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PRINCIPAIS CAMPOS DE ATUAÇÃO 10 O PSICÓLOGO FORENSE 19 ÉTICA EM PSICOLOGIA FORENSE 22 PERÍCIA PSICOLÓGICA FORENSE 24 PERÍCIA CIVIL 31 PSICOLOGIA DA POLÍCIA 36 A PSICOLOGIA E O DIREITO 55 ASSISTENTE TÉCNICO 59 0 PROCESSO DA PSICOLOGIA FORENSE 65 ESTRATÉGIAS DA PSICOLOGIA FORENSE 67 PSICOPATAS, SOCIOPATAS E SERIAL KILLERS 90 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE EM SITUAÇÕES DE SUSPEITA DE ABUSO SEXUAL EM CRIANÇAS E ADOLECENTES. 110 REFERÊNCIAS 118 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA FORENSE ● Psicopatologia: Psiquê + Pathos + Logos ● Estudo das “doenças” mentais. ● Conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. Esforça-se por ser sistemático, descritivo, elucidativo e desmistificante. Visa ser científico, não incluindo critérios de valor, nem dogmas ou verdades a priori. (Dalgalarrondo, 2008) Psicologia Jurídica é o campo da psicologia que agrega os profissionais que se dedicam à interação entre a psicologia e o direito. A principal função dos psicólogos no âmbito da justiça é auxiliar em questões relativas à saúde mental dos envolvidos em um processo, com importantes colaborações nas áreas da cidadania, violência e direitos humanos. A psicologia vive obcecada pela compreensão das chaves do comportamento humano. O direito é o conjunto de regras que busca regular esse comportamento, prescrevendo formas de soluções de conflitos, colaborando nas áreas da cidadania, prevenção da violência e Direitos humanos, plasmando o contrato social que sustenta a vida em sociedade. O que entra em jogo agora é a capacidade de entender as situações jurídicas que o indivíduo é incorporado, como processos, testamentos, decisões variadas, acatar sentenças e assumi-las ou cumpri-las. Para que sejam justos os procedimentos, a pessoa deve ter uma capacidade minimamente básica para poder participar em qualquer dos polos processuais. Existem muitas formas de abordagens para realizar a avaliação de capacidade, que consistem em testes cognitivos, psicológicos e os instrumentos concebidos para ocorrer o julgamento. Falamos aqui da submissão a um julgamento, porém existem as capacidades criminais e civis ainda, que serão abordadas mais profundamente juntamente com os aspectos vitais para o direito, de forma justa. A psicologia forense surgiu da necessidade do Direito em compreender o comportamento humano e aplicar esses ensinamentos no auxílio ao sistema legal, desde a interpretação de leis até a sua aplicação das penas. Desde o século XVIII os pareceres psicológicos já eram utilizados nos tribunais norteamericanos. Essas consultas jurídicas aos profissionais de outras áreas buscavam aprofundar análises testemunhais, exames de evidências delitivas e análise do grau de veracidade em suas confissões, motivações para a prática dos crimes, orientações psíquicas e morais do infrator, dentre outras questões que isoladamente o Direito não conseguiria compreender. No estudo de Huss , em 1962 a psicologia forense conseguiu o evento que marcou seu ingresso ao campo jurídico. No caso Jenkins nos Estados Unidos: a Corte determinou que fosse reconhecido o testemunho psicológico para determinar a responsabilidade criminal dos agentes (Inimputabilidade). Após isso os psicólogos forenses passaram a testemunhar frequentemente casos de inimputabilidade. A decisão Jenkins levou a uma explosão da psicologia forense nos Estados Unidos durante as décadas de 1960 e 1970. A psicologia Jurídica (gênero que abrange a psicologia forense) se consolidou nos anos seguintes, contudo, depois das experiências de psicologia criminal, desenvolvidas por agentes do FBI que entrevistaram assassinos em séries presos, com o intuito de entender como os criminosos pensavam, e aplicar esse conhecimento da psicologia e da ciência comportamental ao comportamento criminoso violento de maneira abrangente (HUSS, 2011, p. 24). Já no Brasil, a psicologia Forense já era utilizada no país antes mesmo da regulação da profissão de psicólogo, em 1962. O trabalho não oficial dos psicólogos jurídicos foi feito de início de maneira informal. Direcionada aos estudos de questões criminais, como por exemplo, o perfil psicológico dos criminosos, da criança e dos adolescentes que eram ligados a atos ilícitos. Os psicodiagnósticos eram vistos como instrumentos que forneciam dados matematicamente comprováveis para orientação dos operadores do Direito. O auxílio dos psicólogos dentro do sistema penitenciário também data antes da década de 1960, mas foi com a Lei de Execução Penal (Lei n° 7210 de 1984) que o psicólogo Brasileiro passou a ser reconhecido legalmente pela instituição penitenciária. Histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos de atuação. Delimitar o início da Psicologia Jurídica no Brasil é uma tarefa complexa, em razão de não existir um único marco histórico que define esse momento. Assim, na história brasileira. A seguir, serão apresentados os principais campos de atuação do psicólogo jurídico, com uma sucinta descrição das tarefas desempenhadas em cada setor. Objetiva-se, ainda, que o artigo possa ser utilizado como referência bibliográfica para disciplinas de Psicologia Jurídica, pois seu caráter introdutório foi delineado com esse propósito. A história da atuação de psicólogos brasileiros na área da Psicologia Jurídica tem seu início no reconhecimento da profissão, na década de 1960. Tal inserção deu-se de forma gradual e lenta, muitas vezes de maneira informal, por meio de trabalhos voluntários. Os primeiros trabalhos ocorreram na área criminal, enfocando estudos acerca de adultos criminosos e adolescentes infratores da lei (Rovinski, 2002). O trabalho do psicólogo junto ao sistema penitenciário existe, ainda que não oficialmente, em alguns estados brasileiros há pelo menos 40 anos. Contudo, foi a partir da promulgação da Lei de Execução Penal (Lei Federal nº 7.210/84) Brasil (1984), que o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela instituição penitenciária (Fernandes, 1998). Entretanto, a história revela que essa preocupação com a avaliação do criminoso, principalmente quando se trata de um doente mental delinquente, é bem anterior à década de 1960 do século XX. Durante a Antiguidade e a Idade Média a loucura era um fenômeno bastante privado. Ao “louco” era permitido circular com certa liberdade, e os atendimentos médicos restringiam- -se a uns poucos abastados. A partir de meados do século XVII, a loucura passou a ser caracterizada por uma necessidade de exclusão dos doentes mentais. Criam-se estabelecimentos para internação em toda a Europa, nos quais eram encerrados indivíduos que ameaçassem a ordem da razão e da moral da sociedade (Rovinski, 1998). A partir do século XVIII, na França, Pinel realizou a revolução institucional, liberando os doentes de suas cadeias e dando assistência médica a esses seres segregados da vida em sociedade (Pavon, 1997). Após esse período, os psicólogos clínicos começaram a colaborar com os psiquiatras nos exames psicológicos legais e em sistemas de justiça juvenil (Jesus, 2001). Com o advento da Psicanálise,a abordagem frente à doença mental passou a valorizar o sujeito de forma mais compreensiva e com um enfoque dinâmico. Como consequência, o psicodiagnóstico ganhou força, deixando de lado um enfoque eminentemente médico para incluir aspectos psicológicos (Cunha, 1993). Os pacientes passaram a ser classificados em duas grandes categorias: de maior ou de menor severidade, ficando o psicodiagnóstico a serviço do último grupo, inicialmente. Desta forma, os pacientes menos severos eram encaminhados aos psicólogos, para que esses profissionais buscassem uma compreensão mais descritiva de sua personalidade. Os pacientes de maior severidade, com possibilidade de internação, eram encaminhados aos psiquiatras (Rovinski, 1998). Balu (1984) demonstrou, a partir de estudos comparativos e representativos, que os diagnósticos de Psicologia Forense podiam ser melhores que os dos psiquiatras (Souza, 1998). De acordo com Brito (2005), os psicodiagnósticos eram vistos como instrumentos que forneciam dados matematicamente comprováveis para a orientação dos operadores do Direito. Inicialmente, a Psicologia era identificada como uma prática voltada para a realização de exames e avaliações, buscando identificações por meio de diagnósticos. Essa época, marcada pela inauguração do uso dos testes psicológicos, fez com que o psicólogo fosse visto como um testólogo, como na verdade o foi na primeira metade do século XX (GromthMarnat, 1999). Psicólogos da Alemanha e França desenvolveram trabalhos empírico-experimentais sobre o testemunho e sua participação nos processos judiciais. Estudos acerca dos sistemas de interrogatório, os fatos delitivos, a detecção de falsos testemunhos, as amnésias simuladas e os testemunhos de crianças impulsionaram a ascensão da então denominada Psicologia do Testemunho (Garrido, 1994). Atualmente, o psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica, com objetivos bem definidos, para encontrar respostas para solução de problemas. A testagem pode ser um passo importante do processo, mas constitui apenas um dos recursos de avaliação (Cunha, 2000). Esse histórico inicial reforça a aproximação da Psicologia e do Direito através da área criminal e a importância dada à avaliação psicológica. Porém, não era apenas no campo do Direito Penal que existia a demanda pelo trabalho dos psicólogos. Outro campo em ascensão até os dias atuais é a participação do psicólogo nos processos de Direito Civil. No estado de São Paulo, o psicólogo fez sua entrada informal no Tribunal de Justiça por meio de trabalhos voluntários com famílias carentes em 1979. A entrada oficial se deu em 1985, quando ocorreu o primeiro concurso público para admissão de psicólogos dentro de seus quadros (Shine, 1998). Ainda dentro do Direito Civil, destaca-se o Direito da Infância e Juventude, área em que o psicólogo iniciou sua atuação no então denominado Juizado de Menores. Apesar das particularidades de cada estado brasileiro, a tarefa dos setores de psicologia era, basicamente, a perícia psicológica nos processos cíveis, de crime e, eventualmente, nos processos de adoção. Com a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Brasil (1990), em 1990, o Juizado de Menores passou a ser denominado Juizado da Infância e Juventude. O trabalho do psicólogo foi ampliado, envolvendo atividades na área pericial, acompanhamentos e aplicação das medidas de proteção ou medidas socioeducativas (Tabajaski, Gaiger & Rodrigues, 1998). Essa expansão do campo de atuação do psicólogo gerou um aumento do número de profissionais em instituições judiciárias mediante a legalização dos cargos pelos concursos públicos. São exemplos a criação do cargo de psicólogo nos Tribunais de Justiça dos estados de Minas Gerais (1992), Rio Grande do Sul (1993) e Rio de Janeiro (1998) (Rovinski, 2002). Outro dado histórico importante foi a criação do Núcleo de Atendimento à Família (NAF), em outubro de 1997, implantado no Foro Central de Porto Alegre e pioneiro na justiça brasileira. O trabalho objetiva oferecer a casais e famílias com dificuldades de resolver seus conflitos um espaço terapêutico que os auxilie a assumir o controle sobre suas vidas, colaborando, assim, para a celeridade do Sistema Judiciário (Silva & Polanczyk, 1998). Vale observar ainda que, com o propósito de acompanhar as mudanças legais e adequar as instituições de atendimento a crianças e adolescentes às diretrizes presentes no ECA, fez-se necessário o reordenamento institucional dessas entidades em todo o país. A extinta Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM) mesclava, em uma mesma instituição, crianças e adolescentes vítimas de violência, maus tratos, negligência, abuso sexual e abandono com jovens autores de atos infracionais (http://www.sjds.rs.gov.br). Pela Lei 11.800/02 foram criadas duas fundações: a Fundação de Atendimento Socioeducativo (FASE), responsável pela execução das medidas socioeducativas, e a Fundação de Proteção Especial (FPE), responsável pela execução das medidas de proteção. O surgimento dessas fundações se deu inicialmente no estado do Rio Grande do Sul. Elas são a consolidação do processo de adaptação aos preceitos regidos pelo ECA, iniciado nos anos 1990. Diante do exposto, percebe-se um histórico inicial da aproximação da Psicologia e do Direito atrelado a questões envolvendo crime e os direitos da criança e do adolescente. Contudo, nos últimos dez anos a demanda pelo trabalho do psicólogo em áreas como Direito da Família e Direito do Trabalho vem tomando força. Além desses campos, outras possibilidades de participação do psicólogo em questões judiciais vêm surgindo, as quais serão apresentadas e discutidas na segunda parte deste artigo. Em relação à área acadêmica, cabe citar que a Universidade do Estado do Rio de Janeiro foi pioneira em relação à Psicologia Jurídica. Foi criada, em 1980, uma área de concentração dentro do curso de especialização em Psicologia Clínica, denominada “Psicodiagnóstico para Fins Jurídicos”. Seis anos mais tarde, passou por uma reformulação e tornou-se um curso independente do Departamento de Clínica, fazendo parte do Departamento de Psicologia Social (Altoé, 2001). Atualmente, não são todos os cursos de Psicologia que oferecem a disciplina de Psicologia Jurídica. E, quando o fazem, normalmente é uma matéria opcional e com uma carga horária pequena. Já nos cursos de Direito, ainda que a carga horária também seja reduzida, a disciplina já se tornou de caráter compulsório. Esses dados acarretam uma deficiência na formação acadêmica dos profissionais, o que exige o oferecimento, por parte das instituições judiciárias, de cursos de capacitação, treinamento e reciclagem. Os psicólogos sentem estar sempre “correndo atrás do prejuízo”, uma vez que as discussões sempre giram ao redor de noções básicas com as quais o psicólogo deveria ter tomado contato antes de chegar à instituição (Anaf, 2000). Porém, essa realidade tem se modificado. Atualmente, são oferecidos cursos de pós-graduação em Psicologia Jurídica em universidades de estadosbrasileiros como Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo, o que revela a expansão da área no País. Como pode ser evidenciado, o Direito e a Psicologia se aproximaram em razão da preocupação com a conduta humana. O momento histórico pelo qual a Psicologia passou fez com que, inicialmente, essa aproximação se desse por meio da realização de psicodiagnósticos, dos quais as instituições judiciárias passaram a se ocupar. Contudo, outras formas de atuação além da avaliação psicológica ganharam força, entre elas a implantação de medidas de proteção e socioeducativas e o encaminhamento e acompanhamento de crianças e/ou adolescentes. Observa-se que a avaliação psicológica ainda é a principal demanda dos operadores do Direito. Porém, outras atividades de intervenção, como acompanhamento e orientação, são igualmente importantes, como se verá na seção seguinte deste artigo. São áreas de atuação que devem coexistir, uma vez que seus objetivos são distintos, buscando atender a propósitos diferenciados, mas também complementares. PRINCIPAIS CAMPOS DE ATUAÇÃO ● Psicologia do Crime ● Avaliação Forense ● Clínico Forense ● Psicologia no sistema correcional ● Psicologia aplicada aos Programas de Prevenção ● Psicologia da Polícia ● Assessoria ● Pesquisa Na Psicologia Jurídica há uma predominância das atividades de confecções de laudos, pareceres e relatórios, pressupondo-se que compete à Psicologia uma atividade de cunho avaliativo e de subsídio aos magistrados. Cabe ressaltar que o psicólogo, ao concluir o processo da avaliação, pode recomendar soluções para os conflitos apresentados, mas jamais determinar os procedimentos jurídicos que deverão ser tomados. Ao juiz cabe a decisão judicial; não compete ao psicólogo incumbir-se desta tarefa. É preciso deixar clara esta distinção, reforçando a ideia de que o psicólogo não decide, apenas conclui a partir dos dados levantados mediante a avaliação e pode, assim, sugerir e/ou indicar possibilidades de solução da questão apresentada pelo litígio judicial. Contudo, nem sempre o trabalho do psicólogo jurídico está ligado à questão da avaliação e consequente elaboração de documentos, conforme se apresenta a seguir. Os ramos do Direito que frequentemente demandam a participação do psicólogo são: Direito da Família, Direito da Criança e do Adolescente, Direito Civil, Direito Penal e Direito do Trabalho. Cabe observar que o Direito de Família e o Direito da Criança e do Adolescente fazem parte do Direito Civil. Porém, como na prática as ações são ajuizadas em varas diferenciadas, optou-se por fazer essa divisão, por ser também didaticamente coerente. ● Psicólogo jurídico e o direito de família: destaca- -se a participação dos psicólogos nos processos de separação e divórcio, disputa de guarda e regulamentação de visitas. ● Separação e divórcio: os processos de separação e divórcio que envolvem a participação do psicólogo são na sua maioria litigiosos, ou seja, são processos em que as partes não conseguiram acordar em relação às questões que um processo desse cunho envolve. Não são muito comuns os casos em que os cônjuges conseguem, de maneira racional, atingir o consenso para a separação. Isso implica resolver o conflito que está ou que ficou nas entrelinhas, nos meandros dos relacionamentos humanos, ou seja, romper com o vínculo afetivo- -emocional (Silveira, 2006). Portanto, o psicólogo pode atuar como mediador, nos casos em que os litigantes se disponham a tentar um acordo ou, quando o juiz não considerar viável a mediação, ao psicólogo pode ser solicitada uma avaliação de uma das partes ou do casal. Processos de separação e divórcio englobam partilha de bens, guarda de filhos, estabelecimento de pensão alimentícia e direito à visitação. Desta forma, seja como avaliador ou mediador, o psicólogo buscará os motivos que levaram o casal ao litígio e os conflitos subjacentes que impedem um acordo em relação aos aspectos citados. Nos casos em que julgar necessário, o psicólogo poderá, inclusive, sugerir encaminhamento para tratamento psicológico ou psiquiátrico da(s) parte(s). ● Regulamentação de visitas: conforme exposto acima, o direito à visitação é uma das questões a ser definida a partir do processo de separação ou divórcio. Contudo, após a decisão judicial podem surgir questões de ordem prática ou até mesmo novos conflitos que tornem necessário recorrer mais uma vez ao Judiciário, solicitando uma revisão nos dias e horários ou forma de visitas. Nesses casos, o psicólogo jurídico contribui por meio de avaliações com a família, objetivando esclarecer os conflitos e informar ao juiz a dinâmica presente nesta família, com sugestões das medidas que poderiam ser tomadas. O psicólogo pode, ainda, atuar como mediador, procurando apontar a interferência de conflitos intrapessoais na dinâmica interpessoal dos cônjuges, com o objetivo de produzir um acordo pautado na colaboração, de forma que a autonomia da vontade das partes seja preservada (Schabbel, 2005). ○ ○ ○ ○ ○ ● Disputa de guarda: nos processos de separação ou divórcio é preciso definir qual dos ex-cônjuges deterá a guarda dos filhos. Em casos mais graves, podem ocorrer disputas judiciais pela guarda (Silva, 2006). Nesses casos, o juiz pode solicitar uma perícia psicológica para que se avalie qual dos genitores tem melhores condições de exercer esse direito. Além dos conhecimentos sobre avaliação, psicopatologia, psicologia do 15 desenvolvimento e psicodinâmica do casal, assuntos atuais como a guarda compartilhada, falsas acusações de abuso sexual e síndrome de alienação parental podem estar envolvidos nesses processos. Portanto, é necessário que os psicólogos que atuam nessa área estudem esses temas, saibam seu funcionamento e busquem a melhor forma de investigá-los, de modo a realizar uma avaliação psicológica de qualidade. ● Pais que colocam os interesses e vaidade pessoal acima do sofrimento que uma disputa judicial pode acarretar aos filhos, na tentativa de atingir ou magoar o ex companheiro, revelam-se com problemas para exercer a parentalidade de forma madura e responsável (Castro, 2005). Portanto, nesses casos, a mediação não é uma prática comum, dado o alto nível de conflitos existentes entre os ex cônjuges e que os fazem disputar seus filhos judicialmente. Psicólogo jurídico e o direito da criança e do adolescente: destaca-se o trabalho dos psicólogos junto aos processos de adoção e destituição de poder familiar e o desenvolvimento e aplicação de medidas socioeducativas dos adolescentes autores de ato infracional. ● Adoção: os psicólogos participam do processo de adoção por meio de uma assessoria constante para as famílias adotivas, tanto antes quanto depois da colocação da criança. A equipe técnica dos Juizados da Infância e da Juventude deve saber recrutar candidatos para as crianças que precisam de uma família e ajudar os postulantes a se tornarem pais capazes de satisfazer às necessidadesde um filho adotivo (Weber, 2004). A primeira tarefa de uma equipe de adoção é garantir que os candidatos estejam dentro dos limites das disposições legais e a segunda é iniciar um programa de trabalho com os postulantes aceitos, elaborado especialmente para assessorar, informar e avaliar os interessados, e não apenas “selecionar” os mais aptos (Weber, 1997). Como a adoção é um vínculo irrevogável, o estudo psicossocial torna-se primordial para garantir o cumprimento da lei, prevenindo assim a negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução. Além do trabalho desenvolvido junto aos Juizados da Infância e Juventude, existe também o dos psicólogos que trabalham nas Fundações de Proteção Especial. Essas instituições têm como objetivo oferecer um cuidado especial capaz de minorar os efeitos da institucionalização, proporcionando às crianças e aos adolescentes abrigados uma vivência que se aproxima à realidade familiar. Os vínculos estabelecidos com os monitores que cuidam delas são facilitadores do vínculo posterior na adoção, uma vez que se estabelece e se mantém-nos a capacidade de vincular-se afetivamente. As relações substitutas provisórias, representadas pelo acolhimento institucional que abriga os que aguardam uma possibilidade de inclusão em família substituta, são decisivas para o desenlace do processo de adoção (Albornoz, 2001). ● Destituição do poder familiar: o poder familiar é um direito concedido a ambos os pais, sem nenhuma distinção ou preferência, para que eles determinem a assistência, criação e educação dos filhos. Esse direito é assistido aos genitores, ainda que separados e a guarda conferida a apenas um dos dois. Porém, a legislação brasileira prevê casos em que esse direito pode ser suspenso, ou até mesmo destituído, de forma irrevogável. A partir desta determinação judicial, os pais perdem todos os direitos sobre o filho, que poderá ficar sob a tutela de uma família até a maioridade civil. O papel do psicólogo nesses casos é fundamental. É preciso considerar que a decisão de separar uma criança de sua família é muito séria, pois desencadeia uma série de acontecimentos que afetaram, em maior ou menor grau, toda a sua vida futura. Independentemente da causa da remoção - doença, negligência, abandono, maus-tratos, abuso sexual, ineficiência ou morte dos pais - a transferência da responsabilidade para estranhos jamais deve ser feita sem muita reflexão (Cesca, 2004). Adolescentes autores de atos infracionais: o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê medidas socioeducativas que comportam aspectos de natureza coercitiva. São medidas punitivas no sentido de que responsabilizam socialmente os infratores, e possuem aspectos eminentemente educativos, no sentido da proteção integral, com oportunidade de acesso à formação e à informação. Os psicólogos que desenvolvem seu trabalho junto aos adolescentes infratores devem lhes propiciar a superação de sua condição de exclusão, bem como a formação de valores positivos de participação na vida social. Sua operacionalização deve, prioritariamente, envolver a família e a comunidade com atividades que respeitem o princípio da não discriminação e não estigmatização, evitando rótulos que marquem os adolescentes e os exponham a situações vexatórias, além de impedi-los de superar as dificuldades na inclusão social. Na Fundação de Apoio Socioeducativo de Porto Alegre (RS), colocou-se em prática um projeto pioneiro que utiliza soluções mais eficazes para responsabilizar e corrigir comportamentos considerados transgressores: a Justiça Restaurativa. Essa medida tem por objetivo tratar e julgar melhor as questões que levaram os jovens a cometerem um ato infracional, e tem como foco a reparação dos danos causados às pessoas e relacionamentos, ao invés de punir os transgressores. Através de um mediador, as vítimas e os jovens procuram dialogar para que eles se conscientizem dos erros que cometeram. Esse tipo de projeto tem o intuito de evitar que o adolescente volte a cometer crimes e que os danos causados às vítimas sejam minimizados (Jesus, 2005). Psicólogo jurídico e o direito civil: o psicólogo atua nos processos em que são requeridas indenizações em virtude de danos psíquicos e nos casos de interdição judicial. ● Dano psíquico: o dano psíquico pode ser definido como a sequela, na esfera emocional ou psicológica, de um fato particular traumatizante (Evangelista & Menezes, 2000). Pode-se dizer que o dano está presente quando são gerados efeitos traumáticos na organização psíquica e/ou no repertório comportamental da vítima. Cabe ao psicólogo, de posse de seu referencial teórico e instrumental técnico, avaliar a real presença desse dano. Entretanto, o psicólogo deve estar atento a possíveis manipulações dos sintomas, já que está em suas mãos recomendação, ou não, de um ressarcimento financeiro (Rovinski, 2005). ● Interdição: a interdição refere-se à incapacidade de exercício por si mesmo dos atos da vida civil. Uma das possibilidades de interdição previstas pelo código civil são os casos em que, por enfermidade ou deficiência mental, os sujeitos de direito não tenham o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. Nesses casos, compete ao psicólogo nomeado perito pelo juiz realizar avaliação que comprove ou não tal enfermidade mental. À justiça interessa saber se a doença mental de que o paciente é portador o torna incapaz de reger sua pessoa e seus bens (Monteiro, 1999). As questões levantadas em um processo de interdição incluem a validade, nulidade ou anulabilidade de negócios jurídicos, testamentos e casamentos. Além dessas, ficam prejudicadas a contração de deveres e aquisição de direitos, a aptidão para o trabalho, a capacidade de testemunhar e a possibilidade de ele próprio assumir tutela ou curatela de incapaz e exercer o poder familiar (Taborda, Chalub & Abdalla-Filho, 2004). Psicólogo jurídico e o direito penal: o psicólogo pode ser solicitado a atuar como perito para averiguação de periculosidade, das condições de discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento (Arantes, 2004). Portanto, destaca-se o papel dos psicólogos junto ao Sistema Penitenciário e aos Institutos Psiquiátricos Forenses. A criação da Lei de Execução Penal (LEP), em 1984, foi um marco no trabalho dos psicólogos no sistema prisional, pois a partir dela o cargo de psicólogo passou a existir oficialmente (Carvalho, 2004). A Lei 10.792/2003 trouxe mudanças à LEP, uma vez que extinguiu o exame criminológico feito para instruir pedidos de benefícios e o parecer da Comissão Técnica de Classificação Brasil (2003). Para a concessão de benefícios legais, as únicas exigências previstas são o lapso de tempo já cumprido e a boa conduta. No entanto, há uma pressão por parte do Ministério Público e Poder Judiciário pela continuidade das avaliações técnicas. No estado de São Paulo, após as rebeliões ocorridas no sistema penitenciário, as avaliações técnicas estão voltando a ser uma exigência para a concessão dos benefícioslegais (Sá, 2007). As avaliações psicológicas individualizadas, previstas em lei, são inviáveis nos presídios brasileiros sem razão das superpopulações existentes. Pelo mesmo motivo, proporcionar um “tratamento penal” aos apenados ou estabelecer outro tipo de relações institucionais com os demais funcionários, internos e/ou seus familiares são tarefas difíceis para os psicólogos que trabalham junto ao sistema carcerário (Kolker, 2004). Existe ainda o trabalho dos psicólogos junto aos doentes mentais que cometeram algum delito. Esses sujeitos recebem medida de segurança, decretada pelo juiz, e são encaminhados para Institutos Psiquiátricos Forenses (IPF). ]Além de abrigar esses doentes mentais, os IPF são responsáveis pela realização de perícias oficiais na área criminal e pelo atendimento psiquiátrico à rede penitenciária. Atualmente existem no Brasil 28 instituições psiquiátricas forenses e cerca de 4 mil internos (Piccinini, 2006). No Rio Grande do Sul, o Instituto Psiquiátrico Forense Maurício Cardoso (IPFMC) foi o segundo fundado no País, em 1924. O trabalho do psicólogo nesse instituto teve início em 1966, através do estágio curricular de psicopatologia. Inicialmente as atividades da Psicologia eram subordinadas à Medicina, pois havia a necessidade de prescrição médica para os pacientes psicóticos. Além disso, os laudos psiquiátricos elaborados não eram assinados pelos psicólogos, devido a um dispositivo legal que atribuía a competência e a responsabilidade desses laudos ao psiquiatra forense (Modena, 2007). Com o passar dos anos houve ampliação do atendimento multidisciplinar, que passou a reunir as diferentes habilidades técnicas em prol de uma prestação de serviço com maior qualidade aos pacientes. Assim, o Setor de Psicologia foi alcançando sua independência e autonomia dentro dos IPF. Psicólogo jurídico e o direito do trabalho: o psicólogo pode atuar como perito em processos trabalhistas. A perícia a ser realizada nesses casos serve como uma vistoria para avaliar o nexo entre as condições de trabalho e a repercussão na saúde mental do indivíduo. Na maioria das vezes, são solicitadas verificações de possíveis danos psicológicos supostamente causados por acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, casos de afastamento e aposentadoria por sofrimento psicológico. Cabe ao psicólogo a elaboração de um laudo, no qual irá traduzir, com suas habilidades e conhecimento, a natureza dos processos psicológicos sob investigação (Cruz & Maciel, 2005). Vitimologia Objetiva a avaliação do comportamento e da personalidade da vítima. Cabe ao psicólogo atuante nessa área traçar o perfil e compreender as reações das vítimas perante a infração penal. A intenção é averiguar se a prática do crime foi estimulada pela atitude da vítima, o que pode denotar uma cumplicidade passiva ou ativa para com o criminoso. Para tanto, a análise é feita desde a ocorrência até as consequências do crime (Brega Filho, 2004). Além disso, a vitimologia dedica-se também à aplicação de medidas preventivas e à prestação de assistência às vítimas, visando, assim, à reparação de danos causados pelo delito. Psicologia do testemunho Os psicólogos podem ser solicitados a avaliar a veracidade dos depoimentos de testemunhas e suspeitos, de forma a colaborar com os operadores da justiça. O chamado fenômeno das falsas memórias tem assumido um papel muito importante na área da Psicologia do Testemunho. Hoje, sabe- -se que o ser humano é capaz de armazenar e recordar informações que não ocorreram. As falsas memórias podem resultar da repetição de informações consistentes e inconsistentes no depoimento de testemunhas sobre o mesmo evento. É preciso desenvolver pesquisas na área que possam contribuir para a elucidação dos mecanismos responsáveis pelas falsas memórias e, assim, auxiliar o aprimoramento de técnicas para avaliação de testemunhos (Stein, 2000). Uma área recente e relacionada à Psicologia do Testemunho que vem ganhando espaço é o Depoimento sem Dano, que objetiva proteger psicologicamente crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais e outras infrações penais que deixam graves sequelas no âmbito da estrutura da personalidade. Esse projeto foi criado no Segundo Juizado da Infância e Juventude de Porto Alegre, em razão das dificuldades enfrentadas pela justiça na tomada de depoimentos de crianças e adolescentes (Cezar, 2007). A fim de atingir tais objetivos, é importante que o técnico entrevistador - assistente social ou psicólogo - possua habilidade em ouvir, demonstre paciência, empatia, disposição para o acolhimento e capacidade de deixar o depoente à vontade durante a audiência. O técnico deve, ainda, conhecer acerca da dinâmica doabuso e, preferencialmente, possuir experiência em situações de perícia, o que facilita a compreensão e interação de todos os envolvidos no ato judicial (Cezar, 2007). Desta forma, a inserção de uma equipe psicossocial no âmbito da justiça respeita e preserva o estado emocional da vítima, permitindo, assim, um processo menos oneroso e mais justo para o caso. O PSICÓLOGO FORENSE O psicólogo forense participa dos diferentes processos judiciais nos quais sua presença é solicitada. Ele será responsável por reunir a informação necessária, examinar o indivíduo, elaborar inquéritos etc. e, por fim, apresentar as provas e os resultados obtidos. Tudo isso com a finalidade de responder às perguntas feitas pelo juiz. A função principal é tentar sanar as dúvidas dos profissionais da justiça. Todos os atores que participam de um processo judicial não possuem conhecimentos de todas as áreas sociais, relacionais, científicas, etc. Por isso, precisam de especialistas em cada uma dessas áreas que os ajudem a esclarecer elementos importantes para uma correta resolução do caso. Não podemos nos esquecer de que vivemos em uma sociedade orgânica: existe uma grande divisão do trabalho. Os indivíduos se especializam em um determinado âmbito, mas precisam de conhecimentos do resto da sociedade. Assim, é estabelecido um sistema de relações funcionais entre os diferentes profissionais. A cooperação de cada um se baseia nas capacidades com as quais pode contribuir para ajudar a suprir as necessidades do outro. Âmbitos dos quais participa O psicólogo forense, como já anunciamos, colabora no sistema judiciário. Geralmente, é um profissional associado a processos penais, focalizando sua atuação no âmbito criminal. No entanto, há muitas outras áreas nas quais ele é necessário: ● Direito da família. Determinar se os pais estão capacitados para o cuidado do(s) filho(s) no processo de divórcio; orientar o regime de visitas; analisar as disfuncionalidades existentes que possam afetar a criança devido à separação etc. ● Direito civil. Incapacidades legais em relação à livre disposição de bens patrimoniais, principalmente. ● Direito penal. Imputabilidade penal (se o indivíduo sabia o que estavafazendo e agiu voluntariamente com base nesse conhecimento); efeitos da violência na vítima; existência de algum possível transtorno etc. ● Direito do trabalho. Incapacitação laboral; situações de assédio no trabalho (possível comprometimento nas atividades cotidianas); etc. ● Crianças. Credibilidade do depoimento; sequelas psicológicas etc. Elaboração de relatórios Os relatórios são os documentos elaborados pelos peritos nos quais são respondidas as perguntas formuladas pelo juiz. Elas servem como prova pericial. O psicólogo forense deverá realizar um relatório quando sua opinião for requisitada em relação a um assunto judicial. O conteúdo do relatório deve ser preciso e específico, omitindo qualquer detalhe que for supérfluo. Ou seja, deve se voltar diretamente à questão do assunto. Da mesma forma, sua redação deve ser clara, tentando evitar a utilização de uma linguagem muito específica. Não podemos nos esquecer de que esse tipo de documento será entregue a pessoas não especializadas no mundo da psicologia, nem no campo científico. Devido a isso, não devemos ser extremamente técnicos, pois o que queremos transmitir poderia não ser compreendido. Ao mesmo tempo, não podemos fugir dos parâmetros da objetividade e do rigor científico. Qualquer teste psicológico que tenha sido realizado deve ser devidamente informado. Deve-se apontar sua utilidade, a forma como foi realizado, os resultados obtidos, a fiabilidade dele etc. Perfil profissional Como é evidente, será necessário que o psicólogo forense conte com formação universitária em Psicologia. Além disso, deve ter se especializado nessa área do conhecimento. E isso não é suficiente. Deverá ter aperfeiçoamento profissional e ter conhecimento das novidades que surgem nesse campo em diferentes artigos científicos. Por outro lado, não é requerido apenas o conhecimento na área da psicologia, também é preciso ter conhecimentos de Direito. Portanto, é um profissional que deverá saber como o processo é realizado, assim como as diferentes leis que o amparam e que, da mesma forma, determinam sanções que podem ser aplicadas por uma má práxis. Mas nem tudo se resume aos conhecimentos acadêmicos. O psicólogo forense não pode se deixar envolver emocionalmente no caso que está analisando, pois macularia a missão para a qual foi designado como perito. A empatia também é uma característica que deve ser avaliada, assim como a tolerância à frustração. A assertividade e uma boa oratória são características que contam pontos nesse âmbito de trabalho. Por fim, o psicólogo forense rompe com a ideia que se tem da profissão estereotipada do psicólogo que as séries e os filmes podem mostrar. A psicologia jurídica e forense é um campo, por vezes, desconhecido, mas necessário para resolver questões que exigem um ponto de vista mais científico. ÉTICA EM PSICOLOGIA FORENSE http://satepsi.cfp.org.br/docs/codigode-etica-psicologia.pdf Ao longo dos últimos anos delitos exacerbados advindos da nossa sociedade tem se tornado um verdadeiro caos na história da violência no país. Diante de tal premissa se faz necessário conhecer o perfil psicológico desses criminosos, ressaltando a função probatória e ética das conclusões periciais. Contudo para que possamos validar tais conclusões é indispensável uma reflexão ética do profissional perito na excelência desses documentos, uma vez que eles delimitam não só o perfil dos criminosos, bem como dirigem a medida cautelar que reforça ou conclui a pena desses indivíduos, como também subsidiam demais decisões judiciais. O exercício ético da psicologia forense começa pela alteridade, que só é possível se o profissional assume uma postura rigorosamente neutra, ou seja, sem qualquer preconceito moral, religioso, rácico de uma situação ou comportamento. Outro aspecto preponderante ao exercício ético do psicólogo passa pela responsabilidade e experiência do profissional ao conduzir tais avaliações, uma vez que sem as devidas provas periciais podem ocorrer situações onde o assassino é solto e o inocente é preso, provocando assim malefícios a sociedade e impedindo a reinserção no convívio social ao réu que tem direito a esse benefício. Em se tratando do conteúdo dos laudos periciais é importante atentarmos para a questão do sigilo profissional, ou seja, o psicólogo só deve passar à justiça os dados que são importantes para a solução da causa. Ele não pode estar revelando coisas que não dizem respeito à demanda judiciária em particular. O laudo deve ser bem conduzido e bem trabalhado, de forma objetiva e sistematizada, usando-se de terminologia psicológica, numa linguagem simples de uma maneira que os juízes entendam. Perpassando pelos recônditos psi, se faz importante conhecer a fundo os distúrbios de personalidade que podem acometer esses indivíduos, bem como os caminhos elementares que conduzem o mesmo ao crime. Conhecendo os fatores que o levam a esse desajustamento social, é possível inferir se o réu em questão é imputável ou inimputável, fator imprescindível para construção fidedigna de um laudo. Como vimos é importante mencionar que o conhecimento é a base de tudo. Cabe ao Direito controlar e regular o social e o real, baseado no princípio de Bem e Mal, porém, cabe a psicologia forense o embasamento adequado, subjetivo e multidisciplinar, para que a justiça seja feita, e isso só é possível se o profissional psicólogo perito, se adequar ao exercício ético e moral dessa profissão. PERÍCIA PSICOLÓGICA FORENSE ● Busca a diferenciação, o diagnóstico diferencial, entre “comportamentos normais” e os “comportamentos patológicos”. ● Objetivo de investigação sobre a pessoa enferma. (Jaspers, 1913). ● Uso de manuais para classificação (CID e DSM) visando unificar linguagem, facilitar a comunicação entre diferentes áreas e profissões. ● Atuação de profissionais da Psicologia e Psiquiatria (em geral) peritos oficiais ou judiciais. ● Diversas áreas de atuação: sem consenso nas nomenclaturas e na tipificação das áreas de atuação A avaliação psicológica, processo pelo qual através de instrumentos apropriados (entrevistas, técnicas e testes psicológicos, observações etc.) chega-se a conclusões a respeito de aspectos do funcionamento psicológico de um indivíduo, encontra-se presente em diferentes campos de atuação do psicólogo. Assim sendo, insere-se também no campo da Psicologia Forense, sendo conhecida como avaliação psicológica pericial ou, mais comumente, perícia psicológica forense. A perícia psicológica se diferencia de outros tipos de avaliação psicológica pelo fato do seu objetivo ser subsidiar decisões judiciais. A perícia psicológica insere-se no campo interdisciplinar da psicologia forense e da psicologia clínica. Ibañez e Ávila definem a psicología forense como sendo toda psicologia “orientada para a produção de investigações psicológicas e para a comunicação de seus resultados, assim como a realização de avaliações e valorações psicológicas, para sua aplicação no contexto legal”(1990, apud ROVINSKI, 2003, p. 183). A perícia psicológica forense pode ser definida como o exame ou avaliação do estado psíquico de um indivíduo com o objetivo de elucidar determinados aspectos psicológicos deste; este objetivo se presta à finalidade de fornecer ao juiz ou a outro agente judicial que solicitou a perícia, informações técnicas que escapam ao senso comum e ultrapassam o conhecimento jurídico. Na perícia psicológica, todo o processo de avaliação (a obtenção dos dados através de instrumentos adequados, a análise dos dados e a comunicação dos resultados) deve ser direcionado aos objetivos judiciais. Segundo Silva (2003), recorre-se à prova pericial quando os argumentos ou demais provas de que se dispõe não são suficientes para o convencimento do juiz em seu poder decisório, portanto, esta tem como finalidade última auxiliar o juiz em sua decisão acerca dos fatos que estão sendo julgados. A perícia psicológica é considerada um meio de prova no âmbito forense e sua materialização se dá através da elaboração do chamado laudo pericial. O laudo pericial, que será apreciado pelo agente jurídico que o solicitou, deve ser redigido em linguagem clara e objetiva para que possa efetivamente fornecer elementos que auxiliem a decisão judicial, devendo responder aos quesitos (perguntas) solicitados, quando presentes. Segundo a autora, embora o Direito exija respostas imediatas e definitivas, o laudo psicológico poderá somente apontar tendências e indícios. Segundo Rovinski (2003; 2004) as técnicas e os métodos de investigação utilizados na avaliação psicológica forense não diferem de forma substancial do processo de avaliação psicológica clínica, necessitando apenas de uma adaptação aos objetivos forenses. A eleição da metodologia que será utilizada na perícia dependerá das especificidades de cada caso. A coleta dos dados deve direcionar-se ao que deve ser investigado, assim, para que o psicólogo selecione os instrumentos psicológicos mais adequados para cada caso, ele deverá se basear na própria natureza do exame em questão e na prévia leitura dos autos do processo (com especial atenção ao que demandou a perícia psicológica e aos quesitos formulados). Não existem metodologias fixas para a realização de avaliações psicológicas periciais, sendo estas construídas de acordo com as características do caso e do sujeito (nível de escolaridade, idade, presença de limitações físicas ou mentais etc.). A leitura dos autos do processo propicia o levantamento de hipóteses prévias antes do primeiro contato com o indivíduo e permite que a entrevista seja direcionada para a investigação de tais hipóteses. Em uma perícia psicológica frequentemente se faz necessário entrevistar outras pessoas além do próprio examinando (como, por exemplo, algum familiar próximo) para que possam ser colhidas mais informações a respeito das suas características e funcionamento psicológico. Segundo Rovinski (2003) isso acontece porque a avaliação pericial busca entender e responder, de modo imparcial e neutro, as questões colocadas pela justiça, diferentemente da avaliação clínica, que busca compreender a realidade psíquica do paciente e sua visão particular sobre seus problemas. A entrevista com terceiros também é de suma importância nos casos em que a psicopatologia do sujeito impede que ele forneça dados confiáveis e precisos acerca de si próprio. Taborda (2004) afirma que em uma avaliação pericial é comum que a simulação se faça presente, pois o examinando poderá omitir informações que possam prejudicá-lo e potencializar as que acredita que possam auxiliá-lo. Deste modo, o “perito deverá estar atento a essa possibilidade e buscar confirmar por fontes colaterais (entrevista com terceiros, exame de documentos e prova técnica carreada aos autos) a fidedignidade do que é afirmado” pelo examinando em sua entrevista (p. 63). O perito, ao conduzir uma entrevista, jamais deverá perder de vista os objetivos dela, que estarão atrelados aos objetivos da própria perícia (quais aspectos psíquicos específicos deverão ser investigados?). A entrevista psicológica sempre fará parte de um processo de avaliação psicológica pericial, já os testes psicológicos não são utilizados por todos os psicólogos peritos; para Rovinski (2009), os testes, sejam psicométricos ou projetivos, funcionam como instrumentos auxiliares. Pesquisa realizada por Rovinski e Elgues (1999, citada por ROVINSKI, 2003; 2004) no Rio Grande do Sul encontrou que 87% dos psicólogos forenses pesquisados utilizavam outros instrumentos de avaliação além da entrevista, dando preferência para os testes de personalidade projetivos e gráficos. A prévia leitura dos autos processuais e a(s) entrevista(s) direcionarão a escolha dos testes psicológicos que serão utilizados para responder à demanda do judiciário. O uso dos testes psicológicos nas perícias psicológicas apresenta algumas vantagens em relação a uma avaliação realizada somente através de entrevistas: os testes aprofundam a compreensão do sujeito, pois medem características não passíveis de serem percebidas ou mensuradas apenas através das entrevistas e observações; dão ao profissional a possibilidade de observar o comportamento de forma padronizada e julgar se o mesmo encontra-se dentro das condições observadas na população normal; auxiliam a eliminar boa parte da “contaminação” subjetiva da percepção e do julgamento do psicólogo; diminuem a possibilidade do sujeito manipular a avaliação psicológica; possibilitam acessar regiões profundas do sujeito, muitas das quais são inacessíveis a ele próprio, por não ter consciência de certas características que existem em si mesmo. Os testes psicológicos auxiliam no conhecimento do estado mental dos indivíduos e segundo Ávila e Rodriguez-Sutil (1995, apud ROVINSKI, 2003) estes seriam responsáveis pela crescente solicitação dos laudos psicológicos periciais. Rovinski (2004) afirma que a avaliação forense dirige-se a eventos definidos de forma restrita, relacionadas a um foco circunscrito (o quesito solicitado), entretanto, a avaliação psicológica pericial é demandada pelo sistema jurídico geralmente através de assertivas gerais, tais como se o réu era capaz de entender o caráter criminoso do seu ato à época do fato. Dependendo do caso em questão, o psicólogo deverá investigar se há alguma doença do espectro psicótico ou rebaixamento intelectual que poderia ter diminuído ou anulado a capacidade de entendimento da natureza criminosa de um ato; se o sujeito padece de depressão como alega no seu pedido de aposentadoria; se há um transtorno no controle dos impulsos que predispõe o sujeito a cometer determinado delito; se existe alguma lesão ou disfunção neurológica que tenha de alguma forma relação com o comportamento criminoso ou que incapacite o sujeito a gerir a própria vida; quais as condições afetivas e relacionais apresentadas pelos genitores que pleiteiam a guarda do filho, dentre outras várias demandas. Deste modo, a demanda jurídica deverá ser transportada para a linguagem psicológica para que se identifique as característicasque serão alvo de investigação. Assim, para se avaliar a capacidade de entendimento de um sujeito o psicólogo necessitará, por exemplo, avaliar sua inteligência, sua capacidade de perceber a realidade de modo adequado e objetivo e o grau de coerência e lógica dos seus pensamentos. No momento da escolha dos testes psicológicos que irão compor a avaliação pericial, há de se considerar as limitações e os alcances deles, no sentido de saber se as informações que poderão ser extraídas destes auxiliarão na investigação das questões psicológicas demandadas no processo judicial. Vamos considerar os seguintes exemplos para gerar uma reflexão sobre o assunto: qual instrumento psicológico é capaz de predizer qual genitor tem melhor capacidade para cuidar adequadamente de uma criança para obter sua guarda? De esclarecer se há indícios de que uma criança foi vítima de abuso sexual? De predizer o potencial de reincidência criminal de um sujeito? O psicólogo perito, diante destas demandas, deverá decompô-las em construtos que poderão ser analisados através de testes psicológicos (lembrando que deverá utilizar testes que estejam aprovados pelo SATEPSI) e escolher aqueles que poderão responder a tais demandas. Como forma de ilustração em relação aos exemplos acima, o psicólogo poderá optar por avaliar grau de controle emocional, impulsividade, presença de traços antissociais, qualidade do relacionamento interpessoal, capacidade de empatia, presença de autoestima rebaixada, entre outros e, para isso, deverá ter um bom conhecimento dos testes psicológicos disponíveis para uso e do que é possível se avaliar através dos mesmos. Deste modo, dependendo da demanda específica de cada caso, alguns instrumentos psicológicos serão escolhidos em detrimento de outros. Como outro exemplo, nos casos em que é necessário aferir de modo específico o nível de inteligência de um adulto para saber se está se encontra dentro da normalidade ou se há a presença de algum grau de Retardo Mental, pode-se utilizar a Escala Wechsler de Inteligência para Adultos (WAIS-III). Se for necessário investigar funções neuropsicológicas, pode-se utilizar as Figuras Complexas de Rey, Teste de Atenção Dividida, WISCONSIN, etc. De modo geral, a avaliação neuropsicológica no âmbito forense terá como objetivo diagnosticar os efeitos cognitivos, emocionais e comportamentais de uma desordem neurológica e sua possível correlação com a esfera criminal ou cível (SERAFIM, 2006). A capacidade de compreensão do caráter delituoso de uma ação ou a capacidade de um sujeito para gerir a si próprio e os próprios bens são exemplos de competências que podem ser diretamente afetadas por um rebaixamento na capacidade intelectual do sujeito ou pela presença de disfunções cerebrais. Em algumas perícias poderá ser necessário realizar um diagnóstico diferencial entre uma síndrome psiquiátrica ou neurológica, e alguns aspectos não cognitivos da conduta (desinibição, irritabilidade, impulsividade etc.) podem ser expressão de alguma alteração no sistema nervoso central. A avaliação da personalidade constitui-se na maior demanda relacionada às perícias psicológicas: busca-se investigar o grau de controle dos impulsos, características do relacionamento interpessoal, o controle emocional, recursos da personalidade, agressividade, presença de psicopatologias, dentre outros. No contexto pericial, os testes de personalidade projetivos apresentam uma grande vantagem em relação aos testes de personalidade objetivos ou psicométricos. Isto ocorre porque a avaliação psicológica pericial, diferentemente da clínica, constitui-se num embate de interesses advindos dos sujeitos envolvidos no processo judicial; busca-se demonstrar que se é um genitor capaz de prover as necessidades do filho; que se é portador de Esquizofrenia que o incapacita ao trabalho; que não apresenta tendência a comportamentos violentos, etc. O psicólogo perito deve estar sempre muito atento a estas características do trabalho pericial e buscar cercar-se de estratégias avaliativas que sejam adequadas a este contexto, a fim de diminuir a possibilidade de que o examinado distorça intencionalmente a apresentação dos dados. Os testes de personalidade objetivos geralmente oferecem poucas informações úteis em contextos forenses (GACONO; EVANS; VIGLIONE, 2008). As assertivas objetivas dos testes de personalidade psicométricos facilitam, por parte do examinando, a produção ou simulação de traços/sintomas/características que ele não possui. Por exemplo, se a avaliação pericial for para analisar um pedido de indenização por danos psíquicos onde o requerente alega sofrer de Depressão, o Inventário de Depressão de Beck (BDI) poderia facilitar um resultado do tipo falso positivo, pois ao responder o teste o examinando, sem dificuldade, consegue escolher as assertivas que melhor caracterizam uma personalidade que se encontra em um estado depressivo. O mesmo acontece com as tentativas de encobrimento ou dissimulação de traços/sintomas/características que se possui; em um exame de cessação de periculosidade, o uso do Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço (STAXI) facilitaria ao sujeito manipular os resultados favoravelmente aos seus interesses. Deste modo, os testes projetivos constituem-se como um método bastante apropriado para se obter dados a respeito das características de personalidade de um periciando, pois as possibilidades de simulação ou dissimulação de características apresentam-se mais reduzidas quando comparadas às entrevistas ou aos testes de personalidades objetivos. Serão as coerências ou incoerências entre os fatos relatados nos autos do processo, nas entrevistas, no comportamento não verbal do examinando e nos resultados dos testes psicológicos que nortearão o psicólogo na análise de questões relacionadas à simulação ou dissimulação. Base Legal da Perícia Psicológica - Diferenças entre a avaliação psicológica e perícia (avaliação psicológica em contexto forense): I) Em relação ao seu objeto: é a questão pertinente que a avaliação trata de investigar, ou posto de outra forma, trata-se de um problema a resolver (Maloney and Ward (apud Grisso, 1986, p. 105; Cunha, J. A., 2000, p. 19), uma questão a responder. Lembremos que a Psicologia funciona por meio da busca de uma resposta a uma pergunta específica (Qual é a inteligência do fulano? por exemplo). II) Em relação ao objetivo: será dado pela demanda que é feita ao psicólogo em sua avaliação. Por exemplo, em casos de disputa de guarda em Vara de Família, recorrese ao perito psicólogo no intuito de buscar respostas a questõesproblemas de origem e natureza psicológicas, mas cujo objetivo final é definir o guardião legal da criança: Quem tem as melhores condições psicológicas para o exercício da guarda? A resolução do problema que a avaliação psicológica visa sempre recairá sobre um sujeito (Shine, 2003). A abordagem da Psicologia se caracteriza, então, pela dimensão intersubjetiva; em última instância o objeto da Psicologia é sempre pertinente ao sujeito. Portanto, toda a questão técnicaimplica, necessariamente, em uma posição ética em relação ao sujeito-objeto da avaliação e ao demandante dela. Sujeito-objeto: quem vai ser avaliado. Demandante: quem solicita a avaliação. A partir das distinções acima, apresenta exemplos em que se configuram as diferenças entre a atuação do Psicólogo no enquadre clínico e no enquadre jurídico e os tipos de problemas que tendem a surgir neste campo. ● Resolução CFP Nº 008/10 - Dispõe sobre a atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no Poder Judiciário. ● Resolução CFP Nº 010/10 - Institui a regulamentação da Escuta Psicológica de Crianças e Adolescentes envolvidos em situação de violência, na Rede de Proteção. [SUSPENSA] • Resolução CFP nº 017/12 - Dispõe sobre a atuação do psicólogo como Perito nos diversos contextos. PERÍCIA CIVIL Especificamente, no caso da atuação dos psicólogos na área da justiça, o Código de Processo Civil traz importantes questões que, felizmente, têm mobilizado discussões nos órgãos da classe. Como inovação temos o artigo 156 que diz que o juiz será, e enfatizo — será —, assistido por perito quando a prova ou fato depender de conhecimento técnico ou científico. Uma devida valorização do conhecimento próprio ao psicólogo nas demandas que envolvem questões de família. Podem ser nomeados peritos os profissionais legalmente habilitados e, como inovação, os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. Caberá aos tribunais a avaliação para manutenção do cadastro. Avaliação cujos critérios, acredito, devam necessariamente ser objeto de discussão com as respectivas categorias profissionais. O artigo 464 define a prova pericial como exame, vistoria ou avaliação. Ademais desta função, é preciso dizer que o trabalho realizado pelos psicólogos muitas vezes tem, além da perícia, um caráter de intervenção. Está guarda uma relação, mas que não se confunde, com a mediação e a conciliação. Institutos que têm enquadramentos específicos e profissionais não necessariamente formados em psicologia. Assim, no âmbito das perícias podem ocorrer intervenções com o uso de técnicas próprias à psicologia, e que em muito contribuem para a elaboração dos conflitos e solução dos litígios. Para citar algumas: a conscientização do significado e das consequências das disputas, sobretudo, para os filhos; mediação das relações com o fortalecimento dos vínculos; a prevenção de transtornos psíquicos ou de seu agravamento; acompanhamento da situação objeto do litígio; recomendação de psicoterapias específicas às situações analisadas. No parágrafo 2º consta que o juiz poderá determinar a produção de prova técnica simplificada, com a inquirição de especialista, quando o ponto controvertido for de menor complexidade. Uma inovação cuja definição a priori é um tanto difícil quando se trata de questões inerentes à avaliação psicológica, uma vez que, em geral, é no curso da perícia que a complexidade pode ser avaliada. Mas a prática o dirá. Como também a experiência indicará, acredito, a necessidade da presença de assistente técnico na inquirição de especialista. Mas é o artigo 466 que traz importante controvérsia quanto ao concurso do assistente técnico no campo da psicologia. Diz o parágrafo 2º: “O perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso e o acompanhamento das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, comprovada nos autos, com antecedência mínima de cinco dias”. Já a resolução 008/2010 do Conselho Federal de Psicologia que trata a respeito da atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no Poder Judiciário, aponta que os assistentes técnicos são de confiança da parte para assessorá-lá e, sublinho, garantir o direito ao contraditório. No entanto, observo que no Capítulo I – Realização da Perícia, o artigo 1º diz que “o psicólogo perito e o psicólogo assistente técnico devem evitar qualquer tipo de interferência durante a avaliação que possa prejudicar o princípio da autonomia teórico-técnica e ético-profissional, e que possa constranger o periciando durante o atendimento”. E diz o artigo 2º: “O psicólogo assistente técnico não deve estar presente durante a realização dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do psicólogo perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e qualidade do serviço realizado” (grifos meus). Certo é que não há de se questionar a hierarquia das normas. No entanto, cabem algumas considerações e, quiçá, a ponderação de princípios para que a diferença entre o CPC e a referida resolução seja devidamente sopesada. Minha experiência como perita e como assistente técnica recomendam cautela e amadurecimento quanto a esta questão, e que deve ser considerada caso a caso. E com este caráter faço as considerações a seguir. Há uma característica da avaliação psicológica que implica na exploração de questões da intimidade, e a exposição de aspectos muitas vezes desconhecidos e mesmo negados, inclusive inconscientemente. Cuida-se aqui da preservação da intimidade e mesmo de questões de dignidade. O vínculo com o perito, sem a presença de assistentes técnicos, poderia gerar uma relação de maior confiança, menor constrangimento e terreno fértil para uma possível intervenção do perito e resolução do litígio. E é certo que pode ser mais constrangedor que a avaliação se dê na presença de assistentes técnicos. Estas são algumas razões pelas quais as perícias psicológicas não deveriam ser acompanhadas pelos assistentes técnicos. Mas, por outro lado, a presença dos assistentes também poderia, por exemplo, trazer maior segurança pessoal aos assistidos, inibir a tentativa de manipulação do perito, efetivamente colaborar com este na avaliação de questões prenhes de subjetividade, além de possibilidade de acompanhar e, se for o caso, criticar a produção da prova. Pondero que, neste último aspecto, o novo código traz algumas salvaguardas, especificando no artigo 473 o que o laudo pericial deverá conter, garantindo-lhes melhor qualidade e possibilidade de crítica (exposição do objeto da perícia; análise técnica ou científica realizada pelo perito; indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; resposta conclusiva a todos os quesitos). Mas é certo que sem o acesso às entrevistas, o trabalho do assistente técnico é dificultado e muitas vezes chega a ser cerceado pela falta de acesso às partes, ficando muitas vezes sua credibilidade diminuída. Do meu ponto de vista, tal situação corrobora para que, muitas vezes, os laudos críticos se assemelham mais a uma defesa das partes, com considerações indevidas e coibidas pela ética dos psicólogos, em vez de serem trabalhos de compreensão da dinâmica psicológica que se encontra em jogo no litígio em exame. O resultado pode ser, então, uma descabida parcialidade, do ponto de vista da psicologia. Apontoa indevida parcialidade porque no campo de análise da psicologia as relações devem ser vistas como necessariamente complementares, envolvendo aspectos conscientes e inconscientes. Ou seja, não cabe uma visão maniqueísta e excludente de certo ou errado, ou mesmo de são ou doente, assim como não cabe a mera defesa de uma parte em detrimento da outra. Tal postura de assistentes técnicos pode trazer sérios prejuízos à dinâmica familiar e resolução dos litígios. E, finalmente, quanto ao acompanhamento das entrevistas, quase desnecessário seria dizer que todo o cuidado é pouco quando se cuidam de avaliações que envolvam crianças e adolescentes, vulneráveis que são aos traumas e sua repetição que pode se dar com as avaliações. Finalmente, como inovações expressas, temos ainda, o artigo 471 parágrafo 3º, segundo o qual “a perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que seria realizada por perito nomeado pelo juiz”. E no artigo 472 consta que: “O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestação, apresentarem sobre as questões de fato, pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes”. Assim, ganham valor a escolha consensual e os pareceres e laudos prévios. As questões, confusões e discussões estão apenas em seu início, mas acredito ser um cenário promissor, com a valorização e o reconhecimento da importância do operador da saúde, caminhando ao lado da eficácia que deve pautar sua atuação, segundo a ética profissional, e em consonância com o novo Código de Processo Civil. De fato, as atividades da Perícia Criminal são definidas em norma que altera a Lei Orgânica da Polícia Civil,Lei Complementar de nº 113/2010, no seu Anexo V, da seguinte maneira: “IV.3 - Perito Criminal: a) a realização de exames e análises, no âmbito da criminalística, relacionados à física, química, biologia legal e demais áreas do conhecimento científico e tecnológico; b) a análise de documentos, objetos e locais de crime de qualquer natureza para apurar evidências ou colher vestígios, ou em laboratórios, visando a fornecer elementos esclarecedores para a instrução de inquérito policial, procedimentos administrativos ou processos judiciais criminais; c) a emissão de laudos periciais para determinação da identificação criminal por meio da datiloscopia, quiroscopia, podoscopia ou outras técnicas, com a finalidade de instruir procedimentos e formar elementos indicativos de autoria de infrações penais; d) o cumprimento de requisições periciais pertinentes às investigações criminais e ao exercício da polícia judiciária, no que se refere à aplicação de conhecimentos oriundos da criminalística, com a elaboração e a sistematização dos correspondentes laudos periciais para a viabilização de provas objetivas que subsidiem a apuração de infrações penais e administrativas; e) o exame de elementos materiais existentes em locais de crime, com prioridade de análise, a orientação para abordagem física correspondente e a interação com os demais integrantes da equipe investigativa; f) a constatação da idoneidade e da inviolabilidade de local, bens e objetos submetidos a exame pericial, sob a garantia da autonomia funcional, técnica e científica a ser assegurada pelo Delegado de Polícia.” Como se pode facilmente perceber, todas as alíneas acima, constitutivas da finalidade da Polícia Técnica, se referem a investigação policial, infrações penais e processos criminais, não lhes incumbindo por lei, nada que extrapole essa específica seara. Além disso, a regra do artigo 434 do CPC, que possibilita ao magistrado requisitar técnicos de estabelecimentos oficiais, não pode ser entendida como de validade absoluta, posto que relativizada no seu próprio texto com a expressão “de preferência” e também tem que ser interpretada de forma sistemática, considerando-se o universo administrativo onde deve/pode ser aplicada. PSICOLOGIA DA POLÍCIA ● Psicologia aplicada à investigação criminal – nome corrente nas instâncias policiais para o uso da psicologia, psiquiatria e ciências afins para o auxílio às forças policiais na persecução penal. ● Em geral está na Polícia Científica ou Civil ● Incipiente no Brasil No caso dos estudos em Psicologia sobre o processo investigativo, vale lembrar que o saber psicológico clássico esteve relacionado a uma concepção patologizante, individualizante e causal dos processos interacionais (Martins, 2008). Torna-se preocupante a reprodução da lógica positivista no campo de estudos em Psicologia, visto que fornece subsídios ao campo jurídico e policial para validar práticas do Estado que costumam desconsiderar aspectos sociais, contextos culturais e atravessamentos nos modos de subjetivação de pessoas que se encontram inseridas num processo de violência (Brizola, & Zanella, 2015). Percebem-se práticas hegemônicas em Psicologia a compartilhar interesses e finalidades semelhantes com as do Direito Penal, a exercer uma variada gama de opressões junto a sociedade. Desta correlação surgem dificuldades teórico-metodológicas sobre o campo da Psicologia em interface com a justiça. Torna-se notória a existência de uma ampla relação entre Psicologia e Segurança Pública, principalmente quando a intersecção entre ambas as áreas se debruça sobre a assistência aos processos de violência. Assim, um olhar ampliado sobre esse tema torna-se fundamental, de forma que a ciência psicológica não naturaliza a violência e venha a superar a relação dicotômica de vítima e agressor e contribuindo com um viés sistêmico à análise do fenômeno (Nobrega, Gerlach, Oliveira, Bortoluci, & Beiras, 2017). Mesmo considerando que o processo de investigação policial demanda um trabalho sob olhar de diferentes profissionais, este artigo aprofundará o âmbito do cargo de psicólogo policial, buscando identificar as potencialidades de atuação da Psicologia na polícia civil especificamente, atrelado a um paradigma social crítico jurídico. Busca-se diretamente identificar quais seriam as possíveis formas de realizar um atendimento sócio jurídico crítico pela Psicologia no contexto destas delegacias, tendo por norteadores os conceitos de violência e feminismos. Em outras palavras, este relato de experiência atrelada à DPCAMI possui a proposta de identificar formas de atuação da psicologia policial em consonância com os pressupostos de uma Psicologia Social Jurídica, enquanto promove justiça e cidadania sob o enfoque do compromisso social e dos direitos humanos, em realidades permeadas por violências e machismos. Foi para garantir a sobrevivência que o homem se organizou em grupos. Essa necessidade de segurança, de acordo com Marcineiro e Pacheco (2005), representou uma das causas mais importantes para o agrupamento social apresentado nos diversos momentos pelos quais a humanidade já vivenciou. “Ao longo dos anos, com a evolução dos valores morais da sociedade, é possível constatar que houve também a evolução da ideologia que norteia as ações das Polícias.” (MARCINEIRO; PACHECO, 2005, p. 58)
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