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Aula_de_Obra_Literária__Júlia_Lopes_de_Almeida_-_A_falência

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
05 DE AGOSTO DE 2021 
UNICAMP 
Exasiu 
Exasiu Aula de Obras Literárias: 
Júlia Lopes de Almeida – A falência 
EXTENSIVO 
Análise de obra da leitura obrigatória: Júlia Lopes de Almeida – A falência. 
Resumo, análise, crítica, exercícios 
Professora Luana Signorelli 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 2 
Professora Luana Signorelli 
Sumário 
APRESENTAÇÃO 3 
1.0 CONTEXTUALIZAÇÃO 4 
2.0 JÚLIA LOPES DE ALMEIDA 5 
2.1. JÚLIA LOPES DE ALMEIDA NA UNICAMP 6 
3.0 A FALÊNCIA 8 
3.1. RESUMO ANALÍTICO 10 
4.0 A FALÊNCIA E A INTERTEXTUALIDADE 32 
5.0 QUADRO SINÓPTICO 34 
6.0 QUESTÃO SEM COMENTÁRIOS 34 
6.1. GABARITO 51 
7.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 51 
8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77 
9.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luana Signorelli @luanasignorelli1 
@profa.luana.signorelli Professora Luana 
Signorelli 
/luana.signorelli 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 3 
APRESENTAÇÃO 
 
Olá, alunos. 
O meu nome é Luana. Sou Mestra em Literatura e Práticas 
Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e Doutoranda em Teoria e 
História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 
já qualificada. Tenho 12 anos de experiência com revisão e 
padronização textual e 11 anos em curso pré-vestibular, tendo 
passado por instituições conhecidas e renomadas. 
Lembrem-se sempre de nosso lema: 
 
 
“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”. 
Hoje vamos ter uma aula de Obras Literárias para UNICAMP 2023. Segundo o nosso cronograma, 
eis o que vamos estudar hoje: 
 
AULA TÓPICOS ABORDADOS 
AULA ÚNICA 
Título da aula: Júlia de Almeida – A falência 
Descrição do conteúdo programático da aula: Análise de obra da leitura 
obrigatória: Júlia de Almeida – A falência. Resumo, análise, crítica, exercícios. 
 
Lembrando de alguns recados importantes: 
• O curso de Literatura é diferente do curso de Obras Literárias. No curso de Literatura, estudamos 
teoria e historiografia literária e no curso de Obras Literárias a lista obrigatória da instituição. 
• O curso contemplará TODAS as Obras Literárias! O curso de Obras Literárias costuma ser dividido 
entre a equipe e as obras são lançadas separadamente de acordo com cronogramas pessoais. 
• O curso de Obras Literárias do Extensivo e do Intensivo é IDÊNTICO, só muda o layout do PDF. 
• Como se trata de uma aula de análise de uma obra do repertório UNICAMP 2022, eu irei organizar 
a aula da seguinte maneira: 
➢ Pré-aula: contextualização e informações sobre a autora, Júlia de Almeida; 
➢ Análise: A falência (resumo e análise) e A falência e a intertextualidade; 
➢ Pós-aula: quadro sinóptico, questões atualizadas, sem e com comentários. O quadro 
sinóptico (sinopse: resumo) é um material de apoio que irá poder ajudá-los pouco antes 
da prova, por se tratar de conteúdos grandes com muita informação. 
Então, vamos lá, não percamos tempo! 
 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 4 
1.0 CONTEXTUALIZAÇÃO 
 
O romance A falência da escritora Júlia Lopes de Almeida foi publicado em 1901, coincidindo 
exatamente com a virada do século XIX e o início do século XX. Em termos de estilo, segue a tradição do 
le fin de siècle (o fim de século) e da la décadence (a decadência), movimentos originalmente franceses 
que pretendiam representar a onda de pessimismo, declínio e a atmosfera sufocante que havia 
justamente nesse período. Romances que são exemplos disso são Madame Bovary (1856) do francês 
Gustave Flaubert e Anna Kariênina (1877) do russo Tolstói (a tendência se propagou), obras que anteviram 
e anteciparam essa temática. E ainda Os Buddenbrooks (1901), do mesmo ano de A falência, do alemão 
Thomas Mann, traz temas semelhantes. 
A contextualização de A falência também gira em torno da imigração portuguesa para o Brasil em 
busca de novas oportunidades financeiras nessa nova terra. Esse é justamente o caso do protagonista, 
Francisco Theodoro. 
 
Várias obras, de mais de um movimento literário da transição do fim do século XIX para o início XX 
vão ter como temática a imigração. Por exemplo, o romance naturalista “O Cortiço” (1890) de Aluísio 
de Azevedo e o romance pré-modernista “Canaã” (1902) de Graça Aranha. 
 
A imigração se deu em vários níveis e envolveu várias nacionalidades, não só a portuguesa, mas 
outras, especialmente a italiana e a japonesa. Isso fica claro a partir do trecho no capítulo inicial do 
romance: “A não serem as africanas do café e uma ou outra italiana que se atrevia a sair de alguma fábrica 
de sacos com dúzias deles à cabeça, nenhuma outra mulher pisava aquelas pedras, só afeitas ao peso 
bruto” (ALMEIDA, 2018, p. 6). Aqui, também está presente a questão feminina, cara a uma escritora como 
Júlia da Almeida, que era mulher. Iremos nos aprofundar nisso depois. 
O comércio do café teve duas fases: primeiramente, a produção era alta e isso rendia muitos lucros 
para o Brasil e renda para a sua população; depois, aconteceu o seu declínio, o que gerava muita 
especulação e certa desvalorização do produto, que já não mais valia tudo aquilo que representara 
antigamente. Com a baixa do café, os mais prejudicados com a situação foram os grandes comerciantes: 
Francisco Theodoro se suicida. No romance, há menção por exemplo ao porto de Le Havre, cidade 
portuária francesa com ligação com a Normandia, com quem – após a baixa do café – diminuiu suas 
relações com o Brasil. 
Além disso, Francisco Theodoro era um 
conversador e um monarquista. Não se 
conformava com a chegada da República ao 
Brasil: “A maldita República acabaria de 
escangalhar o resto” (ALMEIDA, 2018, p. 11). No 
Rio de Janeiro, o movimento monarquista foi 
mais forte e só depois do governo Prudente de 
Morais a República se consolidou. Suas principais 
invectivas contra a República acontecem em um 
almoço no navio Netuno, quando há um debate 
sobre política. As mulheres não participam, pois 
não se interessam por isso. Na realidade, nunca 
foram levadas a se interessar por isso, porque 
nunca foram envolvidas. 
 Plantação de café. Fonte: Pixabay. 
 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 5 
2.0 JÚLIA LOPES DE ALMEIDA 
 
 
Júlia Lopes de Almeida nasceu em 1862 e faleceu em 1934. 
Segundo a orelha do livro da edição de Via Leitura: 
 
Foi uma das principais escritoras de sua geração e uma das 
idealizadoras da Academia Brasileira de Letras. Oriunda de 
um lar moderno, que estimulava a leitura, e casada com o 
poeta português Filinto de Almeida, encarou o ofício da 
escrita com diligência, alcançando uma obra prolífica e de 
inestimável qualidade. Começou sua carreira aos 19 anos, na 
Gazeta de Campinas, em uma época em que a participação 
da mulher na vida intelectual era muito rara. 
 
Por mais de trinta anos, colaborou com o jornal carioca O País. Apoiava o abolicionismo e a 
República. Ao longo de sua carreira, produziu contos, peças, romances, crônicas e livros infanto-juvenis. 
Acabou esquecida nas décadas de 30 e de 40, com o Modernismo, e teve seu nome excluído da lista da 
primeira reunião da Academia Brasileira de Letras. O motivo: a exclusão de mulheres da Academia, que 
só seria revogada em 1977, com a concessão de uma cadeira a Rachel de Queiroz. Seu marido ocupou a 
cadeira de número 3 da Academia Brasileira de Letras, entre os fundadores, sempre afirmando que sua 
esposa era a merecedora do posto. 
Em relação a seus romances, eis um breve esquema para a produção de destaque.1897 1899 1901 
A viúva Simões 
A viúva Simões raras vezes 
saía de casa, administrando 
uma propriedade em que 
várias raças se encontravam, 
de ex-escravos a criados. 
A falência 
Francisco Theodoro veio de 
Portugal para tentar a vida 
no Brasil. Vive para o 
trabalho no seu armazém 
de café. Porém, reveses da 
vida irão atingi-lo, junto à 
sua família. 
Memórias de Marta 
Narrada em primeira 
pessoa e se passa num 
cortiço. Perdendo os pais, 
Marta passa a trabalhar 
como engomadeira. 
 
1908 
A intrusa 
O viúvo Argemiro contrata 
uma nova governanta, 
Alice, contra quem tenta 
resistir, mas por quem 
acaba por nutrir um 
sentimento. Será que os 
dois irão se envolver? 
O funil do 
diabo 
Trata-se de uma 
história sobre 
mistérios e roubos 
dentro de uma casa, 
num trama que une 
passado e futuro. 
1914 1934 
A Silveirinha 
Recém-casada, a protagonista 
tenta a todo curso converter o 
marido, que é ateu, ao 
Cristianismo. 
Infográfico: Showeet 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 6 
2.1 JÚLIA DE ALMEIDA NA UNICAMP 
 
De 2007 a 2015, a Comvest publicava a lista de livros do repertório obrigatório em conjunto com 
a banca da FUVEST para o ingresso na Universidade de São Paulo (USP). Após 8 anos, a Comvest voltava 
a publicar uma lista de livros. 
Se observarmos os Manuais de Ingresso na UNICAMP, A falência de Júlia Lopes de Almeida não 
tem um grande histórico de recorrência de cobrança na Comvest. 
Por isso é que eu tive o prazer de organizar essas informações para vocês. É o seguinte: iremos 
treinar por meio da elaboração de questões autorais. Outra maneira de estudar é por meio da cobrança 
do gênero "romance" que a Comvest já realizou. 
 
 
MANUAL 
DE 
INGRESSO 
REPERTÓRIO DE 
ROMANCE 
COBRANÇA DE POESIA 
 (1ª fase) 
COBRANÇA DE POESIA 
(2ª fase) 
2016 Almeida Garret – 
Viagens na Minha Terra 
Aluísio Azevedo – O 
cortiço 
Jorge Amado, Capitães 
da Areia 
José de Alencar – Til 
Machado de Assis – 
Memórias Póstumas de 
Brás Cubas 
Mia Couto – Terra 
Sonâmbula 
Do repertório: Almeida Garret – 
Viagens na Minha Terra 
Machado de Assis – Memórias 
Póstumas de Brás Cubas 
Mia Couto – Terra Sonâmbula 
 
Do repertório: Almeida 
Garret – Viagens na 
Minha Terra 
 
2017 Érico Veríssimo – 
Caminhos Cruzados 
Camilo Castelo Branco – 
Coração, cabeça e 
estômago 
Aluísio de Azevedo – O 
cortiço 
Mia Couto – Terra 
Sonâmbula 
José de Alencar – Til 
Machado de Assis – 
Memórias Póstumas de 
Brás Cubas 
Do repertório: Érico Veríssimo – 
Caminhos Cruzados 
Camilo Castelo Branco – 
Coração, cabeça e estômago 
 
 
 
--- 
2018 
 
Érico Veríssimo – 
Caminhos Cruzados 
Camilo Castelo Branco – 
Coração, cabeça e 
estômago 
Aluísio de Azevedo – O 
cortiço 
Do repertório: Aluísio de 
Azevedo – O cortiço 
Do repertório: Mia 
Couto – Terra Sonâmbula 
 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 7 
Mia Couto – Terra 
Sonâmbula 
2019 Érico Veríssimo – 
Caminhos Cruzados 
José Saramago – História 
do Cerco de Lisboa 
Camilo Castelo Branco – 
Coração, cabeça e 
estômago 
Do repertório: Camilo Castelo 
Branco – Coração, cabeça e 
estômago. 
 
Do repertório: José 
Saramago – História do 
Cerco de Lisboa 
 
 
2020 Érico Veríssimo – 
Caminhos Cruzados 
Guimarães Rosa – 
Sagarana 
Júlia de Almeida – A 
falência 
José Saramago – História 
do Cerco de Lisboa 
 
 
José Saramago – História do 
Cerco de Lisboa 
Érico Veríssimo – Caminhos 
Cruzados (questão 
interdisciplinar com Artes 
Plásticas: Tarsila do Amaral – A 
negra) 
 
 
 
Júlia de Almeida – A 
falência 
 
2021 Júlia de Almeida – A 
falência 
José Saramago – História 
do Cerco de Lisboa 
Raul Pompéia – O 
ateneu 
 
 
Júlia de Almeida – A falência (1ª 
aplicação) 
Júlia de Almeida – A falência (2ª 
aplicação) 
 
 
 
Júlia de Almeida – A 
falência 
2022 Júlia de Almeida – A 
falência 
Raul Pompéia – O 
ateneu 
Paulina Chiziane: – 
Niketche: uma história 
de poligamia 
 
 
? 
 
 
? 
 
 
 
 
 
 
Em relação à Júlia de Almeida, ela caiu pela primeira vez em 2020 e continuará sendo cobrada até 
2023. Foi a única cobrança de romance na 1ª fase em 2021, tanto na primeira aplicação quanto na 
segunda, e também na 2ª fase. 
Podemos perceber que desde 2016 a UNICAMP já tem um perfil de cobrança de literatura 
internacional, cobrando literaturas de língua portuguesa e africana em Língua Portuguesa. 
Além disso, diferentemente da cobrança de lírica, em relação aos romances apenas caiu o que foi 
cobrado no repertório obrigatório nesses anos triados. 
 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 8 
03. A FALÊNCIA 
 
Pré-leitura 
• ENQUADRAMENTO. A falência é um livro que foi escrito em um momento de transição: virada do 
século XIX e início do século XX. Por isso mesmo e por sua temática, Por isso mesmo e por sua 
temática, o seu enquadramento se torna incerto, uma vez que foi escrito no período 
correspondente ao movimento literário do Realismo – tendo o texto inclusive algumas de suas 
características como a denúncia social, o psicologismo e a verossimilhança –, mas foi publicado no 
período da segunda geração do movimento Pré-Modernista, movimento formal e objetivo com o 
qual ela não chega a se relacionar. Outro movimento presente nas características, como 
representação do torpe, grotesco e a animalização, é o Naturalismo. 
 
• RELAÇÕES DE GÊNERO. A falência é um livro que foi escrito por uma mulher, numa época em que 
mulheres raramente escreviam. Júlia de Almeida tinha talento, mas foi obscurecida pelo trabalho 
de seu marido. Logo, suas obras constantemente costumam problematizar relações entre homens 
e mulheres, seus comportamentos e seus respectivos tratamentos na sociedade. 
 
• DESIGUALDADE SOCIAL. Além da desigualdade entre os gêneros, há claramente desigualdade 
social, na diferença entre a vida que levam os patrões e os criados. Isso é resquício das práticas 
colonialistas no Brasil, e fator remanescente até os dias de hoje. A discriminação social perpassa 
também a de raça e a de classe. 
 
• METALINGUAGEM. A própria Camila lê romances fin de siècle, os quais fazem-na pensar na sua 
própria situação de adultério com doutor Gervásio. Ela não é uma personagem muito inteligente, 
mas ainda assim é capaz de identificar a desigualdade entre os gêneros e se sente injustiçada: os 
homens traem mais que as mulheres e são elas que são julgadas. 
 
 
Quadro de personagens 
 
Francisco Theodoro 
Português, ambicioso comerciante, já muito rico, mas cegado com 
exagerada ambição. Casado com Camila, mas já fora infiel a ela. Vive 
unicamente para odiar e tentar superar o seu arquirrival: Gama Torres. 
Ele é um workaholic (viciado em trabalho). 
Camila 
“As Gomes acharam-na muito bonita e, intimamente, espantavam-se de 
não verem nela o menor sinal de decadência. Aquela pele alva e macia, 
aqueles cabelos negros sem um fio branco, aqueles dentes perfeitos e 
brilhantes, sem um toque sequer de ouro que atestasse a passagem dos 
anos e das mãos dos dentistas, faziam-na parecer sempre a mesma 
Camila dos tempos da Lapa, em que d. Inácia a conhecera”. No início, não 
amava o marido, mas começou a amá-lo com o tempo. Tinha um 
relacionamento adúltero com o doutor Gervásio. 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 9 
 
 
 
Mário 
Primogênito, mimado, mantinha relações com uma francesa que o 
extorquia e era reprimido pelos pais e pela sociedade. Porém, 
extremamente astucioso, sabe virar as situações a seu favor e a 
manipular. Acaba por se casar com Paquita, com quem vai para a Europa 
e até o final vive influenciando as escolhas da mãe. 
Ruth 
Outra filha do casal Francisco e Camila. Ela é diferenciada,sonhadora, 
gosta de estrelas e de subir em árvores, hábito pelo que é criticada, por 
isso não ser “coisas de mulher”. Gosta de tocar o violino e tem talento 
para isso. Idealista, porém, ao final, vive com um pé na realidade e acaba 
por dar aulas de música. 
Raquel e Lia 
Irmãs gêmeas e com nomes bíblicos; vivem na barra da saia da mãe, 
procurando por ela, interrompendo-a no seu relacionamento com doutor 
Gervásio, não se sabe se intencionalmente, conscientemente ou não. 
Têm 6 anos e são muito apegadas à mãe. Têm nomes bíblicos: duas 
esposas do patriarca Jacó, sendo que Raquel é a esposa bonita, amada e 
privilegiada, ao passo que Lia é vesga e preterida. 
Nina 
Filha bastarda de Joca, irmão desviado de Camila. Era criada junto aos 
filhos, tinha 10 anos e já era como se fosse uma criada, uma copeira da 
família. Amava o primo Mário, com quem queria casada, mas era 
preterida e desprezada por ele e sofria por isso. Muito dedicada, mas 
também submissa – entendida que vivia para sofrer. 
Doutor Gervásio 
Médico de meia idade que frequentava a casa e mantinha um 
relacionamento adúltero com Camila. Não se sabe a procedência dele e 
o motivo pelo qual ele nunca se casara. Na realidade, ao fim se descobre 
que ele já era casado, mas, a mulher – ao descobrir sobre o adultério – 
não consentia que eles se divorciassem, mantendo-o preso. 
Capitão Rino 
Ele e a irmã Catarina comandam o navio Netuno e ele está apaixonado 
por Camila. No entanto, nunca chega a tomar nenhuma atitude, pois é 
muito tímido. Após uma viagem aos Estados Unidos, volta mais malicioso 
e acaba por perder o interesse por Camila. 
Noca e Dionísio 
Empregados da casa. “Noca tinha ascendência sobre a criadagem, que a 
tratava por dona. Mesmo entre os brancos a palavra da sua experiência 
era ouvida com acatamento. Ela era a mulher desembaraçada, a doceira 
dos grandes dias de festa, a única das engomadeiras capaz de satisfazer 
as impertinências do dono da casa; ninguém sabia como a Noca preparar 
um remédio, um suadouro, (...) nem tão bem escolher o peixe, preparar 
um pudim ou vestir uma criança” (LOPES, 2018, p. 75-76). 
 
 
Outras personagens 
• Tias Rodrigues: dona Joana e dona Itelvina, junto com a sua criada negra Sancha, “sempre de olhos 
inchados e a roupa em frangalhos” (ALMEIDA, 2018, p. 116). 
• João Ramos, Lemos, Negreiros e Inocêncio Braga: colegas de Francisco Theodoro. Inocêncio 
inclusive queria se tornar uma espécie de sócio, mas o responsável por levá-lo à falência. 
 
 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 10 
 
3.1 RESUMO ANALÍTICO 
O romance A falência começa com uma descrição da cidade do Rio de Janeiro no final do século 
XIX/início do século XX. No capítulo I, os aspectos marcantes eram a mecanização e a mistura de raças 
trabalhando no comércio de café: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Uma mistura de pessoas, raças e cores desenham um projeto nacional: a identidade brasileira 
mestiça e uma força-tarefa em relação ao trabalho que erguerá a economia do Brasil. 
Mais um elemento que pode ser destacado é a adjetivação. Apenas nesse trecho, podemos 
destacar: “ameaçador”, “brutas”, “compacto e esbaforido”, “fantástica”, “cabeludos”, “sujo”, 
“reluzentes” e “esbugalhados”. 
O excesso de descrição aproxima o estilo da obra ao movimento literário do Naturalismo. Outra 
característica que contribui com essa aproximação é a animalização: “Os carregadores serpeavam por 
meio de tudo aquilo, como formigas em correição, com a cabeça vergada ao peso da saca, roçando o 
corpo latejante nas ancas lustrosas dos burros” (ALMEIDA, 2018, p. 5, grifo meu). 
A vida do trabalhador era mecânica, assim como os meios de transporte haviam se mecanizado: o 
movimento do bonde e o seu frenesi se equiparam ao ritmo alucinado de trabalho. Tudo funcionava como 
se fosse uma máquina. 
Pode ser mencionado igualmente como um fator marcante a ordem inversa das sentenças, como 
é o caso em “À porta do armazém de Francisco Teodoro era nesse dia grande o movimento”. 
 
 Adjunto adverbial verbo adj. adv. predicativo sujeito 
 
 Nesse sentido, o livro começa essencialmente descritivo, pois se trata de um capítulo sobre a 
descrição do armazém de Francisco Theodoro e do trabalho que se desenvolvia ali. A rua é 
personificada, nela há vida própria: “Tudo era feito numa urgência, obrigada a grande movimento” 
(ALMEIDA, 2018, p. 7). 
 Há uma importante distinção entre as pessoas que se debatiam com o trabalho braçal e aquelas 
a quem era dedicado o trabalho silencioso. Isso era indicativo de uma diferença de classe. 
 
 
 
Entre o fragor das ferragens sacudidas, o giro 
ameaçador das rodas e os corcovos de animais 
contidos por mãos brutas, o povo negrejava suando, 
compacto e esbaforido. (...) 
E os carregadores vinham, sucedendo-se com uma 
pressa fantástica, atirar as sacas para o fundo do 
caminhão, levantando no baque nuvens de pó que os 
envolvia. Uns eram brancos, de peitos cabeludos mal 
cobertos pela camisa de meia enrugada de algodão 
sujo: outros negros, nus da cintura para cima, 
reluzentes de suor, com olhos esbugalhados. 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 11 
 
 
 
 
 
 
 
(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2019) 
 
 Em uma sala ampla, quadrada, de madeiras velhas e papel barato, o Senra, guarda-livros, escrevia 
em pé, junto à escrivaninha colocado ao centro. Em outra carteira trabalhavam mais dois ajudantes, 
um velho, o Mota, de sorriso amável e modos submissos; e o outro, um moço bilioso de barbinhas 
pretas, mal plantadas em um queixo quadrado. 
 Nessa sala o trabalho era silencioso. As penas não paravam, mal dando tempo às mãos para folhearem 
os livros e as diversas papeladas. Diziam-se frases sem se levantar os olhos da escrita, e as perguntas 
eram apenas respondidas por monossílabos. 
 Júlia Lopes de Almeida. A falência. 
 
O trecho acima integra uma descrição sobre 
a) os personagens que trabalham no armazém de Francisco Theodoro, nas suas atividades cotidianas, 
diferenciadas pela classe e pela desigualdade social. 
b) o protagonista Senra, o qual, embora rico proprietário de terras e administrador geral, fazia questão 
igualmente de realizar o trabalho braçal. 
c) a mulher do protagonista, Catarina, que representa uma mulher à frente de seu tempo, empoderada 
e trabalhadora, ajudando o marido no armazém. 
d) a experiência amorosa de Camila com o doutor Gervásio, referente ao relacionamento adúltero 
entre os dois. 
Comentários 
 A inspiração para a elaboração dessa questão foi a cobrança de romance (no caso Coração, 
cabeça e estômago do romântico Camilo Castelo Branco) da prova UNICAMP-2019. 
 Atenção: a prova da UNICAMP tem a tendência de cobrar verificação de leitura e essa questão é 
um típico caso dessa cobrança. Era preciso conhecer personagens e seus respectivos nomes, de modo 
a acertar na análise. 
 Alternativa A: correta – gabarito. No caso, há uma descrição de tipos de trabalhos diferentes: o 
trabalho braçal fora descrito anteriormente e no trecho em questão se aborda o trabalho intelectual, 
de contadores e administradores, realizado em escritório e em silêncio. O trabalho silencioso era uma 
vantagem de classe, se comparado ao trabalho barulhento da rua. 
Alternativa B: incorreta. Senra é uma personagem apenas secundária, um dos exemplos dos tipos 
que trabalhavam no escritório. Porém, o protagonista do livro é Francisco Theodoro, dono do 
armazém, ambicioso e avaro que jamais se prestaria ao trabalho braçal por orgulho. 
 Alternativa C: incorreta. Não há personagens femininas nesse trecho, embora elas sejam 
importantes no romance como um todo, por abordarem a problematização da representação da 
mulher. Catarina, é sim, uma mulher empoderada, leitora e defensorado voto feminino; porém, ela é 
irmã do capitão Rino. A esposa do protagonista é Camila. Além disso, Catarina não é trabalhadora no 
armazém – ela ajuda o irmão a cuidar da embarcação Netuno e cuida de um jardim. 
 Alternativa D: incorreta. Cuidado: a informação está correta, mas ela não se aplica ao trecho em 
questão. 
Gabarito: A. 
 
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 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 12 
 Quando conhecemos o gabinete de Francisco Theodoro, conhecemos um homem metódico, 
preocupado com seu trabalho, cheio de suas manias, um escritório cheio dos seus detalhes e preocupado 
em transparecer a sua hierarquia. São essas as características de sua personalidade. 
 Logo adentram no recinto seus colegas: João Ramos, Lemos, Negriros e Inocêncio Braga. Entre eles 
se trava uma conversa, tornam-se claros alguns valores da época, como o movimento monarquista – a 
defesa e a manifestação da preferência pela Monarquia em detrimento da República. 
Conversam sobre Gama Torres, personagem que não aparece no romance presencialmente, 
apenas por conversas, para atiçar o ódio, a raiva e o ciúmes de Francisco Theodoro. Esse sentimento – 
real ou apenas imaginário, virtual – é o que irá consumi-lo, o verdadeiro motivo por levá-lo à ruína. 
Sobre Gama Torres, conversam que ele leva jeito para negócios, que merece tudo o que 
conquistou. Há um debate atual sobre meritocracia. 
 
 
 
 
 
 O fato é que ninguém ascende do nada. Francisco Theodoro está argumentando que Gama Torres 
só cresceu por causa da ajuda do sogro, naturalmente. Porém, os colegas insistem em elogiá-lo e a chamá-
lo de “o nosso Rotschild”, isto é, o Rotschild brasileiro. Há aí uma alusão à família judia que se destacou 
no modo de produção do capitalismo. 
Naquele meio, predomina a fofoca, como meio de transmissão das informações e notícias de uma 
família a outra. Consiste na prática de falar dos outros pelas suas costas. Além disso, percebe-se em seus 
costumes o eurocentrismo – a preferência por coisas europeias: “– E uma inteligência superior! [em 
relação a Gama Torres] suspirou o Ramos, esticando com ambas as mãos o colete sobre a barriga 
arredondada. Depois, refestelando-se no sofazinho austríaco, teve uma ponta de censura para as coisas 
desta terra: o governo era fraco, o povo indisciplinado. a cidade infecta” (ALMEIDA, 2018, p. 10). 
 Sobre os colegas reunidos ali, eram tipos preocupados com status, com prestígio social, que 
valorizavam tudo o que era exterior em relação ao que era brasileiro, a não ser que rendesse lucro, como 
o café. Aí, então de repente se tornavam nacionalistas. 
 A desigualdade de classe/raça se verifica nos detalhes, como o ponto de vista: para Francisco 
Theodoro, observando seus empregados, a canção que cantavam era bonita: “Francisco Teodoro 
demorou-se um bocado na área vendo ensacar. Passou-lhe pela lembrança o tempo dos escravos, quando 
esse trabalho era exclusivamente feito pelos negros de nação, com a sua cantilena triste, de africanos. Era 
mais bonito” (ALMEIDA, 2018, p. 13). 
 
 
• Predomínio numa sociedade, organização, 
grupo, ocupação etc. daqueles que têm mais 
méritos (os mais trabalhadores, mais 
dedicados, mais bem dotados 
intelectualmente etc.); classe ou grupo de 
líderes num sistema desse tipo; sistema de 
recompensa e/ou promoção (p.ex., num 
emprego) fundamentado no mérito pessoal 
(dicionário Houaiss).
Meritocracia
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 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 13 
 No capítulo II, Francisco Theodoro passa por um trabalho de rememoração, que não deixa de ser 
um trabalho intelectual: ele relembra a sua infância, como viera superambicioso para o Brasil. Tudo o que 
ele pensa é no sentido de glorificar as suas ações: ele se sente muito digno do cargo que conquistou, julga-
se merecedor. Sabemos que a sua história de fato foi dura e sofrida (na realidade, obcecada); ainda assim, 
só conhecemos o seu lado da história, o que nos faz desconfiar um pouco do exagero do seu relato. 
Precisamos ficar um pouco com a pulga atrás da orelha. 
 
 
 
 Isso acontece porque o narrador se utiliza de um procedimento comum aos romances da época: 
o discurso indireto livre – isto é, um procedimento estilístico no qual é permitido entrar na cabeça do 
personagem e revelar seus pensamentos a partir daí. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Discurso indireto livre 
 “Além da variedade de discursos diretos e indiretos, a narrativa de ficção, a partir das 
últimas décadas do século XIX, utiliza um tipo de discurso que consiste na combinação dos já 
existentes, misturando valores estilísticos de um e de outro: é o discurso indireto livre, que 
recebeu denominações diversas dos autores que o estudaram (discurso velado, direto 
impropriamente dito, discurso vivido). 
 (...) O discurso indireto livre, em muitos casos, não deixa claro quem está com a palavra, se 
o narrador ou a personagem. O que permite distinguir é estar sendo relatado o pensamento da 
personagem, o qual é dela e não do narrador; por mais que este com ela se identifique. Este tipo 
de discurso tem, portanto, um cunho acentuadamente psicológico, daí a sua voga no romance 
realista que pretendia apresentar com maior profundidade o mundo interior das suas criaturas: 
seus estados emotivos, devaneios, reflexões, perturbações alucinatórias, autoanálise etc. O 
narrador podia ficar por trás delas, em atitude neutra ou irônica”. 
Fonte: MARTINS, 2011, p. 251, grifos meus. 
 
 
 Assim, Francisco Theodoro pensava em como a sua infância fora ruim e em como ele não ia querer 
aquilo para filho seu. Para ele, é muito importante a projeção: filho seu iria continuar a obra de seu 
trabalho, seria esse o grande legado de sua vida. 
 Claro, se o seu filho fosse homem, porque o trabalho só é digno ou bom para os homens manterem 
as mulheres segundo a sua opinião. 
 
 
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 Isso é uma reflexão que ocorre quando o amigo Mattos o levara para conhecer uma moça, filha de 
dona Emília e irmã de Sofia. A moça se chama Camila e irá se tornar a futura esposa dele. Antes de se 
casarem, ela era uma moça pobre e cosia para ajudar a família. Inclusive, morava na favela: morro do 
Castelo. Foi nessa cena que ele a surpreende e logo se apaixona pela beleza dela. 
 Depois de se casarem, a família dela parte para o Sergipe. Eles se mudam para a rua da Candelária, 
porém, um lugar onde Camila claramente não estava satisfeita: ela se queixava que não tinha vista para 
o mar. Se ela não estava satisfeita, ele tampouco: ele lhe era infiel com uma mulher que só conhecemos 
o nome: Sidônia. 
 Então, há um salto temporal: já vemos o casal em sua nova casa, um palacete no Botafogo, com 
sua família completa: o primogênito privilegiado Mário, a filha idealista e violinista, Ruth, e as gêmeas 
com nome bíblico – Raquel e Lia. Há mais um elemento também: um irmão de Camila – Joca – era um 
boêmio que tivera uma filha bastarda, Nina, a qual morava no casarão também e não era bem tratada 
como se fosse da família, mas sim como se fosse uma criada. 
 Nessa cena doméstica, conhecemos o amante de Camila – doutor Gervásio. Após de curar Ruth 
quando ela teve tifo na infância, a família se torna eternamente grata a ele, recebendo-o sempre em sua 
família. Camila torna-se grata até demais, e começa a manter com ele relacionamento adúltero, embora 
seu marido tenha a traído antes mesmo de ela o trair. 
Gervásio então é descrito assim: “Era um homem magro, nervoso, de quarenta e três anos, 
trigueiro, e apurado na toilette. Era ligeiramente calvo, tinha um olhar de que as lentes de míope não 
atenuavam a agudeza, e um sorrizinho irônico, que lhe mostrava os dentes claros e miúdos como os dos 
roedores” (ALMEIDA, 2018, p. 19). 
E as contradições são evidentes: no palacete,há o capitão Rino, um tipo rude e tímido que estava 
apaixonado por Camila, mas não era correspondente por ela. Ele se contrasta com o marido dela, porque 
ele se interessa por música e Francisco Theodoro não. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Francisco Teodoro comoveu-se com a ideia de 
que aquela mulher, talhada para rainha, passasse os 
dias a picar os dedos na agulha ou a calejar as mãos 
com o uso da vassoura ou do ferro. 
Trabalhar! trabalhar é bom para os homens, de 
pele endurecida e alma feita de coragem. Olhou para a 
moça com veneração. 
 
 Só o capitão Rino parecia escutar a música, olhando 
de esguelha para Camila. Abominava a confiança que 
ela dava ao outro, ao magro dr. Gervásio, ali tão 
agarrado às suas saias, dizendo-lhe coisas que a faziam 
sorrir. Tudo naquele homem o irritava: o seu luxo, o 
seu tipo escanifrado e o seu ar de ironia, às vezes 
perversa. outras insulsa* [insossa]. 
 Francisco Teodoro, nunca interessado por coisas de 
arte, nem mesmo pela música, quebrava amiúde as 
reflexões do capitão Rino, interrogando-o sobre 
assuntos do Norte, de puro interesse comercial. 
 
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O arsênio (elemento químico cuja sigla é As) é diferente do arsênico, 
um composto química cuja fórmula é As2O3. Este último era utilizado 
como veneno, proporcionando uma morte lenta. Era usado em 
assasssinatos, pois antigamente era difícil rastrear os seus vestígios. 
Porém, no caso, é ambíguo o seu uso: não sabemos se Sancha queria 
envenenar suas patroas ou se envenenar. 
 
 
 
 
 
 
Não só capitão Rino, mas também doutor Gervásio se interessava pelas artes e pela mitologia. O doutor 
Gervásio é aquele que acumula as funções de literato, filósofo e médico. 
 Outra personagem interessante é Noca. Ela é uma criada mulata que manifesta muitas crenças 
populares: “Sonhar com morte é sinal de saúde.” (ALMEIDA, 2018, p. 25). 
 Enquanto isso, o primogênito privilegiado Mário continuava sendo mimado. A ele são dispendidos 
luxos que as irmãs não tinham. Mesmo com 19 anos, todo mundo o desculpava, acreditava que ela ainda 
“se endireitaria” e enfim ocuparia o tão sonhado lugar destinado a ele na família. Porém, o fato é que ele 
não está nem aí para isso e frustra as opiniões gerais: ele se envolve com uma francesa que o extorque e 
consome o dinheiro da família. Ele dá desculpas, diz que vai ao teatro, não comparece às refeições de 
família e logo foge para estar com ela. 
 No capítulo III, aparecem mais personagens: são as senhoras Rodrigues, uma muito religiosa e 
outra muito severa, que são obrigadas a viver juntas, porque não se casaram. São velhas avaras, mas são 
parentes da família, e de vez em quando são visitadas. 
Morrem de inveja de Camila e não perdem oportunidade para criticá-la, como por exemplo, dona 
Itelvina: “Tanta gente com fome e tanto dinheiro esperdiçado em vestidos de crianças! Mila teve sempre 
propensão para o desperdício... Bonitos aqueles vestidos! onde os compraram?” Ou seja, trata-se de uma 
riqueza que não causa só inveja, mas indignação. Mas o fato é que Camila também ascendera do nada, 
mas ela pôde contar com a sorte de um casamento, algo o que as velhas não tiveram. E, naturalmente, o 
destino e o sucesso da mulher daquela época dependiam diretamente de um bom casamento. As 
senhoras ainda criticam que Camila não vai na igreja. Em suma, que Camila não leve por vontade própria 
a vida que elas foram obrigadas a ter. 
 Nesse meio termo, conhecemos Sancha, uma criada negra, muito mirrada, dessas velhas e muito 
maltratada. Ela pede para que Noca, uma criada que fora visitá-las, compre arsênico para ela. 
 
 
 
 
 
 
 
A UNICAMP pode cobrar questões interdisciplinares, pois é este o perfil da banca. Na primeira fase de 
2019, foi cobrado um poema chamado “Lágrima de preta” do poeta português António Gedeão, 
relacionando Literatura e Química. 
Sobre personagens melindradas, Nina era uma agregada que vivia na casa quase que de favor, não 
fazendo parte diretamente da família, mas da vida boêmia de um irmão ausente de Camila, Joca. No 
entanto, ela é perspicaz e nota coisas na família que outros parecem não ver, como, por exemplo, o 
adultério de Camila com doutor Gervásio e que o primo Mário não quer se casar com ele. Esse fato, aliás, 
faz a moça sofrer muito e se sentir indigna. 
 Narra-se como Camila começou o adultério com doutor Gervásio. Lógico que o envolvimento seria 
diferente entre homem e mulher. 
 
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A discussão sobre o machismo faz parte de atualidades. Segundo 
o Houaiss, machismo é exagerado senso de orgulho masculino; 
virilidade agressiva; comportamento que tende a negar à mulher 
a extensão de prerrogativas ou direitos do homem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota-se primeiramente ironia na pontuação: as reticências deixam no ar algo que não foi 
pronunciado, foi velado pelo adultério, omitem o que verdadeiramente houve na relação. Percebe-se 
também que este doutor Gervásio é um tanto quanto presunçoso; esnobava Camila no início para depois 
fazê-la sucumbir ele. Trata a mulher como se fosse obra dele, como se ele a houvesse criado e ela não 
pudesse se formar por si própria ou mudar de gostos por si própria. 
Os homens da vida de Camila tendem a ser machistas, isto é, conservadores e tradicionalistas. Isso 
se tornar claro por meio de suas falas e comportamentos. Camila parece tender a se atrair por homens 
assim. Essa é uma colocação de seu marido, Francisco Theodoro: “ Sei, sei... a vida foi feita para as 
mulheres. E ainda elas se queixam! Só se fala por aí em emancipação e outras patranhas... A mulher 
nasceu para mãe de família. O lar é o seu altar; deslocada dele não vale nada!” (ALMEIDA, 2018, p. 37). 
 
 
 
 
 
 
 O tratamento das filhas é diferenciado em relação ao de Mário. Enquanto ele era irrefreável – 
fazia o que quisesse, mesmo que a família o reprovasse – as filhas deveriam ter uma educação pudica e 
formal. Ruth é educadas nas artes; porém, ela gosta de subir em árvores, pelo que é criticada (“isso não 
é coisa de mulher”). Ela gostaria de ser pirata, se fosse homem. E não tem medo de expor essas suas 
opiniões à família, ainda que riam dela e não a levem a sério. Ela é diferenciada e curiosa: mesmo 
jovem, constituiu um tipo de perfil de mulher diferente ao da época. 
 
A entrada fora vitoriosa; justificava o ascendente do 
médico na família... Nem fora no começo, que ele amara 
a Camila. Nesse tempo ela não sabia ataviar-se, nem 
fazer sentir a sua formosura. Tinha os modos de uma 
boa mãe tranquila, muito banal, com discursos longos e 
choradeiras sobre a morte muito recente de uma 
filhinha, que a tornavam fastidiosa. As gêmeas, então de 
meses, andavam sempre pendentes do paletó branco da 
mãe. Gervásio odiava aqueles casacos e aquelas 
queixumeiras insípidas. Mas esse tempo de prostração 
foi passando, e ela ascendeu pouco a pouco, 
vagarosamente, para a formosura e para a graça. A 
evolução não foi rápida, mas refletida e suave, como 
impelida por sopros delicados. Quando o médico 
percebeu quanto Camila mudava, e que essa 
transformação lenta e visível se fazia ao influxo dos seus 
gostos, da sua convivência e do seu espírito, começou a 
observá-la com redobrada atenção, cultivando o prazer 
de a tornar outra, como que uma obra sua. 
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Outra obra do repertório obrigatório da UNICAMP 
2022 que cobra a temática da favela (comunidade): 
Sobrevivendo no Inferno dos Racionais MC’s 
 
 
 
 
 No capítulo IV, o doutor é Gervásio é chamado por Francisco Theodoro para tratar de uma 
enfermidade em seu colega, o velho Motta. Se Francisco Theodoro desconfia da traição,ao menos não 
aparenta. A relação entre eles se baseia basicamente na troca de favores. 
 Um empregado, Ribas, é encarregado de acompanhar Gervásio até a casa do tal senhor doente. 
Há uma importante descrição do ambiente: a favela: uma cidade dentro da sua cidade, com suas leis, 
seu comércio, pois, afinal, ela também participa da economia. 
 
 
 
 
 
 
 
CENA DE LIVRO 
 
"Num banquinho de pau, e toda derreada sobre os joelhos, uma baiana de ombros roliços e 
dentes sãos vendia gergelim, mendubi, batata doce e tangerinas aos marinheiros chegados essa 
manhã do Norte. Pelo grande portão em arco, viam-se lá dentro das docas os caminhões 
seguirem pelos trilhos para o cais, e as galerias em cima, por cujas rampas as sacas, apenas 
impelidas, desciam vertiginosamente. (...) 
 Aquela rua Funda, subindo estreita pela encosta do morro da Conceição, ladeada de casas 
de altura desigual, de onde em varais espetados pendiam roupas brancas recentemente lavadas, 
desenhando-se negra no fundo muito azul do céu, lembrava-lhe uma viela de Nápoles velha, 
onde o pitoresco não é por certo maior, e de que ele tinha uma aquarela em casa". (ALMEIDA, 
2018, p. 46-47). 
 
 
 
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 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 18 
Como numa obra naturalista, há nivelamento sociológico: doutor Gervásio, considerando-se 
superior em relação àquele meio no qual está passando, o tempo inteiro olha e julga tudo a seu redor 
como baixo, grotesco, torpe e degradante. Logo, notamos a partir de suas colocações que ele não cursou 
Medicina por amor ou vocação, mas puramente por status, pois trata o Motta e sua família com descaso, 
desprezo e repugnância. 
 E é quando acontece um baque na sua realidade: ele encontra com uma das senhoras Rodrigues, 
dona Joana, que o acusa de adultério, revela o seu segredo e o faz pensar em si mais do que no ambiente. 
Há o movimento do objetivo rumo ao subjetivo. 
 
 
 
 
 
 
 
(Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2019) 
 
 – Sim, vá falando e não me olhe com esses olhos de motejo. Pensa que eu não sei de tudo? O 
único cego ali é o pobre do marido, que não merecia que lhe fizessem isso. Eu estou cá no meu canto, 
mas sei do que se passa, e toda a gente sabe, infelizmente... Não é por falta de eu pedir a Nossa 
Senhora do Rosário, minha madrinha... mas os pecados vêem-se, saltam aos olhos até. Já me 
aconselhei com o padre Mendes, sem dizer de quem se tratava, está claro, e pedi-lhe que rezasse para 
que isso acabasse em bem... Ele é um sacerdote, deve ser atendido... enquanto que eu, pobre 
pecadora... 
 – Mas a senhora está louca, d. Joana?! balbuciou o médico, mal disfarçando a sua ira; não a 
entendo! 
Júlia Lopes de Almeida. A falência. 
 
Essa crise, que transforma a relação da personagem com o mundo, 
a) nasce do colapso sofrido quando o marido de sua amante, o comerciante Francisco Theodoro, 
descobre a traição da mulher. 
b) revela o conflito vivido por dona Joana, a qual inveja Camila, uma vez que a senhora estava 
apaixonada por doutor Gervásio, mas sentia que a outra o roubava dela. 
c) constitui, para a personagem, um choque profundo com a realidade, que o faz direcionar a sua 
atenção do mundo exterior para o interior e revisar suas próprias ações. 
d) remete ao desequilíbrio experenciado entre homens e mulheres, já que um dos temas centrais 
desse romance é justamente o machismo. 
Comentários 
 A inspiração para a elaboração do comando dessa questão, bem como de suas alternativas, foi a 
prova UNICAMP-2017. Consiste numa questão de verificação de leitura, mas na qual convém prestar 
atenção aos verbos da alternativa. 
 Alternativa A: incorreta. Francisco Theodoro, se sabe da traição, não aparenta isso exteriormente. 
Ou acoberta as suas suspeitas muito bem ou parece não se importar. É um sujeito que vive para o 
trabalho e pouco se importa afetivamente com a própria família, até mesmo com a mulher. Parece 
verdadeiramente indiferente, apático, que não se importa. 
 Alternativa B: incorreta. Dona Joana é uma senhora que inveja a riqueza de Camila, sua abundância 
e sua extravagância em contraste com a sua própria pobreza, e não os relacionamentos dela. 
 Alternativa C: correta – gabarito. Gervásio caminhava na rua de uma comunidade (favela) junto 
com Ribas que lhe mostrava o caminho da casa de Motta, um enfermo que ele deveria tratar. Gervásio 
percorre o ambiente o julgando o tempo inteiro e se sentindo superior. A sua arrogância é abalada 
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com a chegada da personagem dona Joana, cuja presença o incomoda, pois ela o revela o seu segredo 
na sua cara – seu relacionamento adúltero com Camila. Isto é, se ela sabia, outros poderiam sabê-lo 
também. Dúvidas e questionamentos o consomem, de modo que ele se vê obrigado a repensar suas 
ações e seus comportamentos em público. 
 Alternativa D: incorreta. Cuidado: o machismo é sim, um dos temas do romance, e ele é 
importante, mas a sua abordagem é sutil, periférica, não chegando a ser exatamente central. Ainda 
que haja uma alusão ao machismo nessa parte, ela não está presente nesse trecho explícita, mas sim 
um pouco depois dele. Doutor Gervásio medita que uma exposição de um adultério, desde que ele 
seja consumado com uma mulher linda e desejada, é favorável ao homem (seria sempre danoso à 
mulher). Em sua juventude, ele até gostaria de tal exposição; mas em sua idade isto o incomodava e o 
fazia refletir. 
 
Gabarito: C. 
 
 
 No capítulo V, a criada Noca vai chamar a atenção de Mário, pois ele está dando sérios desgostos 
para a família. A mãe tenta chamar a atenção de Mário, mas em vão; ele sabe como dissuadi-la e 
manipulá-la. Sabe de seu adultério com doutor Gervásio e é com essa arma que ele joga. No fim, consiste 
numa família rica, mas envolvida em relacionamentos afetivos malogrados. Mário consegue machucar a 
mãe e Camila tem a sua consciência dilacerada: a de uma mulher que viveu para o filho e não para si. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Então, seguem as suas lamentações, a sua vitimização (queria ser surda), porém o fato foi que ela 
mesma criara aquela situação, por meio de sua tendência de mimar Mário – primogênito, amado, querido, 
esperado, desculpado mesmo quando faz bobagem. Assim, ele cresceu com um comportamento 
insolente e arrogante, apesar do qual todo mundo continua o amando e admirando. 
 Noca, criada também despeitada por Mário, gosta dele desde a infância e o acha muito bonito. A 
prima Nina alimenta sonhos de se casar com ele. Seu amor não é correspondido, pois Mário a despreza, 
inclusive a maltrata, desde criança, pois batia nela com chicote. A família acha tudo normal, natural e 
 
 Mário recomeçou a passear, com as mãos nos 
bolsos, a cabeça baixa. Camila, ainda na poltrona, 
com as costas para a janela, os cotovelos fincados nos 
joelhos e o queixo nas mãos, procurava uma palavra 
com que pudesse convencer o filho da sua inocência. 
Tudo lhe parecia preferível àquela humilhação. Daria 
a luz dos seus olhos, - ah, antes ela fosse cega! para 
que Mário a julgasse pura, muito digna de todo o 
respeito das filhas, muito honesta, toda de seu 
marido e das suas crianças... Compreendia bem que 
o sentimento e a imaginação nas mulheres só servem 
para a dor. Colhem rosas as insensíveis, que vivem 
eternamente na doce paz; para as outras há pedras, 
duras como aquelas palavras do seu filho adorado. 
Antes ela fora surda: não as teria ouvido! 
 
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sempre o desculpa, dizendo que “é a mocidade”. Como se a crueldade pudesse ser algo da juventude 
somente, e não do caráter. 
 No capítulo VI, há uma cena importante: a família irá almoçar na embarcaçãoNetuno (seguem 
para lá na lancha Aurora). Trata-se do negócio que capitão Rino administra junto à sua irmã, Catarina, que 
acabam conhecendo nesse passeio. 
 A conversa é acirrada: enquanto Francisco Theodoro se mostra eurocêntrico, capitão Rino defende 
que o brasileiro é bom. Há um momento de intertextualidade (diálogo com outras obras): doutor 
Gervásio nota na embarcação uma série de livros, uma verdadeira biblioteca: Virgílio, Homero, Dante, 
Camões, Gonçalves Dias, Shakespeare. Olha para tudo aquilo sem entender, pois sempre julgara Rino 
inferior, isto é, um bruto iletrado. É citado um verso de uma dessas obras El Cid, herói espanhol do século 
XI que lutou contra os árabes: “L’amour n’est q’um plaisir, l’honour est um devoir” (o amor é apenas um 
prazer, a honra é um dever). 
 Catarina, a irmã do capitão Rino, é a única mulher na mesa que conversa, isto é, toma parte na 
conversa. Fala de sua origem, cuja bisavó era dinamarquesa, o que explica seus cabelos loiros e os de seu 
irmão. Porém, fala que se sente muito brasileira e aí há a problematização da identidade nacional, fruto 
de uma mestiçagem de imigrantes dos mais variados. 
 Nesse episódio, o adultério de Camila torna-se claro aos olhos do capitão Rino e de sua irmã, por 
causa dos gestos e comportamentos – o médico se revela ciumento em relação à Camila, pois percebe 
que Rino está apaixonado por ela e tentando se aproximar dela. 
 Nesse dia, a conversa também permeia a política. É claro que Francisco Theodoro irá defender um 
sistema de governo como o Monarquismo e atacar diretamente a República. Fora Catarina, nenhuma 
mulher participa do debate, como se a palavra fosse de exclusividade masculina. 
 A conversa caminha até mesmo rumo aos direitos das mulheres – Catarina é a favor da 
emancipação das mulheres, acredita que elas devem votarem se quiserem. Francisco Theodoro se mostra 
um conservador, e sua mulher ainda concorda. Daí percebemos que a sua submissão tem um pé na 
ignorância e que toda aquela biblioteca – afinal – poderia ser na verdade de Catarina, mulher que vai se 
revelando extremamente inteligente. 
 
 
 
 
 
 
 
CENA DE LIVRO 
 
 “A mesa, sentaram-se, ao acaso, à exceção de Camila e do marido, a quem o capitão 
designou lugares. O médico escolheu assento entre Catarina e Ruth (...) 
 O criado ia e vinha do buffet para a mesa, com a serenidade sobranceira de um ente 
necessário. 
 Na sala, longa e estreita, eles ocupavam uma das mesas compridas. a da esquerda, a mesma 
ocupada sempre em viagem pelo capitão; a outra, vazia e sem toalha, mostrando o verniz negro 
do oleado, dava um aspecto tristonho ao compartimento.” (ALMEIDA, 2018, p. 65). 
 
 
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Catarina tem consciência de que por muito tempo as mulheres 
viveram à sombra dos homens; Camila só comprova que ela ainda é 
uma dessas mulheres. 
 
 
 
 
 Francisco Theodoro agride as mulheres: diz que elas são medrosas e fracas. Sua mulher, 
percebendo ou não, acaba concordando com ele. Apenas Catarina tem a coragem de rebatê-lo: “As 
mulheres são mal compreendidas. Vejam aquela gravura. Está ali um homem desafiando o perigo, 
avançando na treva com a espada em punho, e a mulher mal o alumia com a luz da vela, cosendo-se 
amedrontada às suas costas!” (ALMEIDA, 2018, p. 68). 
 
 
 
 
 
 No entanto, Camila tem certa consciência sim da diferença de tratamento que homens e mulheres 
têm em relação um ao outro. Porém, ela só percebe quando isso lhe diz respeito, remete-se a seus 
relacionamentos. Ela chega a refletir: “Como os homens são orgulhosos e injustos!” (ALMEIDA, 2018, p. 
69). 
Mesmo submissa e medíocre, ela ainda tem certa consciência, mas sem força de expressão. 
Permanece calada e constantemente é manipulada pelos outros (pelo filho Mário, por exemplo) e não 
consegue se impor, sequer argumentar, em uma discussão. 
No capítulo VII, Francisco Theodoro sente-se rico, olhando seus trabalhadores trabalharem por 
ele, ou seja, lutar, sacrificar-se, fazer o trabalho braçal, para que ele pudesse enriquecer. Em sua fala, há 
traços naturalistas: julga os trabalhadores negros (como forma de rebaixamento, animalização). Nota-se 
que além de machista ele é racista também. 
 
 
 
 
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 Mesmo ele, que se julga tão bem-sucedido, workaholic (pessoa que vive para o trabalho, viciado), 
lamenta a suas projeções frustradas e compreende que não pode simplesmente passar o seu legado para 
um filho como Mário, que ele próprio julga indecente. Naturalmente, como o resto das filhas são 
mulheres, ele nem chega a pensar na hipótese de passar o seu negócio para elas. 
 Nesse episódio, percebendo a melancolia do colega de não ter a quem legar seu negócio, Inocêncio 
se aproveita da situação e começa a lançar propostas: “Inocêncio aconselhou-o a que acedesse. O cargo 
era de prestígio. Depois, o tempo efervescente do jogo tinha passado. As transações agora faziam-se com 
mais segurança. Também ele tinha em formação um grande projeto...” 
 A pontuação indica ironia: o grande projeto de Inocêncio era roubar Francisco Theodoro, 
aproveitar-se de sua melancolia para lhe extorquir dinheiro e ganhar a vida fácil com o dinheiro alheio. 
Não se tratava de projeto, mas sim de armadilha, o que Francisco Theodoro não conseguiu prever, pois 
olhava sempre para o próprio umbigo, incapaz de perceber a malícia no exterior. 
 O capítulo VIII começa com o complexo de inferioridade de Nina – gostar de quem te trata mal, 
uma empregada que se sente digna de ser maltratada pelo patrão Mário. O fato é que ela gosta do primo 
e alimentava desejo de se casar com ele: “A culpa era do sangue, da sua raça, que menos 
estima os superiores quanto mais estes a afagam. Por isso ela morria de amores por Mário, um rapazinho 
atrevido, de gênio autoritário e palavras duras” (ALMEIDA, 2018, p. 75). 
 Personagens aparentemente menores e secundárias, como Nina e Noca, na realidade tomavam 
conta da casa inteira, isto é, ajudavam a mantê-la em pé e funcionando. 
 Enquanto isso, Camila vivia cismando. Depois da refeição no Netuno, ao sair de lá, ela presencia 
uma cena: doutor Gervásio encontra uma mulher na rua, que parecia de luto, pois estava vestida de preto. 
Eles encaram-se, assustam-se e se evitam. Camila repara aquilo e acha tudo muito estranho: “A visão 
daquela. mulher de luto, da manhã do Netuno, não a deixava nunca; sentia-lhe, como um castigo, a 
formosura, o perfume, e aquele ar discreto de honestidade e de elegância. O que a punha doente, e que 
a atormentava ainda mais era a obstinação de Gervásio em negar-lhe uma explicação qualquer. Que 
haveria entre ambos?” (ALMEIDA, 2018, p. 77). Os questionamentos fazem parte do discurso indireto 
livre: suas dúvidas, seus pensamentos. Mesmo quando Gervásio continuava a visitá-la, o clima entre os 
dois mudou. 
 
Era dele todo o prestígio avistados 
trabalhadores boçais, das formigas do 
armazém que negrejavam por ali num 
movimento incessante. 
Francisco Teodoro descansava nele, 
deixava-o agir, "conhecia-lhe o pulso", dizia; 
não fizera ele o mesmo no princípio da sua 
carreira? Agora, bem assente na vida, 
aristocratizava-se, dava-se ares de grande 
personagem. 
 
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 Ocorre aniversário de Francisco Theodoro, com um banquete 
descomunal. Doutor Gervásio não gosta de festas, evita-as e só vai visitar Camila 
depois delas. Além de ser cômodo para ele, ele evita com isso julgamentos 
públicos. Ele morava no Jardim Botânico e se recolhia lá nessas ocasiões, nas 
“festas pantagruélicas”, uma alusão à personagem do barroco francês Rabelais.Essa ocasião foi importante para o ciúme e o rancor de Camila contra 
Gervásio serem esquecidos e a antiga relação reatada. 
 No capítulo IX, Mário continua dando suas desculpas furadas, e ainda tem 
mais: evita doutor Gervásio, porque o odeia: sabe do adultério da mãe. Francisco 
Theodoro reclama da mãe, culpa pelo filho mimado, mas como ela não teve fibra para educá-lo. 
 “A família andava a passear pela chácara, na doce pasmaceira costumada, vendo regar as plantas 
e nascer as estrelas” (ALMEIDA, 2018, p. 82, grifo meu). O fin de siècle XIX era uma verdadeira pasmaceira, 
nada de novo acontecia no seio daquela família. A mais diferenciada era Ruth, que amava as estrelas e a 
música (tocar o seu violino). 
 O máximo que Francisco Theodoro faz para demonstrar a sua “ira” contra Mário é impedir que ele 
entre em casa depois de uma determinada hora da noite. Ele é conversador e tradicionalista até mesmo 
em relação ao filho. Pede para que feche o casarão com trancas, o que nada adianta, pois Nina – 
apaixonada por ele – vai deixar que ele entre. Olhada em sua camisola, Mário chega a se interessar 
corporalmente por ela, mas nada ocorre. 
 Nina relembra de sua história triste. Fora criada por dona Emília, com a família no Sergipe, até que 
Francisco Theodoro resolveu acolhê-la. Sua relação para com aquela família tem de ser a de gratidão. 
Depois de crescida, Nina perdoa a mãe, uma mulher de vida fácil, reconcilia-se com a sua história. Desde 
cedo, Nina estava “pronta a ceder às suas vontades absurdas” (ALMEIDA, 2018, p. 85). 
 Mário chega a ver a prima na camisola e toca seu ombro nu. Porém, o pai Francisco Theodoro 
ronda a casa à espreita da chegada do filho. A cena se dissolve e Mário mantém a sua soberania garantida, 
ao passo que Nina sofria, sofria, sofria, (ênfase na repetição) pois viu ali a sua oportunidade perdida. 
 No capítulo X, as tias do Castelo (senhoras Rodrigues) vão visitar o palacete. Vão lá para criticar 
Camila, invejar-lhe a fortuna e – claro – fofocar. São tias enxeridas e intrometida que querem que ela se 
interesse pelas mesmas coisas que ela. 
 Gervásio se encontra lá nessa situação e se esquiva das invectivas das 
tias, aproveitando o ensejo para criticar e acusar os dois. Doutor Gervásio 
responde-as de uma forma literata, para despistá-las, uma vez que elas são 
ignorantes, não leem e não reconheceriam suas referências. Nem mesmo 
Augusto Comte, pai do positivismo – doutrina adepta dos bons costumes 
sociais e do progresso, o que parece que as tias defendem inconscientemente 
– as tias parecem conhecer, o que corrobora a hipótese do médico: elas não 
estariam aptas a debater qualquer coisa que fosse com ele, por falta de 
conhecimento/embasamento. 
 Nesse episódio, também visita Camila o capitão Rino, à procura de uma 
oportunidade para achá-la sozinha, conversar com ela, demonstrar seu amor – 
encontra-a rodeada de consortes, de forma que vai embora frustrado. 
 No capítulo XI, Francisco Theodoro está conversando com seus colegas, entre eles João Ferreira, 
Lemos, Negreiros e Inocêncio Braga. 
 Capitão Rino está triste, caminha no Rio de Janeiro e olha o mar e os marinheiros: ele toma a 
decisão de fazer uma longa viagem, para fugir daquele lugar e de Camila. Ele se revela um filósofo (talvez 
fossem deles os livros mesmos), meditando sobre a contraposição entre o trabalho no mar e na terra. 
Sente-se insatisfeito, questiona as suas escolhas quanto à sua carreira. 
 
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 A repetição das ideias leva-o à livre associação de ideias: lembra de sua mãe e de Catarina, que 
morrera assassinada pelo pai por causa de um caso de adultério. 
 Ele termina por encontrar a irmã em seu jardim/pomar. Conversam entre si e expõe suas 
inquietações: ambos notaram que Camila traía o marido com doutor Gervásio. Capitão Rino decide 
mesmo partir. 
 No capítulo XII, vemos Francisco Theodoro numa situação atípica: sentado no seu escritório no 
palacete. Esse cômodo nunca era aberto, mas agora lá estava ele, lendo muito preocupado o Código 
Comercial de Orlando. Ele está preocupado com a sua vida financeira. Mostra toda a sua avareza: “E era 
só em negócio que Francisco Teodoro fazia caso do dinheiro. No mesmo dia em que 
assinava vinte ou trinta contos para um hospital ou uma igreja, numa penada rija e franca, recusava 
emprestar a qualquer pobre diabo cinco ou dez contos para um começo de vida” (ALMEIDA, 2018, p. 109). 
 Inocêncio Braga vai lhe procurar com uma conversa fiada: estão pensando em criar um sindicato 
de café no Rio de Janeiro. Quem irá começá-lo seria Gama Torres. E agora ele veio pedir a ajuda de 
Francisco Theodoro. Chega cheio de dados, estatísticas, artigos de jornal. Embora pareça muito 
convincente, Francisco Theodoro desconfia de alguma coisa, seu instinto lhe diz que aquilo não cheira 
bem. 
Ele sempre fora conservador, negava ajuda nesses tipos de empresa, e agora ele estava ali 
considerando em ajudar esse cara com essa proposta ousada. Previa ele alguma coisa? Será que 
conscientemente estava invocando a sua ruína? O livro é sutil nas suas colocações e alguns 
questionamentos permanecem ser respondidos. 
 No almoço, Francisco Theodoro se acha no auge de sua fortuna: no aniversário de Nina, ele a 
presenteia com uma casa inteira à parte para ela morar. Noca revela sua superstição: aquele presente 
bom era por causa de uma borboleta azul que ela viu, sinal de boa sorte. 
 No capítulo XIII, um baile está sendo preparado no palacete Theodoro, que leva o sobrenome do 
dono por causa de seu orgulho. 
 Nessa preparação, Ruth se escondia; alheia a tudo isso, ela só se preocupava com seu violino e sua 
arte. Doutor Gervásio surpreende-a admirando um quadro, mas a aconselha a focar apenas em uma das 
artes, no caso, a música. Na verdade, Ruth era a mais sensível e humana da família. 
 Acontece um episódio importante: Ruth – para fugir daquela bagunça que não lhe interessa da 
família – pede para passar alguns dias na casa das tias Rodrigues – Joana e Itelvina – no Morro do Castelo. 
 
Talvez tivesse escolhido mal a sua 
profissão. A vida do homem era aquilo que ali 
estava: a agitação perene, o trabalho violento, 
o amor sem idealizações, o espetáculo 
renovado de tudo que a terra produz, mata e 
faz renascer para a fulguração do tempo, que 
é instantâneo e é eterno. 
O próprio mar, que escolhera e a que 
se lançara na fantasia da adolescência, não era 
à orla branca da Terra que vinha atirar a sua 
grande queixa, a sua fúria formidável ou a sua 
voluptuosidade infinita? 
 
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Seu pedido é atendido, mas ela se sente estranha naquele mundo das tias. Tia Joana, a religiosa, logo lhe 
põe a contar histórias bíblicas, mas das mais terríveis e moralizantes. 
 Ruth está preocupada com a estética e atemorizada com aqueles casos. Ela está preocupada com 
a estética: ela não acredita que o céu possa ser feio, e pede histórias sem fogueiras e sangue. 
No capítulo XIV, a personagem de tia Joana passa a ser a narradora: ela irá narra uma história de 
uma freira que se apaixona pelo castelão, é seduzida por ele e foge com ele. A estátua de Nossa Senhora 
sorrindo tende dissuadi-la daquele pecado, mas ela decide fugir mesmo assim. No fundo, ela viu que o 
homem era um disfarce do diabo, arrepende-se e volta ao convento. Ela é atendida por uma freira que se 
revela Nossa Senhora ela mesma. 
No meio da noite, Ruth acorda com uma gritaria. A sua tia Joana, tão religiosa e contadora de 
histórias moralizantes, está batendo fria e cruamente na sua criadad negra – Sancha – dizendo que ela 
merecia. Ruth não se contenta com aquela situação: diz que Sancha irá morar com eles no palacete, que 
aquilo era uma injustiça e chega a interceder por ela nas suas ações. Chega, inclusive, a dizerpara a moça 
fugir – pedido que a moça acaba por acatar no dia seguinte. Percebemos que Júlia de Almeida é uma 
mulher preocupada não só com a questão de gênero, mas com a de raça. 
 
CENA DE LIVRO 
 
A negrinha tinha-se refugiado a um canto, perto do fogão, e exagerava as dores, torcendo-se 
toda, amparada pela compaixão da Ruth. 
 D. Itelvina avançou os dedos magros, e, agarrando-a por um braço, puxou-a para si; a 
sobrinha então abraçou-se à negrinha, unindo a sua carne alva, quase nua, ao corpo preto e 
abjecto da Sancha. 
 – Bata agora! tia Itelvina, bata agora! gritava ela, em um desafio nervoso, sacudindo a 
cabeleira sobre os ombros estreitos (ALMEIDA, 2018, p. 125). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O idealismo e a abstração na personalidade de Ruth não a 
impedem de ter consciência da realidade. Não é desculpa! Ela 
é em tudo diferente da família. 
 
 Ruth tem consciência de classe, humanidade e dignidade. No dia seguinte, ao acordar de 
madrugada e acompanhar a tia Joana à igreja, ela não se conforma com aquela violência, aquela injustiça. 
Ela tem uma alma mais complicada, contestadora e cisma com a tia. Não vê mais sentido naquele falso 
moralismo, naquela hipocrisia de rezar de madrugada, ao passo que é incapaz de se compadecer de um 
ser humano. 
 Sua tia Joana acha que a menina diz heresias. Sua atitude é diferente: desfaçatez de classe – acha 
que é muito o pouco que dá para Sancha, que dá esmola para ela e ela não faz mais do que a sua obrigação. 
A tia não se importa com a criada negra, tampouco com a sobrinha – que está com fome, mas ela está 
mais preocupada em rezar em um velório de alguém que nem conhece, para manter as aparências sociais 
de sua “benevolência”. 
 Chegando em casa, Ruth se depara com um pai apático e alheio, pouco se importando com a 
chegada da filha. Há a questão do abandono familiar: Ruth não se sente acolhida por ninguém da família. 
Isso porque ela é especial e não condiz com aqueles valores. Ruth ainda tem esperança de que as tias a 
levem para o Observatório, realizar seu grande sonho de ver as estrelas. 
 
 
 
 
 
 No capítulo XV, retorna-se ao palacete. Lá está outra personagem, Terezinha, que gosta de ir ali 
para distribuir suas receitas e fofocar. Quando tem um momento a sós com Nina, Ruth então denuncia os 
maus tratos com Sancha, diz o seu plano de trazerem-na para o palacete. Nina desconversa com uma 
falácia: que Sancha queria comprar arsênico para se matar: “era menos burra do que parece” (ALMEIDA, 
2018, p. 134). Apenas Ruth consegue enxergar a alma de Sancha. 
 Lá também está mais uma personagem: Lage. Fofocam sobre casamento por conveniência – que 
Mário não é bom partido para casar, porque não trabalha: “Aqui para nós: o rapaz não vale nada. Quem 
não trabalha, que garantia pode dar à família?” (ALMEIDA, 2018, p. 135). 
A fofoca também chega aos negócios, o que preocupa Francisco Theodoro: “Como diabo teria a 
Lage sabido daquele negócio com o Braga?” (idem). 
Algo que se repete, é significativo e preocupante para Theodoro é a inaptidão do filho de governar 
seus negócios. Vive de hipóteses: se isso acontecesse, ele não estaria preocupado. Ele tinha a pretensão 
de ser o criador natural e material do filho. E quando isso não acontece ele se entristecesse, dando mais 
motivos ainda à sua melancolia. 
Enquanto isso, Nina continua a dor, a mágoa e o ressentimento de querer viver uma vida que era 
a dela. Também vive de superstições: quando duas borboletas brancas passam, ela sabe que Mário irá se 
casar, mas não com ela. Aquela conversa ali travada no jardim era na realidade para decidir os acordos 
do casamento dele com Paquita. 
O capítulo XVI começa com uma imagem de pobreza: o empregado Motta, de Francisco Theodoro, 
continua doente e sua família pobre, sua filha resignada tem de ajudá-lo. No fundo, prevemos que ele irá 
morrer, mas isso não acontece nem será essa a ruína de Francisco Theodoro. 
 No capítulo XVII, Mário se casa e todos se veem livres daquele estorvo dentro de casa: “E o 
casamento de Mário fora um alívio para ambos. Estavam livres daquela testemunha importuna, que 
tinham de respeitar” (ALMEIDA, 2018, p. 143). 
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 Neste capítulo, Francisco Theodoro percebe que vai à falência e que Inocêncio Braga, de inocente, 
só tem o nome ironicamente: ele diz que tudo fora um jogo, incapaz de se sensibilizar com a preocupação 
do comerciante, que via o dinheiro lhe escorrer por suas mãos. 
 Francisco Theodoro desenvolve comportamento obstinado, obsessivo: lê papeis, tenta descobrir 
em algum lugar uma solução. Não consegue enxergar a sua família na sua frente, pronta a ajudá-lo e 
inclusive nega a verdade a ela, não lhe informando de nada. Mergulha na escrita como forma de cura. 
 Por algum motivo, o pai de Paquita – Meireles – ainda consente com aquele casamento, embora 
todos já soubessem indiretamente da ruína de Francisco Theodoro, mesmo que ele não comunicasse a 
ninguém. O fato é que todos vão assistir a partida do casal para a lua de mel na Europa, ocasião em que 
Paquita já mostra mandona em relação a Mário, impedindo-o de voltar a conviver pacificamente com a 
sua família. Logo Mário, tão autoritário, que fazia de Nina um cavalo para brincar na infância... 
 Enquanto isso, Francisco Theodoro vai piorando em sua obsessão. Tudo na sua vida soa fracasso. 
Apesar da sua ambição e senso prático, ele percebe que a sua vida está fugindo do controle. Nem a 
doença do empregado Motta melhora. Irado, só pensa em si mesmo, incapaz de inferir a conjuntura 
internacional do problema: a queda internacional do café: “Que importavam a Francisco Teodoro as 
falências dos americanos! ele só tremia pela dele, era na sua fortuna que estavam condensados todos os 
bens do universo” (ALMEIDA, 2018, p. 148). 
 No capítulo XVIII, há a importância da imprensa: Francisco Theodoro vai acompanhando a situação 
por meio de informações em jornais e telegramas, o que interfere diretamente nos seus sentimentos. Vai 
se sentindo cada vez mais derrotado, há todo um processo de declínio. Um sinal de sua decadência é uma 
ironia: Francisco Theodoro não enxerga mais a animalização como um rebaixamento. Há vários sinais de 
mal agouro na casa: um espelho quebrado, um pássaro morto. 
 Camila é uma cega, adivinhando bem errado o sentimento do marido. Acha que ele está 
preocupado com o casamento e a ausência de Mário. Ela é incapaz de prestar-lhe ajuda eficaz por total 
ignorância; também lhe de conhecimento da situação. 
 Francisco Theodoro reage a tudo com raiva, sem enxergar a sua própria culta no processo: culpa 
de uma classe que só se enxerga a si mesma e não se preocupa com os outros. 
 Há um momento de fuga: ainda há visitas e canções na casa. Aqui existe um momento de mistura 
de gêneros, do romance com uma cantiga, cantada por Carlotinha: 
 
 
"No Brasil é doce de ovos, 
Chiquita! 
Um beijo dado em você." 
"Um beijo..." 
 
 
Vivem negando a realidade funesta. A ironia é que Mário é o único que está garantido em sua lua 
de mel na Europa. Enquanto isso, Francisco Theodoro continua detentor de um segredo que não quer 
compartilhar com a família, só o luxo e a bonança. 
 No processo da falência, é importante o aumento de ironias trágicas na vida de Francisco 
Theodoro: agora, o palacete novo que estavam construindo em Petrópolis se tornou um elefante branco, 
uma reforma que só representava mais dívida para a família, e totalmente inútil, já que ninguém iria 
habitá-lo. Até Rino soa como um eco: o pássaro que morreu era uma cacatua que ele havia dado para 
Camila. 
 Para Francisco Theodoro, tudo – inclusive aquela morte – era sinal de fracasso. Ele é incapaz de 
ver para as árvores, os flamboyants que floresciam. A vida não era bonita e a forçada lembrança para ele 
tinha efeito inverso, não mais significava a ambição de outrora. 
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 Francisco Theodoro continua pensando conservadoramente, só não em termos de negócio. Essa 
foi sua ruína também: a sua forma de pensar. O seu desespero até o faz considerar pedir ajuda de 
mulheres. Lembra-se de que tem filhas! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mesmo que ele não fosse amigo de ninguém, prestavam ajuda a ele. O colega Negreiros lhe mostra 
solidariedade. Francisco Theodoro apenas respondia com palavras monossilábicas, sem força de 
expressão, como a mulher. 
Aliás, toda a família parece um organismo e apresenta comportamentos semelhantes. Por 
exemplo, reclamam que o filho Mário é gastão, mas toda a família é. Esta era a personalidade geral, 
motivo pelo qual a família inteira vai à ruína também. Esse fracasso não é apenas só de Francisco 
Theodoro, embora ele – no seu paternalismo – sente-se o único responsável pelo desastre. 
No capítulo XIX, Camila está cozinhando. A ironia é que Gervásio a acompanha, é mais da família 
do que o próprio marido e mais conhecedor dos acontecimentos. Francisco Theodoro lhe pedira para 
contar a falência à esposa, pois ele era um covarde incapaz de contá-lo. 
Após saber, fingem se preocupar com as crianças, embora tivessem privilegiado sempre só a 
Mário. Camila até que lamenta a sua falta de participação no processo. Descobrem que o buraco é mais 
embaixo é Francisco Theodoro podia ser preso. 
Com a ruína, Camila teme que o seu relacionamento com Gervásio também termine. Passa a 
pensar na sua própria vida e em seus afetos. 
Então, há o confisco do armazém. Para Francisco Theodoro, o símbolo da ruína era o ócio: a falta 
de atividade e as aranhas no teto. Chega a comparar a mesa vazia com o leito da mulher amada, tamanho 
era o seu amor e a sua dedicação para com o trabalho. 
Francisco Theodoro levou 30 anos para consolidar seu armazém – uma geração! – e somente agora 
desenvolvera humildade para cumprimentar seus empregados subalternos. Sentia-se substituído: seu 
arquirrival Gama Torres ocuparia o seu lugar. 
No capítulo XX, Francisco Theodoro se remedeia na escrita para ocupar-se, já que família para ele 
era sinônimo de dinheiro e o dinheiro tinha ido embora. O fato é que ele nunca foi corajoso e é nas horas 
graves que isso se revela. Sua lembrança da infância dura bem podia ser uma vitimização, como aquelas 
típicas de sua mulher. Parecem mais família do que na realidade são, ao menos, farinha do mesmo saco. 
Sentia-se como um fantasma. Começa a se sentir peça de um jogo, parte de uma conspiração. 
 
Fechada a carta, lembrou-se que poderia talvez 
ter recorrido à Lage, mas levantou logo os 
ombros; era uma mulher, que podia entender de 
negócios? De mais, as coisas iriam em declive 
rápido, e um novo empréstimo seria um 
compromisso irremissível... melhor fora não se 
ter lembrado dela. E as tias do Castelo? a essas 
pediria apoio para a família; ele já nada queria 
para si; poucos dias teria de vida: o golpe era 
muito forte para deixá-lo de pé. Mas a mulher?... 
e as filhas? E, afinal, acreditava ele na fortuna das 
velhas? onde a escondiam elas que ninguém a 
via? Riquezas, riquezas, vá a gente desencantá-
las em cofres ávaros! 
 
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Agora desocupado, Francisco Theodoro se via obrigado a ter que lidar com o rio de águas 
caudalosas que eram os seus pensamentos. Ainda ambicioso, sentia-se digno de comparações bíblicas: 
como Jó! Ele se julgava, pensando em como ele também tinha falido. 
Conhecemos a história de seu avô e compreendemos que ele carrega o suicídio no sangue, como 
se fosse hereditário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ao fim desse capítulo, Francisco Theodoro suicida-se dando um tiro na cabeça, observado pela 
esposa Camila que adentra no recinto antes do ato, mas não consegue impedi-lo. 
No capítulo XXI, Camila se mostra sincera no seu amor afinal. Ninguém acredita, mas ela lamenta 
o fato, além do que a cena vive se repetindo na sua cabeça, por ter sido ela a testemunha. Outra ironia: 
ele nunca tinha sido muito presente, mas agora sentiam sua falta. 
 Francisco Theodoro foi sem deixar testamento. Em seu velório, surgem as irmãs Gomes, querendo 
impor sua vontade. Mais ironia: a morte dele fez cessar a chama do amor adúltero. 
 Tudo vive numa paralisia: Camila não faz nada, não reage, é assim que vive seu luto. Parece avara, 
mesquinha e soberba, incapaz de viver com pouco, supérflua e previsível. Até que devem surgir 
personagens práticas e pragmáticas, como Nina. Ela sugere se mudarem para a casa que Francisco 
Theodoro havia dado para ela em seu aniversário (parece uma espécie de testamento, afinal). Mesmo 
com suas qualidades, ao arrumar a casa, Nina acha um chicote com o qual Mário lhe batia na infância e 
se recorda de seu complexo de inferioridade. 
No capítulo XX, mudam-se então para a nova casa. Nessa situação, Nina manifestava verdadeiro 
instinto materno: tirava de seu bife para dar de comer às gêmeas. As dívidas do marido continuavam a 
fazer as suas cobranças post mortem (após a morte). 
Camila continua apática: fraca e covarde, fugindo da realidade, quer voltar para o colo da mãe em 
Sergipe. Quer ir para qualquer lugar, menos trabalhar – aquilo seria o extremo. Mário era uma ponta 
solta, incapaz de ajudar a família e individualista. Como todos no passado, só pensava a si mesmo. Mário 
representa o passado: “Mário escreveu lamentando ter de demorar-se em Paris; retido por uma doença 
de Paquita, cujo nome repetia em todos os períodos. A verdade é que na família ninguém contava com 
ele, e que todos dissimulavam ressentimentos, fugindo de agravar tristezas” (ALMEIDA, 2018, p. 178). Tal 
comportamento só aumentava o ressentimento contra aquele filho ingrato. 
Nina é valorosa, mas tem uma noção muito baixo de si mesma. No fundo, foi quem mais ajudou a 
família naquela situação, pois ela veio de baixo e sabia como era se sentir assim. 
No capítulo XXIII, Ruth – com o pouco que tem – quer sair para dar as sobras de suas refeições 
como esmola, ao passo que a mãe não gosta de toda aquela caridade. O fato é que vão aprendendo a se 
 
 E as forças? Onde estavam elas, que as não 
sentia? Ah! corpo miserável! corpo miserável. 
 Afogueado, como se tivesse brasas na cabeça, 
Teodoro procurou a frescura do ar livre e foi 
encostar-se ao umbral da janela. 
 Fora numa noite assim, de lua clara, que o avô se 
enforcara numa amendoeira, fugindo, no seu delírio 
de perseguição, a um inimigo que lhe ia no encalço. 
Era um camponês rude, o avô; havia muito meses 
antes desse ato que ele andava taciturno, agitado; 
depois, que tranquilidade! 
 Francisco Teodoro olhou para a noite (...). 
 
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA PARA UNICAMP 2023 
 
 AULA DE OBRAS LITERÁRIAS: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA – A FALÊNCIA 30 
viver com o que tem e até o final parece se encadear para o cumprimento de um papel lógico: Camila se 
casar com o doutor Gervásio. 
Mário chega ao Rio, mas só vai procurar a família no fim do dia. E ainda assim se sentia útil, 
querendo mandar naquela família que ele sequer acompanhava de longe: “Vinha como uma espada, 
cortando todos os nós. Prevalecia-se da sua autoridade de homem” (ALMEIDA, 2018, p. 182). Fora dele a 
sugestão do casamento ironicamente: melhor continuar como estava. 
No capítulo XXIV, Camila sentia que triunfava, que se realizava, mas no fundo só 
estava cumprindo a vontade do filho. O modo como as personagens lidam com as mais 
variadas situações revelam seus pontos de vista e sua percepção da realidade. Camila, 
por exemplo, passava por uma crise de personalidade longe daquele luxo todo e de suas 
roupas da moda. Até que relembra de doutor Gervásio, que para ela foi mais do que

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