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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 1 FUVEST Exasiu Professora Luana Signorelli Aula de Obras Literárias: Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência Análise de obra da leitura obrigatória: Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência. Resumo, análise, crítica, exercícios Exasiu estretegiavestibulares.com.br EXTENSIVO t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 2 Professora Luana Signorelli Sumário INTRODUÇÃO 3 1.0 CONTEXTUALIZAÇÃO 4 2.0 CECÍLIA MEIRELES 11 3.0 ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 13 3.1 PRÉ-LEITURA 17 4.0 ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA E A INTERTEXTUALIDADE 58 5.0 QUADRO SINÓPTICO 61 6.0 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 62 6.1 GABARITO 97 7.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 97 8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 146 9.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 147 Luana Signorelli @luanasignorelli1 @profa.luana.signorelli Professora Luana Signorelli /luana.signorelli t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 3 INTRODUÇÃO Olá, alunos. O meu nome é Luana. Sou Mestra em Literatura e Práticas Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e Doutoranda em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), já qualificada. Tenho 12 anos de experiência com revisão e padronização textual e 11 anos em curso pré-vestibular, tendo passado por instituições conhecidas e renomadas. Lembrem-se sempre de nosso lema: “O segredo do sucesso é a constância no objetivo”. Hoje vamos ter uma Aula de Obras Literárias. Segundo o nosso cronograma, eis o que vamos estudar hoje: AULA TÓPICOS ABORDADOS AULA ÚNICA Título da aula: Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência Descrição do conteúdo programático da aula: Análise de obra da leitura obrigatória: Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência. Resumo, análise, crítica, exercícios. Lembrando de alguns recados importantes: • O curso de Literatura é diferente do curso de Obras Literárias. No curso de Literatura, estudamos teoria e historiografia literária e no curso de Obras Literárias a lista obrigatória da instituição. • O curso contemplará TODAS as Obras Literárias! O curso de Obras Literárias costuma ser dividido entre a equipe e as obras são lançadas separadamente de acordo com cronogramas pessoais. • O curso de Obras Literárias do Extensivo e do Intensivo é IDÊNTICO, só muda o layout do PDF. • Como se trata de uma aula de análise de obra literária, eu irei organizar a aula da seguinte maneira: ➢ Pré-aula: contextualização e informações sobre a autora, Cecília Meireles; ➢ Análise: Romanceiro (resumo e análise) e Romanceiro e a intertextualidade; ➢ Pós-aula: quadro sinóptico, questões atualizadas, sem e com comentários. O quadro sinóptico (sinopse: resumo) é um material de apoio que irá poder ajudá-los pouco antes da prova, por se tratar de conteúdos grandes com muita informação. Destaco também uma peculiaridade: esse livro, em particular, é uma reunião de poemas. São 85 poemas, chamados de “romances, mas com estrutura lírica”, enumerados pela própria autora, mais 4 outros poemas intitulados de “Cenários” e ainda outros 7: “Fala inicial”; “Fala à antiga Vila Rica”; “Fala t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 4 aos pusilânimes”; “Imaginária serenata”; “Fala à Comarca do Rio das Mortes”; “Retrato de Marília em Antônio Dias” e “Fala aos Inconfidentes mortos”. Ou seja, ao todo são 96 poemas. Com isso quero dizer o seguinte: para alguns poemas, iremos fazer uma análise mais longa, e para outros uma análise menos detida. Porém, de qualquer forma, TODOS os poemas serão levados em consideração. Observação: essa aula contará com o forte apoio interdisciplinar da História. É preciso formarmos uma base sólida de conhecimento para compreendermos melhor a obra. Então, vamos lá, não percamos tempo! 1.0 CONTEXTUALIZAÇÃO A obra Romanceiro da Inconfidência leva em consideração o revisionismo histórico. Esse procedimento só é possível havendo distanciamento histórico. Quer dizer que é uma obra modernista, de 1953, sobre um fato histórico anterior a ela: a Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira, iniciada em 1789 e finalizada em 1792. Além disso, devemos pensar não só na contextualização local, como também na internacional Logo, é preciso entendermos que Romanceiro da Inconfidência se estrutura numa complexa rede temporal, sendo que temos várias épocas para contextualizar, como consta no quadro abaixo. Uma das grandes ideias da obra é provar como todos esses fatos históricos estão concatenados. Contextualização Local Presente: Governo de Getúlio Vargas (último ano) Passado: Inconfidência ou Conjuração Mineira Internacional Presente: o pós- Segunda Guerra Mundial, terminada em 1945 Passado: Revolução Francesa e Independência dos Estados Unidos t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 5 Contextualização local do presente Atenção: por presente, não devemos entender o “nosso” presente, mas sim o presente contemporâneo à época de publicação de Romanceiro da Inconfidência, ou seja, o ano de 1953. Nesse ano, o Brasil presenciava o último ano de governo de Getúlio Vargas, que veio a se suicidar em 1954, um ano depois da publicação da obra. Em linhas gerais, nos anos 50 o Brasil vivia os Anos Dourados, época marcada por crescimento e modernização. A população brasileira crescia demograficamente, assim como as cidades, suas rodovias e seus prédios. No plano da cultura, predominava a Bossa Nova e a Música Popular Brasileira, com grandes intérpretes como Tom Jobim e Elis Regina. Eventos principais que marcaram 1953 no Brasil foram os seguintes: • Foi criada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para se investigar o favorecimento do jornal “Última Hora”; • Crescia a imprensa no Brasil, especialmente com o surgimento da Record TV; • É criado o Ministério da Saúde; • Getúlio Vargas sanciona uma lei que cria a Petrobras. Contextualização local do passado Um dos principais elos da obra é o que liga o movimento literário do presente, o Modernismo, ao movimento literário do fim do século XVIII: o Arcadismo. O movimento no Brasil confunde-se com a própria Inconfidência Mineira, já que pelo menos dois dos grandes representantes do Arcadismo estiveram envolvidos na revolta. A insurreição ocorreu devido à “derrama”, um imposto coletado obrigatoriamente para completar a contribuição devida a Portugal. Os inconfidentes pretendiam libertar Minas Gerais da condição de colônia, fundando uma república – inspirados também pela independência dos Estados Unidos (1776). Tanto o termo “Inconfidência Mineira” quanto “Conjuração Mineira” são adequados historicamente e podem ser empregados. A diferença entre eles é que “Inconfidência” transmite uma ideia mais associada à traição. Como propõe a própria obra de Cecília Meireles: depende do ponto de vista. Por aí já se percebe em que medida podemos dizer que se trata de um movimento nativista. Tanto Cláudio Manuel da Costa quanto Tomás Antônio Gonzaga estudaram em Portugal e voltaram ao Brasil. Trouxeram de lá as ideias iluministas que os influenciaram tanto na produção literária quanto na postura antilusitana. Dado o caráter elitista dos pressupostos da revolta, não é possível falar ainda emnacionalismo. O mesmo se observa nas poesias. Os poetas exaltam em alguma medida a natureza brasileira, mas não a elevam a símbolo nacional. Getúlio Vargas t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 6 A síntese do Iluminismo era baseada nesses princípios: • A razão iluminista: aquela que é capaz de produzir a crítica às ideias da tradição e do misticismo; • A liberdade geral como condição para o desenvolvimento da razão iluminista. • A capacidade do indivíduo na condução da sua própria vida. Mesmo os outros dois poetas importantes do Arcadismo que não se envolveram com Inconfidência, Basílio da Gama e Santa Rita Durão, darão toques peculiares à literatura nativa, pois são os primeiros a desenvolverem a temática indianista. Só é possível utilizar a o termo “nacionalismo” depois que o Brasil se tornar politicamente independente de Portugal em 1822. Portanto, no movimento literário do Romantismo. No Arcadismo, emprega-se o termo “nativismo”, para representar a cor local (costumes, fauna e flora de uma região). Confiram abaixo traços do nativismo literário na época do Arcadismo. Os principais autores árcades brasileiros podem ser divididos a partir do tipo de poesia a que se dedicaram majoritariamente: ➢ Poesia lírica: Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. ➢ Poesia épica: Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Descrição da natureza brasileira Indianismo Construção de um heroísmo nacional; poesia épica Crítica aos portugueses Movimento filosófico e literário do século XVIII, caracterizado por profunda crença no poder da razão humana e da ciência como forças propulsoras do progresso da humanidade; Ilustração; Século das Luzes (dicionário Aulete). Iluminismo t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 7 Por que Arcadismo? Compreender o alcance ideológico e estético do Arcadismo implica conhecer suas relações com o quadro de transformações por que passaram as sociedades europeia e brasileira no século XVIII. “Árcade” é o genitivo e significa literalmente “de Arkás” (’Arkάς), filho de Calisto e de Júpiter que o transformou na Ursa Menor. Fatores Motivadores da Independência das Colônias Contexto internacional Difusão do iluminismo - a partir do séc. XVIII Revolução Industrial 1750 Independênc ia dos EUA 1776 Revolução Francesa 1789 Expansão Napoleônica 1799-1814 Contexto local Conflitos entre interesses locais e metropolitanos Revoltas nativistas e emancipacionistas Poesia lírica Sentimental, mitológica, idealista, voltada para o amor e a natureza Poesia épica Nativista, indianista e voltada para os conflitos sociais da época (Inconfidência) Fonte: Professora Alessandra Lopes. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 8 A INCONFIDÊNCIA MINEIRA Em Minas Gerais, a cruel política tributária imposta pela metrópole, como a implantação de pedágios e alfândegas, a criação das Casas de Fundição e a proibição da circulação do ouro que não tivesse sido fundido e, portanto, tributado, será responsável por, pelo menos, duas revoltas coloniais: a revolta de Filipe dos Santos (Vila Rica, 1720), no período inicial da mineração, e a Inconfidência Mineira, já em outro contexto, de contestação do próprio sistema colonial. O principal motivo da Inconfidência foram as medidas cada vez mais exploratórias e escorchantes impostas por Portugal à região das minas. Essa política foi implantada pelo Marquês de Pombal, que havia se tornado primeiro- ministro de Portugal no ano de 1750. Inicialmente, o tributo sobre o ouro auferido nas minas era o Quinto (20%). Com a escassez das lavras e a desconfiança de Portugal de que o ouro estava sendo desviado, por volta de 1750 define-se uma cota fixa como imposto de 100 arrobas (1.500 quilos) de ouro por ano. Como essa cota era impossível de ser atingida, a Coroa portuguesa estabelece, em 1763, numa atitude radical, a prática da Derrama, que consistia na supressão de bens particulares dos moradores das cidades para inteirar a cota de impostos. É nesse contexto de exploração intensiva que, tomado pelo espírito da Revolução Francesa (1789), um grupo de brasileiros se revolta contra o despotismo. A reação de Portugal foi de extrema violência, e Tiradentes foi enforcado e esquartejado. Esse seria o ato derradeiro do ciclo do ouro no Brasil, sua grandeza e sua miséria, e, com ele, o fim de todo o sistema colonial. Fonte: COSTA, Marcos. A história do Brasil para quem tem pressa: dos bastidores do descobrimento à crise de 2015 em 200 páginas! 2. ed. Rio de Janeiro: Valentina, 2017 (p. 57-58, grifo meu). Confiram agora os principais poetas árcades. Contextualizá-los é importante, pois eles serão mencionados várias vezes ao longo dos poemas. Cláudio Manoel da Costa (1729-1789) Foi um abastado minerador e jurista. Aos vinte anos, foi para Portugal, onde estudou. Exerceu o cargo de procurador da Coroa na colônia por duas vezes. Participou na Inconfidência como uma das lideranças do movimento. Morreu na cadeia, não se sabe se a causa foi natural, suicídio ou assassinato. Até hoje, a igreja de sua cidade natal em determinada hora do dia toca o sino em sua homenagem. Ele escrevia suas poesias sob o pseudônimo Glauceste Satúrnio. A sua obra lírica mais conhecida é “Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio” (1756), conhecida por introduzir o Arcadismo no Brasil. Nessa publicação, encontra-se uma peça de teatro Na sua obra, encontram-se sonetos amorosos, muitos deles denotando influência de Camões, e sonetos de louvor à natureza. Porém, é sobretudo pelo tom de nativismo relacionado com a natureza brasileira que seu nome é lembrado na literatura. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 9 Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) O poeta nasceu em Portugal, mas logo veio para Pernambuco e depois para a Bahia. Voltou a Portugal para se formar em Direito em 1761. Voltou ao Brasil em 1782, para Vila Rica, onde foi nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes. Apaixonou-se pela adolescente Maria Doroteia. Em 1786, pediu a jovem em casamento. Participa da Inconfidência Mineira e, por conta disso, é preso antes de se casar. Fica três anos na Ilha das Cobras no Rio de Janeiro, seus bens foram confiscados. Parte da sua mais famosa obra Marília de Dirceu foi concluída na prisão. Em 1792, a pena é comutada, e ele parte para o degredo em Moçambique, onde se casa com Ana (Juliana) Mascarenhas, filha de um comerciante de escravos. Escreveu também um poema satírico, Cartas Chilenas, cuja autoria não foi assumida pelo poeta, mas que posteriormente foi-lhe atribuída. Atenção: esses autores e obras constam no Manual do Candidato da FUVEST 2022 e podem ser cobrados em comparação com Cecília Meireles: Arcadismo: Cláudio Manuel da Costa (Sonetos); Tomás Antônio Gonzaga (Marília de Dirceu). Confiram agora o nome de outros árcades importantes, embora esses não sejam tão citados nas poesias. Basílio da Gama (1741-1795) Nasceu em Lisboa, veio para o Brasil, onde teve uma educação jesuítica no Rio de Janeiro. Por sua ligação com a ordem religiosa, na época da expulsão da Companhia de Jesus, foi perseguido. Para evitar o exílio, produz uma obra de apoio a Pombal, O Uraguai. Trata-se de um longo poema épico, no qual o eu lírico conta a história da Batalha dos portugueses contra os jesuítas em Sete Povos das Missões. Os feitos do general Gomes Freire de Andrade são descritosheroicos, enquanto os jesuítas são representados como exploradores dos índios. Santa Rita Durão (1722-1784) Frei José de Santa Rita Durão foi um dos primeiros escritores a elevar o índio à condição de herói, manifestando em sua obra traços que foram mais bem desenvolvidos no indianismo romântico. O religioso também foi perseguido durante o expurgo do Marquês de Pombal, só que, diferentemente de Basílio da Gama, não tentou conquistar seus perseguidores através da literatura. Fez o contrário. Através da epopeia O Caramuru, o poeta exalta a colonização como esforço religioso, destacando a catequese como processo civilizatório. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 10 Voltaire, na obra de Cecília: Voltério. Contextualização internacional do presente Enquanto no Brasil o vice-presidente José Café Filho assumiu a presidência após o suicídio de Getúlio Vargas, o mundo reinventava-se após a Segunda Guerra Mundial. O mundo agora preparava-se para enfrentar uma polaridade ideológica disputada especialmente entre Estados Unidos (capitalista) e a União Soviética (comunista). Esse conflito ficou conhecido como Guerra Fria e durou de 1947, desde o Plano Truman, até 1991 com a Queda do Muro de Berlim. A publicação de Romanceiro da Inconfidência (1953) se situa bem no meio dessa “bagunça”. Outros eventos históricos importantes do período e para um pouco além dele: • A Revolução Cubana (1953-1959); • Guerra do Vietnã (1955-1975); • Ascensão das Ditaduras Latino-Americanas entre as décadas de 60 e 70, entre as principais: Brasil (1964-1985); Argentina (1976-1983) e Chile (1973-1990). • Revolta das colônias remanescentes, o que geraram Guerras por Independências, como por exemplo Moçambique (1964-1974) e Angola (1961-1974). Pode-se dizer que Romanceiro da Inconfidência é uma obra com complexa estruturação temporal, ou seja, ela fala sobre o passado e o presente ao mesmo tempo e também é capaz de se alçar ao futuro. Assim, é assombroso perceber que, mesmo Cecília Meireles tendo falecido em 1964, ela conseguiu vislumbrar em sua obra alguns presságios do que ainda estava por vir. Exemplo disso é a repetição do mês de maio em seus poemas, servindo também como uma espécie de prefiguração de Maio de 1968, fato histórico que ocorreu na França indicando uma postura anárquica e lançando o conceito de contracultura. Contextualização internacional do passado O século XVIII ficou conhecido como o século das Luzes. O banho de sangue que se abateu sobre a Europa por motivos religiosos durante os séculos XVI e XVII afinal resultaria em alguma reação. Pensadores, intelectuais e cientistas perceberam que a religião como guia social poderia se tornar extremamente perigosa, pois apoiava-se na fé, na crença e na tradição. O antídoto? O pensamento racional. Os eventos enumerados abaixo são representativos do que ia pela cabeça dos Europeus. O terremoto de Lisboa (1755) abalou a fé dos católicos. A tragédia foi de grandes proporções, a cidade ficou arrasada. A Revolução Industrial começou a mostrar quais eram as possibilidades que se poderiam alcançar através de técnicas baseadas no cálculo. E os dois eventos, Declaração da Independência dos EUA e a Revolução Francesa, vão abalar decisivamente a forma de se viver. Esses fatos políticos foram profundamente influenciados pelo Iluminismo. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 11 2.0 CECÍLIA MEIRELES Cecilia Meireles (1901-1964) foi uma poetisa com grande preocupação com o interior. Suas obras são bastante introspectivas e filosóficas. Dá muita atenção à musicalidade – o som das poesias. Suas principais obras foram as seguintes: • Vaga música (1942) • Romanceiro da Inconfidência (1953) • Canções (1956) • Romance de Santa Cecília (1957) • Poesias completas (1973). Cecília Meireles tinha uma obra muito eclética. Escreveu desde poesia infantil (Ou isto ou aquilo, de 1964); obras de cunho de revisionismo histórico, como Romanceiro da Inconfidência (1953) e algumas obras consideradas como intimistas e sentimentais. Logo, esses são traços que permitem enquadrá-la junto com Vinicius de Moraes numa tendência chamada de Neossimbolismo. (1751-1775) Projeto da Encyclopédia Pensadores: Rousseau, Voltaire, D’Alembert, Rousseau, Lavoisier, Isaac Newton, Hobbes, Locke , 1755 1760 1776 1789 Terremoto em Lisboa Revolução Industrial E Declaração Independência EUA Revolução Francesa Ilu Iluminismo & Ciência Valorização da razão t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 12 Infográfico: Showeet A POESIA: O NEOSSIMBOLISMO A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a nenhum movimento literário. Sua poesia, de modo geral, filia-se às tradições da lírica luso-brasileira. Apesar disso, as publicações iniciais da escritora – Espectros (1919), Nunca mais... e poema dos poemas (1923) e Baladas para El-Rei (1925) – evidenciam certa inclinação pelo Simbolismo. Essa tendência é confirmada por sua participação na revista carioca Festa, publicação literária de orientação espiritualista que defendia o universalismo e a prevenção de certos valores tradicionais da poesia. Além disso, a frequente presença de elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música dá à poesia de Cecília Meireles um caráter fluido e etéreo, que confirma a inclinação neossimbolista da autora. O espiritualismo e o orientalismo, tão prezados pelos simbolistas, também se fazem presentes na obra da poetisa, que sempre se interessou pela cultura oriental e foi admiradora e tradutora do poeta hindu Tagore, do chinês Li Po e do japonês Bashô. Do ponto de vista formal, a escritora foi das mais habilidosas em nossa poesia moderna, sendo cuidadosa sua seleção vocabular e forte a inclinação para a musicalidade (outro traço associado ao Simbolismo), para o verso curto e para os paralelismos, a exemplo da poesia medieval portuguesa. Fonte: CEREJA; William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. 6. ed. São Paulo: Atual, 2008 (v. 3, p. 314). 1942 1953 1956 Vaga música São poemas predominantemente sentimentais, em que a poetisa pensa sobre a vida e a passagem do tempo. Em certa medida, dialoga tematicamente com Viagem (1938), livro composto por apenas 12 poemas. Canções Observa-se nessa obra coloquialidade e influência portuguesa. Desde Vaga música, sabemos que a musicalidade também é um tema central para a obra de Cecília Meireles. A efemeridade da vida continua sendo importante, bem como a consciência, os sonhos e a melancolia, prevalecendo o neossimbolismo. Romanceiro da Inconfidência Obra de revisionismo histórico que lança seus olhares e atenções ao fato histórico da Inconfidência Mineira (1789-1792). São 85 romances, mais outros 11 paralelos entremeados a elas, que descrevem de maneira episódica e crítica casos, pessoas e lugares do fim do século. XVIII. 1956 Romance de Santa Cecília Importante por constatar preocupações importantes para Cecília Meireles: o gênero romance, a espiritualidade a preocupação com o sagrado feminino. Geralmente, é editada junto com “Pequeno oratório de Santa Clara”. 1964 1973 Ou isto ou aquilo? Obra infantil que conta com a presença de um poema com o mesmo nome. A função pedagógica consiste em ensinar para as crianças que nãose pode ter tudo e escolhas devem ser feitas na vida. Poesias completas Algumas edições mais recentes da obra da poetisa já são reuniões de suas poesias. Antologia: coleção de textos selecionados que melhor representam a obra de um autor. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 13 3.0 ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA Em primeiro lugar, é preciso justificar o título da obra, que aparentemente parece estranho, já que se trata de um livro de poesias, e não um “romance” em prosa como hoje conhecemos. Porém, devemos nos lembrar sempre de que nesse livro Cecília Meireles vale-se do revisionismo histórico. Então, quanto à forma, ela também emprega um gênero que não é modernista, mas sim medieval. Assim como a noção de “História” não era a mesma na Idade Média, também não o era a noção de “romance”. Entende-se o romance medieval também como “romanceiro”, no sentido de composição poética. Designa a atividade poética luso-espanhola, de caráter épico e lírico, anônima, transmitida por via oral, durante a Idade Média, configurada nos romances, ou a sua compilação em romances, ou a sua compilação em volume, integral ou antológico (MOISÉS, 2013, p. 417). Quanto à estrutura, esquematizando o que já foi dito, temos o seguinte: Tantos os cenários quanto as falas paralelas aproximam a obra de Cecília Meireles ao teatro, como se fosse uma espécie de performance com lugar para acontecer e pessoas para falar. De uma maneira mais complexa, podemos estruturar a obra ainda em 5 partes: Romanceiro da Inconfidência 96 poemas 85 romances 4 cenários 7 falas paralelas t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 14 Pré-leitura • REVISIONISMO HISTÓRICO. Já explicamos o termo, mas convém dizer que ele também dialoga com a mesma tendência na prosa. Desde o século XVIII na Europa, a partir de escritores como Walter Scott e Fielding, surge o romance histórico. Nesse sentido, mostra-se como que a História Oficial influencia na vida direta das pessoas das mais variadas classes sociais. Por isso, na obra de Cecília Meireles encontramos nomes de figuras históricas. Atenção: os nomes são reais, sem falseamento (uso de pseudônimo, cujo uso era comum no século XVIII, por causa das perseguições). • MODERNISMO VERSUS CLÁSSICO. Constantemente, observamos na obra de Cecília Meireles uma luta entre o clássico e o moderno. Primeiramente, a poetisa adota formas medievais para dar conta de um conteúdo histórico. Nem a forma nem o conteúdo são de seu próprio tempo (século XX). O revisionismo histórico por si só não é uma invenção de Cecília Meireles. Outros modernistas da primeira geração, antes dela, já aderiram ao método, como por exemplo, Oswald de Andrade no poema “A descoberta” para se referir ao descobrimento do Brasil, e mesmo outros poetas da mesma geração dela, como Murilo Mendes em seu poema “Carta de Pero Vaz de Caminha”, falando sobre o mesmo tema. Na obra de Cecília Meireles, em mais de ocasião, ainda observamos a influência da literatura portuguesa. Por exemplo, a estrutura da obra lembra a de Mensagem (1933) de Fernando Pessoa, também estrutura num esquema de 3 partes/5 brasões de Portugal. Observem abaixo algumas diferenças entre a poesia clássica e a moderna. R o m an ce ir o d a In co n fi d ên ci a 9 6 p o em as Parte I: fala inicial + cenário + 12 romances sobre o Ciclo do Ouro Parte II: fala à antiga Vila Rica + 27 romances sobre o Arcadismo; algumas figuras, como Joaquim Silvério e Tiradentes; e a Conjuração + fala aos pusilânimes Parte III: 17 romances, sem falas paralelas nem cenários Parte IV: cenário + 7 romances + imaginária serenata Parte V: Retrato de Marília em Antônio Dias + cenário + 5 romances + fala aos Inconfidentes mortos t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 15 • PROSAÍSMO. Trata-se de um desdobramento da técnica modernista. Por mais que a obra fale de um fato histórico, devemos lembrar que ela usa vários recursos estilísticos do modernismo, como: abandono do idealismo (algumas personagens são perdem seu heroísmo e são retratadas como pessoas comuns) e mistura de estilos (na obra, esse aspecto é observado pelas pontuações – uso de parênteses e travessão para indicar intrusão de outras vozes, até mesmo discurso direto, e reprodução de ditados populares, profecias, anedotas, sensos comuns etc.). Assim, verifica-se na obra de Cecília Meireles crítica e ironia. Essa mistura de estilos faz da obra um gênero híbrido, ora aproximando-se do teatro e ora da música (por meio da repetição de estruturas idênticas, como se fossem refrões). Nesse sentido, a obra de Cecília Meireles é uma obra aberta, pois não se reduz a um único ponto de vista, mas sim há a possibilidade de representação de vários pontos de vista. • PERSONAGENS FEMININAS. Sendo uma poetisa numa época ainda conservadora, é importante reparar que na obra de Cecília Meireles há a presença de figuras históricas femininas, como Bárbara Heliodora, Maria Ifigênia, Maria I e Juliana de Mascarenhas, por exemplo. Isso quer dizer que Cecília Meireles não estava alheia à questão de gênero, podendo dar voz a essas mulheres que talvez em suas próprias épocas de vida não tiveram. Quadro de personagens Bárbara Heliodora Mulher do inconfidente Inácio José de Alvarenga Peixoto. Bárbara Heliodora (1759-1819). Foi casada com Alvarenga Peixoto e teve como filha Maria Ifigênia, que morreu aos 13 anos de uma queda de cavalo. No Arcadismo, as mulheres não eram apenas musas. Bárbara Heliodora escreveu Conselhos a meus filhos e é considerada por alguns a primeira poetisa brasileira. Há e dois romances para ela: LXXV e LXXX. Alvarenga Peixoto Inácio José de Alvarenga Peixoto (1742-1792). Foi considerado como um dos principais chefes da conjuração, foi desterrado para terras africanas. Era tenente-coronel de cavalaria e poeta de grandes méritos. Escreveu poesia dedicada à mulher e à filha (Maria Ifigênia) e outras obras mitológicas: “Estela e Nize” e “Eu Vi a Linda Jônia”. O romance LXXVIII – De um tal de Alvarenga é sobre ele. FORMA Verso livre (sem métrica definida) Prosaísmo linguístico (palavras do cotidiano, "não poéticas) Pontuação livre Desrespeito pelas regras gramaticais Desprezo pela sintaxe tradicional CONTEÚDO Imagens não-lógicas (justaposição de imagens, colagem) Prosaísmo (valorização do momento, do cotidiano) Automatismo psíquico Fragmentação Ironia e metalinguagem t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 16 João Fernandes João Fernandes de Oliveira (1720-1779). Rico contratador de diamantes, a quem muito perseguiu o Conde de Valadares. Tornou-se célebre pelas atenções dispensadas aos mais insólitos desejos de sua amante, a Chica da Silva. O romance XIII, “Do contratador Fernandes”, é sobre ele. Joaquim José da Silva Xavier Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792). Recebeu posteriormente a alcunha de Tiradentes (por causa da profissão civil de dentista) e na obra de Cecília Meireles é frequentemente conhecido por “Alferes”, aquele que serviu a todos, mas a quem ninguém serviu. Representou o principal papel na Inconfidência Mineira, aliciando cúmplices, propagando ideias de libertação e buscando o apoio da força armada. Foi enforcado, tendo sido seu corpo esquartejado e posto em exibição pelos lugares em que pregou suas ideias. Alferes de cavalaria, tornou-se a figura de maior significaçãohistórica no drama da Inconfidência. Há vários romances sobre ele: XXVII – Do animoso Alferes, XXXIII – Do cigano que viu chegar o Alferes, XXXV – Do suspiroso Alferes, LXV – Da arrematação dos bens do Alferes, LXI – Dos Domingos do Alferes; LXIII – Do silêncio do Alferes. Joaquim Silvério dos Reis Joaquim Silvério dos Reis (1756-1792). Constitui a figura obscura da Inconfidência, em virtude de ter sido o denunciante, junto ao Visconde de Barbacena, dos planos de rebeldia que se tramavam em Vila Rica. O romance XXXIV é sobre ele. Juliana de Mascarenhas Também é conhecida apenas por “Ana”. Jovem de Moçambique, que veio a casar-se com o poeta Tomás Antônio Gonzaga após o seu degredo. Na obra de Cecília Meireles, ela é descrita como tendo “negros olhos orientais”. O romance LXXI é dedicado a ela. Maria I, a louca Maria (1734-1816) foi a rainha de Portugal e Algarves à época da Inconfidência Mineira. Casou-se com o tio Pedro de Bragança para assegurar a sua dinastia. Foi reconhecida pela crueldade de assinar vários decretos provocando várias mortes e degredos (exílios). Há mais de um romance para ela: LXXIV – Da rainha prisioneira; LXXXII – Da rainha loura e LXXXIII – Da rainha morta. Morreu louca no Brasil. Marília Maria Joaquina Dorotéia de Seixas (1767-1853) foi cantada em versos sob o nome de Marília (breve corruptela de seu nome, como se fosse um diminutivo carinhoso), pelo noivo Tomás Antônio Gonzaga, que se chamava poeticamente Dirceu. Embora em sua obra lírica ela seja pintada como utopia, foi uma figura real. Chico Rei Era de uma tribo do Congo e foi trazido escravo para o Brasil. Não se sabe ao certo sua origem, mas corria uma lenda que no Congo ele era um monarca. Chegou ao Brasil em 1740 no navio Madalena e é uma figura que inspira confiança. O romance VIII é dedicado a ele. Chica da Silva Francisca da Silva de Oliveira (1732-1796). Foi escrava, mas depois alforriada. Alcançou status por causa de seu relacionamento com José Fernandes. Mais de um romance é dedicado a ela: XIV – Da Chica da Silva, XV – Das cismas da Chica da Silva. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 17 Outras personagens • Sapateiro Capanema. Foi denunciado e preso em virtude de propalar rumores alusivos à expulsão dos portugueses. • Padre Rolim. PADRE ROLIM. Implicado como um dos principais fomentadores do movimento de rebeldia contra a dominação portuguesa, foi recolhido preso a Lisboa. • Padre Toledo. Teve o mesmo destino do antecedente, em vista de ser apontado como partidário da insurreição. • Entre outros nomes intitulando os romances encontram-se: caixeiro Vicente; Inácio Pamplona; Antônio Dias (esse inclusive virou nome de uma ponte em Minas Gerais). 3.1 RESUMO ANALÍTICO Romanceiro da Inconfidência é uma obra atípica. É fruto do seu tempo, mas simultaneamente parece anacrônica. É densa e longa, em um movimento de formas breves. Lida com memória afetiva e ainda assim deturpa um pouco a história, pois faz mais do que simplesmente narrá-la. A História Oficial é humanizada, pois é trazida ao nível dos seres humanos envolvidos na luta na época. O procedimento principal da obra é a reconstituição de fatos históricos a partir do resgate cultural e de reminiscências. As personagens envolvidas nos episódios revelam simbiose com o lugar, principalmente Minas Gerais, palco da ação. Frequentemente, a obra não narra tudo e deixa muito assunto vago no ar, convidando o leitor a inferências e induzindo-o a completar a história. “Com a imaginação a adivinhar o que não se mostra claro ou não está nos documentos, Cecília Meireles recria poeticamente um pedaço de tempo e, ao lhe reescrever poeticamente a história, dá a uma conspiração revolucionária de poetas, num rincão montanhoso do Império português, a consistência do mito” (Alberto da Costa e Silva – Poesia e História, grifo meu). Então, primeiramente, o que é curioso em Romanceiro da Inconfidência são seus hibridismos: Preferi proceder da seguinte maneira em relação a essa obra: trazer o principal de cada romance, dada a dificuldade de abordagem da obra como um todo, devido à sua extensão. Eis que eu vos convido a adentrar no túnel do tempo. Estão preparados? Vamos lá? Parte 1 Fala Inicial Essa fala não é direcionada a ninguém em particular. O poema começa com um eu lírico em primeira pessoa: “Não posso mover meus passos”, numa condição de impossibilidade de movimento, que já é irônico, pois o poema trata da história, teoricamente, algo em movimento. Formal: poesia, prosaísmo e teatro Temático: História e mito/lenda t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 18 versos iniciais A multidão é composta por espectadores, no conforto de casa. Mas também eles ficariam na História? E as dúvidas continuam. A História não é um fóssil morto, um círculo fechado. Ela pode ser revisitada e repensada. A data histórica é um pretexto de lembrança de fatos que ainda reverberam em nosso presente. História é dinâmica, pois está viva. O eu lírico, de primeira pessoa do singular, passa à primeira pessoa do plural. Com isso, apela para o senso coletivo no sentido de que é necessária a ação. Não posso mover meus passos, por esse atroz labirinto de esquecimento e cegueira Também é subvertida uma noção de que a História deve ser sempre progressista, positiva e caminhar para frente. Se a História é um labirinto de cegueira e esquecimento há o risco de perder-se, até mesmo enlouquecer com a História. O eu lírico então admite-se paralisado, mas ainda assim descreve uma cena: consegue enxergar masmorras, cadafalsos, multidões. e, por muros e janelas, o pasmo da multidão. Eles estão presos a costumes passados, insistindo em valores ultrapassados: louvam uma rainha que já está louca. Ó meio-dia confuso, ó vinte-e-um de abril sinistro, que intrigas de ouro e de sonho houve em tua formação? Quem ordena, julga e pune? Quem é culpado e inocente? Na mesma cova do tempo cai o castigo e o perdão. Quanto ao tema, Cecília Meireles revela a sua obsessão quanto à efemeridade do tempo, pois tudo morre, bom ou não. Quanto à forma, um dos importantes procedimentos técnicos em Romanceiro da Inconfidência é a pergunta retórica. Ao lançar perguntas críticas e reflexivas, Cecília Meireles deixa pontas soltas, não conclui nenhuma resposta e com isso abre possibilidades ao leitor, convidado a pensar de quem é a responsabilidade pelas condenações ou pelas salvações. Não é em metrificar ou não que diferem o historiador e o poeta (...) a diferença está em que um narra acontecimentos e o outro, fatos quais poderiam acontecer. Por isso, a Poesia encerra mais filosofia e elevação do que a História; aquela enuncia verdades gerais; esta relata fatos particulares (ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Cultrix, 2014, p. 28). É parecida essa concepção na obra de Cecília Meireles: a diferença entre poesia e história é que a história narra o que aconteceu, e a poesia o que poderia ter acontecido. Não choraremos o que houve, •É uma interrogação que não tem como objetivo obter uma resposta, mas sim estimular a reflexão do individuo sobre determinado assunto. Pergunta retórica t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 19 nem os que chorar queremos: contra rocas de ignorância rebenta a nossa aflição. Não adianta chorar o leite derramado. Não é essa a noção de História proposta aqui. A missão da História visa ao conhecimento e ao combate da ignorância, seja na época que for. Cenário Atenção: esse poemaune a tradição clássica ao modernismo. Cecília Meireles estrutura esse poema todo em estrofes com 3 rimas, partindo da tradição dantesca da terza rima. Dante Alighieri usou essa mesma estrutura em sua Divina Comédia. Esse mesmo procedimento se verifica na construção do poema “Máquina do mundo” de Carlos Drummond de Andrade, que fecha o livro Claro Enigma, o qual também está na lista da FUVEST. TERZA RIMA Segundo alguns, há que considerar como origem remota da terza rima o terceto empregado no sirventês provençal durante a Idade Média. Outros, porém, atribuem-lhe filiação com o soneto. De qualquer modo, a sua invenção, na estrutura que passou a ostentar, deve-se a Dante: toda Divina Comédia (séc. XIV) compõe-se de tercetos, por meio dos quais o poeta desejaria simbolizar a Santíssima Trindade, os Três Reinos (Inferno, Purgatório e Paraíso) e tudo o mais que se relaciona com o sentido cabalístico do número 3. Adotada por Boccaccio e Petrarca, já no século XV, graças a Chaucer e Juan Boscán, ganhava a Literatura Inglesa e Espanhola, respectivamente. Alcançou a França na centúria seguinte, mas foi escassamente apreciada, por Baïf, Desportes e outros. A Portugal, chegou no mesmo século: Camões, Antônio Ferreira, Diogo Bernardes e outros utilizaram-na em cartas, elegias e églogas. Praticamente esquecida ao longo dos séculos XVII e XVIII, no final deste retornou à circulação, trazida pela mão de Vincenzo Montini, poeta italiano conhecido como “um novo Dante”. No século XIX, empregaram-na alguns românticos (Byron, Shelley, Schlegel, Chamisso), mas é no Parnasianismo que encontrou clima propício, em razão do gosto reinante pelos experimentos formais (Théophile Gautier, Leconte de Lisle, Antônio Feijó). Esporadicamente usada no século XX, por W. H. Auden, Archibald MacLeish, Hugo von Hoffmannsthal. Na Literatura Brasileira, foi cultivada por Gregório de Matos, no Barroco, por Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, no Arcadismo, Álvares de Azevedo, no Romantismo, Machado de Assis, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e outros, no Parnasianismo. A terza rima estrutura-se como uma série arbitrária de tercetos, estrofes de três versos, com rima entrecruzada, de modo que o primeiro verso rima com o terceiro, o segundo com o quarto e o sexto, o quinto com o sétimo e o nono, o oitavo com o décimo e o décimo segundo, e assim por diante (aba, bcb, cdc, ded, etc.). Ao derradeiro terceto, acrescenta-se um verso, que rima com o verso intermediário da estrofe precedente (xyxy) e que pode permanecer isolado ou aglutinar-se ao terceto, formando um quarteto. Fonte: MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2013 (p. 459-460, grifo meu). t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 20 Fim do Ciclo do Ouro: fim não só dos recursos materiais, como também fim do sentimento da esperança. A obra ganha um tom estranho ao Arcadismo: o pessimista. Roubos são feitos com aparentes motivos nobres. Algo destruiu o cenário idílico árcade ou talvez ele nunca foi idílico de fato, mas sim mera aparência. O eu lírico se sente herdeira daquelas mulheres. Nomes clássicos são aludidos logo abaixo. Então, não é à toa a escolha da forma: Cecília Meireles opta por uma forma clássica para narra a história do Arcadismo, forma empregada inclusive pelos próprios árcades. Basicamente, esse poema descreve as colinas, o gado, e todo um aparente insustentável pastoralismo. Passei por entre as grotas negras, perto dos arroios fanados, do cascalho cujo ouro já foi todo descoberto. (...) tudo me fala e entende do tesouro arrancado a estas Minas enganosas, com sangue sobre a espada, a cruz e o louro. O curso da História não é promissor, mas o legado continua. “Tudo é sombra de sombras, com certeza...” soa como uma profecia. O mundo está encoberto por fantasmagorias. Minas Gerais e suas cidades vão se tornar fantasmagóricas na obra de Cecília Meireles, por vários motivos: porque as pessoas já morreram, porque as pessoas se resignam e não agem, porque elas se escondem e não têm coragem. O tema da cidade fantasma é comum no Modernismo e também está presente na obra Pedro Parámo (1955) de Juan Rulfo, por exemplo. E percebo os suspiros dos amores quando por esses prados florescentes se ergueram duros punhos agressores. (...) Minha sorte se inclina junto àquelas vagas sombras da triste madrugada, fluidos perfis de donas e donzelas. Tudo em redor é tanta coisa e é nada: Nise, Anarda, Marília...- quem procuro? Quem responde a essa póstuma chamada? Que mensageiro chega, humilde e obscuro? Que cartas se abrem? Quem reza ou pragueja? Quem foge? Entre que sombras me aventuro? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 21 Insistência nas perguntas: ânsia por respostas. Reiteração do pronome “quem?”, sem, contudo, nenhum nome ser apontado. Ambiguidade do termo “pena”: sofrimento ou instrumento de escrita usado no século XVIII. A fantasmagoria e as formas vagas também se adequam ao neossimbolismo de Cecília Meireles. A depender da edição, o último verso vem destacado, como se fosse o sentido de tudo, a esperança. Voz em parênteses e em itálico. Parece uma voz em off, à parte do poema, como se fosse uma voz onisciente vendo tudo e indagando. Essa imagem dos índios nus lembra a Carta de Pero Vaz de Caminha. Os desbravadores têm o privilégio de não sentir medo; o medo está associado à ingenuidade. Quem soube cada santo em cada igreja? A memória é também pálida e morta sobre a qual nosso amor saudoso adeja. O passado não abre a sua porta e não pode entender a nossa pena. Mas, nos campos sem fim que o sonho corta, vejo uma forma no ar subir serena: vaga forma, do tempo desprendida. É a mão do Alferes, que de longe acena. Eloquência da simples despedida: “Adeus! que trabalhar vou para todos!...” (Esse adeus estremece a minha vida.) Romance 1 ou Da Revelação do Ouro “Revelação” é um nome forte, impactante. Lembra o conceito de epifania na Bíblia: isto é, quando um santo ou uma figura importante faz uma aparição em nossas vidas para transmitir alguma mensagem. “Revelação” também pode indicar que o ouro aparece, ele reluz, ele se exibe, permitindo às pessoas que o vejam e o encontrem. Logo, observamos mais um efeito de texto importante na obra de Cecília Meireles: a ambiguidade. AMBIGUIDADE: ocorre quando um mesmo vocábulo ou expressão pode ser interpretado de mais de uma maneira. Ela pode aparecer de duas maneiras: como recurso expressivo, principalmente no caso da publicidade ou dos textos humorísticos; ou como um defeito na construção, prejudicando a clareza da mensagem. Ou seja, ela pode ser intencional ou não. (Por onde é que andas, ribeiro, descoberto por acaso?) Grossos pés firmam-se em pedras: sob os chapéus desabados, O olhar galopa no abismo, vai revolvendo o planalto; descobre os índios desnudos, que se escondem, timoratos (...) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 22 A voz entre parênteses é repetitiva e importante. A fantasmagoria é o legado do homem que perdeu sua humanidade. Um dos temas importantes para a obra de Cecília Meireles é a relação entre homem e natureza. O Arcadismo foi um movimento literário que valorizou a natureza; porém, Cecília Meireles aponta uma época na qual o homem já não mais se reconhece enquanto ser natural e a natureza é afetada pela maldade e depredação humanas. Os valores também são distorcidos: o homem que muito se aproxima do ouro se distanciade Deus. De que vale a moral se homens são ambiciosos e se matam pelo ouro? “Que é feito de ti, remoto/Verbo Divino Encarnado?” (Que é feito de vós, ó sombras que o tempo leva de rastos?) Os homens passam, a verdade é essa. De que adianta tanta ambição? Uns passam sem a menor importância ou lembrança. Seus nomes são embaraçados. O ouro de Ouro Preto foi revelado, porque foi desbravado. Ao verso final desse poema se atribui o sentido místico da revelação, ao mesmo tempo que o sentido da ruína (término da riqueza). (Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2020) Fruto de longa pesquisa histórica, a obra Romanceiro da Inconfidência é, para muitos, a principal obra de Cecília Meireles. Nesse livro, por meio de uma hábil síntese entre o dramático, o épico e o lírico, há um retrato da sociedade de Minas Gerais do século XVIII. Levam guampas, levam cuias Levam flechas, levam arcos; Atolam-se em lama negra, Escorregam por penhascos, Morrem de audácia e miséria, Nesse temerário assalto, Ambiciosos e avarentos, Abomináveis e bravos, Para fortuitas riquezas Estendendo inquietos braços, – os olhos já sem clareza – os lábios secos e amargos. (Que é feito de vós, ó sombras Que o tempo leva de rastros?) E, atrás deles, filhos, netos, Seguindo os antepassados, Vêm deixar a sua vida, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 23 Caindo nos mesmos laços, Perdidos na mesma sede, Teimosos, desesperados, Por minas de prata e de ouro Curtindo destino ingrato, Emaranhando seus nomes Para a glória e o desbarato, Quando, dos perigos de hoje, Outros nasceram, mais altos. Que a sede de ouro é sem cura, E, por ela subjugados, Os homens matam-se e morrem, Ficam mortos, mas não fartos. (Ai, Ouro Preto, Ouro Preto, e assim foste revelado!) MEIRELES, Cecília. Romance I ou da Revelação do Ouro. In: Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974, p. 12-13. Após a leitura do trecho acima, assinale a alternativa correta. a) Pode-se concluir do trecho que o sujeito da ação, uma vez que levam flechas e arcos, são os índios. b) Cecília Meireles é uma escritora portuguesa do Romantismo. c) Segundo o eu lírico, é duplo o papel dos exploradores, que lavravam preciosidades, mas tinham sua alma corrompida. d) Conclui-se do trecho que a geração de aventureiros que descobriram Ouro Preto representou um momento único na história e não teve continuidade. e) O verso “Caindo nos mesmos laços” constitui uma Oração Subordinada Adverbial Reduzida de Infinitivo. Comentários Alternativa A: incorreta. O sujeito da ação são os “ambiciosos e avarentos” em sua luta corrida no Ciclo do Ouro. Alternativa B: incorreta. Cecília Meireles é uma poetisa brasileira do Modernismo. Alternativa C: correta – gabarito. O eu lírico alerta para o risco de se perder na ambição pela corrida do ouro: “Os homens matam-se e morrem”. Alternativa D: incorreta. Sabe-se que a obra de Cecília Meireles faz o passado repercutir no presente, o que pode ser inferido a partir dos versos: “Quando, dos perigos de hoje, /Outros nasceram, mais altos”. O ciclo se repete por gerações de filhos e netos. Alternativa E: incorreta. Questão de Gramática aplicada à Literatura. De gerúndio e não de infinitivo. Gabarito: C. Romance 2 ou Do Ouro Incansável O próprio título do poema já é uma personificação: o ouro não se cansa, quem não se cansa são os seres humanos de procurá-lo. Bateias rodam, instrumentos de exploração são usados, o ouro vai sendo revelado. Explorar é um verbo de ação. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 24 Diferentes figuras de linguagem são usadas: o ouro é personificado e paradoxal. É ele que faz isso a si próprio ou o que os outros fazem dele? “Opulentos altares” é uma alusão às igrejas barrocas mineiras. Atenção: um contraponto ao Arcadismo é o movimento literário do Barroco, anterior a ele, predominantemente rebuscado e religioso. Há um grande contraste entre natureza rica versus homem miserável. A escravidão enquanto força de trabalho é representada, bem como febre e fome, consequências das desigualdades sociais provadas pela exploração do ouro. O ouro é como se fosse um deus, capaz de alterar a fortuna humana. Uma força que coloca as classes sociais em movimento, desde os escravos até reis. Para o bem ou para o mal, vivos e mortos: “Descem fantasmas dos morros”, pois os escravos incansáveis trabalhando incansavelmente já parecem mais mortos que vivos. O ouro cansa e faz cansar. De seu calmo esconderijo, O ouro vem, dócil e ingênuo; torna-se pó, folha, barra, prestígio, poder, engenho... É tão claro! – e turva tudo: honra, amor e pensamento. Borda flores nos vestidos, sobe a opulentos altares, traça palácios e pontes, eleva os homens audazes, e acende paixões que alastram sinistras rivalidades. Pelos córregos, definham negros, a rodar bateias. Morre-se de febre e fome sobre a riqueza da terra: uns querem metais luzentes, outros, as redradas pedras. (...) Por ódio, cobiça, inveja, vai sendo o inferno traçado. Os reis querem seus tributos, - mas não se encontram vassalos. Mil bateias vão rodando, mil bateias sem cansaço. Romance 3 ou Do Caçador Feliz Caça ou caçador? Os desbravadores do ouro são comparados a caçadores, mas não de algo animado como um animal, mas sim inanimado. Porém, os Inconfidentes são caçados pelas sentinelas e pelos delatores, como se fossem hereges caçados na Inquisição. Há toda uma lógica perversa de mais fracos sendo comandados por mais fortes. Apenas quem tem seus direitos assegurados é que pode se sentir “feliz”. O caçador que anda na mata pouco se importa com a natureza, pois são muitas as ameaças, humanas ou animais. É melhor ele estar preparado. Eis uma provocação: “Caçador que andas na mata,/São bichos que vais caçando, /ou caças o que não dizes?” Romance 4 ou Da Donzela Assassinada Após a Revolução Francesa (1789), sucedeu-se na França o período do Terror (1792-3). Todos os ideais pregados (liberdade, igualdade e fraternidade) transformam-se numa caça sanguinária contra os aristocratas e monarcas, a fim de derrubar o Antigo Regime. Logo, é um período de extrema violência, que repercute em crimes, degolações e assassinatos. Portanto, imagens assim são frequentes na época. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 25 Há uma atmosfera de mistério; como se fosse um romance policial, busca-se por provas. Há vários subentendidos no ar, nada é nunca bem explicado. Lado materno ou conselho geral? Parece uma canção de desespero narrando o Apocalipse (fim do mundo). A ruína causada pelo ouro também representaria o fim de tudo e todos. Era tempo de Natal, mas, apesar disso, não era tempo de ficar em família. Pelo contrário: parecia haver alguma traição. Ouvi minha mãe aos gritos e meu pai a soluçar, entre escravos e vizinhos, e não soube nada mais. O eu lírico é feminino: “Mas eu vagueiro sozinha/pela sombra do quintal”. Coisas mundanas a prendem no mundo: ela procura por um lencinho. No fundo, há o elemento imprevisível: a moça é uma alma penada. Lembra algumas lendas urbanas, como a “Canção da moça-fantasma de Belo Horizonte”, poema de Carlos Drummond de Andrade em Sentimento de mundo. Romance 5 ou Da Destruição de Ouro Podre Vila Rica é uma cidade que na contemporaneidade é conhecida como Ouro Preto. O adjetivo “preto”, bem como “negro”, são bastante explorados por Cecília Meireles em Romanceiro da Inconfidência,mais uma vez por causa de sua ambiguidade: podem se referir aos escravos ou ao pessimismo que indica a ruína do tempo. E agora mais um adjetivo é associado a esse campo semântico: “podre”. O ouro é tal como se fosse um organismo vivo, capaz de perecer. Dorme, meu menino, dorme, que o mundo vai se acabar. Vieram cavalos de fogo: são do Conde de Assumar. Pelo Arraial de Ouro Podre, começa o incêndio a lavrar. Só por violência se mantêm as tiranias e o uso da espada é mortal. Pelas riquezas da terra, muitos morreram e morrerão. O cenário pintado é sem idealismo, as histórias de ninar não são mais reconfortantes, como se não houvesse salvação. O que resta é uma lição trágica: o esquartejamento. CENA DE LIVRO Ciclo de ouro t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 26 A História é uma estrutura mise-en-abyme: o tempo se desdobra em mais tempo. Os castigos são hereditários que se propagam no tempo e as gerações futuras sofrerão pelos atos no presente. No labirinto que é a História, a humanidade pode se perder. O senso de justiça pode se tornar distorcido. Muitas vezes na obra, o eu lírico assume a função de guia turístico: vai passando pela cidade e vai explicando-a. Aqui, há uma explicação trágica para o nome do lugar se chamar assim. Para um turista, o fato poderia ser ocultado; porém, o eu lírico não quer escondê-lo, mas sim denunciá-lo. Nem tudo está perdido: a cor preta da cidade está associada à podridão, mas a criança e o nascimento são sinais de esperança. Lições podem ser aprendidas com a História. Atenção para a repetição das interjeições: o eu lírico expressa um sentimento de enfatuação. A riqueza é vazia e sem sentido. Histórias de usura e abuso de poder costumam ter suas consequências. Dentro do tempo há mais tempo, e, na roca da ambição, vai-se preparando a teia dos castigos que virão: há mais forcas, mais suplícios para os netos da traição. Embaixo e em cima da terra, O ouro um dia vai secar. Toda vez que um justo grita, um carrasco o vem calar. Quem não presta, fica vivo: quem é bom, mandam matar. Quando um dia fores grande, e passares por ali, dirás: “Morro da Queimada” Direta ou indiretamente, o eu lírico apela para a necessária coragem que demanda o apelo de contar. Não tem medo de dar nome aos condes e aos reis, aos tiranos e boçais culpados por tantos sofrimentos. Não quer esconder nada sobre sua cidade, nem mesmo os fatos mais repulsivos e trágicos. Dormir é um sinal de inconsciência, mas não necessariamente. Dorme, meu menino, dorme, – que Deus te ensine a lição dos que sofrem neste mundo violência e perseguição. Morreu Filipe dos Santos: outros, porém, nascerão. Romance 6 ou Da Transmutação dos Metais O título desse poema se remete a uma tradição medieval: a alquimia, isto é, a busca científica pela capacidade de alterar a propriedade química das coisas. Assim, alguma coisa de menor valor poderia ser transformada em ouro. Foi por muito tempo caçada pela Igreja Católica, que a considerava uma ciência oculta, já que visava a conhecimentos sombrios e obscuros. Ai, quanto veludo e seda, e quantos finos brocados! Ai, quantos rubis do Oriente e diamantes lapidados! Ai, quantos vasos e jóias, cinzelados, marchetados... t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 27 Na falta da verdade, alguns serão escolhidos. Uma das críticas mais mordazes de Cecília Meireles é a denúncia do falso moralismo. O poema narra sobre o trânsito de preciosidades entre Brasil e Portugal. Num desses tráficos, as riquezas que eram para ser mandadas foram trocadas por objetos sem valor, numa espécie de provocação e afronta à monarquia. Pressagia-se um destino funesto para os que serão condenados. Ai, que o Monarca procura os que vão ser castigados. No fundo, uma voz em off revela a identidade do herói corajoso a ponto de enfrentar a coroa: Sebastião Fernandes Rego foi quem trocou os objetos. Ele é apresentado como uma espécie de Robin Hood: roubando dos ricos para lhes ensinar uma lição de moral. (10º Provão de Bolsas do Estratégia Vestibulares – Professora Luana Signorelli) Leia o texto a seguir e julgue os itens subsequentes. Eis que recebe a notícia de que ao porto são chegados os quintos de ouro das minas que do Brasil são mandados. Ai, que alegria ressumam seus olhos aveludados... Ai, que pressa, que alvoroço, por catorze mil cruzados! Ai, que ventura tão grande, depois de tantos cuidados! Mas, quando, em sua presença, os caixões são despregados, apesar de lacre e selos, os fidalgos assombrados, ai! só vêem de grãos de chumbo cunhetes acogulados... Ai, que os monarcas traídos não soltam pragas nem brados. Ai, que as forcas e os degredos são feitos para os culpados. Cuiabanos e paulistas, nobres, escravos, soldados, discutem pelos caminhos os quintos falsificados. Ai, que é Dom Rodrigo César (fidalgo dos mais honrados)... Ai, que é Sebastião Fernandes (com muitos crimes passados!) Ai, que o Monarca procura t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 28 os que vão ser castigados. MEIRELES, Cecília. Da transmutação dos metais. In: Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 37). I – A monarquia ibérica estava sendo ameaçada por um poder arrivista. II – A transmutação dos metais consiste em uma ironia. III – A repetição das interjeições confere um tom confortante ao poema. A sequência de itens corretos é: a) I. b) III. c) I e II. d) II e III. e) I, II e III. Comentários Item I: incorreto. Havia sentimento antilusitano e descontentamento por parte das cobranças financeiras abusivas de Portugal contra as riquezas brasileiras, mas no contexto do século XVIII, em ocasião da Inconfidência Mineira, os protestos estavam começando e não havia ameaça consolidada. A independência política do Brasil só ocorreria em 1822. Item II: correto. Ironia porque o imposto destinado a chegar em Portugal (o quinto) em barras de ouro foi trocado por objetos de valor nenhum (“grãos de chumbo /cunhetes acogulados”). Nisso, os fidalgos monarcas ficaram espantados. Item III: correto. Pelo contrário, um tom de lamento e de premonição. Gabarito: D. Romance 7 ou Do Negro nas Catas “Já se ouve cantar o negro”: é assim que se inicia esse poema. Por mais que seja empregado o artigo definido, paira acerca da figura do negro uma noção de anonimato. Eram tantos os escravos e eles acordavam cedo para trabalhar. Seria esse canto de alegria? É frequente em Romanceiro da Inconfidência o uso do advérbio de tempo “já”. Ele por si só já serve como um presságio, uma antecipação de fatos que só ocorrerão posteriormente. Significa uma pressa, uma ânsia por narrar logo episódios que serão trágicos e deploráveis. Os negros no fim do século XVIII não tinham vida própria, mas sim donos. Eram vigiados e tinham que lutar pela dignidade para comprar sua alforria, quase nunca conquistada. Cantam porque não têm opção. Canto não é arte, mas necessidade. Cantam cedo, na alvorada. Mas haveria alvorada (esperança) para os negros? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 29 Ironia: o eu lírico apela para Deus, cobrando Dele a igualdade social. Os negros escravos que trabalham, embora lutem e sofram, não são donos de nada. Não são donos do que descobrem, se descobrirem. Um dos valores pregados pela Revolução Francesa(1789) era o de liberdade. Mas liberdade para quem, se aqui no Brasil os negros eram escravizados? A Abolição das Escravidão só veio quase um século depois: 1888. No fundo, problematiza-se o conceito de liberdade: os brancos também são escravos de sua ambição. Já se ouve cantar o negro. Chora neblina, a alvorada. Pedra miúda não vale: liberdade é pedra grada... (A terra toda mexida, a água toda revirada... Deus do céu, como é possível penar tanto e não ter nada!) Romance 8 ou Do Chico-Rei Tigre está rugindo nas praias do mar. Vamos cavar a terra, povo, entrar pelas águas: O Rei pede mais ouro, sempre, para Portugal. O trono é de lua, de estrela e de sol. Vamos abrir a lama, povo, remexer cascalho, guarda na carapinha, negra, o véu do ouro em pó! Chico Rei é uma personagem histórica. O poema começa com uma exortação, um lema de guerra, o Tigre é invocado. Seriam palavras cifradas? Elas se dirigem ao povo, que aparece no poema em forma de vocativo. Promessas são feitas: o trono é de lua, estrela e sol. O uso do tempo do pretérito imperfeito – “era bom viver” – alude-se a um modo de vida que não é mais possível, pois está longe. Lá, a vida era boa; aqui, é só dureza e trabalho. “– Lá na banda em que corre o Congo /eu também fui Rei.” Olha a festa armada: é vermelha e azul. Canta e dança agora, meu povo, livres somos todos! Louvada a Virgem do Rosário, vestida de luz. Tigre está rugindo nas praias do mar... Hoje, os brancos também, meu povo, são tristes cativos! “Raramente a poesia de Cecília Meireles foge à orientação intimista. Um desses momentos é representado por Romanceiro da Inconfidência (1953), que, pelo viés da História, abre importante espaço t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 30 para a reflexão sobre questões de natureza política e social, tais como a liberdade, a justiça, a miséria, a ganância, a traição, o idealismo. Fruto de um longo trabalho que envolveu dez anos de pesquisa, Romanceiro da Inconfidência é uma 'narrativa rimada', segundo a autora, que reconstrói, fundindo história e lenda, os acontecimentos de Vila Rica à época da Inconfidência Mineira (1789)” (CEREJA; MAGALHÃES, 2008, p. 315). Nesse poema, aborda-se a escravidão. O eu lírico reconstitui a época anterior à vinda involuntária para terras desconhecidas, alegando que lá de onde viera tinha-se poder. Relata-se o bruto abismo entre quem trabalha para extrair o ouro e que acaba por de fato obtê-lo e dele usufruir suas consequências. O ouro só libertaria na medida que é tomado como posse. Porém, há esperança: o eu lírico convoca o povo por meio de vocativo. Consideram-se já livres no presente, tendo consciência de que se os brancos detém momentaneamente o ouro, a ambição, a usura etc. também fazem com que mesmo os mais poderosos também se escravizem ante os bens materiais. Porque, mesmo no Romantismo, José de Alencar foi capaz de cunhar a célebre frase de Senhora: “o ouro é o metal que tudo corrompe”. No fundo, a obra lança o questionamento de como é possível em pleno Século das Luzes (século XVIII) continuar ocorrendo tantas injustiças. A Revolução Francesa de 1789 influenciou diretamente a Conjuração Mineira no mesmo ano, inclusive com seus valores: fraternidade, igualdade e fraternidade. Por outro lado, também foi época de muita perseguição e brutal violência, como é o caso do esquartejamento de Tiradentes que, após seu assassinato, foi considerado mártir e representado à semelhança de Jesus Cristo. O fato é que, naquela época, os que se rebelavam contra a Coroa Portuguesa eram considerados traidores. Porém, o que os inconfidentes estavam reivindicando a princípio eram condições mais justas, já que os impostos cobrados pela monarquia portuguesa estavam se revelando muito abusivos. Hoje sabe-se que os inconfidentes, com sua coragem, propiciaram caminhos que em 1822 repercutiram na independência política do Brasil. Romance 9 ou De Vira-E-Sai Nesse poema, começa-se com um apelo à Santa Ifigênia. Pede-se para que ela vá trabalhar também. Negros dentro da serra formam uma multidão invisível que engana os sentidos. Flores só na Arcádia, pois na lavra os costumes são outros. Encontrar o ouro está para além dos vãos esforços humanos, dependendo do apelo à divindade. Reza-se à Santa Ifigênia para que tanto trabalho não seja, ao menos, em vão. Romance 10 ou Da Donzelinha Pobre Nesse poema, uma donzela é abandonada pela família que sai para caçar ouro. Tentam a sorte, mesmo depois da ruína. As igrejas são de ouro, mas não trazem conforto nenhum: “O reino de Deus tão longe /dos humanos desvarios!” Romance 11 ou Do Punhal e da Flor Armas e rosas são uma alusão do tempo de Cecília Meireles. “Guns and roses” (armas e flores), paz e amor: são lemas que seriam importantes para os anos 60 e 70. No poema, narra-se a história de um crime cometido por amor. A linguagem amorosa, tipicamente romântica, pode se converter em tragédia. O amor é um sentimento que todos os ânimos excita: os bons e os ruins. Supõe-se um triângulo amoroso: o Ouvidor Bacelar e Filisberto se enfrentam em um duelo. Era t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 31 Alusão ao déspota esclarecido Marquês de Pombal. Igrejas eram feitas em sua homenagem. “Sanefa” é uma tira de tecido que se coloca na parte superior das cortinas. As igrejas são arquitetadas para ter pompa. As crianças não são mais capazes de rezar; outros têm que rezar por elas. Se todos ainda fossem crianças e tivessem sua inocência recuperada, crimes não teriam sido cometidos, pois sequer teriam sido julgados. Retornar-se ao estado original, quando o mundo não era um caos. Quanto poder tem algo que nem mesmo é animado? Toda uma história sendo seriamente trabalhada, falsa ou verdadeira. O ouro brilha, mas o que ele esconde por trás de tão sombrias tramas? A verdade pouco importa; decretos serão decretados; pessoas serão caçadas, de acordo com jogos de interesses. um costume social da época disputar tragicamente pelo amor da donzela. Tudo no período suscita a violência. Romance 12 ou De Nossa Senhora da Ajuda Havia várias imagens na capela do Pombal: e portada de cortinas e sanefa de damasco e, no altar, o seu frontal. Em uma igreja, cria-se uma imagem demoníaca e mítica: 7 crianças rezavam. Por que? Para que? Para quem? Nada se sabe sobre elas, de onde vieram. São 3 meninas e 3 meninos: a ausência de uma já prefigura uma tragédia, pois a última é Joaquim José, destinada a não existir. Foi escolhida a imagem da criança, pois ela em si já é pequena, rebaixada. Nada pode contra um destino maior. Nossa Senhora da Ajuda é apelada por causa de seu nome, para ajudar, pois o eu lírico é vidente e capaz de prever o destino: a criança já não será mais tão inocente. (Agora são tempos de ouro. Os de sangue vêm depois. Vêm algemas, vêm sentenças, vêm cordas e cadafalsos, na era de noventa e dois.) Romance 13 ou Do Contratador Fernandes Foi vítima de conspiração. O ouro gera dissimulações. A riqueza vem sem esforços para os menos merecedores dela. Mas o Conde está triste, e ninguém sabe o porquê. Nas fazendas de João Fernandes, chega alguém. Ele mostra suas posses, com prepotência e arrogância. Mostra a natureza, como se ela dele fosse. Só não calcula perigos nem riscos: “A Fortuna é sempre cega, /e vária, a sorte dos homens”. Fortuna aqui está sendo usado com letra maiúscula, pois é personificada. Há intrigas e intrigas, jogos em cima de jogos e ficção dentro da ficção. Há intertextualidade, pois o escritor italiano Pietro Metastásio é mencionado. Jogam-se cartas, comem-se banquetes, essências são escondidas pelas aparências. Mas quem denunciará quem?Que Fortuna está em jogo? Por ti padecem os ricos. Por ti, mais por essas pedras que, com seu límpido brilho, mudam a face do mundo, tornam os reis intranquilos! Em largas mesas solenes, vão redigindo os ministros cartas, alvarás, decretos, e fabricando delitos.) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 32 Questão de gênero. É como se Cecília Meireles lançasse indiretamente uma crítica: que Século das Luzes foi aquele em que só homens pensavam, e não as mulheres? Às mulheres era destinado uma espécie de sabedoria sentimental, íntima, “dentro de quatro paredes” apenas. A mulher ainda era muito presa e recatada. Liberdade para quem? Só os homens eram livres. Romance 14 ou Da Chica da Silva Cara cor da noite olhos cor de estrela. Vem gente de longe para conhecê-la. (Por baixo da cabeleira, tinha a cabeça rapada e até dizem que era feia.) Chica da Silva é uma personagem com muito poder e reconhecimento, mas, para mentalidade da época (será que só de lá?), nem todos toleravam que alguém vindo de uma classe inferior se instaurasse na classe superior. Então, surge uma voz invejosa em parênteses, contando algumas fofocas. Esse procedimento é extremamente importante no Romanceiro da Inconfidência: um telefone sem fio, um disse-me-disse, uma incapacidade de comprovar os fatos, apenas porque eles correm pela sabedoria popular, mas a verdade nunca é descoberta. Chica da Silva traz em torno de si um séquito de 12 aias. Uma ex-escrava que tem servas só para si. E 12 é um número mítico, assim como as 7 poemas do outro poema. Homens vinham de longe querendo ver sua beleza, e a voz invejosa continua sua ladainha, como se isso fosse um desaforo. A maior vingança de Chica da Silva contra a etnia branca é branda e não violência: apenas ao exibir-se, é capaz de inverter a ordem social. Romance 15 ou Das Cismas de Chica da Silva Continuação do poema anterior. Mas não, não é de todo feliz Chica da Silva. Ela tem muito no que pensar. Por que ou quem ela sofre? Chica manda e Chica também cisma. Os homens, à luz do dia, olham bem, mas não vêem muito: dentro de quatro paredes, as mulheres sabem tudo. Romance 16 ou Da Traição do Conde Quem trai e quem é traído? Quem tem poder para tal? Um conde sai levando uma mensagem, ninguém sabe como, o que para onde e para quem. João Fernandes e Chica da Silva não podem mais se relacionar em paz: há tom de pressentimento. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 33 Retrocesso: de nada adianta lamentar, que o Arcadismo parece retroceder ao Barroco. Há exagero na representação, há dualismos. Agora não mais são narradas só as belezas naturais árcades, mas as misérias sociais do tempo. O tempo das utopias pastoris é o mesmo do trabalho escravo e da desigualdade social. Paradoxos barrocos ecoam. O coração não monte: poesia é intuição. Que tempos funestos ainda estariam por vir? Emprega-se a repetição da interjeição como recurso expressivo. A anáfora é a repetição no início do verso. É tempo de muita coragem e pouca liberdade. Risco de desconhecer a própria história. Ditados populares. Nesse sentido, a obra de Cecília Meireles se aproxima da de Guimarães Rosa. Romance 17 ou Das Lamentações no Tejuco Tejuco é uma região de Minas Gerais. Tudo é motivo de lamento, as interjeições são incansavelmente repetidas. Ai, que rios caudalosos, e que montanhas tão altas! Ai, que perdizes nos campos, e que rubras madrugadas! Ai, que rebanhos de negros, e que formosas mulatas! Ai, que chicotes tão duros, e que capelas douradas! Ai, que modos tão altivos, e que decisões tão falsas... Ai, que sonhos tão felizes... que vidas tão desgraçadas! MAPA DO CICLO DE OURO EM MINAS GERAIS Romance 18 ou Dos Velhos no Tejuco - Quem foi a Chica da Silva, que viveu neste lugar? (Que tudo passa... O prazer é um intervalo na desgraça...) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 34 A ruína faz parte da Natureza. Todo o contexto funesto da Inconfidência Mineira antecipa em um século o pessimismo/decadentismo que será predominante no fim do século XIX: “Que a nossa vida /é a mesma coisa que a morte, / -- noutra medida.” Romance 19 ou Dos Maus Presságios São logo maus os presságios que fecham a primeira parte. Nenhuma esperança parece ser vislumbrada. Que tempos são esses e o que deles esperar? Como ter o poder de mudar o curso das coisas? São indagações lançadas pela obra. O materialismo é uma tendência voltada para as coisas mundanas e terrestres em negação ao idealismo. É uma visão de mundo, mas que acarreta consequências: nem todos podem ter tudo na mesma medida. Quem é que dita a medida das coisas? Quem é que as possui? “E a vida, em severos lances, /empobrece a quem trabalha/ e enriquece os arrogantes.” Sobre o tempo vem mais tempo, Mandam sempre os que são grandes: e é grandeza de ministros roubar hoje como dantes. Vão-se as minas nos navios... Pela terra despojada, ficam lágrimas e sangue Ai, quem se opusera ao tempo, se houvesse força bastante para impedir a desgraça que aumenta de instante a instante! Tristes donzelas sem dote choram noivos impossíveis, em sonhos fora do alcance. Parte 2 Cenário Breve poema em que se descreve uma paisagem: estrada, igreja, cavalo. Rastros e gestos sentidos. Névoas e um sentimento: esperança. Fala à Antiga Vila Rica Fala direcionada à cidade, que representa seus habitantes a quem a fala é de fato direcionada. A cidade serve como o destinatário da fala como também uma espécie de dedicatória. O discurso é triste, o que tem ele a falar? Romance 20 ou Do País da Arcádia É sonho que guarda; no fundo, efemeridade. Nenhuma utopia dura para sempre. Matrioskas: bonecas russas autodesdobráveis, assim como o tempo. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 35 A parte idealista do movimento ocultava a História que estava acontecendo. Critica-se a palavra aérea; ecoa um latinismo: verba volant scripta manent (palavras faladas voam, as escritas permanecem). Uma estrofe inteira nominal: isto é, sem verbo nenhum. Aliás, o poema é quase todo nominal. A ação é apagada, o ser humano é apagado. Tudo são objetos que já quedam sem valor. Tudo é já fantasmagoria. Em tempos que seres humanos se aniquilam, quem pensa as ideias? Elas se pensarão por si sós? O eu lírico alerta para riscos: tudo que brilha demais é falso. O Século das Luzes também é o das doenças. Tudo tem sua contraparte; seu peso. Também eles! Pois que o Século das Luzes também foi do da escravidão. O eu lírico usa um recurso frequente: a invocação: “ó”. Nessa bagunça toda, onde ficam as ideias? Em primeiro ou em último plano? O país da Arcádia, súbito, escurece, em nuvem de lágrimas. Acabou-se a alegre pastoral dourada: pelas nuvens baixas, a tormenta cresce. Romance 21 ou Das Idéias Ideias nobres ou ultrapassadas? Seguidas à risca como leis ou palavras ao vento, promessas furadas? Ideias são pensadas por seres humanos que são falhos. O que elas significam? A quem elas servem? Cultura, religião, doença, tudo pode coexistir, tudo pode significar tudo e nada. “O clero. A nobreza. O povo/ E as ideias.” A vastidão desses campos. A alta muralha das serras. As lavras inchadas de ouro. Os diamantes entre as pedras. Negros, índios e mulatos. Almocafres e gamelas Os estudantes que partem. Os doutores que regressam. (Em redor das grandes luzes,há sempre sombras perversas. (...) sezões; picadas de cobras; sarampos e erisipelas... Candombeiros. Feiticeiros. Unguentos. Emplastos. Ervas. Senzalas. Tronco. Chibata. Congos. Angolas. Benguelas. Ó imenso tumulto humano! E as ideias. E os países africanos se multiplicam; representam-se no plural. São ecos de longe, mas que ecoam aqui. As criações utópicas árcades mais camuflam a verdade do que combatem. Nomes se perdem em ideias que se perdem em sentidos. Tudo se perde, nada mais se cria. Porque para cada bom plano; para cada boa ideia há um inimigo à espreita. Os idealizadoes/idealistas são caçados, pois são temidos. Ideias são ameaças; ideias que nem são compreendidas. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 36 Provado por quem? Sem agenda da passiva, o negro é criminalizado. Alguém deve ser condenado, porque medo também é poder. Fofocas em cima de fofocas. Mesmo os príncipes podem morrer. Se o ser humano está condenado à morte, não é livre. Então, para que pronunciar a palavra “Liberdade” para quem não sabe o que ela significa? A imagem do príncipe falecendo simboliza a impossibilidade de esperança para novos tempos. É costume tocar sinos para os mortos. Tudo já prenuncia ruína. Hibridismo: misturam-se religião, crença e misticismo. Romance 22 ou Do Diamante Extraviado e está provado que o negro desceu do Serro para vender o diamante. Romance 23 ou Das Exéquias do Príncipe A palavra Liberdade vive na boca de todos: quem não a proclama aos gritos, murmura-a em tímido sopro. Já plangem todos os sinos, pelo Príncipe, que é morto. Ó grande melancolia! Romance 24 ou Da Bandeira da Inconfidência “Através de grossas portas”: toda uma História sendo feita às escondidas, nos bastidores, no jogo de luz e de sombras que lembra o chiaroscuro barroco. Que bandeira se desdobra? Com que figura ou legenda? Coisas da Maçonaria, do Paganismo ou da Igreja? A Santíssima Trindade? Um gênio a quebrar algemas? Bandeira de Minas Gerais. Fonte: Commons Wikipedia. Disponível em: https://tinyurl.com/y4mxuwam. Acesso em: 13 nov. 2020. t.me/CursosDesignTelegramhub https://tinyurl.com/y4mxuwam ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 37 A bandeira é um símbolo; é personificada. Mas liberdade é uma palavra malditamente ainda não compreendida. Liberdade ainda que tardia: quanto tempo ainda demoraremos para compreendê-la, se por ela julga-se e morre-se? Índice de indeterminação do sujeito: tentativa de apagamento dos responsáveis. Os primeiros a pressentir são os que serão mais prejudicados. Órfãos serão criados. Nesse poema, conta-se como as classes se uniram em torno de uma causa comum: para pensar a Inconfidência, desde padres a filósofos. Até mesmo mazombos, filhos de estrangeiros, sobretudo portugueses, que nascem no Brasil. Tudo eram ainda apenas conjecturas, sem serem capazes de prever tragédias. A espionagem era feita nas ruas; dentro das casas, as ideias. E a bandeira já está viva, e sobe, na noite imensa. E os seus tristes inventores já são réus – pois se atreveram a falar em Liberdade (que ninguém sabe o que seja). A “liberdade” deveria ser uma palavra autossuficiente, que bastasse por si só. Mas é uma palavra muito mais para ser sentida e almejada que conceituada. Romance 25 ou Do Aviso Anônimo A ideia de anonimato é importante. Romanceiro da Inconfidência é uma obra corajosa, pois pode falar livremente no século XX. Porém, no século XVIII nem as pessoas eram livres nem podiam falar livremente. Então, para falar, escondiam-se atrás de nomes falsos (pseudônimos) e nulidades (anonimatos). Assim, dessa mesma forma, escrevia-se literatura e os culpados eram delatados. “Correi, senhores dessa terra”. Eis uma fofoca: o eu lírico ainda tenta alertá-los, como quem diz: fujam enquanto é tempo. Veio uma carta de longe. Abriu-se muito colchão, queimou-se o que estava escrito, escreveu-se o que era falso, nesta Vila de São João. Romance 26 ou Da Semana Santa de 1789 As lindas e pomposas igrejas escondem seus santos em panos roxos para um ritual religioso. O que não se esconde é a verdade. A realidade é bruta, sem metáfora: “Pois o amor não é doce, /pois o bem não é suave, /pois amanhã, como ontem, /é amarga, a Liberdade.” t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 38 A História também é um espelho que tudo revelará, tal qual ouro brilha. Ainda na vida além da morte, as consequências são sofridas. Documentos valem mais do que parecem, pois suas consequências perduram através do tempo. Atenção: imagem da trama sendo enredada como a aranha tece sua teia é importante na obra. A aranha é um animal traiçoeiro, podendo ser também peçonhento. Nessa época, até os padres foram perseguidos. Romance 27 ou Do Animoso Alferes Quando o Alferes ainda era animoso, ou seja, cheio de vida, espirituoso. Tiradentes, na obra de Cecília Meireles, vai ser mais conhecido pela sua patente militar do que pela sua carreira civil de dentista. Tiradentes também é reconhecido hoje como Patrono das Polícias Militares. Em sua época, andava em seu cavalo. Movimentava-se, parecia livre. Era popular e aparentemente querido: “que por toda parte/ o povo o conhece.” Pelo caminho trocava adeuses, como se já pressentisse o seu próprio fim. No fundo, era um homem sem paz: muito demandado, muito mal compreendido, muito caçado. “Venham, venham, matem: /ganhará quem perde.” Suportou um fardo demasiado pesado para um homem só. Apenas teve reconhecimento post mortem. Romance 28 ou Da Denúncia de Joaquim Silvério Para cada herói, um delator. Essa obra pode ser reatualizada em tempos de delação premiada. As pessoas na época delatavam porque eram pagas, recebiam recompensas. Joaquim Silvério é conhecido como delator de Tiradentes. Perdia-se tempo escrevendo longas mensagens. A escrita artificial vinha acompanhada de natureza maliciosa. Tudo tinha seu preço, coisas e pessoas. (No grande espelho do tempo, cada vida se retrata: os heróis, em seus degredos ou mortos em plena praça; - os delatores, cobrando o preço das suas cartas...) Romance 29 ou das Velhas Piedosas Alguém teria piedade? Se for o caso, apenas se forem velhas, de outra geração, para serem capazes de entender tamanho sofrimento. No tempo presente, as pessoas não são piedosas nem tolerantes; pelo contrário. O papel aceita o que os homens traçam... E a mão inimiga como aranha estende com fios de tinta as teias da intriga. Nesse poema, há um refrão: “Ai de quem na sua casa/ se deixa estar”. Consiste em uma crítica a passividade dos que na sua época não fizeram nada diante de tantas atrocidades. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 39 A História também como numerologia, estudo dos destinos humanos. Não que isso seja sempre confiável: o eu lírico em primeira pessoa admite estar desconfiando da própria História. Romance 30 ou Do Riso dos Tropeiros Tropeiros são os que andam em tropas. Têm aspecto nômade, ficam por entre as estrados. Então, havia um grupo desses que viu Tiradentes passar, falando suas ideias. Tiveram apenas uma reação: riram! Tiradentes era louco, era o que achavam. Porém, depende do ponto de vista. Prega como os padres na igreja; de certa maneira, substitui-os. Apesar da reação cômica dos tropeiros, Tiradentes segue seu rumo continuando a falar suas verdades; segue com sua coragem. Romance 31 ou De Mais TropeirosContinuação do poema anterior. Tiradentes continua sendo melindrado, desacreditado. No entanto, quando ele passa, há alegria, querem vê-lo passar. Se voltar sem cabeça, pois bem, vira lenda. Romance 32 ou Das Pilatas Ser herói era um sonho, um projeto. Nesse poema, o personagem deseja ir ao Rio de Janeira fazer fortuna. Mas tudo vai e tudo volta, como num acerto de contas. O filho não retornava e sua expectativa é frustrada pela realidade. Romance 33 ou Do Cigano que viu Chegar o Alferes Ora, muitos viram chegar o Alferes, não precisava ser necessariamente um cigano. Mas ambos compartilham de algo em comum: estão à deriva, nem todos acreditam neles. Então, é possível haver reconhecimento. Duvido muito, duvido que se deslinde o seu fado. Vejo que vai ser ferido e vai ser glorificado: ao mesmo tempo, sozinho, e de multidões cercado; correndo grande perigo, e de repente elevado: ou sobre um astro divino ou num poste de enforcado. Romance 34 ou De Joaquim Silvério Melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério: que ele traiu Jesus Cristo, tu trais um simples Alferes. Recebeu trinta dinheiros.. - e tu muitas coisas pedes: t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 40 pensão para toda a vida, perdão para quanto deves, comenda para o pescoço, honras, glórias, privilégios. E andas tão bem na cobrança que quase tudo recebes! Joaquim Silvério foi o que barganhou o preço de uma vida. Ao delatar no intuito de prejudicar, acabou criando um mito. Questiona- se a moral de quem não tem remorso: a quem foi permitido viver, será que não persegue ao menos uma sombra de culpa? Romance 35 ou Do Suspiroso Alferes ou D Em Minas Gerais, o eu lírico que na época havia o fenômeno da gente fofoqueira e reprodutora do senso comum: “Ah! se eu me apanhasse em Minas!” é o refrão. (UFG/2006/2ª fase) Leia o poema que segue: ROMANCE XXXV OU DO SUSPIROSO ALFERES Terra de tantas lagoas! Terra de tantas colinas! No fundo das águas podres, o turvo reino das febres... "Ah! se eu me apanhasse em Minas..." Nos palácios, vãos fidalgos. Santos vãos, pelas esquinas. Pelas portas e janelas, as bocas murmuradoras... "Ah! se eu me apanhasse em Minas..." Rios inchados de chuva, serra fusca de neblinas... Quem tivera uma canoa, quem correra, quem remara... "Ah! se eu me apanhasse em Minas..." (Que vens tu fazer, Alferes, com tuas loucas doutrinas? Todos querem liberdade, mas quem por ela trabalha?) "Ah! se eu me apanhasse em Minas..." (O humano resgate custa pesadas carnificinas! t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 41 Quanto à figura de Tiradentes, na obra é ressaltada a seguinte dialética: multidão versus solidão. Ao mesmo tempo que, quando passava, as pessoas se entusiasmavam por sua presença, morreu sozinho e sem ter tido suas ideias compreendidas. Quem morre, para dar vida? Quem quer arriscar seu sangue?) "Ah! se eu me apanhasse em Minas..." Minas das altas montanhas, das infinitas campinas... Quem galopara essas léguas! Quem batera àquelas portas! "Ah! se eu me apanhasse em Minas..." Mas os traidores labutam nas funestas oficinas: vão e vêm as sentinelas, passam cartas de denúncia... "Ah! se eu me apanhasse em Minas..." (E tudo é tão diferente do que em saudade imaginas! Onde estão os teus amigos? Quem te ampara? Quem te salva, mesmo em Minas? mesmo em Minas?) MEIRELES, Cecília. "Romanceiro da Inconfidência". Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 135-136. Com base no poema "Romance XXXV ou do Suspiroso Alferes": a) Explique a ironia presente no poema. b) Identifique o momento histórico que esse poema retoma e explicite duas características da linguagem usada pela poetisa para transformar o documental em lírico. c) Esclareça a divergência entre a voz do narrador e a do Alferes. Comentários/Gabarito Atenção: Romanceiro da Inconfidência tem baixa incidência de ocorrência no vestibular da FUVEST. Como essa obra volta a ser cobrada esse ano, aposto uma cobrança maior, tanto na primeira quanto na segunda fase. Quanto antes começarmos a nos preparar, melhor! a) A ironia está em querer a revolução e não fazer nada, ou seja, não lutar por ela. b) O Alferes está preso no Rio de Janeiro, traído e desejando retornar para Minas Gerais. Presença de recursos estilísticos, entre eles: poema, verso, estrofe, rima, refrão, presença de voz lírica, metáfora, repetição, alegoria, reticências, interrogação, exclamação, anáfora, aliteração, hipérbole. c) O narrador é realista, cético. O Alferes é sonhador, idealista. Romance 36 ou Das Sentinelas Sentinelas espreitam à paisana, com disfarces, pelas aparências. Cria-se o costume da espionagem (intelligentsia). Para cada sonho, um impedimento. As ruas eram tão controladas que a cidade parecia uma distopia, assolada pela opressão. Mas não há resposta, - que o traidor prudente desliza nas sombras, não fala de frente... A um deserto surdo t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 42 Todas são figuras míticas, personificadas, temidas, desconhecidas. Delação premiada: aparência de nobreza, quando no fundo quer lucrar. Quem muito quer dizer, muito esconde. clama, inutilmente, o animoso Alferes... - Só ele - presente. Romance 37 ou De Maio de 1789 Uns conspiram; outros, só querem a liberdade, que não tem preço. Vive-se em um estado de guerra. O poema assume caráter de diário, relatando as datas: 1º de maio (dia dos trabalhadores). No ar, está a curiosidade: o que vai acontecer com o Alferes? Ele é uma figura pública comentada. Essa gente toda que olha não vai além dessa ação: protestos é que não vão fazer. A verdadeira traição é a dedicação do Alferes não ter sido retribuída. Maio chega ao fim e com ele a trajetória do Alferes. De que importam a poesia, o idílio e as utopias diante da vilania e do poderio? Romance 38 ou Do Embuçado Vinha uma figura estranha. Essa imagem se repete em outros momentos da obra: “embuçado” significa com o rosto tapado, deixando de fora apenas os olhos; coberto com capa, capote ou similar. Em todo caso, uma figura de inconsciência, cegueira, que se esconde. Era a Morte, que corria? Era o Amor, com seu cuidado? Era o Amigo? Era o Inimigo? Era o Embuçado. Romance 39 ou De Francisco Antônio Era um gordo, imagem da fartura e riqueza. Tinha família, parentes. Mas não acreditava em Benjamin Franklin, que estava pregando o liberalismo no exterior. Romance 40 ou Do Alferes Vitoriano É uma figura de um andarilho. Não se sabe para onde vai: talvez tenha sido degradado (posto em exílio). Romance 41 ou Dos Delatores O poema brinca com a ideia do telefone sem fio: ouvi de fulano que disse a fulano que disse a fulano etc. Nomes não querem ser maculados; a história vai se perdendo e em meio a tantas versões. Livre associação de ideias ou encadeamento (aprisionamento) delas? A minha denúncia é breve, pois nem sei se houve delito, nem se era conspiração. Mas, se ninguém os escreve, aqui deixo, por escrito, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 43 os nomes que adiante vão. Romance 42 ou Do Sapateiro Capanema Episódio de uma personagem que para na calada da noite em uma estalagem e pede abrigo. Porque não abrem e não querem deixá-lo entrar, ele fica irritado e clama por liberdade. É mal compreendido e caçado depois disso. Foram quatro palavras ao vento (lema da bandeira) que, cada vez sendomais ditas, multiplicando-se, cada vez mais convenciam. Romance 43 ou Das Conversas Indignadas Há um conceito importante: o apadrinhamento. Alguns eram protegidos; alguns podiam ser protegidos. Romance 44 ou Da Testemunha Falsa Cada um por si só: é essa a lei da selva. Para evitas problemas no futuro, é melhor delatar desde agora: “Há mais prêmios neste mundo/para Mal que para o Bem.” A moral vai sendo distorcida e a barganha é lançada até a Deus. Melhor estar salvo e vivo, ainda que isso condene outros: “As mentiras viram lendas /E não é sempre a pureza /que se faz celebridade...”. Romance 45 ou Do Padre Rolim Caçavam-se até mesmo membros da igreja. Se era subversivo, era um risco. Porém, se é com o clero é diferente: ganha-se um tempo, para ele poder ter um tempo a mais para fugir. Como se justificasse tudo, como se sempre tivesse tido uma vida excêntrico, caça-se o padre porque ele é estranho! Fofocas são inventadas: ele tinha amores. Romance 46 ou Do Caixeiro Vicente O dente é usado como metáfora: Tiradentes, que tanto tratou deles, agora os vê arreganhados para si, ameaçadores. É uma preocupação do corpo. Mas o que é uma dor de dente diante da dor da traição? Romance 47 ou Dos Sequestros De que importam todos os clássicos, de Júlio César a Ovídio, se as sentenças já foram dadas? Ideias não são mais lidas e, se são, não são compreendidas. Para se caçar as pessoas dentro de suas próprias casas, objetos são revirados, a intimidade é abolida, priva-se qualquer possibilidade de vida em paz. O que vale mesmo é a burocracia: se está decretado no papel, a caça é feita. Fala aos Pusilânimes “Se vós não fôsseis os pusilânimes”: uso da segunda pessoa do plural, vocabulário do século XVIII. Só os cavalos são felizes, porque são livres. Como aqueles a quem o eu lírico se dirige eram os pusilânimes, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 44 Como no romance naturalista Madama Bovary de Gustave Flaubert, enxerga-se o mundo como um jogo. Tudo é enxergado a partir de uma perspectiva maior, pois no romance Emma vê o mundo a partir de um realejo (teatro em miniatura). O discurso é alheio, introduzido por aspas. Vão sendo reproduzidos alguns sensos comuns, como se Cláudio Manuel tivesse tido o destino que merecera. Deseja-se fazer justiça com as próprias mãos. O telefone sem fio vai perpetuando várias versões da mesma história. A verdade uma vez há de ser dita. O que paira é a desconfiança geral. eram limitados, não podiam admitir a verdade. A cidade é fantasmal, apagada de sujeitos, apagada de ideias. Ficam só os ruins e seu falso moralismo. Os livros são negros, são condenáveis. Poema corajoso que não tem medo de responsabilizar os culpados. Segundo seus decretos, traidores sempre existirão, nada pode ficar em paz. Porém, a função da memória é lembrar tanto das coisas boas e ruins. Parte 3 Romance 48 ou Do Jogo de Cartas A vida é como um jogo. Todos cumprem uma função e todos vão perder. Há alguém que comanda. Grandes jogos são jogados. E os silenciosos parceiros não sabem, a cada lance, que o jogo, fora de alcance, pertence a dedos alheios. Romance 49 ou De Cláudio Manuel da Costa Poema sobre o árcade. O episódio gira em torno da dúvida quanto à sua morte. “Que fugisse, que fugisse... - bem lhe dissera o embuçado! - que não tardava a ser preso, que já estava condenado, que, os papéis, queimasse-os todos... Vede agora o resultado: mais do que preso, está morto, numa estante reclinado, e com o pescoço metido num nó de atilho encarnado. Romance 50 ou De Inácio Pamplona Continuação do poema anterior. Coincidência ou não, chega à Vila essa personagem no mesmo dia que é encontrado morto Cláudio Manuel da Costa: 4 de julho (independência dos Estados Unidos). Não se sabe o motivo da morte do árcade tampouco sobre o sumiço de Pamplona. Romance 51 ou Das Sentenças Pesa a inevitabilidade das sentenças. Elas continuam sendo dadas. A Justiça é cega, torna-se cada vez mais improvável a liberdade. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 45 De África é que vinha a mão de obra (força produtiva), mas também para onde eram enviadas as mentes perigosas, ameaçadoras. Ao mesmo tempo que palavras podem ser tudo, podem ser nada, como diz Fernando Pessoa em “Ulisses”: o mito é o nada que é tudo. Palavras podem libertar ou aprisionar. DELACROIX, Eugène. A liberdade guiando o povo (1830). Fonte: Museu do Louvre, Paris. Romance 52 ou Do Carcereiro O eu lírico é intrometido: eu, cá por mim. Fala que Tiradentes deu tudo pelos outros, mas era um desapossado. Sem posses, não tinha valor nem poder. Era pobre e infeliz; foi caçado: “A verdade não vem /defender acusados... /Não se entende ninguém.” Romance 53 ou Das Palavras Aéreas Verba volant: as palavras que voam são vãs. Palavras são potentes e ao mesmo tempo frágeis. Têm amplitude e capacidade para ser tudo. Detrás de grossas paredes, de leve, quem vos desfolha? Pareceis de tênue seda, sem peso de ação nem de hora... - e estais no bico das penas, - e estais na tinta que as molha, - e estais nas mãos dos juízes, - e sois o ferro que arrocha, - e sois barco para o exílio, - e sois Moçambique e Angola! t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 46 Um tempo sem tempo: um eterno presente. Essa ideia de tempo estagnado é muito frequente em obras modernistas. O eu lírico é sincero: algo assim, ele não quer nem pintado de ouro. Pequenas verdades que incomodam. Pois os culpados precisam existir, ainda que não o sejam. Precisam existir para que outros sejam inocentados. De que adianta a ideia de uma nova humanidade se os costumes são os mesmos, as crenças não mudaram? Uma nova humanidade para uma velha sociedade, um antigo modo de pensar. Romance 54 ou Do Enxoval Interrompido Se ao menos fosse só o enxoval, mas naqueles tempos vidas eram interrompidas. Casamento é aproximado de morte, e essa ideia lembra o ultrarromantismo. Toda uma vida de sonhos abandonada, a não ser que o que bordava era sua própria mortalha. Romance 55 ou Do Preso Chamado Gonzaga “Tudo no mundo mente. /(Daqui nem ouro quero)”. Não compensa. No remoto Passado fica o semblante vero, do que hoje aqui padece. Mas não me desespero, que a vida é sem Presente. (Daqui nem ouro quero...) Romance 56 ou Da Arrematação dos Bens do Alferes A política da Derrama era só uma e era muito invasiva: arrebatai! Tudo era arrematado, como se fosse um leilão. Essa atitude denuncia uma sociedade deslocada: em pleno século XVIII, mas ainda com costumes medievais. De cavalos a esporas, tudo era confiscado. Nem os seres humanos se adaptam à falta dos objetos, nem os objetos de adaptam à falta do uso humano. E tomam tudo na ilusão de que aquilo irá fazer diferença. Arrematam até mesmo o tempo, com seus fiscos encurtando também as vidas. Romance 57 ou Dos Vãos Embargos (Ninguém faz o que quer. Ninguém sabe o que faz. E os culpados quem são?) Romance 58 ou Da Grande Madrugada Imagem da noite eterna e do fim dos tempos. São tempos sem escrúpulos em que as ações mais torpes se justificam. Há gente que não quer manchar as mãos e se arriscar que para as coisas mudem. Essa mesma gente assiste a tudo calada e ainda saboreia; parecem ser masoquistas. Romance 59 ou Da Reflexão Dos Justos O trabalhador Alferes foi tido como louco. Foi sua tragédia pessoal e social. No fundo, não mereciam sua coragem. Que tempos medonhos chegam, depois de tão dura prova? Quem vai saber, no futurot.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 47 De nada adiantam as dúvidas, nada será respondido, pois as respostas já estão apagadas. Assim que é algo é dito já se foi. Corresponde à noção de instante-já de Clarice Lispector em Água-viva, por exemplo. o que se aprova ou reprova? De que alma é que vai ser feita essa humanidade nova? Romance 60 ou Do Caminho da Forca Todas as classes sociais se unem numa causa comum: ver o Alferes ir à forca. No fundo, tudo o que ele leva consigo são pensamentos; seus bens materiais deixou para trás, para o fisco. As pessoas se admiram na cerimônia; a natureza, é indiferente. Era tanto pessimismo que não cabia na época. Esse pessimismo também será herdado por Brás Cubas de Machado de Assis. Romance 61 ou Dos Domingos do Alferes Trocadilho com o nome “Domingos”: tanto nome próprio, da genealogia de Tiradentes, quanto indicativo de tempo, nome de dia da semana. Imagem da escada como sinal de queda. Romance 62 ou Do Bêbedo Descrente Todos se calam sem coragem. Vê-se o penitente com a corda no pescoço e assiste a tudo com cara de contente. Paira na atmosfera o sadismo e a perversão; incoerência e ainda hoje: “(Ninguém sabia. Não sei)” diz o eu lírico, mas ainda não sabemos ainda hoje. No fundo, incompreensão diante do abismo de poder. Romance 63 ou Do Silêncio do Alferes Tiradentes era um peregrino. Passava pelas pousadas e parecia ser ouvido, admirado. Era um viajante que levava as suas ideias. O que fala e esclarece não foi ouvido, compreendido. Mais uma vez, há crítica à passividade das pessoas, que não agiam pelos mais variados motivos, entre os quais o principal era o medo. Já lhe vão tirando a vida. lá tem a vida tirada. Agora é puro silêncio, repartido aos quatro ventos, já sem lembrança de nada.) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 48 Pedro Américo – Tiradentes Esquartejado (1893) Fonte: Commons Wikipedia. Disponível em: https://tinyurl.com/y5pbjvsy Acesso em: 13 nov. 2020. Autor: João Teófilo Fonte: Prova do Vestibular UNICAMP (2016/1ª fase) Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/revi sta/edicao/)118. Acesso em: 13 nov. 2020. Romance 64 ou De Uma Pedra Crisólita Crisólita é uma variedade de gema (joia) de cor esverdeada. As joias são só manipuladas, mas são indiferentes aos homens. Alguém é condenado por carregar uma joia dessas; talvez, teria sido essa a condenação de Tiradentes. “Talvez uma crisólita fosse...”: abre-se margem à dúvida. Hoje, pouco importa a joia, ela é o que menos vale. E tanta preocupação por causa dela na época! Parte 4 Cenário Pintam-se os jardins das casas dos poetas árcades. Nenhum deles é tão idílico quanto eles os descreviam em suas obras. Pelo contrário: ruína, destruição e sombras estão em todo os lugares. Até a natureza se torna hostil, uma força contra o humano. Mas, ao menos, alguma rosa resiste ali. t.me/CursosDesignTelegramhub https://tinyurl.com/y5pbjvsy http://www.revistadehistoria.com.br/revista/edicao/)118 http://www.revistadehistoria.com.br/revista/edicao/)118 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 49 Abrasileiramento dos nomes, negação do estrangeiro: Voltaire se torna Voltério. O que importa mesmo é que seja lido e citado. E um palavreado arranjado ajuda a escapar à censura, o que justifica também o uso de pseudônimos. Romance 65 ou Dos Maldizentes - Tanto ler o Voltério... - E se não fosse o ladino capitão Joaquim Silvério! - Assim é vário, o destino: negro, porém, é o desterro, e há de arranjar palavreado com que se lhe escuse o erro. O tempo passa e o Classicismo volta-se contra si mesmo. Luzes não brilham mais. Os profetas são malditos. Se soubessem o que anunciavam, ainda tentariam contra a própria sorte? Romance 66 ou De Outros Maldizentes Continuação do poema anterior. São tantos que não cabem em um poema só. Os maldizentes são sinônimos de delatores. Porém, ambiguamente, parecem se referir aos poetas malditos (simbolistas), que só surgiriam um século depois. O que delatarão? Que objetos serão confiscados? Espelhos e relógios eram os objetos de posse mais comuns na época, e também os mais significativos. A vida é como um leilão, que tudo arremata. E quem compra a liberdade do poeta? Tomás Antônio Gonzaga deixou para trás só um par de expostas. Todos achavam linda sua obra, mas em sua salvação ninguém quis se envolver. No degredo para África, o poeta irá enfrentar outros problemas, como a doença. Romance 67 ou Da África do Setecentos É o total oposto da utopia arcádica. Era o lugar do degredo, aonde alguns poetas iam, se tinham a sorte de ter a sentença decretada como exílio e não morte. Aliás, questiona-se: degredo é mais ou menos brando que a morte? Pois significa ser arrancado da pátria, abandonar tudo, todo seu ideal de nação; ora, assim como os escravos. Daí talvez conseguissem sentir na pele. Romance 68 ou De Outro Maio Fatal Atenção: o poema se enumera com a cifra “68” e ainda fala do mês de maio. É assombrosa a semelhança com o episódio de Maio de 68, que só ocorreria 4 anos depois da morte de Cecília Meireles. No passado muito amplo, cabem ainda mais passados. “Era em maio, foi em maio”. Quantos ainda serão? Despede-se de Vila Rica. Fala-se da natureza, mas já em tom de despedida. O único que fica é o tempo e sua passagem. Onde estarão para socorrer as divindades árcades? O que podem esses deuses agora? O tempo não é mais de entusiasmo com as grandes navegações. Se se entrava em um navio, era para degredo. Há inversão dos que vêm e vão: escravos e exilados. O trânsito é decidido e nada livre. As mulheres são apagadas, nem aparecem. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 50 Pois que é real e tem chance de brilhar. Juliana de Mascarenhas, uma mulher real, é contraposta às utopias que Tomás Antônio Gonzaga criava em sua obra. Romance 69 ou Do Exílio de Moçambique Primeiramente, o lugar é tratado com exotismo. É uma ideia geral que se tem de lá. Porém, quando lá se chega, logo percebe-se que não é um lugar de viagem, não é para “quem passeia”. O noivado deixado para trás por Tomás Antônio Gonzaga tem prazo de validade. Igual a Tiradentes em seu cavalo, pinta-se a imagem do errante. Vila Rica só na memória; já é um lugar utópico. Romance 70 ou Do Lenço do Exílio Lenço é ao mesmo tempo uma lembrança e uma utilidade. Casas nobres e burguesas também são prisões. A moça permanece bordando sem pensar, ao passo que o namorado é degredado por pensar demais. Enquanto é bordado o lenço, também é enredada a trama. Romance 71 ou De Juliana de Mascarenhas Moça com quem Tomás Antônio Gonzaga irá se casar. Conhece-a no exílio. Antes de conhecê-lo, ela não era feliz. Andava a cismar, parecia louca. Há associação da figura da mulher com a loucura e com a secura. Sem força de expressão a não ser seu sentimento. Se aos homens já caçavam, imaginem se a mulher falasse também. Porém, o destino muda e nem sempre para pior. A obra é aberta e evita determinismo. Também lá há fofoca, pois dizem à Juliana que um rapaz está chegando. Juliana de Mascarenhas, Deus sempre sabe o que faz: põe teu vestido de tisso, bracelete, anel, colar. Mais do que Marília, a bela, poderás aqui brilhar. Vem ver este homem tranquilo que mandaram degredar. Imaginária Serenata Elemento musical, pelo qual Cecília Meireles tanto preza.Vê-se alguém passando igual a zumbi. Mais uma alma penada. São abordados os temas da loucura e da paranoia; nada mais é idealizado. Tudo é perigoso e causa assombro. Romance 72 ou De Maio no Oriente África, lugar de degredo, também é chamada de “Oriente” na obra. Indo-se para lá, escapava-se do pior aqui. Assim, os exilados podem usufruir de certa liberdade, mas não mais da noção da pátria. Em Moçambique, também se fofoca. Parece uma imitação de Vila Rica. Para cada fofoca, há uma réplica. Casando-se com Juliana Mascarenhas, Tomás Antônio Gonzaga encontrou por fim a felicidade, algo que não encontrou nem mesmo em sua terra. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 51 Romance 73 ou Da Inconformada Marília Continuação do poema anterior. E enquanto alguns eram felizes longe, a mulher fica. E ao permanecer, está sozinha, vai se tornando inconformada. Marília vaga pelos campos na tentativa de encontrar o ex-noivo Tomás Antônio Gonzaga. Seu relacionamento é interrompido; nada é esclarecido. Ela conversa de si para si: só se o namorado estivesse alienado para não desejá-la mais. Parece ir enlouquecendo, desenvolvendo esquizofrenia. O tempo inteiro se lamenta. É um sentimento tão forte que parece enlouquecer. Marília claramente não é feliz em vida, não importa o quão perfeita seja pintada nas obras. Ainda defende o ex-namorado e é incapaz de perceber que talvez quem estivesse alienada fosse ela. Romance 74 ou Da Rainha Prisioneira E como diz Carlos Drummond de Andrade em “Os ombros suportam o mundo”: “e nem todos se libertaram ainda”. Porque a monarquia também é um fardo e uma prisão. Agora conhecemos um outro lado da história: o das classes mais abastadas. Porque elas também sofrem, à sua maneira. Sofrem, principalmente, com o peso da responsabilidade. Quer dizer: nenhuma classe social estava protegida à época diante de tantas atrocidades. A caça é de todos, não resta pedra sobre pedra. O poema alude à Maria I, a louca, monarca de Portugal à época dos acontecimentos históricos narrados na obra. Seu nome é santo, religioso, traz bons presságios, o que não se comprovaram em sua vida. Maria irá enlouquecer por causa de seu trono. É ilustrada, mas se sente solitária, para além do que podia suportar sozinha. “Ei-la, sem pai, marido, filhos, /confessor – ninguém”: ou seja, sem homens. Seria ela louca por que já conhece seu destino? No fundo, seu corpo já pertence ao Simbolismo: “E seu corpo já transparente /e já dentro dele mais nada”. “Coita”, em galego-português, significa dor, sofrimento e designa no português moderno o vocábulo “coitado”. O termo mesmo significa dor, aflição, desgosto, especialmente por motivo de amor; pressão das circunstâncias, compulsão física ou moral, necessidade (dicionário Houaiss). Exemplo: "Não me meta em tal coita vosso amor!” (Afonso Lopes Vieira, Romance de Amadis) (dicionário Aulete). Coita t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 52 MARIA I, A LOUCA Fala à Comarca do Rio das Mortes Pergunta-se “onde” sem usar verbo. A ação é apagada. “Onde, o trigo? Onde, o centeio, na planície devastada?” Essa imagem lembra a obra do modernista T. S. Eliot: a terra devastada. Ou seja, imagem de total desolação e desamparo. Também se sente assim o sujeito moderno: limitado, emparedado, sem recursos. É o limite da exploração. “Não se sabe se estão vivos, /ou se apenas são fantasmas”. Até os padres são perseguidos. Onde estariam as pessoas, por suas crenças caçadas? Romance 75 ou De Dona Bárbara Heliodora São três mulheres sentadas, parecendo divindades míticas. Bárbara Heliodora é a que se destaca, embora compartilhem de uma sina em comum: a de ter em casa um marido inconfidente e que foi caçado por isso. Agora, se unem mais do que nunca: para sobreviver sem eles, para brilharem sem eles. Das três donzelas sentadas naquela verde campina, ela era a mais excelente, a mais delicada e fina. Era o engaste, era a coroa, era a pedra diamantina... Rolaram sombras na terra, como súbita cortina. Partiu-se a estrela da aurora: Dona Bárbara Heliodora! t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 53 Romance 76 ou Do Ouro Fala Ouro Preto: Ouro Fala. A cidade que assume o pessimismo reassume a capacidade de falar. Por que? Quando? Quando se liberta. Fonte: Shutterstock. Continua-se o elogio à Bárbara Heliodora. Tão elogiada que se indignam quando ela recebe a desgraça. Ela é estrela do Norte sem aurora (esperança). São as lavras de ouro que tudo falam e condenam. Ouro fala/falavam, não se sabe mais em que tempo. Romance 77 ou Da Música de Maria Ifigênia Poema que brutalmente denuncia a interrupção dos estudos de piano da filha de Bárbara Eliodora com Alvarenga Peixoto, porque ela morre prematuramente de uma queda de cavalo. Música se associa à morte. Romance 78 ou De Um Tal Alvarenga Em salas, ruas, caminhos, foram ficando dispersas as histórias que sonhava, - e iam sendo descobertas as mais longínquas palavras das suas vagas conversas. E por inveja e por ódio, confusão, perversidade, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 54 E o que teria sido do Brasil se tivesse começado a ser governado por mulheres séculos antes? Atenção: quanto das almas penadas vingativas não são mulheres que não voltam para contar a sua versão da história? foi preso e metido em ferros. Um homem de Leis e de Arte foi preso só por ter sonhos acerca da Liberdade. Expõem-se os motivos e parece haver um paradoxo: apesar do dinheiro e estudos, não se salvou; continuou acusado por suas ideias. Romance 79 ou Da Morte de Maria Ifigênia Se o Brasil fosse um reinado, poderia ser princesa, - tal era a sua linhagem. Talvez a queda de cavalo não tenha sido acidental, mas sim fruto de alguma conspiração, numa época tão saturada delas. Maria Ifigênia nem chega à fase adulta para sonhar com a liberdade. Romance 80 ou Do Enterro de Bárbara Heliodora Mais um poema dedicado a essa figura. Agora morrem mãe e filha. Nove padres rezam seu funeral (o número nove é mítico). Ela é lembrada por sua família e por sua beleza, não pela sua obra. Também ela morre quase simbolista, débil igual a um fantasma. Parte 5 Retrato de Marília em Antônio Dias Marília não é mais pintada por Tomás Antônio Gonzaga, mas por outrem. A aurora tarda a chegar, se é que vem mesmo. As mulheres sofrem e contemplam (Marília continua infeliz). “Memento”: lembra- te, ao menos um latinismo útil. Contemplam todas as mulheres a mansidão das suas ruínas, sustentada em vozes latinas de réquiens e de misereres. Cenário A rainha estava sentada (passiva, sem fazer nada). Poder passivo e louco que tanto torturou. Vive afogada em amargura, lembra uma mulher simbolista. Seus súditos deviam se sujeitar à sua loucura, sendo assim loucos também. Parecia eternamente ausente, antecipando o fim da sua existência e sua nulidade. Nem mais ela se sentia rainha: vislumbrava o fim e não sabia se tinha coragem para encará-lo. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 55 Acerto de contas: quem persegue hoje amanhã também não terá paz, ainda mais se for por falsos motivos. Nem se sabem os nomes dos homens; tudo é esquecimento. Os cavalos eram tão importantes,participavam tanto, mais do que gente. Romance 81 ou dos Ilustres Assassinos Como se a vida humana pudesse ser comprada, os frios e calculistas projetam perversos destinos. Sem moral nem salvação: mais autoritários que Deus. É preciso sair da alienação e das molduras para agir. Ó soberbos titulares, tão desdenhosos e altivos! Por fictícia austeridade, vãs razões, falsos motivos, inutilmente matastes: - vossos mortos são mais vivos; e, sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos. Romance 82 ou Dos Passeios da Rainha Louca Maria, a louca, já estava no Brasil quando morreu. Talvez contaminada por tanta loucura que corria solta aqui. Felicidade e liberdade não são para todos. Também ela é uma assombração. Até os monarcas são almas penadas. Romance 83 ou Da Rainha Morta Continuação do poema anterior. Lamentos se repetem, mas agora pouco importa a linhagem. A loucura também anuncia a modernidade. Ao menos ela pôde ser sepultada. Romance 84 ou Dos Cavalos da Inconfidência Cavalos não traem e levam toda a gente, independentemente de sua classe social. Também eram responsáveis. Quem são os brutos e irracionais? Cecília Meireles tenta fazer jus a todos, mesmo aos que costumam ser excluídos da História, como os animais. Eles eram muitos cavalos é o título de um romance contemporâneo escrito por Luiz Ruffato. Eles eram muitos cavalos, mas ninguém mais sabe os seus nomes sua pelagem, sua origem... E iam tão alto, e iam tão longe! E por eles se suspirava, consultando o imenso horizonte! - Morreram seus flancos robustos, que pareciam de ouro e bronze. Romance 85 ou Do Testamento de Marília Testamento é o legado, é o que fica. Parece um conto de fadas: toda uma obra não escrita, evitada ou impedida. Dos mais variados depósitos, nenhum é seguro. Marília está condenada à não existência, pois é utopia. “Reparti-vos, reparti-vos /ouro de tantas cobiças”: eco da Bíblia, porém a repartição aqui não é benevolente; a distribuição não é justa. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 56 Algo retorna para se vingar. Depois de todo o pessimismo, há tomada de consciência e possibilidade de esperança. Primeira pessoa do plural: convite ao leitor. Ambiguidade do verbo “ficar”: permanecer ou terminar. Estão no purgatório como se fosse na obra dantesca. Quem serão os purificados? Ainda não sabemos. Fala aos Inconfidentes Mortos A quem se dirige/dedica. Eles usam uma lanosa capa, como cobertura e proteção. “Agora, tudo /jaz em silêncio”: também o livro. Tudo está sendo lavado, expiando culpas e pecados. Tantas são as covardias que o eu lírico se assombra. A miséria não é só financeira, mas também humana, existencial. Importantes figuras históricas ainda são sombras, fantasmas em busca de reconhecimento, esperando compreensão para se redimirem. Versos finais: Mas, no horizonte do que é memória da eternidade, referve o embate de antigas horas, de antigos fatos, de homens antigos. E aqui ficamos todos contritos, a ouvir na névoa o desconforme, submerso curso dessa torrente do purgatório... Quais os que tombam, em crime exaustos, quais os que sobem, purificados? Concluindo... Pode-se falar que a obra de Cecília Meireles se enquadra na estética do detalhe: a capacidade de olhar para os grandes fatos históricos a partir das cenas mais banais e cotidianas. Em Romanceiro da Inconfidência, são questionados os alicerces e fundamentos da modernidade e seus valores. A modernidade nasceu da Revolução Francesa, que logo se revelou uma caça às bruxas de extrema violência. Então, em 1953, essa obra prefigura a volta de tempos tão sombrios quanto, senão piores (a ditadura). Corre-se sempre o risco de não entender a História e repetir a violência. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 57 Figuras de linguagem utilizadas por Cecília Meireles em Romanceiro da Inconfidência A revolução (2020) Série televisiva com 8 episódios. Em La Révolution, o médico e futuro inventor da guilhotina Joseph-Ignace Guillotin (Amir El Kacem) investiga uma série de assassinatos na França de 1787, descobrindo então um novo vírus que se espalha rapidamente pela aristocracia. O chamado "Sangue Azul" faz com que os nobres ataquem violentamente os mais pobres, e isso gera uma insurreição popular. Seria a doença contagiosa o estopim do que ficou conhecido como a Revolução Francesa? A série é importante para entender o contexto de terror e violência que caracterizou o fim do século XVIII, mesmo sendo conhecido como o Século das Luzes. Ironia: ocorre quando aquilo que está sendo dito é o contrário do que realmente se pretende dizer. Exemplos em Romanceiro da Inconfidência: “Valha-nos Santa Ifigênia!/ E isto é ser povo cristão!” (MEIRELES, 2015, p. 33, grifo meu). “Deus do céu, como é possível /penar tanto e não ter nada! (MEIRELES, 2015, p. 40, grifo meu). “o fazem subir à forca /para morte natural” (MEIRELES, 2015, p. 98, grifo meu). Personificação: ocorre quando se atribuem características humanas a seres inanimados ou irracionais. Exemplos em Romanceiro da Inconfidência: “De seu calmo esconderijo,/O ouro vem, dócil e ingênuo” (MEIRELES, 2015, p. 27, grifo meu). “A Fortuna é sempre cega, /e vária, a sorte dos homens” (MEIRELES, 2015, p. 52, grifo meu). t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 58 Xica da Silva (1996) Telenovela dirigida por Walcyr Carrasco que se iniciou em 1996 e terminou em 1998. Atrevida e muito inteligente, Xica da Silva foi uma escrava que virou rainha no século 18 no Brasil. Ela conquistou João Fernandes, o homem mais rico e poderoso da época, e deixou de ser escrava, escandalizando a sociedade. Há também um filme de 1976, com Zezé Motta no papel principal de Xica (ou Chica) da Silva. A missão (1986) No final do século XVIII Mendoza (Robert De Niro), um mercador de escravos, fica com crise de consciência por ter matado Felipe (Aidan Quinn), seu irmão, num duelo, pois Felipe se envolveu com Carlotta (Cherie Lunghi). Ela havia se apaixonado por Felipe e Mendoza não aceitou isto, pois ela tinha um relacionamento com ele. Para tentar se penitenciar Mendoza se torna um padre e se une a Gabriel (Jeremy Irons), um jesuíta bem intencionado que luta para defender os índios, mas se depara com interesses econômicos. No filme, há uma cena que retrata a luta narrada por Basílio da Gama. 4.0 ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA E A INTERTEXTUALIDADE Prezados alunos, esse é um desdobramento da análise. Aqui vamos propor leituras comparadas, a fim de ajudá-los com a compreensão da obra. • Dante Alighieri (1265-1321) tem papel importante na transição da língua latina para a italiana. Escreveu A Divina Comédia, dividida entre Inferno, Purgatório e Paraíso e responsável por eternizar sua musa Beatrice. Além disso, escreveu também um tratado político: Da monarquia (1310). Além do diálogo com ele, Cecília Meireles estabelece no trecho abaixo diálogo com outro autor da Antiguidade Clássica: Ovídio, autor das Metamorfoses. CENÁRIO DA PARTE I CANTO VI – DIVINA COMÉDIA E são todas as coisas uns momentos de perdulária fantasmagoria – jogo de fugas e aparecimentos (...). Do soçobro tornando a aflita mente, Que da cópia infelice contristado Havia tanto o padecer pungente, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 59Armado pó que finge eternidade, lavra imagens de santos e profetas cuja voz silenciosa nos persuade. E recompunha as coisas incompletas: figuras inocentes, vis, atrozes, vigários, coronéis, ministros, poetas. Retrocedem os tempos tão velozes que ultramarinos árcades pastores falam de Ninfas e Metamorfoses. Achei-me novamente circundado De outros míseros, de outras amarguras, Que via em toda parte ao longe e ao lado. Sou no terceiro círculo, ondas escuras, Eternas chuvas, gélidas caíam, Pesadas, sempre as mesmas, sempre impuras. Saraiva grossa, neve, água desciam Desse ar pelas alturas tenebrosas: No chão caindo infeto odor faziam. José de Alencar (1829-1877). Escritor romântico que escreveu todo o tipo de prosa: indianista, regionalista, histórica e urbana. Nessa última, destaca-se Senhora (1875), romance no qual se discutem as relações humanos por interesse financeiro. Algo semelhante ocorre em Romanceiro da Inconfidência, quase se alerta para o poder que o ouro tem de guiar os caminhos humanos e inclusive corromper suas personalidades. ROMANCE I OU DA REVELAÇÃO DO OURO SENHORA – JOSÉ DE ALENCAR E é por isso que investigam toda a brenha, palmo a palmo; é por isso que se entreolham com duras pupilas de aço; que uns aos outros se destroçam com seus facões e machados: companheiros e parentes são rivais e amigos falsos. (Que é feito de ti, caminho, em teu segredo enrolado?) As revoltas mais impetuosas de Aurélia eram justamente contra a riqueza que lhe servia de trono, e sem a qual nunca por certo, apesar de suas prendas, receberia como rainha desdenhosa, a vassalagem que lhe rendiam. Por isso mesmo considerava ela o ouro, um vil metal que rebaixava os homens; e no íntimo sentia-se profundamente humilhada pensando que para toda essa gente que a cercava, ela, a sua pessoa, não merecia uma só das bajulações que tributavam a cada um de seus mil contos de réis. Florbela Espanca (1894-1930): poetisa portuguesa, produziu uma poesia caracterizada pelo sofrimento, feminilidade e erotismo. Seus livros mais conhecidos são o Livro de Mágoas (1919) e o Livro de Sóror Saudade (1923). Ela morreu por uma overdose de barbitúricos aos 36 anos. Compartilha com Cecília Meireles o fato de ser mulher. E sabemos que a obra de Cecília Meireles teve mesmo influência da literatura portuguesa. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 60 ROMANCE LXXIV OU DA RAINHA PRISIONEIRA EU – FLORBELA ESPANCAA A que crescera entre as intrigas de validos, nobres, criados, a que conversara com os santos, a que detestara os pecados! A que soube de tanto sangue, por engenhos de altos estrados, quando a nobreza sucumbia, nos fidalgos esquartejados! A que vira o pasmo do povo e a estupefação dos soldados... A que, amarrada em seus protestos, pusera silenciosos brados em grandes lágrimas abertas nos olhos, para o céu voltados... Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida... Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!... Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber por quê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver, E que nunca na vida me encontrou! Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): um dos autores mais populares e importantes da segunda geração modernista. Sua poesia é marcada pela crítica social e pela colocação do indivíduo no centro das discussões. Se interroga constantemente acerca das dificuldades da sociedade burguesa. No vestibular FUVEST 2022, constam dois poetas modernistas brasileiros: ele e Cecília Meireles, para não falar do português Fernando Pessoa. Logo, é possível uma aproximação. CENÁRIO DA PARTE I MÁQUINA DO MUNDO – DRUMMOND E assim me acenam por todos os lados, Porque a voz que tiveram ficou presa na sentença dos homens e dos fados. Cemitério das almas... – que tristeza Nutre as papoulas de tão vaga essência? Tudo é sombra de sombras, com certeza... O mundo, vaga e inábil aparência, que se perde nas lápides escritas, sem qualquer consistência ou consequência. E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 61 Vão-se as datas e as letras eruditas na pedra e na alma, sob etéreos ventos, em lúcidas venturas e desditas. a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia. 5.0 QUADRO SINÓPTICO Caros alunos. Esta seção tem a finalidade de ajudá-los nos dias antes da prova. Trata-se de uma breve ficha de leitura com algumas informações essenciais, dignas de serem memorizadas. CATEGORIA DEFINIÇÃO ESTRUTURA Obra composta por 96 poemas, distribuídos entre romances, cenários e falas paralelas. É ainda composta por 5 partes. EU LÍRICO Por mais que narre fatos históricos, ora se intromete nas histórias, declamando alguma profecia, um senso comum, ditados populares, refrões etc. Logo, a obra é fundamentada na polifonia (mistura de vozes), acarretando tecnicamente na representação de vários pontos de vista. VERSOS Alguns versos são brancos (sem rima), aderindo à técnica modernista, mas também há muitos que rimam. O número de versos nas estrofes é irregular: há poemas com estrofes com apenas 2 versos e outros cuja estrofe ultrapassa os 10 versos. Porém, a ocorrência mais frequente é a de estrofes com 5, 6 ou 8 versos. MÉTRICA Assim como no romanceiro tradicional, também na obra predomina a redondilha maior (verso com 7 sílabas poéticas), como é o caso verificado até mesmo no uso de certos nomes próprios de figuras históricas importantes. Exemplo: “To-más- An-tô-nio-Gon-za-ga” (7 sílabas poéticas) e “Do-na-Bár-ba-raE-lio-do-ra” (7 sílabas poéticas). Também existe presença de redondilhas menores (versos com 5 sílabas poéticas) e com 10 sílabas poéticas: “Joa-quim-Jo-sé-da-Sil-va-Xa-vi-er” (10 sílabas poéticas) RIMA As rimas são frequentemente soantes ou toantes. • Rima soante: quando a correspondência dos sons é completa. Exemplo: “dos grandes olhos sombrios/ (...) em barrancos já vazios!” (Cecília Meireles – O Romanceiro da Inconfidência). • Rima toante ou assonante: tipo de rima na qual há somente repetição de sons vocálicos. Exemplo: “A alta muralha das serras/ (...) Os diamantes entre as pedras” (Cecília Meireles – O Romanceiro da Inconfidência). TÉCNICA A obra mistura prosaísmo (obra ainda escrita em poesia, mas com intervenção da prosa, como fala de personagens – discurso direto – e intromissões do eu lírico, frequentemente irônico e crítico). Outros elementos são incorporados: refrões (como se fossem letras de músicas), profecias, senso comum e sabedoria popular. Há intertextualidade com outros ilustrados, como Voltério (Voltaire), por t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 62 exemplo: “O padre que lê Voltério /é que vem pregar ao povo!” (Cecília Meireles – O Romanceiro da Inconfidência). FORMAS FIXAS Obra híbrida: mistura cenários (descrições que se assemelham ao gênero teatral) e falas (que lembram discursos retóricos,são frequentemente direcionadas a alguém ou a algo: Vila Rica, pusilânimes, Incondidentes mortos). Porém, grande parte dos poemas são compostos por um gênero tradicionalmente medieval: os romances, que, segundo o crítico literário Massaud Moisés, caracterizam-se por ser a atividade poética luso-espanhola, de caráter épico e lírico, anônima, transmitida por via oral. 6.0 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS Prezados alunos, eis algumas informações práticas antes de começarem. A aula de hoje abordou muitos tópicos essenciais para a sua compreensão de texto. Vamos trazer exercícios variados para a sua fixação. Então, vamos resolver questões das seguintes fontes: • No material de hoje, vocês irão encontrar questões que já caíram em vestibulares sobre a obra “Romanceiro da Inconfidência” de Cecília Meireles, bem como questões autorais, especialmente de simulados anteriores. • Há questões também de outros vestibulares a fim de fixação. Portanto, outra dica: após fazer os exercícios da sua banca, procure fazer os de outra com cobrança parecida, o que se encontra na lista complementar que preparei para vocês. • Muitas das questões que envolvem obras obrigatórias são bem específicas. Como vocês vão observar, essas questões costuma cobrar verificação de leitura (detalhes). É a principal tipologia de questão envolvendo esse conteúdo. Para complementar seu estudo cada vez mais, vocês vão encontrar questões ao longo da teoria e no final dela, com e sem gabaritos. Além disso, também temos simulados inéditos e gratuitos todo fim de semana. Isso quer dizer que vamos focar bastante na prática! LISTA DE QUESTÕES ESPECÍFICAS DA BANCA 01. (FUVEST/2021/1ª fase) Romance LIII ou Das Palavras Aéreas Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência, tudo se forma e transforma! t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 63 Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! (...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Perdão, podíeis ter sido! - sois madeira que se corta, - sois vinte degraus de escada, - sois um pedaço de corda... - sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa... Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem... - sois um homem que se enforca! Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência. Ao substituir a pessoa verbal utilizada para se referir ao substantivo “palavras” pela 3ª pessoa do plural, os verbos dos versos “sois de vento, ides no vento”, (v. 4) / “Perdão podíeis ter sido!” (v. 12) / “Éreis um sopro na aragem...” (v. 20) seriam conjugados conforme apresentado na alternativa: a) são, vão, podiam, eram. b) seriam, iriam, podia, serão. c) eram, foram, poderiam, seriam. d) são, vão, poderiam, eram. e) eram, iriam, podiam, seriam. _____________________________________________________________________________________ 02. (FUVEST/2021/1ª fase) A "estranha potência" que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação entre a) fluidez nos ventos do presente e conteúdo fixo no passado. b) forma abstrata no espaço e presença concreta na história. c) leveza impalpável na arte e vigor no documentos antigos. d) sonoridade ruidosa nos ares e significado estável no papel. e) lirismo irrefletido na poesia e peso justo dos acontecimentos. _____________________________________________________________________________________ 03. (FUVEST/2021/1ª fase) Alferes, Ouro Preto em sombras Espera pelo batizado, Ainda que tarde sobre a morte do sonhador Ainda que tarde sobre as bocas do traidor. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 64 Raios de sol brilharão nos sinos: Dez vias dar; Ai Marília, as liras e o amor Não posso mais sufocar E a minha voz irá Pra muito além do desterro e do sal, Maior que a voz do rei. Aldir Blanc e João Bosco, trechos da música "Alferes", de 1973. A imagem de Tiradentes - a quem Cecília Meireles qualificou "o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo", em palestra feita em Ouro Preto - torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o mártir sonhador para resistir ao discurso a) da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas. b) da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes. c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditatura militar. d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas. e) da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro. _____________________________________________________________________________________ 04. (FUVEST/1996/1ª fase) Como o próprio título indica, no "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles, os romances têm como referência nuclear a frustrada rebelião na Vila Rica do século XVIII. No entanto, deve-se reconhecer que, a) a base histórica utilizada no poema converte-se no lirismo transcendente e amargo que caracteriza as outras obras da autora. b) as intenções ideológicas da autora e a estrutura narrativa do poema emprestam ao texto as virtudes de uma elaborada prosa poética. c) a imaginação poética dá à autora a possibilidade de interferir no curso dos episódios essenciais da rebelião, alterando-lhes o rumo. d) a matéria histórica tanto alimenta a expressão poética no desenvolvimento dos fatos centrais quanto motiva o lirismo reflexivo. e) a preocupação com a fidedignidade histórica e com o tom épico atenua o sentimento dramático da vida, habitual na poesia da autora. _____________________________________________________________________________________ 05. (FUVEST/1995/1ª fase) O verso "Só se estivesse alienado", que funciona como um refrão no "Romance LXXIII ou da inconformada Marília", registra a reação desta personagem do "Romanceiro da Inconfidência" à informação de que: a) seu amado, o inconfidente e poeta Cláudio Manuel da Costa, se suicidara na prisão. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 65 b) seu primo-irmão, o inconfidente Joaquim Silvério dos Reis, traíra os companheiros de conjura, delatando-os. c) seu noivo, o poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, se casara em África. d) seu prometido, o árcade e inconfidente Dirceu, se suicidara na prisão. e) seu companheiro na Inconfidência, o alferes Tiradentes, assumira sozinho toda a culpa da conjuração. LISTA DE QUESTÕES COMPLEMENTARES 06. (ENEM/2012) Ai, palavras, ai, palavras que estranha potência a vossa! Todo o sentido da vida principia a vossa porta: o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota... A liberdade das almas, ai! Com letras se elabora... E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil, frágil, como o vidro e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam... MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento). O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem: a) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras. b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas,têm seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras. c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem pela vida. d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças. e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos. _____________________________________________________________________________________ 07. (ENEM/2009/cancelada) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 66 Ó meio-dia confuso, ó vinte-e-um de abril sinistro, que intrigas de ouro e de sonho houve em tua formação? Quem ordena, julga e pune? Quem é culpado e inocente? Na mesma cova do tempo cai o castigo e o perdão. Morre a tinta das sentenças e o sangue dos enforcados... — liras, espadas e cruzes pura cinza agora são. Na mesma cova, as palavras, o secreto pensamento, as coroas e os machados, mentira e verdade estão. [...] MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Aguilar, 1972. (fragmento) O poema de Cecília Meireles tem como ponto de partida um fato da história nacional, a Inconfidência Mineira. Nesse poema, a relação entre texto literário e contexto histórico indica que a produção literária é sempre uma recriação da realidade, mesmo quando faz referência a um fato histórico determinado. No poema de Cecília Meireles, a recriação se concretiza por meio a) do questionamento da ocorrência do próprio fato, que, recriado, passa a existir como forma poética desassociada da história nacional. b) da descrição idealizada e fantasiosa do fato histórico, transformado em batalha épica que exalta a força dos ideais dos Inconfidentes. c) da recusa da autora de inserir nos versos o desfecho histórico do movimento da Inconfidência: a derrota, a prisão e a morte dos Inconfidentes. d) do distanciamento entre o tempo da escrita e o da Inconfidência, que, questionada poeticamente, alcança sua dimensão histórica mais profunda. e) do caráter trágico, que, mesmo sem corresponder à realidade, foi atribuído ao fato histórico pela autora, a fim de exaltar o heroísmo dos Inconfidentes. _____________________________________________________________________________________ 08. (UFPR/2013) Leia atentamente este trecho do Romanceiro da Inconfidência: Romance LIV ou DO ENXOVAL INTERROMPIDO Aqui esteve o noivo, de agulha e dedal, bordando o vestido do seu enxoval. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 67 Em Maio, era em Maio, num Maio fatal; feneciam rosas pelo seu quintal. Por estrada e monte, neblina total. No perfil da lua, um nimbo mortal. (Mas quem lê na névoa o amargo sinal?) A noite da Vila é densa e glacial. O sono, embuçado em cada beiral. Quem não dorme, sonha com seu enxoval. A agulha, de prata, e de ouro, o dedal. Em haste de cera, ergue o castiçal para a turva noite lírio de cristal. “Sabeis, ó pastora, daquele zagal* que andava num prado sobrenatural? Teria inimigo? Teria rival?” O sono conversa em cada poial**. “Sabeis, ó pastora, quem seja o chacal que os passos arrasta de longe arraial? Eu vi sua língua é um negro punhal. Que mortes fareja o imundo animal?” (MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Edusp/Imesp, 2004. p. 149) *Zagal: pastor. **Poial: assento de pedra na entrada de uma casa. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 68 O Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, vincula-se a uma tradição literária que prevê a mescla de gêneros. No livro, a recriação de fatos históricos, as falas de personagens espalhadas por toda a peça e a linguagem repleta de recursos expressivos poéticos resultam em uma obra singular. Com base nisso, considere as seguintes afirmativas: 1. A primeira estrofe apresenta o personagem central e sua ação anterior a uma reviravolta. 2. A segunda estrofe possui imagens líricas que podem ser associadas à poética do personagem retratado, como o carpe diem presente no verso “feneciam rosas”. 3. A contraposição entre dormir e sonhar, na terceira estrofe, é desenvolvida no diálogo entre a pastora e o sono, transcrito entre aspas. 4. O diálogo final atenua gradativamente a aflição inicial ao apresentar um conjunto de interrogações estruturadas em linguagem figurada. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. _____________________________________________________________________________________ 09. (UFPR/2012) “A duzentos anos de distância, embora ainda velados muitos pormenores desse fantástico enredo, sente-se a imprescindibilidade daqueles encontros, de raças e homens; do nascimento do ouro; da grandeza e decadência das Minas; desses gráficos tão bem traçados de ambição que cresce e da humanidade que declina; a imprescindibilidade das lágrimas e exílios, da humilhação do abandono amargo, da morte afrontosa – a imprescindibilidade das vítimas, para a definitiva execração dos tiranos.” (Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência) O fragmento transcrito faz parte da conferência “Como escrevi o Romanceiro da Inconfidência”, proferida por Cecília Meireles em 1955. Com base na leitura do Romanceiro e nos conhecimentos sobre a literatura do período, assinale a alternativa correta. a) O Romanceiro da Inconfidência exemplifica a principal tendência da literatura produzida em meados do século XX no Brasil: longos poemas épicos inspirados na História do país. b) Para apresentar a variedade humana envolvida nos episódios, o poema aproveita elementos do gênero dramático, de que são exemplo as falas de personagens espalhadas ao longo do texto. c) O engajamento político explicitado no texto da conferência é constante na obra de Cecília Meireles, pois para ela a poesia lírica deveria ser instrumento para mudanças sociais. d) Não se pode considerar o Romanceiro um poema narrativo, pois, ao contrário do que acontece no trecho da conferência, o poema embaralha a ordem de apresentação dos acontecimentos históricos. e) Enquanto a conferência propõe que os tiranos sejam execrados, o Romanceiro da Inconfidência, por ser um texto lírico, revela sentimentos sem julgar ou estabelecer responsabilidades. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 69 _____________________________________________________________________________________ 10. (UFPR/2008) Sobre o livro Romanceiro da inconfidência, de Cecília Meireles, considere as afirmativas a seguir: 1. Os documentos históricos legados à posteridade não esclarecem de fato certos episódios relacionados à Inconfidência Mineira. Em face dessa situação, Cecília Meireles optou por apresentar os acontecimentos e as personagens a partir de uma perspectiva lírica que prescinde de nitidez e definição. 2. O poema contém partes de elaboração clássica, metrificadas em versos longos, e outras, mais próximas das composições populares, em versos curtos. 3. Além das personagens diretamente envolvidas no movimento sedicioso do título, o poema também trata de outras, como Chica da Silva, que embora não estejam diretamente envolvidas, ajudam a comporo ambiente histórico do texto. 4. Tiradentes, o alferes que a história transformou em herói, é apresentado na obra como indivíduo ambíguo e de moral discutível, numa clara contraposição literária à imagem apresentada pelos historiadores mais conservadores. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. _____________________________________________________________________________________ 11. (UEMA/2014) Na obra Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles reescreve de forma poética a história oficial de eventos da Inconfidência Mineira, rebelião ocorrida em Vila Rica, no fim do século XVIII, cenário dos “romances” que compõem a referida obra. Romance LIII ou Das palavras aéreas Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna. [...] Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! [...] Ai, palavras, ai, palavras, íeis pela estrada afora, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 70 erguendo asas muito incertas, entre verdade e galhofa, desejos do tempo inquieto, promessas que o mundo sopra... Ai, palavras, ai, palavras, mirai-vos: que sois, agora? [...] Perdão podíeis ter sido! – sois madeira que se corta, –sois vinte degraus de escada, – sois um pedaço de corda... – sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa... Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem... – sois um homem que se enforca! Fonte: MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2012. Com base na leitura dos versos, em que se veem relações entre memória, história e literatura, pode-se fazer o seguinte comentário sobre a linguagem do fazer poético: a) A caracterização da natureza pelo eu lírico sugere ideais de uma vida em harmonia, distante de conflitos, o que demonstra uma influência da poesia árcade. b) A concisão, a forma de elocução nos versos e o estado contemplativo do eu poético demonstram a intenção de destacar sutilezas políticas, à época da rebelião mineira. c) A emoção do eu poético parte da observação do real, por meio de lembranças de outras épocas, para construir um texto fluido, com imagens criadas por componentes expressivos da linguagem. d) A preocupação em estruturar versos com rimas preciosas e o cuidado em selecionar vocábulos raros revelam o propósito de aprimorar a linguagem, para resgatar a beleza de fatos históricos. e) A construção poética exemplifica marcantes características da segunda geração do Romantismo: adjetivação exagerada e sentimentalismo profundo, ao evocar fatos da rebelião mineira. _____________________________________________________________________________________ 12. (UEMA/2014) Releia os seguintes versos: Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! [...] Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! [...] t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 71 mirai-vos: que sois, agora? [...] A estranha potência das palavras é explicada, de certa forma, por meio de sugestivas imagens. Um dos sentidos sugeridos nesses versos é a a) constância nas ações. b) transitoriedade na vida. c) permanência do tempo. d) imutabilidade das ideias. e) previsibilidade dos acontecimentos. _____________________________________________________________________________________ 13. (PUC-Camp/2004) As ordens já são mandadas, já se apressam os meirinhos. Entram por salas e alcovas, relatam roupas e livros: (...) Compêndios e dicionários, e tratados eruditos sobre povos, sobre reinos, sobre invenções e Concílios... E as sugestões perigosas da França e Estados Unidos, Mably, Voltaire e outros tantos, que são todos libertinos... (Cecília Meireles, Romance XLVII ou Dos sequestros. Romanceiro da Inconfidência) No Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles vale-se de uma grande variação quanto ao tipo de estrofes, de versos e de rimas. É correto afirmar que no trecho apresentado, ela se valeu a) da redondilha menor, com rimas consoantes. b) do decassílabo, com versos brancos. c) de versos, livres e brancos. d) da redondilha maior, com rimas toantes. e) de alexandrinos, com versos brancos. _____________________________________________________________________________________ 14. (PUC-Camp/2004) É sabido que Cecília Meireles, para escrever o seu Romanceiro, fez ampla e profunda pesquisa sobre personagens direta ou indiretamente envolvidas nos fatos centrais desse poema. Não causará surpresa, pois, que encontremos entre as suas personagens os a) principais poetas brasileiros do Arcadismo. b) principais poetas do barroco brasileiro. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 72 c) artistas envolvidos com a propagação do movimento abolicionista. d) padres jesuítas em missão da Contra-Reforma. e) primeiros grandes escritores do nosso Romantismo. _____________________________________________________________________________________ 15. (UFMS/2018) Os poemas da obra Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, fazem uma releitura lírica dos eventos da Inconfidência Mineira. A poetisa também cria um hipertexto com os poetas Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga, que na época se envolveram com acontecimentos políticos que culminaram na Inconfidência Mineira. “Vão cavalos, vêm cavalos, Por cima da Mantiqueira. Donas espreitando as ruas, Pelas grades de urupema. Padres escrevendo cartas... Doutores lendo Gazetas... Uns querendo ouro e diamantes, Outros, liberdade, apenas...” (MEIRELES, Cecília. Romance XXXVII ou de maio de 1789. In: Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1991. p. 468). Levando em conta essas informações, a qual período da literatura brasileira é correto relacionar os poetas mencionados (Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga) e o contexto histórico da Inconfidência Mineira? a) Modernismo. b) Quinhentismo. c) Trovadorismo. d) Barroco. e) Arcadismo. _____________________________________________________________________________________ 16. (UFMS/2009/Anual/2a etapa) A propósito de Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, assinale a(s) proposição(ões) correta(s). (001) Revela a ascendência barroca característica da lírica da autora. (002) Ideologicamente, alinha-se ao lado do oprimido e do escravo contra o opressor e os governantes. (004) A perfeição formal da escrita coloca-se a serviço de temas universais. (008) Retoma gêneros de cunho popular de tradição portuguesa. (016) Descreve, na civilização do ouro e dos diamantes no Brasil-Colônia, um episódio de conjuração. _____________________________________________________________________________________ t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 73 17. (UFMS/2008/Inverno/2a etapa) A propósito de Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, assinale a(s) proposição(ões) correta(s). (001) A obra divide-se em Falas, Cenários e Romances, além de uma “Imaginária Serenata” e um “Retrato de Marília em Antônio Dias”. (002) O espaço da narrativa não é tão sóo espaço dos acontecimentos, mas sobretudo a atmosfera que cerca a ação. (004) Os ideais de liberdade e independência dos inconfidentes surgem nuançados pela linguagem neo- simbolista característica da obra da autora. (008) Em diversas passagens, o poema emula vocabulário, ritmo e estilo dos poetas árcades do neoclassicismo de Minas Gerais. (016) Criar sentidos, com a exploração visual e gráfica da página em branco, denota influência do Concretismo na escrita do poema. _____________________________________________________________________________________ 18. (UFMS/2008/Anual/2a etapa) A propósito de Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). (001) Joaquim Silvério emerge da obra como um grande homem. (002) Com o tema da obra, a escritora implicitamente apoiava o Estado Novo de Getúlio Vargas. (004) O lema da Inconfidência, que hoje figura na bandeira de Minas Gerais, não é retomado em nenhum momento do poema. (008) Os eventos históricos retratados acontecem no período em que o estilo de época na literatura era, no Brasil colonial, o arcadismo. (016) O formato do Romanceiro, estilo típico do fim do medievo, implica que o poema é construído pela alternância de cantigas de amor e cantigas de amigo, com inserções de romances, serenatas, falas e retratos. _____________________________________________________________________________________ 19. (UFMS/2007/Inverno/2a etapa) Sobre o Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, assinale a(s) proposição(ões) correta(s). (001) Quanto ao estilo de época, pertence ao Modernismo brasileiro. (002) Quanto ao tema, seu nacionalismo é ufanista e idealizado. (004) Quanto à forma, é vazado em oitavas-rimas camonianas. (008) Quanto ao gênero, é poema épico nos moldes clássicos. (016) Quanto à tradição literária, evoca raízes que se firmam na narrativa e na poesia medievais. _____________________________________________________________________________________ 20. (Estratégia Vestibulares 2020/2º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 74 TEXTO I V. MUSEU DA INCONFIDÊNCIA São palavras no chão e memória nos autos. As casas inda restam, os amores, mais não. E restam poucas roupas, sobrepeliz de pároco, a vara de um juiz, anjos, púrpuras, ecos. Macia flor de olvido, sem aroma governas o tempo ingovernável. Muros pranteiam. Só. Toda história é remorso. Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 68. TEXTO II “Ai, minas de Vila Rica, santa Virgem do Pilar! Dizem que eram minas de ouro... - para mim, de rosalgar, para mim, donzela morta pelo orgulho de meu pai. (Ai, pobre mão de loucura, que mataste por amar! ) Reparai nesta ferida que me fez o seu punhal: gume de ouro, punho de ouro, ninguém o pode arrancar! Há tanto tempo estou morta! E continuo a penar.” Cecília Meireles. Romance IV ou da donzela assassinada. In: Romanceiro da inconfidência. São Paulo: Global, 2015. Os eu-líricos masculino e feminino guardam uma ressonância temática. É correto afirmar que ambos a) guardam uma dimensão estilística inovadora e modernista. b) reforçam padrões exploratórios na prática extrativista mineira. c) ressignificam passagens históricas caras ao Quinhentismo literário. d) repensam o episódio da Conjuração Mineira sob o signo da culpa. e) especulam sobre o papel social da mulher e a obrigação do casamento. _____________________________________________________________________________________ t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 75 21. (Estratégia Vestibulares 2020/4º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) TEXTO I V Se sou pobre pastor, se não governo Reinos, nações, províncias, mundo, e gentes; Se em frio, calma, e chuvas inclementes Passo o verão, outono, estio, inverno; Nem por isso trocara o abrigo terno Desta choça, em que vivo, coas enchentes Dessa grande fortuna: assaz presentes Tenho as paixões desse tormento eterno. Adorar as traições, amar o engano, Ouvir dos lastimosos o gemido, Passar aflito o dia, o mês, e o ano; Seja embora prazer; que a meu ouvido Soa melhor a voz do desengano, Que da torpe lisonja o infame ruído. SATÚRNIO, Glauceste. Sonetos. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/sk5nq53. Acesso em: 03 jul. 2020. TEXTO II Romance XLIX ou De Cláudio Manuel da Costa – Isso é o que conta o vizinho que ouviu falar o soldado. Mas do corpo ninguém sabe: anda escondido ou enterrado? Dizem que o viram ferido, ferido e não sufocado: de borco em poça de sangue, por um punhal trespassado. – Dizem que não foi atilho nem punhal atravessado, mas veneno que lhe deram, na comida misturado. E que chegaram doutores, E deiaram declarado Que o morto não se matara, Mas que fora assassinado. MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015, p. 143 (trecho). Tendo o primeiro texto sendo escrito no século XVIII e o segundo no século XX, a despeito de sua distância temporal eles podem ser aproximados no sentido de: t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 76 a) conformismo com as questões de sua época, inclusive, com a transformação da paisagem bucólica pela modernidade. b) retrato de uma figura engajada que ao mesmo tempo seguiu um movimento literário, mas já sendo suficientemente visionário para superá-lo. c) anseios de um estudante pela construção de infraestrutura urbana com bibliotecas e museus que superassem o campo. d) crença do poeta religioso no poder educador da inquisição, uma vez que sua visão de mundo era teocêntrica. e) desdém contra o pombalismo vigente na época, já que o Brasil precisava se desvincular da metrópole. _____________________________________________________________________________________ 22. (Estratégia Vestibulares 2020/5º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) Romance LXXIX ou da morte de Maria Ifigênia Se o Brasil fosse um reinado, poderia ser princesa, – tal era a sua linhagem. Mas seu campo andava em luto, e era seu reino a tristeza. O cavalo que a levava por arredondados montes, que viu, nos olhos de espanto, nas negras terras de Ambaca, sobre exaustos horizontes? (Melhor que a desgraça é a morte. Melhor que o opaco futuro. E entre a vida e a morte, apenas um salto, – da terra de ouro ao grande céu, puro e obscuro!) E uma pequena amazona perde a sua humanidade: – para além de réus e culpas, de sentenças, de sequestros, e da própria Liberdade. MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. O estilo de Cecília Meireles mescla poesia com fatos históricos, de uma maneira que o eu lírico manifesta a sua subjetividade diante de uma tragédia. O procedimento empregado para acentuar a eloquência é a) pronominalização. b) narratividade. c) zoomorfização. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 77 d) adjetivação. e) verossimilhança. _____________________________________________________________________________________ 23. (Estratégia Vestibulares 2020/6º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) TEXTO I Levantai-vos dessas mesas, saí das vossas molduras; vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de algemas, que profundas sepulturas nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas! Considerai no mistériodos humanos desatinos, e no pólo sempre incerto dos homens e dos destinos! Por sentenças, por decretos, pareceríeis divinos: e hoje sois, no tempo eterno, como ilustres assassinos. Ó soberbos titulares, tão desdenhosos e altivos! Por fictícia austeridade, vãs razões, falsos motivos, inutilmente matastes: – vossos mortos são mais vivos; e, sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos. (...) MEIRELES, Cecília. Dos ilustres assassinos. In: Romanceiro da Inconfidência. TEXTO II (...) De que pode servir calar quem cala? Nunca se há de falar o que se sente?! Sempre se há de sentir; o que se fala. Qual homem pode haver tão paciente, Que vendo o triste estado da Bahia, Não chore, não suspire e não lamente? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 78 Isso faz a discreta fantasia: Discorre em um e outro desconcerto. Condena o roubo, increpa a hipocrisia. O néscio, o ignorante, o inexperto, Que não elege o bom, nem mau reprova, Por tudo passa deslumbrado e incerto. (...) MATOS, Gregório de. Aos vícios. In: Poemas escolhidos. Ambos os poemas se aproximam por seu tom irônico. O que ou quem eles ironizam? a) “soberbos titulares”/ “O néscio, o ignorante, o inexperto” b) “humanos desatinos” / “triste estado da Bahia” c) “vossas assinaturas” / “outro desconcerto” d) “inutilmente matastes” / “o que se fala” e) “grandes olhos pensativos” / “Que não elege o bom” _____________________________________________________________________________________ 24. (Estratégia Vestibulares 2020/7º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) A bússola mira. Toma para leste. Dez dias de marcha até que atravesse campinas e montes que com os olhos mede: tão verdes... tão longos... (E ninguém percebe como é necessário que terra tão fértil, tão bela e tão rica por si se governe!) Águas de ouro puro seu cavalo bebe. Entre sede e espuma, os diamantes fervem... (A terra tão rica e – ó almas inertes! – o povo tão pobre... Ninguém que proteste! (...) MEIRELES, Cecília. Do animoso alferes. In: Romanceiro da Inconfidência. Para além do contexto histórico, os poemas episódicos de Cecília Meireles narram sobre a condição humana da ambição. Nesse sentido, é INCORRETO afirmar que a) igual como nas grandes navegações, a bússola é a melhor instrutora de aferição. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 79 b) os animais parecem se comportar indiferentes quanto à ganância humana. c) o fato de terras com aquelas matérias-primas não serem autogovernadas era um risco. d) é observada discrepância entre a riqueza produzida e no entanto um povo pobre. e) há crítica contra os que só são passivos diante de situação de abuso sem contestarem. _____________________________________________________________________________________ 25. (Estratégia Vestibulares 2020/1º Simulado ENEM 2020/Professora Luana Signorelli) E, atrás deles, filhos, netos, seguindo os antepassados, vêm deixar a sua vida, caindo nos mesmos laços, perdidos na mesma sede, teimosos, desesperados, por minas de prata e de ouro curtindo destino ingrato, emaranhando seus nomes para a glória e o desbarato, quando, dos perigos de hoje, outros nascerem, mais altos. Que a sede de ouro é sem cura, e, por ela subjugados, os homens matam-se e morrem, ficam mortos, mas não fartos. (Ai, Ouro Preto, Ouro Preto, e assim foste revelado!) Cecília Meireles. Romance I ou da revelação do ouro – Romanceiro da inconfidência. São Paulo: Global, 2015, p. 25-26. O fragmento foi retirado da obra Romanceiro da inconfidência, da modernista Cecília Meireles, que foi lançada em 1953. Centralizada no episódio histórico da Conjuração Mineira, pode-se estabelecer um paralelo com a) movimentos emancipatórios e antilusitanos do Arcadismo, sendo que a cidade de Vila Rica teve um papel central. b) a tradição familiar, passada de pai a filho através dos séculos, o que promoveu o nacionalismo do Romantismo. c) o nacionalismo surgido depois do Segundo Império, cuja motivação foi a luta pela República presente na primeira geração modernista. d) a ressignificação do indianismo, empregado no Quinhentismo, uma vez que o eu lírico sente-se descendente dos indígenas. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 80 e) o heroísmo verificado em escolas nativistas, como era o manifesto Pau Brasil, escrito por Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. _____________________________________________________________________________________ 26. (Estratégia Vestibulares 2020/6º Simulado UNESP 2021/Professora Luana Signorelli) Leia o poema abaixo da modernista Cecília Meireles (1901-1964) para responder às próximas três questões. Romance XXX ou do riso dos tropeiros Passou um louco, montado. Passou um louco, a falar que isto era uma terra grande e que a ia libertar. Passou num macho rosilho. E, sem parar o animal, falava contra o governo, contra as leis de Portugal. Nós somos simples tropeiros, por estes campos a andar. O louco já deve ir longe: mas inda o vemos pelo ar.... Mostrando os montes, dizia que isto é terra sem igual, que debaixo destes pastos e tudo rico metal... - Por isso é que assim nos rimos, que nos rimos sem parar, pois há gente que não leva a cabeça no lugar. Ah! se conosco estivesse o capitão general! E também nos disse o louco: “Levai bem pólvora e sal!”. Por isso que rimos tanto... Mas, quando ele aqui tornar, teremos a terra livre, - salvo se, por um desar, o metem num enxovia, e, por sentença real, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 81 o fazem subir à forca, para morte natural. É correto afirmar que o eu lírico discorre acerca do risco de a) enlouquecer por causa da busca desenfreada do ouro. b) entrar em conflito com o capitão general daquelas terras. c) profetizar a verdade ainda que ela lhe custe a perseguição. d) ser um simples tropeiro sem tomar consciência do trabalho. e) reconhecer-se incapaz de libertar-se e depender dos outros. _____________________________________________________________________________________ 27. (Estratégia Vestibulares 2020/6º Simulado UNESP 2021/Professora Luana Signorelli) Os tropeiros demonstram desdém contra o cavaleiro louco: a) denunciando-o ao capitão general. b) dizendo que iam libertar aquela terra. c) rindo-se dele, para desacreditá-lo. d) justificando-se que iriam montar no cavalo. e) ameaçando-o de matá-lo se persistisse. _____________________________________________________________________________________ 28. (Estratégia Vestibulares 2020/6º Simulado UNESP 2021/Professora Luana Signorelli) Observa-se ironia no seguinte verso: a) “que isto era uma terra grande” b) “contra as leis de Portugal.” c) “Mostrando os montes, dizia” d) “para morte natural.” e) “Mas, quando ele aqui tornar,” _____________________________________________________________________________________ 29. (Estratégia Vestibulares 2021/1º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) TEXTO I Romance XXXVIII ou do embuçado Homem ou mulher? Quem soube? Tinha o chapéu desabado. A capa embrulhava-o todo: Era o Embuçado. Fidalgo? Escravo? Quem era? De quem trazia o recado? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 82 Foi noquintal? Foi no muro? Mas de que lado? Passou por aquela ponte? Entrou naquele sobrado? Vinha de perto ou de longe? Era o Embuçado. (...) MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 115). TEXTO II Vozes d'África Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?... Qual Prometeu tu me amarraste um dia Do deserto na rubra penedia — Infinito: galé! ... Por abutre — me deste o sol candente, E a terra de Suez — foi a corrente Que me ligaste ao pé... (...) ALVES, Castro. Os escravos. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/9x6avcd4. Acesso: 03 mar. 2021. “Romanceiro da Inconfidência” (1953) é uma obra modernista de revisionismo histórico, que se detém no fato da Inconfidência Mineira (1789) para pensar questões como a da liberdade. Assim, o sentido dos termos grifados em ambos os poemas acima pode ser compreendido como a) fantasma / escondido. b) protegido / encoberto. c) conhecido / ignoto. d) alienado / evidente. e) determinado / aliado. _____________________________________________________________________________________ 30. (Estratégia Vestibulares 2021/2º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) (...) Melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério! Pois ele encontra remorso, coisa que não te acomete. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 83 Ele topa uma figueira, tu calmamente envelheces, orgulhoso e impenitente, com teus sombrios mistérios. (Pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde: Há os grandes sonhos dos homens, e a surda força dos vermes.) MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 106). Nesse poema, uma figura importante no contexto histórico da Inconfidência Mineira é comparada a outra de igual relevância nas Escrituras Sagradas da Bíblia. Nesse sentido, pode-se constatar que a) é ressignificada a noção de traição, expondo o falso moralismo dos contemporâneos. b) o comportamento social foi evoluindo de acordo com o tempo e os sonhos continuam. c) se nenhum caminho se perde, todos podem se salvar das condenações, crimes e pecados. d) a justiça, assim como a liberdade, é um bem almejado, mas que só virá tardiamente. e) Joaquim Silvério desfruta da sua aposentadoria que conquistou por merecimento próprio. _____________________________________________________________________________________ 31. (Estratégia Vestibulares 2021/3º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) Acerca de "Romanceiro da Inconfidência" (1953) de Cecília Meireles, é possível afirmar: a) os romances compõem uma obra modernista de revisionismo histórico e correspondem a poemas inspirados numa tradição calcada no medievalismo. b) a Inconfidência Mineira é um fato histórico reconstruído invertendo valores: os heróis se tornam carrascos depois de terem sido torturados. c) poemas como falas e cenas são importantes por indicarem rupturas na obra, mas acabam implicando numa perda de coerência. d) figuras históricas são destacadas, como Chica da Silva, que dominava técnicas de capoeira e assumiu a liderança na resistência do quilombo. e) poetas árcades como Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga são modernizados, pois seu discurso de libertação também é adepto do liberalismo. _____________________________________________________________________________________ 32. (Estratégia Vestibulares 2021/4º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) Leia o poema abaixo e atenda ao comando. NOVE DE MAIO Toda a cidade já sabe que o Alferes anda fugido. - No sótão de que sobrado? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 84 Em que fazenda? Em que sítio? Embarcado em que canoa? Atravessando que rio? Por detrás de que montanha? Por cima de que perigo? Quebrados anjos de prata miraram seu rosto aflito: entre espadins e fivelas, castiçais e crucifixos, parou - tristemente humano, tristemente perseguido. Tinha o mundo todo na alma - e mendigava um abrigo! DEZ DE MAIO Noite escura. Duros passos. Já se sabe quem foi preso. Ninguém dorme. Todos falam, todos se benzem de medo. Passos da escolta nas ruas - que grandes passos, no Tempo! Mas o homem que vão levando é quase só pensamento: - Minas da minha esperança, Minas do meu desespero! Agarraram-me os soldados, como qualquer bandoleiro. Vim trabalhar para todos, e abandonado me vejo. Todos tremem. Todos fogem. A quem dediquei meu zelo? MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015, (p. 112-113). A partir da leitura do trecho acima, excerto do "Romance XXXVII ou De maio de 1789", depreende-se que a) há intertextualidade explícita com um filósofo contemporâneo à autora, Friedrich Nietzsche, por conta do pessimismo e niilismo em questão, bem como com a Bíblia, pela alusão à citação: "Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?" b) como é de praxe em um romanceiro, há um compilado de poemas, sendo que esse em particular mescla o gênero poético com o prosaico, no sentindo de incorporar aspectos do diário, por exemplo, a entrada por datas e o subjetivismo. c) na composição poética há uma mistura de estilos, como o recurso expressivo da antítese no plano estilístico, bem como uso das redondilhas maiores, e o espírito bisbilhoteiro na descrição do povo da cidade, prontos para julgar, mas não para salvar o condenado. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 85 d) o Alferes em particular é Tiradentes, uma figura pública que ajudou a todos na época da Revolução Francesa, pregando os ideais de igualdade e fraternidade por meio de seu ofício como médico, mesmo depois que as pessoas tivessem se virado contra ele. e) nesse poema observam-se os principais fundamentos vanguardistas, como é o caso dos versos brancos e livres, uma vez que as rimas são toantes e a métrica irregular, instabilidade esta que também se expressa na angústia do Alferes perseguido. _____________________________________________________________________________________ 33. (Estratégia Vestibulares 2021/5º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) Leve em consideração o excerto abaixo, extraído do Romance LXXXII ou Dos passeios da Rainha louca, para responder à questão. Colinas de esquecimento, praias de ridentes águas, palmas, flores, nada esconde aquelas visões amargas que noite e dia a Rainha cercam de horror e ansiedade. Ai, parentes, ai, ministros, ai, perseguidos fidalgos... Ai, pobres Inconfidentes, duramente condenados por que sombria sentença, alheia à sua vontade! [...] Toda vestida de preto, solto o grisalho cabelo, escondida atrás do leque, velhinha, a chorar de medo, Dona Maria Primeira passeia pela cidade. MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015 (p. 227-228). Depois desse poema, há outros 4 que encerram o livro, sendo mais 3 romances e a "Fala aos Inconfidentes mortos" ao final, o que insere esse trecho na quinta e última parte do livro. Sendo assim, a figura da Rainha Maria: a) é uma apática figura histórica que não se envolve na vida do povo. b) reclama do fato de ter perdido suas posses em tom reiterado e queixoso. c) vê-se tão perseguida quanto perseguiu, tal como uma etérea mulher simbolista. d) acredita ser tarde demais para pedir perdão pelas condenações. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURAPARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 86 e) consegue se eximir da responsabilidade transferindo o pode à sua família. _____________________________________________________________________________________ 34. (Estratégia Vestibulares 2021/6º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) (...) A estrela do seu destino leva o desenho estropiado: metade com grande brilho, a outra, de brilho nublado; quanto mais fica um, sombrio, mais se ilumina o outro lado. Duvido muito, duvido que se deslinde o seu fado. Vejo que vai ser ferido e vai ser glorificado: ao mesmo tempo, sozinho, e de multidões cercado; correndo grande perigo, e de repente elevado: ou sobre um astro divino ou num poste de enforcado. (...) MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015 (p. 104). Retirado do Romance XXXIII ou "Do cigano que viu chegar o Alferes", o eu lírico desse poema assume a postura de a) criticar aqueles que se eximiram de suas responsabilidades na crise. b) apaziguar o entendimento do leitor do papel de mártir do envolvido. c) dissimular intencionalmente o fato de já conhecer o final da história. d) engajar uma luta de classes na união entre a patente militar e o cigano. e) respeitar a métrica convencional que adota como marco a redondilha. _____________________________________________________________________________________ 35. (Estratégia Vestibulares 2021/8º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) "Romanceiro da Inconfidência" (1953) é uma obra de revisionismo histórico. Sendo modernista que é, estabelece uma crítica quanto ao movimento literário à época deste fato histórico. O poema em particular que evidencia tal distanciamento do Neoclassicismo é: a) "Romance 16 ou Da Traição do Conde" b) "Romance 20 ou Do País da Arcádia" c) "Romance 27 ou Do Animoso Alferes" d) "Romance 55 ou Do Preso Chamado Gonzaga" t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 87 e) "Romance 73 ou Da Inconformada Marília" _____________________________________________________________________________________ 36. (Estratégia Vestibulares 2021/Último Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) Analise o trecho do poema a seguir para responder à próxima questão. Romance XLIV ou da testemunha falsa Que importa quanto se diga? Para livrar-me de algemas, da sombra do calabouço, dos escrivães e das penas, do baraço e do pregão, a meu pai acusaria. Como vou pensar nos outros? Não me aflijo por ninguém. Que o remorso me persiga! Suas tenazes secretas não se comparam à roda, à brasa, às cordas, aos ferros, aos repuxões dos cavalos que, mais do que as Majestades, ordenarão seus Ministros, com tanto poder que têm. (...) Por escrúpulos futuros, não vou sofrer desde agora: Quais são torpes? Quais, honrados? As mentiras viram lenda. E não é sempre a pureza que se faz celebridade... Há mais prêmios neste mundo para o Mal que para o Bem. Direi quanto me ordenarem: o que soube e o que não soube... Depois, de joelhos suplico perdão para os meus pecados, fecho meus olhos, esqueço.. – cai tudo em sombras, além... MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015. Considerando que o "Romanceiro da Inconfidência", em seu conjunto, é polifônico, o relato dessa voz particularmente expressa a) dúvida diante das autoridades e receio ao receber punição. b) apego aos interesses próprios em detrimento da vida humana. c) piedade como demonstração de culpa pelo materialismo. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 88 d) esquecimento quanto aos fatos do passado histórico. e) solenidade com um tom valoroso de quem respeita o tratado. _____________________________________________________________________________________ 37. (Estratégia Vestibulares 2022/1o Simulado FUVEST 2023/Professora Luana Signorelli) A partir do excerto a seguir, responda ao comando. Romance XLVIII ou do jogo de cartas Grandes jogos são jogados entre a terra e o firmamento: longas partidas sombrias, por anos, meses e dias, independentes do tempo... Soldados e marinheiros, camponeses e fidalgos, ministros, gente da Igreja, não há mais ninguém que esteja fora dos vastos baralhos. Batem as cartas na mesa, na curva mesa da terra. Partida sobre partida, perde-se renome ou vida: mas a perdição é certa. Lá vêm corações em sangue, lá vêm tenebrosos chuços: defrontam-se ouros e espadas, saltam coroas quebradas, morrem culpados e justos. (...) Mesas de Queluz cobertas de ouros, paus, espadas, copas... (Minas, sangue, sofrimento... ) No baralho bate o vento e o jogo segue outras voltas. MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 141-142). Assinale a opção que contiver uma análise correta. a) Na primeira estrofe, há um particípio pleonástico e intertextualidade com Shakespeare. b) Na segunda estrofe, são mencionadas castas eclesiásticas que se tornaram os inconfidentes. c) Na terceira estrofe, verifica-se metonímia no termo "partidas" e ironia na palavra "perdição". d) Na quarta estrofe, há um advérbio de lugar bem como índice de indeterminação do sujeito. e) Na última estrofe, a menção à Queluz se remete ao contexto histórico de produção da obra. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 89 _____________________________________________________________________________________ 38. (Estratégia Vestibulares 2022/2o Simulado FUVEST 2023/Professora Luana Signorelli) Considere as estrofes seguintes. "Sábios, ilustres, atraentes, quando tudo era esperança… E, agora, tão deslembrados até da sua aliança! Também a memória sofre, e o heroísmo também cansa. Não choram somente os fracos. O mais destemido e forte, um dia, também pergunta, contemplando a humana sorte, se aqueles por quem morremos merecerão nossa morte." MEIRELES, Cecília. Romance LIX ou Da reflexão dos justos. In: Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 63). Nesse sentido, o eu lírico a) alerta para a discrepância entre a impavidez de alguns e as falsas promessas de outros. b) critica o falso moralismo de algumas pessoas hipócritas que comprometem pela ignorância. c) arrisca o grupo por ter se cansado da luta e sobrecarregando outros que terão que assumir o fardo. d) expõe contradições internas do iluminismo, o qual propulsionou a razão, mas gerou guerras. e) acarreta a possibilidade de que os heróis se tornem carrascos pelo tempo em que ficam no poder. _____________________________________________________________________________________ 39. (Estratégia Vestibulares 2022/3o Simulado FUVEST 2023/Professora Luana Signorelli) O trecho abaixo são estrofes do Cenário de "Romanceiro da Inconfidência". Minha sorte se inclina junto àquelas vagas sombras da triste madrugada, fluidos perfis de donas e donzelas. Tudo em redor é tanta coisa e é nada: Nise, Anarda, Marília...- quem procuro? Quem responde a essa póstuma chamada? Que mensageiro chega, humilde e obscuro? Que cartas se abrem? Quem reza ou pragueja? Quem foge? Entre que sombras me aventuro? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 90 Quem soube cada santo em cada igreja? A memória é também pálida e morta sobre a qual nosso amor saudoso adeja. O passado não abre a sua porta e não pode entender a nossa pena. (...) MEIRELES, Cecília.Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015. Entre as preocupações apresentadas, a que se deve a alusão a figuras femininas? a) Simbolizam a incomunicabilidade que o artista modernista sente em relação à arte do passado, questionando seu verdadeiro valor. b) Constituem uma metáfora para a prisão à qual os inconfidentes eram enviados, o que faz com que o passado não se abra para o eu lírico. c) São mulheres ligadas à Antiguidade Clássica, evocadas no Arcadismo, mas com quem o eu lírico não consegue mais conversar, pois perdeu sentido. d) Trata-se de uma crítica contra a arte barroca, que enchia as igrejas de imagens santas sem se preocupar com as agruras do povo. e) É uma prefiguração do realismo, pois o uso do adjetivo "póstuma" se remete a uma famosa obra machadiana, em sua denúncia social. _____________________________________________________________________________________ 40. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Abaixo estão elencados os principais recursos estilísticos usados em "Romanceiro da Inconfidência". Assinale a EXCEÇÃO. a) Coletânea de poemas em três partes, indo do orgulho nacional rumo ao destino nacional incerto. b) Obra híbrida que mescla tradição medievalista com experimentalismo moderno. c) Polifonia vinda de personagens diferentes quanto a gênero, nacionalidade e classe social. d) Uso de figuras femininas a quem a voz é recuperada diante de um passado de emudecimento. e) Influência do teatro e da música, com presenta de falas intermeadas por cenas. _____________________________________________________________________________________ 41. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Leia a passagem do poema abaixo, extraído do Romance XVII ou Das lamentações no Tejuco. Ai, que rios caudalosos, e que montanhas tão altas! Ai, que perdizes nos campos, e que rubras madrugadas! Ai, que rebanhos de negros, e que formosas mulatas! Ai, que chicotes tão duros, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 91 e que capelas douradas! Ai, que modos tão altivos, e que decisões tão falsas... Ai, que sonhos tão felizes... que vidas tão desgraçadas! (...) Maldito o Conde, e maldito esse ouro que faz escravos, esse ouro que faz algemas, que levanta densos muros para as grades das cadeias, que arma nas praças as forcas, lavra as injustas sentenças, arrasta pelos caminhos vítimas que se esquartejam! (Doze mucamas em volta gemiam com surda pena. Pranto e diamantes caídos era tudo um mar de estrelas.) MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015 (p. 63). Na epopeia da "Odisseia" de Homero, doze escravas foram enforcadas depois do retorno de Ulisses por terem sido consideradas infiéis ao seu senhor. Isso porque os pretendentes ao trono e à mão de Penélope, que infestavam o palácio como abutres, estupraram essas escravas, sendo que na verdade elas usaram a situação para conseguir informação para a casa soberana. Ou seja, mesmo violadas elas mantiveram-se fiéis, de forma que seu brutal enforcamento foi consequência de um mal-entendido. Assim, as mucamas aludidas pela voz paralela entre parênteses, ainda se relacionadas à reiteração da interjeição lamentativa na primeira estrofe, indicam: a) a coita feminina. b) o abuso da corte. c) o vitimismo social. d) a questão justiceira. e) a causa abolicionista. _____________________________________________________________________________________ 42. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Entre as passagens abaixo, retiradas do "Romanceiro da Inconfidência", identifique aquela que discorre sobre o degredo do árcade Tomás Antônio Gonzaga. a) "- Isto é o que conta o vizinho /que ouviu falar o soldado. /Mas do corpo ninguém sabe: /anda escondido ou enterrado? /Dizem que o viram ferido, /ferido, e não sufocado" b) "Muito longe, em Luanda, /era bom viver. /Bate a enxada comigo, povo, /desce pelas grotas! /- Lá na banda em que corre o Congo /eu também fui Rei." t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 92 c) "Colinas de esquecimento, /praias de ridentes águas, /palmas, flores, nada esconde /aquelas visões amargas /que noite e dia a Rainha /cercam de horror e ansiedade." d) "Por terras de Moçambique, /quem passeia, /de cabeça descoberta, /sem sentir o que está perto, /desinteressado e alheio? /Vira a Sorte o leme rápido, /de repente: /sem mais rota que se explique." e) "Escreve Marília, escreve /seu pequeno testamento; /na verdade, por que vive, /se a morte é o seu alimento? /se para a morte caminha, /na sege do tempo lento?" _____________________________________________________________________________________ 43. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Obra de revisionismo histórico, "Romanceiro da Inconfidência" (1953) é uma obra que apresenta características tanto da segunda geração modernista, como ______, quanto da terceira geração, por causa do(a) ______. A opção que apresenta o preenchimento correto das lacunas, RESPECTIVAMENTE, é: a) vanguardismo formal / vertente regionalista. b) criticidade social de denúncia / aperfeiçoamento técnico. c) experimentalismo lírico / misticismo religioso. d) valorização da cultura popular / mistura de estilos. e) esteticismo rigoroso / transcendência histórica. _____________________________________________________________________________________ 44. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) A partir da leitura das estrofes, responda à pergunta. Ó personagens solenes que arrastais os apelidos como pavões auriverdes seus rutilantes vestidos, - todo esse poder que tendes confunde os vossos sentidos: a glória, que amais, é desses que por vós são perseguidos. Levantai-vos dessas mesas, saí das vossas molduras; vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de algemas, que profundas sepulturas nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas! MEIRELES, Cecília. Romance LXXXI ou Dos ilustres assassinos. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 93 In: Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015 (p. 225). O uso da segunda pessoa do plural se contrasta com a crítica levantada. Isso porque a) escarnece da vulnerabilidade sofrida por tantos enquanto outros vivem em abastança. b) ironiza a situação daqueles cujo destino não pode ser escolhido pelas próprias decisões. c) afasta a obra da cultura popular tão cara aos modernistas da respectiva geração. d) reflete o teor bíblico que tem essa obra a se dirigir a autoridades como divindades. e) confere pomposidade cuja responsabilidade por atrocidades deveria ser reconhecida. _____________________________________________________________________________________ 45. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Movida, Marília, De tanta ternura, Nos braços me deste Da tua fé pura Um doce penhor. Marília, escuta Um triste Pastor. Tu mesma disseste Que tudo podia Mudar de figura; Mas nunca seria Teu peito traidor. Marília, escuta Um triste Pastor. GONZAGA, Tomás Antônio de. Lira IV. In: Marília de Dirceu. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/565dkvu5. Acesso em: 20 set. 2021. Maria Joaquina Dorotéia de Seixas (1767-1853) foi cantada em versos sob o nome de Marília, tendo sido a noiva real do poeta árcade. A diferença de sua figuratratada nas liras para a Marília dos romances da modernista Cecília Meireles é que neste último ela: a) aparece como figura entristecida e não idealizada, já que o noivo teve pena de exílio decretada. b) funciona como interlocutora ideal, a quem o leitor transmite suas mensagens e amor. c) floresce como moça apaixonada que é, valendo-se do carpe diem para a concretização amorosa. d) é uma mulher enlutada, que usa o inútil enxoval de casamento como sua mortalha. e) aparentar ser uma jovem cuja idealização se perdeu, já que foi acusada de adultério pelo amado. _____________________________________________________________________________________ 46. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 94 Salvo na "Fala inicial" e em "Cenário", os versos não parecem escritos por um poeta individual. Falam as personagens da conspiração, a voz anônima do povo, os maldizentes, os justos, as testemunhas, os curiosos. Viram motivos de pura poesia os autores da devassa, os inventários dos bens dos inculpados, os antecedentes socioeconômicos do levante mal esboçado. Nesse comentário crítico, o intelectual Paulo Rónai retoma a seguinte obra: a) "Alguma poesia" de Carlos Drummond de Andrade. b) "Campo geral" de Guimarães Rosa. c) "Nove noites" de Bernardo Carvalho. d) "Romanceiro da Inconfidência" de Cecília Meireles. e) "Angústia" de Graciliano Ramos. _____________________________________________________________________________________ 47. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) "De seu calmo esconderijo, O ouro vem, dócil e ingênuo; torna-se pó, folha, barra, prestígio, poder, engenho.. tão claro! – e turva tudo: honra, amor e pensamento." Ao elemento do ouro, retirado do Romance II de Cecília Meireles, é aplicado o recurso expressivo do(a): a) eufemismo. b) apóstrofe. c) prosopopeia. d) silepse. e) onomatopeia. _____________________________________________________________________________________ 48. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) (Que vens tu fazer, Alferes, com tuas loucas doutrinas? Todos querem liberdade, mas quem por ela trabalha?) “Ah! se eu me apanhasse em Minas...” (O humano resgate custa pesadas carnificinas! Quem morre, para dar vida? Quem quer arriscar seu sangue?) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 95 “Ah! se eu me apanhasse em Minas...” MEIRELES, Cecília. São Paulo: Globo, 2015 (p. 107). No último verso das estrofes, há um estribilho que se repete como refrão, reforçando o sentido do trecho, a se chama a) redondilha. b) mote. c) quarteto. d) escansão. e) écloga. _____________________________________________________________________________________ 49. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) (http://www.revistadehistoria.com.br/revista/edicao/)118.) A obra acima é uma paródia da pintura original de Pedro Américo, Tiradentes esquartejado (1893), assim como "Romanceiro da Inconfidência" é uma releitura da Inconfidência Mineira. Quanto à obra modernista, assinale o que for INCORRETO. a) Mantém ligação com correntes tradicionais anteriores, sentindo-se continuadora do legado simbolista e positivista. b) Não toma a História como fato último e acabado, abolindo com uma consolidação determinista e dando voz àqueles antes não ouvidos sequer considerados. c) É um olhar historicista para um fato do passado, julgando-o como fluido e passível de transformação humanista. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 96 d) O início e a fala final voltada para os inconfidentes completa um ciclo que convida o leitor a pensar na sua própria ação. e) Faz com que o leitor se sinta testemunha e partícipe, mesmo das atrocidades, provocando primeiramente seu pavor para depois surtir a catarse. _____________________________________________________________________________________ 50. (FCM-MG/2016/Anual) Em seu depoimento “Como escrevi o Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles assim se manifestou em relação a Joaquim José da Silva Xavier: “(...) o Alferes Tiradentes, que calcorreou todas estas serras, estas matas, estes caminhos, a serviço de um partido, à mercê de um sonho, às ordens de seus amigos -, a imperícia ou pusilanimidade desses mesmos amigos, a perfídia dos inimigos, a intriga dos calculistas, dos oportunistas (...)” MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfidência. S.P.: Gaudi, 2014, p.240.) Assinale a passagem do Romanceiro da Inconfidência em que os versos NÃO fazem referência a esse protagonista. a) “Não há Conde, não há forca, não há coroa real mais seguros que estas casas, que estas pedras do arraial, deste Arraial do Ouro Podre que foi de Mestre Pascoal.” b) “(Nossa Senhora da Ajuda, entre os meninos estão rezando aqui na capela, um vai ser levado à forca, com baraço e com pregão!)” c) “(E tudo é tão diferente do que em saudade imaginas! Onde estão os teus amigos? Quem te ampara, quem te salva? mesmo em Minas, mesmo em Minas?)” d) “Eles eram muitos cavalos: e alguns foram postos à venda, outros ficaram em seus pastos, e houve uns que, depois da sentença, levaram o Alferes cortado em braços, pernas e cabeça. E partiram com sua carga na mais dolorosa inocência. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 97 6.1. GABARITO 1) A 2) B 3) C 4) D 5) C 6) B 7) D 8) C 9) B 10) A 11) C 12) B 13) D 14) A 15) E 16) 030 17) 011 18) 008 19) 017 20) D 21) B 22) D 23) A 24) A 25) A 26) C 27) C 28) D 29) A 30) A 31) A 32) C 33) C 34) C 35) B 36) B 37) A 38) A 39) C 40) A 41) A 42) D 43) B 44) E 45) A 46) D 47) C 48) B 49) A 50) A 7.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS LISTA DE QUESTÕES ESPECÍFICAS DA BANCA COMENTADA 01. (FUVEST/2021/1ª fase) Romance LIII ou Das Palavras Aéreas Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência, tudo se forma e transforma! Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! (...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Perdão, podíeis ter sido! t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 98 - sois madeira que se corta, - sois vinte degraus de escada, - sois um pedaço de corda... - sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa... Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem... - sois um homem que se enforca! Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência. Ao substituir a pessoa verbal utilizada para se referir ao substantivo “palavras” pela 3ª pessoa do plural, os verbos dos versos “sois de vento, ides no vento”, (v. 4) / “Perdão podíeis ter sido!” (v. 12) / “Éreis um sopro na aragem...” (v. 20) seriam conjugados conforme apresentado na alternativa: a) são, vão, podiam, eram. b) seriam, iriam, podia, serão. c) eram, foram, poderiam, seriam. d) são, vão, poderiam, eram. e) eram, iriam, podiam, seriam. ComentáriosNessa questão, a relação determinante seria o conhecimento dos tempos verbais, para conseguirmos responder de forma correta a substituição dos verbos em destaque. Dessa forma, é interessante notar que temos a seguinte relação de tempos e de correspondência: • Sois: presente do indicativo, substituído corretamente por “são”. • Ides: presente do indicativo, substituído corretamente por “vão”. • Podíeis: pretérito imperfeito, substituído corretamente por “podiam”. • Éreis: pretérito imperfeito, substituído corretamente por “eram”. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 02. (FUVEST/2021/1ª fase) A "estranha potência" que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação entre a) fluidez nos ventos do presente e conteúdo fixo no passado. b) forma abstrata no espaço e presença concreta na história. c) leveza impalpável na arte e vigor no documentos antigos. d) sonoridade ruidosa nos ares e significado estável no papel. e) lirismo irrefletido na poesia e peso justo dos acontecimentos. Comentários Alternativa A: incorreta. Existe um ditado em latim que diz: verba volant, scripta manent. Ou seja: as palavras faladas voam; as escritas, permanecem. Como indica o título do poema, se as palavras são aéreas, elas são fluidas; porém, não têm seu conteúdo fixo no passado. Como é dito no verso: "tudo se forma e transforma!", lembrando a Lei de Lavoisier: "na natureza, nada se cria nem se perde: tudo se transforma", para explicar a conservação das massas. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 99 Alternativa B: correta - gabarito. A "estranha potência" sobre a qual o poema fala tem a ver com capacidade de transformação das palavras: elas podem tudo ser, como bem podem tudo não ser. Pelo uso de metáforas, indicando que as coisas são, literalmente, o que elas significam, as palavras então tornam-se polissêmicas, podendo ter vários sentidos. As palavras que voam são vãs. Palavras são potentes e ao mesmo tempo frágeis. Têm amplitude e capacidade para ser tudo. O estranho poder da palavra poética de transitar entre épocas é evocado, nos versos, a fim de reavivar fatos históricos e atribuir-lhes um caráter de transcendência. É "estranho" porque é novo, encanta e assombra. "Potência" e "poder" nesse contexto podem ser considerados sinônimos. Ao usar uma 2ª pessoa do plural, "vós", como se o eu lírico dialogasse diretamente com as palavras, as palavras podem ser abstratas indo ao vento ou depois encarnarem forma material de escada, madeira e corda. E, podendo ser corda, também podem representar a morte trágica de Tiradentes: "- sois um homem que se enforca!". Assim como em "- sois povo pelas janelas, /cortejo, bandeiras, tropa...", palavras também são, em última instância, presença concreta na história. Alternativa C: incorreta. Não necessariamente "impalpável", já que palavras podem se materializar. Tampouco vigor nos documentos antigos, pois as palavras podem ser frágeis. Alternativa D: incorreta. Nem sempre palavras são ruidosas (barulhentas, escandalosas). Elas podem ser sutis, consistindo apenas em sopro na aragem. Alternativa E: incorreta. Nem irrefletido tampouco justo. A poesia de Cecília Meireles problematiza o valor das palavras e questiona, sobretudo, aqueles que dão a elas esse valor. Gabarito: B. _____________________________________________________________________________________ 03. (FUVEST/2021/1ª fase) Alferes, Ouro Preto em sombras Espera pelo batizado, Ainda que tarde sobre a morte do sonhador Ainda que tarde sobre as bocas do traidor. Raios de sol brilharão nos sinos: Dez vias dar; Ai Marília, as liras e o amor Não posso mais sufocar E a minha voz irá Pra muito além do desterro e do sal, Maior que a voz do rei. Aldir Blanc e João Bosco, trechos da música "Alferes", de 1973. A imagem de Tiradentes - a quem Cecília Meireles qualificou "o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo", em palestra feita em Ouro Preto - torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o mártir sonhador para resistir ao discurso a) da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas. b) da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes. c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditatura militar. d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 100 e) da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro. Comentários Alternativa A: incorreta. Em certo sentido, as opiniões expressas na música aderem a ligas engajadas, e não resistem a elas. Uso de verbos conjugados no futuro como "brilharão" e "irá" representam esperança num futuro melhor. Alternativa B: incorreta. Não minimizou essa importância. Pelo contrário. Tiradentes foi heroicizado e é considerado um mártir, pois no período da Inconfidência Mineira (1789-1792) ele foi perseguido, morto e esquartejado. Alternativa C: correta - gabarito. A dica central para entender o contexto histórico de produção desse poema era analisar sua fonte, presente no rodapé. Lá é dito que a música é de 1973, ano em que o Brasil passava pelo período da ditadura militar. Nesse sentido, as mesmas figuras do século XVIII utilizadas na obra de Cecília Meireles, como o Alferes Tiradentes e Marília de Dirceu, são usadas no poema acima; porém, ressignificadas. Se o comando pede uma alternativa que representa um discurso de resistência, trata-se de resistir contra a ditadura, expressão do autoritarismo e da repressão. *Alferes é uma patente militar. Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792) era uma figura histórica. Na vida civil, foi dentista; porém, na carreira militar foi alferes. Por isso é constantemente referido assim, até para aludir ao seu papel de contribuição cívica. *Marília é a musa do poeta árcade Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), que nomeia a obra Marília de Dirceu (1792). Maria Joaquina Dorotéia de Seixas (1767-1853) foi cantada em versos sob o nome de Marília (breve corruptela de seu nome, como se fosse um diminutivo carinhoso), pelo noivo Tomás Antônio Gonzaga, o qual se chamava poeticamente de Dirceu. Embora em sua obra lírica ela seja pintada como utopia, foi uma figura real. Alternativa D: incorreta. Muito embora o poema utilize tematicamente figuras árcades, não resiste a elas. Pelo contrário, costuma usá-las como exemplos. Nem todos os árcades escreveram apenas lírica amorosa. Tomás Antônio Gonzaga, por exemplo, escreveu lírica satírica, como é o caso de Cartas chilenas Alternativa E: incorreta. Não era contra Portugal que se protestava na época da ditatura militar, mas sim contra a forma opressiva de poder que tinha se instalado no sistema. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________ 04. (FUVEST/1996/1ª fase) Como o próprio título indica, no "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles, os romances têm como referência nuclear a frustrada rebelião na Vila Rica do século XVIII. No entanto, deve-se reconhecer que, a) a base histórica utilizada no poema converte-se no lirismo transcendente e amargo que caracteriza as outras obras da autora. b) as intenções ideológicas da autora e a estrutura narrativa do poema emprestam ao texto as virtudes de uma elaborada prosa poética. c) a imaginação poética dá à autora a possibilidade de interferir no curso dos episódios essenciais da rebelião, alterando-lhes o rumo. d) a matéria histórica tanto alimenta a expressão poética no desenvolvimento dosfatos centrais quanto motiva o lirismo reflexivo. e) a preocupação com a fidedignidade histórica e com o tom épico atenua o sentimento dramático da vida, habitual na poesia da autora. Comentários t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 101 Alternativa A: incorreta. A obra de Cecília Meireles é variada, ou seja, eclética, o que quer dizer que o mesmo tom verificado em Romanceiro da Inconfidência não necessariamente irá se repetir em outras obras. Outras tendências da poetisa foram a poesia neossimbolista e a infantil. Alternativa B: incorreta. Cuidado: o gênero é híbrido, mas pode-se falar de uma poesia prosaica, e não prosa poética. A diferença é que na poesia prosaica a poesia prevalece (o texto continua sendo escrito em versos), com traços de prosa, e na prosa poética a prosa prevalece (o texto continua sendo escrito em parágrafos), com traços de poesia. Alternativa C: incorreta. Ela narra fatos históricos; sendo eles passados, não podem ser mudados. O que a poetisa altera são alguns pontos de vista. Alternativa D: correta – gabarito. Nessa obra, Cecília Meireles desenvolve ao máximo suas potencialidades. Alternativa E: incorreta. A dramaticidade não é atenuada, pelo contrário: narra-se com toda a virulência episódios como o esquartejamento de Tiradentes, por exemplo. Nem o poema se aproxima do épico, mas sim do prosaísmo. Gabarito: D. _____________________________________________________________________________________ 05. (FUVEST/1995/1ª fase) O verso "Só se estivesse alienado", que funciona como um refrão no "Romance LXXIII ou da inconformada Marília", registra a reação desta personagem do "Romanceiro da Inconfidência" à informação de que: a) seu amado, o inconfidente e poeta Cláudio Manuel da Costa, se suicidara na prisão. b) seu primo-irmão, o inconfidente Joaquim Silvério dos Reis, traíra os companheiros de conjura, delatando-os. c) seu noivo, o poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, se casara em África. d) seu prometido, o árcade e inconfidente Dirceu, se suicidara na prisão. e) seu companheiro na Inconfidência, o alferes Tiradentes, assumira sozinho toda a culpa da conjuração. Comentários Alternativa A: incorreta. Seu amado era o árcade Tomás Antônio Gonzaga e não Cláudio Manoel da Costas. Tampouco este último se matou na prisão: sobre sua morte paira um mistério, até hoje não se sabendo ao certo o que aconteceu. Alternativa B: incorreta. Joaquim Silvério é um traidor que irá denunciar Tiradentes. Não tinha parentesco com Marília (Maria Joaquina Dorotéia de Seixas). Alternativa C: correta – gabarito. Além de tudo, funciona como ironia, pois os árcades eram conhecidos por serem idealistas, ou seja, viverem fora da realidade. A repetição de estruturas iguais (refrões) aproximam a obra Romanceiro da Inconfidência à música e às cantigas populares. Alternativa D: incorreta. Cuidado: Dirceu não é uma personagem real, mas sim ficcional da obra Marília de Dirceu. Alternativa E: incorreta. Tiradentes nunca se casou. Teve um caso com Antônia Maria do Espírito Santo, mas o matrimônio não foi concretizado. Gabarito: C. LISTA DE QUESTÕES COMPLEMENTARES COMENTADA 06. (ENEM/2012) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 102 Ai, palavras, ai, palavras que estranha potência a vossa! Todo o sentido da vida principia a vossa porta: o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota... A liberdade das almas, ai! Com letras se elabora... E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil, frágil, como o vidro e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam... MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento). O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem: a) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras. b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras. c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem pela vida. d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças. e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos. Comentários Alternativa A: incorreta. As palavras não têm só poder corrosivo; elas podem ser tanto frágeis como vidro quanto poderosas quanto aço. Alternativa B: correta – gabarito. O poema destaca a potência das palavras em designar as relações humanas, tanto no âmbito das realizações, dos sentimentos ou da construção do imaginário sensível: “amor”, “sonho”, “audácia”, “calúnia”, “fúria”, derrota. Alternativa C: incorreta. “Forma” e “completa” são julgamentos de valor. As palavras são responsáveis por dar sentido à vida. Alternativa D: incorreta. As palavras sobrevivem à noção de tempo; impérios, reis e gerações passam e as palavras continuam mantendo seu poder. Alternativa E: incorreta. Não limitado, mas sim amplificado. Gabarito: B. _____________________________________________________________________________________ 07. (ENEM/2009/cancelada) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 103 Ó meio-dia confuso, ó vinte-e-um de abril sinistro, que intrigas de ouro e de sonho houve em tua formação? Quem ordena, julga e pune? Quem é culpado e inocente? Na mesma cova do tempo cai o castigo e o perdão. Morre a tinta das sentenças e o sangue dos enforcados... — liras, espadas e cruzes pura cinza agora são. Na mesma cova, as palavras, o secreto pensamento, as coroas e os machados, mentira e verdade estão. [...] MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Aguilar, 1972. (fragmento) O poema de Cecília Meireles tem como ponto de partida um fato da história nacional, a Inconfidência Mineira. Nesse poema, a relação entre texto literário e contexto histórico indica que a produção literária é sempre uma recriação da realidade, mesmo quando faz referência a um fato histórico determinado. No poema de Cecília Meireles, a recriação se concretiza por meio a) do questionamento da ocorrência do próprio fato, que, recriado, passa a existir como forma poética desassociada da história nacional. b) da descrição idealizada e fantasiosa do fato histórico, transformado em batalha épica que exalta a força dos ideais dos Inconfidentes. c) da recusa da autora de inserir nos versos o desfecho histórico do movimento da Inconfidência: a derrota, a prisão e a morte dos Inconfidentes. d) do distanciamento entre o tempo da escrita e o da Inconfidência, que, questionada poeticamente, alcança sua dimensão histórica mais profunda. e) do caráter trágico, que, mesmo sem corresponder à realidade, foi atribuído ao fato histórico pela autora, a fim de exaltar o heroísmo dos Inconfidentes. Comentários Alternativa A: incorreta. Associa-se à história nacional, pois história regional se conecta com o plano maior. Alternativa B: incorreta. Por meio de questionamentos, o eu lírico está em dúvida quanto a quem de fato detém a verdade. Alternativa C: incorreta. No texto já se mencionam “e o sangue dos enforcados”, pois o texto foi escrito posteriormente ao fato histórico. Alternativa D: correta – gabarito. Ao resgatar o fato históricoInconfidência Mineira, especificamente, no dia 21 de abril, data da morte de Tiradentes, Cecília Meireles confirma o fato histórico, sem fantasiá-lo, apontando a derrota, prisão, a morte dos inconfidentes. Mas o faz de maneira poética, mostrando que o passar do tempo faz com que a dimensão histórica do episódio tenha um significado mais profundo. Na mesma cova do tempo / cai o castigo e o perdão. / Morre a tinta das t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 104 sentenças / e o sangue dos enforcados... / — liras, espadas e cruzes / pura cinza agora são. Miscigenam- se, na “cova do tempo”: “culpado e inocente / castigo e o perdão / mentira e verdade”. A recriação da realidade se realiza por meio do distanciamento entre o tempo da escrita (1953) e o da Inconfidência (1792), que, questionada poeticamente, alcança sua dimensão histórica mais profunda. Alternativa E: incorreta. Não há heroísmo diante da tragédia histórica. Há dúvidas, questionamentos e revisionismo histórico nesse texto modernista. Gabarito: D. _____________________________________________________________________________________ 08. (UFPR/2013) Leia atentamente este trecho do Romanceiro da Inconfidência: Romance LIV ou DO ENXOVAL INTERROMPIDO Aqui esteve o noivo, de agulha e dedal, bordando o vestido do seu enxoval. Em Maio, era em Maio, num Maio fatal; feneciam rosas pelo seu quintal. Por estrada e monte, neblina total. No perfil da lua, um nimbo mortal. (Mas quem lê na névoa o amargo sinal?) A noite da Vila é densa e glacial. O sono, embuçado em cada beiral. Quem não dorme, sonha com seu enxoval. A agulha, de prata, e de ouro, o dedal. Em haste de cera, ergue o castiçal para a turva noite lírio de cristal. “Sabeis, ó pastora, daquele zagal* que andava num prado sobrenatural? t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 105 Teria inimigo? Teria rival?” O sono conversa em cada poial**. “Sabeis, ó pastora, quem seja o chacal que os passos arrasta de longe arraial? Eu vi sua língua é um negro punhal. Que mortes fareja o imundo animal?” (MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Edusp/Imesp, 2004. p. 149) *Zagal: pastor. **Poial: assento de pedra na entrada de uma casa. O Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, vincula-se a uma tradição literária que prevê a mescla de gêneros. No livro, a recriação de fatos históricos, as falas de personagens espalhadas por toda a peça e a linguagem repleta de recursos expressivos poéticos resultam em uma obra singular. Com base nisso, considere as seguintes afirmativas: 1. A primeira estrofe apresenta o personagem central e sua ação anterior a uma reviravolta. 2. A segunda estrofe possui imagens líricas que podem ser associadas à poética do personagem retratado, como o carpe diem presente no verso “feneciam rosas”. 3. A contraposição entre dormir e sonhar, na terceira estrofe, é desenvolvida no diálogo entre a pastora e o sono, transcrito entre aspas. 4. O diálogo final atenua gradativamente a aflição inicial ao apresentar um conjunto de interrogações estruturadas em linguagem figurada. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. Comentários A afirmativa 1 é verdadeira já que os versos iniciais dialogam com elementos básicos da narrativa. A afirmativa 2 também é verdadeira, pois a imagem criada pela expressão “feneciam rosas” em maio, final da primavera, associada à consciência da inevitável passagem do tempo, suscita relações com a ideia de aproveitar o dia, base da expressão latina carpe diem. A afirmativa 3 também é verdadeira, os versos “Quem não dorme, sonha/ com seu enxoval” introduzem os diálogos marcados pelo uso das aspas nas estrofes posteriores A estrofe final reforça a aflição exposta nos versos anteriores e o mau presságio presente nos dois últimos versos: “Que mortes fareja/ o imundo animal?” tornando a afirmativa 4 falsa. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 106 Portanto, somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________ 09. (UFPR/2012) “A duzentos anos de distância, embora ainda velados muitos pormenores desse fantástico enredo, sente-se a imprescindibilidade daqueles encontros, de raças e homens; do nascimento do ouro; da grandeza e decadência das Minas; desses gráficos tão bem traçados de ambição que cresce e da humanidade que declina; a imprescindibilidade das lágrimas e exílios, da humilhação do abandono amargo, da morte afrontosa – a imprescindibilidade das vítimas, para a definitiva execração dos tiranos.” (Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência) O fragmento transcrito faz parte da conferência “Como escrevi o Romanceiro da Inconfidência”, proferida por Cecília Meireles em 1955. Com base na leitura do Romanceiro e nos conhecimentos sobre a literatura do período, assinale a alternativa correta. a) O Romanceiro da Inconfidência exemplifica a principal tendência da literatura produzida em meados do século XX no Brasil: longos poemas épicos inspirados na História do país. b) Para apresentar a variedade humana envolvida nos episódios, o poema aproveita elementos do gênero dramático, de que são exemplo as falas de personagens espalhadas ao longo do texto. c) O engajamento político explicitado no texto da conferência é constante na obra de Cecília Meireles, pois para ela a poesia lírica deveria ser instrumento para mudanças sociais. d) Não se pode considerar o Romanceiro um poema narrativo, pois, ao contrário do que acontece no trecho da conferência, o poema embaralha a ordem de apresentação dos acontecimentos históricos. e) Enquanto a conferência propõe que os tiranos sejam execrados, o Romanceiro da Inconfidência, por ser um texto lírico, revela sentimentos sem julgar ou estabelecer responsabilidades. Comentários Alternativa A: incorreta. Os poemas épicos inspirados na História do Brasil, “Caramuru” de Frei Santa Rita Durão e “O Uraguai” de Basílio da Gama, estão inseridos no contexto do Arcadismo, movimento artístico do século XVIII. Alternativa B: correta – gabarito. Como estudamos na pré-análise, Romanceiro da Inconfidência é uma obra aberta, o que equivale a dizer que a obra permite entrelaçamentos com os gêneros teatral e musical. Alternativa C: incorreta. A obra de Cecília Meireles é essencialmente intimista e filosófica, sendo o “Romanceiro da Inconfidência” uma exceção a essa tendência; Alternativa D: incorreta. A denominação de “romanceiro” segue a tradição ibérica que assim classificava uma coleção de poemas ou canções com narrativa que se desenvolve em torno de um tema central. Alternativa E: incorreta. Em “Fala inicial”, “Fala aos pusilâmines” e “Ilustres assassinos” existem críticas e atribuição de responsabilidades aos tiranos, traidores e covardes que participaram do movimento. Gabarito: B. _____________________________________________________________________________________ t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 107 10. (UFPR/2008) Sobre o livro Romanceiro da inconfidência, de Cecília Meireles, considere asafirmativas a seguir: 1. Os documentos históricos legados à posteridade não esclarecem de fato certos episódios relacionados à Inconfidência Mineira. Em face dessa situação, Cecília Meireles optou por apresentar os acontecimentos e as personagens a partir de uma perspectiva lírica que prescinde de nitidez e definição. 2. O poema contém partes de elaboração clássica, metrificadas em versos longos, e outras, mais próximas das composições populares, em versos curtos. 3. Além das personagens diretamente envolvidas no movimento sedicioso do título, o poema também trata de outras, como Chica da Silva, que embora não estejam diretamente envolvidas, ajudam a compor o ambiente histórico do texto. 4. Tiradentes, o alferes que a história transformou em herói, é apresentado na obra como indivíduo ambíguo e de moral discutível, numa clara contraposição literária à imagem apresentada pelos historiadores mais conservadores. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. Comentários Embora o livro seja fruto de um trabalho de pesquisa histórica e estética, destaca-se o acurado trabalho artístico realizado pela poeta de explorar as imagens do passado cultural brasileiro oferecendo- lhes tons líricos e épicos dignos dos grandes feitos heroicos, o que torna a afirmação 1 verdadeira. A afirmação 2 também é verdadeira, já que a poeta explora livremente elementos clássicos de composição do verso, assim como as métricas mais populares, redondilha menor e maior, características do gênero medieval romanceiro. A afirmação 3 é verdadeira, pois a riqueza de informações registradas e articuladas, na obra, contempla eventos que antecederam o fato principal tratado no livro. Por fim, a afirmação 4 é falsa, uma vez que a figura de Tiradentes é tratada de modo idealista na obra, ocupando, muitas vezes, o lugar de mártir. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 11. (UEMA/2014) Na obra Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles reescreve de forma poética a história oficial de eventos da Inconfidência Mineira, rebelião ocorrida em Vila Rica, no fim do século XVIII, cenário dos “romances” que compõem a referida obra. Romance LIII ou Das palavras aéreas Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 108 [...] Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! [...] Ai, palavras, ai, palavras, íeis pela estrada afora, erguendo asas muito incertas, entre verdade e galhofa, desejos do tempo inquieto, promessas que o mundo sopra... Ai, palavras, ai, palavras, mirai-vos: que sois, agora? [...] Perdão podíeis ter sido! – sois madeira que se corta, –sois vinte degraus de escada, – sois um pedaço de corda... – sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa... Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem... – sois um homem que se enforca! Fonte: MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2012. Com base na leitura dos versos, em que se veem relações entre memória, história e literatura, pode-se fazer o seguinte comentário sobre a linguagem do fazer poético: a) A caracterização da natureza pelo eu lírico sugere ideais de uma vida em harmonia, distante de conflitos, o que demonstra uma influência da poesia árcade. b) A concisão, a forma de elocução nos versos e o estado contemplativo do eu poético demonstram a intenção de destacar sutilezas políticas, à época da rebelião mineira. c) A emoção do eu poético parte da observação do real, por meio de lembranças de outras épocas, para construir um texto fluido, com imagens criadas por componentes expressivos da linguagem. d) A preocupação em estruturar versos com rimas preciosas e o cuidado em selecionar vocábulos raros revelam o propósito de aprimorar a linguagem, para resgatar a beleza de fatos históricos. e) A construção poética exemplifica marcantes características da segunda geração do Romantismo: adjetivação exagerada e sentimentalismo profundo, ao evocar fatos da rebelião mineira. Comentários t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 109 Alternativa A: incorreta. Em vários momentos do Romanceiro, o eu lírico estabelece diálogos com a estética e poetas do arcadismo, porém, no trecho analisado, é destacado o lugar das palavras na concepção artística e histórica. Alternativa B: incorreta. Nos versos, há um exercício de metalinguagem em que a voz poética reflete sobre o misterioso poder das palavras de registrar eventos e, ao mesmo tempo, escapar de tentativas de diminuição do seu significado. Alternativa C: correta. O estranho poder da palavra poética de transitar entre épocas é evocado, nos versos, a fim de reavivar fatos históricos e atribuir-lhes um caráter de transcendência. Alternativa D: incorreta. Nos versos destacados, são explorados o uso de vocabulário simples e objetivo e rimas toantes (correspondência de sons vocálicos). Alternativa E: incorreta. A construção poética é marcada pelo equilíbrio estético e certo distanciamento do eu lírico na reflexão sobre o poder da palavra. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________ 12. (UEMA/2014) Releia os seguintes versos: Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! [...] Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! [...] mirai-vos: que sois, agora? [...] A estranha potência das palavras é explicada, de certa forma, por meio de sugestivas imagens. Um dos sentidos sugeridos nesses versos é a a) constância nas ações. b) transitoriedade na vida. c) permanência do tempo. d) imutabilidade das ideias. e) previsibilidade dos acontecimentos. Comentários Alternativa A: incorreta. O eu lírico traz imagens de inconstância e mudança. Alternativa B: correta. O sujeito lírico ressalta a efemeridade da palavra: “Sois de vento, ides no vento,/ e quedais, com sorte nova!”. Alternativa C: incorreta. O tempo é passageiro e essa condição é constantemente reiterada nos versos do Romanceiro. Alternativa D: incorreta. O último verso evidencia a instabilidade das ideias: “mirai-vos: que sois, agora?” Alternativa E: incorreta. Os acontecimentos não são previsíveis, antes estão submetidos às inconstâncias da vida: “Sois de vento, ides no vento”. Gabarito: B. _____________________________________________________________________________________ t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 110 13. (PUC-Camp/2004) As ordens já são mandadas, já se apressam os meirinhos. Entram por salas e alcovas, relatam roupas e livros: (...) Compêndios e dicionários, e tratados eruditos sobre povos, sobre reinos, sobre invenções e Concílios... E as sugestões perigosas da França e Estados Unidos, Mably, Voltaire e outros tantos, que são todos libertinos... (Cecília Meireles, Romance XLVII ou Dos sequestros. Romanceiro da Inconfidência) No Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles vale-se de uma grande variação quanto ao tipo de estrofes, de versos e de rimas. É correto afirmar que no trecho apresentado, ela se valeu a) da redondilha menor, com rimas consoantes.b) do decassílabo, com versos brancos. c) de versos, livres e brancos. d) da redondilha maior, com rimas toantes. e) de alexandrinos, com versos brancos. Comentários Alternativa A: incorreta. A redondilha menor é a denominação dos versos com cinco sílabas poéticas; já as rimas consoantes são aquelas em que há total identidade sonora a partir da última sílaba tônica. Alternativa B: incorreta. Decassílabos são os versos compostos por dez sílabas poéticas; versos brancos são aqueles que não apresentam esquema de rimas. Alternativa C: incorreta. Versos livres e brancos não possuem um sistema métrico regular nem rimas. Alternativa D: correta - gabarito. O trecho selecionado apresenta as características predominantes do Romanceiro: a redondilha maior, isto é, versos compostos por sete sílabas poéticas e as rimas toantes cuja conformidade sonora ocorre entre vogais. Alternativa E: incorreta. Alexandrinos são os versos compostos por doze sílabas poéticas, versos brancos, ou seja, sem rimas. Gabarito: D. _____________________________________________________________________________________ 14. (PUC-Camp/2004) É sabido que Cecília Meireles, para escrever o seu Romanceiro, fez ampla e profunda pesquisa sobre personagens direta ou indiretamente envolvidas nos fatos centrais desse poema. Não causará surpresa, pois, que encontremos entre as suas personagens os a) principais poetas brasileiros do Arcadismo. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 111 b) principais poetas do barroco brasileiro. c) artistas envolvidos com a propagação do movimento abolicionista. d) padres jesuítas em missão da Contra-Reforma. e) primeiros grandes escritores do nosso Romantismo. Comentários Para a concepção de Romanceiro da Inconfidência, a autora, Cecília Meireles, empreendeu um cuidadoso trabalho de pesquisa, incluindo as características do movimento literário contemporâneo aos eventos, século XVIII, o Arcadismo. A paisagem bucólica e a idealização da natureza são elementos árcades que foram usados pela poeta em seus versos. Dentro dessa mesma atmosfera, são evocados poetas árcades, com destaque para Tomás Antônio Gonzaga e Claudio Manuel da Costa que participaram diretamente da inconfidência. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 15. (UFMS/2018) Os poemas da obra Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, fazem uma releitura lírica dos eventos da Inconfidência Mineira. A poetisa também cria um hipertexto com os poetas Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga, que na época se envolveram com acontecimentos políticos que culminaram na Inconfidência Mineira. “Vão cavalos, vêm cavalos, Por cima da Mantiqueira. Donas espreitando as ruas, Pelas grades de urupema. Padres escrevendo cartas... Doutores lendo Gazetas... Uns querendo ouro e diamantes, Outros, liberdade, apenas...” (MEIRELES, Cecília. Romance XXXVII ou de maio de 1789. In: Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1991. p. 468). Levando em conta essas informações, a qual período da literatura brasileira é correto relacionar os poetas mencionados (Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga) e o contexto histórico da Inconfidência Mineira? a) Modernismo. b) Quinhentismo. c) Trovadorismo. d) Barroco. e) Arcadismo. Comentários Alternativa A: incorreta. O Modernismo se situa no século XX, ao passo que a Inconfidência Mineira ocorreu em 1789, à luz da Revolução Francesa. O Modernismo tentou romper com tradições clássicas, sendo um de seus principais autores Carlos Drummond de Andrade. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 112 Alternativa B: incorreta. O Quinhentismo ocorreu no Brasil no século XVI e teve duas vertentes: a literatura de informação, com o intuito de descrever fauna e flora brasileiras para inteirar o rei de Portugal quanto às nossas riquezas e a literatura jesuítica, de cunho pedagógico. Seus principais representantes foram Pero Vaz de Caminha e Padre Manuel de Nóbrega. Alternativa C: incorreta. O Trovadorismo se classificou entre cantigas de amigo, amor, escárnio e mal dizer. Era uma forma de expressão da Idade Média que misturava música e poesia. Alguns exemplos do trovadorismo galego-português foram Estêvão Coelho e Airas Nunes. Alternativa D: incorreta. As características principais do Barroco são: antropocentrismo versus teocentrismo; dualidade: sagrado versus profano; ornamentação estilística e abuso de paradoxos e de inversões sintáticas. Seus principais autores são Gregório de Matos e Padre Antonio Vieira. Alternativa E: correta – gabarito. Pertencem ao Arcadismo, preocupado com revoltas emancipatórias e calcado em sentimento antilusitano. As principais características do Arcadismo são: ideal bucólico, simplicidade, imersão na natureza e ideais iluministas. Gabarito: E. _____________________________________________________________________________________ 16. (UFMS/2009/Anual/2a etapa) A propósito de Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, assinale a(s) proposição(ões) correta(s). (001) Revela a ascendência barroca característica da lírica da autora. (002) Ideologicamente, alinha-se ao lado do oprimido e do escravo contra o opressor e os governantes. (004) A perfeição formal da escrita coloca-se a serviço de temas universais. (008) Retoma gêneros de cunho popular de tradição portuguesa. (016) Descreve, na civilização do ouro e dos diamantes no Brasil-Colônia, um episódio de conjuração. Comentários Afirmação 001: incorreta. As influências de Cecília Meireles neste livro é o romanceiro ibérico medieval e a terza rima clássica de Dante em alguns poemas, além da redondilhas maiores populares. Afirmação 002: correta. O livro contesta a lógica da hierarquia que favorece os mais fortes, dando voz e visibilidade também a personagens que representam inversão de valores: Chica da Silva, Chico Rei, Tiradentes etc. Afirmação 004: correta. A partir de redondilhas e de uma preocupação formal atípica para o Modernismo; Cecília Meireles sai do fato histórico localmente situado em Minas Gerais, para falar se sentimentos humanos universais, como medo, terror, desespero, ambição, esperança etc. Afirmação 008: correta. Como é o caso do próprio romanceiro (compilado de romances, narrativas populares e anônimas), o que dá título à obra. Afirmação 016: correta. A partir da exploração de metais preciosos na região de Minas Gerais, foram constatados abusos, o que gerou um sentimento antilusitano de revolta, tendo provocado protestos emancipatórios. Gabarito: 030. _____________________________________________________________________________________ 17. (UFMS/2008/Inverno/2a etapa) A propósito de Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, assinale a(s) proposição(ões) correta(s). (001) A obra divide-se em Falas, Cenários e Romances, além de uma “Imaginária Serenata” e um “Retrato de Marília em Antônio Dias”. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 113 (002) O espaço da narrativa não é tão só o espaço dos acontecimentos, mas sobretudo a atmosfera que cerca a ação. (004) Os ideais de liberdade e independência dos inconfidentes surgem nuançados pela linguagem neo- simbolista característica da obra da autora. (008) Em diversas passagens, o poema emula vocabulário, ritmo e estilo dos poetas árcades do neoclassicismo de Minas Gerais. (016) Criar sentidos, com a exploração visual e gráfica da página em branco, denota influência do Concretismo na escritado poema. Comentários Afirmação 001: correta. São 96 poemas ao todo; 4 cenários e outros poemas paralelos. Por mais que seja um compilado de romances, há outros gêneros poéticos inclusos também. Afirmação 002: correta. Poucas são as descrições dos ambientes, o que ocorre com mais precisão nos cenários. Afirmação 004: incorreta. Cuidado com generalizações: alguns tratamentos na obra do Romanceiro são neossimbolistas, como a descrição da mulher fantasmagórica e louca (Bárbara Heliodora; Maria I), mas não sempre, não como um todo. Afirmação 008: correta. Como algumas formas clássicas; o uso que Cecília Meireles faz de algumas estruturas clássicas é irônico. Afirmação 016: incorreta. Não é uma obra concretista e a função principal dos poemas não é a de ser visual. Gabarito: 011. _____________________________________________________________________________________ 18. (UFMS/2008/Anual/2a etapa) A propósito de Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). (001) Joaquim Silvério emerge da obra como um grande homem. (002) Com o tema da obra, a escritora implicitamente apoiava o Estado Novo de Getúlio Vargas. (004) O lema da Inconfidência, que hoje figura na bandeira de Minas Gerais, não é retomado em nenhum momento do poema. (008) Os eventos históricos retratados acontecem no período em que o estilo de época na literatura era, no Brasil colonial, o arcadismo. (016) O formato do Romanceiro, estilo típico do fim do medievo, implica que o poema é construído pela alternância de cantigas de amor e cantigas de amigo, com inserções de romances, serenatas, falas e retratos. Comentários Afirmação 001: incorreta. Ele é um homem torpe, responsável pela delação de Tiradentes. Enriqueceu às custas do esquartejamento do condenado. Afirmação 002: incorreta. Pelo contrário: obra publicada no último ano do Estado Novo de Getúlio Vargas, depois do que se desencadeia uma crise política a qual culmina no regime militar, a autora chama atenção para o risco ao se adotar um modelo governamental autoritário, questionando frequentemente valores como os de direito, justiça e poder. Afirmação 004: correta. Cuidado com absolutismos. O romance de número 24 é dedicado diretamente a falar da bandeira e de como os inconfidentes (especialmente as classes sociais dos t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 114 escritores e dos padres) tinham que se reunir na surdina para discutir, tendo que escapar à censura. Deliberam sobre que símbolo adotar para a bandeira. Afirmação 008: incorreta. Sendo que um dos possíveis diálogos dessa obra é o estabelecimento de uma ponte entre o Arcadismo e o Modernismo. Afirmação 016: incorreta. Cantigas são típicas do Trovadorismo. As cantigas de amigo têm eu lírico feminino e as de amor eu lírico masculino. Não são essas a forma poética adotada por Cecília Meireles. Gabarito: 008. _____________________________________________________________________________________ 19. (UFMS/2007/Inverno/2a etapa) Sobre o Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, assinale a(s) proposição(ões) correta(s). (001) Quanto ao estilo de época, pertence ao Modernismo brasileiro. (002) Quanto ao tema, seu nacionalismo é ufanista e idealizado. (004) Quanto à forma, é vazado em oitavas-rimas camonianas. (008) Quanto ao gênero, é poema épico nos moldes clássicos. (016) Quanto à tradição literária, evoca raízes que se firmam na narrativa e na poesia medievais. Comentários Afirmação 001: correta. Obra publicada em 1953, que reúne características da segunda geração modernista (denúncia social e crítica) e da terceira (aperfeiçoamento técnico). Afirmação 002: incorreta. Não há idealização nessas obra; e aspectos torpes e repugnantes não são mascarados, mas sim escancarados, como o esquartejamento de Tiradentes. Afirmação 004: incorreta. A principal métrica utilizada no livro é a redondilha maior, uma forma popular. Afirmação 008: incorreta. Não nos moldes clássicos. Espelha-se no romance ibérico medieval, uma narrativa popular e anônima, que tendia a combinar o épico com o lírico. Afirmação 016: correta. Cecília Meireles é conhecida pelo seu interesse na literatura portuguesa e pela tradição medieval. Gabarito: 017. _____________________________________________________________________________________ 20. (Estratégia Vestibulares 2020/2º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) TEXTO I V. MUSEU DA INCONFIDÊNCIA São palavras no chão e memória nos autos. As casas inda restam, os amores, mais não. E restam poucas roupas, sobrepeliz de pároco, a vara de um juiz, anjos, púrpuras, ecos. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 115 Macia flor de olvido, sem aroma governas o tempo ingovernável. Muros pranteiam. Só. Toda história é remorso. Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 68. TEXTO II “Ai, minas de Vila Rica, santa Virgem do Pilar! Dizem que eram minas de ouro... - para mim, de rosalgar, para mim, donzela morta pelo orgulho de meu pai. (Ai, pobre mão de loucura, que mataste por amar! ) Reparai nesta ferida que me fez o seu punhal: gume de ouro, punho de ouro, ninguém o pode arrancar! Há tanto tempo estou morta! E continuo a penar.” Cecília Meireles. Romance IV ou da donzela assassinada. In: Romanceiro da inconfidência. São Paulo: Global, 2015. Os eu-líricos masculino e feminino guardam uma ressonância temática. É correto afirmar que ambos a) guardam uma dimensão estilística inovadora e modernista. b) reforçam padrões exploratórios na prática extrativista mineira. c) ressignificam passagens históricas caras ao Quinhentismo literário. d) repensam o episódio da Conjuração Mineira sob o signo da culpa. e) especulam sobre o papel social da mulher e a obrigação do casamento. Comentários Alternativa A: incorreta. Não se pode afirmar isso apenas pelos trechos. Pelo contrário, em Claro enigma, por exemplo, Drummond recorre a Dante e Camões. Alternativa B: incorreta. O texto I está mais preocupado em descrever a paisagem mineira, suas pessoas e comportamentos; o texto II sobre a alma penada de uma mulher morta pelo orgulho do pai. Atenção: a História é importante, mas ela está na margem e não no centro dos poemas. Alternativa C: incorreta. Ao Arcadismo (século XVIII), e não Quinhentismo (século XVI). O contexto era revolucionário; porém, a poesia moderna está pensando no lado crítico desse processo. Alternativa D: correta – gabarito. Da interpretação do verso “Toda história é remorso” no primeiro texto e de imagens como “ferida”, “punhal” e “há tanto tempo estou morta”, há de se pensar que o processo histórico mineiro não foi pacífico. Vila Rica é hoje Ouro Preto. Alternativa E: incorreta. No texto I, mencionam-se “amores”; no texto II, uma donzela morta pelo orgulho do pai, mas nenhum fala abertamente de casamento. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 116 Gabarito: D. _____________________________________________________________________________________ 21. (Estratégia Vestibulares 2020/4º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) TEXTO I V Se sou pobre pastor, se não governo Reinos, nações, províncias, mundo, e gentes; Se em frio, calma, e chuvas inclementes Passo o verão, outono, estio, inverno; Nem por isso trocara o abrigo terno Desta choça, em que vivo, coas enchentes Dessa grande fortuna: assaz presentes Tenho as paixões desse tormento eterno. Adorar as traições, amar o engano, Ouvir dos lastimososo gemido, Passar aflito o dia, o mês, e o ano; Seja embora prazer; que a meu ouvido Soa melhor a voz do desengano, Que da torpe lisonja o infame ruído. SATÚRNIO, Glauceste. Sonetos. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/sk5nq53. Acesso em: 03 jul. 2020. TEXTO II Romance XLIX ou De Cláudio Manuel da Costa – Isso é o que conta o vizinho que ouviu falar o soldado. Mas do corpo ninguém sabe: anda escondido ou enterrado? Dizem que o viram ferido, ferido e não sufocado: de borco em poça de sangue, por um punhal trespassado. – Dizem que não foi atilho nem punhal atravessado, mas veneno que lhe deram, na comida misturado. E que chegaram doutores, E deiaram declarado Que o morto não se matara, Mas que fora assassinado. MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015, p. 143 (trecho). t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 117 Tendo o primeiro texto sendo escrito no século XVIII e o segundo no século XX, a despeito de sua distância temporal eles podem ser aproximados no sentido de: a) conformismo com as questões de sua época, inclusive, com a transformação da paisagem bucólica pela modernidade. b) retrato de uma figura engajada que ao mesmo tempo seguiu um movimento literário, mas já sendo suficientemente visionário para superá-lo. c) anseios de um estudante pela construção de infraestrutura urbana com bibliotecas e museus que superassem o campo. d) crença do poeta religioso no poder educador da inquisição, uma vez que sua visão de mundo era teocêntrica. e) desdém contra o pombalismo vigente na época, já que o Brasil precisava se desvincular da metrópole. Comentários Questão de Literatura Comparada. Lembrando que no vestibular da FUVEST pode cair, a qualquer momento, obras do cânone, mas que não estejam entre as obras obrigatórias. Cláudio Manuel da Costa, por exemplo, constava no Manual do Candidato: Literatura Brasileira > Arcadismo. Alternativa A: incorreta. Pelo contrário, não era conformado, mas sim engajado. Além do mais, o soneto no qual ele expressa essa preocupação é: “Onde estou? Este sítio desconheço”. Alternativa B: correta – gabarito. Embora Cláudio Manuel da Costa se insira no movimento literário árcade, e no soneto do texto I ainda haja a ficcionalização de sua própria figura em um pastor, o que liga esses dois textos é que é mostrada uma imagem do poeta preocupada com as questões sociais; capaz de enxergar que a cidade é corruptível, logo, também o seu governo. Por conta de seu envolvimento com a Conjuração Mineira, o poeta foi perseguido politicamente e morreu misteriosamente. Alternativa C: incorreta. Será no Romantismo que haverá o nacionalismo e uma urbanização crescente; no Arcadismo essas questões apenas começaram. Alternativa D: incorreta. Não é o assunto religioso a ser destacado aqui, mas sim o social. De qualquer forma, o teocentrismo foi predominante no Barroco e não no Arcadismo. Alternativa E: incorreta. Não há dados para se afirmar isso. Porém, vamos comentar o quesito interdisciplinar. O pombalismo foi uma série de reformas realizadas por Marquês de Pombal desde que ele chega ao poder em 1750. Elas envolveram a expulsão dos jesuítas, laicização das escolas etc. Representam a mudança de mundo rumo ao modernismo, do teocentrismo ao humanismo iluminista. Gabarito: B. _____________________________________________________________________________________ 22. (Estratégia Vestibulares 2020/5º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) Romance LXXIX ou da morte de Maria Ifigênia Se o Brasil fosse um reinado, poderia ser princesa, – tal era a sua linhagem. Mas seu campo andava em luto, e era seu reino a tristeza. O cavalo que a levava por arredondados montes, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 118 que viu, nos olhos de espanto, nas negras terras de Ambaca, sobre exaustos horizontes? (Melhor que a desgraça é a morte. Melhor que o opaco futuro. E entre a vida e a morte, apenas um salto, – da terra de ouro ao grande céu, puro e obscuro!) E uma pequena amazona perde a sua humanidade: – para além de réus e culpas, de sentenças, de sequestros, e da própria Liberdade. MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. O estilo de Cecília Meireles mescla poesia com fatos históricos, de uma maneira que o eu lírico manifesta a sua subjetividade diante de uma tragédia. O procedimento empregado para acentuar a eloquência é a) pronominalização. b) narratividade. c) zoomorfização. d) adjetivação. e) verossimilhança. Comentários Alternativa A: incorreta. Há pronomes, mas são poucos: “que” é um pronome relativo e está associado a cavalo, e “tal”, ligado à linhagem da princesa. Alternativa B: incorreta. Cuidado: há narratividade no texto, mas não é ela que está vinculada diretamente à eloquência. A mistura de prosa e poesia era uma das experimentações modernistas. Alternativa C: incorreta. É uma técnica naturalista e não modernista, em que o homem é rebaixado ao status do animal. No caso, o cavalo não é exaltado, mas sim acusado. Alternativa D: correta – gabarito. Maria Ifigênia era a filha dos inconfidentes Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora que tragicamente morreu aos 13 anos de uma queda de cavalo. O eu lírico acentua essa tragédia por meio adjetivação: “negras”, “exaustos”, “opaco”, “puro”, “obscuro” e “pequena”. O procedimento é utilizado, sobretudo, na estrofe em forma de comentário, aquela entre parênteses. Alternativa E: incorreta. Não se trata da representação fidedigna como no Realismo. No caso, a estrofe entre parênteses parece uma profecia. Gabarito: D. _____________________________________________________________________________________ 23. (Estratégia Vestibulares 2020/6º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) TEXTO I Levantai-vos dessas mesas, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 119 saí das vossas molduras; vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de algemas, que profundas sepulturas nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas! Considerai no mistério dos humanos desatinos, e no pólo sempre incerto dos homens e dos destinos! Por sentenças, por decretos, pareceríeis divinos: e hoje sois, no tempo eterno, como ilustres assassinos. Ó soberbos titulares, tão desdenhosos e altivos! Por fictícia austeridade, vãs razões, falsos motivos, inutilmente matastes: – vossos mortos são mais vivos; e, sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos. (...) MEIRELES, Cecília. Dos ilustres assassinos. In: Romanceiro da Inconfidência. TEXTO II (...) De que pode servir calar quem cala? Nunca se há de falar o que se sente?! Sempre se há de sentir; o que se fala. Qual homem pode haver tão paciente, Que vendo o triste estado da Bahia, Não chore, não suspire e não lamente? Isso faz a discreta fantasia: Discorre em um e outro desconcerto. Condena o roubo, increpa a hipocrisia. O néscio, o ignorante, o inexperto, Que não elege o bom, nem mau reprova, Por tudo passa deslumbrado e incerto. (...) MATOS, Gregório de. Aos vícios. In: Poemas escolhidos. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 120 Ambos os poemas se aproximam por seu tom irônico. O que ou quem eles ironizam? a) “soberbos titulares”/ “O néscio, o ignorante, o inexperto” b) “humanos desatinos” / “triste estado da Bahia” c) “vossas assinaturas” / “outro desconcerto”d) “inutilmente matastes” / “o que se fala” e) “grandes olhos pensativos” / “Que não elege o bom” Comentários Questão inspirada no vestibular FUVEST 2020, em que caiu uma questão comparando Gregório de Matos com Noel Rosa. Alternativa A: correta – gabarito. A ironia é tanto uma figura de linguagem quanto um efeito de texto no qual se diz o contrário do que se quer dizer. No caso, o primeiro texto manifesta tom de ataque e acusação e o segundo de zombaria, típica da poesia satírica de Gregório de Matos. No caso, Cecília Meireles repensa a noção de heroísmo, pois na Conjuração Mineira muitos morreram acusados, sendo que em alguns casos foram os algozes conhecidos como heróis. Os “soberbos titulares” são desdenhosos e altivos, e infere-se que também responsáveis por muitas mortes. No poema de Gregório de Matos, o néscio, replicado três vezes, é culpado de não compreender a realidade, por ser deslumbrado e entender de maneira incerta. Daí surgem novos problemas, como a hipocrisia, por exemplo. Alternativa B: incorreta. Cuidado: “humanos” é adjetivo e não substantivo; o termo apenas está invertido. Tanto os “desatinos” quanto o “triste estado da Bahia” estão sendo lamentados e não ironizados. Alternativa C: incorreta. As “vossas assinaturas” é um termo que responsabiliza os “soberbos titulares” pelos tristes destinos de outrem. O “desconcerto” é decorrência de fantasia em um e outro. Alternativa D: incorreta. Ambas são ações. A primeira, ressaltada pelo advérbio de modo e a segunda por estar na forma de objeto direto. Alternativa E: incorreta. A expressão “grandes olhos pensativos” é a imagem poética do acerto de contas: os algozes serão julgados, serão olhados, serão vigiados. O segundo termo é uma oração adjetiva. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 24. (Estratégia Vestibulares 2020/7º Simulado FUVEST 2021/Professora Luana Signorelli) A bússola mira. Toma para leste. Dez dias de marcha até que atravesse campinas e montes que com os olhos mede: tão verdes... tão longos... (E ninguém percebe como é necessário que terra tão fértil, tão bela e tão rica por si se governe!) Águas de ouro puro seu cavalo bebe. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 121 Entre sede e espuma, os diamantes fervem... (A terra tão rica e – ó almas inertes! – o povo tão pobre... Ninguém que proteste! (...) MEIRELES, Cecília. Do animoso alferes. In: Romanceiro da Inconfidência. Para além do contexto histórico, os poemas episódicos de Cecília Meireles narram sobre a condição humana da ambição. Nesse sentido, é INCORRETO afirmar que a) igual como nas grandes navegações, a bússola é a melhor instrutora de aferição. b) os animais parecem se comportar indiferentes quanto à ganância humana. c) o fato de terras com aquelas matérias-primas não serem autogovernadas era um risco. d) é observada discrepância entre a riqueza produzida e no entanto um povo pobre. e) há crítica contra os que só são passivos diante de situação de abuso sem contestarem. Comentários Alternativa A: incorreta – gabarito. Não é a melhor; há outros métodos: “que com os olhos mede”. Alternativa B: correta. O que se depreende de “Águas de ouro puro /seu cavalo bebe.” Quer dizer, o cavalo bebe água por necessidade orgânica básica, indiferente se naquela água que bebe vai encontrar ouro ou não. Alternativa C: correta. O que indica a voz entre parênteses: ninguém percebe como é necessário que as terras se governem, porque não sendo governadas elas correm o risco de serem tomadas pela ganância. Se não se autogovernarem, governarão por ela. Alternativa D: correta. O eu lírico aponta criticamente o paradoxo entre o fato de a terra ser tão rica e bela e o povo tão pobre. Conectivos intensificadores são empregados. Alternativa E: correta. O eu lírico tem consciência deste abuso e invoca as almas inertes que nada protestam contra ele. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 25. (Estratégia Vestibulares 2020/1º Simulado ENEM 2020/Professora Luana Signorelli) E, atrás deles, filhos, netos, seguindo os antepassados, vêm deixar a sua vida, caindo nos mesmos laços, perdidos na mesma sede, teimosos, desesperados, por minas de prata e de ouro curtindo destino ingrato, emaranhando seus nomes para a glória e o desbarato, quando, dos perigos de hoje, outros nascerem, mais altos. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 122 Que a sede de ouro é sem cura, e, por ela subjugados, os homens matam-se e morrem, ficam mortos, mas não fartos. (Ai, Ouro Preto, Ouro Preto, e assim foste revelado!) Cecília Meireles. Romance I ou da revelação do ouro – Romanceiro da inconfidência. São Paulo: Global, 2015, p. 25-26. O fragmento foi retirado da obra Romanceiro da inconfidência, da modernista Cecília Meireles, que foi lançada em 1953. Centralizada no episódio histórico da Conjuração Mineira, pode-se estabelecer um paralelo com a) movimentos emancipatórios e antilusitanos do Arcadismo, sendo que a cidade de Vila Rica teve um papel central. b) a tradição familiar, passada de pai a filho através dos séculos, o que promoveu o nacionalismo do Romantismo. c) o nacionalismo surgido depois do Segundo Império, cuja motivação foi a luta pela República presente na primeira geração modernista. d) a ressignificação do indianismo, empregado no Quinhentismo, uma vez que o eu lírico sente-se descendente dos indígenas. e) o heroísmo verificado em escolas nativistas, como era o manifesto Pau Brasil, escrito por Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Comentários Alternativa A: correta – gabarito. Atenção: interdisciplinaridade com a História. Há movimentos emancipatórios, que pretendiam a ruptura da colônia com a metrópole, e somente nativistas, com interesses locais, mas sem ser radicais. Vila Rica é hoje Ouro Preto, centro de concentração da “Arcádia brasileira”. Alternativa B: incorreta. Cuidado: no século XVIII é possível falar em nativismo, mas não nacionalismo ainda, o que só ocorrerá com a independência do Brasil em 1822. Alternativa C: incorreta. O poema dialoga com o Arcadismo; a República foi proclamada em 1889. Alternativa D: incorreta. Os movimentos no século XVIII foram antilusitanos, motivados pelo anseio por independência. As lutas se voltavam para protestos sociais e o indianismo não teve papel central. Alternativa E: incorreta. O Pau Brasil surgiu na 1ª geração modernista e seu autor foi Oswald de Andrade. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 26. (Estratégia Vestibulares 2020/6º Simulado UNESP 2021/Professora Luana Signorelli) Leia o poema abaixo da modernista Cecília Meireles (1901-1964) para responder às próximas três questões. Romance XXX ou do riso dos tropeiros t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 123 Passou um louco, montado. Passou um louco, a falar que isto era uma terra grande e que a ia libertar. Passou num macho rosilho. E, sem parar o animal, falava contra o governo, contra as leis de Portugal. Nós somos simples tropeiros, por estes campos a andar. O louco já deve ir longe: mas inda o vemos pelo ar.... Mostrando os montes, dizia que isto é terra sem igual, que debaixo destes pastos e tudo rico metal... - Por isso é que assim nos rimos, que nos rimos sem parar, pois há gente que não leva a cabeça no lugar. Ah! se conosco estivesse o capitão general! E também nos disseo louco: “Levai bem pólvora e sal!”. Por isso que rimos tanto... Mas, quando ele aqui tornar, teremos a terra livre, - salvo se, por um desar, o metem num enxovia, e, por sentença real, o fazem subir à forca, para morte natural. É correto afirmar que o eu lírico discorre acerca do risco de a) enlouquecer por causa da busca desenfreada do ouro. b) entrar em conflito com o capitão general daquelas terras. c) profetizar a verdade ainda que ela lhe custe a perseguição. d) ser um simples tropeiro sem tomar consciência do trabalho. e) reconhecer-se incapaz de libertar-se e depender dos outros. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 124 Comentários Alternativa A: incorreta. Cuidado: a loucura no poema está sendo usada no sentido metafórico, pois quando alguém passava a verdade, ninguém queria acreditar naquele “louco”, como se louco fosse, quando no fundo era só coragem. Alternativa B: incorreta. O capitão general é secundário. Alternativa C: correta – gabarito. A figura de um profeta passado de cavalo dizendo verdades que ninguém quer aceitar compõe o ciclo épico de Cecília Meireles. Alternativa D: incorreta. O fato de serem simples tropeiros não os impedem de ter consciência, como quem desdenha do “louco”, mas expressa que: “Mas, quando ele aqui tornar, /teremos a terra livre,” Alternativa E: incorreta. Não libertar a si, mas às terras. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________ 27. (Estratégia Vestibulares 2020/6º Simulado UNESP 2021/Professora Luana Signorelli) Os tropeiros demonstram desdém contra o cavaleiro louco: a) denunciando-o ao capitão general. b) dizendo que iam libertar aquela terra. c) rindo-se dele, para desacreditá-lo. d) justificando-se que iriam montar no cavalo. e) ameaçando-o de matá-lo se persistisse. Comentários Alternativa A: incorreta. Não chegam a fazer tal denúncia. Alternativa B: incorreta. Isso é fala dos loucos e não dos tropeiros. Alternativa C: correta – gabarito. O riso então dialoga com uma tragédia pressentida: se aquele cavaleiro continuasse assim ele seria perseguido e morto. Alternativa D: incorreta. Quem monta em um “macho rosilho” é o cavaleiro louco. Alternativa E: incorreta. Os tropeiros não são violentos e atribui-se a responsabilidade da “morte natural” indiretamente a um sujeito indeterminado na terceira pessoa do plural: “o metem”. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________ 28. (Estratégia Vestibulares 2020/6º Simulado UNESP 2021/Professora Luana Signorelli) Observa-se ironia no seguinte verso: a) “que isto era uma terra grande” b) “contra as leis de Portugal.” c) “Mostrando os montes, dizia” d) “para morte natural.” e) “Mas, quando ele aqui tornar,” Comentários Alternativa A: incorreta. As falas do cavaleiro não são ironia, pois ele realmente acreditava nelas. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 125 Alternativa B: incorreta. Fato histórico: a Inconfidência Mineira foi a manifestação do sentimento antilusitano partindo daqueles que percebiam os abusos financeiros da coroa portuguesa que muito das terras brasileiras explorava. Alternativa C: incorreta. As ações do “louco” estão sendo narradas. Alternativa D: correta – gabarito. Morrer na forca não é morte natural. Alternativa E: incorreta. Trecho narrativo. De alguma maneira, os tropeiros acreditavam que as terras seriam libertadas, só não nas condições proferidas pelo “louco”. Gabarito: D. _____________________________________________________________________________________ 29. (Estratégia Vestibulares 2021/1º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) TEXTO I Romance XXXVIII ou do embuçado Homem ou mulher? Quem soube? Tinha o chapéu desabado. A capa embrulhava-o todo: Era o Embuçado. Fidalgo? Escravo? Quem era? De quem trazia o recado? Foi no quintal? Foi no muro? Mas de que lado? Passou por aquela ponte? Entrou naquele sobrado? Vinha de perto ou de longe? Era o Embuçado. (...) MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 115). TEXTO II Vozes d'África Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?... Qual Prometeu tu me amarraste um dia Do deserto na rubra penedia — Infinito: galé! ... Por abutre — me deste o sol candente, E a terra de Suez — foi a corrente Que me ligaste ao pé... (...) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 126 ALVES, Castro. Os escravos. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/9x6avcd4. Acesso: 03 mar. 2021. “Romanceiro da Inconfidência” (1953) é uma obra modernista de revisionismo histórico, que se detém no fato da Inconfidência Mineira (1789) para pensar questões como a da liberdade. Assim, o sentido dos termos grifados em ambos os poemas acima pode ser compreendido como a) fantasma / escondido. b) protegido / encoberto. c) conhecido / ignoto. d) alienado / evidente. e) determinado / aliado. Comentários Cuidado: questão de semântica inspirada no vestibular da FUVEST 2021. Questão de literatura comparada. Alternativa A: correta - gabarito. Embuçado significa literalmente disfarçado, dissimulado, escondido; que tem o rosto tapado pela capa ou capote (dicionário Aulete). No poema de Cecília Meireles, o embuçado tem uma ligação com Tiradentes. Ao mesmo tempo que era amado por todos, no momento de sua perseguição não teve apoio popular. Então, sua invisibilidade primeiramente é social. Depois ela é mítica, pois ele se torna uma espécie de cavaleiro errante que passa sem ser visto, reconhecido ou identificado por ninguém. Como se fosse uma onipresença. Assim, ele acabava por personificar os inconfidentes. Já no poema condoreiro, a palavra assume o sentido de “escondido nos céus”. Lembrando que essa obra de Castro Alves constava no Manual do Candidato do vestibular de 2021. O eu lírico apela aos céus pelos sofrimentos terrenos vividos. Alternativa B: incorreta. Tiradentes não era protegido, mas sim incompreendido. Alternativa C: incorreta. O Embuçado não era conhecido, tanto é que era chamado assim: uma qualidade com letra maiúscula. Perguntas sobre sua identidade eram feitas. Alternativa D: incorreta. Nem o Embuçado era alienado nem o que estava no céu estava evidente; pelo contrário: estava escondido. Alternativa E: incorreta. Atenção: por mais que o Embuçado tenha se personificado a partir do uso de letra maiúscula, ainda assim ele não é identificado; portanto, mantém-se indeterminado. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 30. (Estratégia Vestibulares 2021/2º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) (...) Melhor negócio que Judas fazes tu, Joaquim Silvério! Pois ele encontra remorso, coisa que não te acomete. Ele topa uma figueira, tu calmamente envelheces, orgulhoso e impenitente, com teus sombrios mistérios. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 127 (Pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde: Há os grandes sonhos dos homens, e a surda força dos vermes.) MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 106). Nesse poema, uma figura importante no contexto histórico daInconfidência Mineira é comparada a outra de igual relevância nas Escrituras Sagradas da Bíblia. Nesse sentido, pode-se constatar que a) é ressignificada a noção de traição, expondo o falso moralismo dos contemporâneos. b) o comportamento social foi evoluindo de acordo com o tempo e os sonhos continuam. c) se nenhum caminho se perde, todos podem se salvar das condenações, crimes e pecados. d) a justiça, assim como a liberdade, é um bem almejado, mas que só virá tardiamente. e) Joaquim Silvério desfruta da sua aposentadoria que conquistou por merecimento próprio. Comentários Questão de interpretação de texto literário/verificação de leitura. Alternativa A: correta – gabarito. Joaquim Silvério dos Reis (1756-1792). Constitui o lado obscuro da Inconfidência, em virtude de ter sido o denunciante, junto ao Visconde de Barbacena, dos planos de rebeldia que se tramavam em Vila Rica. O romance XXXIV é sobre ele. Teria sido ele a entregar Tiradentes. Alternativa B: incorreta. Os grandes sonhos de alguns homens são contrapostos à surda força dos vermes. Ou seja, nem tudo evoluiu. Alternativa C: incorreta. O sentido de não se perder no poema condiz com a medida justa ser atribuída a cada um, o que não corresponde com a salvação para todos. Alternativa D: incorreta. Não se sabe se virá tardiamente. Embora o lema da Inconfidência Mineira, presente até hoje na bandeira de Minas Gerais, seja “liberdade ainda que tardia”, ainda hoje também se lutam por esse valores, o que significa que nem todos eles foram conquistados. Alternativa E: incorreta. Não foi por merecimento próprio: ele enriqueceu a partir da delação de inconfidentes. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 31. (Estratégia Vestibulares 2021/3º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) Acerca de "Romanceiro da Inconfidência" (1953) de Cecília Meireles, é possível afirmar: a) os romances compõem uma obra modernista de revisionismo histórico e correspondem a poemas inspirados numa tradição calcada no medievalismo. b) a Inconfidência Mineira é um fato histórico reconstruído invertendo valores: os heróis se tornam carrascos depois de terem sido torturados. c) poemas como falas e cenas são importantes por indicarem rupturas na obra, mas acabam implicando numa perda de coerência. d) figuras históricas são destacadas, como Chica da Silva, que dominava técnicas de capoeira e assumiu a liderança na resistência do quilombo. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 128 e) poetas árcades como Cláudio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga são modernizados, pois seu discurso de libertação também é adepto do liberalismo. Comentários Questão de teórica de conhecimento de autor e obra do cânone/verificação de leitura. Alternativa A: correta – gabarito. Atenção: romance não sinônimo do gênero textual em prosa. Essa obra continua sendo poética, reunindo poemas, falas e cenários. Junção de poesia narrativa e teatral são características que Cecília Meireles incorpora a partir do seu interesse pela Idade Média. Alternativa B: incorreta. Não há rancor nos ensinamentos do livro. Alternativa C: incorreta. Indicam rupturas, mas são pausas táticas, o que contribui para a coerência interna do livro. Alternativa D: incorreta. A descrição da alternativa é de Dandara e não de Chica da Silva. Esta foi a amante de José Fernandes, tendo sido uma negra alforriada que costumava despertar a inveja alheia. Alternativa E: incorreta. Não são modernizados. São pessoas comuns que, sendo intelectuais que chefiaram a Inconfidência Mineira, sofreram perseguições, paras as quais até hoje não há respostas definitivas. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 32. (Estratégia Vestibulares 2021/4º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) Leia o poema abaixo e atenda ao comando. NOVE DE MAIO Toda a cidade já sabe que o Alferes anda fugido. - No sótão de que sobrado? Em que fazenda? Em que sítio? Embarcado em que canoa? Atravessando que rio? Por detrás de que montanha? Por cima de que perigo? Quebrados anjos de prata miraram seu rosto aflito: entre espadins e fivelas, castiçais e crucifixos, parou - tristemente humano, tristemente perseguido. Tinha o mundo todo na alma - e mendigava um abrigo! DEZ DE MAIO Noite escura. Duros passos. Já se sabe quem foi preso. Ninguém dorme. Todos falam, todos se benzem de medo. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 129 Passos da escolta nas ruas - que grandes passos, no Tempo! Mas o homem que vão levando é quase só pensamento: - Minas da minha esperança, Minas do meu desespero! Agarraram-me os soldados, como qualquer bandoleiro. Vim trabalhar para todos, e abandonado me vejo. Todos tremem. Todos fogem. A quem dediquei meu zelo? MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015, (p. 112-113). A partir da leitura do trecho acima, excerto do "Romance XXXVII ou De maio de 1789", depreende-se que a) há intertextualidade explícita com um filósofo contemporâneo à autora, Friedrich Nietzsche, por conta do pessimismo e niilismo em questão, bem como com a Bíblia, pela alusão à citação: "Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?" b) como é de praxe em um romanceiro, há um compilado de poemas, sendo que esse em particular mescla o gênero poético com o prosaico, no sentindo de incorporar aspectos do diário, por exemplo, a entrada por datas e o subjetivismo. c) na composição poética há uma mistura de estilos, como o recurso expressivo da antítese no plano estilístico, bem como uso das redondilhas maiores, e o espírito bisbilhoteiro na descrição do povo da cidade, prontos para julgar, mas não para salvar o condenado. d) o Alferes em particular é Tiradentes, uma figura pública que ajudou a todos na época da Revolução Francesa, pregando os ideais de igualdade e fraternidade por meio de seu ofício como médico, mesmo depois que as pessoas tivessem se virado contra ele. e) nesse poema observam-se os principais fundamentos vanguardistas, como é o caso dos versos brancos e livres, uma vez que as rimas são toantes e a métrica irregular, instabilidade esta que também se expressa na angústia do Alferes perseguido. Comentários Questão de interpretação de texto literário; teoria literária e conhecimento de autores e obras do cânone. Alternativa A: incorreta. A intertextualidade não é explícita, mas sim implícita, a partir do diálogo com a obra “Humano, demasiadamente humano”. Tampouco Nietzsche (1844-1900) é contemporâneo de Cecília Meireles (1901-1964). Alternativa B: incorreta. Está tudo certo, menos o subjetivismo. O que prevalece é a mescla de pontos de vista: o de Tiradentes, vítima da perseguição, até pode ser subjetivo, mas o do eu lírico no geral é um tom de denúncia social, portanto, objetivo. Alternativa C: correta – gabarito. Antítese encarnada na própria região de Minas: fonte ao mesmo tempo de esperança e desespero para Tiradentes. Os versos são redondilhas maiores, ou seja, apresentam 7 sílabas poéticas. E as perguntas nas estrofes iniciais indicam o espírito curioso, matreiro, da população da cidade, mais interessada em saber o que ocorreu com Tiradentes do que em ajudá-lo efetivamente. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 130 Alternativa D: incorreta. Tiradentes era dentista, motivo pelo qual levou essa alcunha inclusive. Alternativa E: incorreta. Os versos nem são brancos (sem rima), nem livres. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________33. (Estratégia Vestibulares 2021/5º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) Leve em consideração o excerto abaixo, extraído do Romance LXXXII ou Dos passeios da Rainha louca, para responder à questão. Colinas de esquecimento, praias de ridentes águas, palmas, flores, nada esconde aquelas visões amargas que noite e dia a Rainha cercam de horror e ansiedade. Ai, parentes, ai, ministros, ai, perseguidos fidalgos... Ai, pobres Inconfidentes, duramente condenados por que sombria sentença, alheia à sua vontade! [...] Toda vestida de preto, solto o grisalho cabelo, escondida atrás do leque, velhinha, a chorar de medo, Dona Maria Primeira passeia pela cidade. MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015 (p. 227-228). Depois desse poema, há outros 4 que encerram o livro, sendo mais 3 romances e a "Fala aos Inconfidentes mortos" ao final, o que insere esse trecho na quinta e última parte do livro. Sendo assim, a figura da Rainha Maria: a) é uma apática figura histórica que não se envolve na vida do povo. b) reclama do fato de ter perdido suas posses em tom reiterado e queixoso. c) vê-se tão perseguida quanto perseguiu, tal como uma etérea mulher simbolista. d) acredita ser tarde demais para pedir perdão pelas condenações. e) consegue se eximir da responsabilidade transferindo o pode à sua família. Comentários Questão de interpretação de texto literário/verificação de leitura. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 131 Alternativa A: incorreta. Envolve-se, mas a partir de condenações. A Rainha Maria foi a responsável por decretar exílios aos intelectuais engajados na Inconfidência. Alternativa B: incorreta. O tom é lamentativo, o que se constata a partir das interjeições, mas é por causa do arrependimento. Alternativa C: correta – gabarito. Situando-se ao fim do livro, esse poema já começa a apresentar um acerto de contas com a História: personagens que antes eram carrascas, como Maria, acabam por se tornar perseguidas pela sua própria culpa. Não à toa ela é conhecida pelo epíteto de “Louca”. Alternativa D: incorreta. Maria aparece como uma assombração. Na confusão dos tempos, não se sabe se ela está viva ou morta, sã ou louca. Alternativa E: incorreta. Foi responsável pelos seus atos, que pesam sobre sua consciência. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________ 34. (Estratégia Vestibulares 2021/6º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) (...) A estrela do seu destino leva o desenho estropiado: metade com grande brilho, a outra, de brilho nublado; quanto mais fica um, sombrio, mais se ilumina o outro lado. Duvido muito, duvido que se deslinde o seu fado. Vejo que vai ser ferido e vai ser glorificado: ao mesmo tempo, sozinho, e de multidões cercado; correndo grande perigo, e de repente elevado: ou sobre um astro divino ou num poste de enforcado. (...) MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015 (p. 104). Retirado do Romance XXXIII ou "Do cigano que viu chegar o Alferes", o eu lírico desse poema assume a postura de a) criticar aqueles que se eximiram de suas responsabilidades na crise. b) apaziguar o entendimento do leitor do papel de mártir do envolvido. c) dissimular intencionalmente o fato de já conhecer o final da história. d) engajar uma luta de classes na união entre a patente militar e o cigano. e) respeitar a métrica convencional que adota como marco a redondilha. Comentários Questão de interpretação de texto literário; teoria literária e verificação de leitura. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 132 Alternativa A: incorreta. Não uma crise qualquer, mas sim a Inconfidência Mineira. Há críticas assim ao longo do Romanceiro, mas não nessa passagem em particular. Alternativa B: incorreta. Pode ou não haver tal apaziguamento: a alternância se observa no uso da conjunção nos últimos versos. Um dos caminhos é bem trágico. Alternativa C: correta – gabarito. A partir do uso na primeira pessoa, o eu lírico diz que duvida saber do destino do Alferes (Tiradentes), embora seja uma obra de revisionismo histórico. Alternativa E: incorreta. O Alferes é chamado assim no Romanceiro para escamotear sua identidade, mais do que pela importância de sua patente. Não há tal união. Alternativa E: incorreta. Não uma redondilha qualquer, mas sim a maior, que não é convencional necessariamente, mas sim popular. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________ 35. (Estratégia Vestibulares 2021/8º Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) "Romanceiro da Inconfidência" (1953) é uma obra de revisionismo histórico. Sendo modernista que é, estabelece uma crítica quanto ao movimento literário à época deste fato histórico. O poema em particular que evidencia tal distanciamento do Neoclassicismo é: a) "Romance 16 ou Da Traição do Conde" b) "Romance 20 ou Do País da Arcádia" c) "Romance 27 ou Do Animoso Alferes" d) "Romance 55 ou Do Preso Chamado Gonzaga" e) "Romance 73 ou Da Inconformada Marília" Comentários Questão teórica de conhecimento da obra. Alternativa A: incorreta. Esse poema é uma crítica ao enriquecimento de uma classe abastada mediante a delação de outrem. Alternativa B: correta – gabarito. Nesse poema, critica-se o Neoclassicismo (sinônimo de Arcadismo), especialmente o idealismo que fazia com que alguns dos poetas deste movimento se esquecessem das urgências do tempo histórico. Alternativa C: incorreta. Nesse poema, fala-se sobre Tiradentes. Alternativa D: incorreta. Cuidado: o comando pedia uma crítica ao Arcadismo. Nesse poema, menciona-se sem idealismo a história de Tomás Antônio Gonzaga, à sua época condenado ao exílio. A crítica não é contra o Arcadismo propriamente dito, embora Gonzaga seja um poeta árcade. Alternativa E: incorreta. Em paralelo com a letra D, esse poema narra como que Marília (Maria Doroteia) sofreu por ficar sozinha depois do exílio de seu noivo, Gonzaga. Gabarito: B. _____________________________________________________________________________________ 36. (Estratégia Vestibulares 2021/Último Simulado FUVEST 2022/Professora Luana Signorelli) Analise o trecho do poema a seguir para responder à próxima questão. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 133 Romance XLIV ou da testemunha falsa Que importa quanto se diga? Para livrar-me de algemas, da sombra do calabouço, dos escrivães e das penas, do baraço e do pregão, a meu pai acusaria. Como vou pensar nos outros? Não me aflijo por ninguém. Que o remorso me persiga! Suas tenazes secretas não se comparam à roda, à brasa, às cordas, aos ferros, aos repuxões dos cavalos que, mais do que as Majestades, ordenarão seus Ministros, com tanto poder que têm. (...) Por escrúpulos futuros, não vou sofrer desde agora: Quais são torpes? Quais, honrados? As mentiras viram lenda. E não é sempre a pureza que se faz celebridade... Há mais prêmios neste mundo para o Mal que para o Bem. Direi quanto me ordenarem: o que soube e o que não soube... Depois, de joelhos suplico perdão para os meus pecados, fecho meus olhos, esqueço.. – cai tudo em sombras, além... MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015. Considerando que o "Romanceiro da Inconfidência", em seu conjunto, é polifônico, o relato dessa voz particularmente expressa a) dúvida diante das autoridades e receio ao receber punição. b) apego aos interessespróprios em detrimento da vida humana. c) piedade como demonstração de culpa pelo materialismo. d) esquecimento quanto aos fatos do passado histórico. e) solenidade com um tom valoroso de quem respeita o tratado. Comentários Questão de interpretação de texto literário/verificação de leitura. Alternativa A: incorreta. Não recebe punição; pelo contrário: está preocupado com a recompensa. Alternativa B: correta – gabarito. Para ter o que deseja, a voz que fala dentro desse poema se mostra indiferente: "a meu pai acusaria." O eu lírico pensa no benefício individual. Cecília Meireles critica o fato de que vários sensos comuns assim, em conjunto, fizeram Tiradentes ser condenado e não salvo. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 134 Alternativa C: incorreta. Não se arrepende. Alternativa D: incorreta. Atenção: por mais que o poema termine com a metáfora de tudo cair em sombras, antes disso o eu lírico demonstra consciência e parece se lembrar de tudo. Alternativa E: incorreta. Suas perguntas são provocativas e não solenes. Gabarito: B. _____________________________________________________________________________________ 37. (Estratégia Vestibulares 2022/1o Simulado FUVEST 2023/Professora Luana Signorelli) A partir do excerto a seguir, responda ao comando. Romance XLVIII ou do jogo de cartas Grandes jogos são jogados entre a terra e o firmamento: longas partidas sombrias, por anos, meses e dias, independentes do tempo... Soldados e marinheiros, camponeses e fidalgos, ministros, gente da Igreja, não há mais ninguém que esteja fora dos vastos baralhos. Batem as cartas na mesa, na curva mesa da terra. Partida sobre partida, perde-se renome ou vida: mas a perdição é certa. Lá vêm corações em sangue, lá vêm tenebrosos chuços: defrontam-se ouros e espadas, saltam coroas quebradas, morrem culpados e justos. (...) Mesas de Queluz cobertas de ouros, paus, espadas, copas... (Minas, sangue, sofrimento... ) No baralho bate o vento e o jogo segue outras voltas. MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 141-142). Assinale a opção que contiver uma análise correta. a) Na primeira estrofe, há um particípio pleonástico e intertextualidade com Shakespeare. b) Na segunda estrofe, são mencionadas castas eclesiásticas que se tornaram os inconfidentes. c) Na terceira estrofe, verifica-se metonímia no termo "partidas" e ironia na palavra "perdição". t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 135 d) Na quarta estrofe, há um advérbio de lugar bem como índice de indeterminação do sujeito. e) Na última estrofe, a menção à Queluz se remete ao contexto histórico de produção da obra. Comentários Questão de interpretação de texto literário; verificação de leitura e Gramática aplicada à Literatura. Alternativa A: correta – gabarito. O particípio pleonástico se verifica no verso: “Grandes jogos são jogados”. Como o pressuposto da ação de jogar já se encontra na raiz da palavra “jogo”, trata-se de uma redundância intencional e enfática. Por sua vez, o verso “entre a terra e o firmamento” estabelece diálogo intertextual com o humanista Shakespeare, a partir do célebre pensamento: “Há mais coisas entre o céu e na terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia” (Hamlet, Ato I, Cena V). Alternativa B: incorreta. Não necessariamente eclesiásticas nem inconfidentes. Alternativa C: incorreta. Há ambiguidade e não metonímia. Tampouco se verifica essa ironia. Alternativa D: incorreta. O advérbio é de modo e o pronome é reflexivo. Alternativa E: incorreta. Remete-se ao contexto histórico da Inconfidência, o que se infere pelos termos mencionados em seguida a partir da ambiguidade da palavra “ouros”. O Palácio Nacional de Queluz se situa em Lisboa e é uma obra neoclássica de 1747. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 38. (Estratégia Vestibulares 2022/2o Simulado FUVEST 2023/Professora Luana Signorelli) Considere as estrofes seguintes. "Sábios, ilustres, atraentes, quando tudo era esperança… E, agora, tão deslembrados até da sua aliança! Também a memória sofre, e o heroísmo também cansa. Não choram somente os fracos. O mais destemido e forte, um dia, também pergunta, contemplando a humana sorte, se aqueles por quem morremos merecerão nossa morte." MEIRELES, Cecília. Romance LIX ou Da reflexão dos justos. In: Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015 (p. 63). Nesse sentido, o eu lírico a) alerta para a discrepância entre a impavidez de alguns e as falsas promessas de outros. b) critica o falso moralismo de algumas pessoas hipócritas que comprometem pela ignorância. c) arrisca o grupo por ter se cansado da luta e sobrecarregando outros que terão que assumir o fardo. d) expõe contradições internas do iluminismo, o qual propulsionou a razão, mas gerou guerras. e) acarreta a possibilidade de que os heróis se tornem carrascos pelo tempo em que ficam no poder. Comentários t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 136 Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimentos literários. Alternativa A: correta – gabarito. Quando o eu lírico questiona no final que não sabe se merecerão a coragem daqueles que lutaram, pontua uma distância entre os efetivamente impávidos e aqueles que simplesmente, em um dos momentos da luta, abandonaram a aliança, ironia apontada no termo “deslembrados”. Alternativa B: incorreta. Não é necessariamente pela ignorância. Alternativa C: incorreta. O eu lírico em si não arrisca. Alternativa D: incorreta. Segue-se a ele um lado obscuro de perseguições. O Iluminismo, ele mesmo, não gerou guerras. Alternativa E: incorreta. Não é necessariamente o tempo no poder que corrompe. O homem já carrega os germes da maldade em si independentemente do poder, que só os propulsiona. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 39. (Estratégia Vestibulares 2022/3o Simulado FUVEST 2023/Professora Luana Signorelli) O trecho abaixo são estrofes do Cenário de "Romanceiro da Inconfidência". Minha sorte se inclina junto àquelas vagas sombras da triste madrugada, fluidos perfis de donas e donzelas. Tudo em redor é tanta coisa e é nada: Nise, Anarda, Marília...- quem procuro? Quem responde a essa póstuma chamada? Que mensageiro chega, humilde e obscuro? Que cartas se abrem? Quem reza ou pragueja? Quem foge? Entre que sombras me aventuro? Quem soube cada santo em cada igreja? A memória é também pálida e morta sobre a qual nosso amor saudoso adeja. O passado não abre a sua porta e não pode entender a nossa pena. (...) MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015. Entre as preocupações apresentadas, a que se deve a alusão a figuras femininas? a) Simbolizam a incomunicabilidade que o artista modernista sente em relação à arte do passado, questionando seu verdadeiro valor. b) Constituem uma metáfora para a prisão à qual os inconfidentes eram enviados, o que faz com que o passado não se abra para o eu lírico. c) São mulheres ligadas à Antiguidade Clássica, evocadas no Arcadismo, mas com quem o eu lírico não consegue mais conversar, pois perdeu sentido. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 137 d) Trata-se de uma crítica contra a arte barroca, que enchia as igrejas de imagens santas sem se preocuparcom as agruras do povo. e) É uma prefiguração do realismo, pois o uso do adjetivo "póstuma" se remete a uma famosa obra machadiana, em sua denúncia social. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimentos literários. Alternativa A: incorreta. Vários questionamentos são feitos, mas não quanto ao valor verdadeiro da arte do passado. Alternativa B: incorreta. As mulheres eram musas. Alternativa C: correta – gabarito. Assim como “Marília de Dirceu”, famosa obra do Arcadismo, os outros nomes femininos também são clássicos. Porém, o eu lírico não consegue mais se entender com elas e a mensagem fica perdida e inacessível no passado. Alternativa D: incorreta. Cuidado: há, de fato, essa crítica na quarta estrofe, mas ela não se associa ao nome das mulheres. Alternativa E: incorreta. O uso desse adjetivo é temporal e não intertextual. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________ 40. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Abaixo estão elencados os principais recursos estilísticos usados em "Romanceiro da Inconfidência". Assinale a EXCEÇÃO. a) Coletânea de poemas em três partes, indo do orgulho nacional rumo ao destino nacional incerto. b) Obra híbrida que mescla tradição medievalista com experimentalismo moderno. c) Polifonia vinda de personagens diferentes quanto a gênero, nacionalidade e classe social. d) Uso de figuras femininas a quem a voz é recuperada diante de um passado de emudecimento. e) Influência do teatro e da música, com presenta de falas intermeadas por cenas. Comentários Questão teórica de conhecimento de obras. Alternativa A: incorreta – gabarito. Esse comentário se aplica à obra "Mensagem" de Fernando Pessoa. Alternativa B: correta. Romanceiro é uma coletânea de romances, longos poemas narrativos. Porém, nessa obra, há experimentalismos formais também. Alternativa C: correta. Há várias vozes, mesmo em um único poema. Algumas se colocam entre parênteses, podendo falar a partir de várias perspectivas. Alternativa D: correta. Como Maria Doroteia e a Rainha Maria I, a Louca. Alternativa E: correta. Algumas músicas apresentam refrão, há até mesmo uma serenata. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 41. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Leia a passagem do poema abaixo, extraído do Romance XVII ou Das lamentações no Tejuco. Ai, que rios caudalosos, t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 138 e que montanhas tão altas! Ai, que perdizes nos campos, e que rubras madrugadas! Ai, que rebanhos de negros, e que formosas mulatas! Ai, que chicotes tão duros, e que capelas douradas! Ai, que modos tão altivos, e que decisões tão falsas... Ai, que sonhos tão felizes... que vidas tão desgraçadas! (...) Maldito o Conde, e maldito esse ouro que faz escravos, esse ouro que faz algemas, que levanta densos muros para as grades das cadeias, que arma nas praças as forcas, lavra as injustas sentenças, arrasta pelos caminhos vítimas que se esquartejam! (Doze mucamas em volta gemiam com surda pena. Pranto e diamantes caídos era tudo um mar de estrelas.) MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015 (p. 63). Na epopeia da "Odisseia" de Homero, doze escravas foram enforcadas depois do retorno de Ulisses por terem sido consideradas infiéis ao seu senhor. Isso porque os pretendentes ao trono e à mão de Penélope, que infestavam o palácio como abutres, estupraram essas escravas, sendo que na verdade elas usaram a situação para conseguir informação para a casa soberana. Ou seja, mesmo violadas elas mantiveram-se fiéis, de forma que seu brutal enforcamento foi consequência de um mal-entendido. Assim, as mucamas aludidas pela voz paralela entre parênteses, ainda se relacionadas à reiteração da interjeição lamentativa na primeira estrofe, indicam: a) a coita feminina. b) o abuso da corte. c) o vitimismo social. d) a questão justiceira. e) a causa abolicionista. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimentos literários. Alternativa A: correta – gabarito. A coita é o lamento amoroso na cantiga de amigo trovadoresca, em que o eu lírico feminino lamenta a partida do amado para as guerras árabes. Muito se sofria naquela contexto de desigualdades, mas as mulheres eram quem mais sofriam. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 139 Alternativa B: incorreta. Os inconfidentes vão lutar contra tal abuso, mas a lamentação do poema se volta para outros temas. Alternativa C: incorreta. O eu lírico contesta arbitrariedades que influenciaram a vida de tantos. Alternativa D: incorreta. Não há tentativa de vingança, mas sim reflexão crítica. Alternativa E: incorreta. Movimento que contemplou várias áreas do conhecimento no século XIX. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 42. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Entre as passagens abaixo, retiradas do "Romanceiro da Inconfidência", identifique aquela que discorre sobre o degredo do árcade Tomás Antônio Gonzaga. a) "- Isto é o que conta o vizinho /que ouviu falar o soldado. /Mas do corpo ninguém sabe: /anda escondido ou enterrado? /Dizem que o viram ferido, /ferido, e não sufocado" b) "Muito longe, em Luanda, /era bom viver. /Bate a enxada comigo, povo, /desce pelas grotas! /- Lá na banda em que corre o Congo /eu também fui Rei." c) "Colinas de esquecimento, /praias de ridentes águas, /palmas, flores, nada esconde /aquelas visões amargas /que noite e dia a Rainha /cercam de horror e ansiedade." d) "Por terras de Moçambique, /quem passeia, /de cabeça descoberta, /sem sentir o que está perto, /desinteressado e alheio? /Vira a Sorte o leme rápido, /de repente: /sem mais rota que se explique." e) "Escreve Marília, escreve /seu pequeno testamento; /na verdade, por que vive, /se a morte é o seu alimento? /se para a morte caminha, /na sege do tempo lento?" Comentários Questão de interpretação de texto literário/verificação de leitura. Alternativa A: incorreta. Esse trecho fala sobre o poeta árcade Cláudio Manoel da Costa, de cuja morte não se sabe até hoje. O poema explora a fofoca e a especulação que giram em torno de sua figura. Alternativa B: incorreta. Essa passagem fala sobre Chico Rei, um personagem que na sua terra era rei, mas que no Brasil foi escravizado. Alternativa C: incorreta. Esses versos falam sobre a Rainha Maria I, a Louca. Alternativa D: correta – gabarito. Tomás Antônio Gonzaga foi um poeta árcade que foi exilado para Moçambique por causa de seu envolvimento com a Inconfidência Mineira. Alternativa E: incorreta. O trecho alude à Marília de Dirceu, deixada por Tomás Antônio Gonzaga, com quem nunca pôde casar. Gabarito: D. _____________________________________________________________________________________ 43. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Obra de revisionismo histórico, "Romanceiro da Inconfidência" (1953) é uma obra que apresenta características tanto da segunda geração modernista, como ______, quanto da terceira geração, por causa do(a) ______. A opção que apresenta o preenchimento correto das lacunas, RESPECTIVAMENTE, é: a) vanguardismo formal / vertente regionalista. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 140 b)criticidade social de denúncia / aperfeiçoamento técnico. c) experimentalismo lírico / misticismo religioso. d) valorização da cultura popular / mistura de estilos. e) esteticismo rigoroso / transcendência histórica. Comentários Questão de preenchimento de lacunas/verificação de leitura. Alternativa A: incorreta. O Romanceiro não é como um todo nem vanguardista como um todo. Alternativa B: correta – gabarito. O aperfeiçoamento técnico é uma característica presente na terceira geração modernista, que é antecipada nessa obra. A denúncia é aproveitada também no romance de 30. Alternativa C: incorreta. Embora algumas das obras de Cecília Meireles sejam caracterizadas como neossimbolistas, o Romanceiro não se associa de todo a essa tendência. Alternativa D: incorreta. Essas são características pré-modernistas. Alternativa E: incorreta. Não é uma obra de todo rigorosa nem transcendente. Gabarito: B. _____________________________________________________________________________________ 44. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) A partir da leitura das estrofes, responda à pergunta. Ó personagens solenes que arrastais os apelidos como pavões auriverdes seus rutilantes vestidos, - todo esse poder que tendes confunde os vossos sentidos: a glória, que amais, é desses que por vós são perseguidos. Levantai-vos dessas mesas, saí das vossas molduras; vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de algemas, que profundas sepulturas nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas! MEIRELES, Cecília. Romance LXXXI ou Dos ilustres assassinos. In: Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Globo, 2015 (p. 225). O uso da segunda pessoa do plural se contrasta com a crítica levantada. Isso porque a) escarnece da vulnerabilidade sofrida por tantos enquanto outros vivem em abastança. b) ironiza a situação daqueles cujo destino não pode ser escolhido pelas próprias decisões. c) afasta a obra da cultura popular tão cara aos modernistas da respectiva geração. d) reflete o teor bíblico que tem essa obra a se dirigir a autoridades como divindades. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 141 e) confere pomposidade cuja responsabilidade por atrocidades deveria ser reconhecida. Comentários Questão de interpretação de texto literário/verificação de leitura. Alternativa A: incorreta. A crítica não é contra sua abastança, mas sim violência. Alternativa B: incorreta. O que está sendo ironizado são os assassinos, contrariamente chamados de ilustres. Alternativa C: incorreta. A cultura popular é mais presente na primeira geração. O uso da segunda pessoa é para ironizar provavelmente os próprios cultos e eruditos (autoridades abastadas) que faziam uso dela. Alternativa D: incorreta. Não é uma obra bíblica. Alternativa E: correta – gabarito. Eleva ridiculamente pessoas na realidade que deveriam ser condenadas pelas suas ações. Gabarito: E. _____________________________________________________________________________________ 45. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Movida, Marília, De tanta ternura, Nos braços me deste Da tua fé pura Um doce penhor. Marília, escuta Um triste Pastor. Tu mesma disseste Que tudo podia Mudar de figura; Mas nunca seria Teu peito traidor. Marília, escuta Um triste Pastor. GONZAGA, Tomás Antônio de. Lira IV. In: Marília de Dirceu. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/565dkvu5. Acesso em: 20 set. 2021. Maria Joaquina Dorotéia de Seixas (1767-1853) foi cantada em versos sob o nome de Marília, tendo sido a noiva real do poeta árcade. A diferença de sua figura tratada nas liras para a Marília dos romances da modernista Cecília Meireles é que neste último ela: a) aparece como figura entristecida e não idealizada, já que o noivo teve pena de exílio decretada. b) funciona como interlocutora ideal, a quem o leitor transmite suas mensagens e amor. c) floresce como moça apaixonada que é, valendo-se do carpe diem para a concretização amorosa. d) é uma mulher enlutada, que usa o inútil enxoval de casamento como sua mortalha. e) aparentar ser uma jovem cuja idealização se perdeu, já que foi acusada de adultério pelo amado. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 142 Comentários Questão de interpretação de texto literário; verificação de leitura; literatura comparada e conhecimento de movimentos literários. Alternativa A: correta – gabarito. Maria Doroteia é uma mulher abandonada, esquecida, que nunca pôde conhecer a verdade de que o ex-noivo foi para Moçambique e, mesmo condenado a exílio, formou família com Ana Mascarenhas. Na obra de Cecília Meireles, é uma mulher triste e não idealizada como é pintada no Arcadismo. Alternativa B: incorreta. Cuidado: essa é a Marília de Dirceu e não de Cecília. Alternativa C: incorreta. São característica árcades e não modernistas. Alternativa D: incorreta. Não é enlutada, porque não sabe se Gonzaga morreu ou não. Alternativa E: incorreta. Perdeu-se porque se sentiu rejeitada, preterida, esquecida. A insinuação de traição é feita no poema árcade acima e não na obra de Cecília. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 46. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) Salvo na "Fala inicial" e em "Cenário", os versos não parecem escritos por um poeta individual. Falam as personagens da conspiração, a voz anônima do povo, os maldizentes, os justos, as testemunhas, os curiosos. Viram motivos de pura poesia os autores da devassa, os inventários dos bens dos inculpados, os antecedentes socioeconômicos do levante mal esboçado. Nesse comentário crítico, o intelectual Paulo Rónai retoma a seguinte obra: a) "Alguma poesia" de Carlos Drummond de Andrade. b) "Campo geral" de Guimarães Rosa. c) "Nove noites" de Bernardo Carvalho. d) "Romanceiro da Inconfidência" de Cecília Meireles. e) "Angústia" de Graciliano Ramos. Comentários Questão de crítica literária/conhecimento das obras. Alternativa A: incorreta. Obra de 1930, reúne 49 poemas cujos temas variam entre: identidade, memorialismo, música, metalinguagem, alusão à cidade e crítica social. Alternativa B: incorreta. Obra modernista que conta a história de Miguilim e seu irmão Dito, que vem a falecer deixando uma ferida. Alternativa C: incorreta. Obra contemporânea híbrida, que narra o mistério do suicídio do antropólogo Buell Quain. Alternativa D: correta – gabarito. "Romanceiro da Inconfidência" é uma obra estruturalmente composta por 96 poemas, sendo que 85 são romances, 4 são cenários e 7 são cenas paralelas. Alternativa E: incorreta. Romance de 1936 que expõe a mente perturbada de Luís da Silva, sofrendo com seus traumas. Gabarito: D. _____________________________________________________________________________________ 47. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 143 "De seu calmo esconderijo, O ouro vem, dócil e ingênuo; torna-se pó, folha, barra, prestígio, poder, engenho.. tão claro! – e turva tudo: honra, amor e pensamento." Ao elemento do ouro, retirado do Romance II de Cecília Meireles, é aplicado o recurso expressivo do(a): a) eufemismo. b) apóstrofe. c) prosopopeia. d) silepse. e) onomatopeia. Comentários Questão de interpretação de texto literário/Gramática aplicada à Literatura. Alternativa A: incorreta.Eufemismo é um abrandamento. Pelo contrário, o ouro só faz acentuar a ambição humana. Alternativa B: incorreta. Apóstrofe é uma interrupção brusca, mas nesse caso a sintaxe é fluida: "O ouro" é sujeito, "vem" é verbo intransitivo e o termo "dócil e ingênuo" qualifica ouro. Alternativa C: correta – gabarito. Prosopopeia ou personificação é quando características humanas são atribuídas a seres irracionais ou inanimados, como as qualidades de docilidade e ingenuidade que são aplicadas ao ouro. É como se ele tivesse vida própria. Alternativa D: incorreta. Silepse é uma concordância estabelecida para além da Gramática. Alternativa E: incorreta. Onomatopeia é uma figura de som. Gabarito: C. _____________________________________________________________________________________ 48. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) (Que vens tu fazer, Alferes, com tuas loucas doutrinas? Todos querem liberdade, mas quem por ela trabalha?) “Ah! se eu me apanhasse em Minas...” (O humano resgate custa pesadas carnificinas! Quem morre, para dar vida? Quem quer arriscar seu sangue?) “Ah! se eu me apanhasse em Minas...” MEIRELES, Cecília. São Paulo: Globo, 2015 (p. 107). t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 144 No último verso das estrofes, há um estribilho que se repete como refrão, reforçando o sentido do trecho, a se chama a) redondilha. b) mote. c) quarteto. d) escansão. e) écloga. Comentários Questão de interpretação de texto literário/teoria literária. Alternativa A: incorreta. Redondilha é uma classificação de verso. Pode ser redondilha menor (verso com 5 sílabas poéticas) ou maior (verso com 7 sílabas poéticas). Alternativa B: correta – gabarito. Segundo o dicionário Aulete, mote pode ser: uma estrofe cujo sentido serve de tema ao poema; frase, dito que serve de tema a obra literária; frase que expressa um objetivo que se quer alcançar ou um princípio de comportamento. Alternativa C: incorreta. É uma estrofe com 4 versos. Alternativa D: incorreta. É o procedimento de contagem de sílabas poéticas. Alternativa E: incorreta. É uma poesia pastoril. Gabarito: B. _____________________________________________________________________________________ 49. (Estratégia Vestibulares 2021 – SPRINT FUVEST 2022 – Professora Luana Signorelli) (http://www.revistadehistoria.com.br/revista/edicao/)118.) A obra acima é uma paródia da pintura original de Pedro Américo, Tiradentes esquartejado (1893), assim como "Romanceiro da Inconfidência" é uma releitura da Inconfidência Mineira. Quanto à obra modernista, assinale o que for INCORRETO. a) Mantém ligação com correntes tradicionais anteriores, sentindo-se continuadora do legado simbolista e positivista. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 145 b) Não toma a História como fato último e acabado, abolindo com uma consolidação determinista e dando voz àqueles antes não ouvidos sequer considerados. c) É um olhar historicista para um fato do passado, julgando-o como fluido e passível de transformação humanista. d) O início e a fala final voltada para os inconfidentes completa um ciclo que convida o leitor a pensar na sua própria ação. e) Faz com que o leitor se sinta testemunha e partícipe, mesmo das atrocidades, provocando primeiramente seu pavor para depois surtir a catarse. Comentários Questão de literatura comparada; linguagens e códigos e verificação de leitura. Alternativa A: incorreta – gabarito. O positivismo é uma teoria do fim do século XIX, cientificista e progressista, que não se aplica ao Romanceiro. Alternativa B: correta. A História se concretiza no passado, que serve pré-história para o presente. Alternativa C: correta. O revisionismo histórico é uma característica tanto da primeira quanto da terceira geração. Alternativa D: correta. Tanto é que o livro termina com uma pergunta, podendo ser considerado como uma obra aberta. Alternativa C: correta. A catarse é o expurgo dos sentimentos pela libertação dos sentidos. Liberdade, ainda que tardia. Gabarito: A. _____________________________________________________________________________________ 50. (FCM-MG/2016/Anual) Em seu depoimento “Como escrevi o Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles assim se manifestou em relação a Joaquim José da Silva Xavier: “(...) o Alferes Tiradentes, que calcorreou todas estas serras, estas matas, estes caminhos, a serviço de um partido, à mercê de um sonho, às ordens de seus amigos -, a imperícia ou pusilanimidade desses mesmos amigos, a perfídia dos inimigos, a intriga dos calculistas, dos oportunistas (...)” MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfidência. S.P.: Gaudi, 2014, p.240.) Assinale a passagem do Romanceiro da Inconfidência em que os versos NÃO fazem referência a esse protagonista. a) “Não há Conde, não há forca, não há coroa real mais seguros que estas casas, que estas pedras do arraial, deste Arraial do Ouro Podre que foi de Mestre Pascoal.” b) “(Nossa Senhora da Ajuda, entre os meninos estão rezando aqui na capela, um vai ser levado à forca, com baraço e com pregão!)” c) “(E tudo é tão diferente t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 146 do que em saudade imaginas! Onde estão os teus amigos? Quem te ampara, quem te salva? mesmo em Minas, mesmo em Minas?)” d) “Eles eram muitos cavalos: e alguns foram postos à venda, outros ficaram em seus pastos, e houve uns que, depois da sentença, levaram o Alferes cortado em braços, pernas e cabeça. E partiram com sua carga na mais dolorosa inocência. Comentários Questão de crítica literária/identificação de trecho. Alternativa A: incorreta – gabarito. Fala-se sobre os acusadores de Tiradentes. Joaquim Silvério dos Reis (1756-1792). Constitui a figura obscura da Inconfidência, em virtude de ter sido o denunciante, junto ao Visconde de Barbacena, dos planos de rebeldia que se tramavam em Vila Rica. Trecho retirado do Romance V – Da destruição de ouro podre. Alternativa B: correta. Passagem do Romance XII – Nossa Senhora da Ajuda. O homem que vai ser levado à forca é Tiradentes, por quem os meninos rezam. Alternativa C: correta. Trecho do Romance XXXV – Do suspiroso Alferes, que fala justamente sobre Tiradentes. A crítica se volta para a sociedade, de quem ele tanto cuidou em sua vida civil, mas, na hora de seu desespero, não pôde contar com ela. Alternativa D: correta. Passagem do Romance LXXXIV – Dos cavalos da inconfidência, que fala de Tiradentes esquartejado. Gabarito: A. 8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORO CINEMA. Sinopses oficiais de filmes. Disponível em: http://www.adorocinema.com/. Acesso em: 13 set. 2020. ALENCAR, José. Senhora. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/s3dz8hn. Acesso em: 13 nov. 2020. ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia. Trad. José Pedro Xavier Pinheiro. Fonte: Domínio Público: Disponível em: https://tinyurl.com/y7vldm27. Acesso em: 13 nov. 2020. ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Cultrix, 2014 CEREJA; William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. 6. ed. São Paulo: Atual, 2008. COSTA, Marcos. A história do Brasil para quem tem pressa: dos bastidores do descobrimento à crise de 2015 em 200 páginas! 2. ed. Rio de Janeiro: Valentina, 2017. DICIONÁRIO Aulete Digital. Disponível em: http://www.aulete.com.br/. Acesso em: 13 nov. 2020. IMDB. Cartazes oficiais de filmes. Disponível em:https://www.imdb.com/. Acesso em: 13 nov. 2020. t.me/CursosDesignTelegramhub ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA FUVEST 2023 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: CECÍLIA MEIRELES – ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA 147 Professora Luana Signorelli MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1977. ______. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo: Global, 2015. CAMPOS, Flavio de; MIRANDA, Renan Garcia. A escrita da História. São Paulo: Escala Educacional, 2005 (volume único). MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2013. 9.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Eu me coloco à disposição de vocês para sanar eventuais dúvidas. Tenho a meta de responder ao Fórum de Dúvidas, com a qualidade e profundidade exigidas, assim como podem me encontrar em redes sociais. E agora também temos Sala VIP. Versão Data Modificações 1 20/05/2022 Entrega da primeira versão do texto. Luana Signorelli @luanasignorelli1 @profa.luana.signorelli Professora Luana Signorelli /luana.signorelli t.me/CursosDesignTelegramhub