs) (LAGO et al.,
2009). Esses sujeitos são considerados inimputáveis, que é quando o
indivíduo não possui um estado mental básico, exigido pela lei, não
podendo ser considerado culpado ao cometer um crime (HUSS, 2011).
Nesse sentido o trabalho do psicólogo no IPF é o de, em equipe
multidisciplinar, realizar perícia psicológica sobre os pacientes que são
encaminhados ao local por decisão judicial (LAGO et al., 2009).
Além das possibilidades de atuação do psicólogo jurídico descritas
acima, existem outros tipos de trabalho que não se enquadram
especi�camente como pertencentes ao Direito Civil ou Direito Penal,
mas que também podem ser considerados uma prática da Psicologia
Jurídica. Entre eles, serão comentados o Depoimento Especial e a Justiça
Restaurativa.
Depoimento Especial – inicialmente denominado ‘Depoimento sem
dano’, é um projeto que foi desenvolvimento pioneiramente no Rio
Grande do Sul a partir de 2003. A proposta consiste em retirar crianças e
adolescentes vítimas de abuso sexual da sala de audiência, conduzindo-
as a um ambiente mais acolhedor, para que sejam inquiridas por um
pro�ssional com maior conhecimento acerca da técnica de entrevista
(CEZAR, 2007). Psicólogos e assistentes sociais recebem treinamento
especí�co para que estejam habilitados a realizar esse tipo de trabalho.A
sala em que ocorre o depoimento possui equipamentos audiovisuais
que permitem a comunicação com a sala de audiência. A criança é
informada sobre esses procedimentos, estando ciente de que está sendo
�lmada e assistida.
Essa prática suscita opiniões divergentes entre os pro�ssionais, tanto
da área da Psicologia como do Serviço Social. Já houve tentativas por
parte tanto do Conselho Federal de Serviço Social (CFSS) quanto do
Conselho Federal de Psicologia (CFP) de impedir a oitiva de crianças por
meio do Depoimento Especial (Resolução 554/2009 do CFSS e Resolução
10/2010 do CFP). Entretanto, mandados de segurança foram impetrados
contra o CFSS e o CFP, garantindo que assistentes sociais e psicólogos
possam atuar no Depoimento Especial sem sofrer quaisquer
penalidades.
Pelisoli, Dobke e Dell’Aglio (2014) apresentam interessante discussão
sobre o tema, em que destacam a importância que deve ser dada às
crianças e aos adolescentes vítimas de abuso sexual, para além das
divergências sobre se o Depoimento Especial seria ou não tarefa do
psicólogo. As autoras apontam a necessidade dos pro�ssionais buscarem
quali�cação técnica, tecnológica e ética relacionada tanto à equipe
quanto à instituição judiciária. Sugerem, ainda, o desenvolvimento de
estudos empíricos com os pro�ssionais que já vêm utilizando-se dessa
metodologia, a �m de buscar um constante aprimoramento dessa
técnica.
Justiça Restaurativa – com um aumento signi�cativo do número de
delitos cometidos no Brasil, fez-se necessário o uso de novas medidas
judiciais, mais adequadas e e�cientes a cada situação, sugerindo-se
assim a implementação da Justiça Restaurativa no país. Esse modelo de
justiça, opcional e de certa forma informal, pressupõe uma interação de
conversação entre as partes envolvidas em um con�ito (ofensor, vítima e
comunidade, se necessário), sob a orientação de um facilitador, com o
objetivo de solucionar esse con�ito, em comum acordo, reparando o
dano sofrido pela vítima e restaurando o vínculo entre as partes. Assim, a
Justiça Restaurativa leva em consideração, além da aplicação de uma
punição ao infrator, os aspectos emocionais e comunitários envolvidos
no con�ito (PINTO, 2005; PRUDENTE, 2008).
Como práticas restaurativas dentro dos programas de Justiça
Restaurativa existem três principais possibilidades, por meio das quais o
psicólogo poderá trabalhar na função de facilitador: mediação entre
vítima e ofensor, conferências de família e círculos restaurativos. Na
mediação entre vítima e ofensor, as partes encontram-se para, com o
auxílio de um facilitador capacitado a propiciar diálogo, conversar
acerca do con�ito ocorrido, de�nir responsabilidades sobre o fato e, de
alguma forma, reparar a vítima pelo dano sofrido. Em momento anterior
a essa etapa, é possível o encontro, em separado, da vítima e do ofensor
com o facilitador para que as partes sintam-se melhor preparadas para o
encontro restaurativo posterior (PALLAMOLLA, 2009).
Nas conferências de família, o processo é similar ao da mediação,
porém, ocorre geralmente quando o infrator prejudica mais pessoas
além de uma só vítima. Nesses casos, participam familiares, amigos e
comunidade das partes que auxiliam na elaboração do acordo de
reparação da(s) vítima(s). Utiliza-se com frequência essa prática nos
casos que envolvem adolescentes autores de atos infracionais
(PALLAMOLLA, 2009).
Os círculos restaurativos são utilizados pelo programa da Justiça
Restaurativa e em outros casos, como para resolução de um con�ito
escolar, por exemplo, sem o envolvimento do Poder Judiciário. Na
utilização pela Justiça Restaurativa, além da presença da(s) vítima(s) e
do(s) ofensor(es), para a discussão e reparação de um con�ito,
participam amigos, família, comunidade das partes além de qualquer
outro sujeito que queira se integrar ao círculo (PALLAMOLLA, 2009).
Com o objetivo de auxiliar no processo, o facilitador, presente em
todas as etapas das práticas restaurativas, tem como função incitar o
diálogo entre as partes, induzindo para que tomem as rédeas da
situação e apresentem papel ativo na resolução e reparação do con�ito.
Buscando afastar laços de hostilidade entre as partes, o facilitador deve
trabalhar no sentido de propiciar uma negociação direta entre os
envolvidos, coordenando o processo a �m de evitar possíveis excessos
(AZEVEDO, 2005; PINTO, 2005). Para essa tarefa, assim como na mediação,
podem ser recrutados psicólogos bem como pro�ssionais de outras
formações, como Serviço Social e Direito, por exemplo. Visto que a
formação do psicólogo é voltada ao entendimento dos processos
mentais, envolvendo a prática de técnicas que possibilitam adequado
manejo das relações humanas, torna-se de grande valia a participação
desse pro�ssional na atuação como facilitador, podendo contribuir mais
assertivamente na reparação do con�ito estabelecido.
Considerações �nais
Este capítulo teve como objetivo caracterizar brevemente as
principais formas de atuação do psicólogo jurídico. A maioria das
atividades citadas será melhor descrita e aprofundada nos capítulos
seguintes da obra. Importante salientar que as possibilidades de
trabalho não se esgotam nas aqui mencionadas, uma vez que a
Psicologia Jurídica é uma área ainda em desenvolvimento e, portanto,
novas demandas nessa interface com o Direito podem surgir.
Independentemente da prática que o psicólogo jurídico exerça, vale
ressaltar que deverá agir pautado em princípios éticos, respeitando os
limites da ciência psicológica. Algumas solicitações advindas dos
operadores do Direito podem exigir respostas categóricas que nem
sempre a Psicologia poderá fornecer. Importante estar ciente disso e
buscar fortalecer o papel do psicólogo jurídico, por meio de trabalhos de
qualidade, que, de fato, contribuam com o Direito, proporcionando,
assim, benefícios àqueles indivíduos envolvidos na demanda.
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CAPÍTULO 2
ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS PSICOLÓGICOS
NO CONTEXTO FORENSE
Sonia Liane Reichert Rovinski
A elaboração de documentos por parte dos psicólogos adquire
especial relevância quando sua atuação ocorre dentro do contexto
forense. Nesse contexto de trabalho, vale a premissa da ‘realidade dos
autos’, em que os fatos passam a existir a partir de sua inserção
documental no processo. Assim, o alcance das informações trazidas pelo
psicólogo estará diretamente relacionado à sua capacidade para a
escrita de tais documentos, em que cuidados éticos e metodológicos
serão essenciais para o exercício de uma boa prática pro�ssional.
No contexto forense, são dois os documentos de interesse técnico: o
laudo pericial e o parecer técnico. O uso de cada um deles estará
diretamente relacionado ao tipo de atividade desempenhada pelo
psicólogo na dinâmica do processo judicial. Conforme a atual legislação
(BRASIL, 2015), sempre que se �zer necessária a prova técnica �ca
previsto tanto o trabalho do perito o�cial quanto o do assistente técnico.
O psicólogo perito tem como função assessorar o juiz na matéria que lhe
compete, é pessoa de con�ança deste agente jurídico e apresenta seu
trabalho em um documento denominado laudo. Já o psicólogo
assistente técnico é pessoa de con�ança da parte litigante e tem como
função auxiliá-la naquilo que considerar correto, com o objetivo de
garantir os direitos de seu cliente nas questões que se relacionam à
prova técnica, tendo como principal atividade a realização de um
parecer crítico frente ao laudo do perito. Assim, os documentos
produzidos por esses pro�ssionais possuem �nalidades diferentes e
terão peculiaridades especí�cas quanto à estrutura e ao conteúdo.
Independente das diferenças que os referidos documentos possam
apresentar, tanto o laudo quanto o parecer crítico remetem-nos ao
campo comum da interdisciplina por serem solicitados por pro�ssionais
de uma área diferente da Psicologia, no caso, por pro�ssionais da área do
Direito (RAMIRES, 2006). Essa intersecção de áreas de conhecimento
distintas produz questões éticas complexas, na medida em que exige a
integração de visões epistemológicas diferenciadas, produzidas tanto
pelo mundo do dever ser do Direito quanto pelo mundo do ser da
Psicologia (ROVINSKI, 2013).
Discutir a produção dos diferentes tipos de documentos psicológicos
no contexto forense nos obriga, em primeiro lugar, a abordar questões
que são pertinentes atoda e qualquer escrita realizada nesse campo
interdisciplinar e, após, a buscar as especi�cidades relacionadas às
funções de cada um deles. Assim, se inicia este capítulo com a
apresentação das questões comuns referentes às contradições
decorrentes do campo interdisciplinar, dos cuidados éticos necessários e
das demandas da escrita técnico-cientí�ca, para depois especi�car as
diferenças de estrutura e conteúdo próprias a cada um dos documentos.
O campo da interdisciplinaridade
A literatura tem demonstrado que os autores tendem a compartilhar
a ideia de que Psicologia e Direito possuem um mesmo objeto de
intervenção quando buscam a compreensão e a predição da conduta
humana (URRA, 2002). No entanto, diferenças importantes seriam
observadas quanto aos valores, premissas básicas e métodos de
aproximação e compreensão dessas duas ciências. Conforme Melton et
al. (1997), diferenças epistemológicas e de concepção de mundo não
teriam como ser eliminadas e precisariam ser administradas por aqueles
técnicos que fossem atuar nesse contexto de trabalho. Para os autores,
os dois pontos de maior importância quanto a essas incompatibilidades
dizem respeito à concepção de homem e à natureza dos fatos
abordados.
Em relação à primeira questão-problema, temos a controvérsia do
livre arbítrio versus determinismo. Enquanto a Psicologia busca a
explicação ou previsão dos fatores que determinam a conduta, o Direito
precisa estabelecer responsabilidades individuais, por meio do
pressuposto de que o homem é livre por natureza. Para a Psicologia, que
busca em suas teorias a explicação ou justi�cativa da conduta, �ca difícil
justi�car a ideia de comportamentos ‘voluntários’, conceito essencial
para a aplicação da pena pelo agente jurídico. Assim, na escrita dos
documentos, muito cuidado deve ser tomado quando a demanda
jurídica exigir que se discuta sobre conceitos que envolvam a
compreensão de motivação, de liberdade ou autodeterminação. Para os
autores anteriormente mencionados, nesse campo interdisciplinar, a
melhor solução estaria no psicólogo evitar opiniões sobre a questão �nal
da matéria legal, sempre que esse posicionamento não �zesse sentido
para o paradigma da própria Psicologia, evitando-se que termos
psicológicos possam ser mal interpretados pelos agentes jurídicos. Em
outras palavras, os dados psicológicos que forem apresentados nos
documentos escritos devem ser fornecidos aos agentes jurídicos de
modo a que façam sentido para a demanda legal, mas sempre deixando
a esses últimos o julgamento moral.
A segunda questão diz respeito à natureza dos fatos. Na Psicologia,
a construção do referencial teórico ocorre por intermédio da
experimentação cientí�ca, na comparação de grupos e sujeitos,
chegando-se sempre a achados probabilísticos. Para o Direito, que
necessita aplicar a lei, por meio de decisões irrevogáveis, há a
necessidade de se trabalhar com ‘níveis de certeza’. Em função dessa
exigência, muitas vezes, na tentativa de ter seu informe aceito pelos
agentes jurídicos, o psicólogo sente-se pressionado a expressar seus
achados com níveis de certeza que não podem ser justi�cados pela
ciência. Para Melton et al. (1997), a ética obrigaria os pro�ssionais a
serem explícitos quanto aos níveis de certeza de seus dados, ainda que
com esse procedimento seus documentos pudessem perder força como
prova nos tribunais. A preocupação dos psicólogos deveria voltar-se
tanto para o aumento do grau de certeza de suas hipóteses, mediante o
incremento de pesquisas empíricas, quanto para a busca da
sensibilização dos agentes jurídicos em relação aos problemas básicos
de predição e �exibilidade que se constituem em limitações de seu
trabalho técnico (LÖSEL, 1992).
Para �nalizar, cabe salientar o risco que corre o psicólogo na escrita
de seus informes, nesse campo interdisciplinar, quanto à possível
contaminação com a lógica discursiva típica dos agentes jurídicos. Para
o Direito, o �m último de sua atuação será sempre a busca da ‘justiça’,
podendo-se, para tanto, utilizar a lógica da argumentação, com uma
apresentação dos fatos que leve ao convencimento ou à persuasão da
vontade daquele que tem o poder de tomada de decisão. A Psicologia,
de modo contrário, deve utilizar a lógica formal, mediante o uso de
métodos cientí�cos de pesquisa, para demonstrar seus achados
(ROVINSKI, 2013). A Psicologia também deve manter seu compromisso
com a justiça, mas sua prática é pautada pela imparcialidade e pelo
limite da ciência. Nessa prática interdisciplinar, é relativamente comum
encontrarem-se procedimentos dos agentes jurídicos no sentido de
distorcer ou desquali�car os achados descritos em informes
psicológicos, gerando relacionamentos tensos entre os pro�ssionais.
Cabe ao psicólogo forense compreender que tais procedimentos dizem
respeito ao enquadre de atuação daqueles pro�ssionais e que eles não
podem pontuar sua argumentação, sob o risco de desquali�car os
documentos produzidos.
O psicólogo forense deve manter-se sempre dentro do referencial
teórico e técnico da Psicologia, respeitando as limitações quanto ao tipo
de conhecimento que pode oferecer e ao alcance de seus dados. Ainda
que seus achados tendam a �car em níveis baixos de certeza em relação
ao que é esperado pelo judiciário, o corpo de conhecimento oferecido
trará sempre contribuições para a melhor compreensão do fato que está
sendo julgado. Deve-se lembrar de que qualquer tentativa de exagero
quanto aos achados ou à própria capacidade do pro�ssional será sempre
um desserviço ao Sistema de Justiça.
Princípios éticos na produção de documentos
As questões éticas relacionadas à produção de documentos forenses
iniciam-se muito antes da escrita desses documentos, envolvendo
cuidados quanto às relações estabelecidas com os diferentes atores e os
procedimentos de avaliação propriamente ditos. Conforme Bush,
Connell e Denney (2006), o contexto adversarial que caracteriza o
ambiente forense tende a criar relações de hostilidade entre os
diferentes pro�ssionais que ali atuam e, mesmo, entre os pro�ssionais
psicólogos que exercem os diferentes papéis na dinâmica processual
(perito x assistente técnico), gerando riscos à objetividade e à
�dedignidade dos dados colhidos para o processo de avaliação. Para os
autores, os princípios éticos baseados nos valores humanos de respeito à
autodeterminação e de garantias de não prejuízos à saúde deveriam
direcionar a atividade técnica, de modo a gerar documentos que
apresentassem um trabalho competente, baseado em informações e
procedimentos que pudessem fundamentar su�cientemente os achados
e os resultados apresentados.
O Conselho Federal de Psicologia, responsável pela regulamentação
da atividade dos psicólogos, já tem editado diversas resoluções
normativas que tratam da prática do psicólogo forense, com o objetivo
de garantir um trabalho mais ético. No entanto, é no Código de Ética
Pro�ssional do Psicólogo (CEPP) que vamos encontrar as diretrizes
básicas de nossa deontologia. O atual CEPP, editado em 2005 (CFP, 2005),
difere do anterior por não possuir nenhuma seção especí�ca que trate
das relações com a Justiça, obrigando o psicólogo, em sua prática
forense, a buscar as orientações necessárias nas determinações
genéricas do Código.
Shine (2009), em uma pesquisa com laudos das Varas de Famílias da
cidade de São Paulo, que foram denunciadas por má prática ao Conselho
Regional de Psicologia, identi�cou alguns artigos do CEPP como os mais
citados na fundamentação de tais denúncias. O primeiro deles trata
sobre os deveres fundamentais do psicólogo, de: “Prestar serviços
psicológicos em condições de trabalho e�cientes, de acordo com os
princípios e técnicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética
pro�ssional” (Art. 1º, alínea ’c’, CEPP); o segundo refere-se ao que é
vedado à pratica pro�ssional, de: “Estabelecer com a pessoa do atendido
relacionamento que possa interferir negativamente nos objetivos do
atendimento” (Art. 2º, alínea ‘m’, CEPP). Tais artigos, como se pode
observar, referem-se, respectivamente, a problemasno uso da técnica
pro�ssional (desde os procedimentos iniciais de avaliação pericial até a
escrita do documento) e no estabelecimento do tipo de relacionamento
com o sujeito atendido (geralmente quando o pro�ssional envolve-se na
defesa de interesses das partes litigantes), con�rmando que, muitas
vezes, problemas apontados em documentos forenses produzidos por
psicólogos não se referem à própria escrita ou à sua estrutura, mas a
procedimentos técnicos de avaliação e à postura pro�ssional anteriores
à confecção do documento. A discussão sobre tais problemas não se
encontra no escopo deste capítulo, mas deve estar presentes no
horizonte do pro�ssional que se pronti�car a atuar nessa área de
trabalho com competência e ética.
A Resolução 07/2003 (CFP, 2003), que trata do Manual de Elaboração
de Documentos Escritos produzidos pelo Psicólogo, descreve os
cuidados éticos a serem respeitados nesse tipo de produção em três
grandes áreas: das relações com a pessoa atendida, sigilo e alcance das
informações. Na área das relações com a pessoa atendida, o Código de
Ética Pro�ssional do Psicólogo (CFP, 2005) veda: “Ser perito, avaliador ou
parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou
pro�ssionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do
trabalho a ser realizado ou a �delidade aos resultados da avaliação” (Art.
2º, alínea ‘k’, CEPP, 2005). Essa orientação busca impedir, principalmente,
que se confundam os vínculos terapêuticos com os de trabalho pericial.
Isso porque, no primeiro existe um contrato de sigilo que uma vez
estabelecido não poderá ser rompido por outro que não tenha essa
mesma abrangência. Assim, uma vez tendo estabelecido vínculo
terapêutico com a pessoa do atendido, independente do tempo que
possa ter transcorrido desse atendimento, o pro�ssional não poderá
mais exercer frente ao paciente o papel de perito ou parecerista.
Na área relacionada ao sigilo devem ser observados os seguintes
artigos do CEPP (CFP, 2005):
Art. 9º É dever do psicólogo respeitar o sigilo pro�ssional a �m de proteger, por
meio da con�dencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que
tenha acesso no exercício pro�ssional.
Art. 10 Nas situações em que se con�gure con�ito entre as exigências decorrentes
do disposto no Art. 9º e as a�rmações dos princípios fundamentais deste Código,
excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de
sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo.
Parágrafo único – Em caso de quebra de sigilo previsto no caput deste artigo, o
psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.
Art. 11 Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar
informações, considerando o previsto neste código.
As questões de quebra de sigilo no CEPP dizem respeito mais aos
pro�ssionais da área da saúde, que, eventualmente, são chamados para
depor em juízo sobre pacientes que estão aos seus cuidados. Esses casos
devem ser analisados com cuidado, pois o pro�ssional não tem a
obrigação de romper com o contrato de sigilo prévio estabelecido
apenas porque foi chamado pelo juiz. A quebra de sigilo necessita de
argumentos fortes, que possam ser justi�cados por meio dos princípios
fundamentais do Código de Ética e, geralmente, se relacionam à
segurança (física ou psíquica) de seu paciente ou pessoas próximas a ele.
Por outro lado, deve-se lembrar de que o paciente tem o direito de
solicitar do psicólogo terapeuta informações de seu prontuário, desde
que expresse e assine sua autorização. Essa prática é respaldada pelo Art.
10 da Resolução 08/2010 (CFP, 2010), no qual �ca vedado ao psicólogo:
Produzir documentos advindos do processo psicoterápico com a �nalidade de
fornecer informações à instância judicial acerca das pessoas atendidas, sem o
consentimento formal destas últimas [...]. (grifo da autora do capítulo).
Na realização de laudos periciais, o pro�ssional perito está
compromissado em informar ao juiz os dados psicológicos pesquisados
que são pertinentes à questão legal, não possuindo com seu cliente o
mesmo contrato de sigilo que se tem no contexto clínico. Mesmo assim,
a comunicação deve respeitar normas éticas, de modo a preservar
dentro do possível o sigilo das informações. Em função de os
documentos forenses transitarem em um contexto interdisciplinar, a
decisão quanto ao que deve ser informado aos agentes jurídicos segue
as orientações do Código de Ética quanto à comunicação com
pro�ssionais não psicólogos, conforme é especi�cado no Art. 6º, alínea
‘b’: “Compartilhará somente informações relevantes para quali�car o
serviço prestado, resguardando o caráter con�dencial das
comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de
preservar o sigilo” (CFP, 2005). Aqui, o sentido de ‘informações
relevantes’ relaciona-se ao princípio da pertinência, em que apenas os
dados relevantes para a matéria legal e/ou aqueles que justi�cam as
conclusões do perito devem ser comunicados.
Outro artigo que deve ser trazido à discussão é aquele que se refere
ao relacionamento com os meios de comunicação. É relativamente
comum que situações que envolvam violência tenham repercussão na
mídia, colocando os peritos forenses em evidência quando se buscam
respostas a esses problemas. Diz o Código: “Art. 2º – Ao psicólogo é
vedado: q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar
resultados de serviços psicológicos em meios de comunicação, de modo
a expor pessoas, grupos ou organizações” (CFP, 2005). Portanto, não cabe
ao psicólogo comentar com a mídia casos de repercussão nos quais
possa ter atuado, e não poderá emitir opiniões técnicas sobre pessoas
que não conheceu e que não estiveram sob sua avaliação.
Quanto à devolução dos resultados da avaliação devem ser
consideradas as seguintes alíneas do Artigo 1º que trata das
responsabilidades do psicólogo:
f ) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações
concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo pro�ssional;
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços
psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões
que afetem o usuário ou bene�ciário;
h) Orientar, a quem de direito, sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da
prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os
documentos pertinentes ao bom termo do trabalho. (CFP, 2005).
As alíneas que tratam desse assunto referem-se sempre à devolução
para aquele que ‘de direito’ deve receber as informações. Cunha (1993)
entende, de maneira geral, que a devolução é de responsabilidade de
quem encaminhou o processo, isto é, se o pedido de uma avaliação for
feito pelo médico ou juiz, é a eles que os resultados devem ser
remetidos, cabendo-lhes a comunicação aos avaliados. Nesse caso, não
estaria o psicólogo se abstendo da devolução, mas apenas
encaminhando-a a quem seria o receptor do processo.
Outro aspecto a ser considerado é a dinâmica processual. É temerário
o psicólogo oferecer ao sujeito uma devolução antes de encaminhar ao
juiz os resultados levantados, considerando-se que esse fato poderia
interferir nos prazos processuais de defesa, que passam a contar a partir
da ciência das partes do documento emitido pelo perito (BRASIL, 2015).
Nada impede que o psicólogo forense coloque-se à disposição do
periciado para o esclarecimento de dúvidas em relação ao laudo, mas
apenas após o documento tornar-se público em audiência com o juiz ou
através de publicação o�cial. Conforme Rovinski (2013), deve-se tomar
cuidado para não criar uma via de comunicação independente ao
processo judicial, quando o psicólogo deixaria seu papel de assessor dos
agentes jurídicos para assumir a coordenação do próprio processo. Esse
tipo de atitude extrapolaria a função da perícia e colocaria o pro�ssional
frente a situações que não poderia manejar.
Concluindo, pode-se a�rmar que discutir ética na escrita de
documentos pressupõe revisar procedimentos técnicos quantoà prática
pro�ssional, quando, independente do contexto de trabalho e do nível
de con�dencialidade, cuidados deverão ser tomados em relação ao que
será escrito e da forma como será escrito, evitando-se uma prática
iatrogênica. O Código de Ética Pro�ssional do Psicólogo é a principal
referência e deve orientar os psicólogos desde as primeiras etapas do
trabalho de avaliação até a escrita do relatório. Nesse sentido, os autores
Melton et al. (1997) e Heilbrun (2001) sugerem a revisão dos
procedimentos técnicos em três grandes momentos: pré, durante e pós-
avaliação. Os cuidados com a construção dos documentos forenses se
encontram inseridos nessa última etapa, quando se deveriam: respeitar
a relevância dos dados para a questão jurídica (evitar detalhes que
possam embaraçar o periciado ou pôr em risco seus direitos, evitar
conclusões valorativas que são pertinentes aos agentes jurídicos);
fundamentar suas conclusões nos achados que foram descritos; referir as
fontes de suas informações e evitar linguagem excessivamente técnica.
Princípios técnicos da linguagem escrita
Os documentos forenses escritos por psicólogos devem seguir a
redação o�cial utilizada para as diferentes esferas do poder público. Essa
redação se caracteriza por uma comunicação técnico-cientí�ca de
natureza o�cial, que tem como destinatário o juízo que determinou a
perícia. Para Lichtenberger et al. (2004), a importância da qualidade do
texto apresentado no relatório diz respeito não somente à capacidade
de escrita do psicólogo, mas também se re�ete na credibilidade do leitor
quanto à capacidade técnica daquele para a atividade de avaliação
psicológica.
Segundo Brandimiller (1996), a redação o�cial que caracteriza o
laudo e o parecer crítico deve pautar-se pelo padrão culto de linguagem
(denotativo), pela impessoalidade e pela formalidade e padronização.
Explica o autor que esse estilo de linguagem implica não somente na
correção gramatical, mas no uso de vocabulário universal, em que se
evita o uso de gírias e termos regionais. O padrão culto de linguagem
exige o empenho na busca de palavras certas para o que se quer
expressar e construções sintáticas adequadas para assegurar a fácil
compreensão do texto e sua precisão. A linguagem denotativa signi�ca o
uso das palavras e expressões no sentido próprio e literal, sem o uso de
sentido �gurado ou metafórico. A impessoalidade signi�ca que o sentido
dado à matéria é impessoal, ainda que tenha uma exclusiva autoria. A
comunicação é feita entre sujeitos que naquele momento estão
investidos em determinada função. Assim, o autor do documento deve
utilizar a terceira pessoa do singular para referir-se a si mesmo e dar
preferência ao uso dos termos como autor e réu (ou requerente e
requerido), após identi�car os sujeitos da ação. Por �m, a padronização
diz respeito às características relativas à forma e à estrutura dos
documentos, como será visto mais adiante.
A Resolução 07/2003 (CFP, 2003), que trata do Manual de Elaboração
de Documentos Escritos produzidos pelo Psicólogo, apesar de não
especi�car os documentos da área forense, descreve princípios técnicos
semelhantes da linguagem escrita, sempre com a preocupação de
favorecer a e�cácia da comunicação. Conforme especi�cado nessa
Resolução, os documentos devem apresentar uma redação bem
estruturada e de�nida para expressar o que se quer comunicar, além de
ter uma ordenação que possibilite a compreensão por quem os lê,
fornecida pela estrutura, composição de parágrafos ou frases e correção
gramatical. O emprego de frases e termos deve ser compatível com as
expressões próprias da linguagem pro�ssional, evitando a diversidade
de signi�cações da linguagem popular, considerando a quem o
documento será destinado. A comunicação deve ter clareza, concisão e
harmonia. A clareza se traduz pela estrutura frasal, sequência ou
ordenamento adequado dos conteúdos, explicitação da natureza e
função de cada parte na construção do todo. A concisão se veri�ca no
emprego da linguagem adequada, da palavra exata e necessária,
buscando o equilíbrio entre uma redação lacônica ou o exagero de uma
redação prolixa. Por �m, a harmonia se traduz na correlação adequada
das frases, no aspecto sonoro e na ausência de cacofonias.
As peculiaridades relacionadas ao propósito dos documentos escritos
no contexto forense também resultarão em diferenças quanto à escrita.
A primeira diferença é que esse tipo de relatório não será dirigido a
outros pro�ssionais da área da Psicologia, mas a pro�ssionais da área do
Direito, que não estão acostumados à área de conhecimento. Assim, é
fundamental que se evitem jargões técnicos, ou, se for estritamente
necessário, que sejam explicados para o público leigo (MELTON et al.,
1997). O uso excessivo de termos técnicos pode ser considerado
‘exibicionismo’ por parte do relator, que além de di�cultar a
compreensão do problema poderá gerar constrangimento no
esclarecimento dos fatos. O mesmo cuidado deve ser dado quanto ao
uso de acrônimos ou de abreviaturas, que podem não ser do
conhecimento dos agentes jurídicos (por exemplo, usar TDAH para
Transtorno do Dé�cit de Atenção com Hiperatividade) (HUSS, 2011;
LICHTENBERGER et al., 2004). Outro aspecto a ser considerado diz
respeito ao processo judicial propriamente dito, isto é, à dinâmica
adversarial, quando o relatório é escrutinado por aquele que não tiver
interesse em seus resultados, com o objetivo de desquali�cá-lo. Nesse
momento, a presença de baixa qualidade de escrita será motivo para
desquali�car ou mesmo embaraçar seu relator (MELTON et al., 1997).
Por �m, chamamos a atenção, ainda, quanto aos riscos na forma de o
perito apresentar seus argumentos. Segundo Cruz (2005, p. 275), quatro
problemas deveriam ser evitados nessa questão. Primeiro, o psicólogo
não pode emitir juízo de valor, usando expressões do tipo
“personalidade fraca” ou “bom temperamento”. Segundo, deve evitar a
expressão de “dogmas”, como “apesar de instável, acreditamos em seu
pleno restabelecimento”. Terceiro, deve cuidar com incorreções teóricas
e técnicas, como o uso de expressões do tipo: “falta maturidade” ou “não
dispõe de recursos intelectuais”. Por �m, deve evitar impropriedade na
escrita e no uso de termos, como a expressão “seu desempenho na
avaliação foi muito razoável”.
Princípios técnicos de estruturação dos documentos
Os principais documentos técnicos utilizados no contexto forense,
seja na área cível ou na criminal, são o laudo por parte do perito e o
parecer crítico por parte do assistente técnico. Em função de esses
documentos apresentarem �nalidades diferenciadas, apresentarão
estrutura própria compatível com sua especi�cidade técnica. Ambos os
documentos estão previstos na Resolução 07/2003 (CFP, 2003), que trata
do Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo
Psicólogo, ainda que ali não sejam abordados quanto ao seu uso no
contexto forense. Assim, nesta seção discorre-se sobre as orientações
gerais do Conselho Federal de Psicologia quanto à estrutura desses
documentos, relacionando-as com o campo atual do conhecimento
cientí�co e buscando complementá-las com outras informações
necessárias para sua adaptação ao contexto legal. Os documentos laudo
e parecer serão discutidos separadamente.
1. Laudo Psicológico
A literatura que aborda propostas sobre a estrutura do Laudo
Psicológico forense tem enfatizado a importância de se evitar a busca de
uma estrutura única e in�exível de laudo, que teria apenas a função de
reforçar uma postura dogmática e mecanicista de seu relator (BIRCZ-
MINIAN, 2001). O mais importante seria compreender a �nalidade e os
limites éticos do documento proposto para, então, de�nir os conteúdos
mínimos que deveriam estar presentes, de modo a garantir a qualidade
técnica. De maneira geral, o laudo deveria ser compreensível para uma
audiência leiga, incluindo os dados mais relevantes para a questão legal,
com suas respectivas fontes de informação (PACKER; GRISSO, 2011).
Para Karson e Nadkarni (2013), o laudo forense é um documento de
comunicação sobre

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