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LÍNGUA PORTUGUESA D

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1
Realismo-Naturalismo
Português
2D05
Aula 
 Contexto
O desenvolvimento industrial, o progresso econômico, as 
descobertas científicas e as correntes filosóficas de orienta-
ção racionalista (Positivismo, Determinismo, Evolucionismo, 
Socialismo) foram elementos que desde as primeiras déca-
das do século XIX já vinham provocando uma mudança na 
mentalidade das pessoas e dos artistas em especial.
Alterou-se a maneira de ver e interpretar a realidade, 
cada vez menos apoiada nos sentimentos, nas emoções 
e na religião; e cada vez mais inspirada na objetividade 
e na observação racional dos acontecimentos e do com-
portamento humano.
A visão de mundo subjetiva, moralista e individua-
lista do conservadorismo burguês passa a enfrentar a 
praticidade e o pragmatismo liberal da classe média. É 
nesse ambiente de transformações físicas e mentais que 
surge o Realismo como uma reação artística de crítica à 
hipocrisia moralista da classe média.
Características
 • Objetividade e impessoalidade na apresentação 
e interpretação da realidade e dos acontecimentos, 
e na criação e análise dos personagens e de seu 
comportamento. 
 • Racionalidade que foge do exotismo e pratica a 
verossimilhança.
 • Crítica sistemática ao conservadorismo burguês, 
ao moralismo, às relações baseadas puramente na 
afeição e às instituições que sustentam essas “men-
tiras”, como família, casamento, amizade, religião, 
sociedade.
No Brasil, o Realismo se inicia oficialmente em 
1881, com o lançamento dos livros O mulato, de Aluísio 
Azevedo, representante do Naturalismo, e Memórias 
póstumas de Brás Cubas, representante do Realismo 
propriamente dito.
 Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) era 
neto de escravos, órfão desde criança, sofreu inúmeros 
problemas de saúde nos olhos, nos intestinos, com a ga-
gueira e mais tarde com a epilepsia. Apesar de tudo, com 
incrível força de vontade, talento e perseverança, supe-
rou as dificuldades de sua origem humilde, tornando-se 
uma unanimidade nacional, ainda em vida. 
De menino de rua, vendedor de balas, tornou-se 
aprendiz de tipógrafo, redator e colaborador de vários 
jornais, cronista, diretor do Diário Oficial, presidente 
da ABL, Diretor Geral da Viação. Casou-se aos 30 anos 
com D. Carolina Xavier Novais. A personagem D. Carmo 
Aguiar, mulher bondosa, serena, afetuosa e íntegra, do 
Memorial de Aires, de 1908, é uma homenagem póstu-
ma do autor à sua saudosa esposa.
Fase romântica
As primeiras obras de Machado de Assis, os roman-
ces, Ressurreição, Helena, A mão e a Luva e Iaiá Garcia, 
e os livros de contos, Contos Fluminenses e Histórias da 
Meia Noite, são consideradas românticas, por estarem 
inseridas no contexto estético e social do Romantismo. 
Estas obras atendem às expectativas da burguesia. 
Entretanto, a busca de prestígio através da política 
e a volubilidade das personagens com relação aos 
princípios morais, religiosos e ideológicos já antecipam 
posições que o autor desenvolveria posteriormente. 
Fase Realista
 • Romances: Memórias póstumas de Brás Cubas, 
Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memo-
rial de Aires. 
 • Contos: Papéis avulsos, Histórias sem data, Várias 
histórias. 
 • Poesia: Ocidentais. 
2 Extensivo Terceirão
Observe e analise algumas características de suas 
obras realistas. 
 • A ambivalência, o relativismo, as contradições e a ân-
sia das pessoas pela ascensão social a qualquer custo.
 • A análise psicológica que deixa em segundo plano 
o enredo, a paisagem e os costumes da época, para 
colocar em relevo o estudo e a análise do comporta-
mento e das contradições humanas. 
 • A objetividade, a síntese e a mestria na utilização da 
linguagem e de todos os seus recursos, em períodos 
e capítulos curtos, densos e profundos.
 • As conversas com o leitor para torná-lo cúmplice na 
elaboração de suas teorias e fazê-lo entender a estru-
tura da obra através de referências metalinguísticas. 
 • Os personagens profundos e imprevisíveis classifi-
cados como esféricos ou redondos. 
 • O pessimismo com que o autor vê a vida e a acidez 
com que desvenda e envenena todas as atitudes e 
sentimentos humanos, amenizado pela fina ironia e 
pelo humor sutil. 
 • A linguagem, cheia de sutilezas, meios-tons, 
insinuações e reticências como instrumento para 
vasculhar e revelar os mistérios da alma humana. 
 • A impressão de que nada na vida é definitivo, 
evitando tirar conclusões ou fazer juízos de valor, 
transferindo ao público a responsabilidade de elabo-
rar suas próprias opiniões.
 • As digressões (desvios do tema central), principal-
mente nos romances, a fim de chamar a atenção 
para elementos circunstanciais e periféricos. Assim, 
tem-se a impressão de que as ações se desenrolam 
preguiçosamente.
 Romances mais famosos
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Esta obra revolucionária, que marca o início da 
estética realista e a ruptura do escritor com os padrões 
românticos, trata das memórias de um defunto-autor, 
recurso nitidamente inspirado pela obra do escritor 
norte-americano, Edgar Allan Poe, de quem Machado 
era leitor assíduo. A dedicatória no início do romance 
é diagramada em forma de epitáfio, o que foge por 
completo de tudo o que se tinha sido feito até então:
Ao verme que
primeiro roeu 
as frias carnes
do meu cadáver 
dedico com saudosa lembrança
estas memórias póstumas
Por ser um narrador-defunto, Brás Cubas pode 
expor-se sem pudor, revelando ao leitor seus mais ínti-
mos segredos, toda a sua verdade interior, pois nenhum 
julgamento moral pode agora amedrontá-lo. 
São elementos importantes do estilo de Machado de 
Assis, presentes nesta obra: a presença da intertextua-
lidade com inúmeras referências à bíblia e à mitologia 
grega; emprego frequente da metalinguagem, pela 
qual o autor dirige-se com o leitor e discute o próprio 
processo narrativo: “Decida o leitor entre o militar e o 
cônego; eu volto ao emplasto”. Uma ironia pessimista e 
corrosiva acompanha toda a narrativa, desde a primeira 
até a última página do livro, denunciando a hipocrisia da 
sociedade e das pessoas, mais interessadas em manter 
as aparências do que em buscar a verdade.
Personagens
 • Brás Cubas é o defunto, o personagem-narrador. 
Um morto que se propõe a analisar a si e aos outros. 
Problemático desde a infância e mimado pelo pai, 
torna-se irresponsável quando adolescente, um 
homem egoísta, mesquinho e frustrado. 
Exteriormente, aparenta estar sempre bem e goza de 
certo prestígio social, pois dispõe de boa condição finan-
ceira. Interiormente, sente-se fracassado e, para mudar 
tal realidade, tenta constantemente conseguir fazer 
algo que lhe dê maior prestígio: casar-se, conseguir uma 
cadeira na Câmara dos Deputados, fundar um jornal de 
oposição, ser ministro, inventar um novo medicamento, 
escrever um livro de memórias.
 • Virgília foi namorada e depois amante de Brás Cubas. 
Mulher bonita, ambiciosa, que aparenta gostar 
realmente do protagonista. A princípio, iria casar com 
Cubas, porém acabou casando-se com Lobo Neves, em 
virtude de este possuir maior prestígio político. Apesar 
do relacionamento ilícito mantido, não abre mão de 
sua vida de casada, pois quer manter sua posição social. 
 • Lobo Neves é o marido traído de Virgília.
 • Marcela, bailarina espanhola, paixão juvenil de Brás 
Cubas, amou-o “por quinze meses e onze contos 
de réis”, era uma mulher sensual, mas mentirosa e 
interesseira.
 • Eugênia era filha do Doutor Vilaça e de D. Eusébia. 
Apesar de ser muito linda, era coxa, e tal fato incomo-
dava muito Brás Cubas, preocupado com a opinião 
dos outros. Manteve um breve relacionamento com 
ela e a descartou por conveniência.
 • Eulália (Nhã Loló), filha do Damasceno. Inicialmen-
te, Brás Cubas sente-se um pouco contrariado com a 
ideia, mas depois acaba se interessando pela moça. 
Os planos de casamento acabam sendo frustrados 
em virtude da morte da moça, vitimada pela febre 
amarela.
Aula 05
3Português 2D
 • Dona Plácida, ama de Virgília, foi colocada para mo-rar numa casa da patroa localizada na Gamboa, onde 
os amantes se encontravam. Inicialmente aborrecida 
com a situação, tratava Brás Cubas de forma ríspida; 
depois de seis meses e algumas gratificações, estava 
completamente adaptada à situação, aparentando 
até mesmo ser sogra de Brás Cubas, pois este a 
tratava muito bem e não deixava que ela sofresse 
privações financeiras. 
 • Quincas Borba tinha sido colega de escola e 
amigo de infância do protagonista. Possuía, desde 
menino, um temperamento conturbado. Já adulto, 
transformado num mendigo meio maluco e filósofo, 
reencontra Brás Cubas. Quincas Borba desenvolve 
um sistema filosófico a que ele chama de Humanitis-
mo, pelo qual pretende superar e suprimir todos os 
demais sistemas e transformá-lo numa religião. 
 • Sabina, irmã de Brás Cubas, como ele, preocupa-se 
demasiadamente em manter as aparências. 
 • Cotrim, casado com Sabina, é um homem duro, 
porém honrado, interesseiro e trabalhador. 
Enredo
Brás Cubas, no momento da morte, vive o delírio de 
um encontro com a mãe natureza, num campo de neve, 
e vê desfilar, à velocidade da luz, a história e as dores da 
humanidade desde o princípio dos séculos. Sua morte é 
obscura e seu enterro, num dia chuvoso, é acompanha-
do por poucas pessoas.
De menino endiabrado na infância, em que recebera 
uma educação defeituosa e frouxa, passa a uma adoles-
cência tumultuada. Conhece uma bailarina espanhola, 
Marcela, com quem mantém um romance escandaloso 
e que lhe custa muito dinheiro. O pai, para livrá-lo dessa 
mulher, manda-o para a Europa, onde se forma em Direito. 
Conhece Eugênia, moça bonita, mas manca, com 
quem mantém um romance passageiro. O pai alimenta 
dois sonhos em relação ao filho: casá-lo e metê-lo na 
política. Brás Cubas, depois de reencontrar Marcela com-
pletamente deformada pela varíola, conhece Virgília, 
filha do Conselheiro Dutra. Os sonhos do pai estavam se 
realizando, pois casando-se com a distinta e bela jovem, 
o filho, certamente seria eleito deputado por influência 
do futuro sogro.
Lobo Neves, um elegante e bem falante rival, rouba-
-lhe a namorada, conquista a confiança do Conselheiro, 
casa-se com Virgília e é eleito deputado. 
Virgília casou-se com Lobo Neves por ambicionar 
posição de destaque, mas amava realmente Brás Cubas 
que passou a frequentar a casa como amigo. Os encon-
tros se tornam cada vez mais frequentes e ardentes e 
eles acabam tornando-se amantes. 
Por viver totalmente envolvido com a vida política e 
confiar na esposa, Lobo Neves nunca desconfiou de nada.
Brás Cubas reencontra Quincas Borba, antigo colega 
de infância e da escola, cuja família perdera tudo obri-
gando Quincas a tornar-se um mendigo exótico a ponto 
de, no encontro, furtar o relógio de Brás Cubas.
Por causa de fofocas, Brás Cubas propõe a Virgília 
fugirem para um lugar distante, mas ela, pensando na 
família, na opinião pública e no ‘status’ que ocupava, 
sugere para seus encontros um “paraíso”, uma casinha 
retirada que ela possui na Gamboa onde os amantes 
passam a se encontrar regularmente. 
Quando Lobo Neves é designado para presidente de 
uma província distante, Brás se desespera sem motivo, 
pois o marido traído convida-o a acompanhá-lo como 
secretário. Por superstição, Lobo Neves acaba não 
aceitando o cargo. Tempos depois o marido de Virgília 
recebe uma carta anônima denunciando o romance da 
mulher com Brás Cubas É então que Lobo Neves ao ser 
novamente nomeado para presidente no interior do País 
parte levando a esposa consigo. 
Tempos depois, Brás se reencontra com Lobo Neves 
e Virgília, que haviam voltado da província e percebe 
que Virgília não tinha mais a beleza de antigamente. 
Quincas Borba recebera fabulosa herança de um 
tio de Barbacena e se tornara um filósofo excêntrico, 
criando e expondo para o amigo Brás Cubas a teoria do 
HUMANITISMO, segundo a qual o bem-estar da humani-
dade como um todo é mais importante que as desgraças 
particulares de pessoas ou povos.
Lobo Neves morre, sendo sinceramente pranteado 
pela viúva. Quincas Borba, tendo ficado completamente 
louco, também morre.
Brás Cubas, sem conseguir um alto cargo para o qual 
fizera concurso e vendo ir à falência um jornal que fundara, 
vê, como última alternativa de conseguir em vida a fama e 
a notoriedade, tornar-se cientista e projeta a invenção do 
fabuloso “Emplasto Brás Cubas” que teria a propriedade 
de curar as doenças do espírito. Passa noites em claro 
planejando seu invento, porém mais do que na milagrosa 
fórmula do suposto medicamento, pensa nas manchetes 
glorificando-o como o “maior cientista do mundo”. 
Numa dessas noites de divagações, tendo deixado 
a janela aberta, apanha um resfriado que, por falta de 
cuidado, agrava-se em pneumonia e o leva ao túmulo. 
 Virgília acompanhou-o em sua doença e foi uma das 
doze únicas pessoas que acompanharam seu enterro.
A falência de todas as suas ambições e sonhos, a 
inutilidade da vida e a negatividade de sua existência, 
fazem o defunto-narrador concluir: “Este último capí-
tulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do 
emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o 
casamento. (...) Não tive filhos, não transmiti a nenhuma 
criatura o legado da nossa miséria.”
4 Extensivo Terceirão
 Quincas Borba
Personagens
 • Rubião, personagem principal da história. 
Ex-professor de meninos, provinciano ingênuo, 
herda uma grande herança de Quincas Borba e vai 
morar no Rio de Janeiro, onde estabelece novas 
amizades e adquire novos hábitos. 
Rubião é um conquistador barato, como tantos 
outros no romance realista, vazio de vida e de preocu-
pações elevadas, apenas a servir de indireto símbolo do 
Humanitismo pregado por Quincas Borba. Com efeito, 
imagem viva das ideias de seu amigo filósofo, sua vida, 
ao mesmo tempo que concretiza aquelas teorias, serve 
de veículo exemplificador do modo como Machado de 
Assis vê o mundo e os homens: o ceticismo crônico de 
quem aprendeu a não se envolver com as formas usuais 
de ilusão.
 • Quincas Borba é o filósofo maluco e rico, amigo de Brás 
Cubas, criador da filosofia do Humanitismo, segundo a 
qual o bem-estar da humanidade é mais importante 
que as desgraças particulares de pessoas ou povos. 
Quincas não tinha herdeiros; então, num misto de 
amizade e interesse, Rubião cuida dele com máxima 
atenção até a morte do filósofo, herdando a fortuna e o 
cachorro que tem o mesmo nome do dono.
 • Cristiano de Almeida e Palha conhece Rubião na via-
gem deste ao Rio de Janeiro. Rapidamente percebe a 
riqueza e a ingenuidade do protagonista. Como bom 
capitalista, Palha se antecipa e percebe o quanto essa 
amizade lhe pode ser lucrativa. Empresta dinheiro de 
Rubião, torna-se seu sócio e, posteriormente, quando 
não precisa mais dele, abandona-o.
 • Sofia, esposa de Palha, linda, sedutora e com um 
olhar marcante, conquista Rubião, que se apaixona 
por ela. Tem participação fundamental no processo 
de “assalto” ao protagonista, promovido por Cristia-
no Palha, pois tanto marido como a mulher sabem 
das segundas intenções de Rubião por ela. Em certa 
medida, é responsável pela loucura de Rubião.
Sofia, bela mulher, deixou-se amar até a loucura pelo 
pobre Rubião, sem nunca lhe dar a oportunidade de um 
compromisso maior seduzindo-o com olhares convida-
tivos, sugestões, gestos indecisos e vagas manifestações 
de amor e amizade. Ela e o marido descobriram no 
ingênuo e rico mineiro um filão de benefícios, de em-
préstimos e de presentes, a explorar indefinidamente.
Sofia é impenetrável nas suas verdadeiras inten-
ções, enganadora e coquete, não cede às investidas do 
amigo apaixonado e dele escarnece em conversas com 
o marido. 
 • Carlos Maria, soberbo, machista e insensível, finge 
envolver-se com Sofia, que se sentia atraída por ele. 
Acaba apaixonando-se por Maria Benedita, com 
quem se casa, provocando inveja e raiva em Sofia. 
Carlos Maria representa o lado esnobe, arrogante, 
preconceituoso e presunçoso da sociedade da época.
 • Maria Benedita, prima deSofia, é uma menina da 
roça que, vindo morar no Rio, transforma-se numa 
moça prendada, de etiqueta, graciosa e elegante 
conforme os padrões burgueses e se casa com Carlos 
Maria.
 • Major Siqueira é um velho militar aposentado, 
simplório, falador e descontraído. Como era amigo 
de Sofia e do marido, também passou a se relacionar 
com Rubião. À medida que o casal Sofia-Palha foi 
ascendendo socialmente, ele foi sendo descartado. 
 • Dona Tonica, filha do major Siqueira, é uma solteiro-
na que já beira os 40 anos sem jamais ter conseguido 
casar-se. 
 • Quincas Borba, o cão tem uma preeminência indis-
cutível sobre as demais personagens, com exceção 
de Rubião, justificada por aquele intuito satírico ge-
ral que orienta a obra, levando o leitor a pensar em 
como apenas um cão se salva do mundo de misérias 
em que vivem as demais criaturas do romance. 
Enredo
O romance gira em torno da tese do Humanitismo, 
teoria filosófica de Quincas Borba, segundo a qual a 
vida é um campo de batalha, onde só os mais fortes 
sobrevivem. Para explicá-la, com a palavra, o próprio 
Quincas Borba:
“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos 
famintas. As batatas apenas chegam para alimen-
tar uma das tribos, que assim adquire forças para 
transpor a montanha e ir à outra vertente, onde 
há batatas em abundância; mas, se as duas tribos 
dividirem em paz as batatas do campo, não che-
gam a nutrir-se suficientemente e morrem de ina-
nição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é 
a conservação. Uma das tribos extermina a outra 
e recolhe os despojos. (...) Ao vencido, ódio ou 
compaixão; ao vencedor, as batatas”.
O simplório Rubião ficou rico da noite para o dia, 
com a morte de Quincas Borba. Os cuidados que Rubião 
deve dispensar ao cachorro do falecido se devem ao 
fato de que Humanitas – o princípio filosófico criado por 
Quincas Borba – é o princípio da vida e está em tudo. 
Sendo assim, o homem Quincas continuaria vivo através 
do cão homônimo. Rubião, embora não acreditasse muito 
Aula 05
5Português 2D
nessas afirmações lunáticas feitas pelo filósofo, acata 
tais condições para garantir a fortuna. Assim, Rubião se 
muda para o Rio de Janeiro. No caminho tem, já na esta-
ção de Vassouras, seus primeiros contatos com Cristiano 
de Almeida Palha e sua mulher Sofia, um jovem casal 
que reside na capital. Instalado num palacete, Rubião 
faz-se bastante presente na casa de Cristiano e Sofia, 
deixando-se guiar totalmente por ambos. Enquanto Cris-
tiano lhe pede dinheiro emprestado, Sofia, por quem ele 
se apaixona, dedica-lhe olhares e favores especiais, até 
o momento em que ele se declara apaixonado por ela. 
Então, Sofia o recusa e conta ao marido a impertinência 
que, na realidade, ela própria fomentara. Palha faz Sofia 
entender que precisam financeiramente de Rubião. A 
senhora Palha, agora consciente de seu papel, continua 
a exercê-lo magistralmente, num jogo de sedução que 
cada vez mais confunde e enlouquece o protagonista.
Cristiano torna-se sócio de Rubião em um negócio 
e vai gerenciando o capital do novo-rico. Curiosamente, 
à medida que Cristiano Palha vai enriquecendo, Rubião 
vai perdendo num ritmo bem cadenciado a fortuna 
herdada. Palha decide romper a sociedade, sob pretexto 
de que ia fazer-se sócio de um banco dali a um tempo. 
Na realidade, nem Palha nem Sofia precisavam mais do 
protagonista. O casal possuía agora uma nobre posição 
social e uma condição financeira invejável. Sofia torna-
-se extremamente altiva e esnobe. 
Além do casal de oportunistas, há outras pessoas 
que se aproximam de Rubião com segundas intenções; 
algumas delas tornando-se seus comensais, como o 
advogado e medíocre jornalista Camacho. Com ajuda fi-
nanceira de Rubião e outros, funda um jornal, o “Atalaia”, 
em que ele publica certa feita o fato heroico de Rubião 
ter salvado um menino de um atropelamento. O milio-
nário se desagrada do ato do amigo mas, conversando 
com ele, acaba por gostar da ideia de ser reconhecido 
pelas pessoas como herói. Como isso Rubião ganha mais 
fama nos altos círculos sociais do Rio.
Doações a campanhas inúteis, empréstimos, pagamen-
to de dívidas de amigos vão corroendo todo o patrimônio 
herdado de Quincas Borba. A primeira manifestação mais 
evidente da loucura ocorre quando ele pede para cortar o 
cabelo e a barba de forma a ficar igual a Napoleão III. Per-
dera o equilíbrio mental. A partir daí terá momentos cada 
vez menores de lucidez e constrangedoras crises, em que 
distribuirá cargos de confiança “da corte francesa” a todos 
os amigos, caminhando com “pompa”, acreditando ser 
ovacionado e admirado por todos os “súditos”. Sofia, para 
ele, torna-se Eugênia, a imperatriz da França.
Como seus delírios só aumentam, é internado numa 
casa de saúde, definitivamente louco. Ironicamente, 
acaba sofrendo da mesma doença do filósofo Quincas 
Borba. Fugindo do sanatório acompanhado do cão, 
regressa a Barbacena. Chegando lá, Rubião e o cão 
Quincas Borba ficam andando todo o dia e toda a noite, 
sem rumo. Tomam chuva, passam fome e frio, ficam ao 
relento. Febril, Rubião é recebido pela comadre Angélica. 
Logo, todos os conhecidos ficam sabendo que ele ficara 
completamente louco. Poucos dias depois ele morre, 
após “coroar-se” com uma coroa invisível e pronunciar a 
frase de Quincas Borba, que só agora julga compreender 
de fato: “Ao vencedor, as batatas”.
O cachorro Quincas Borba ganiu, fugiu em busca do 
dono e amanheceu morto três dias depois.
Dom Casmurro
Dom Casmurro é o melhor romance de Machado 
de Assis. Nele, o autor apurou o estilo e o seu gênio ao 
desvendar a alma humana e ir ao fundo dos sentimentos 
e das ações dissimuladas, em busca da verdadeira face 
interior dos personagens.
O título reflete uma características marcante do pro-
tagonista masculino no crepúsculo da existência: a visão 
amarga e dolorida de quem foi traído e machucado pela 
vida, e que por isso vai-se isolando e ensimesmando. 
O romance, publicado em 1899, é composto por 148 
capítulos curtos. Neles o autor sonda e analisa a socie-
dade do Rio de Janeiro do século XIX e explora temas 
polêmicos como adultério, suicídio e religião. 
A narração é feita em primeira pessoa pelo protago-
nista Bento de Albuquerque Santiago, o Bentinho, que 
recompõe sua trajetória existencial desde o ano de 1857 
até meados da década de 1890, quando o narrador, já 
quinquagenário, se debruça sobre o passado, apresen-
tando-o e, ao mesmo tempo, analisando-o à distância. 
Disso resulta uma estrutura narrativa em que se alternam 
a narração da ação e a reflexão sobre a mesma. 
O tom confidencial serviu para Machado de Assis 
deixar no livro muito de si, do seu temperamento, de sua 
visão pessimista e irônica do mundo. A mente deste 
personagem corroída de ciúme recheia a narrativa de 
ambiguidades, parcialidade e unilateralidade. Bentinho 
– à procura de um tempo feliz perdido no passado da 
infância e da adolescência – tenta sem sucesso atar as 
duas pontas da vida, revivendo no presente o que já faz 
parte do passado. 
Personagens
 • Bento Santiago – O Bentinho, tímido e ingênuo que 
se espantava com as atitudes arrojadas de Capitu, 
torna-se um velho casmurro, solitário e amargo, des-
crente e ensimesmado. Com a mente conturbada, 
resolve narrar o suposto triângulo amoroso em que 
viveu, mistura objetividade com ressentimento, 
desfia o rosário de suas dúvidas e infelicidades até 
6 Extensivo Terceirão
chegar à triste conclusão de que fora covardemente 
traído. Ao tentar passar a limpo sua vida escrevendo 
sua autobiografia, escreve, na verdade um libelo de 
acusação contra Capitu e Escobar.
 • D. Glória, mãe de Bentinho, é viúva abastada com 
escravos alugados e uma dúzia de prédios. Ela desti-
nara o filho ao sacerdócio, em vista de uma promessa 
feita quando ele nascera. Bentinho se acostumara a 
essa ideia religiosa, incentivada por todos os que 
viviam em torno de sua família, tios, tias, o agregado 
José Dias, o Padre. Mas um dia surgiu Capitu na 
vizinhança e lá se foram os projetose propósitos 
de D. Glória. Bentinho apaixonou-se pela menina e 
viveram os dois, nesses primeiros anos, um belo e 
inocente idílio. Encontros furtivos, enlevos de crian-
ças, beijinhos, abraços, tudo isso foi pouco a pouco 
se transformando no amor que os fez jurar, um dia, 
não se casarem jamais a não ser um com o outro. 
 • José Dias - Agregado da casa de Bentinho, ali vivia 
há muito tempo. Vestia-se à moda antiga. Amava os 
superlativos. Opinava e era ouvido. 
 • Tio Cosme - Já viúvo, vivia com a irmã, D. Glória, 
desde que esta enviuvara. 
 • Capitu - A mais discutida personagem da ficção 
brasileira, Capitu, para muitos ainda se afigura uma 
esfinge, pela sua complicada psicologia e pelo 
segredo que o autor deixou em suspenso e sem 
decifração, do possível adultério, apenas entrevisto 
nas desconfianças do marido Bentinho e nas seme-
lhanças do filho com o provável amante.
Amiga e vizinha de Bento desde pequena, tem 
personalidade forte, sagacidade, rapidez de raciocínio 
o que lhe dá grande capacidade de sair-se bem de 
qualquer situação mais ou menos constrangedora. Im-
previsível, misteriosa e calculista, nunca admitiu a culpa 
a ela imputada pelo marido. 
Na opinião de José Dias, ela era uma desmiolada e 
vivia doida para fisgar algum peralta para marido. Tinha 
uns olhos que o diabo lhe deu “de cigana oblíqua e dis-
simulada”. Mas, para Bentinho, na sua obstinada paixão, 
era o sonho e o ideal de sua juventude amorosa e tinha 
uns “olhos de ressaca” que possuíam “um fluido miste-
rioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, 
como a vaga que se retirava da praia nos dias de ressaca”. 
Para a mãe de Bentinho ela era uma menina cândida 
e inocente. Afinal, para o mesmo Bentinho, no fim do 
livro e de suas vidas em comum, já roído de ciúmes e 
desconfianças atrozes, ela deixa de ser aquela figura 
ideal para revelar-se uma falsa e fingida mulher que o 
enganara a vida toda.
 • Escobar foi o grande amigo que Bentinho conheceu 
nos tempos de seminário. Conseguiu sair do internato 
com Bentinho, sugerindo que D. Glória, para não 
quebrar a promessa, colocasse lá um substituto. 
Escobar tornou-se amigo da família e casou-se com 
Sancha, amiga de Capitu. Os dois casais estreitaram 
relações. Escobar ganhou uma filha que recebeu o 
nome de Capitu, e Capitu deu a Bentinho um filho, que 
foi batizado com o nome de Ezequiel, primeiro nome de 
Escobar. 
 • Ezequiel, filho de Capitu e Bentinho. A gravidez de 
Capitu demorou a acontecer, causando certos emba-
raços e constrangimentos ao casal, quando estavam 
em companhia de Sancha e Escobar que tiveram a 
filha Capituzinha logo depois do casamento. 
À medida que ia crescendo, o filho de Capitu 
apresentava, cada vez mais, semelhanças físicas e com-
portamentais com Escobar. Isto chamava a atenção e 
provocava comentários, principalmente das velhas tias. 
Bentinho que inicialmente não dava importância, pas-
sou a se incomodar e, mais tarde, esses fatos vão reforçar 
as suspeitas sobre a paternidade do menino.
Ezequiel acaba morrendo no Oriente Médio, durante 
uma excursão, fato que traz alívio para o narrador.
1. A adolescência, o seminário
Bentinho declara apoiar a teoria de um conhecido 
cantor de que “a vida é uma ópera”. 
Apesar do “duo terníssimo” de Bentinho e Capitu, 
Dom Casmurro é um romance de velhos e solitários (D. 
Glória, Tio Cosme, Pe. Cabral, José Dias, Prima Justina, 
além do casmurro narrador). A velhice na visão de Ma-
chado é amarga e melancólica, dominada por mágoas e 
ressentimentos. 
Aos 15 anos, Bentinho “descobre” que está apaixo-
nado por Capitu. O menino, escondido, ouve quando o 
agregado José Dias aconselha D. Glória a colocá-lo logo 
no seminário, para cumprir a promessa porque, conforme 
afirmava, O rapazinho estava apaixonado pela vizinha! O 
rapazinho fica espantado, estonteado com a revelação. É 
então que ele lembra cenas e momentos que confirmam 
sua paixão: os nomes Bento/Capitolina gravados por ela 
no muro com um prego, o aperto das mãos dele nas dela, 
o primeiro beijo tímido e alucinante...
Ao saber da promessa, Capitu fica furiosa, esbraveja, 
chama D. Glória de papa-missas, carola e beata. Essas ati-
tudes surpreendentes de Capitu assustam Bentinho, pois 
ora faz uma carinha angelical para se livrar de situações 
embaraçosas, ora demonstra uma capacidade incrível de 
dissimulação como se estivesse já guardando a semente 
de mulher misteriosa, ambígua e dúbia que viria ser. Ela 
manipula Bentinho, domina-o, sabe o que quer, e orienta 
o rapazinho na luta estratégica para ele se livrar do semi-
nário inclusive chantageando José Dias.
Aula 05
7Português 2D
Os planos de Capitu e Bentinho fracassam e, então, D. 
Glória, com o apoio do padre Cabral, decide finalmente 
cumprir a promessa e o envia ao seminário, prometen-
do, contudo, que se dentro de dois anos não revelasse 
vocação para o sacerdócio estaria livre para seguir outra 
carreira. Antes da partida, Bentinho e Capitu juram não 
casar-se com outra pessoa acontecesse o que fosse. No 
seminário, Bentinho chora e sofre horrores de saudades, 
solidão e ciúmes.
Bentinho conhece Ezequiel de Souza Escobar, outro 
seminarista sem vocação, e os dois tornam-se amigos e 
confidentes. Escobar é apresentado à família de Bentinho, 
inclusive a Capitu. Esta, depois da partida de Bentinho, co-
meçara a frequentar assiduamente a casa de D. Glória, do 
que nasceu aos poucos grande afeição recíproca, a ponto 
de D. Glória começar a pensar que se Bentinho se apaixo-
nasse por Capitu e casasse com ela a questão da promessa 
estaria resolvida a contento de todos, pois Bentinho, que a 
quebraria, não a fizera, e ela, que a fizera, não a quebraria. 
 Bentinho continuava seus esforços junto a José Dias, 
que, tendo fracassado em seu plano de fazê-lo estudar 
medicina na Europa, sugeria agora que ambos fossem a 
Roma pedir ao Papa a revogação da promessa. 
A solução partiu de Escobar. Segundo este, D. Glória 
prometera a Deus dar-lhe um sacerdote, mas isto não 
queria dizer que este deveria ser necessariamente seu 
filho. Sugeriu então que ela adotasse algum órfão e lhe 
custeasse os estudos. D. Glória consultou o padre Cabral, 
este foi consultar o bispo e a solução foi considerada 
satisfatória. Bentinho deixa o seminário, com cerca de 
17 anos, e vai para São Paulo estudar, tornando-se 
cinco anos depois, o advogado Bento de Albuquerque 
Santiago. Por sua parte, Escobar, que também saíra do 
seminário, tornara-se um comerciante bem-sucedido, 
vindo a casar com Sancha, amiga de Capitu.
2. Céu e inferno
Bento e Capitu finalmente se casam e vão morar no 
bairro da Glória. 
A felicidade do casal seria completa não fosse a de-
mora em nascer um filho. Eles sentem “inveja” de Esco-
bar e Sancha, que tinham tido uma filha, batizada com 
o nome de Capitolina. Depois de muita espera, preces e 
angústias, nasce Ezequiel, batizado com o mesmo nome 
de Escobar, para retribuir a gentileza do casal de amigos, 
que dera à filha o nome de Capitu. Ezequiel revela-se 
muito cedo uma criança inquieta e curiosa, tornando-se 
a alegria dos pais e servindo para estreitar ainda mais 
as relações de amizade entre os dois casais. A partir do 
momento em que Escobar e a Sancha, que moravam 
em Andaraí, resolvem fixar residência no Flamengo, a 
convivência entre as duas famílias torna-se completa e 
os pais chegam a falar na possibilidade de Ezequiel e 
Capituzinha virem a se casar.
Bentinho, agora, depois de tantos anos, relembra 
as pontadas de ciúmes que sentia, quando, nos bailes, 
os lindos braços nus de Capitu chamavam a atenção 
admirada de todos. Lembra como, em outra ocasião, fi-
cara intrigado com um dinheiro (dez libras) que Capitu, 
sem seu conhecimento, ganhara através de aplicações 
feitas por Escobar. Os ataques de ciúme, na época, 
iam-se tornando cada vez mais assíduos, envolvendo 
constantemente a figura do amigo: pequenos indícios, 
encontros furtivos... Vem-lhe à mente a ocasião em que 
ele, Bentinho, voltando mais cedo do teatro a que fora 
sozinho,encontrou Escobar chegando a sua casa.
É o ponto de vista do narrador que começa a alterar 
os fatos? É tudo verdade, ou são enganos ou distorções 
propositais de Bentinho. É real que Escobar se torna um 
tanto distante, que Capitu tem alguns modos estra-
nhos... que Ezequiel cada vez mais imita Escobar... que D. 
Glória está tão triste?... 
Escobar, que gostava de nadar e nadava muito bem, 
morre afogado. No enterro, Capitu, que amparava San-
cha, olha tão fixamente e com tal expressão para Escobar 
morto, que Bento fica abalado e “percebe claramente” 
que fora vítima de uma covarde traição. 
“Momento houve em que os olhos de Capitu 
fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto 
nem palavras desta, mas grandes e abertos, como 
a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar 
também o nadador da manhã.”
Poucos dias depois, Sancha retira-se para a casa de 
parentes no Paraná. Bentinho se incomoda cada vez 
mais com as semelhanças de Ezequiel com Escobar, 
a tal ponto que o velho companheiro de seminário 
parece ressurgir fisicamente quando o menino corre a 
recebê-lo. As relações entre Bento e Capitu deterioram-
-se rapidamente. A solução de colocar Ezequiel num 
internato não se revela eficaz, já que Bento não suporta 
mais ver o filho, o qual, por sua vez, se apega a ele 
cada vez mais, tornando a situação ainda mais crítica. 
 “Escobar vinha assim surgindo da sepultura, do semi-
nário e do Flamengo para se sentar comigo à mesa, 
receber-me na escada, beijar-me no gabinete de manhã, 
ou pedir-me à noite a bênção do costume.” 
Bento decide suicidar-se com veneno, depois de as-
sistir à peça Otelo de Shakespeare. Após despedir-se das 
ruas e paisagens, entra em casa e no escritório coloca o 
veneno no café. Indeciso, resolve esperar um pouco. A 
entrada de Ezequiel lhe dá uma ideia diabólica, decide 
dar o café envenenado ao filho. Mas, no último instante, 
recua e desabafa, transtornado, revelando ao menino 
não ser seu pai. Capitu ao entrar na sala ouve tudo e exi-
ge explicações afirmando que a semelhança de Ezequiel 
com Escobar é casual, atribuindo-a à vontade de Deus.
8 Extensivo Terceirão
Para manter as aparências, o casal parte pouco depois 
rumo à Europa, acompanhado do filho. Bento retorna 
a seguir, sozinho. Trocam algumas cartas e Bento viaja 
outras vezes à Europa, sempre com o objetivo de manter 
as aparências, mas nunca mais chega a encontrar-se com 
Capitu. Tempos depois morrem D. Glória e José Dias. Bento 
retira-se para o Engenho Novo. Ali, certo dia, recebe a visita 
de Ezequiel de Albuquerque Santiago, que era então a 
imagem perfeita de seu velho colega de seminário. Capitu 
morrera e fora enterrada na Europa. Ezequiel permanece 
alguns meses no RJ e depois parte para uma viagem de 
estudos no Oriente Médio, onde morre de uma febre tifoide 
em Jerusalém e é ali enterrado. Mortos todos, familiares e 
velhos conhecidos, Bento/Dom Casmurro fecha-se em si, 
sem se isolar completamente, alimentando algumas ami-
zades e se consolando com inúmeras relações ocasionais. 
Testes
Assimilação
05.01. (UEL – PR) – O Humanitismo, filosofia criada por 
Quincas Borba, é revelador:
a) Do posicionamento crítico de Machado de Assis aos 
muitos “ismos” surgidos no século XIX: darwinismo, posi-
tivismo, evolucionismo.
b) Da admiração de Machado de Assis pelos muitos “ismos” 
surgidos no início do século XX: futurismo, impressionis-
mo, dadaísmo.
c) Da capacidade de Machado de Assis em antever os 
muitos “ismos” que surgiriam no século XIX: darwinismo, 
positivismo, evolucionismo.
d) Da preocupação didática de Machado de Assis com a 
transmissão de conhecimentos filosóficos consolidados 
na época.
e) Da competência de Machado de Assis em antecipar a 
estética surrealista surgida no século XX.
05.02. (ESPM – SP) – Assinale a opção que contenha trecho 
com a conhecida digressão metalinguística presente na obra 
de Machado de Assis.
a) Ora bem, faz hoje um ano que voltei definitivamente da 
Europa. O que me lembrou esta data foi, estando a beber 
café, o pregão de um vendedor de vassouras e espana-
dores: “Vai vassouras! vai espanadores!” .
b) Cuido haver dito, no capítulo XIV, que Marcela morria de 
amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma 
cousa que morrer (...).
c) Rubião não sabia que dissesse; Sofia, passados os primei-
ros instantes, readquiriu a posse de si mesma; respondeu 
que, em verdade, a noite era linda (...).
d) Assim chorem por mim todos os olhos de amigos e 
amigas que deixo neste mundo, mas não é provável. 
Tenho-me feito esquecer.
e) Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vi-
zinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados 
pelos ombros (...).
05.03. (VUNESP – SP) – Em Dom Casmurro, Bentinho é o 
narrador que 
a) ouve de terceiros histórias de personalidades intrigantes 
e as organiza por escrito. 
b) relata, em forma de diário, as experiências vividas ao 
mesmo tempo em que escreve. 
c) registra, com isenção de opinião, as aventuras das pessoas 
com quem conviveu. 
d) investiga as vidas de quem o traiu no passado para arqui-
tetar sua vingança.
e) conta suas memórias, com o objetivo de compreender 
seu passado e seu presente.
05.04. (VUNESP – SP) – Condizente com a estética do realis-
mo brasileiro, a linguagem de Dom Casmurro caracteriza -se 
por 
a) ser predominantemente culta e direta.
b) conter um grande número de neologismos. 
c) expressar o sentimentalismo com exagero. 
d) representar a fala do povo sem instrução. 
e) romper propositalmente com a gramática normativa.
Aperfeiçoamento
05.05. (UFAL) – Segundo certo autor, “seria patético escrever 
como Machado de Assis, no século XXI”. A respeito da escrita 
machadiana, podemos afirmar que:
a) as relações amorosas presentes em suas obras retratam 
o amor sublime, puro, sacrificial.
b) suas personagens femininas são o protótipo da mulher 
casta, angelical e perfeita.
c) regionalismos e expressões que representam a língua do 
sertanejo são utilizadas com frequência.
d) suas descrições de personagens são feitas com a intenção 
de elevá-los e de idealizá-los.
e) o interior dos personagens é focalizado, o que lhes confere 
profundidade psicológica.
Aula 05
9Português 2D
05.06. Texto 
O SENÃO DO LIVRO
Começo a arrepender-me deste livro. Não que 
ele me canse; eu não tenho o que fazer; e, real-
mente, expedir alguns magros capítulos para esse 
mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da 
eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a se-
pulcro, traz certa contração cadavérica; vício gra-
ve, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste 
livro és tu leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e 
o livro anda devagar, tu amas a narração direta e 
nutrida, o estilo regular e fluente e este livro e o 
meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e 
à esquerda, andam e param, resmungam, urram, 
gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
E caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, 
heis de cair, como quaisquer outras belas e visto-
sas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágri-
ma de saúde. Esta é a grande vantagem da morte, 
que, se não deixa boca para rir, também não deixa 
olhos para chorar... Heis de cair.
(Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis).
A partir da leitura deste capítulo do romance de Machado 
de Assis podemos concluir, no que diz respeito ao seu estilo 
narrativo, que:
1. se trata de uma obra fragmentada.
2. os capítulos vão e vêm sem uma linearidade cronológica 
rígida.
3. o narrador, em estado de embriaguez, não consegue 
impor uma ordem satisfatória em suas lembranças.
4. o ideal de arte do narrador está na regularidade e na 
fluência da narrativa.
Das opções acima, estão corretas:
a) 1, 3 e 4. b) 1, 2 e 3.
c) 2 e 3. d) 2 e 4. 
e) 1 e 2. 
05.07. O capítulo em questão pode ser considerado meta-
linguístico porque:
a) o narrador fala sobre a sua própria vida.
b) é explicita a presença do narrador.
c) o narrador comenta aspectos estilísticos do romance.
d) Machado de Assis criou um narrador que estámorto.
e) há uma nítida opção pela ironia.
05.08. O Senão do Livro é um dos momentos de conversa 
com o leitor. Machado de Assis usa este recurso com frequên-
cia, sendo abundantes em sua obra as referências ao fruidor.
Assinale a alternativa que contém a afirmação incorreta 
sobre este assunto.
a) O narrador reconhece que está escrevendo segundo o 
gosto do seu público.
b) Ao contrário do que acontecia no período romântico, há 
agora uma fratura entre a obra e o público.
c) A intenção do autor não é contentar quem o lê, mas mexer 
com os seus valores, fazendo com que ele veja e sinta as 
coisas de forma diferente.
d) O narrador, por estar (pelo menos em tese) morto, se sente 
livre para frustrar o leitor.
e) O diálogo com o leitor constitui uma digressão narrativa, 
que fortalece o caráter ziguezagueante do livro.
05.09. (UNIOESTE – PR) – Considerando-se o romance 
Quincas Borba, de Machado de Assis, é incorreto afirmar que
a) o título do romance se refere tanto a uma personagem 
humana quanto a uma personagem canina.
b) a progressiva demência de Rubião o identifica com Quin-
cas Borba, seu amigo já falecido.
c) Sofia e seu marido aproximam-se de Rubião movidos pelo 
interesse financeiro.
d) o aforismo Ao vencedor, as batatas resume a filosofia da 
personagem humana Quincas Borba.
e) Rubião, ao receber a herança, desconsidera a cláusula do 
testamento, segundo a qual ele deveria cuidar do cão 
Quincas Borba.
05.10. (VUNESP – SP) – Trecho de Dom Casmurro, de Ma-
chado de Assis.
Ezequiel, quando começou o capítulo anterior, 
não era ainda gerado; quando acabou era cristão e 
católico. Este outro é destinado a fazer chegar o meu 
Ezequiel aos cinco anos, um rapagão bonito, com os 
seus olhos claros, já inquietos, como se quisessem 
namorar todas as moças da vizinhança, ou quase 
todas. Agora, se considerares que ele foi único, que 
nenhum outro veio, certo nem incerto, morto nem 
vivo, um só e único, imaginarás os cuidados que nos 
deu, os sonos que nos tirou, e que sustos nos mete-
ram as crises dos dentes e outras, a menor febrícula, 
toda a existência comum das crianças. 
A tudo acudíamos, segundo cumpria e urgia, 
cousa que não era necessário dizer, mas há leito-
res tão obtusos, que nada entendem, se lhes não 
relata tudo e o resto. Vamos ao resto. 
Uma característica do estilo de Machado de Assis que pode ser 
observada nesse trecho diz respeito ao modo como o narrador 
a) se limita à descrição psicológica, sem mencionar qualquer 
traço físico do personagem.
b) anuncia um fato de ordem coletiva como se fosse uma 
experiência pessoal. 
c) faz comentários sobre o próprio texto e conversa direta-
mente com o leitor.
d) não se envolve afetivamente com a história, o que retira 
o teor ficcional do relato. 
e) não emite juízos de valor, como se os fatos se dessem a 
conhecer sem intermediários.
10 Extensivo Terceirão
Aprofundamento
05.11. Sobre o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, 
bem como sobre seu autor, Machado de Assis, assinale a 
alternativa correta.
a) O narrador desse romance é tipicamente realista: mi-
nucioso, descritivo, sincero, chega a chocar o leitor por 
sua excessiva franqueza. Ao interferir repetidamente na 
narrativa, esse narrador estabelece uma cumplicidade 
com o leitor, que fica tentado a perdoar, ou ao menos 
relevar, certas atitudes do Brás vivo, narradas com olhar 
irônico pelo Brás morto.
b) Machado de Assis é um romancista afinado com os temas 
de sua época. Seus romances e seus contos abordam 
questões como o apoio irrestrito à monarquia, a defesa 
intransigente dos valores burgueses, uma cautelosa inda-
gação sobre os males que a abolição da escravatura viria a 
desencadear na sociedade brasileira etc.
c) Memórias Póstumas de Brás Cubas é um romance que 
põe em cheque as noções de gênero literário. Apesar de 
o narrador ser o mesmo durante todo o romance, cada 
episódio (a linda Marcela, Eugênia, Virgília etc.) pode ser 
lido separadamente, como se fosse um conto. A estrutura 
revolucionária desse romance, porém, passou desperce-
bida dos críticos durante décadas.
d) O romance está entre os três considerados obras-primas 
de seu autor. Os outros dois são Dom Casmurro e Quin-
cas Borba. Os três romances contemplam, com ironia, a 
hipocrisia e a falsidade nas relações humanas da época 
retratada e mostram que essa hipocrisia e essa falsidade 
são causadas pelas estruturas da sociedade, que tem os 
bens materiais como valor absoluto.
e) Memórias Póstumas de Brás Cubas relata a vida de um 
jovem de boa família, que desperdiça as oportunidades 
de tornar-se um estudioso, um político importante 
ou algum outro benfeitor da sociedade. Idoso, ele re-
memora sua vida fútil e decide resgatar esse passado 
ao pesquisar o “Emplastro Brás Cubas”, que aliviaria o 
sofrimento de milhões. Infelizmente, adoece e morre 
antes de cumprir esse objetivo nobre.
05.12. (PUC – RS) – Para responder à questão, analisar as 
afirmativas e assinalar com V (verdadeiro) ou F (falso) os 
parênteses.
Contemporâneo de Aluísio de Azevedo, Machado de Assis 
consagrou-se pelo caráter genuíno de sua obra, sobre a 
qual se afirma:
( ) A expressiva produção do autor inclui uma primeira fase, 
a que estão vinculadas obras como Helena e Iaiá Garcia.
( ) Um traço marcante no discurso do narrador de Dom 
Casmurro é a presença de incoerências na avaliação do 
seu passado.
( ) Os contos de Machado de Assis diferenciam-se dos 
romances não apenas pelo ritmo das narrativas, mas 
principalmente pelas temáticas abordadas.
( ) A ação em Quincas Borba desenvolve-se em Barbace-
na e no Rio de Janeiro, sendo este último o local de 
todo o infortúnio da personagem Rubião.
( ) O narrador de Memórias póstumas de Brás Cubas, 
de início, explica em detalhes ao leitor o processo 
de narração além-túmulo.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de 
cima para baixo, é
a) F – F – V – F – F
c) V – V – F – V – F
e) V – F – V – V – F
b) F – V – F – F – V 
d) V – F – V – F – V
05.13. Textos de Machado de Assis
Texto I
O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, 
uma boca tão fresca, uma compostura tão senho-
ril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a na-
tureza é às vezes um imenso escárnio. Por que 
bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? 
Texto II
Eu cínico, alma sensível? Pela coxa de Diana! 
Esta injúria merecia ser lavada com sangue, se o 
sangue lavasse alguma cousa nesse mundo.
A partir dos textos I e II, considere as seguintes afirmações.
I. No primeiro fragmento, o narrador faz predominar a 
percepção realista dos fatos.
II. No segundo fragmento o narrador ironiza um clichê 
romântico.
III. No segundo fragmento pressupõe-se a presença de um 
interlocutor crítico.
IV. Da relação entre os fragmentos pode-se dizer que o nar-
rador explora sarcasticamente as referências intratextuais.
Assinale:
a) se todas estão corretas.
b) se apenas I, III e IV estão corretas.
c) se apenas I e III estão corretas.
d) se apenas II e III estão corretas.
e) se todas estão incorretas.
05.14. (PUCPR) – Aponte, dentre as alternativas a seguir, 
aquela que contém informações CORRETAS sobre os relacio-
namentos amorosos do personagem Brás Cubas no romance 
homônimo de Machado de Assis:
a) O pai de Brás intervém para afastá-lo de Marcela, seu 
primeiro grande amor. Muito jovem e irresponsável, o 
protagonista do romance se envolve com a rica e sensual 
italiana e corre sérios riscos pelo fato de ela ser casada 
com um importante senador, amigo da família Cubas. 
Brás resiste o quanto pode à determinação de seu pai, 
porque percebe em Marcela um amor sincero. O fim do 
caso acontece quando ela, atacada pela culpa após o sui-
cídio de seu marido, decide retornar à Itália para sempre, 
esquecendo tudo o que viveu no Brasil.
b) Brás Cubas, ao fazer, já na condição de “defunto autor”, o ba-
lanço de sua vida, atesta que não se casou e não teve filhos, 
Aula 05
11Português 2D
e sugere que essas duas irrealizações seriam, cada uma a seu 
modo, algo comparávela um “lucro”. Essa visão pessimista dos 
relacionamentos, contudo, não o impediu de ter uma vida 
amorosa variada e agitada, sendo Virgília seu par mais cons-
tante. Com ela, ele teve um envolvimento que se sustentou na 
clandestinidade e sempre sob riscos, pelo fato de ela ser casada 
com o político Lobo Neves do qual, em certo tempo, Brás se 
aproximou, dizendo-se seu “amigo”. Todavia, aparentemente, 
para os amantes, esse caso nunca representou um drama 
moral. A preocupação de ambos, enquanto o amor durou, 
sempre foi manter as aparências no jogo social, evitando o 
quanto possível danos maiores para eles e para Lobo Neves.
c) Virgília é a figura feminina mais constante na vida de Brás 
Cubas. Fútil, superficial e interesseira, ela encontra no prota-
gonista uma espécie de “par perfeito”, com o qual vive um 
relacionamento que confronta a moral familiar da época. Em-
bora casado com Marcela – que sabia do caso, mas nunca se 
opôs, preferindo manter hipocritamente as aparências para 
não prejudicar o projeto político do marido –, Brás mantém 
com Virgília um amor que se preserva até o fim da vida dele.
d) Nhá Loló é um amor da juventude do protagonista. Os dois 
se criaram praticamente juntos e viveram um afeto marcado 
pela pureza, sendo ela, com seu comportamento romântico, 
a principal inspiração para a precoce vocação literária de Brás. 
Porém, a história dos dois tem um fim trágico com a morte 
repentina dela, por uma doença não identificada pelos mé-
dicos. Inspirado no amor do poeta Dante Alighieri por Beatriz, 
Brás Cubas – que ao longo de sua vida nunca esqueceu Nhá 
Loló – aceita sua própria morte como um momento feliz por 
poder, na eternidade, reencontrar sua amada.
e) Em sua vida acidentada e de muitos relacionamentos, Sofia, 
esposa de seu amigo Palha, foi a figura feminina que mais 
comoveu Brás Cubas. Discretamente seduzido por ela – que 
sabia do amor dele, embora ele nunca tenha tido coragem 
de se declarar, por respeito a Palha -, Brás é, na verdade, um 
alvo fácil para uma série de golpes que o casal de “amigos” 
lhe aplica, levando-o à miséria e à ruína moral.
Instrução: Leia o texto – Capítulo I – Óbito do autor, da obra 
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e 
responda à questão. 
Algum tempo hesitei se devia abrir estas 
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se 
poria em primeiro lugar o meu nascimento ou 
a minha morte. Suposto o uso vulgar seja co-
meçar pelo nascimento, duas considerações me 
levaram a adotar diferente método: a primeira é 
que eu não sou propriamente um autor defun-
to, mas um defunto autor, para quem a campa 
foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria 
assim mais galante e mais novo. Moisés, que 
também contou a sua morte, não a pôs no in-
troito, mas no cabo: diferença radical entre este 
livro e o Pentateuco. 
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de 
uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na 
minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns 
sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era 
solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui 
acompanhado ao cemitério por onze amigos. 
Onze amigos! Verdade é que não houve cartas 
nem anúncios. Acresce que chovia – peneira-
va uma chuvinha miúda, triste e constante, tão 
constante e tão triste, que levou um daqueles 
fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa 
ideia no discurso que proferiu à beira de minha 
cova: – “Vós, que o conhecestes, meus senho-
res, vós podeis dizer comigo que a natureza pa-
rece estar chorando a perda irreparável de um 
dos mais belos caracteres que têm honrado a 
humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do 
céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul 
como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua 
e má que lhe rói à natureza as mais íntimas en-
tranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nos-
so ilustre finado”. Bom e fiel amigo! Não, não 
me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. 
 Obs.: O termo Pentateuco refere-se ao conjunto dos 
livros de Moisés, os primeiros da Bíblia. 
05.15. (UNESC) – Sobre o capítulo dado, assinale a afirmativa 
INCORRETA.
a) Principalmente no segundo parágrafo, destaca-se uma 
visão crítica e um olhar de ironia diante dos costumes da 
sociedade da época. 
b) A primeira frase do texto revela o uso de metalinguagem, 
proposta de comentar e refletir criticamente o próprio 
ato de escrever. 
c) O autor-personagem confessa que vai adotar a mesma 
sequência narrativa adotada por Moisés, em face das 
considerações sobre a vida e a morte que o levaram a 
escrever suas memórias. 
d) O autor-personagem intitula-se defunto autor, um morto 
que resolveu contar suas memórias e pode fazê-lo de 
forma arbitrária, fugindo aos padrões literários da época. 
e) Segundo estudiosos da obra machadiana, a análise 
psicológica das contradições humanas na criação de 
personagens imprevisíveis (defunto autor), jogando com 
insinuações em que se misturam a ingenuidade e a malí-
cia, a sinceridade e a hipocrisia permite inserir Machado 
de Assis como o principal escritor brasileiro do realismo. 
05.16. (ESPM) – Leia o seguinte comentário sobre Machado 
de Assis:
Suas obras não apresentam heróis. A esmaga-
dora maioria, pode-se dizer que quase a totalidade 
de seus personagens, não apresenta caracteres, ain-
da que incidentais, exemplarmente positivos. Os 
personagens masculinos são, em geral, medíocres, 
de inteligência estreita, valores rasos, e a aceitação 
social de que desfrutam decorre do status que têm. 
 (Revista Discutindo Literatura, Escala Educacional, ano 1, n.º 4, pág. 32)
12 Extensivo Terceirão
b) habilidade de D. Plácida para contornar sua moralidade 
e tolerar o adultério, conformando-se com a história 
inventada por Brás Cubas. 
c) indiferença de Brás Cubas em relação à D. Plácida, pois 
ele se importa apenas com o que pensam as pessoas do 
seu círculo social. 
d) sabedoria de Brás Cubas, que consegue transformar sua his-
tória de infidelidade com Virgília em uma novela sedutora.
e) metalinguagem no discurso do narrador e à análise crítica 
do comportamento humano. 
05.18. Além da elegância do estilo, Machado de Assis, em 
romances mais maduros, valeu-se de um olhar crítico, criativo 
e irônico, tal como tão originalmente o aplicou em 
a) Dom Casmurro, onde o narrador onisciente passa em 
revista os valores ostentados pelas classes dominantes, 
sobretudo a dos rentistas. 
b) Iaiá Garcia, ingressando com essa narrativa violenta nos 
padrões da prosa de ficção naturalista, com claro intento 
de crítica social. 
c) Memórias póstumas de Brás Cubas, onde o fantasioso 
narrador em 1ª. pessoa se dispõe a fazer um cru levanta-
mento de sua vida. 
d) ) Quincas Borba, cujo narrador em 1ª. pessoa, comparti-
lhando o ponto de vista de um cão, propõe-se a registrar 
os feitos da vida de um seu grande amigo. 
e) Memorial de Aires, espécie de registro coletivo de vozes 
das personalidades políticas mais influentes ao tempo do 
1º. e do 2º. impérios. 
Desafio
A Machado de Assis, morto vivo
01. De que maneira a fundo iremos conhecer-te, 
02. se muita vez estás noutro lugar, 
03. mil cabriolas a dar 
04. com a manipulação frequente de um falar 
05. e dois entenderes? 
06. O que propões, porém, vamos tateando, 
07. e o teu pungente riso saboreando.
08. Algo fica, afinal, de tuas reticências –,
09. mesmo sem se atingir total a tua essência 
10. e não obstante a previsão de Cubas –, 
11. também nas duas tais colunas da opinião, 
12. não só numa terceira, a dos agudos, 
13. e assim o teu discurso não é vão.
14. De além dos vermes que roeram,
15. as tuas frias carnes 
16. sem deixar boca para rir.
17. nem olhos para chorar, 
18. escuta-me com a alma que restou 
19. do teu grande naufrágio 
20. (longe do feroz ágio e do pedágio). 
21. Aqui estou para dizer-te o quanto 
Assinale a opção em que a personagem não se enquadre 
no comentário acima: 
a) Bentinho, narrador de D. Casmurro, ciumento, autor de 
um discurso dúbio, com uma tendência enorme para o 
devaneio.
b) ) Quincas Borba, personagem de livrohomônimo e das 
Memórias Póstumas de Brás Cubas, autor de um princípio 
filosófico que desdenhava os pensamentos e religiões em 
voga na época. 
c) Simão Bacamarte, cientista de O Alienista, homem de-
dicado a observações e a estudos, sem jamais ceder a 
pressões populares. 
d) Brás Cubas, narrador de Memórias Póstumas de Brás 
Cubas, homem abastado que não teve êxito nem na 
carreira política, nem na vida sentimental. 
e) Rubião, personagem de Quincas Borba, herdeiro de uma 
fortuna, deixou-se conduzir pelos conselhos de Cristiano 
e pelos encantos de Sofia, esposa deste.
05.17. Leia o fragmento a seguir, extraído do capítulo “D. 
Plácida”, de Memórias póstumas de Brás Cubas, romance 
de Machado de Assis. 
Custou-lhe muito a aceitar a casa; farejara a in-
tenção, e doía-lhe o ofício; mas afinal cedeu. Creio 
que chorava, a princípio: tinha nojo de si mesma. 
Ao menos, é certo que não levantou os olhos para 
mim durante os primeiros dois meses; falava-me 
com eles baixos, séria, carrancuda, às vezes tris-
te. Eu queria angariá-la1, e não me dava por ofen-
dido, tratava-a com carinho e respeito; forcejava 
por obter-lhe a benevolência, depois a confiança. 
Quando obtive a confiança, imaginei uma história 
patética dos meus amores com Virgília, um caso 
anterior ao casamento, a resistência do pai, a du-
reza do marido, e não sei que outros toques de 
novela. D. Plácida não rejeitou uma só página da 
novela; aceitou-as todas. Era uma necessidade da 
consciência. Ao cabo de seis meses quem nos visse 
a todos três juntos diria que D. Plácida era minha 
sogra. Não fui ingrato; fiz-lhe um pecúlio2 de cin-
co contos, – os cinco contos achados em Botafogo, 
– como um pão para a velhice. D. Plácida agra-
deceu-me com lágrimas nos olhos, e nunca mais 
deixou de rezar por mim, todas as noites, diante 
de uma imagem da Virgem, que tinha no quarto. 
Foi assim que lhe acabou o nojo.
Vocabulário 
1 angariar: conquistar. 
2 pecúlio: reserva em dinheiro.
Um dos traços característicos dos focos narrativos de Ma-
chado de Assis é sua conduta digressiva, por meio da qual 
eles comentam e analisam os eventos e personagens de 
suas histórias. No fragmento em questão, o trecho “Era uma 
necessidade da consciência” constitui digressão e se refere à: 
a) ousadia de D. Plácida a respeito do adultério de Brás Cubas 
e Virgília, pois a criada sabe que, para sobreviver, precisa 
enfrentar as normas sociais. 
Aula 05
13Português 2D
22. ainda te ouvimos, lemos e te amamos. 
23. Ensinaste-nos que há sempre 
24. uma gota da baba de Caim, 
25. tanto a vontade como a ação umedecendo 
26. de indivíduos, de classes ou de tribos. 
27. Que por batatas uns aos outros se consomem. 
28. (Quantos, qual tu sem Deus, acham que a 
morte é o fim!) 
29. Joaquim Maria, as tuas esquivanças, 
30. silêncios e trejeitos e artimanhas 
31. deram-nos luz para a experiência do homem. 
32. E, quanto a nado, mar, navegação,
33. embora cada um de nós manobre
34. bem a seu modo o timão,
35. para o leitor abriste uma Escola de Sagres,
36. onde muito se pode observar,
37. dos olhos de ressaca em tua Capitu
38. até os confins da Europa no seu corpo,
39. que por Bentinho, enfim, é rejeitado.
40. Fizeste de Escobar o próprio rio Cobar,
41. para em Ezequiel, homônimo do bíblico,
42. denunciar-se por fumos todo um fogo,
43. a culpa intencional da sedução de um mar...
44. E fizeste surgir a dúvida no ar.
45. Ora com humour, ora com ironia
46. contra Leibniz puseste Schopenhauer.
47. De Laurence Sterne filtraste a sátira menipeia.
48. E o vulnerável, mestre, apanhas com mão fria.
49. Sobressai-te um vigor: a sensual latência,
50. quase sempre consciente e deletéria,
51. qual sangue a latejar por dentro de uma artéria.
52. Evidenciando aqui, ali insinuando,
53. soubeste registrar o desconforto,
54. o descontentamento e a frustração
55. da nossa humana condição
56. desde o emplasto de Brás Cubas
57. à solda da opinião.
58. E aqui ficamos tristes e inquietos
59. com as mil formas de ser da humana Dor.
60. Muito amor ainda falta e pão. Faltam mais tetos,
61. a paz pública falta e a paz interior.
62. Sentimo-nos pequenos e incompletos.
 LINHARES FILHO, José. A Machado de Assis, morto vivo.
05.19. (UFCE) – De acordo com a primeira estrofe do poema 
(versos 01-31), é correto afirmar que, na obra machadiana:
a) o uso frequente de reticências é uma importante peça 
comunicativa.
b) o riso é provocado por expressões pueris, as quais são 
bastante recorrentes.
c) o indianismo é evidenciado pelo relato dos hábitos de 
tribos indígenas brasileiras.
d) os silêncios se fazem notar nas significativas páginas em 
branco entre as partes dos romances.
e) a sociedade brasileira é retratada de modo idealizado, pois 
Machado esquiva-se de um relato mais realista.
05.20. (UFCE) – Os excertos “De além dos vermes que ro-
eram / as tuas frias carnes” (versos 14-15), “[Ensinaste-nos] 
Que por batatas uns aos outros se consomem” (verso 27) e 
“dos olhos de ressaca em tua Capitu” (verso 37) realizam inter-
textualidade, respectivamente, com os seguintes romances 
de Machado de Assis:
a) Memórias póstumas de Brás Cubas; Esaú e Jacó; Dom 
Casmurro.
b) Ressurreição; Dom Casmurro; Memórias póstumas de 
Brás Cubas.
c) Memórias póstumas de Brás Cubas; Quincas Borba; Dom 
Casmurro.
d) Quincas Borba; Dom Casmurro; Memórias póstumas de 
Brás Cubas.
e) Memórias póstumas de Brás Cubas; Memorial de Aires; 
Dom Casmurro.
Gabarito
05.01. a
05.02. b
05.03. e
05.04. a
05.05. e
05.06. e
05.07. c
05.08. a
05.09. e
05.10. c
05.11. d
05.12. c
05.13. a
05.14. b
05.15. c
05.16. c
05.17. b
05.18. c
05.19. a
a) CORRETA - As reticências que caracterizam a obra macha-
diana são importantes peças comunicativas; como bem ex-
presso pelo eu lírico do poema, no verso 08, “Algo fica, afinal, 
de tuas reticências”. Elas desempenham função semântica 
na escrita de Machado, algo é deixado em suspenso. 
b) ERRADA - O eu lírico do poema, no verso 07, refere-se ao 
pungente riso ao qual ele e os demais leitores vão sabo-
reando. Aqui há alusão ao humor machadiano; um humor 
irreverente, irônico, com função crítica, pungente
 (ou seja, doloroso, lancinante), e não pueril. 
c) ERRADA - O indianismo é característica do Romantismo bra-
sileiro. A segunda fase da obra de Machado de Assis, inau-
gurada com a escrita de Memórias póstumas de Brás Cubas, 
fase a que o poema em análise faz referência, apresenta 
características realistas. No Realismo, não há lugar para as 
idealizações românticas. 
d) ERRADA - O eu lírico, de fato, alude aos silêncios para reme-
ter à atitude narrativa de Machado, contudo, não se pode 
afirmar que, na obra machadiana, os silêncios se fazem 
notar em significativas páginas em branco. Essa não é uma 
característica do estilo do autor; trata-se, na verdade, de ca-
racterística presente em algumas obras concretistas
e) ERRADA - Machado de Assis não se esquivou de relatar re-
alisticamente a sociedade brasileira de sua época; tanto o é 
que sua obra é reconhecidamente um retrato da sociedade 
brasileira aristocrática do final do século XIX.
05.20. c
c) CORRETA - Os versos “De além dos vermes que roeram / as 
tuas frias carnes” realizam intertextualidade com a dedica-
tória do livro Memórias póstumas de Brás Cubas. O verso 
“[Ensinaste-nos] Que por batatas uns aos outros se conso-
mem” realiza intertextualidade com a obra Quincas Borba. 
Por fim, o verso “dos olhos de ressaca em tua Capitu” realiza 
intertextualidade com a obra Dom Casmurro. 
a) ERRADA - Esaú e Jacó 
b) ERRADA - Ressurreição 
d) ERRADA - não apresenta correlação correta entre o excerto 
e a obra machadiana
e) ERRADA - Memorial de Aires
14 Extensivo Terceirão
2A1BAula 06
Naturalismo – Parnasianismo
Português
2D
 Naturalismo
Com a palavra, os historiadores e crítico literários.
“O realismo se tingirá de naturalismo, no romance 
e no conto, sempre que fizer personagens e enredos 
submeterem-se ao destino cego das “leis naturais” que 
a ciência da época julgava ter codificado...” (AlfredoBosi)
“Fugindo de figurar as suas exatas dimensões e a 
profundidade social de seus motivos, o naturalismo des-
caía inevitavelmente para o excepcional, para o isolado, 
para o extremo, para o arbitrário. É por isso que acaba 
por fixar-se no patológico, nos tipos descomedidos, no 
ébrio, no criminoso, na histérica, no anormal, como se 
criaturas tais estivessem em condições de espelhar o 
conjunto.” (Nelson Werneck Sodré)
“O realismo exterior (naturalismo) caracteriza-se pela 
visão do real, real sensível, fundada nos princípios científi-
cos, segundo os quais a vida psicológica das personagens 
é suscetível de ser conhecida e analisada visto que se 
manifesta por meio de gestos, palavras, contorno do rosto, 
etc., enfim, os aspectos fenotípicos. Tal psicofisiologismo, 
articulando-se à influência do meio, considerado o fator 
mais decisivo, permite que o comportamento dos protago-
nistas seja matematicamente previsível.” (Massaud Moisés)
Características
a) Subordinação do desenvolvimento da criação 
às leis biológicas ou fisiológicas. O homem é 
uma máquina regida pela ação dos fenômenos 
físicos e químicos, pelo fatalismo incoercível da 
hereditariedade, pelos fatores deterministas do 
meio social e físico.
b) Preferência por temas de natureza patológica. O 
espírito de imparcial objetividade, que informa a 
obra do autor naturalista, leva-o a focalizar todos 
os assuntos e atitudes, mesmo os mais repulsi-
vos, aqueles que refluem principalmente da ralé 
e da escória humana, pois o naturalismo intenta 
reproduzir a natureza e o homem natural.
c) Uso de linguagem simples, direta, coloquial, 
natural e até vulgar, quando se fizer oportuna 
na representação verbal das gírias das classes, 
profissões e de grupos sociais.
d) Intenção clara e determinada de imprimir à 
literatura um cunho científico. Júlio Ribeiro, 
romancista de A carne, chama a seu trabalho de 
“estudo” e não de “romance”.
e) O amoralismo, a indiferença no que se refere à 
opinião ou atitude sobre os atos humanos, pois 
o que importa é o ato em si mesmo e não o juízo 
que sobre ele se pode fazer.
f ) Criação do romance documental e experimen-
tal.” (Hênio Tavares)
Aluísio Azevedo
Nasceu em São Luís do Maranhão em 1857 e morreu 
em Buenos Aires com 56 anos. 
Com 19 anos jovem foi cursar a Academia Imperial 
de Belas Artes, no Rio de Janeiro.  
Com grande talento para as artes, em especial para 
desenho e pintura, chegou a trabalhar com caricaturas, e cos-
tumava desenhar antes de escrever, para visualizar melhor os 
cenários, os personagens e os enredos de seus textos.
Volta-se para a literatura por motivos financeiros. Com 
a morte do pai, em 1878, precisa retornar ao Maranhão 
para ajudar os familiares. Encontra o sustento na escrita. 
Sua primeira publicação “Uma lágrima de mulher”, 
tem ainda características do romantismo. O Mulato, 
de1881, é considerada a obra que lançou a escola do 
Naturalismo no Brasil. Por essa época, o autor volta ao 
Rio e passa a produzir peças, contos e os romances O 
cortiço, Casa de pensão, entre outros. 
Em 1895, foi nomeado diplomata e, vinte anos 
depois, Aluísio foi morar novamente em Buenos Aires 
como cônsul de primeira classe, onde veio a falecer.
Obras principais
O Mulato
O romance, apontado como a obra inaugural do Natu-
ralismo no Brasil, destaca a crítica social, através da sátira 
impiedosa contra tipos de São Luís como o comerciante 
rico e grosseiro, a velha beata e raivosa, o padre relaxado e 
assassino, e uma série de personagens que resvalam sem-
pre para o imoral e para o grotesco. Alguns personagens 
são pessoas de São Luís, conhecidas pelo autor.
Aula 06
15Português 2D
O padre e depois Cônego Diogo, devasso, hipócrita e 
assassino, personifica o anticlericalismo.
A crítica ao preconceito racial e social percorre toda 
a narrativa, como também a sexualidade instintiva e 
animal, manifestada pela paixão carnal de Ana Rosa por 
Raimundo.
A impunidade e gratificação final dos culpados, como o 
casamento de Ana com o assassino de Raimundo e a promo-
ção a cônego do padre Diogo demonstram a vitória do mal.
Enredo
Saindo criança de São Luís para Lisboa, Raimundo 
viajava órfão de pai, um ex-comerciante português, e 
afastado da mãe, Domingas, uma ex-escrava do pai. Rai-
mundo volta formado para o Brasil para rever seu tutor e 
tio, Manuel Pescada. Raimundo desperta as atenções de 
sua prima Ana Rosa que, em dado momento, lhe declara 
seu amor. Essa paixão correspondida encontra, todavia, 
três obstáculos: o do pai, que queria a filha casada com 
um dos caixeiros da loja; o da avó Maria Bárbara, mulher 
racista e de maus bofes; o do Cônego Diogo, comensal 
da casa e adversário natural de Raimundo. Os três co-
nheciam as origens negroides de Raimundo. E o Cônego 
Diogo era o mais empenhado em impedir a ligação, uma 
vez que fora responsável pela morte do pai do jovem.
Como aconteceu
Depois que Raimundo nasceu, seu pai, José Pedro da 
Silva, casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santia-
go, mulher branca. Suspeitando da atenção particular 
que José Pedro dedicava ao pequeno Raimundo e à 
escrava Domingas, Quitéria ordena que açoitem a negra 
e lhe queimem as partes genitais. Desesperado, José Pe-
dro carrega o filho e leva-o para a casa do irmão Manuel 
Pescada, em São Luís. De volta à fazenda, imaginando 
Quitéria ainda refugiada na casa da mãe, José Pedro ouve 
vozes em seu quarto. Invadindo-o, o fazendeiro surpre-
ende Quitéria e o então Padre Diogo em pleno adultério. 
 Desonrado, o pai de Raimundo mata Quitéria, tendo 
Diogo como testemunha. Graças à culpa do adultério e à 
culpa do homicídio, forma-se um pacto de cumplicidade 
entre ambos, e José Pedro abandona a fazenda, retira-se 
para a casa do irmão e adoece. Meses depois, já resta-
belecido, José resolve voltar à fazenda, mas, no meio do 
caminho, é tocaiado e morto. 
Raimundo ignorava tudo isso.
 Em São Luís, sua preocupação era desvendar suas 
origens e, por isso, insiste com o tio para visitar a fazenda 
onde nascera. Durante o percurso a São Brás, Raimundo 
começa a descobrir os primeiros dados sobre suas ori-
gens e insiste com o tio para que lhe conceda a mão de 
Ana Rosa. Após várias recusas, Raimundo fica sabendo 
que o motivo da proibição devia-se à cor de sua pele. 
Então, muda-se da casa do tio e decide partir para o Rio.
Diante da impossibilidade de se unirem, Ana Rosa e 
Raimundo tornam-se amantes e pensam em fugir. A carta 
que revelava os planos foi interceptada por um cúmplice 
do Cônego Diogo, o caixeiro Dias, empregado de Manuel 
Pescada e forte pretendente à mão de Ana Rosa. Na hora 
da fuga, os amantes são surpreendidos e o cônego arma 
um escândalo sensacionalista. Raimundo retira-se desola-
do e, ao abrir a porta de casa, um tiro acerta-o pelas cos-
tas. Com uma arma que lhe emprestara o Cônego Diogo, 
o caixeiro Dias assassina o rival. Ana Rosa aborta o filho 
de Raimundo e, seis anos depois, vemo-la saindo de uma 
recepção oficial, de braço com o Sr. Dias e preocupada 
com os “três filhinhos que ficaram em casa, a dormir”.
O Cortiço
A obra apresenta um exame minucioso, cruel e amargo 
do submundo do Rio de Janeiro no século XIX. Aluísio cons-
trói personagens grosseiras e vulgares, e apresenta o mesti-
ço brasileiro como fator de arte em suas várias dimensões e 
posições sociais; apresenta o imigrante estrangeiro; revela 
a exploração a que eram submetidos os trabalhadores; 
desnuda a cobiça desenfreada; revela o adultério na alta 
sociedade, a prostituição e as misérias coletivas. 
Sem aprofundar-se na análise psicológica, Aluísio se 
ocupa em verificar o comportamento social dos seres 
que cria, sondar até que ponto o social pode determinar 
a vida individual do ser humano, como ocorre com os 
inúmeros portugueses que povoam o livro e que vão-
-se pouco a pouco condicionando ao meio e ao clima 
tropical brasileiro. 
Enredo
O português João Romão é impelido pelo “delírio de en-
riquecer”. Quando o patrão, um vendeiro conterrâneo, volta 
para sua terra, o jovemtorna-se proprietário da venda. 
Transforma-se no típico explorador inescrupuloso de 
seus semelhantes. Trabalhador incansável, amasia-se com 
Bertoleza; explora sem remorsos o corpo e o trabalho da 
negra e, com as economias dela, compra o primeiro pedaço 
de terra. João Romão forja uma carta de alforria para a 
amante e a deixa ainda mais seduzida e submissa. Berto-
leza, julgando-se livre, passa a pertencer a dois senhores.
João Romão aos poucos vai comprando as terras si-
tuadas ao fundo de sua taverna e roubando material de 
casas da pedreira vizinha e de obras em construção nas 
proximidades. Foi assim conquistando todo o terreno 
que se estendia pelos fundos de sua bodega; e, à pro-
porção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e 
o número de moradores.
16 Extensivo Terceirão
Nasce o cortiço de São Romão. Os negócios melho-
ram, a taverna vai se transformando em quitanda, bazar, 
grande armazém. O vendeiro torna-se o único proprie-
tário da venda, de Bertoleza, das terras, da pedreira, do 
cortiço. Apesar de rico, aparenta ser miserável.
Miranda, morador de um rico sobrado próximo à 
venda de Romão, é obrigado a assistir ao pulsar da vida 
no cortiço. Aquele amontoado de casinhas, na verdade, 
forma um corpo único, degradado, subumano, animali-
zado, dominado pelo sangue e pelos nervos. 
Mães ensaboando os filhos, dramas das adúlteras e 
seus machos, rivalidades entre mulheres por causa de 
homens, prostituição e homossexualismo, amor físico 
e clima de sensualidade, cantos e danças frenéticas são 
cenas frequentes que dominam o ambiente.
O título de Barão de Freixal recebido por Miranda des-
perta a inveja em João Romão. De repente, tudo o deixa 
furioso: sua grosseria, a negra com quem vive, o convite 
para tomar chá na casa do novo Barão. Romão decide 
mudar seu estilo de vida. Corta a barba, manda fazer rou-
pas novas, torna-se sócio de um clube de dança, reforma 
o quarto, come com elegância, bebe vinhos especiais, 
frequenta o Teatro São Pedro e até lê romances franceses.
Após um incêndio, o cortiço São Romão é reformado e 
ampliado e recebe hóspedes mais “distintos”.
O vendeiro entabula negociações com Botelho, 
comensal de Miranda, para se casar com Zulmira, filha 
do Barão. Marcado o casamento, defrontam-se com um 
grande problema: o que fazer de Bertoleza? A negra 
percebe o que está acontecendo, vê-se passando da 
condição de amante à de escrava e ser tratada como um 
animal velho e inútil.
Com a ajuda de Botelho, Romão decide entregá-la ao 
verdadeiro dono. No dia em que alguém aparece para 
buscá-la, Bertoleza suicida-se diante de todos, enquanto 
uma comissão de abolicionistas visita João Romão para 
lhe trazer o diploma de sócio benemérito. 
 Raul Pompeia
Nasceu em Angra dos Reis, em1863. Estuda em um 
dos mais famosos internatos cariocas: o Colégio Abílio. 
Essa vivência no internato serve de matéria-prima para a 
sua mais importante obra, O Ateneu. 
Pompeia, desde a adolescência, revela-se bom es-
critor, desenhista e também crítico feroz da sociedade. 
Frequentemente entra em choque com as ideias do 
romantismo, do catolicismo, do escravismo e da monar-
quia, que julga obsoletas.
Inicia o curso de Direito em São Paulo e é obrigado a 
terminá-lo em Recife. De volta ao Rio de Janeiro, dedica-
-se a escrever O Ateneu. Escreve crônicas e participa 
ativamente da vida boêmia nos cafés cariocas, onde se 
discutia a república, a escravidão, a literatura e outros 
assuntos polêmicos e apaixonantes.
Escreve artigos na imprensa defendendo o regime do 
Marechal de Ferro. O jornal oposicionista Combate reage 
raivosamente às críticas feitas por Raul Pompeia contra 
os opositores do governo, acusando-o de servilista e 
fazendo insinuações maldosas sobre o suposto homos-
sexualismo do escritor. O responsável por tais críticas foi, 
provavelmente, Olavo Bilac. Os dois desafiam-se para 
um duelo, evitado por interferência de amigos comuns.
Durante o funeral do Marechal Floriano, desfere 
raivoso discurso contra o governo do então presidente 
Prudente de Morais. É chamado de doente e covarde 
num artigo intitulado de “Um louco no cemitério”. Raul 
Pompeia só toma conhecimento do artigo meses depois 
o que o deixa desesperado e ferido na honra por não 
ter-se defendido logo. 
Muito abatido, na noite de Natal de 1895, estira-se 
numa poltrona e dispara um tiro certeiro no coração.
O Ateneu
 A história é narrada em1ª pessoa, e está muito mais 
centrada nas impressões do personagem-narrador do 
que nas pessoas e nos objetos. 
Sérgio é o adulto que rememora o passado, a sua 
primeira experiência de individualização, seu primeiro 
contato com o mundo, representado pelo internato, um 
microcosmo, uma miniatura da sociedade que retrata 
o poder absoluto do Imperador na figura no diretor 
Aristarco; critica a ambição figurada no comércio de selo 
entre os alunos; revela os impulsos afetivos desviados 
para relações homossexuais entre os internos e as trans-
gressões da lei; condena as delações, a inveja, a covardia, 
as vinganças, as injustiças da sociedade disseminadas 
entre os meninos da escola.
Chamado pelo autor de crônica de saudades, O Ate-
neu é um livro de tom confessional unindo ficção com 
projeção autobiográfica.
A influência do naturalismo manifesta-se no deter-
minismo do meio condicionando o comportamento 
dos alunos do internato; na zoomorfização de pessoas 
descritas com traços animalescos (cara de símio, modelo 
geral de pelicano, fisionomia agreste de cabra, raça de 
bugre); na seleção natural mostrando que no Ateneu só 
os mais fortes sobrevivem.
O realismo se faz presente na análise psicológica 
das personagens; nas críticas à sociedade burguesa ao 
desmascarar as segundas intenções, as dissimulações, a 
hipocrisia e o pseudointelectualismo.
Aula 06
17Português 2D
Enredo
– Vais encontrar o mundo – disse-me meu pai 
à porta do Ateneu. – Coragem para a luta.
Essa fala se concretizará, mas não conforme os desejos 
do pai, pois o narrador vai encontrar no Ateneu uma fiel 
reprodução de um mundo injusto, cruel, hipócrita e mo-
vido pelo interesse.
Desde o início das aulas, Sérgio vai percebendo os 
defeitos e a dissimulação do diretor. Seus colegas de 
sala, cerca de vinte, ele descreve com traços caricaturais 
e animalescos. O colega Rabelo, muito benevolente, tenta 
animá-lo e lhe diz exatamente o que era O Ateneu: um 
reino onde se prega e cultua a moralidade e onde se vive 
a sua desfiguração mais aterradora:
(...) Uma cáfila! uma corja! Não imagina, meu 
caro Sérgio.... Uns perversos! Têm mais pecados 
na consciência que um confessor no ouvido; uma 
mentira em cada dente, um vício em cada pole-
gada de pele. 
Sérgio ouve com atenção os conselhos preciosos de 
Rabelo:
(...) faça-se forte aqui, faça-se homem. Os fra-
cos perdem-se. Faça-se homem, meu amigo! Co-
mece por não admitir protetores. (...)
Não demorou muito, e o novato precisou defender-se 
das brincadeiras estúpidas de um interno e, no mesmo 
dia, tem seu primeiro confronto físico, com Barbalho, um 
garoto que estava a incomodá-lo seguidamente. 
Ignorando os conselhos de Rabelo, Sérgio aceita 
Sanches como seu protetor e auxiliar nos estudos.
Os dois amigos passam a ter uma relação muito pró-
xima. O veterano tenta seduzir o personagem-narrador 
que, tendo em vista a ajuda que recebe, evita entrar em 
conflito com ele. Quando ouviu insinuações mais diretas 
e claramente obscenas de Sanches, Sérgio, enojado, 
afasta-se definitivamente do colega. 
O sedutor gozava da confiança e do apoio dos profes-
sores. Sentindo-se rejeitado pelo personagem-narrador, 
passou a persegui-lo, humilhando-o diante dos colegas 
nas atividades escolares. 
A vingança de Sérgio foi tornar-se o mais relapso e 
negligente da sala e suas notas bem como todo o seu 
desempenho nos estudos tornam-se medíocres.
As humilhações passaram a ser diárias. Sérgio chorava 
à noite, em segredo, no dormitório, e de dia andava 
sozinho e calado, ruminando toda a vergonha sofrida. 
Aproxima-se apenas daqueles

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