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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 1 AULA 12 Profª. Priscila Lima 28 DE JUNHO DE 2021 Nesta aula estudaremos as relações políticas, econômicas e socias no campo UNESP Exasiu Exasiu ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 2 Sumário INTRODUÇÃO 3 PEQUENO PASSEIO HISTÓRICO 4 CONCEITOS IMPORTANTES: SISTEMAS DE PRODUÇÃO 6 REVOLUÇÃO VERDE 10 ORGANISMO GENETICAMENTE MODIFICADO (OGM) 11 AGRICULTURA ALTERNATIVA 12 PECUÁRIA 13 PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA: MUNDO 14 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA 16 EUROPA 16 ISRAEL E O VALE DO JORDÃO 17 CHINA 17 BRASIL: CENÁRIO GERAL 18 A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA 20 PRODUÇÃO AGRÁRIA E A ECONOMIA GLOBAL 22 ÊXODO RURAL 25 BRASIL: DINÂMICAS TERRITORIAIS DA ECONOMIA RURAL 26 AGRONEGÓCIO E A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA 31 SOJA 33 PECUÁRIA DE CORTE 38 EXPORTAÇÕES E O PREÇO DOS ALIMENTOS 41 QUESTÃO FUNDIÁRIA NO BRASIL 42 AS RESISTÊNCIAS NO CAMPO 45 CONHECENDO SUA BANCA 46 GABARITO 50 CONHECENDO SUA BANCA - COMENTÁRIOS 50 QUESTÕES DE PROVAS ANTERIORES 56 GABARITO 70 QUESTÕES DE PROVAS ANTERIORES COMENTADAS 70 CONSIDERAÇÕES FINAIS 95 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 95 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 3 INTRODUÇÃO Na aulas anteriores... Após as aulas de Cartografia e Geografia Física, começamos a entender as dinâmica econômicas, políticas e sociais oriundas da relação desarmônica entre o ser humano e a natureza. Para tanto, entendemos o cenário mundial ao estudarmos Globalização e Geopolítica, e, em seguida vimos como o ser humano passou a produzir (industrialização) e consequentemente alterar o seu espaço (urbanização) criando padrões demográficos (população). E quais os novos passos? Nesta aula... Nosso objetivo nesta aula é entender a importância da agropecuária desde a formação da sociedade até as atividades econômicas mais complexas que se desenham no mundo atual. Aqui estudaremos: ▪ A evolução histórica da produção agropecuária; ▪ Conceitos e sistemas de produção típicos da agricultura e da pecuária; ▪ A capitalização da produção agrária e consequente industrialização no campo; ▪ A Revolução Verde e formas alternativas de produção; ▪ A produção agrária em alguns países que se destacam; ▪ A evolução histórica e a importância econômica da agropecuária no Brasil; e por fim ▪ A questão fundiária brasileira. Muito carinho e atenção com esta aula! Trataremos de muitos temas recorrentes em provas e de vários conceitos que podem ser utilizados em redações a depender da proposta. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 4 PEQUENO PASSEIO HISTÓRICO A dependência da coleta e da caça fez do homo sapiens um ser nômade durante muito tempo, o que entrou em declínio com a Revolução Agrícola (Revolução Neolítica), que pode ser analisada também como um ponto de partida para a formação de uma sociedade mais complexa: O desenvolvimento da agricultura possibilitou o sedentarismo e por consequência o aumento da complexidade social, ou seja, a vida em sociedade Quando você estuda a Antiguidade lá em História, se depara uma tal de Mesopotâmia, ou seja, as entre rios – no caso entre o Tigre e o Eufrates -, e é ali que tivemos o início de uma configuração de sociedade. Mas por que isso foi possível? Bom, entre tantos outros fatores, podemos definir a Revolução Agrícola como uma das principais, afinal, quando o ser humano passou a cultivar o seu próprio alimento, a necessidade de ser nômade diminuiu e a sedentarização facilitou o convívio entre mais pessoas, aumentando a complexidade das relações. No Crescente Fértil (atual porção do Oriente Médio: entre a Jordânia, Líbano, Síria, Egito, Israel, Palestina, Irã, Iraque e parte da Turquia) havia cevada e trigo. Além disso, em virtude dos alimentos e da água dos rios, a população começou a domesticar animais, tais como ovinos, suínos e bovinos. Animais selvagens passaram a ser domesticados para fornecer carne, leite, couro, lã e serviam como tração para arar a terra. Com o passar do tempo, outras civilizações como a chinesa, a japonesa, a inca e a maia começaram a utilizar técnicas de irrigação e adubação. Figura 02 – Crescente Fértil Figura 01 – Mesopotâmia ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 5 Entretanto, tal Revolução também trouxe impactos negativos, entre os principais é a diminuição na variedade de alimentos consumidos (tendência essa que se intensifica com o passar do tempo). Pense aqui comigo: se antes de dominar práticas agrícolas, o ser humano se alimentava com aquilo que encontrava no seu caminho (e esse “caminho” não costumava ser o mesmo todos os dias, né? Dependia muito da estação e condições climáticas), o padrão não era comer a mesma coisa sempre, mas com a sedentarização, passou-se a consumir principalmente o que era produzido ali (que não mudaria do dia para a noite). Durante a Idade Média, a terra era considerada uma fonte de poder, mas é claro que o solo pelo solo não significaria tanto se não houvesse um uso, não é? Por isso, foi com a decadência do feudalismo e ascensão do Capitalismo que as relações no campo ganharam novos rumos, afinal, nesse momento a terra passava a ser uma propriedade privada e os processos de modernização se tornaram mais intensos. Sendo assim, a partir do século XVIII, durante a I Revolução Industrial, houve um aperfeiçoamento das técnicas agropecuárias graças à utilização de instrumentos feitos de aço e a máquina a vapor. Entretanto, a mudança radical ocorreu somente na segunda metade do século XX, com a Revolução Verde (II Revolução Agrícola), implantando máquinas (tratores, plantadeiras, colheitadeiras etc.), produtos químicos (adubos, fertilizantes, agrotóxicos, entre outros) e técnicas de irrigação para auxiliar a agricultura, fazendo com que a produtividade aumentasse. Apesar dos avanços tecnológicos, a qualidade pedológica e as condições climáticas são determinantes para a produção de certos tipos de culturas. No geral, clima muito frio e/ou seco, pouca luminosidade e topografia muito acidentada não são propícios para a prática agropecuarista. A modernização da agricultura e da pecuária caracteriza-se pela intensidade do uso de insumos. Atualmente, a agropecuária está diretamente ligada ao setor secundário (indústria de laticínios, óleo vegetal, entre outras), terciário (comercialização nacional ou internacional, logística etc.) e quaternário (engenheiros agronômicos, laboratórios, centros de pesquisa etc.) da economia, fazendo com que a expressão agroindústria e agronegócio sejam muito utilizados. Poucas multinacionais atuam no agronegócio, formando um oligopólio, elas controlam desde o fornecimento de insumos até a venda e a distribuição da produção, podendo ainda prestar serviços pós- venda, como atendimento ao cliente. Dessa maneira, estabelecem o preço que quiserem, fazendo com “A Revolução Agrícola certamente aumentou o total de alimentos à disposição da humanidade, mas os alimentos extras não se traduziram em uma dieta melhor ou em mais lazer.” (HARARI, Yuri N. Sapiens: Uma breve história da humanidade. 2018) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 6 que os consumidores se tornem “reféns” e faz com que o pequeno produtor não tenha a muitas chances de competir nesse mercado. Essas multinacionais também dominam a tecnologia no campo, utilizando agricultura de precisão (uso dos satélites para auxiliar a produção, seja na meteorologia, reconhecimento do terreno etc.), colheitadeiras informatizadas que possuem GPS, ordenhadeiras mecânicas, adubação e plantio automatizados,irrigações programadas, aceleradores químicos, aplicação de pesticida por meio do avião ou drone, entre outras técnicas. Vale destacar que atualmente a produção agropecuária possui cotação na bolsa de valores. Assim, algumas sementes podem ser chamadas de commodities. Hoje, cerca de 15% do solo mundial é utilizado pela agropecuária, mas essa distribuição não é igualitária. Figura 03 – O espaço agropecuário mundial CONCEITOS IMPORTANTES: SISTEMAS DE PRODUÇÃO O sistema agrícola é a forma ou modelo de produção agropecuária praticado em determinada propriedade rural, depende de capital, terra e trabalho. Esse modelo permitirá a construção de arranjos produtivos. Os sistemas agrícolas podem ser: • Tradicionais: técnicas simples, com baixo nível de exploração da terra e pouca produtividade ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 7 minifúndios, policultura, produção voltada para subsistência e sistemas extensivos. • Modernos: tecnologia avançada e mão de obra qualificada (agrônomos, veterinários etc). Latifúndios, mecanização, produção em larga escala, relação com o mercado financeiro, maior integração entre agricultura e pecuária (complexos com cadeias produtivas robustas). sistemas intensivos A seguir, serão descritos alguns sistemas de produção: ▪ Agricultura tradicional de subsistência: a principal característica é o minifúndio e a produção familiar voltada para consumo próprio (subsistência). O excedente, ou seja, a parcela da produção não consumida, é vendido nos mercados locais. As técnicas utilizadas são rudimentares e práticas agrícolas não visam a conservação ambiental. ▪ Agricultura itinerante: também conhecida como roça no Brasil. A mão de obra empregada é familiar e usa técnicas rudimentares. Essas práticas degradam o solo e comprometem a fertilidade com o passar dos anos e, por isso, o agricultor abandona a região e busca uma nova área para plantar, daí o nome itinerante; ▪ Plantation: introduzido por europeus e praticado durante a colonização na América, África e Ásia latifúndio + monocultura + mão de obra barata + foco no mercado externo (exportação) A plantation, na contemporaneidade, está presente em países da América Latina, Ásia e África, os gêneros mais cultivados são café, cana-de-açúcar, chá, algodão, fumo e borracha; Agricultura Extensiva • Uso de "queimadas" • Esgotamento dos solos • Desmatamento • Rotação de terras • Produção familiar • Mão de obra não qualificada Agricultura Intensiva • Uso permanente do solo • Rotação de culturas • Uso de fertilizantes químicos • Seleção de sementes • Mecanização • Grande Rendimento • Mão de obra qualificada ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 8 ▪ Agricultura de jardinagem: esse modelo é mais difundido na Ásia, especialmente no cultivo de arroz (rizicultura). É um sistema de produção agrícola intensivo, praticado em médias e pequenas propriedades com mão de obra familiar ou comunal. Essas lavouras ocorrem em áreas densamente povoadas e o espaço é aproveitado ao máximo. Um exemplo são as regiões montanhosas que são praticadas o terraceamento (técnica de construção de terraços aplainados em degraus e em curvas de nível que protegem o solo da ação erosiva das chuvas) e em planícies inundáveis são feitos canais de irrigação. ▪ Pastoreio nômade (transumante): pecuária tradicional de regiões áridas e semiáridas. Destaque: Sahel (borda sul do deserto do Saara), Oriente Médio e Ásia Central. As criações que são mais utilizadas nesse sistema são rebanhos de ovelhas, cabras, camelos e vacas. É uma agricultura extensiva, de subsistência e com excedente destinado ao mercado; ▪ Agricultura Comercial (Patronal): Aplicada em vastas propriedades (latifúndio), quando intensiva, usa moderno maquinário agrícola, biotecnologia voltada ao campo, mão de obra qualificada e diversos tipos de insumos (produção em larga escala). Em países subdesenvolvidos, geralmente a produção é direcionada ao mercado externo. Já a agricultura comercial extensiva é caracterizada por técnicas de produção tradicionais e de baixa mecanização, onde a mão de obra humana é predominante e o investimento financeiro é baixo; ▪ Agricultura Orgânica: a agricultura orgânica dispensa o uso de produtos químicos no cultivo, usufruindo apenas dos próprios insumos naturais para a produção — ou seja, são dois sistemas alternativos que priorizam a sustentabilidade na produção de alimentos. Além desses sistemas de produção agrícola, temos as práticas adotadas: • Rotação de Culturas: a rotação de culturas é uma técnica que consiste em alternar as espécies vegetais cultivadas para um efeito positivo no solo. As espécies alternadas devem possuir sistemas radiculares diferentes (gênero que tenha uma raiz diferente do anterior). As leguminosas são ideais para esse processo, pois a raiz dessa espécie contém bactérias fixadoras de nitrogênio, fazendo uma adubação natural do solo, repondo nutrientes; • Agricultura em curva de nível: nessa técnica, a semeadura é feita sobre as linhas que ligam pontos de mesma altimetria. Estabelece-se, assim, fileiras de plantas que permitem que a água escorra mais lentamente, o que preserva o solo; Figura 04 – Agricultura feita nos degraus (terraceamento) em Machu Pichu, Peru - Fonte: TAKAMI, Saulo Teruo ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 9 • Afolhamento: o terreno é dividido em três partes. Enquanto duas partes são cultivadas, a terceira permanece em repouso (por um ou dois anos) para que as partes retiradas com as sucessivas colheitas sejam recuperadas; • Coivara: é uma técnica rudimentar que consiste em atirar fogo nos galhos para fazer com que as cinzas sirvam de adubo, utilizada por indígenas, caiçaras e comunidades quilombolas. Queimadas são prejudiciais para a vegetação, mas as cinzas podem nutrir o solo • Pousio Agrícola: essa é uma técnica que consiste em repousar a terra, durante a entressafra o solo descansa para recompor os nutrientes que perdeu. É uma prática que respeita as condições naturais e impede o desgaste do solo; • Sequeiro: é uma forma de cultivo que realiza o plantio durante o período de chuvas, é arriscado pois podem ocorrer fases de estiagem durante o desenvolvimento da safra e comprometer a qualidade. Essa técnica é empregada em locais de baixa pluviosidade; • Plantio Direto (solo não revolvido): não se utiliza as etapas convencionais de arar o solo. O benefício dessa técnica é a baixa degradação do solo e o rendimento das culturas, pois como o solo não é “preparado” como é feito no plantio convencional, cobre-se o solo por plantas em desenvolvimento e resíduos vegetais e essa cobertura gera uma proteção extra; • Plantio Convencional: o plantio convencional utiliza técnicas tradicionais de preparo do solo como remoção da vegetação nativa, aração, gradagem, semeadura, adubação mineral, capinas e controle fitossanitário (aplicação de defensivos agrícolas) para, somente depois, efetuar o plantio. Os trabalhadores rurais são classificados da seguinte forma: Pequenos proprietários: agricultura familiar com poucos empregados, atendem às necessidades da própria família e abastece um pequeno mercado local; Ocupantes ou posseiros: apossam e se instalam, de forma ilegal, em terras desocupadas, praticando uma agricultura de subsistência; Parceiros: são trabalhadores rurais que trabalham em terras de terceiros, com quem dividem a produção. Quando a divisão é de 50% são chamados de meeiros; Arrendatários: são trabalhadores rurais que pagam aluguel pelo uso da terra; Assalariados: há os permanentes e os temporários; Grileiro: falsificador de escritura ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 10 REVOLUÇÃO VERDE A Revolução Verde começou por volta de 1950 (apesar da expressãoter sido cunhada em 1966) em um contexto de discussão sobre o crescimento da população mundial, pois havia um medo do mundo passar por uma crise de fome. Esse intenso debate, que envolveu diversos países e a ONU mostrava uma preocupação com três tópicos: A modernização das práticas agrícolas introduzidas pela Revolução Verde consistia na utilização de adubos químicos, inseticidas, herbicidas, sementes híbridas e mecanização das etapas de preparação, cultivo e colheita. Esse pacote foi defendido como a solução para aumento da produtividade e os EUA, com ajuda financeira de grandes grupos econômicos, introduziu essas técnicas no México e, depois, em países asiáticos. Os resultados do México foram bem-sucedidos e o país, que antes importava trigo, passou a ser autossuficiente na produção (resultado crucial para adesão de outros países ao conjunto de técnicas propostas). Os recursos tecnológicos promoveram, realmente, um salto na produção mundial de alimentos, mas os resultados da Revolução Verde são questionados, pois a fome no mundo permanece. Claro que é comprovado a redução da fome e subnutrição nos países que implantaram as técnicas, entretanto, Por que nem todos os países implantaram? O que impediu, por exemplo, que a África participasse da revolução? A atual produção de alimentos é maior que a população do planeta e, mesmo assim, há países sofrendo com a fome e subnutrição enquanto outros desperdiçam a produção. A fome não se resume à disposição de alimentos, mas sim a questões políticas, sociais e econômicas (distribuição). PRODUÇÃO DE ALIMENTOS •A produção de alimentos não seria suficiente para acompanhar o crescimento populacional. •Somente o desenvolvimento de tecnologias permitiria um aumento da produção de alimentos REDUÇÃO DOS RECURSOS DISPONÍVEIS •O pacote tecnológico não poderia ser voltado somente para aumento da produção, era necessário desenvolver meios para lidar com o problema fundamental da economia: os recursos são finitos e escassos. AUMENTO DA POBREZA •Se não fosse feito algo sobre o crescimento populacional e a produção de alimentos, o mundo viveria uma crise de miséria e fome. O discurso da Revolução Verde pode ser visto como uma forma de expansão dos negócios de empresas multinacionais do setor agrícola dos EUA? Pense e formule uma argumentação sobre isso ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 11 Outras críticas foram tecidas à Revolução Verde, dentre elas, o espaço perdido pelos pequenos e médios proprietários que não conseguiram se manter competitivos e ocorreu um movimento de concentração fundiária. Do ponto de vista ambiental, a Revolução Verde trouxe os impactos negativos como a proliferação de pragas que se tornam cada vez mais resistentes aos agrotóxicos, contaminação do solo e das águas pelos fertilizantes e adubos químicos, esgotamento do solo pelo uso de máquinas pesadas e contaminação residual dos alimentos pelo excesso de adubos químicos e agrotóxicos. Consequências da Revolução Verde ● Aumento da produção e redução dos preços; ● Desemprego estrutural no campo e aumento do êxodo rural; ● Aumento da concentração de terras ● Poluição de recursos hídricos e do solo (uso intenso: fungicidas, pesticidas e herbicidas) ORGANISMO GENETICAMENTE MODIFICADO (OGM) Decorrentes da Revolução Verde, os organismos geneticamente modificados (OGMs) podem ser definidos como organismos (isto é, plantas, animais ou microrganismos) nos quais o material genético (DNA) foi alterado de uma maneira que não ocorre naturalmente por acasalamento e/ou recombinação natural. Os alimentos produzidos que usam organismos geneticamente modificados são chamados de alimentos transgênicos. Pontos positivos dos transgênicos •Ampliação do conhecimento cientfífico e avanço de pesquisas genéticas. •Produção de alimentos mais nutritivos. •Maior resistência a pragas. •Redução do uso de agrotóxicos. •Redução dos custos de produção e, dessa forma, baratemaneto dos produtos. Pontos negativos dos transgênicos •Consequências de longo prazo para meio ambiente e saúde ainda não são totalmente compreendidas. •Contribui apenas para grandes produtos, os pequenos e médios não acessam a tecnologia com mesma facilidade. •Aumento dos casos de alergia nos alimentos. •Pode gerar insetos cada vez mais resistentes. •Possível perda de biodiversidade. •Surgimento de ervas daninhas mais resistentes. •Venda Casada: a mesma empresa que desenvolve o transgênico vende também o herbicida ao qual ele é resistente. Monocultura e o aumento de pragas Na policultura, há competitividade entre as espécies animais invasoras contribuindo para que não haja a disseminação de uma praga ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 12 Por um lado, os transgênicos eliminam pragas, se adaptam a diversos ambientes, os frutos são maiores, mais bonitos, mais saborosos e mais nutritivos. Por outro lado, eles causam perda da variabilidade genética (erosão genética) e, talvez, prejudique a saúde humana. Além disso, as sementes possuem um componente chamado terminator, que gera plantas estéreis, fazendo com que os agricultores dependam dos oligopólios para conseguir novas sementes para o próximo plantio. Apesar disso, o aumento da produtividade reduziu o preço dos produtos agrícolas. Entre os maiores produtores de OGM estão os EUA, o Brasil, a Argentina, a Índia e o Canadá. Esse setor do agronegócio movimenta bilhões de dólares, envolvendo poucas empresas (oligopólio), com destaque para a Bayer, Monsanto, Du Pont e Syngenta. O Protocolo de Cartagena, em vigor desde 2003, disciplina a movimentação, o manejo e a utilização dos OGMs, com o objetivo de evitar impactos ambientais negativos e controle sobre o comércio. No entanto, nem todos os países assinaram esse acordo internacional. AGRICULTURA ALTERNATIVA Esse é um modelo que visa minimizar os impactos ambientais e sociais com a diminuição dos agrotóxicos encontrados nos alimentos, através de uma harmonia com a natureza, logo usa-se adubos orgânicos como estercos, palhas, folhagens restos de vegetais; o controle biológico é feito por meio de predadores naturais como fungos, larvas, vespas e besouros. As propriedades que adotam a agricultura alternativa são pequenas e médias e, no geral, fazem o cultivo de várias espécies (policultura). Como exige um trabalho mais manual e menos mecanizado, são propriedades que promovem um aumento de oferta para trabalhadores rurais. No mundo, a maioria dos países pratica a agricultura orgânica sendo o Brasil um destaque nessa área, exportando para o Japão, os EUA e a União Europeia. O movimento da sociedade em prol do consumo de orgânicos tem contribuído para o crescimento desse mercado. Apesar do benefício ao bem-estar, os orgânicos são mais caros por causa do elevado custo para cultivar, haja vista que a produtividade é menor e a perda nas colheitas é maior. Vale ressaltar que essa produção não é livre de impactos ambientais negativos, eles são menores, mas existem. Além da agricultura orgânica, temos a agricultura biodinâmica que também não utiliza adubos químicos, agrotóxicos, OGM, antibiótico ou hormônio. A diferença é que essa faz o uso intensivo de técnicas geológicas, químicas e astronômicas que trabalham em conjunto. A permacultura é considerada uma ciência holística e de cunho socioambiental, que congrega o saber científico com o tradicional ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 13 popular e visa a nossa permanência como espécie na Terra. A agroecologia é uma forma de conhecimento que pretende superar os danos causados à biodiversidade e à sociedade como um todo pela prática da monocultura, do emprego dos transgênicos, dos fertilizantes industriais e dos agrotóxicos. PECUÁRIA A pecuária intensiva visa produzir (produzir seriao mesmo que criar) a maior quantidade de animais, no menor tempo e no menor espaço possível, utilizando um alto grau de tecnologia. Na pecuária extensiva o gado fica solto nos pastos e são criados sem muita tecnologia, se alimentando da vegetação rasteira (herbácea). Apesar de ser típico de países subdesenvolvidos, ela também ocorre em países desenvolvidos, como nas pradarias no Oeste dos EUA. Existe ainda a pecuária semiextensiva, durante os meses chuvosos, o rebanho é mantido nos pastos, na época da seca, o gado é recolhido e alimentado com ração e silagem (capim, milho, feno ou farelo de soja são alimentos consumidos por animais que serão abatidos). Os principais animais criados em nível mundial são os bovinos (bois e vacas), os suínos (porcos), os caprinos (bodes e cabras), os ovinos (ovelhas) e as aves (frango, peru, codorna etc.). Atenção! Gado (ou plantel) significa um conjunto de animais que foi criado pelo homem e não sinônimo de bovino: gado de corte (carnes serão comercializadas) e gado leiteiro (produção de leite). Não confunda extrativismo com pecuária. Ex: criar peixes para vender = pecuária / Pesca em alto-mar = extrativismo. Assim como, plantar e cortar é agricultura. Todavia, apenas cortar é extrativismo. Os ovinos fornecem carne, lã e leite, a produção concentra-se nas áreas de média latitude, com destaque para China, Austrália e Índia. Nas regiões mais remotas, a criação é bem rudimentar, feita por meio do pastoreiro, pessoas cuidam de grandes rebanhos, percorrendo enormes distâncias em busca de pastos. A criação de suínos propagou-se por vários continentes, uma vez que a carne é mais barata comparada com a bovina. No entanto, algumas religiões, como o Judaísmo, consideram imprópria para o consumo, uma vez que porco sempre está em contato com a sujeira, possibilitando que o consumidor contraia alguma doença. Estados Unidos, Brasil e China são os maiores produtores. A criação de frango também merece ser destacada por ser uma proteína mais saudável e mais barata comparada com a carne bovina. Estados Unidos, Brasil e China são os maiores produtores dessa carne branca. O Brasil é responsável por 20% da exportação mundial de carne bovina, atendendo mais de 180 países. O valor bruto da carne e do leite é estimado em R$ 70 bilhões por ano. O Pará responde por 39% ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 14 do rebanho nacional de búfalo. Essa criação encontra-se em expansão, uma vez que o leite possui mais gordura, assim o rendimento na fabricação dos derivados aumenta e a carne contém mais proteína e minerais e menos gordura. O nosso país lucra, aproximadamente, R$ 1 bilhão por ano com a exportação de carne suína. A produção anual de lã alcança 11 milhões de toneladas por ano. A ovinocultura leiteira apresenta potencial para a produção de queijos finos. Figura 05 – Participação dos principais rebanhos, em porcentagem, por região do Brasil, em 2013 Fonte: IBGE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA: MUNDO Atividades agropecuárias são importantes no comércio mundial, de 2000 a 2008, o comércio internacional de produtos agrícolas passou por uma forte expansão e, desde 2009, o crescimento tem sido mais lento. Os países emergentes são um grande destaque desse comércio internacional, pois o desenvolvimento econômico levou a um aumento da renda per capita e, consequentemente, aumento do consumo de diversos produtos, dentre eles, os gêneros alimentícios. Para as economias emergentes, a agricultura tem sido um excelente negócio, por exemplo, no caso do Brasil, o valor agregado da agricultura, por trabalhador, praticamente quadruplicou entre 2000 até 2015. No caso dos países mais atrasados no desenvolvimento econômico, a agricultura chega de 30 a 60 por cento do PIB (Produto Interno Bruto). ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 15 Há clara diferença entre a agricultura dos países mais desenvolvidos para os menos desenvolvidos, pois esses não conseguem investir em tecnologia agrícola, dependendo da produção mais condizentes com suas condições naturais, Os países mais pobres são caracterizados pela agricultura de plantation, dificuldade em armazenar (silos) a produção, falta de crédito, dependência tecnológica, custo elevado do transporte e maquinário agrícola antiquado, comprometendo a produtividade. Nos países desenvolvidos, a agropecuária é mais moderna e avançada tecnologicamente. Devido ao alto grau de mecanização, não emprega uma parcela tão grande da população quanto os países mais pobres. A produtividade (em médias e grandes propriedade) dos países desenvolvidos é alta para produção contemplar o mercado interno e externo. Devido à alta produtividade no setor agropecuário, os países desenvolvidos possuem a capacidade de afetar a cotação das commodities agrícolas no caso de uma perda de safra, por exemplo Figura 06 – Países com as maiores áreas agricultáveis, em hectare, no mundo Fonte: FAO Figura 08 – Percentual da População Empregada na Agropecuária Fonte: FAO Figura 07 – Percentual de terra agricultável por continente Fonte: FAO ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 16 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA A organização do espaço agrário dos países desenvolvidos difere bastante uns dos outros, nos EUA os cinturões agrícolas (belts) são famosos e especializados em determinado tipo de produção. Pode haver, nesses cinturões, o cultivo intercalado ou combinado de outras culturas e pecuária. As culturas produzidas nos belts têm origem históricas e práticas. O Sul produz algodão desde o século XIX, onde o clima é mais quente, o que também favorece o cultivo de frutas cítricas. A região que tem mais planícies, que é a central, é marcada pelo cultivo dos cereais como trigo e milho. O cinturão pecuário (criação extensiva de gado) do lado oeste, está localizado nessa área por causa das formações rochosas (ruim para a agricultura) e clima mais árido. Cabe destacar que em algumas áreas a criação é intensiva e em outras é semiextensiva. EUROPA Enquanto os EUA têm esses cinturões agrícolas especializados, a Europa é extremamente plural no que diz respeito a agricultura. Além disso, predomina pequenos e médios agricultores, mas não são Figura 09 – Cinturões Agrícolas dos EUA ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 17 familiares ou de subsistência, a produção é voltada para atender o mercado interno e externo entre as nações europeias. A França e a Alemanha adotaram o circuito curto (modo de comercialização dos produtos agrícolas que está associada a proximidade geográfica entre produtores e consumidores, sendo benéfico ao meio ambiente e apoia a economia local). Durante a União Soviética, a península balcânica e Rússia, tinham os Kolkozes, fazendas comunitárias, nas quais as famílias trabalhavam e destinavam parte da produção ao Estado e os Solvkozes, fazendas estatais, ou seja, os trabalhadores eram empregados do Estado como em qualquer atividade econômica existente. Leste da Europa: solo Tchernoziom, que é um solo extremamente fértil O Sul da Europa, que recebe influência do Mar Mediterrâneo e está mais próximo do Trópico de Câncer e o clima da região é mais seco e quente, apresentando uma produção voltada para vinhos e azeite, mas também há cultivo de trigo adaptado. A região Norte é próxima ou está no Círculo Polar Ártico e, por isso, é uma região predominantemente fria e com poucos meses disponíveis para agricultura, em torno de três a quatro meses. Política Agrícola Comum (PAC) Europeia: visa assegurar o abastecimento de alimentos, valorizar os recursos naturais, criar de um mercado único para os produtos (livre circulação), tarifar os produtos importados, subsidiar (financiar), entre outras medidas. ISRAEL E O VALE DO JORDÃO Em Israel,as condições áridas forçaram desenvolvimento de uma irrigação com baixíssimos desperdício, conhecida como gotejamento, isto é, o alimento recebe gotas d’água necessária para crescer. Além disso, esse país do Oriente Médio é marcado pelo Moshav (cooperativas privadas) e Kibutz (o lucro da produção é dividido igualmente entre os membros da comunidade). CHINA Mao Tsé-Tung achava que a velha tradição da produção familiar no campo chinês era um obstáculo para o aumento da produtividade. A saída seria acabar com o esquema vigente até então, criando grandes colônias agrícolas nas quais não havia separação dos trabalhadores. Eram as comunas populares. Lá viviam de 10 a 15 mil pessoas. Além de praticarem agricultura e pecuária, essas fazendas possuíam pequenos ambulatórios, escolas, fábricas de sapatos e de confecções. A China responde por 33% de toda a produção mundial de arroz. O que coloca o país como o maior produtor. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 18 BRASIL: CENÁRIO GERAL Pensando a espacialização geral da agricultura no Brasil, Milton Santos, definiu no início dos anos 2000 três grandes complexos, mas como o dinamismo da produção agropecuária é considerável, algumas alterações já se desenham: • Economia extrativista e agricultura de subsistência (destaque: Amazônia): definido por Milton Santos como uma região de predomínio do meio natural, logo destaca-se a extração de madeira, cupuaçu, açaí, látex, pesca etc. e a agricultura de subsistência com forte influência indígena. Hoje vivenciamos uma expansão da fronteira agrícola em direção à Amazônia. Tal movimento teve início com a pecuária, mas hoje já podemos destacar a produção de grãos, com destaque para a soja. Figura 10 – Cinturões Agrícolas dos EUA ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 19 • Agropecuária extensiva (destaque: Nordeste e parte do Pantanal): para além do padrão extensivo já abordado anteriormente (baixa tecnologia e produtividade), destaca-se algumas ilhas de modernidade como a fruticultura irrigada no São Francisco, a sojicultura no Oeste baiano e a Zona da Mata com focos de desenvolvimento; e, também a agricultura familiar no Agreste (e em alguns pontos do Sertão). • Agropecuária intensiva: (destaque: Centro-Sul): a aplicação da ciência com o objetivo de melhorar as técnicas com um alto fluxo de informação (meio técnico-científico informacional) possibilitou uma maior produtividade, criando os complexos agroindustriais. O setor agropecuário esteve presente na história econômica brasileira desde o seu início, já que a chegada dos colonizadores (e consequente ingresso na Divisão Internacional do Trabalho) impôs a transição de uma produção de subsistência para uma economia agroexportadora. *A somatória totalizou 99% porque o IBGGE considerou apenas umas casa após a vírgula ** Naturais:10,9%; plantadas:1,0%; plantadas com lavouras ou pastagens associadas: 1,6% Entretanto, a produção agrária/pecuária colonial é diferente dos modelos que temos em expansão no Brasil atual, onde a cadeia de produção se tornou mais complexa e envolta de aparatos tecnológicos desenvolvidos para aumentar a produtividade. Pastagens 18,60% Matas no interior dos estabelecimentos** 13,50% Lavouras 7,40% Outros usos no interior dos establecimentos 1,50% Formações vegetais, áreas urbanas, represas etc. 58,90% Brasil: uso da terra* - 2017 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 20 A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA "O campo brasileiro foi dominado pela grande propriedade ao longo da História. Entre as década de 1950 e 1980, a monocultura e a mecanização foram estimuladas e consideradas modelo de desenvolvimento e crescimento econômico em sucessivos governos. Enquanto isso a agricultura familiar ficou relegada a segundo plano na formulação de políticas agrícolas” (SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil. 6ª Edição. Volume Único. São Paulo: Ática, 2018.p. 663) A economia brasileira esteve atrelada à produção agrária desde colonização. Destacamos também que boa parte da história do nosso país foi construída sob um modelo agroexportador, entretanto, com a modernização econômica, a agropecuária foi subordinada às necessidades do capital urbano- industrial. Dessa maneira, se antes da Revolução Verde o campo, em tese, se limitava à produtos primários, hoje ele também é responsável pelo beneficiamento (setor secundário) e, por vezes, pelo comércio (setor terciário). Isso garante, por um lado, a redução dos custos e aumento dos lucros, mas também um desemprego estrutural e a criação de monopólios nos campo (o que intensifica o êxodo rural). Então, na prática nós tínhamos uma produção no espaço rural limitada ao plantio ou à pecuária. Os “resultados” eram encaminhados para os centros urbanos, onde as indústrias se concentravam, e ali passavam pelo beneficiamento (processo de transformação). Entretanto, esse modelo exigia um tempo maior, uma vez que vários deslocamentos eram feitos. Com a ascensão dos complexos agroindustriais (que nada mais é do que a conjunção de setores, ou seja, no mesmo espaço é feita a atividade primária e secundária), o campo passou a ser o local da produção da matéria-prima e também das transformações, além das especulações, uma vez que o capital financeiro também se fez presente e estabeleceu a lógica de commodities. "Os velhos complexos rurais do modelo agroexportador foram substituídos pelos complexos agroindustriais, fortemente integrados com a indústria e o como setor financeiro. Os complexos agroindustriais organizam-se em cadeias produtivas que envolvem, além do plantio e da colheita, o beneficiamento e a distribuição do produto” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 316) COMMODITIES Que em inglês significa “mercadorias”, são produtos em estado bruto (geralmente agrícolas e minerais) de qualidade uniforme e produção em larga escala cujos preços são determinados pela oferta/procura no mercado mundial (MAGNOLI, Demétrio. 2012. P. 274) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 21 Exemplo: muitos canaviais contam maquinário que transformam essa cultura em etanol. Então o que passa a ser vendido pelo produtor rural não é apenas a matéria-prima, mas também o produto final. "as modernas propriedades rurais passam a integrar cadeias produtivas extremamente complexas, que envolvem uma rede de estabelecimentos, como cooperativas, indústrias e centro de distribuição. Assim, a matéria-prima animal ou vegetal transforma-se em produtos de maior valor agregado.” (TERRA, Lygia; ARAÚJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: estudos de Geografia Geral e do Brasil. 3ª Edição. Moderna Plus – volume único, contendo as partes I, II e III. São Paulo: Moderna, 2015.p. 253) COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS (...) fazendas onde se obtém a produção e os agronegócios, que envolvem todas as atividades primárias, secundárias e terciárias que fazem parte da cadeia produtiva (SENE, Eustáquio, 2018, p. 650) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 22 Esse é um cenário que o professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira chama de industrialização da agricultura, que segundo ele, aumenta as possibilidades de concentração de terras (que no Brasil já era uma realidade de cunho histórico – desde a colonização e as capitanias hereditárias). "A modernização da agricultura manifestou-se pela contínua intensificação do capital empregado na produção rural, sob a forma de máquinas, fertilizantes, defensivos, sementes selecionadas, irrigação, serviços veterinários e meteorológicos e assessoria financeira. Em consequênciaocorreu a expansão permanente da produtividade do trabalho e da terra. O êxodo rural representa um dos efeitos desse processo.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 316) PRODUÇÃO AGRÁRIA E A ECONOMIA GLOBAL "Os produtos da agricultura ocupam posição estratégica na inserção do Brasil na economia globalizada. Atualmente, o Brasil é uma grande potência agrícola (...) e figura entre os principais exportadores de uma série de commodities agrícolas. Soja, açúcar e álcool, carnes, celulose, café e fumo estão entre os principais produtos de exportação do país.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 317 e 318) Quando o Brasil (e outros países emergentes) passam a integrar um cenário global onde os avanços tecnológicos possibilitaram o aumento da produção, entretanto, quanto maior a oferta, o preço tende a cair. Nesse sentido, qual é a melhor alternativa para a manutenção de lucros elevados? Bom, se o preço é baixo, o volume exportado deve ser maior. Conseguiu acompanhar o raciocínio? É necessário vender muito e para isso: produzir muito É nesse momento que é importante destacarmos o conceito de produtividade, ou seja, produzir o máximo possível utilizando o menor número de terras (mas isso não significa que há uma redução na concentração de terra, ok?) . Vamos desenhar? Situação A Situação B Produção: 10 000 ton Produção: 10 000 ton ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 23 "A agricultura moderna está submetida à lógica do mercado, que exige o contínuo aumento da produtividade. Os produtores devem utilizar cultivares de alto rendimento, que geralmente dependem da aplicação de grandes quantidades de pesticidas e herbicidas produzidas pela indústria química.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 317 e 318) Note que a produção é a mesma, entretanto, na situação A o espaço necessário foi menor, isso indica que as técnicas aplicadas foram mais intensas. E o que torna uma prática com uma maior produtividade? Modificações nas sementes, melhoramento do solo, uso de maquinários e diversos insumos químicos, entretanto, é muito importante destacar aqui o uso de agrotóxicos. Figura 11 – Predomínio de uso de agrotóxicos entre os estabelecimentos agropecuários no Brasil por município (2017) Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2017 CULTIVARES (...) qualquer variedade de planta produzida por meio de técnicas de cultivo, que, em geral, não são encontradas em estado silvestre. Por exemplo, há diversos cultivares de milho diferentes, e a escolha de certo tipo pode afetar o sucesso da lavoura. (MAGNOLI, Demétrio. 2012. P. 318) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 24 Os usos de agrotóxicos levantam diversas polêmicas, afinal como tantas outras tecnologia, há pontos positivos e negativos quanto à aplicação. Por exemplo, há quem defenda que sem o uso desses insumos seria necessário ampliar ainda mais as áreas de produção. Mas também há correntes contrárias que destacam que o tal mecanismo aumenta o número de pragas, pode poluir o solo e as águas e são danosos à saúde. "Os cultivares de alto rendimento substituem as variedades tradicionais, que estão mais bem adaptadas aos diferentes ecossistemas e são mais resistentes às pragas. O uso intensivo de agrotóxicos constitui importante problema ambiental – e também uma questão de saúde pública. Os resíduos desses produtos figuram entre as principais fontes de poluição de rios, lagos e lençóis subterrâneos. Além disso, afetam a saúde dos trabalhadores rurais em contato direto com volumes crescentes de veneno e, indiretamente podem trazer prejuízos à saúde dos consumidores.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 318) Além dos agrotóxicos, podemos destacar os Organismos Geneticamente Modificados (OMGs), também chamados de transgênicos. Esses foram desenvolvidos em meados da década de 1990, graças às evoluções em um dos ramos da biotecnologia – a pesquisa genômica. Assim, esses são cultivares de alto rendimento que permitem o aumento da produtividade e o controle de pragas e doenças, e, na prática, apresentam pontos positivos e negativos: ▪ Pontos positivos: aumento da produtividade, redução do uso de agrotóxicos, adaptação à diferentes ambientes, melhorias nutricionais; ▪ Pontos negativos: falta de conclusões confiáveis sobre os impactos sobre o meio ambiente e para a saúde humana, dependência de grandes indústrias agroquímicas no fornecimento de sementes, risco na redução da diversidade de plantas cultivadas (erosão genética) No Brasil, o cultivo da soja lidera o uso de transgênicos, mas é preciso destacar o milho e o algodão Que o Brasil é uma grande potência agrícola não temos dúvida, mas quando o assunto o comércio exterior há fatores internos e externos que ditam o volume de exportação e os ganhos através delas. Nosso país e outros em desenvolvimento enfrentam restrições que os impedem de expandir ainda mais o volume de exportações, já que existe um protecionismo de países mais ricos, assim, além de concederem elevados subsídios aos agricultores locais, países desenvolvidos aplicam de forma conjunta ou isolada diversas medidas, tais como: ▪ Barreiras tarifárias: aumento de impostos sobre produtos importados (encarecendo o produto externo); ▪ Barreiras não tarifárias: que são argumentos para restringir importações. São elas: ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 25 o Barreiras fitozoossanitárias: alegam que os produtos agropecuários correm risco de contaminação; o Cláusulas trabalhistas: sobretaxa ou proibição de importação de produtos oriundos de países com poucas leis trabalhistas, baixos salários ou mão de obra escrava/semiescrava; o Cláusulas ambientais: : sobretaxa ou proibição de importação de produtos oriundos de países com problemas de ordem ambiental/sustentável no processo de produção; o Embargo: proibição de importação de qualquer produto por diferentes motivos políticos (governos ditatoriais, com grupos terroristas, práticas de tortura, com perseguição política ou religiosa) e que não respeite a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU; o Cotas para importação: limitação da quantidade de produtos que entra no país. Entretanto, além das causas externas, há fatores internos que diminuem a competitividade e a capacidade de crescimento da agropecuária brasileira, tais como: ▪ Aumentos dos custos operacionais devido às deficiências no setor de transporte e armazenagem; ▪ Elevada carga tributária; ▪ Baixa disponibilidade de crédito e financiamentos – principalmente para pequenos produtores; ▪ Falta de incentivo à formação de cooperativas; ▪ Baixa abrangência de eletricidade em zonas rurais, dificultando o processo de irrigação, armazenagem, entre outros. ÊXODO RURAL Antes de tudo, quando falamos de êxodo rural, nos referimos a saída da população do campo em direção ao espaço urbano. Tal deslocamento pode acontecer por diferentes motivos, mas são duas as forças principais: atrativas, ou seja, pelos benefícios que a cidade apresenta, e as repulsivas, pelos problemas que o campo impõe. No Brasil, os fatores repulsivos foram os mais importantes no processo de êxodo rural Pensando a trajetória da produção agrária no Brasil, podemos identificar o domínio da grande propriedade. Mas entre as décadas de 1950 e 1980 houve um estímulo ainda maior à monocultura e mecanização, o que intensificou a concentração de terras. Pense aqui comigo: quem conseguiria comprar grandes terras e investir em maquinários e insumos variados? Empresas e proprietários com maior poder aquisitivo,né? Então, na prática, o pequeno produtor encontrou maiores dificuldades para se manter no campo, já que terras concentradas formam uma grande barreira para a agricultura familiar (ainda que muitas famílias continuem no campo produzindo em terras devolutas ou improdutivas) e essas pessoas dificilmente estariam capacitadas para trabalhar com os maquinários que chegaram no campo e substituíram grande parte da mão de obra. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 26 O êxodo rural marcado por tamanha repulsão, levou às cidades brasileiras muitas pessoas, que em busca de melhores condições de vida se esbarraram com um cenário de empregos mal remunerados, assim não conseguiam manter condições de moradia, alimentação e transporte – e muitas vezes, o salário não era o suficiente para outras necessidades cotidianas básicas. "No Brasil, os fatores de repulsão (concentração de terras, baixos salários, desemprego, etc.) foram os que mais contribuíram para explicar o movimento migratório rural- urbano. É impossível entender as grandes desigualdades sociais do Brasil, que apresenta uma das maiores concentrações de renda do mundo, sem considerar esse fato. A opção pelo fortalecimento da agricultura familiar e a realização da reforma agrária, sobretudo nas décadas em que a população era predominantemente rural, poderiam ter proporcionado melhores condições de vida a milhões de famílias caso tivessem sido efetivadas.” (SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil. 6ª Edição. Volume Único. São Paulo: Ática, 2018.p. 663) BRASIL: DINÂMICAS TERRITORIAIS DA ECONOMIA RURAL "O Brasil conheceu uma modernização agrícola desigual do ponto de vista espacial. Os complexos agroindustriais desenvolveram-se principalmente no Centro-Sul. Como reflexo disso, quase dois terços do valor total da produção agropecuária derivam dos estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 320) CAMPO REPULSÃO ▪ Terras concentradas ▪ Mecanização (desemprego estrutural) CIDADE CONDIÇÕES ▪ Baixos salários ▪ Dificuldade em manter condições básicas ÊXODO RURAL ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 27 Figura 12 – Organização espacial da agropecuária no Brasil Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO, Neli in: MAGNOLI, Demétrio, 2012 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 28 Gráfico 01 Distribuição da área/quantidade de estabelecimentos rurais - Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2017 Pelo Centro-Sul do Brasil se estendem zonas agropecuárias diversificadas, coexistindo a agricultura empresarial, a agricultura familiar especializada e a pecuária moderna. É nessa porção do país, por exemplo, que temos a concentração de maquinários agrícolas, como tratores, o que também indica a utilização de outras tecnologias e serviços avançados (seleção de sementes, irrigação, assistência técnica especializada e, até mesmo, o uso de imagens de satélite e drones). Os complexos agroindustriais do Centro-Sul concentram a produção de importantes culturas comerciais, tais como: soja, cana-de-açúcar, café, laranja, arroz e fumo A maior produção de cana-de-açúcar acontece em São Paulo, extrapolando para porções do norte e oeste do Paraná, bem como para Minas Gerais. Ainda encontramos tal cultivo marcando a paisagem da Zona da Mata nordestina, entretanto, um novo ciclo de aumento de produção impulsionado pelos biocombustíveis, tem expandido a agroindústria canavieira para o Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul – ou seja, nos cerrados. A produtividade da cana-de-açúcar no Centro- Sul é maior do que no Nordeste 16,40% 13,80% 12,60% 12,10% 12,00% 7,60% 4,90% 4,80% 3,40% 2,50% São Paulo Mato Grosso Paraná Rio Grande do Sul Minas Gerais Goiás Bahia Mato Grosso do Sul Santa Catarina Pará Brasil: os 10 estados com as maiores participações no valor total da produção agrícola - 2016 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 29 Quando o assunto é a produção de laranja o destaque também deve ser dado à São Paulo, estado com a maior produção de tal fruta. Tal produto é cultivado por pequenos e médios produtores familiares. Assim entre o estado paulista e Minas Gerais temos o cinturão citrícola do país, com destaque para cidades como Araraquara, São José do Rio Preto e Tabatinga. Quando falamos do café é comum associar a produção ao estado de São Paulo, que historicamente concentrou tala cultura que deu base para a industrialização do país – deslocando-se entre o Vale do Paraíba e o Norte do Paraná. Atualmente, a maior produção se dá em Minas Gerais e no Espírito Santo. Há a produção de café em outras porções do Brasil, como nos cerrados da Bahia e em Rondônia O Rio Grande do Sul é responsável pela maior produção de arroz – especialmente nas terras inundáveis do vale do rio Jacuí (na Campanha Gaúcha). Também encontramos a produção de arroz em outras porções do Brasil, especialmente o arroz de sequeiro, que é tolerante à estiagem, por isso se expande para os cerrados do MT e GO. Contudo, a principal cultura do Centro-Sul (e do Brasil) é a soja. Inicialmente concentrada no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, tal produção se expandiu até o noroeste do Paraná, e, após adaptações, adentrou os cerrados do Brasil Central. Pensando o Nordeste do país, há um predomínio de práticas agrícolas tradicionais, entretanto tal cenário não impossibilitou a existência de zonas de modernização e diversificação. Quanto à essas zonas, podermos destacar o Vale do rio São Francisco, onde encontramos os polos de fruticultura irrigada, comandadas por Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Além da fruticultura irrigada, temos uma agricultura moderna no oeste baiano, onde a introdução da soja modificou a paisagem e estimulou outras atividades, como a avicultura e a suinocultura. Tal produto agrário também vem alterando a dinâmica territorial e econômica dos cerrados do sul do Maranhão e do Piauí. "Um nítido sintoma da marcha da modernização é a tendência à redução da área dos estabelecimentos agrícolas e da área de lavouras. Essa tendência manifesta-se desde o início da década de 1990 em quase todo o território, com a exceção já destacada das ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 30 zonas (...) que vivem o avanço da soja, e reflete o aumento da produtividade da terra, que resulta de introdução de práticas modernas, e também dos usos não agrícolas do solo, que decorre do crescimento das cidades e das atividades voltadas para o lazer e o turismo (como hotéis-fazenda, pesqueiros e chácaras de fim de semana). (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 322) Assim, temos tal cenário: Figura 13 – Brasil: espaço geográfico Fonte: SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos, 2018 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 31 AGRONEGÓCIO E A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA Além dos interesses internos de integração territorial, o agronegócio encontrou maiores chances de crescimento também pelo cenário internacional onde a necessidade de produtos primários cresceu, ou seja, o mercado consumidor passou a ser maior. Além disso, estamos falando de um mundo que já vinha se globalizando, logo, a maior integração entre os espaços mundiais facilitaram as exportações de commodities e importação de insumos. Assim, com a chegada/ascensão de grandes empresas, o Brasil passou a possuir grandes culturas comerciais conhecidas como “estrelas do agronegócio”. Dessa maneira, nosso país se destaca na produção de soja, cana-de-açúcar, café, laranja,algodão, milho e feijão. Entretanto, quando somados à produção familiar, temos o seguinte cenário: *Nas lavouras permanentes, como laranjais ou cafezais, as plantas produzem frutos todos os anos; nas lavouras temporárias, como as de milho, soja e feijão há apenas uma colheita por plantio. 33% 16,30% 11,90% 6,70% 3,20% 3,10% 2,70% 2,60% 2,60% 2,20% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% BRASIL: participação dos dez principais produtos no valor da produção* - 2016 Gráfico 02 – Participação dos principais produtos no valor da produção Fonte: SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos, 2018 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 32 ● Soja: Utilizada na fabricação de rações animais (crescendo na alimentação humana) e é uma alternativa para fabricação de biodiesel. Cultivada especialmente no Centro-Oeste e Sul. (Complexo da soja, diz respeito ao grão, óleo e farelo de soja). ● Cana-de-açúcar: Produção de açúcar e etanol. Cultivada especialmente no noroeste paulista, onde o solo (“terra roxa”)e o clima (a pluviosidade, a temperatura e iluminação) são favoráveis. ● Milho: Utilizado na produção de rações para animais. Quando pensamos os grãos, os maiores produtores são, respectivamente: Mato Grosso, Paraná, Goiás ● Café (maior exportador e o segundo maior consumidor): A variedade climática, altimétrica e dos tipos de solo geram uma diversificação nas espécies, entre elas, arábica e robusta. Destaque: Centro-Sul de Minas Gerais. ● Mandioca: é uma exceção à regra de concentração geográfica da produção. Os maiores produtores são Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná – sendo disseminada por praticamente todo o país e cultivada por pequenos agricultores familiares. O destino de tal cultivo é o prioritariamente a subsistência dos próprios produtores e a comercialização em mercados locais/regionais. ● Feijão: (maior produtor mundial): O Paraná o maior produtor estadual. ● Arroz: apesar da grande produção, o país ainda depende de importação devido o elevado consumo. O estado com maior produção é o Rio Grande do Sul ● Laranja: é utilizada para fabricar suco, óleos essenciais, líquidos aromáticos e o bagaço para alimentação animal. Cultivada principalmente no estado de São Paulo. ● Banana: o Brasil é um dos maiores produtores de tal fruta (em 2021, o 4º, atrás de Índia, China e Indonésia) ● Algodão (o Brasil é um grande exportador): Cultivado no Centro-Oeste, Bahia, Maranhão e Minas Gerais. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 33 Além dessa produções, é importante destacar a silvicultura, ou seja, o cultivo de florestas através do manejo agrícola (“agricultura de floresta”), com o objetivo de produzir madeiras e outros derivados para atender as necessidades do mercado. Exemplo: plantação de eucalipto para a indústria de papel e celulose. "De modo geral, as culturas comerciais caracterizam-se pela tendência à concentração geográfica, com a formação de zonas produtoras especializadas. Os produtores de uva concentram-se na serra Gaúcha, as fazendas cacaueiras predominam no sul da Bahia, o trigo é cultivado principalmente no oeste do Rio Grande do Sul e do Paraná, o sisal se destaca no Agreste da Bahia, o caju ocupa uma faixa litorânea do Piauí e do oeste do Ceará e a pimenta-do-reino caracteriza a agricultura do leste do Pará.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 322) Como você deve ter percebido até aqui, a produção agrária do país é diversificada, entretanto, há um cultivo que chama a atenção em termos espaciais e econômicos: a soja. Por isso, vamos aprofundar nossos estudos quanto à essa produção e destacar a pecuária nacional. Bora lá SOJA As origens da soja remontam à China, em especial a região da Manchúria nas margens do rio Yangtze (rio Azul), há mais de 5 mil anos, sendo considerada um dos cinco grãos sagrados pelos antigos imperadores chineses. Então, seguindo um caminho parecido com a cana-de-açúcar, a soja surge na Ásia, é levada para o norte da África, e, em contato com o Mar Mediterrâneo chega na Europa (sendo certos países europeus responsáveis por expandir tal cultivo em suas colônias), e, em escala comercial, a soja começou a ser produzida nos Estados Unidos. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 34 "A soja foi introduzida no Brasil pelos imigrantes que se instalaram no Rio Grande do Sul no início do século XX, mas a expansão comercial do cultivo ocorreu apenas na década de 1960, devido ao interesse crescente da indústria de óleos vegetais e ao aumento da demanda internacional pelo farelo de soja usado na alimentação de rebanhos.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 322) Na década de 1950, as geadas no Norte do Paraná expuseram uma dificuldade para a produção de café, uma vez que esse cultivo é permanente, então na prática, significa que não é possível deixar de produzir quando as temperaturas caíssem demais. Qual seria uma possível solução? A introdução de uma cultura temporária, que pudesse “dar uma pausa” nos momentos de condições atmosféricas mais extremas, e, é aí que a soja “caiu como uma luva”, afinal, esse é um cultivo típico de climas temperados/subtropicais. Observe: o mercado consumidor externo, nos meados do século XX, era favorável para a soja e as condições internas também direcionaram para tal cultivo. "No início da expansão, a produção baseava-se em variedades técnicas importadas dos Estados Unidos, adaptadas aos climas temperados, e se concentrava na região Sul.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 322) Na década de 1960, a produção de soja foi intensificada no Brasil por 2 grandes motivos internos: ▪ Revezamento com o trigo: o trigo é um cultivo relacionado aos climas mais frios, por isso, se estabeleceu inicialmente na região Sul do Brasil. Entretanto, durante o verão, no clima subtropical, as temperaturas ficam mais elevadas, dificultando/impedindo tal produção, por isso, a soja começou a ser pensada como uma alternativa. No inverno produziria trigo, no verão, a produção seria de soja ▪ Aumento na produção pecuária: com o aumento dos rebanhos, há necessidade de maior produção de ração animal, e, aqui a soja é um cultivo muito importante. Atualmente, a produção da ração animal é o principal destino da soja Mas além dos fatores internos, durante as décadas de 1960 e 1970, o cenário internacional era favorável à produção de soja no Brasil, afinal, o principal produtor naquele período era os Estados Unidos, e, como essa cultura é temporária e nosso país está no hemisfério sul (enquanto os EUA, no Posteriormente, os preços dessa commodity começaram a baixar, já que nas décadas de 1970/1980, a demanda continuava praticamente a mesma, mas houve um aumento significativo na produção. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 35 hemisfério norte), as estações são opostas, então, na prática temos: quando um colhe (safra), o outro está na entressafra. Em resumo: entre as décadas de 1960 e 1970, havia um aumento do preço no cenário mundial quando o maior produtor estava na entressafra, que justamente o memento que o Brasil tem sua safra. Se as exportações estavam “bombando”, qual era o caminho mais óbvio? Aumentar a produção. Então foi nesse cenário econômico (e lembre-se que também havia o desejo político de integração territorial) que a soja começou a se expandir em direção ao Centro-Oeste. Mas você se lembra que falamos “a soja é uma cultura típica de clima mais amenos (temperado/subtropical)”? Pois é! Mas a realidade do Brasil Central é outra, e, é aqui que a EMBRAPA (Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária) foi fundamental ao fazer a correção do solo (tipicamente ácido) e tropicalizar a semente. "Até o início da década de 1970, a produção brasileira de soja era concentrada na região Sul, que reunia as condições naturas para esse tipo de lavoura. Nessa época, porém, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) – órgão governamental criado com o objetivo de melhorar as condições de plantio e a seleção de novas espécies adaptadas aos solos brasileiros – desenvolveu a primeira semente de soja adaptada às condições tropicais, ao mesmo tempo que criava um produto à base de calcário capaz de neutralizar a acidez natural do solo dos Cerrados.” (TERRA, Lygia; ARAÚJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: estudos de Geografia Geral e do Brasil. 3ª Edição. Moderna Plus – volume único, contendo as partes I, II e III. São Paulo: Moderna, 2015.p. 254) Hoje, a soja se espalha em direção ao oeste baiano e direção às porções do Maranhão, Tocantins, Piauí, o chamado MATOPIBA, em um cenário de clima mais quente do que o original (temperado) e relevo plano, o que facilita o uso de maquinários. "Em anos mais recentes, o avanço do cultivo por todas as regiões tem garantido a manutenção da soja no topo da lisa da produção de grãos pela agricultura brasileira. Especialmente, a região denominada Matopiba. Localizada entre o Maranhão, o Tocantins, o Piauí e a Bahia, tem sido considerada uma nova fronteira agrícola (...) ocupando áreas de Cerrado e sobrepondo-se às áreas de cultivo de milho e outras culturas agrícolas.” (TERRA, Lygia; ARAÚJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: estudos de Geografia Geral e do Brasil. 3ª Edição. Moderna Plus – volume único, contendo as partes I, II e III. São Paulo: Moderna, 2015, p. 255) MATOPIBA Ou Mapitoba é uma região que abrange o sul do Maranhão, o leste do Tocantins, o sudoeste do Piauí e o extremo oeste da Bahia que vem se destacando na produção de grãos, especialmente de soja. (TERRA, Lygia, 2015, p. 255) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 36 EXPANSÃO DA SOJA - BRASIL REGIÃO SUL Concentração: até a década de 1970 Destaque: condições naturais Atenção: PR e RS permanecem como grandes produtores REGIÃO CENTRO-OESTE Destaque: modificações ▪ Semente: tropicalização ▪ Solo: controle da acidez (calagem) Atenção: havia o interesse em integrar o Brasil Central , por isso o Estado criou incentivos MT | MS | GO : terras baratas (nova fronteira agrícola) MATOPIBA Destaque: relevo plano MAranhão TOcantins PIauí BAhia Figura 04 – Brasil: espaço geográfico Fonte: TERRA, Lygia; ARAÚJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges, 2012 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 37 A produção de soja no Brasil é feita em grande escala pelo agronegócio, através de grandes empresas, em latifúndios e se utilizando de técnicas muitas vezes avançadas, mas uma pequena parte da produção está associada às cooperativas. Atenção: um dos grandes “problemas” enfrentados pela sojicultura brasileira é a logística para a exportação. Afinal, a maior produção se encontra no Brasil Central e precisa ser levada até o litoral. Os problemas de infraestrutura afetam negativamente os preços, tornando a soja brasileira mais cara do que poderia ser, afetando na competitividade. Nesse sentido, uma nova tendência vem se desenhando no país: a exportação através de portos na porção setentrional do Brasil. COOPERATIVAS Médias e pequenas produtores que se associam para a produzir Figura 05 – Brasil: Cadeia produtiva da soja Fonte: TERRA, Lygia; ARAÚJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges, 2015 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 38 PECUÁRIA DE CORTE A pecuária no Brasil se desenvolveu sob a lógica de sistemas extensivos, sendo fundamental para a expansão e interiorização das atividades agropecuárias – o que na prática garantiu um maior ocupação do interior do país e ampliou o desmatamento para o avanço da fronteira agrícola. Nosso foco aqui será na pecuária bovina de corte, mas antes de aprofundarmos nesse tema, é fundamental esclarecer que o termo rebanho não diz respeito apenas à “bois e vacas”, mas sim a um grande número de animais da mesma espécie que são agrupados e controlados pelo ser humano. Ok? É importante que você saiba isso porque o maior rebanho brasileiro é de galináceos. “Em relação à criação de animais, as aves, sobre tudo os galináceos, compõem o maior número; em 2016, a região Sudeste abrigava cerca de 42% da produção de ovos do país, enquanto a região Sul concentrava mais de 50% das aves que seriam abatidas (...) O segundo maior rebanho do país era o de bovinos.” (SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil. 6ª Edição. Volume Único. São Paulo: Ática, 2018.p. 674) Assim, destacamos que a produção de carne de aves e suína, que também se destacam no cenário global, concentram-se na região Sul, em estabelecimentos familiares que fornecem a matéria-prima para grandes empresas de processamento, como a BRF Brasil Foods (que surgiu em 2009, a partir da fusão entre a Sadia e a Perdigão). Mas pensando na pecuária bovina, podemos inferir que há uma mudança na estrutura produtiva desde a década de 1980 (ou seja, vem deixando de ser predominantemente extensiva). Dentre os sinais prático de tal mudança destacamos a maior frequência na seleção de raças e a vacinação do gado (alimentado com pastos cultivados durante períodos de chuva e com ração durante a seca). Tais mudanças também são evidenciadas em porções onde predominava a pecuária extensiva, como o Sertão nordestino, o Centro-Oeste e na periferia da Amazônia. “O crescimento da produção das regiões Centro-Oeste e norte do país vem sendo registrada desde o fim da década de 1980, superando áreas tradicionais de pecuária bovina, como o Sul. Os maiores rebanhos bovinos estão localizados nos estados do Mato grosso, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.” (SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil. 6ª Edição. Volume Único. São Paulo: Ática, 2018.p. 674) Além de uma produção efetiva, a garantia de uma maior exportação agropecuária perpassa acordos de ordem supranacional e ambiental tais como a “moratória dos grãos” (2006) e a “moratória da carne” (2009), que são acordos ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 39 “efetivados entre distribuidores, como a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), grandes frigoríficos, cadeias de supermercados e ONGs (...), cujas cláusulas definem o comprometimento de não comercializar produtos agropecuários de áreas desmatadas após 2006.” (SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil. 6ª Edição. Volume Único. São Paulo: Ática, 2018.p. 674) Assim, pensando a produção agropecuária do Brasil e a exportação, temos o seguinte uso das terras: Figura 05 – Brasil: Uso da terra Fonte: Atlas - SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos, 2018 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 40 O Código Florestal Brasileiro estabelece que, na ocupação agropecuária da Amazônia, o agricultor e o pecuarista têm de preservar ou manter 80% da floresta. No entanto, segundo levantamentos realizados por satélites artificiais, mostram o avanço do desmatamento em tal porção do território, o que acarreta desequilíbrios ecológicos, destruição de ecossistemas e alterações climáticas. Além da Amazônia, o Cerrado também é muito desmatado para dar lugar à agropecuária, a derrubada a partir do Sul em direção ao Centro-Oeste e Norte ficou designada como “expansão da fronteira agrícola”. O Programa Agricultura de Baixo Carbono(ABC), criado em 2010 pelo Governo Federal, dá incentivos e recursos para os produtores rurais adotarem técnicas agrícolas sustentáveis. A ideia é que a produção agrícola e pecuária garanta mais renda ao produtor, mais alimentos para a população e aumente a proteção ao meio ambiente. Por outro lado, existe o Convênio 100, medida que reduz ou isenta cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na comercialização interestadual de insumos agropecuários. A produção de soja no Brasil é feita em grande escala pelo agronegócio, através de grandes empresas, em latifúndios e se utilizando de técnicas muitas vezes avançadas, mas uma pequena parte da produção está associada às cooperativas. Atenção: um dos grandes “problemas” enfrentados pela sojicultura brasileira é a logística para a exportação. Afinal, a maior produção se encontra no Brasil Central e precisa ser levada até o litoral. Os problemas de infraestrutura afetam negativamente os preços, tornando a soja brasileira mais cara do que poderia ser, afetando na competitividade. Nesse sentido, uma nova tendência vem se desenhando no país: a exportação através de portos na porção setentrional do Brasil. SAFRA 2019/2020 (SOJA) Cooperativas Médias e pequenas produtores que se associam para a produção Soja no mundo Produção: 337,298 milhões de ton. Área plantada: 122,647 milhões de ha Fonte: USDA ( 28/09/2020) Brasil (maior produtor mundial) Produção: 124,845 milhões de toneladas; Área plantada: 36,950 milhões de hectares Produtividade: 3.379 kg/ha Fonte: CONAB (Levantamento de setembro) EUA (segundo produtor mundial) Produção: 96,676 milhões de toneladas Área plantada: 30,332 milhões de hectares Produtividade: 3.187 kg/ha Fonte: USDA (10/08/2020) Mato Grosso (maior produtor brasileiro) Produção: 35,885 milhões de ton Área plantada: 10,004 milhões de ha Produtividade: 3.587 kg/ha Fonte: CONAB (Levantamento de setembro) Paraná (2º maior produtor brasileiro) Produção: 21,598 milhões de ton Área plantada: 5,503 milhões de ha Produtividade: 3.925 kg/ha Fonte: CONAB (Levantamento de setembro) Goiás Produção: 13,159 milhões de ton Área plantada: 3,545 milhões de ha Produtividade: 3.712 Kg/ha Fonte: CONAB (Levantamento de setembro) Rio Grande do Sul Produção: 11,444 milhões de ton Área plantada: 5,902 milhões de ha Produtividade: 1.939 kg/ha Fonte: CONAB (Levantamento de setembro) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 41 EXPORTAÇÕES E O PREÇO DOS ALIMENTOS Antes de tudo é importante que você se recorde da importância do dólar O dólar passou a ser adotado como padrão para o comércio internacional com o declínio do padrão- ouro em um contexto de reafirmação estadunidense no cenário geopolítico. Até então, a libra esterlina era considerada a moeda veículo, refletindo a hegemonia inglesa no mundo antes da 1ª Guerra Mundial. O dólar também é uma moeda de reserva internacional: vários países utilizam o dólar de diferentes de formas inclusive na composição de suas reservas, ou seja, os bancos centrais pelo mundo (com exceção do FED – até porque esse é o sistema de reserva Federal dos EUA - logo ele emite a sua própria reserva internacional) alocam seus ativos em dólar, principalmente. Taxa de câmbio: para cada dólar, quantos reais você precisa ter? E como a desvalorização do real influencia no preço dos alimentos? Para respondermos à essa questão é necessário quebrarmos alguns pontos defendidos no senso comum: primeiro, mesmo sendo um grande produtor de gêneros alimentícios, o Brasil precisa importar alimentos como o arroz, que apesar da alta produção, tem um consumo maior (é um item básico da dieta dos brasileiros); segundo: com os valores interessantes para a exportação também da soja, há menor produção de ração animal, logo, a carne fica mais cara também. Sendo assim, aquela parte que é importada fica mais caro, afinal com a moeda desvalorizada é necessário “muitos reais para fazer um dólar” e o comércio internacional é feito nessa moeda. E aqui cabe ressaltar um detalhe: o Brasil importa arroz, principalmente, da Tailândia e do Vietnã, países esses que no cenário de Pandemia limitaram o volume de alimentos que poderiam sair de suas fronteiras – na lógica de um estoque regulatório. O Brasil, nos embalos da recessão de 2014/2015, começou a vender seu estoque regulatório no cenário internacional e não houve reposição, logo, em 2020 o Brasil não tem estoque regulatório de grãos, ou seja, estamos muito dependentes do cenário mundial. Agora vamos pensar por um outro lado sobre essa situação: se você é um produtor e o real está desvalorizado, vender para o mercado externo se torna vantajoso, afinal eles pagarão em dólar, e quando for convertido para real, o valores aumentarão. Bom... esse foi o pensamento de muitos produtores de soja e arroz, por exemplo, afinal os insumos que eles precisam para produzir também se tornam mais caro com o real desvalorizado (já que são importados) e essa é uma ótima maneira de garantir maiores lucros. Variável Quanto mais você precisar, maior a desvalorização O que sobe não é o dólar, mas o preço do dólar em reais Constante ESTRATÉGIA VESTIBULARES – AGROPECUÁRIA AULA 12 – Agropecuária 42 QUESTÃO FUNDIÁRIA NO BRASIL "A terra é o meio de produção fundamental na agropecuária. A concentra da propriedade da terra é um dos traços marcantes da economia rural brasileira, cujas origens remotas encontram-se no modelo de colonização aplicado à América portuguesa. Esse padrão concentrados serviu de base para a configuração da agricultura moderna brasileira, que exibe nítida dicotomia entre grandes e pequenos estabelecimentos rurais.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 324) As capitanias hereditárias (1534-1549) deram origem ao latifúndio e, consequentemente, à desigualdade social. Desde o início da colonização, o espaço agrário brasileiro foi transformado para atender ao mercado internacional. A implantação da cana-de-açúcar no Nordeste implicou a doação de sesmarias (terras para exploração, desde o século XVI até 1822). Nessa época, os poucos trabalhadores livres estavam vinculados aos engenhos. Surgiram também os posseiros, pessoas que se apossavam das terras que não foram dadas pela Coroa Portuguesa, sendo considerada ilegal. "O sistema das sesmarias originou a concentração fundiária. Na época colonial, surgiram dois personagens básicos da economia rural do país: de um lado o latifundiário (sesmeiro), que detinha vasta extensão de terras e empregava numeroso contingente de escravos para a produção de gêneros tropicais exportáveis; de outro, o posseiro, que ocupava terras devolutas, dedicando-se à produção de subsistência e também a culturas alimentares consumidas nos latifúndios.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p. 325) Em 1850 foi estabelecida a Lei de Terras, que constituía a compra como única forma de acesso à terra. Quem já estava nela, recebia o título de proprietário, no entanto, deveria residir e produzir no solo em que se encontrava. Essa medida favoreceu especialmente os barões do café que estavam interessados em desenvolver a plantation e concentrar o poder político em suas mãos. "A Lei de Terras foi o ponto de partida para o surgimento de um mercado de compra e venda da propriedade fundiária. Desse modo, a terra adquiriu a condição de mercadoria: tornou-se patrimônio do fazendeiro e veículo para a imobilização e proteção do capital. A legislação fundiária, que preparou a extinção do trabalho escravo quase concomitantemente com a Lei Eusébio de Queirós, excluiu os pobres do acesso à terra.” (MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. 2ª edição, Volume Único São Paulo: Atual, 2012.p.