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ENSINO E APRENDIZAGEM DE ARTES: CURRÍCULO E AVALIAÇÃO UNIASSELVI-PÓS Autoria: Profª. Cristiane Kreisch de Andrade Indaial - 2020 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: A553e Andrade, Cristiane Kreisch de Ensino e aprendizagem de artes: currículo e avaliação. / Cristiane Kreisch de Andrade. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 112 p.; il. ISBN 978-65-5646-017-8 ISBN Digital 978-65-5646-018-5 1. Ensino de arte. - Brasil. 2. Práticas pedagógicas. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 Sumário APRESENTAÇÃO ........................................................................... 5 CAPÍTULO 1 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS ............................................................................. 7 CAPÍTULO 2 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA ........................................................... 43 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA.......................... 77 APRESENTAÇÃO Prezado acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Currículo e Avaliação. Refletir sobre nossas vivências e práticas pedagógicas é o primeiro passo para sabermos se estamos no caminho certo. Entretanto, certo é um conceito subjetivo, pois o que pode ser considerado certo para uns, talvez não seja a melhor alternativa para outros. Nesse sentido, refletir sobre nossa história e conhecer as concepções de ensino/ avaliação são fundamentais para saber a raiz da nossa prática pedagógica. Devemos ter consciência de que a disciplina de Artes, ao longo da história, se transformou e assumiu diversas interpretações e intencionalidades na educação por parte de professores e da escola. De uma maneira geral, esta disciplina tem como norte a concepção de educação prevista na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prescreve um ensino pós-moderno, integral e avaliação formativa, conforme os PCN e outros documentos oficiais propõem para o ensino em todo o país. A educação pós-moderna vem reforçar a formação integral do aluno, voltada para os valores culturais e sociais de uma determinada sociedade. Ganha força em 1980, quando o DBAE foi sistematizado no Brasil, trazendo a Proposta Triangular como uma alternativa de ensino de Arte, pensando em unir o fazer, o contextualizar e a leitura de imagem. Nessa perspectiva, a concepção pós-moderna propõe uma educação voltada para a construção do conhecimento. Dessa forma, prevê a avaliação formativa, que mais do que quantificar, vem possibilitar a aprendizagem dos alunos e professores envolvidos no processo. Desde a década de 1980 se pensava no potencial da avaliação para além de um instrumento seletivo capaz de ‘medir a aquisição de conteúdo’ para reprovar ou permitir a continuidade dos estudos, ou seja, despontava seu potencial de contribuição para uma reflexão permanente sobre a realidade e para o acompanhamento, passo a passo, da trajetória do educando na construção do conhecimento. Entretanto, há inúmeras limitações e dificuldades de se proceder de acordo com essa perspectiva, a primeira delas é a nossa própria vivência como alunos. Assim, você encontrará fundamentos que possibilitam ter outro olhar para a peculiaridade do ensino e da avaliação em Arte. Esse olhar é para que possamos ver as possibilidades de interligar o ensino e a avaliação com uma proposta integral e formativa, propondo caminhos para o desenvolvimento dos alunos. O primeiro capítulo traz os fundamentos e as concepções de Ensino de Arte para se compreender a função da educação em diferentes perspectivas. O segundo capítulo enfatiza um estudo dos princípios teórico-metodológicos para a ação reflexiva em arte, dentro de um projeto formativo de cidadania. O terceiro capítulo apresentará as concepções de avaliação, trazendo os fundamentos para a ação docente com relação à avaliação no espaço escolar e também o olhar para as características individuais dos alunos em diferentes perspectivas, com ênfase na concepção formativa de avaliação. Nossa intenção não é trazer receitas prontas, mas que os estudos deste livro possam mudar seu olhar em relação ao processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Profª. Cristiane Kreisch de Andrade CAPÍTULO 1 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer as leis que regem o ensino de Arte no Brasil ao longo de todo o estudo. Entender a história da implantação do ensino de Arte no Brasil. Conhecer as diferentes concepções de ensino de Arte presentes no sistema educacional. Analisar e refl etir sobre os impactos educacionais relacionados a cada concepção de ensino de Arte apresentada neste capítulo. Identifi car as concepções de ensino que permearam sua trajetória escolar. Compreender e relacionar as concepções de ensino com práticas pedagógicas vivenciadas no passado ou em sua atuação profi ssional. Refl etir sobre a escolha de concepções pedagógicas e, consequentemente, de metodologias de ensino. 8 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo 9 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Iniciamos nossos estudos apresentando as concepções de ensino de Arte que permeiam a prática pedagógica dos professores no Brasil. Este capítulo é um estudo histórico/crítico sobre as concepções de ensino de Arte nas escolas. Temos por objetivo resgatar e apresentar as tendências de ensino de Arte que fi zeram e fazem parte da prática pedagógica dos professores no país revelando as concepções de ensino de Arte e suas principais características, assim como refl exões para o ensino-aprendizagem dos alunos. A importância de discutirmos as concepções de ensino de Arte vem ao encontro da necessidade de refl etir sobre uma prática pedagógica signifi cativa em Arte e efetivar o que os documentos ofi ciais, como a BNCC, trazem como referencial, com o objetivo de tornar sujeitos refl exivos, críticos e ativos na sociedade. Em meio a tantas concepções ao longo da história, o capítulo introdutório da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) defi ne que concepção de Educação orientará as escolas brasileiras. Em tempos de intensa polarização e de muitos questionamentos sobre o modelo tradicional – que falha em preparar os estudantes para os desafi os da vida contemporânea –, o documento contribui para a construção de consensos sobre que pessoas queremos formar. Também orienta as instituições de ensino no sentido de preparar as novas gerações para construir o Brasil com o qual sonhamos. Prezado acadêmico, ao longo deste estudo conheceremos e compreenderemos as concepções de ensino de Arte do Brasil, relacionando com as nossas vivências e experiências pedagógicas. Bons estudos! 2 PROFESSOR DE ARTE: O QUE FUNDAMENTA SUA AÇÃO? “Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há pessoas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol” (Pablo Picasso). Para entendermos os aspectos do ensino de Arte, bem como as várias 10 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo culturas queforam incorporadas e expressas pelos professores de Arte, procuramos estabelecer relações entre âmbito educacional, artístico e o plano sociocultural e compreender as origens do ensino de Arte no Brasil e o seu contexto histórico. Neste capítulo, refl etiremos acerca das tendências pedagógicas no ensino de Arte, para que você possa perceber os diferentes contextos sociais e o tratamento que se dava ao conhecimento na disciplina de Arte, fomentando uma refl exão crítica sobre o atual quadro do ensino e sua intencionalidade na vida social. Com relação à arte, existem teorias que podem contribuir para o desenvolvimento estético e crítico dos alunos, principalmente no que se refere aos seus processos de produção e apreciação artísticas. São teorias que incorporam o relacionamento com a prática e o acesso ao conhecimento da arte, mas sem a pretensão de atingir-se uma verdade única. O próprio conceito da arte tem sido objeto de diferentes interpretações: arte como técnica, materiais artísticos, lazer, processo intuitivo, liberação de impulsos reprimidos, expressão, linguagem, comunicação (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 22). A história da arte brasileira está entrelaçada à história do ensino de Arte, assim como aos fatores políticos, econômicos e sociais de uma determinada época. A arte que desejamos para a escola não pode ser diferente da praticada fora dela. 1 Relate sobre como eram suas aulas de Arte, levando em consideração como era a postura do professor e a sua diante da aprendizagem, como era a metodologia de ensino, o currículo e a avaliação da disciplina. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 2 Descreva como deve ser o ensino ideal (de qualidade) em Arte nas escolas. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 11 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 De acordo com Fusari e Ferraz (2001), para os professores de Arte compreenderem e assumirem melhor as responsabilidades do ensino de Arte, é importante que eles saibam como a Arte vem sendo ensinada, suas relações com a educação escolar e com o processo histórico-social. A partir dessas noções, poderão se reconhecer na construção histórica, esclarecendo como estão atuando e como querem construir a história. Os primeiros cursos de licenciatura em educação artística nas universidades brasileiras foram criados em 1973. Tais cursos tinham um currículo mínimo que pretendia formar um professor de arte em apenas dois anos, habilitando-o a ensinar simultaneamente música, teatro e artes plásticas e desenho geométrico em séries do 1º grau e até do 2º grau (PILLAR; VIEIRA, 1992, p. 5). De acordo com Coutinho (2003), a situação da formação dos professores de Arte no Brasil tem uma história peculiar, pois os conhecidos cursos de Educação Artística, que surgiram na década de 1970, foram consequência da primeira obrigatoriedade institucional de ensino de Arte na escola brasileira. A Lei nº 5692, de 1971, incluiu a Arte no currículo escolar e só depois providenciou a criação das licenciaturas curtas e plenas polivalentes para suprir a necessidade dos professores. Na década de 1980, o fracasso dessas licenciaturas curtas e da própria polivalência foi amplamente discutido pelos professores em seus currículos se adequando às demandas daquele momento. Os cursos de licenciatura em Arte no Brasil vêm, ao longo de sua curta história, caminhando a reboque das políticas educacionais implantadas, tentando conjugar estas exigências com as necessidades dos professores (COUTINHO, 2003, p. 154). Nessas condições, os professores de Arte recebiam muitas vezes um ensino mais técnico voltado a desenvolver habilidades em sala de aula, em que os profi ssionais, em sua maioria, eram artistas, poetas, músicos da região, desvinculados ou tendo contato pela primeira vez com a licenciatura. Como consequência de um quadro de carências, observa- se nas escolas brasileiras, de um lado, professores sem preparação para lecionar arte-educação, desconhecedores do processo criativo e, de outro lado, profi ssionais formados pelas universidades que se limitam a trabalhar na linha da autoexpressão, do espontaneísmo (PILLAR; VIEIRA, 1992, p. 6). Segundo Fusari e Ferraz (2001), devemos lembrar que as aulas de Arte são infl uenciadas por três pedagogias enunciadas: tradicional, escolanovista e tecnicista, em maior ou menor grau. Essas três pedagogias, embora escritas separadamente, na prática se imbricam. 12 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo Coutinho (2003) aborda que o quadro que se apresenta hoje não é diferente. Depois de passar por um longo processo de avaliação da Comissão de Especialistas do Ensino das Artes (CEEARTES), das Comissões do MEC e da própria Federação de Arte Educadores do Brasil (FAEB), quase todas as licenciaturas em Arte do país vêm buscando adequar-se à nova LDB, nº 9394, de 1996, e aos Parâmetros Curriculares Nacionais divulgados em 1998. Outro fator bastante comum refere-se às concepções fi losófi cas das escolas, pois a maioria não possui um projeto formativo visando à cidadania, sendo conduzidas compreensões equivocadas das posturas tradicionalistas, tecnicistas e escolanovistas de educação. “A formulação de uma proposta de trabalhar a arte na escola exige que se esclareçam quais posicionamentos sobre a arte e educação escolar estão sendo assumidos. Por sua vez, tais posicionamentos implicam, também, na seleção de linhas teórico-metodológicas” (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 22). De acordo com Luckesi (1993, p. 53), são três as tendências que interpretam a questão da educação na sociedade: “educação como redenção, educação como reprodução e educação como transformação da sociedade. [...] A perspectiva redentora se traduz pelas pedagogias liberais e a perspectiva transformadora pelas pedagogias progressistas”. Desta forma, apresenta-se duas tendências de ensino: a Tendência Liberal e a Tendência Progressista. A Tendência Liberal enfatizava o pensamento burguês do século XVIII, e tinha como expoente principal Rosseau (1712-1778). Segundo Schramm (2001), na visão de Rosseau, a educação começa pelo desenvolvimento das sensações e dos pensamentos, da valorização da espontaneidade e das experiências. Acreditamos que o conhecimento dos principais aspectos pedagógicos, ideológicos e fi losófi cos que marcam o ensino e aprendizagem de Arte, pode auxiliar o professor a entender as raízes de suas ações, bem como o seu próprio processo de formação. Ao mesmo tempo ele pode tomar ciência de que ainda permanecem questões referentes ao papel específi co da educação escolar e também das aulas de Arte na mudança e melhoria das relações sociais. Enfi m, não podemos desconhecer os movimentos educacionais, fi losófi cos, e sociais que estão em processo e nos quais estamos inseridos, e que podem até subsidiar algumas de nossas indagações (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 43). De acordo com Schramm (2001), no Brasil, a concepção liberal dividiu-se em duas clientelas que usufruíram do ensino da Arte. As Artes Mecânicas, que eram o povo em geral, e, do outro lado, os alunos direcionados a Belas Artes, que eram as elites. A Tendência Progressista é resultado da inquietação de muitos educadores 13 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 que, a partir da década de 1960, manifestam suas angústias com relação ao rumo que vem tomando a educação. Suas discussões e questionamentos dirigem-se à educação, com ênfase à escola pública, no que diz respeito à real contribuição desta paraa sociedade (SCHRAMM, 2001). No presente texto, nos aprofundaremos na Tendência Liberal nos referindo como: concepção de ensino de Arte tradicional, escolanovista e tecnicista. Em meio a esse contexto, vale a pena pensar o papel da Arte na Educação Básica, dentro de um projeto de democratização no acesso à cultura e, é claro, especifi camente no acesso à arte. Assim, para compreendermos a prática atual de ensino de Arte, é necessário conhecermos a sua origem e como ela vem sendo ensinada ao longo dos tempos para os alunos, que hoje no papel de professores, reproduzem as práticas de ensino vivenciadas na escola. Dessa forma, nos aprofundaremos nas concepções que infl uenciam as aulas de Arte, enunciadas tradicional, escolanovista e tecnicista e nos aprofundaremos na concepção pós-moderna de ensino de Arte, na qual propõe um ensino formador. 2.1 CONCEPÇÕES DE ENSINO DE ARTE Quando nos referimos ao termo concepção, podemos relacioná-lo à palavra conceber, seguir a uma determinada linha. Ao longo da história, na educação foram várias tentativas de adequar a educação às necessidades do cidadão, sejam elas trabalho, desenvolvimento, enquadramento social etc. Dessa forma, resgataremos os diferentes momentos históricos e sociais, perceberemos a função da educação em cada período e relacionaremos ao momento histórico em que vivemos. 2.2.1 Ensino de Arte Tradicional O ensino tradicional foi a primeira concepção a ser difundida nas escolas e ainda hoje se faz presente em vários setores da educação. “A pedagogia tradicional tem suas raízes no século XIX e percorre todo século XX, manifestando-se até os nossos dias” (FUSARI; FERRAZ, 2002, p. 26). Essa concepção de ensino da Arte foi implantada na primeira reforma educacional republicana nos anos de 1890 e 1896, e deu origem ao ensino do desenho nas escolas primárias e secundárias. 14 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo FIGURA 1 – EDUCAÇÃO BASEADA NO ENSINO TRADICIONAL FONTE: <http://educaeaprende.blog.com/2006/05/25/o- meu-dia/>. Acesso em: 25 fev. 2020. Até o início do século XVIII, o desenho era praticado por nobres esclarecidos, homens da ciência e das letras como disciplina indispensável à ciência e ao conhecimento. Era visto como estratégia para o enriquecimento das nações. Deste modo, no início do século XIX, refl etindo atitudes internacionais, o Brasil implantou o desenho nas escolas (BARBOSA, 1999). Na pedagogia tradicional, o processo de aquisição dos conhecimentos é proposto através de elaborações intelectuais e com bases nos modelos de pensamentos desenvolvidos pelos adultos, tais como análise lógica, abstrata. Na prática, a aplicação de tais ideias reduz-se a um ensino mecanizado, desvinculado dos aspectos do cotidiano, e com ênfase exclusivamente no professor, que “passa” para os alunos “informações” consideradas verdades absolutas (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 27). Com as criações dos sistemas nacionais de ensino, no início do século XX, a escolarização era colocada como uma das condições da democracia. Instalava-se o chamado ensino tradicional, cujas origens remontam ao período da Revolução Francesa. As Artes Visuais, enquanto conteúdo escolar, vivenciaram uma série de estatutos. No início, 1816, com a chegada da Missão Francesa, o ensino do desenho era a cópia fi el do mundo europeu. Na primeira metade do século XX, as disciplinas “Desenhos” e “Trabalhos Manuais” faziam parte dos programas das escolas primárias e secundárias, concentrando o conhecimento na transmissão de padrões e modelos das culturas predominantes. A visão da arte era utilitarista e imediatista (SANTOS, 2002, p. 9). O ensino de Arte foi conduzido por diferentes funções ao longo da história, e hoje essas concepções e defi nições estão muito presentes nas práticas de ensino de Arte nas escolas. “As defi nições mais conhecidas da arte, recorrentes 15 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 na história do pensamento na concepção tradicional, podem ser reduzidas a três defi nições: ora a arte é conhecida como um fazer, ora como um conhecer, ora como um exprimir” (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 104). Segundo a concepção de ensino de Arte tradicional, o professor é o detentor, transmissor do conhecimento, e não tem nada a aprender com o aluno, e possui como seu principal aliado o livro. “O ensino tradicional está interessado principalmente no produto do trabalho escolar e a relação professor e aluno mostra-se bem mais autoritária” (FERRAZ; FUSARI, 1999, p. 30). O aluno é considerado uma “tábula rasa”, ou seja, “não sabe nada”, e seus saberes não são valorizados. Ele não é um sujeito que questiona perante uma dúvida ou que participa das aulas, mas, sim, um objeto que se retrai cada vez mais perante as dúvidas e difi culdades. O ensino, em todas as suas formas, nessa abordagem, será centrado no professor. Esse tipo de ensino volta-se para o que é externo ao aluno: o programa, as disciplinas, o professor. O aluno apenas executa prescrições que lhe são fi xadas por autoridades exteriores (MIZUKAMI, 1986, p. 8). De acordo com Fusari e Ferraz (2001), nessa concepção, o professor conduz suas aulas empregando métodos que foram enunciados pelo fi lósofo Johann Friedrich Herbart (1776-1841), que podem ser sintetizados nos seguintes passos: • Recordação da aula anterior ou preparação para a aula do momento. • Apresentação de novos conhecimentos, principalmente através de aulas expositivas. • Assimilação do novo conhecimento por parte do aluno, por meio de comparações. • Generalização e identifi cação dos conhecimentos por meio de exercícios. • Aplicação dos novos conhecimentos em diferentes situações, atribuindo- se, para isso, “lições de casa” com exercícios de fi xação e memorização. O currículo é eurocêntrico, ou seja, a verdade está nos livros e não pode ser discutida; o currículo é conteudista, ou seja, o professor apenas reproduz os livros sem pensar na função da arte e sem refl etir sobre o assunto. A abordagem tradicional é caracterizada pela concepção de educação como um produto, já que os modelos a serem alcançados estão preestabelecidos, daí a ausência de ênfase no processo. Trata-se, pois, da transmissão de ideias selecionadas e organizadas logicamente. Este tipo de concepção de educação é encontrada em vários momentos da história, permanecendo atualmente sob diferentes formas (MIZUKAMI, 1986, p. 11). 16 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo Na concepção tradicional, a ênfase que se atribui aos conteúdos nas aulas de Arte é uma característica muito forte. Quantidade de conhecimento ou de conteúdos nem sempre é sinônimo de qualidade. Neste sentido, Hadji (2001) aponta que a multicorreção (ênfase do quantitativo pelo professor na sua prática, sem preocupação se o aluno está construindo o conhecimento e superando suas dúvidas) não é o melhor caminho a ser seguido. Ainda segundo a concepção tradicional, a metodologia de ensino de Arte é centrada na reprodução de uma técnica e na aquisição de habilidades, de modo que a ênfase no “fazer”, reproduzindo o ditado pelo professor, inibia o processo de refl exão dos estudantes. Os programas de desenho do natural, desenho decorativo e desenho geométrico eram centrados nas representações convencionais de imagens; os conteúdos eram bem descriminados, abrangendo noções de proporção, perspectiva, construção geométrica, composição, esquemas de luz e sombra. Nas Escolas Normais, os cursos de desenho incluíam ainda o “desenho metodológico”, onde os alunos aprendiam esquemas de construções gráfi cas para “ilustrar” aulas (FERRAZ; FUSARI, 1999, p. 30). De acordo com Fusari e Ferraz (2001), do ponto de vista metodológico, a aula de desenho na escola tradicional é encaminhada por meio de exercícios, com reprodução de modelos propostos pelo professor, que seriam fi xados pela repetição, buscando sempre seu aprimoramento e destrezamotora. “No ensino de arte, a tendência tradicional refl etia-se em aulas onde predominam as cópias e os modelos e na importância dada ao desenho como preparo do indivíduo para o trabalho. Enfatizava-se o fazer técnico com preocupação no produto” (PEREGRINO, 1995, p. 33). O método baseia-se tanto na exposição verbal quanto na explanação de conteúdos que são apresentados de uma forma linear aos alunos, sem levar em consideração as características e as contribuições que cada um poderia acrescentar sobre determinado conteúdo. O papel do professor de Arte está intimamente ligado à transmissão de certos conteúdos que são predefi nidos e que constituem o próprio fi m da existência escolar. Pede-se ao aluno a repetição automática dos dados que a escola forneceu ou a sua exploração racional. Com isso, não há o processo de reconstrução do saber com a aprendizagem do aluno, mas, sim, a preocupação com avançar no conteúdo previsto nas unidades do livro. O professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se limita, passivamente, a escutá-lo. O ponto fundamental desse processo será o produto da aprendizagem. A reprodução dos conteúdos feita pelo aluno, de forma automática e sem 17 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 variações, na maioria das vezes, é considerada como um poderoso e sufi ciente indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto, o produto está assegurado. A didática tradicional quase que poderia ser resumida, pois, em “dar a lição” e em “tomar a lição”. São reprimidos frequentemente os elementos da vida emocional ou afetiva por se julgarem impeditivos de uma boa e útil direção do trabalho de ensino (MIZUKAMI, 1986, p. 15). De acordo com Fusari e Ferraz (2001), os conteúdos desses programas são bem discriminados e, como se observa, centrados nas representações convencionais de imagens; abrangem ainda noções de proporção, composição, teoria da luz e sombra, texturas e perspectiva nas atividades desenvolvidas nas aulas de Arte. No Brasil do século XIX, o desenho ocupa um espaço equivalente ao do mundo em industrialização, o que fi ca bem evidente, no parecer feito por Rui Barbosa sobre o ensino primário, em 1883, onde relaciona o desenho com o progresso industrial. Aqui também o ensino do desenho adquire um sentimento utilitário, direcionado ao preparo técnico de indivíduos para o mundo do trabalho, tanto de fábricas quanto de serviços artesanais. Na prática, o ensino de desenho nas escolas primárias e secundárias apresenta-se ainda com uma concepção neoclássica ao enfatizar a linha, o contorno, o traçado, e a confi guração. Estas particularidades tão “intelectualizadas” do desenho foram transmitidas principalmente pela Academia Imperial do Rio de Janeiro e pelo grupo da Missão Francesa que chegou ao Brasil em 1816 (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 28). Na perspectiva tradicional, devido a todos os aspectos aqui arrolados, o papel e a função da educação em Arte fazem com que os alunos sejam cópias fi éis do que os professores querem, chegando à perfeição do original, mas, para os alunos, as aulas de Arte são o lugar de formação de gosto e apreciação da arte, tal qual a formação de gosto e a apreciação de arte que seus professores possuem. De acordo com Fusari e Ferraz (2001), nas aulas de Arte das escolas brasileiras, a tendência tradicional está presente desde o século XIX, quando predominava uma teoria estética mimética, isto é, mais ligadas às cópias do “natural” e com a apresentação de “modelos” para os alunos imitarem. Essa atitude estética implica na adoção de um padrão de beleza que consiste sobretudo em produzir-se e em oferecer-se à percepção, ao sentimento das pessoas, aqueles produtos artísticos que se assemelham com as coisas, com os seres, com os fenômenos de seu mundo ambiente. Ao refl etir sobre a concepção tradicional em Arte, podemos perceber que 18 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo esta concepção continua fortemente presente nos contextos educativos. Durante toda essa caminhada histórica até os dias de hoje, ela está presente e fortemente ativa na concepção de muitos professores de Arte pelas escolas e universidade do nosso Brasil. Olá, acadêmico, sugerimos que assista ao fi lme O sorriso de Monalisa, que começa mostrando a abertura do ano letivo de uma instituição de ensino tradicional, evidenciando um ritual de boas-vindas, em que todas as discentes se reúnem em frente à capela da instituição e batem a sua porta, quando os professores, vestidos com suas becas e capelos, perguntam: — “Quem bate à porta do saber?”. Uma aluna responde: — “Eu sou todas as mulheres”. Uma professora, ainda sem abrir a porta, responde: — “O que você busca?”. A aluna responde: — “Despertar o meu espírito por meio de muito trabalho e dedicar minha vida ao conhecimento...”. Essa iniciação ritualística nos conduz a uma ótima refl exão sobre o ensino e a docência nos espaços acadêmicos. Este momento e muitos outros nesta obra cinematográfi ca nos conduz a muitas refl exões sobre o ensino e a docência nas universidades. Katherine Watson, representada pela atriz Julia Roberts, é uma professora de História da Arte, bastante conceituada e ao se deparar com a concepção de educação da Instituição que a contratou, acaba ressignifi cando alguns aspectos no que concerne a sua metodologia. Assim, podemos dizer que a película explicitada é um fi lme político porque busca expor sua ideologia e causar uma reação/refl exão a partir de suas ideias. “O Sorriso de Monalisa” levanta a questão da mulher, por se referir a uma formação de professora que enxerga além das possibilidades reais, que compreende e valoriza o fato de que, como educadora, é na verdade “liberada” para fazer um trabalho melhor, como principal agente da educação de qualidade acreditando, visto que o professor pode fazer a diferença. Nesse processo, sua permanente intenção é a de educar, de formar sujeitos plenos e abertos ao mundo. Considerando o que foi discutido até aqui sobre a concepção tradicional, o fi lme pode nos ajudar a entender aspectos da concepção tradicional de algumas instituições. 19 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 De acordo com as situações apresentadas, podemos mencionar que o ensino de Arte, na perspectiva tradicional, limitava o aluno a expandir seu conhecimento, por meio de contribuições de seu contexto social, econômico, por meio de mais liberdade de expressão nas suas produções artísticas, tornando o aluno um sujeito muito limitado às funções sociais, econômicas e políticas. 2.2.2 Ensino de Arte Escolanovismo Distinguindo-se da tendência tradicional, nas aulas de Arte há uma ênfase mais técnica e científi ca, de conteúdos reprodutivistas, cumprindo com a função social de manter a desigualdade social existente na escola. A tendência escolanovista buscou contrapor todas essas ideias fazendo as aulas de Arte um momento de o professor proporcionar as condições metodológicas para que os alunos pudessem exprimir suas subjetividades e emoções. Entre 1920 e 1970, sustentados pela tendência da Escola Nova, o ensino de arte volta-se para o desenvolvimento natural da criança. Esta perspectiva foi importante, pois quebrou a rigidez anterior, mas em alguns casos predominou o espontaneísmo. Em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a arte é incluída como Educação Artística, considerada “atividade educativa”, e não disciplina. A Educação Artística foi um avanço pois estabeleceu uma relação entre arte e formação do indivíduo; porém os professores passam a atuar em arte, independentemente da formação do indivíduo, mantendo a ênfase na aprendizagem reprodutiva e no fazer expressivo dos alunos. Da cópia fi el passando pelas aulas práticas – onde fi cam explícitas as diferenças de gêneros -, ao espaço livre para criação ou ornamentação para festas, o ensino da arte perdesua função maior, que é possibilitar ao aluno o desenvolvimento do prazer, do conhecer e do fazer artístico (SANTOS, 2002, p. 9). Segundo Ferraz e Fusari (1999), a Pedagogia Nova, também conhecida como Escolanovismo ou Escola Nova, origina-se no fi nal do século XIX na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, suas ideias chegam por volta de 1930. Contrapondo-se aos ideais da escola tradicional, essa concepção tem como cerne a concepção pedagógica de que o professor deve estimular a expressão artística do aluno, mas sem intervir no seu processo de maturação, ou seja, ele fi ca atento para que a sua intervenção na produção do aluno seja de propiciar um ambiente para a autoprodução artística do aluno. A Escola Nova, por sua vez, trouxe para o ensino de arte a ênfase na percepção, expressão, no estado psicológico das pessoas e suas experiências individuais, na “revelação 20 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo de emoções, de insights, de desejos, de motivações experimentadas interiormente pelos indivíduos” (FUSARI; FERRAZ, 1992, p. 28). De acordo com Ferraz e Fusari (1999), diferentes autores vêm marcando os trabalhos dos professores de Arte, no século XX, no Brasil, entre eles destacam-se John Dewey (a partir de 1943), Viktor Lowenfeld (a partir de 1939) e Rebert Read (a partir de 1943). Este último contribuiu com a formação de um dos movimentos mais signifi cativos do ensino de artístico. Infl uenciado por esse movimento no Brasil, Augusto Rodrigues liderou a criação de uma “Escolinha de Arte”, no Rio de Janeiro (em 1948), estruturada nos moldes e princípios da “Educação Através da Arte”. FIGURA 2 – AUGUSTO RODRIGUES FONTE: <http://www.enciclopedianordeste.com.br/nova566.php>. Acesso em: 25 fev. 2020. Depoimento de Augusto Rodrigues, 1980: Estava muito preocupado em liberar a criança através do desenho, da pintura. Comecei a ver que o problema não era esse, era um problema muito maior, era ver a criança no seu aspecto global, a criança e a relação professor-aluno, a observação do comportamento delas, o estímulo e os meios para que elas pudessem, através das atividades, terem um comportamento mais criativo, mais harmonioso. As crianças vinham cada vez mais, e as 21 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 idades eram as mais diferentes. Felizmente, tínhamos duas coisas muito positivas para um começo de experiência no campo de educação, através de uma escola. A experiência era feita em campo aberto, e a diferença de idades também foi outra coisa fundamental para que eu pudesse entender, um pouco, o problema da criança e o da educação através da arte. Deveríamos ter um comportamento aberto, livre com a criança; uma relação em que a comunicação existisse através do fazer e não do que pudéssemos dar como tarefa e como ensinamento, mas através do fazer e do reconhecimento da importância do que era feito pela criança e da observação do que ela produzia. De estimulá-la a trabalhar sobre ela mesma, sobre o resultado último, desviando-a, portanto, da competição e desmontando a ideia de que ali estavam para ser artistas. Augusto Rodrigues foi o elemento fundamental no movimento Educação pela Arte, pelo fato de ter criado a Escolinha de Arte do Rio de Janeiro (1948). Transformar a educação e os professores era a meta da união da arte com a educação; acreditava-se que unicamente dessa forma se conseguiria o respeito integral à livre- expressão das crianças. As primeiras escolas especializadas em arte para crianças e adolescentes remontam à década de 1930. Na escola primária e secundária, a fi nalidade é orientar ao máximo a formação artística, adequando-a aos modelos e padrões vigentes. Na década de 1940, novas experiências na área da educação artística têm lugar no país, com o intuito de formar artistas e educar o gosto em função da liberdade expressiva. A Escola Guignard, criada em 1943, na cidade de Belo Horizonte, é ótimo exemplo de um modelo não convencional de educação artística. Com relação às crianças, especialmente, amplo trabalho é feito pelos artistas que abrem os seus ateliês para a experimentação. Assim podemos destacar a primeira valorização do desenho infantil, em exposição de Anita Malfatti, que foi a precursora da Arte Moderna no Brasil e criou novos conceitos sobre a arte junto à juventude brasileira. 22 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo Deste modo, a prática pedagógica está focada na emoção e na intuição do aluno, que é o centro das atenções e tem liberdade para fazer o que desejar. O centro, portanto, não é o conteúdo e nem o professor, mas o aluno. A ênfase nesse processo, nessas atividades ditas expressivas, sensibilizadoras e criativas difundiu a falsa crença de que o importante era proporcionar ao indivíduo a oportunidade de criar, de expressar, sem nenhum tipo de interferência por parte do professor, como se a criatividade, de reelaborá-la, tal como se trabalhava outras aptidões, no sentido de que dela resultasse algo signifi cativo (PEREGRINO, 1995, p. 33-34). A pedagogia escolanovista rompeu com as cópias dos modelos tradicionais e abriu margem para a livre expressão, colocando ênfase na criatividade e nas emoções dos alunos. A Educação Artística passou a considerar, para efeitos metodológicos, os conceitos da Escola Nova de pesquisa e experimentação, que, partindo do interesse do aluno, levariam a um processo de automotivar a investigação, que, por sua vez, seria a própria razão do trabalho, pouco importando o produto resultante deste processo. O processo é orientador, “proibido” de interferir neste processo, sob o risco de “estragar” a espontaneidade da criança. Essa seria a única maneira de desenvolver o potencial criativo e a linguagem pessoal do aluno (COUTINHO, 1995, p. 41). Segundo Hernández (2000), a corrente expressionista baseada, sobretudo, na importância do desenvolvimento da espontaneidade, destacava a importância de não perturbar nem interferir no desenvolvimento natural do menino e da menina. O processo (atividade gráfi ca espontânea) tinha prioridade sobre o produto; e que os conteúdos do ensino deviam ser propostos num ambiente de liberdade e sem restrições no planejamento além das próprias atividades. Essa visão [...] começou a ser questionada em dois sentidos. Por um lado, destacando que aprendizagem artística e criatividade não são a mesma coisa, e, por outro, que os conhecimentos e as habilidades não amadurecem por si mesmas, de maneira natural, mas sim que se requer uma aprendizagem vinculada a um processo de ensino (HERNÁNDEZ, 2000, p. 155). O currículo, portanto, deixou de ser um conteúdo a ser seguido nas aulas de Arte. O aluno adquiriu liberdade para fazer o seu próprio currículo, dando espaço para a livre expressão e criação pessoal na produção artística. Tudo que o aluno faz deve ser valorizado. A avaliação nessa perspectiva não existe. A avaliação é concebida como um momento de contribuir para os alunos evoluírem em suas produções, na medida em que eles podem fazer o que desejarem e o professor não possui muita margem para interferir nas produções. 23 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 FIGURA 3 – MOMENTO DE PURA EXPRESSÃO FONTE: <http://www.jornallivre.com.br/196993/escola-nova-e-o-movimento- de-renovacao-do-ensino.html>. Acesso em: 25 fev. 2020. Nessa concepção, o papel e a função da educação em Arte é estimular a livre expressão, é o lugar de elevação de espírito. “A preocupação em Artes Visuais passa a ser com o “desenho livre” e o conhecimento é deixado de lado, caindo no espontaneísmo. Seu objetivo central é o desenvolvimento da criatividade” (SCHRAMM, 2001, p. 28). De acordo com Fusari e Ferraz (2001), do ponto de vista da Escola Nova, os conhecimentos já obtidos pela ciência e acumulados pela humanidade não precisariam ser transmitidos aos alunos, pois se acreditavaque, passando por esses métodos, eles seriam naturalmente encontrados e organizados. Se por um lado foi importante essa postura de rompimento de padrões estéticos e metodológicos tradicionais no ensino de Arte, por outro lado, criou-se uma postura de que tudo é arte, e onde tudo em arte era permitido em nome da livre expressão do aluno. Aqueles que defendem a Arte na escola meramente pela liberar a emoção devem lembrar que podemos aprender muito pouco sobre nossas emoções se não formos capazes de refl etir sobre elas. Na educação, o subjetivo, a vida interior e a vida emocional devem progredir, mas não ao acaso. Se a Arte 24 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo não é tratada como um conhecimento, mas somente como um “grito da alma”, não estaremos oferecendo uma educação nem no sentido cognitivo, nem no sentido emocional. Por ambas, a escola deve se responsabilizar (BARBOSA, 2003, p. 21). Nos espaços educacionais, essa concepção ainda faz parte da prática de alguns professores. Trazemos nesse contexto, uma desvalorização da disciplina de Arte concebida atualmente como dotada de conteúdos próprios e partindo do pressuposto de que deve ser ensinada aos alunos, por meio de uma metodologia apropriada. Summerhill foi fundado em 1921 em Hellerau, um subúrbio de Dresden, Inglaterra. Ela fez parte de uma escola internacional chamada “New Schule”. Summerhill hoje não mudou fundamentalmente desde seu primeiro início. Ela desejavelmente poderia ser descrita da seguinte maneira: para permitir a crianças livres crescerem emocionalmente; para dar as crianças poder sobre suas próprias vidas; para dar as crianças o tempo de se desenvolverem naturalmente; para criar uma infância feliz por remover o medo e a coerção por adultos. Seu sucesso em prover um feliz desenvolvimento para às crianças, e em produzir homens e mulheres felizes e equilibrados, permanece como uma contínua prova da noção de Neill, que afi rmava: “A ausência do medo é a melhor coisa que pode acontecer a uma criança.” FONTE: <http://www.youtube.com/watch?v=rhfDHzXPQsg>. Acesso em: 25 fev. 2020. Acesse o vídeo e conheça um pouco da história da Summerhill. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=-NeDvDOxLWo. 25 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 2.2.3 Ensino de Arte Tecnicista Segundo Fusari e Ferraz (2001), a tendência tecnicista apareceu no exato momento em que a educação foi considerada insufi ciente no preparo profi ssional, tanto no nível médio quanto no superior, objetivando a preparação de indivíduos mais competentes e produtivos conforme a solicitação do mercado de trabalho. A concepção tecnicista no ensino de Arte surgiu nos Estados Unidos, na metade do século passado, tendo chegado às escolas brasileiras por volta de 1960 e 1970. Ela atendia à demanda de formação de profi ssionais que o mundo tecnológico em expansão exigia (FERRAZ; FUSARI, 1999). O papel e a função da educação é formar pessoas adaptadas e ‘treinadas’ ao trabalho em indústrias. Nas escolas, como um todo, não se discutia o porquê das coisas, pois, nas fábricas, não se precisa de indivíduos questionadores (do salário baixo, da carga horária pesada, dos direitos trabalhistas), mas submissos ao patrão, assim como era o professor. Os cursos de Educação Artística vêm polarizando-se em atividades artísticas mais direcionadas para os aspectos técnicos, construtivos, uso de materiais, ou em um fazer espontaneístico, sem maiores compromissos com o conhecimento de arte. Assim as aulas de Educação Artística mostram-se dicotomizadas, superfi ciais, enfatizando ora um saber “construir” artístico, ora um saber “exprimir-se”, mas necessitando de aprofundamento teórico-metodológico (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 43). Como na concepção tradicional, na tecnicista, o professor é o transmissor e detentor do saber, passa a ser um técnico responsável por um competente planejamento dos cursos escolares. Neste momento, o livro didático torna-se quase o único recurso metodológico da prática pedagógica (pois é produzido no contexto do consumo da “indústria cultural”). O aluno, também concebido como “tábula rasa”, segue um currículo voltado para a reprodução de conhecimentos. No que diz respeito ao ensino-aprendizagem em artes na tendência tecnicista, pode-se mencionar a ausência de fundamentos teóricos em detrimento do “saber construir” e ‘saber exprimir-se’. Nessa fase, percebe-se muita ênfase no uso de materiais alternativos, conhecidos na maioria das escolas como sucata ou lixo limpo. O professor de artes busca socorro para suas dúvidas nos livros didáticos que estão no mercado para serem consumidos desde o fi nal dos anos 1970 (SCHRAMM, 2001, p. 29-30). Na concepção tecnicista de arte-educação, o papel da educação é a 26 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo preparação de profi ssionais aptos para o trabalho, é o lugar de instrumentalização e profi ssionalização para o mundo do trabalho. Não desejamos que o ensino-aprendizagem da arte na escola seja uma ação rígida e de transmissão, apenas. Saber nomes de artistas, datas importantes, estilos e acontecimentos históricos, desvinculados do contexto, é menosprezar a capacidade dos meninos e meninas de relacionar fatos, objetivos, ações, histórias e signifi cados com aquilo que pensam e compreendem. Uma postura que articula conhecimento e prazer de aprender, de ler, de fazer, de fruir, pode nos levar a resultados mais construtivos, pois somente o que o sensível percebe realmente faz sentido, o resultado é apenas decodifi cado pela memória, e a tendência é desaparecer com o tempo. Nós acreditamos numa educação em arte para todo o tempo e para além do tempo (PILLOTTO, 2001, p. 16-17). Essas situações de Arte nas escolas têm raízes históricas e são frutos das fi losofi as que têm marcado a educação em todo país, bem como das noções equivocadas da arte na sociedade. Que tal assistirmos ao fi lme Tempos Modernos? Esse fi lme ambientado nos Estados Unidos dos anos 1930, imediatamente após a grande crise de 1929, focaliza a vida do homem na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. Na educação, o debate assume características mais específi cas, como preparar mão de obra para o mercado de trabalho. Acesse o fi lme Tempo Modernos, de Charles Chaplin, por meio do link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=fCkFjlR7-JQ 27 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 2.2.4 Ensino de Arte Pós-moderno e a Base Nacional Comum Curricular Para compreendermos com mais propriedade a concepção Pós-Moderna de ensino de Arte, devemos ser conhecedores das diversas metodologias de ensino de arte que são utilizadas em escolas. De acordo com Pillar e Vieira (1992), a função primordial da arte-educação na escola é a formação estética dos indivíduos, que lhes permita conhecer uma linguagem artística, tanto por meio da produção como autoexpressão quanto por meio do entendimento da gramática visual e da contextualização histórica das imagens. O ensino de Arte na escola deve proporcionar aos alunos o conhecimento das mais variadas manifestações artísticas que fi zeram parte de uma determinada época, sociedade, economia e política, proporcionando uma refl exão crítica sobre cada movimento histórico e principalmente sobre a sociedade atual em que o aluno está inserido, por meio de diversas experimentações e atividades em Arte. A disciplina de artes deverá garantir que os alunos conheçam e vivenciem aspectos técnicos, inventivos, representacionais e expressivos, em música, artes visuais, desenho, teatro, dança, artes audiovisuais. Para isso, é preciso que o professor organize um trabalho consciente, através de atividades artísticas, estéticas e de um programa de Teoria e História da Arte, inter-relacionados com a sociedadeem que eles vivem. Entendemos que é possível atingir-se um conhecimento mais amplo e aprofundado da arte, incorporando ações como: ver, ouvir, mover-se, sentir, pensar, descobrir, exprimir, fazer, a partir dos elementos da natureza e da cultura, analisando- os, refl etindo, formando, transformando-os. É com essa abrangência que a arte deve ser apropriada por todos os estudantes, indiscriminadamente (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 24). Proceder à disciplina de Arte, nessa perspectiva, pode trazer muitos benefícios aos alunos, porém existem empecilhos que se confrontam à prática formativa do professor, uma delas e a mais comum é o próprio sistema da escola. A arte na escola passa a exercer um papel fundamental na educação como um todo. Não pretende somente auxiliar na leitura e na escrita dos códigos universais ou encaminhar os alunos a uma profi ssão. Tampouco pretende transformar o aluno num artista, mas, sim, num sujeito que faz a sua leitura do mundo em termos de cores, forma e espaço, facilitando o seu desenvolvimento psicomotor, ampliando a percepção, a visão, a audição e a e a expressão, em tudo aquilo que faz 28 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo parte do viver. Contribuindo para o processo de humanização e democratização na escola, para a formação de um cidadão capaz de pensar e resolver problemas de forma crítica e consciente (OLIVEIRA, 2001, p. 130). Em termos de educação, somos frequentemente lembrados de que os programas educacionais devem enfatizar o que é básico na educação, que é um assunto sério, que vivemos num mundo cada vez mais competitivo e que nossas escolas devem preparar nossos fi lhos para a árdua e competitiva corrida da qual teremos que participar. Ouvimos que os programas educacionais devem enfatizar o que é básico na educação, uma reivindicação que é difícil contestar. Segundo Eisner (1991), o que não é básico é considerado marginal ou ornamental, bonito, mas desnecessário. Se nossos fi lhos têm que viver num mundo movido pela competição, eles terão que ser equipados com ferramentas para fazer uma boa corrida. De acordo com o autor, a educação deve ser colocada numa escala de maior importância social, levando em consideração sua funcionalidade para a realidade social dos alunos. O individualismo que caracteriza as práticas escolares é outra das características das propostas educativas baseadas na ótica do capital. A individualização e alienação do processo de ensino-aprendizagem são fomentados por meio da realização de provas e exames e em processos seletivos, em que as crianças desde bem cedo são preparadas para a divisão do trabalho. A sociedade e o mercado incorporam cada vez mais tecnólogos e valorizam o título e a habilitação, porém não se discute a formação do indivíduo e o desempenho das suas habilidades. Segundo Eisner (1991), pressupõe-se que os alunos devam saber ler, mas não deveriam eles também querer ler? E se for esse o caso, que tipo de material? É claro que queremos que os alunos escrevam bem, mas será que escrever bem consiste meramente na capacidade de soletrar corretamente e utilizar a gramática e pontuação adequadas? Ou signifi ca também ter alguma coisa interessante a dizer? Certamente queremos que os alunos saibam calcular corretamente, mesmo na era das calculadoras portáteis. No entanto, nós também não queremos que eles tenham a capacidade de raciocinar matematicamente e utilizar sua imaginação matemática para avaliar o que jamais poderá ser calculador? Em resumo, não queremos para os alunos mais do que as simples aptidões básicas de leitura, escrita e aritmética? Esse era o desejo da maioria dos americanos para que os alunos não tenham apenas essas qualifi cações, mas também mentes bem desenvolvidas, e que estejam aptos a usufruir das benesses intelectuais e artísticas que nossa nação tem a oferecer. 29 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 De acordo com a concepção pós-moderna, uma das funções de Arte na missão educacional das escolas é ajudar os jovens a adquirirem as aptidões, as múltiplas formas de alfabetização, como as chamamos, que lhes darão um acesso signifi cativo ao capital cultural. Essas aptidões não são uma consequência natural do amadurecimento. Seu nível de amadurecimento depende dos tipos de oportunidades que as crianças têm de adquiri-las ao longo de suas vidas. Para a maioria das crianças, a escola é fonte importante para adquirir tais aptidões. Se os jovens não devem ser privados das visões interiores e prazeres das artes, a presença das artes em nossas escolas é uma necessidade que não podemos nos dar o luxo de negligenciar. Grande parte da escolaridade é uma questão de aprender palavras ou rótulos, as categorias que substituem as qualidades que elas representam. As artes visuais são lembretes de que o mundo visual pode ser visto e aproveitado para nós mesmos e não simplesmente como um meio para outro fi m. Ver as coisas dessa forma não acontece sem ajuda, ao contrário, grande parte do que vemos na escola diminui a probabilidade de que uma atitude exploratória em relação à percepção do mundo visual se desenvolva (EINSNER, 1991). Logo, espera-se mais do que as simples aptidões básicas da leitura, escrita e aritmética. Parafraseando Eisner (1991), queremos mentes bem desenvolvidas e que estejam aptas a usufruir das benesses intelectuais e artísticas. Vamos assistir ao fi lme Ser e Ter? Por meio desse fi lme você poderá fazer uma refl exão sobre as tentativas de se proceder numa perspectiva de ensino contemporânea. O fi lme acontece numa escola primária na região de Auvergne, França. Georges Lopez é professor de uma turma de treze crianças, com idades compreendidas entre os 4 e os 10 anos. Lopez ensina três grupos de diferentes idades em lições separadas, certifi cando-se sempre de que eles entendem as tarefas que lhes são pedidas - quer seja para pintarem um desenho, aprenderem matemática ou a fazerem crepes. Lopez, um educador veterano à beira da reforma, é um modelo de sensibilidade e compreensão a lidar com crianças. Nunca levantando a sua voz e falando diretamente com eles, o seu afeto é tão notório como o respeito e a confi ança que as crianças têm por ele. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EkskSRUX1AM. 30 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo Ao longo das décadas, estamos percebendo alguns progressos e avanços no desenvolvimento das políticas públicas que norteiam a educação básica, especialmente o ensino de Artes na escola. Destacamos que em 2008, a Lei nº 11.769 tornou obrigatório o ensino de Música na educação básica como componente curricular, entretanto, não exclusivo. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), nos termos do Artigo 26, garante o ensino das “artes visuais, a dança, a música e o teatro” (BRASIL, 1996) como componente curricular obrigatório, creditando a essas disciplinas a responsabilidade da promoção cultural dos alunos. Diante de tantas leis que discutem a temática e a existência desses conteúdos em salas de aula, a efetivação de tais conteúdos na prática pedagógica deve ser analisada e observada na ótica de sua efi cácia. Ao discutirmos o currículo, devemos ter como pertinente que ele não consiste em habilidades e competências, mas sim, deve ser um emaranhado de conteúdos que resultarão em saberes signifi cativos proporcionando a construção de um ser crítico e emancipado socioculturalmente. A compreensão da verdadeira função crítico-construtiva ainda não foi bem compreendida por muitos professores e gestores. Dessa forma, a disciplina é desvalorizada quando percebe-se que a função do professor de Artes não assume seu papel, deixando de explorar todas suas riquezas. A prática docente não pode consistir somente em conteúdos que se centrem na prática curricular e excluam os interesses e conhecimentos dos alunos. É essencial que eles tragam curiosidades nessa construção eque o professor saiba conduzir para atingir todos os seus objetivos. Como podemos dizer: a educação deve ser uma estrada sinuosa que leva a muitas curiosidades. A criticidade é fundamental em um processo de construção de conhecimentos, mas o fazer possui uma função importante, pois é o momento em que se consolida a prática apreciativa e tudo que se pensou sobre. Experimentar a prática artística contribui para um melhor desenvolvimento individual, seja de coordenação motora a aspectos psicológicos de convivência e timidez. Podemos citar a prática do Teatro, além da exteriorização da fantasia e da imaginação, sejam do professor ou dos alunos. Essa prática contribui para o desenvolvimento do ser, já que corroboram desenvolvendo a comunicação e a criatividade. “A linguagem teatral desperta nas crianças maiores aquela antiga sensação das brincadeiras de quando eram pequenas, do faz de conta” (CAVA, 2014, p. 107). 31 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 Assim como o Fazer, o Apreciar é fundamental no ensino de Artes: nessa perspectiva, o professor cria possibilidades aos alunos de realizarem diversas experiências. A prática da apreciação contribui para o desenvolvimento de releitura crítica da Arte fazendo com que os alunos comecem a refl etir sobre o mundo em que vive. Tomamos como exemplo a prática pedagógica na perspectiva da Música, em que o educador faz a releitura de canções contemporâneas aliando a criticidade ao gênero musical em estudo; não é, senão, rever, agora com novos olhos, os aspectos que trazem a canção, bem como sua adequação social. Tal prática de apreciação permite que professores e alunos desenvolvam competências para ler não só a obra de arte, mas também a sua realidade. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (2019), a educação básica brasileira deve promover a formação e o desenvolvimento humano global dos alunos, para que sejam capazes de construir uma sociedade mais justa, ética, democrática, responsável, inclusiva, sustentável e solidária. Isso signifi ca orientar-se por uma concepção de Educação Integral. Quando mencionamos Educação Integral, queremos deixar claro que esse termo não se refere ao tempo de permanência do estudante no espaço escolar ou a uma determinada modalidade de escola, mas sim um estudante que se benefi cie de vários aspectos para seu desenvolvimento tanto intelectual quanto humano. Nesse caso, Educação Integral indica promoção do desenvolvimento de crianças e jovens em todas as suas dimensões: intelectual, física, emocional, social e cultural. Esse direcionamento implica que, além dos aspectos acadêmicos, precisamos expandir a capacidade dos alunos de lidar com seu corpo e bem-estar, suas emoções e relações, sua atuação profi ssional e cidadã e sua identidade e repertório cultural (BNCC, 2019). No documento, o foco das escolas passa a ser não apenas a transmissão de conteúdos, mas o desenvolvimento de competências, compreendidas como a soma de conhecimentos (saberes), habilidades (capacidade de aplicar esses saberes na vida cotidiana), atitudes (força interna necessária para utilização desses conhecimentos e habilidades) e valores (aptidão para utilizar esses conhecimentos e habilidades com base em valores universais, como direitos humanos, ética, justiça social e consciência ambiental) (BNCC, 2019). De acordo com Penido (2020), a Base busca contribuir para a superação de antigos problemas da Educação brasileira, como a qualidade e a equidade, mas também alavanca transformações para tornar as escolas capazes de responder aos novos desafi os que se apresentam. Nesse caso, as revisões curriculares 32 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo necessitarão ser acompanhadas por mudanças mais profundas no ambiente, nas práticas pedagógicas e, principalmente, na cultura dos professores. Para que a concepção pós-moderna efetive realmente a formação integral, será necessário muita disponibilidade, refl exão, formação e proposição por parte de gestores e educadores, bem como forte envolvimento dos estudantes, de suas famílias e da sociedade em geral. Afi nal, mudanças culturais só ocorrem quando todos os envolvidos reconhecem a importância e participam ativamente do processo de reconstrução. O caminho será longo e árduo, mas terá papel fundamental na oferta de uma Educação Básica que faça mais sentido para os alunos e para o nosso país. Nesse contexto, a BNCC afi rma, de maneira explícita, o seu compromisso com a educação integral. Reconhece, assim, que a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Signifi ca, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades (BNCC, 2019, p. 14). Assim, a BNCC propõe a superação da fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo a sua aplicação na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida (BNCC, 2019). A BNCC também contribui para a interação crítica dos discentes com o mundo, além de favorecer o intercâmbio cultural e suas características íntimas. No campo das Artes, a BNCC apresenta seis dimensões do conhecimento que perpassam em diferentes linguagens artísticas, como: Artes Visuais, Música, Teatro e Dança. 33 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 A BNCC propõe que a abordagem das linguagens articule seis dimensões do conhecimento que, de forma indissociável e simultânea, caracterizam a singularidade da experiência artística. Tais dimensões perpassam os conhecimentos das Artes visuais, da Dança, da Música e do Teatro e as aprendizagens dos alunos em cada contexto social e cultural. Não se trata de eixos temáticos ou categorias, mas de linhas maleáveis que se interpenetram, constituindo a especifi cidade da construção do conhecimento em Arte na escola. Não há nenhuma hierarquia entre essas dimensões, tampouco uma ordem para se trabalhar com cada uma no campo pedagógico. As dimensões são: • Criação: refere-se ao fazer artístico, quando os sujeitos criam, produzem e constroem. Trata-se de uma atitude intencional e investigativa que confere materialidade estética a sentimentos, ideias, desejos e representações em processos, acontecimentos e produções artísticas individuais ou coletivas. Essa dimensão trata do apreender o que está em jogo durante o fazer artístico, processo permeado por tomadas de decisão, entraves, desafi os, confl itos, negociações e inquietações. • Crítica: refere-se às impressões que impulsionam os sujeitos em direção a novas compreensões do espaço em que vivem, com base no estabelecimento de relações, por meio do estudo e da pesquisa, entre as diversas experiências e manifestações artísticas e culturais vividas e conhecidas. Essa dimensão articula ação e pensamento propositivos, envolvendo aspectos estéticos, políticos, históricos, fi losófi cos, sociais, econômicos e culturais. • Estesia: refere-se à experiência sensível dos sujeitos em relação ao espaço, ao tempo, ao som, à ação, às imagens, ao próprio corpo e aos diferentes materiais. Essa dimensão articula a sensibilidade e a percepção, tomadas como forma de conhecer a si mesmo, o outro e o mundo. Nela, o corpo em sua totalidade(emoção, percepção, intuição, sensibilidade e intelecto) é o protagonista da experiência. • Expressão: refere-se às possibilidades de exteriorizar e manifestar as criações subjetivas por meio de procedimentos artísticos, tanto 34 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo em âmbito individual quanto coletivo. Essa dimensão emerge da experiência artística com os elementos constitutivos de cada linguagem, dos seus vocabulários específi cos e das suas materialidades. • Fruição: refere-se ao deleite, ao prazer, ao estranhamento e à abertura para se sensibilizar durante a participação em práticas artísticas e culturais. Essa dimensão implica disponibilidade dos sujeitos para a relação continuada com produções artísticas e culturais oriundas das mais diversas épocas, lugares e grupos sociais. • Refl exão: refere-se ao processo de construir argumentos e ponderações sobre as fruições, as experiências e os processos criativos, artísticos e culturais. É a atitude de perceber, analisar e interpretar as manifestações artísticas e culturais, seja como criador, seja como leitor. A forma com que a BNCC foi organizada distribui o conteúdo de Arte de acordo com suas linguagens. Essa divisão tem por objetivo assegurar que os professores consigam utilizar suas linguagens. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a proposta das Artes Visuais vem contribuir para a implantação das habilidades motoras adquiridas durante a Educação Infantil. Nessa etapa, além de implantar habilidades já adquiridas, o professor vai ampliar o ensino para o desenvolvimento de outras habilidades. As habilidades propostas para o Ensino Fundamental I, além de garantir a prática de expressão criativa dos alunos por meio do fazer investigativo, deve estar aliado à ludicidade, ofertando um desenvolvimento voltado às linguagens verbal e não verbal. A proposta curricular reforça a valorização do conhecimento e da interpretação cultura nacional: “conhecer e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo matrizes indígenas, africanas e europeias de diferentes épocas” (BRASIL, 2017, p. 202). Dessa forma, a proposta possibilita que os alunos tenham a oportunidade de análise e entendimento das raízes culturais brasileiras, numa concepção histórico- geográfi ca, favorecendo o trato da interdisciplinaridade. De acordo com Santos e Rocha (2018), após iniciar e ampliar a visão dos 35 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos anos fi nais da mesma etapa espera-se ampliar e criticizar a interação dos discentes com as Artes. “O diferencial dessa fase está na maior sistematização dos conhecimentos e na proposição de experiências mais diversifi cadas” (BRASIL, 2017, p. 203). As habilidades propostas nas Artes Visuais dirigem o discente para uma abertura na análise artística, abrangendo obras internacionais, analisando novos estilos e expressões, combinados a recursos audiovisuais. Tal acesso também acontece na Dança, quando são incorporados os “elementos constitutivos do movimento cotidiano” (BRASIL, 2017, p. 205), tanto nacionais quanto internacionais, conforme preconiza a habilidade 09. Dessa forma, podemos afi rmar que é perceptível a necessidade de uma prática docente consistente que oportunize e direcione o discente no caminho de uma compreensão crítica das Artes, compreendendo-a como fator fundamental para a compreensão crítica do social em que estamos inseridos. Portanto, práticas de educação artística que não tenham foco crítico devem ser revistas, pois não comungam com os verdadeiros preceitos que são esperados da disciplina. O documento da BNCC direciona as práticas educativas no caminho do desenvolvimento crítico do indivíduo, o que não torna aceitáveis práticas educativas que também não sejam direcionadas em tal aspecto. Ao menos em Artes, a BNCC colabora para uma maior compreensão crítico-artístico-social do mundo em que se insere o ser, corroborando com o entendimento humano que tem o currículo ao ser tratado neste. Em uma prática docente crítica em consonância curricular com o que propõe a BNCC, é possível oferecer aos discentes uma verdadeira oportunidade de conhecimento crítico, conforme aponta Freire (2017), tornando o aprendiz agente de transformação social. Para tal, o conceito de interdisciplinaridade colabora para a consumação de tal prática e na construção de um conhecimento verdadeiramente crítico. 1 Por meio do fi lme Ser e Ter, faça uma análise crítica e refl exiva com relação aos aspectos que se aproximam e se distanciam da concepção pós-moderna. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 36 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2 Sobre as Concepções de Ensino de Arte, relacione sua história acadêmica (educação básica e superior) e profi ssional (prática pedagógica – se atua/atuou na educação), com as concepções enunciadas, relatando as concepções que mais se aproximam de suas vivências, apontando as características de cada momento. Aviso: um único professor pode manifestar mais de uma concepção de ensino de Arte na sua prática. VIVÊNCIA ACADÊMICA Professor Aluno Currículo Metodo log ia do Ensino Avaliação Papel e função da educação VIVÊNCIA PROFISSIONAL Professor Aluno Currículo Metodologia do Ensino Avaliação Papel e função da educação 37 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Para visualizar e compreender com mais propriedade as concepções de ensino de Arte no Brasil, apresentamos a seguir as concepções estudadas indicando: a atuação do professor e aluno e a intencionalidade do currículo, metodologia e avaliação, além de apresentar o papel e a função da educação na perspectiva tradicional, modernista, tecnicista e pós-moderna: CONCEPÇÃO TRADICIONAL DE ENSINO DE ARTE Surgimento A pedagogia tradicional tem suas raízes no século XIX e percorre todo século XX, manifestando-se até os nossos dias. Professor Transmissor, “SABE TUDO”. Aluno “Tábula Rasa”, “Não Sabe Nada”. Currículo Eurocêntrico, conteudista, reprodução de livros. Metodologia do Ensino Foco da técnica, habilidade. Avaliação Capacidade de reprodução. PAPEL E FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO FORMAR SUJEITOS MECANIZADOS. CONCEPÇÃO MODERNISTA DO ENSINO DE ARTE Surgimento Origina-se no fi nal do século XIX, na Inglaterra. No Brasil em 1930. Professor “Estimula” a expressão, função perdida, medo de intervir na produção da criança, propicia um ambiente para a arte. Aluno Foco das ações, tem liberdade para fazer o que desejar, “individualidade”. Currículo Não há mais conteúdo, há expressão, produção, tudo tem valor, beleza. Metodologia do Ensino “Respeita” o desenvolvimento e expressão. Experimentação. Avaliação Não há! PAPEL E FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO NÃO TEM FUNÇÃO, ARTE COMO LIVRE-EXPRESSÃO. 38 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo CONCEPÇÃO TECNICISTA DO ENSINO DA ARTE Surgimento Surgiu nos Estados Unidos, na metade do século passado, tendo chegado às escolas brasileiras por volta de 1960 e 1970, no momento em que a educação foi considerada insufi ciente no preparo profi ssional. Professor Transmissor, “SABE TUDO”, ensina o livro. Aluno “Tábula Rasa”, “Não Sabe Nada”, homogeneização. Currículo Conteúdos Úteis X Improviso. IMPORTÂNCIA LIVRO DIDÁTICO. Metodologia do Ensino Desenvolver/ Executar/Atividades do Livro. Avaliação Capacidade de reprodução. PAPEL E FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO PROVA, PERFEIÇÃO DO ORIGINAL. CONCEPÇÃO PÓS-MODERNA DE ENSINO DE ARTE Surgimento Em 1960nos Estados Unidos e no Brasil em 1980. Professor Coordenador, Estimulador, Desafi ador; Me- diador do Processo de Formação. Possui: intencionalidade pedagógica e conhecimen- to profundo. Aluno Participante do processo. Percebe, critica e pratica. Confronta seus saberes com os trazidos pelo professor ampliando-os e red- imensionando-os. Participa da construção coletiva do conhecimento. Todos participam do processo! Currículo Há um conteúdo específi co! Considera o patrimônio cultural da humanidade, mas principalmente a percepção e conhecimen- to sobre os elementos que compõem a ex- pressão artística. Relação entre o conheci- mento empírico e artístico, em suas diversas manifestações. Assim, não há oposição en- tre o erudito – popular. Parte do cotidiano, desmistifi cando “dogmas”, técnicas e temáti- cas. Fomenta o multiculturalismo, a interdis- ciplinaridade e o desenvolvimento dos estu- dantes num todo. Reunião das dimensões cultural, política, técnica e humanista da educação. 39 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 Metodologia Problematização: sem dogmas absolutos. Interlocução/ Diálogo. Avaliação Deve ser capaz de captar o processo de ampliação e redimensionamento do con- hecimento que passa pelo estudante = APRENDIZAGEM. Ela precisa ser, portanto: Processual; Individualizada; Integradora: de conhecimento, de etapas e de conteú- dos. Estimular, Desencadear, Orientar os processos pedagógicos. Uso de múltiplos instrumentos; captar diversas dimensões da formação: técnica, social, humana, política etc.; estar “afi nada” com os objetivos propos- tos na formação de habilidades e desen- volvimento ao longo do semestre/ano/curso; percepção do indivíduo em relação ao grupo e sociedade, subsidiando visão autônoma e pró-ativa em seu processo formativo. Em síntese: EMANCIPATÓRIA/FORMATIVA. Concepção de Arte Como forma de conhecimento, produto e constituinte de uma cultura, sociedade, con- strução histórica etc. Continuidade/Vínculo entre as atividades da disciplina; relacio- nar o contexto presente com o passado nas mais diversas atividades artísticas. Até o próximo capítulo. 40 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo REFERÊNCIAS BARBOSA, A. M. As mutações do conceito e da prática. In: BARBOSA, A. M. (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003. BARBOSA, A. M. Arte como cultura e expressão. In: BARBOSA, A. M. (Org.). Tópicos e Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1999. BNCC. Educação é a base. 2019. Disponível em: http://basenacionalcomum. mec.gov.br/a-base. Acesso em: 12 fev. 2020. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2017. BRASIL. Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11769.htm. Acesso em: 12 fev. 2020. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: Ministério da Educação, 2001. BRASIL. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília, DF: Ministério da Educação e do Desporto, 1997. (v. Arte). BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Ministério da Educação, 1996. CAVA, L. C. S. C. Ensino de arte e música. Londrina: UNOPAR, 2014. COUTINHO, R. G. A formação de professores de Arte. In: BARBOSA, A. M. (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003. COUTINHO. S. R. Percursos da educação artística: um balanço das diversas abordagens. In: PEREGRINO, Y. R. (Coord.). Da camiseta ao museu: o ensino das artes na democratização da cultura. João Pessoa: Editora Universitária/ UFPB, 1995. EISNER, E. As artes e o objetivo da educação. Porto Alegre: Projeto Arte na Escola, 1991. 41 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS Capítulo 1 FERRAZ, M. H. C. de T; FUSARI, M. F. de R. e. Metodologia do ensino de arte. (Coleção magistério 2ª grau. Série formação do professor). 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. FUSARI, M. F. de R.; FERRAZ, M. H. C. de T. Arte na educação escolar. 2. ed. São Paulo : Cortez, 2002. FUSARI, M. F. de R.; FERRAZ, M. H. C. de T. Arte na educação escolar. (Coleção Magistério 2º grau. Série formação geral). 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. FUSARI, M. F. de R.; FERRAZ, M. H. C. de T. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 55. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2017. HADJI, C. Avaliação desmistifi cada. Porto Alegre: Artmed, 2001. HERNÁNDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Tradução: Jussara H. Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 2000. LUCKESI, C. C. Filosofi a da educação. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1993. MIZUKAMI, M. da G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. OLIVEIRA, E. D. de. Avaliação no Ensino da Arte. In: PILLOTO, S. S. D; SCHRAMM, M. de L. K. 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Discutir a origem, as modifi cações e adaptações da proposta para o sistema de ensino brasileiro. Debater sobre os desafi os e as implicações do ensino de Arte nas escolas brasileiras a partir dessa proposta. Identifi car a importância da disciplina para a formação integral. Refl etir sobre a prática e adotar práticas signifi cativas de ensino. Adotar em sua prática profi ssional as concepções atuais previstas pela BNCC. 44 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo 45 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A disciplina de Artes é uma área do conhecimento que possui diferentes linguagens (artes visuais, música, dança e teatro) que devem ser desenvolvidas no ambiente escolar. Além das suas linguagens específi cas, é uma disciplina que dialoga com outras áreas na educação.Em consonância com os princípios da BNCC, é importante que as escolas busquem contemplar em seus currículos o ensino interdisciplinar. Ele pode acontecer, principalmente, por meio de atividades que promovam o diálogo entre conhecimentos de diferentes áreas, envolvendo os professores, os alunos e também outras pessoas da comunidade escolar e da comunidade local. O objetivo principal dessa atividade deve ser sempre o de proporcionar aos estudantes uma formação cidadã que favoreça seu crescimento intelectual, social, físico, moral, ético, simbólico e afetivo. Conforme o próprio enunciado na BNCC, por muitos anos esse diálogo não foi estimulado, devido a muito fatores, mas principalmente à concepção que se atribui ao conceito da Arte e do ensinar arte. Neste sentido, trazemos neste capítulo uma refl exão acerca da concepção de ensino de Arte Pós-Moderna no Brasil, fundamentada pelo DBAE e a Proposta Triangular, como prevêem os documentos ofi ciais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais – ARTE, apresentando sua origem, caminhada história, diferentes compreensões, interpretações e uma refl exão acerca do termo triangulação. 2 ARTE COMO CONHECIMENTO, CULTURA E LEITURA DE MUNDO Através das artes, temos a representação simbólica dos traços espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam a sociedade ou o grupo social, seu modo de vida, seu sistema de valores, suas tradições e crenças. “A arte, como linguagem presentacional dos sentidos, transmite signifi cados que não podem ser transmitidos através de nenhum outro tipo de linguagem, tais como as linguagens discursivas e científi cas” (BARBOSA, 1998, p. 16). O ser humano, ao se deparar com a arte como experiência e manifestações artísticas, vê nela um meio de manifestar, expressar, comunicar sua cultura, crenças e valores. 46 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo Não mais se pretende desenvolver apenas uma vaga sensibilidade nos alunos por meio da Arte, mas também se aspira infl uir positivamente no desenvolvimento cultural dos estudantes pelo ensino/aprendizagem da Arte. Não podemos aprender a cultura de um país sem conhecer sua Arte. A Arte como uma linguagem aguçadora dos sentidos transmite signifi cados que não podem ser transmitidos por intermédio de nenhum outro tipo de linguagem, tais como a discursiva e a científi ca. Dentro das artes, as visuais, tendo a imagem como matéria-prima, tornam possível a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos (BARBOSA, 2003, p. 17-18). A disciplina de Arte na escola é essencial para a formação de cidadãos com uma postura participativa na sociedade, capazes de interagir de forma crítica e consciente. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – ARTE (BRASIL, 1997), desde o início da história da humanidade, a arte sempre esteve presente em todas as formações culturais. “Não podemos compreender a cultura de um país sem conhecer sua arte” (BARBOSA, 2002, p. 17). O estudante quando entra em contato com a arte percebe um mundo de informações e possibilidades de expressões e criação e passa a entender melhor o meio social onde está inserido. Através da Arte, é possível desenvolver a percepção e a imaginação para aprender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver e desenvolver a capacidade criadora de maneira a mudar a realidade que foi analisada (BARBOSA, 2005, p. 100). Há uma infl uência marcante da Proposta Triangular na orientação pedagógica do PCN – Arte. Segundo o PCN, arte é conhecimento. A arte é importante na escola, principalmente porque é importante fora dela. Por ser um conhecimento construído pelo homem por meio dos tempos, a arte é um patrimônio cultural da humanidade e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber. Ensinar arte signifi ca articular três campos conceituais: a criação/produção, a percepção/ análise e o conhecimento da produção artístico-estética da humanidade. Esses três campos conceituais são denominados no PCN – Arte como: Produção, Fruição e Refl exão. “Nascida com os primeiros rituais mágicos, gerada na mesma fonte ancestral de onde brotam a ciência e a religião, a arte faz parte do gesto com que o homem busca o mundo, o outro e a si próprio. Ela é nesse sentido, conhecimento, mas é também ação” (MORTIZ; SCHRAMM, 2004, p. 170). Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a disciplina de Arte apresenta diversas linguagens: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. 47 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 O aluno poderá desenvolver sua competência estética e artística nas diversas modalidades da área de Arte (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro), tanto para produzir trabalhos pessoais e grupais quanto para que possa, progressivamente, apreciar, desfrutar e julgar os bens artísticos de distintos povos e culturas produzidos ao longo da história e na contemporaneidade (BRASIL, 1997). Assim, a disciplina de Arte contribui para a formação de alunos éticos, críticos, dotados de conhecimentos sobre a cultura de seu país e do mundo, ocorridos ao longo da evolução da história da humanidade e, consequentemente, de uma cidadania mais humana. Por meio da Arte, a criança exercita suas habilidades de julgamento, de dar sentido para aquilo que aprendeu, porém, os processos de ensino devem proporcionar signifi cados às crianças para que elas estabeleçam relações com os novos conhecimentos. Para Barbosa (2002, p. 35), “a produção de arte faz a criança pensar inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção não é sufi ciente”, assim, é necessário que a criança desenvolva seu pensamento acerca das produções artísticas universais/regionais e locais, o que auxilia no desenvolvimento cognitivo. Entretanto, cabe lembrar que somente o fazer, ou seja, apenas instigar a produção artística no ensino de Arte nas escolas, não proporciona às crianças um fazer consciente e informado, pelo contrário, enfatiza a livre-expressão, que ressalta apenas o espontaneísmo, pois o ensino de Arte propicia o desenvolvimento signifi cativo de conceitos atrelados à cognição, à construção do pensamento por meio de imagens, à linguagem e ao processo criativo e crítico dos estudantes. Na mesma perspectiva teórica estão os PCN, como referencial ofi cial: O conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão do mundo na qual a dimensão poética esteja presente: a arte ensina que é possível transformar continuamente a existência, que é preciso mudar referências a cada momento, ser fl exível. Isso quer dizer que criar e conhecer são indissociáveis e a fl exibilidade é condição fundamental para aprender (BRASIL, 2001, p. 20-21). As Artes Visuais são os processos e produtos artísticos e culturais, nos diversos tempos históricos e contextos sociais, que têm a expressão visual como elemento de comunicação. Essas manifestações resultam de explorações plurais e transformações de materiais, de recursos tecnológicos e de apropriações da cultura cotidiana. 48 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo As Artes Visuais possibilitam aos alunos explorar múltiplas culturas visuais, dialogar com as diferenças e conhecer outros espaços e possibilidades inventivas e expressivas, de modo a ampliar os limites escolares e criar novas formas de interação artística e de produção cultural, sejam elas concretas, sejam elas simbólicas (BNCC, 2019, p. 195). A sensibilidade, a intuição, o pensamento, as emoções e as subjetividades se manifestam como formas de expressão no processo de aprendizagem em Arte. O componente curricular contribui, ainda, para a interação crítica dos alunos com a complexidade do mundo, além de favorecer o respeito às diferenças e o diálogo intercultural, pluriétnico e plurilíngue, importantes para o exercício da cidadania. A Artepropicia a troca entre culturas e favorece o reconhecimento de semelhanças e diferenças entre elas (BNCC, 2019, p. 193). A arte não possui um signifi cado único, pois ela é ligada à cultura, que possui diferentes crenças e valores e intimamente é vinculada ao tempo histórico. Uma educação por meio da arte torna o sujeito um transformador social no sentido de benefi ciar a humanidade. “Portanto, a escola deve trabalhar no sentido de ampliar o acesso à arte e à cultura, considerando-se cultura como uma produção coletiva, construída ao longo da história das sociedades” (PEREGRINO; PENNA; COUTINHO, 1995, p. 24). A Arte é uma forma de conhecimento e leitura de mundo, é uma área essencial de conhecimento no ser humano, um dos meios pelos quais se entende e se interpreta o mundo a partir do aprendizado que exerce sobre os estudantes. Se não tivermos conhecimentos das manifestações artísticas de uma determinada sociedade, não poderemos compreendê-la. Sem conhecer as artes de uma sociedade, só podemos ter conhecimento parcial de sua cultura. A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identifi cação cultural e o desenvolvimento. Através das artes é possível desenvolver a percepção e a imaginação, aprender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada (BARBOSA, 1998, p. 16). A Arte está em constante modifi cação, pois retrata os acontecimentos e as mudanças da sociedade, na política, na economia etc., e por meio dela podemos fazer uma leitura mais profunda desses acontecimentos. Desde a época pré-histórica o homem manifesta-se artisticamente, sentindo a necessidade de se expressar, de se comunicar com os outros, revelando o conhecimento que 49 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 construiu daquele mundo, dando novos signifi cados através de formas simbólicas. As pinturas registradas nas paredes das cavernas pré-históricas revelam o conhecimento que o homem construiu daquele mundo, apropriando-se dele, representando-o visualmente, dando signifi cados em forma de símbolos, e esse conhecimento veio antes da palavra. A comunicação entre os seres humanos e as leituras de mundo não se dão apenas por meio da linguagem discursiva e científi ca (MORTIZ; SCHRAMM, 2004, p. 170). A arte, em suas diversas linguagens, contribui com o desenvolvimento do ser humano, na condição de torná-lo um sujeito refl exivo, crítico, criativo e ativo perante os acontecimentos da sociedade em que vive. O conceito de criatividade também se ampliou. Pretende-se não só desenvolver a criatividade por intermédio do fazer a Arte, mas também pelas leituras e interpretações das artes. Para o Modernismo, dos fatores envolvidos na criatividade o de máximo valor era a originalidade. Atualmente, a elaboração e a fl exibilidade são extremamente valorizadas. Desconstruir para reconstruir, selecionar, reelaborar, partir do conhecido e modifi cá-lo de acordo com o contexto e a necessidade são processos criadores, desenvolvidos pelo fazer e ver Arte, fundamentais para a sobrevivência no mundo cotidiano (BARBOSA, 2003, p. 18). Por meio da arte, o ser humano começa a adquirir a sensibilidade necessária para lidar com questões e situações delicadas e quase invisíveis pela sociedade. Por meio da arte ele pode transformar a realidade em que vive, torná-la mais agradável, justa, torna-se uma pessoa mais conhecedora dos seus valores, aprende a lidar com as diferenças sociais e éticas de forma agradável e inteligente. As manifestações artísticas não podem ser reduzidas às produções legitimadas pelas instituições culturais e veiculadas pela mídia, tampouco a prática artística pode ser vista como mera aquisição de códigos e técnicas. A aprendizagem de Arte precisa alcançar a experiência e a vivência artísticas como prática social, permitindo que os alunos sejam protagonistas e criadores (BNCC, 2019, p. 193). Nesse sentido, cada vez mais necessitamos refl etir sobre as práticas de ensinar e aprender Arte na escola. A prática artística possibilita o compartilhamento de saberes e de produções entre os alunos por meio de exposições, saraus, espetáculos, performances, concertos, recitais, intervenções e outras apresentações e eventos artísticos e culturais, na escola ou em outros locais. Os processos de criação precisam ser compreendidos como tão relevantes quanto os eventuais produtos. Além disso, o compartilhamento das ações artísticas produzidas pelos alunos, em diálogo com 50 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo seus professores, pode acontecer não apenas em eventos específi cos, mas ao longo do ano, sendo parte de um trabalho em processo. Além de conceber arte apenas como uma disciplina para auxiliar e fi xar o conhecimento de outras áreas, a BNCC traz Arte como área de conhecimento, destacando que a ela deve estar presente “nos currículos não como adorno, tampouco como atividade meramente festiva ou de entretenimento, mas como conhecimento organizado e sistematizado, que propicia aos/às estudantes a criação e a recriação dos saberes artísticos e culturais” (BRASIL, 2016, p. 234). Outra contribuição que merece destaque no documento é a discussão sobre a função da arte na formação do sujeito. Em especial, na ênfase dada à autonomia dos estudantes salientando que “ao longo do Ensino Fundamental, espera-se a expansão do repertório, a ampliação das habilidades e o aumento da autonomia nas práticas artísticas dos estudantes” (BRASIL, 2016, p. 117). Em lugar de propor uma visão instrutiva da arte, o texto propõe a formação do sujeito a partir da consolidação de sua autonomia diante da construção do conhecimento, ou seja, aponta que sua relação com a Arte pode e deve ser ampliada de forma autônoma ao longo de toda vida (FREIRE, 1996). De acordo com Barbosa (2003), uma proposta de Arte Educação fundamentada na tendência pós-moderna deve ter ênfase na interrelação entre o fazer, a leitura da obra de Arte (apreciação interpretativa) e a contextualização histórica, social, antropológica e/ou estética da obra. 2.1 A ORIGEM DO DBAE NO ENSINO DE ARTE Seguindo a perspectiva pós-moderna de ensino de Artes, apresentaremos a origem da Proposta Triangular, que é fundamentada em abordagens epistemológicas como: Escuelas Al Aire Libre, do México; Critical Studes, da Inglaterra; e Discipline Based Art Education (DBAE), dos Estados Unidos (PILLAR; VIEIRA, 1992). Destacamos a última, nesse texto, por ser utilizada por Ana Mae Barbosa na sistematização de sua proposta no Brasil. O DBAE surgiu a partir de 1960, nos Estados Unidos, centrado em considerações de estudiosos canadenses, europeus, mexicanos e americanos sobre a avaliação do currículo educacional. 51 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 Há algum tempo, em consequência dos avanços para a corrida espacial, a avaliação norte-americana tornou-se prioridade nacional. Constatou-se com essa avaliação que as escolas norte-americanas precisavam de um sólido programa de estudos para substituir aquilo que era considerado como um currículo demasiadamente fl exível, totalmente fora de sintonia com os avanços efetuados nas principais disciplinas (EISNER, 1997, p. 77). Investigações realizadas por pesquisadores nos Estados Unidos apontaram uma queda na qualidade da arte-educação. As artes ocupavam uma posição marginal no currículo escolar e a educação artística era valorizada quase que exclusivamente como um meio de desenvolver a autoexpressão e a criatividade, em lugar de ser considerada como uma área de conhecimentos. Assim, os pesquisadores produziram muitos estudos e artigos que tinham em comum a preocupação com relação à função da arte-educação de crianças e aos seus métodosde ensino (PILLAR; VIEIRA, 1992). O resultado dessa preocupação foi a criação de novos currículos, que pretendiam dar rigor e coerência teórica ao que os estudantes aprendiam nas escolas. Os principais questionamentos do DBAE eram relacionados à função materialista da arte e à falta de fundamentação teórica. Nesse sentido, os pesquisadores questionavam a visão de que o único método de ensinar arte nas escolas seria a partir da manipulação de materiais artísticos e questionavam a visão de que a principal função do professor era a de fornecer materiais e raramente fornecer conteúdos aos alunos. Por meio dos projetos de Eisner (1997), desenvolveu-se a ideia de que a Arte tem conteúdo específi co a oferecer, algo inerente às artes, defendendo que o aprendizado artístico compreende mais que a habilidade de utilizar materiais de arte. Conceituou o papel do professor de forma ativa e exigente, e não simplesmente um fornecedor de materiais e um apoio emocional. Fornecer experiências que ajudem as crianças a refl etir sobre a arte é o objetivo principal que se deve implementar. Os pesquisadores concluíram que era necessário adotar uma abordagem mais substancial e abrangente para elevar a qualidade do ensino da arte nas escolas. Foi então desenvolvida uma proposta que trata, de forma integrada, a produção, a crítica, a estética e a história da arte, denominada “Discipline-Based Art Education” (DBAE) (PILLAR; VIEIRA, 1992, p. 3). As disciplinas baseadas em arte-educação, ou DBAE (Arte-Educação como disciplina), desenvolveram os elementos ou princípios da especifi cidade do ensino de Arte, considerando o conteúdo, as características da obra de arte, 52 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo sua construção sócio-histórica, habilidades, a criatividade, entre outras (EISNER, 1997). “Esta proposta pedagógica que enfoca quatro áreas – história da arte, estética, crítica artística e produção artística – surgiu para resgatar conteúdos que vinham desaparecendo ou sendo mal encaminhados dentro da escola” (MARINHO, 1995, p. 59). Nessa perspectiva, podemos perceber um paradigma diferente daquele da autoexpressão, criatividade, do espontaneísmo que dominou a arte-educação durante os anos de 1940 e 1950 e que enfatizava mais o processo do que o produto, que romantizava a arte infantil e caracterizava a arte, principalmente, como um processo de autodescoberta. De acordo com Eisner (1997), existem quatro coisas principais que as pessoas fazem com a arte. Elas veem arte. Elas entendem o lugar da arte na cultura através dos tempos. Elas fazem julgamentos sobre suas qualidades. Elas fazem arte. Essas quatro operações se constituem no DBAE como: a produção, a crítica, a história e estética da arte: FIGURA 1 – EIXOS DO DBAE (DISCIPLINE BASED ART EDUCATION) FONTE: A autora 53 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 De acordo com a Figura 1, apresentamos as características atinentes a cada denominação do DBAE: • Produção de Arte ajuda os alunos a pensar inteligentemente sobre a criação de imagens visuais, os quais podem criar imagens que tenham força expressiva, coerência, discernimento e inventividade. “A produção artística é o momento da criação. Trabalha as mais variadas técnicas e aprofunda os conhecimentos quanto ao uso dos princípios da linguagem. Essa produção, consciente e fundamentada, deve ser constante em todo o processo do aprendizado artístico” (MARINHO, 1995, p. 60). • Crítica de Arte desenvolve a habilidade das crianças para ver, ao invés de simplesmente olhar, as qualidades que constituem o mundo visual – um mundo que inclui, trabalhos formais de arte. “A crítica artística contribui para a apreciação das obras de arte. É nesse momento que se analisam as questões técnicas e de uso dos elementos, levando em consideração a contextualização histórica e conceitos estéticos” (MARINHO, 1995, p. 60). • História da Arte ajuda os alunos a entender alguma coisa de tempo e lugar, pelos quais todos os trabalhos artísticos se situam: nenhuma forma de arte existe em um vácuo descontextualizado. “A história da arte proporciona a contextualização das obras estudadas, podendo trabalhar com a produção de épocas as mais remotas até nossos dias” (MARINHO, 1995, p. 59). • Estética da Arte compõe as bases teóricas que permitem o julgamento da qualidade daquilo que se vê. Argumentamos a partir de nossos julgamentos de valor, e gostamos de fazê-lo. Entender a variedade de critérios que podem ser aplicados às obras de arte e refl etir sobre os signifi cados do conceito “arte” é o objetivo principal da Estética. A estética é o estudo fi losófi co das questões artísticas. É através dela que se discutem os conceitos elaborados nos vários períodos da história, partindo-se de preferência dos questionamentos levantados pelos alunos. É nesse momento, também, que se introduzem os princípios da linguagem artística, normalmente vistos durante a produção (MARINHO, 1995, p. 59-60). Para Eisner (1997), essas quatro operações são instrumentos que asseguram a experiência que a arte torna possível. O que a arte proporciona é uma contribuição ampla ao desenvolvimento e às experiências humanas. No fi nal do século XX e neste início de século XXI, as pesquisas e produções de conhecimento no campo do ensino de artes, principalmente as pesquisas históricas e teóricas, têm buscado reaproximar a arte da educação, em que podemos formular 54 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo a seguinte resposta: é o lugar da arte como conhecimento, enquanto expressão e cultura de um povo, com suas complexas redes de relação e de valores (COUTINHO, 2006, p. 43). Para Eisner (1997), o que a Arte proporciona é uma contribuição ampla ao desenvolvimento e às experiências humanas. A História da Arte e a Estética são instrumentos que asseguram a experiência com a Arte e o que a Arte proporciona é uma contribuição ampla ao desenvolvimento das experiências humanas. 1 O DBAE surgiu a partir de 1960, nos Estados Unidos, centrado em considerações de estudiosos canadenses, europeus, mexicanos e americanos sobre a avaliação do currículo educacional. Investigações realizadas por pesquisadores nos Estados Unidos apontaram uma queda na qualidade da arte-educação, as artes ocupavam uma posição marginal no currículo escolar e a educação artística era valorizada quase que exclusivamente como um meio de desenvolver a autoexpressão e a criatividade, em lugar de ser considerada como uma área de conhecimentos. Com relação à realidade do ensino de Arte no Brasil, descreva situações em que os estudiosos apontariam como uma queda da qualidade do ensino de Arte no nosso país. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________ _________________________________ ___________________________________________________. 3 PROPOSTA TRIANGULAR NO ENSINO DE ARTE Nos anos 1980, o DBAE foi adaptado para o Brasil e sistematizado por Ana Mae Barbosa com a denominação de Metodologia Triangular, quando a autora esteve na direção do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. 55 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 Esse trabalho foi desenvolvido e pesquisado no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), no início dos anos 1990, e tem sido difundido em várias regiões do país através da Fundação Ioche, professores e outras instituições de ensino. Barbosa (1998) menciona que Metodologia Triangular foi um termo impróprio e destaca em várias de suas publicações que “metodologia” é a construção de cada professor em sua sala de aula. Ela justifi ca que esta terminologia foi carinhosamente batizada pelosprofessores de Arte do passado, mencionando que “proposta” seria mais conveniente. No país, essa proposta estava sendo disseminada sob a perspectiva do fazer artístico, ainda sofrendo as infl uências das Escolinhas de Arte do Brasil, de Augusto Rodrigues. Nascido em Recife, em 21 de dezembro de 1913, foi pintor, desenhista, gravador, ilustrador, caricaturista, fotógrafo e arte-educador brasileiro. Também foi o pioneiro na criação das escolinhas de Arte para crianças no Brasil. Ao sistematizar a Proposta Triangular, Barbosa (2002) propõe que o ensino seja baseado em três ações básicas, ou seja, a produção, a leitura de imagem e a contextualização. Nessa proposta existe uma junção da crítica e da estética, que a autora denominou “leitura da obra de arte”, aliados ao fazer artístico e à história da arte. A adaptação da proposta do DBAE para o contexto brasileiro foi introduzida pela professora Ana Mae Barbosa. Na concepção original, o DBAE reúne quatro instâncias do conhecimento em arte: a produção, a crítica, a estética e a história da arte. No caso brasileiro, levando em conta a formação do arte-educador, uniram-se as vertentes da crítica e da estética na dimensão “leitura da imagem”. Sendo assim, a nova concepção de ensino e de aprendizagem da arte foi denominada “Metodologia Triangular” por envolver três vertentes: o fazer artístico, a leitura de imagem e a história da arte (PILLAR; VIEIRA, 1992, p. 5). Com o passar do tempo e dos estudos, Barbosa (2002) problematizou em suas discussões a expressão história da arte, percebendo que se limitava muito a uma área do conhecimento, quando esse termo abrange muitas outras questões, como: refl exão sobre os diferentes contextos, sobre a política, a economia, entre outras, mudando o termo para “contextualização”. Essa proposta, difundida e orientada por Ana Mar Barbosa, e que está sem dúvidas interferindo qualitativamente no processo e melhoria do ensino de arte, tem por base um trabalho pedagógico integrador de três facetas do conhecimento em arte: o “fazer artístico”, a “análise de obras artísticas” e a “história da arte” (FERRAZ; FUSARI, 1999, p. 35). 56 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo Barbosa (2002) desenvolveu, em várias de suas obras, o ensino de Arte centrada nos princípios de: percepção - crítica - execução. A seguir, a Figura 2 apresenta os três eixos da Proposta Triangular, e como são compreendidos, consistindo em: contextualização, leitura da obra de arte e fazer artístico. FIGURA 2 – EIXOS DA PROPOSTA TRIANGULAR FONTE: Adaptada de Barbosa (2002) O fazer artístico objetiva desenvolver a produção da obra de arte. Os estudantes se conscientizam das suas capacidades de elaborar imagens, experimentando os recursos da linguagem, as técnicas existentes e a invenção de outras formas de trabalhar a sua expressão criadora. Esse eixo possibilita concretizar a subjetividade dos estudantes, pois tem por fi nalidade a realização de ações educativas, que corroborem com o desenvolvimento de aprendizagens decorrentes do fazer artístico articulado com a capacidade de produzir leituras de imagens artísticas, bem como outras imagens da realidade dos estudantes, as relações conceituais e produção de formas artísticas. É somente através do fazer que a criança e o adolescente podem descobrir as possibilidades e as limitações das linguagens expressivas, de seus diferentes materiais e instrumentos. O fazer é uma das atividades que estimula a aprendizagem da história da arte e a leitura de imagens. Por outro lado, a produção associada às imagens pode colaborar para a construção de formas com maior força expressiva, ao mesmo tempo em que estimula o pensar sobre a criação visual (PILLAR; VIEIRA, 1992, p. 8). 57 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 Ele também se refere à realização da produção artística, por meio da dança, música, pintura, desenho, escultura, entre outras, como produzir um texto dando forma a uma ideia ou com a experiência da leitura de uma obra de arte subjetivamente derivada deste encontro, tornando-a signifi cativa para o estudante. Conforme Marinho (1995, p. 59): O fazer artístico, desta forma, é o resultado de uma ação consciente, que pode se dar através de leituras das obras estudadas ou de outras formas de criação, a partir da vivência e da leitura crítica da realidade. Este fazer, então, fundamenta- se tanto no conhecimento técnico e estético quanto no conhecimento histórico. Realizar produções artísticas, com a fi nalidade de não só desenvolver imagens expressivas, mas também que conscientizem os estudantes de sua capacidade criadora, imaginativa, perceptiva de realizar um fazer artístico experimentando diferentes linguagens, matérias e técnicas artísticas. Fazer ou produzir Arte pode estimular os estudantes a uma refl exão criativa, acerca da transformação e do processo de criação, deste modo, o que difere de uma cópia. O professor deve possibilitar, valorizar e orientar a expressão artística dos alunos. “É no percurso do fazer artístico que os alunos criam, experimentam, desenvolvem e percebem uma poética pessoal” (BNCC, 2019, p. 193). A própria base possui dimensão que podemos relacionar com os pilares da proposta, mas cada um pode ter a sua percepção e relacionar de acordo com seu ponto de vista e situação artística. Para esse eixo, relaciona-se a dimensão criação. A criação refere-se ao fazer artístico, quando os sujeitos criam, produzem e constroem. Trata-se de uma atitude intencional e investigativa que confere materialidade estética a sentimentos, ideias, desejos e representações em processos, acontecimentos e produções artísticas individuais ou coletivas. Essa dimensão trata do apreender o que está em jogo durante o fazer artístico, processo permeado por tomadas de decisão, entraves, desafi os, confl itos, negociações e inquietações. Podemos também relacionar a dimensão expressão. A expressão refere- se às possibilidades de exteriorizar e manifestar as criações subjetivas por meio de procedimentos artísticos, tanto em âmbito individual quanto coletivo. Essa dimensão emerge da experiência artística com os elementos constitutivos de cada linguagem, dos seus vocabulários específi cos e das suas materialidades. Por fi m, podemos também relacionar a dimensão fruição. Fruição refere- se ao deleite, ao prazer, ao estranhamento e à abertura para se sensibilizar durante a participação em práticas artísticas e culturais. Essa dimensão implica 58 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo disponibilidade dos sujeitos para a relação continuada com produções artísticas e culturais oriundas das mais diversas épocas, lugares e grupos sociais. Outro pilar da proposta é a leitura da obra de arte, que está centrada na análise e apreciação da obra de arte, procurando desenvolver a habilidade de ver e descobrir as qualidades da obra de arte e do mundo visual que cerca o apreciador. A leitura de imagem, nesta proposta de ensino de arte, desenvolve as habilidades de ver, julgar e interpretar as qualidades das obras, compreendendo os elementos e as relações estabelecidas no todo do trabalho. A leitura tanto de uma obra de arte como um trabalho de um aluno ou de uma imagem qualquer não deve se tornar um exercício mecânico, um questionário sobre as características do que é observado. Ler uma imagem é saboreá-la em seus diversos signifi cados, criando distintas interpretações, prazerosamente (PILLAR; VIEIRA, 1992, p. 9). A partir da apreciação, o aluno desenvolve seu senso estético e pode julgar com objetividade a qualidade das obras. Devem-se oferecer subsídios estéticos aos alunos para que se possa valorizar e compreender a expressão e produção artística de diferentes culturas. A leitura da obra de arte, por sua vez, é feita pela análise estética e crítica da produção artística, situada historicamente, proporcionandoao aluno a sua apreciação e compreensão – tanto do ponto de vista dos elementos da linguagem quanto do ponto de vista temático/fi losófi co (MARINHO, 1995, p. 59). Para Barbosa (1997), é importante despertar a capacidade crítica de crianças e adolescentes para a linguagem visual do mundo que há em volta. O conceito de arte-educação deve estar ligado à cultura visual, também defendida por Hernández (2000). A imagem visual está cada vez mais prioritária no mundo e as pessoas devem ser capazes de ler e entender tudo isso, serem críticas e serem capazes de analisar essas obras. Existe uma grande necessidade de decodifi cação do mundo. A arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite signifi cados que não podem ser transmitidos por meio de nenhum outro tipo de linguagem, tal como a discursiva ou a científi ca. Dentre as artes, as visuais, tendo a imagem como matéria-prima, tornam possível a visualização de quem somos, de onde estamos e de como sentimos (BARBOSA, 2005, p. 99). Esse eixo procura desenvolver a habilidade de ver e descobrir nas obras de Arte e do mundo visual que rodeia o estudante. Escolhi usar a expressão “leitura” da obra de arte na Abordagem Triangular em lugar de apreciação por temer que o termo apreciação fosse interpretado como um mero deslumbramento 59 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 que vai do arrepio ao suspiro romântico. A palavra leitura sugere uma interpretação para a qual colaboram uma gramática, uma sintaxe, um campo de sentido decodifi cável e a poética pessoal do decodifi cador (BARBOSA, 2002, p. 32). Esse termo “leitura” evidencia uma interpretação. Para Barbosa (1998), é importante despertar a capacidade crítica nos estudantes para a interpretação da linguagem visual do mundo que há em sua volta. A leitura de imagem tem por fi nalidade “a ênfase na leitura: leitura de palavras, gestos, ações, imagens, necessidades, desejos, expectativas, enfi m, leitura de nós mesmos e do mundo em que vivemos” (BARBOSA, 1998, p. 35). O conceito de arte/educação deve estar relacionado também à cultura visual, que pode ser compreendida como um objeto aproximando a refl exão crítica, constituído de tudo o que pode ser visto ou sentido, ou que seja comunicado por meio das visualidades. Marinho (1995, p. 58-59) nos ensina que: A leitura da obra de arte, [...] é feita pela análise estética e crítica da produção artística, situada historicamente, proporcionando ao aluno a sua leitura e compreensão - tanto do ponto de vista dos elementos da linguagem quanto do ponto de vista temático/ fi losófi co. Neste sentido, a imagem está cada vez mais tomando conta dos espaços do meio em que vivemos, ou seja, vivemos em um mundo rodeado por imagens por todos os lados e, para Barbosa (1998, p. 35), “a alfabetização para a leitura é fundamental, e a leitura da imagem artística, humanizadora”, por isso, é importante que os estudantes sejam capazes de ler, sejam críticos e, principalmente, entendam, para serem capazes de analisar as imagens que os cercam. Assim, a leitura de imagem auxilia os estudantes a desenvolverem o senso estético e a capacidade de julgar com discernimento as imagens, por isso, devemos oferecer subsídios estéticos para que eles possam compreender a expressão e produção artística de diferentes culturas. A contextualização está relacionada aos estudos da história da arte e visa possibilitar o entendimento de que Arte se dá num contexto, tempo e espaço onde se situam as obras de arte. Devem-se disponibilizar informações que permitam ao aluno entender o signifi cado sócio-histórico da produção artística realizada em todos os contextos. De acordo com Barbosa (1991), nossa aproximação da história da arte não é linear, mas pretende contextualizar a obra de arte no tempo e explorar suas circunstâncias. Em lugar de estarmos preocupados em mostrar a chamada “evolução” das formas artísticas através do tempo, pretendemos mostrar que a 60 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo arte não está isolada de nosso cotidiano, de nossa história pessoal. Apesar de ser um produto da fantasia e da imaginação, a arte não está separada da economia, da política e dos padrões sociais que operam na sociedade. Ideias, emoções e linguagens diferem de tempos em tempos, de lugar para lugar, e não existe visão desinfl uenciada e isolada. “Construímos a história e a partir de cada obra de arte examinada pelas crianças, estabelecendo conexões e relações entre outras obras de arte e outras manifestações culturais” (BARBOSA, 1991, p. 19). Deste modo, devemos dar acesso aos estudantes as informações que permitem o entendimento do signifi cado sócio-histórico da produção artística realizada em todos os contextos, pois, segundo Barbosa (1998), contextualizar é estabelecer relações. Estas relações podem ser de origem histórica, social, psicológica, antropológica, geográfi ca, ecológica, biológica etc., associando o pensamento não apenas a uma matéria, mas a um vasto conjunto de saberes, no ensino e aprendizagem de Arte. Dessa maneira, a contextualização é a porta aberta para a interdisciplinaridade. Barbosa (1998, p. 38) explana que: A contextualização é em si mesma forma de conhecimento relativizada. Pesquisas sobre a cognição situada mostram que o conhecimento e o entendimento são mais facilmente efetivados se emoldurados pelo sujeito. É esta moldura que designamos contextualização, a qual pode ser subjetiva e/ou socialmente construída. Partindo dessa compreensão, a contextualização pode ocorrer por meio da interpretação subjetiva ou social dos estudantes, mediada pela ação do professor. No entanto, deve-se atentar que a contextualização no processo de aprendizagem não se torna apenas a exposição da biografi a e obras dos artistas. O fazer arte exige contextualização, a qual é a conscientização do que foi feito, assim como qualquer leitura como processo de signifi cação exige a contextualização para ultrapassar a mera apreensão do objeto. Quando falo de contextualização não me refi ro à mania vulgar de falar da vida do artista. Esta interessa apenas quando interfere na obra (BARBOSA, 2002, p. 33). Deste modo, cada professor, em sua estruturação metodológica organiza a utilização dos eixos de ações da Abordagem Triangular, porém utiliza os eixos isolados, sem contextualização ou uma leitura signifi cativa, torna o processo de criação um simples ato de fazer pelo fazer. 61 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 O processo de aprendizagem dos estudantes torna-se signifi cativo quando estes participam ativamente no processo de construção do conhecimento em todos os eixos de ação, ou seja, na contextualização, na leitura e no produzir. Nesse processo de construção do saber, o professor é o mediador dos eixos de ações, conduzindo e orientando para a construção do conhecimento. Dessa forma, percebemos que as dimensões propostas na BNCC podem permear os campos da Proposta Triangular, visto que eles podem ser interpretados de diferentes ângulos, de acordo com a atividade desenvolvida. Esses três eixos podem ser trabalhados independentes de uma sequência obrigatória. Pode-se utilizar qualquer uma delas para ser o ponto de partida para o início do trabalho baseado na Proposta Triangular, articulados de acordo com o objetivo da aula. Dessa forma, o professor deve evitar criar um modelo de repetição constante em suas aulas, pois essa repetição pode transformar essa proposta de ensino de Arte num modelo mecânico e fora da realidade do aluno. A concepção de arte pode auxiliar na fundamentação de uma proposta de ensino-aprendizagem artístico e estético, desta forma, aponta para uma articulação do fazer, do representar e do exprimir. No Brasil, essa concepção de Ensino de Arte era restrita a poucos círculos acadêmicos, mas, no início de 1980, Ana Mae Barbosaajudou a divulgá-la, por via do movimento de Arte-Educação. Pode-se dizer que a arte na escola deixa de ser concebida como uma atividade educativa que pode ser ensinada, pois gera conhecimento, é cultura, possui fi losofi a, metodologia específi ca e conteúdo. Consequentemente, passa a ser uma disciplina que possibilita a observação, a contextualização e a compreensão da arte por todos (OLIVEIRA, 2001, p. 131). Esse movimento de Arte-Educação teve como objetivo a representação de três novos paradigmas para o Ensino da Arte: arte é um compromisso maior com a cultura e a história, é a preocupação com o desenvolvimento das capacidades de apreciação de obras de arte e a ampliação do conceito de criatividade. Algumas áreas do conhecimento apresentam mais de um componente curricular, como as áreas das Linguagens, nas quais se encontram as Artes, e das Ciências Humanas. Sendo assim, a BNCC estabelece também as competências a serem atingidas pelos alunos. As competências específi cas de Arte são: 62 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo • Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente práticas e produções artísticas e culturais do seu entorno social, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de diversas sociedades, em distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como um fenômeno cultural, histórico, social e sensível a diferentes contextos e dialogar com as diversidades. • Compreender as relações entre as linguagens da Arte e suas práticas integradas, inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de informação e comunicação, pelo cinema e pelo audiovisual, nas condições particulares de produção, na prática de cada linguagem e nas suas articulações. • Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e culturais – especialmente aquelas manifestas na arte e nas culturas que constituem a identidade brasileira –, sua tradição e manifestações contemporâneas, reelaborando-as nas criações em Arte. • Experienciar a ludicidade, a percepção, a expressividade e a imaginação, ressignifi cando espaços da escola e de fora dela no âmbito da Arte. • Mobilizar recursos tecnológicos como formas de registro, pesquisa e criação artística. • Estabelecer relações entre arte, mídia, mercado e consumo, compreendendo, de forma crítica e problematizadora, modos de produção e de circulação da arte na sociedade. • Problematizar questões políticas, sociais, econômicas, científi cas, tecnológicas e culturais, por meio de exercícios, produções, intervenções e apresentações artísticas. • Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o trabalho coletivo e colaborativo nas artes. • Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e internacional, material e imaterial, com suas histórias e diferentes visões de mundo. 3.1 ATIVAÇÃO DE CONHECIMENTO PRÉVIO São atividades constituídas principalmente de questionamentos, em sua maioria, orais. Elas resgatam e exploram os conhecimentos prévios dos alunos, estimulando sua participação e despertando seu interesse pelos assuntos que estão sendo estudados. Principais habilidades desenvolvidas: recordar, refl etir, reconhecer, relatar, respeitar opiniões divergentes e valorizar o conhecimento do outro. 63 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 3.2 ATIVIDADE EM GRUPO Este tipo de atividade pode ser escrito e/ou oral, contemplando elementos gráfi cos, e pode ser realizado coletivamente. Com base em orientações, os alunos devem colaborar entre si, buscando informações. Principais habilidades desenvolvidas: pesquisa, análise, interpretação, associação, comparação e trabalho em equipe. 3.3 DEBATE Atividade que visa à discussão de diferentes pontos de vista, com base em conhecimentos e opiniões pessoais. Necessita da mobilização de argumento e desenvolve a oralidade, levando os alunos a expressarem suas ideias. Além disso, motiva o respeito a opiniões diferentes. Principais habilidades desenvolvidas: oralidade, argumentação e respeito a opiniões distintas. 3.4 ATIVIDADES PRÁTICAS Atividade que visa à utilização de diferentes procedimentos relacionados ao saber científi co. Pode ser experimental, envolvendo procedimentos científi cos, ou pode ser de construção, quando diferentes materiais são utilizados na elaboração de objetos distintos e outros produtos, como cartazes e panfl etos. Principais habilidades desenvolvidas: manipulação de materiais, análise, associação, comparação e expressão de opiniões. 3.5 OBSERVAÇÃO Este tipo de atividade pode estar presente em atividades práticas ou teóricas e envolve o olhar atento do aluno sobre uma imagem e/ou situação, antecedendo a análise e auxiliando na comparação de resultados. Principais habilidades desenvolvidas: utilização de conhecimentos prévios e 64 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo observação. 3.6 PESQUISA Sob orientação adequada, este tipo de atividade exige que os alunos mobilizem seus conhecimentos prévios para obter novas informações em diferentes fontes. Necessita de leituras, cujas informações devem ser selecionadas e registradas. Também possibilita a troca de ideias entre os alunos. Principais habilidades desenvolvidas: leitura, escrita, interpretação, seleção, síntese e registro. 3.7 REALIDADE PRÓXIMA Atividades que envolvem a exploração e a contextualização da realidade próxima levam o aluno a buscar respostas e soluções em sua vivência e nos seus conhecimentos prévios. Principais habilidades desenvolvidas: reconhecimento, exemplifi cação e expressão de opinião. 3.8 DESENHO Este tipo de atividade permite o registro de conhecimentos prévios e que o aluno expresse suas ideias sobre os conteúdos abordados. Trata-se de uma estratégia útil, sobretudo nos anos iniciais, durante o processo de letramento e alfabetização. Principais habilidades desenvolvidas: representação, colorização, análise e expressão de ideias. 3.9 ENTREVISTAS Atividade que pode auxiliar na ampliação do conhecimento, buscando respostas fora do ambiente de sala de aula. Visa à elaboração de questionamentos pertinentes relacionados aos conteúdos estudados. Permite a integração com a 65 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 comunidade e o desenvolvimento da oralidade. O registro da atividade pode ser escrito ou gravado e posteriormente transcrito. Principais habilidades desenvolvidas: oralidade, análise, expressão de ideias e respeito a opiniões. As atuais propostas de ensino sugerem uma metodologia que tenha como objetivo levar o aluno a organizar e a estruturar seu pensamento lógico e a analisar de forma crítica e dinâmica o ambiente que o cerca. Para que essa metodologia seja posta em prática, é necessário redimensionar o papel do professor. É preciso deixar de ser apenas transmissor de conhecimentos e passar a ser mediador da relação entre o aluno e a aprendizagem. Como mediador, é preciso promover debates sobre as propostas dos alunos, indicar os caminhos que podem levar à resolução dos problemas, orientar as reformulações das hipóteses e valorizar as soluções mais adequadas. Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, a perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não transferir conhecimento (FREIRE, 1996). Assim, é papel do professor: • Tornar os conceitos e os conteúdos possíveis de serem aprendidos pelos alunos, fornecendo as informações necessárias que eles não têm condições de obter sozinhos. • Conduzir e organizar o trabalho em sala de aula, buscando desenvolver a autonomia dos alunos. • Estimular continuamente os alunos, motivando-os a refl etir, investigar,levantar questões e trocar ideias com os colegas. É importante conhecer as condições socioculturais, as expectativas e as competências cognitivas dos alunos, pois dessa maneira, terão condições de selecionar situações-problema relacionadas ao cotidiano deles. É relevante também o trabalho de um mesmo conteúdo em diversos contextos, a fi m de incentivar a capacidade de generalização nos alunos. 66 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo 1 Ao sistematizar a Proposta Triangular, Barbosa propõe que o ensino seja baseado em três ações básicas. Quais são e no que consistem? R.: __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ _________________________________________________. 4 A ARTE CONTRIBUINDO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA – O ENSINO DE ARTE PÓS-MODERNA NO BRASIL Diante de todas as noções apresentadas, enfatizando a Proposta Triangular de ensino de Arte, podemos dizer que esta proposta refl ete uma concepção de arte-educação pós-moderna, com um projeto formativo voltado para a cidadania. “Só um saber consciente e informado torna possível a aprendizagem em Arte” (BARBOSA, 2003, p. 17). Se pretendemos uma educação não apenas intelectual, mas principalmente humanizadora, a necessidade da arte é ainda mais crucial para desenvolver a percepção e a imaginação, para captar a realidade circundante e desenvolver a capacidade criadora necessária à modifi cação desta realidade (BARBOSA, 1998, p. 7). De acordo com essa perspectiva, o professor é o coordenador, estimulador, desafi ador, mediador do processo de formação, tendo um conhecimento profundo para confrontar com seus alunos; o aluno, por sua vez, é um sujeito que percebe, critica e pratica a arte, confrontando seus saberes com os trazidos pelo professor. Ele é participante do processo de construção do conhecimento (HOFFMANN, 2000). 67 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 A necessidade de alfabetização visual vem confi rmando a importância do papel da Arte na Escola. A leitura do discurso visual, que não se resume apenas à análise de forma, cor, linha, volume, equilíbrio, movimento, ritmo, mas principalmente é centrada na signifi cação que esses atributos, em diferentes contextos, conferem à imagem um imperativo da contemporaneidade. Os modos de recepção da obra de Arte e da imagem ao ampliarem o signifi cado da própria obra a ela se incorporam (BARBOSA, 2003, p. 18). Diante do exposto, podemos mencionar que as atividades desenvolvidas possuíam um propósito maior que a produção e execução em si. As intenções das atividades desenvolvidas estavam relacionadas às contribuições para o desenvolvimento pessoal e social dos alunos. Maior compromisso com a cultura e com a história. Até o início dos anos 1980 o compromisso da Arte na Escola era apenas com o desenvolvimento da expressão pessoal do aluno. Hoje, à livre expressão, a Arte-Educação acrescenta a livre interpretação da obra de Arte como objetivo de ensino. O slogan modernista de que todos somos artistas era utópico e foi substituído pela ideia de que todos podemos compreender e usufruir da Arte (BARBOSA, 2003, p. 17). Na concepção de Barbosa (1998), a Proposta Triangular dá sustentação sólida para o conhecimento em Arte e estabelece os eixos de ensino e aprendizagem. Desencadeia processos metodológicos estimulantes, que motivam o professor a rever sua prática pedagógica. Esta proposta defende a necessidade de se trabalhar pedagogicamente os conteúdos da área de Arte e tem por base um trabalho pedagógico integrador, que contempla três eixos do conhecimento em arte para a intervenção educativa do professor. Ao longo dos anos e estudos, essas três facetas foram sofrendo mudanças de nomenclatura e ampliando o sentido dinâmico de se compreender arte dentro da cultura inserida. Na perspectiva pós-moderna de ensino de Arte, em que o currículo possui especifi cidade, considera o patrimônio cultural da humanidade, principalmente a percepção e o conhecimento sobre os elementos que compõem a expressão artística. Faz relação entre o conhecimento empírico e artístico, em suas diversas manifestações; assim, não produz oposição entre o saber erudito e popular. O conhecimento, nesta concepção contemporânea, parte do cotidiano, desmistifi cando “dogmas”, técnicas e temáticas. Fomenta o multiculturalismo, a interdisciplinaridade, o desenvolvimento dos estudantes como um todo. Nesse sentido, cabe ao professor promover, na prática pedagógica, maior relação e vínculos entre o conteúdo de sala de aula com o contexto/histórico/experiências dos estudantes. 68 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo Arte-Educação baseada na comunidade é uma tendência contemporânea que tem apresentado resultados muito positivos em projetos de educação para a reconstrução social, quando não isolam a cultura local, mas a discutem em relação com outras culturas (BARBOSA, 2003, p. 20). A metodologia é problematizadora; sem dogmas estabelecidos, incita à dialogia. Os paradigmas que fundamentam a Proposta Triangular que é formulada neste período pressupõem um compromisso com a desconstrução dos valores que legitimam a arte, ou seja, pressupõem um exercício de descentramento dos valores antes focados na cultura hegemônica para todas as culturas, inclusive as culturas periféricas; pressupõem diálogo e interação entre culturas (COUTINHO, 2006, p. 43). O papel e a função do ensino de Arte, nesta perspectiva, é formar o cidadão ciente de si, seu meio e seu momento histórico, e de formar sujeitos críticos e ativos na sociedade, de proporcionar conhecimento, enquanto expressão e cultura de um povo, com suas complexas redes de relações e de valores. Nesse sentido, a concepção de arte refl ete conhecimento, produto constituinte de uma cultura, sociedade e construção histórica. 1 Baseado neste estudo, sistematize a concepção pós-moderna no Brasil a partir das seguintes defi nições: CONCEPÇÃO PÓS-MODERNA DO ENSINO DE ARTE Surgimento Professor Aluno Currículo Metodologia do Ensino Avaliação Papel e Função da Educação 69 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 5 LIMITAÇÕES E DESAFIOS No contexto escolar, em que a Proposta Triangular é trabalhada, é preciso interligar as vertentes de triângulo, conhecer, apreciar, fazer, buscando nos processos cognitivos o equilíbrio entre razão, emoção e intuição. Encerrando- se as etapas Conhecer Arte, Apreciar Arte e Fazer Arte, os estudantes poderão avaliar os trabalhos e fazer a leitura do que foi produzido, confi gurando-se numa nova etapa do processo, que prefi gura a tríade: processo-produto-processo. Com a introdução da Educação Artística no currículo escolar no Brasil, na década de 1970, a absorção desta concepção acabou por responsabilizar e sobrecarregar o ensino de arte como único espaço humanizador da escola. A estrutura da escola não se modifi cou para acolher estas ideias. As disciplinas duras do currículo escolar continuaram trabalhando a racionalidade. As aulas de arte se tornaram o espaço onde se trabalha a sensoridade do aluno, também os sentimentos, a emoção, a expressão, o imaginário e o lúdico. As aulas de artes se tornaram o espaço de vazão de um sistema opressor e reprodutor. A concepção se esvaziou e o sistema continuou reproduzindo a dicotomia razão-emoção, cabeça-corpo, etc. (COUTINHO, 2006, p. 42). De acordo com Barbosa (2003), no Brasil, nem a mera obrigatoriedade nem o reconhecimento da necessidade são sufi cientes para garantir a existência da Arteno currículo e nas escolas. Leis tampouco garantem um ensino-aprendizagem que torne os estudantes aptos para entenderem a Arte ou a imagem na condição pós- moderna contemporânea. “Somente a ação inteligente e empática do professor pode tornar a Arte ingrediente essencial para favorecer o crescimento individual e o comportamento de cidadão como fruidor de cultura e conhecedor da construção de sua própria nação” (BARBOSA, 2003, p. 14). Assim, voltamos à questão da formação dos professores e as condições para o trabalho pedagógico. Portanto, os poderes públicos, além de reservarem um lugar para a Arte no currículo e se preocuparem em como a Arte é ensinada, precisam propiciar meios para que os professores desenvolvam a capacidade de compreender, conceber e fruir Arte. Sem a experiência do prazer da Arte, por parte de professores e alunos, nenhuma teoria da Arte-Educação será reconstrutora (BARBOSA, 2003, p. 14). “Atualmente, e talvez, em grande parte por causa de uma formação docente inadequada, o ensino de arte na educação básica vem sendo desenvolvido de forma fragmentada e numa perspectiva reducionista” (PALMA FILHO, 2006, p. 27). Há décadas que existe no Brasil uma preocupação com o ensino de Arte. 70 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo Discute-se em vários espaços os objetivos e os conteúdos da arte que devem ser trabalhados e as metodologias apropriadas para essa mediação. Os eixos da abordagem são muitas vezes reduzidos a atividades estanques e estereotipadas, principalmente em atividades de releitura das obras de arte, muitas vezes tratadas como a simples realização de cópias de obras originais. Estereótipo é uma imagem gravada, repetitiva e simplifi cada, reproduzida pelo aluno sem que evolua. Assim, prejudica visualmente a criatividade e limita o processo criativo do aluno. O ensino de arte realizado nas escolas brasileiras, nos melhores casos, tem-se restringido a desenvolver a criatividade, compreendida como espontaneidade e autoliberação. No entanto, as artes têm uma especifi cidade e muito mais a oferecer às crianças além do desenvolvimento da criatividade. A criatividade está presente em todas as áreas do conhecimento, não sendo, assim, um objeto exclusivo da arte- educação (PILLAR; VIEIRA, 1992, p. 6). A atualidade nos remete a práticas de ensino de Arte bem distintas. Desde o Ensino Fundamental até os cursos universitários, percebemos diversas infl uências de concepções de Arte. A Proposta Triangular de ensino de Arte tem cerca de 30 anos, porém, ainda possui muitas limitações para romper com o ensino tradicional de Arte nas escolas. Barbosa (1998), em suas pesquisas, observa que a denúncia do ensino tradicional é explícita na prática pedagógica e na rotina da escola. Depoimento de Barbosa: Em minhas experiências, tenho visto as artes visuais sendo ensinadas principalmente como desenho geométrico, ainda seguindo a tradição positivista ou a arte nas escolas, sendo utilizadas na comemoração de festas, na produção de presentes estereotipados para o dia das mães ou dos pais e, na melhor das hipóteses, apenas 71 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 como livre expressão. A falta de preparação de pessoal para ensinar artes é um problema crucial, levando-nos a confundir improvisação com criatividade. A anemia teórica domina a arte-educação, que está fracassando na sua missão de favorecer o conhecimento nas e sobre as artes visuais, organizando de forma a relacionar produção artística com apreciação estética e informação histórica. Essa integração corresponde à epistemologia da arte. O conhecimento das artes tem lugar na interseção: experimentação, decodifi cação e informação. Nas artes visuais, estar apto a produzir uma imagem e ser capaz de ler uma imagem são duas habilidades inter-relacionadas (BARBOSA, 1998). O espaço de sala de aula, ainda hoje, após doze anos de experiência da autora Ana Mae Barbosa, é utilizado por muitos professores para recreação, desenho livre, trabalhos manuais, reprodução de tarefi nhas, trabalhinhos etc., sendo que os conteúdos de Arte e a construção do conhecimento pelo aluno estão sendo deixados de lado. Geralmente, a arte é tratada como uma atividade complementar, ou seja, “é a cereja que enfeita o bolo”. Há mesmo por parte de algumas autoridades de ensino, um verdadeiro descaso para com o ensino deste componente curricular. É muito provável que se não fosse a obrigatoriedade legal, esta disciplina já teria sido retirada do currículo, e lembra que o ensino de arte poderia ser opcional (PALMA FILHO, 2006, p. 27). O ensino de Arte nas escolas geralmente é exercido como complemento de uma disciplina mais “séria”, como atividade “livre” para preencher lacunas de tempo, como atividade disciplinar para aquietar alunos, como atividade dirigida para colorir desenhos mimeografados, alheios, como atividades decorativas em festas escolares, ou seja, no exercício de uma concepção que somente tem por objetivo fazer o aluno desempenhar uma função, operar, executar, e não pensar sobre, fazer críticas e refl etir sobre a atividade. 72 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo 1 A educação brasileira possui muitas defi ciências e lacunas no que diz respeito à prática do ensino Pós-Moderno. Baseado nos nossos estudos, proponha e organize um projeto baseado nas terminologias estudadas (Fazer Artístico, Leitura da obra de Arte e Contextualização), dinamizando as ordens com que foram apresentadas no texto, e defi na como você poderia trabalhar um projeto educativo em Arte utilizando essas vertentes. O projeto deve apresentar temática, objetivos, procedimentos metodológicos e avaliação. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A arte não possui um signifi cado único, pois ela é ligada à cultura, a diferentes crenças, valores e intimamente vinculada ao tempo histórico. Nesse sentido, a Arte contribui para o desenvolvimento motor e psicológico dos alunos, expandindo a leitura de mundo e atitudes refl exivas e críticas na sociedade em que estão inseridos. Por meio dos projetos de Elliot Eisner (1997), desenvolveu-se a ideia de que a Arte tem conteúdo específi co a oferecer, algo inerente às artes, defendendo que o aprendizado artístico compreende mais que a habilidade de utilizar materiais de arte. O DBAE surgiu a partir de 1960, nos Estados Unidos, e enfocava quatro áreas: história da arte, estética, crítica artística e produção artística. Surgiu para resgatar conteúdos que vinham desaparecendo ou sendo mal encaminhados dentro da escola. 73 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 A produção artística é o momento da criação. Trabalha as mais variadas técnicas e aprofunda os conhecimentos quanto ao uso dos princípios da linguagem. Crítica de Arte é o momento em que se analisam as questões técnicas e de uso dos elementos, levando em consideração a contextualização histórica e conceitos estéticos. História da arte proporciona a contextualização das obras estudadas, podendo trabalhar com a produção de épocas, das mais remotas até nossos dias. Estética da Arte compõe as bases teóricas que permitem o julgamento da qualidade daquilo que se vê. Nos anos de 1980, o DBAE foi adaptado para o Brasil e sistematizado por Ana Mae Barbosa com a denominação de Metodologia Triangular. Metodologia Triangular foi um termo impróprio e destaca em várias de suas publicações que “metodologia” é a construçãode cada professor em sua sala de aula, e justifi ca que esta terminologia foi carinhosamente batizada pelos professores de Arte do passado, mencionando que “proposta” seria mais conveniente. Ao sistematizar a Proposta Triangular, Barbosa (2002) propõe que o ensino seja baseado em três ações básicas, ou seja, a produção, a leitura de imagem e a contextualização. Nessa proposta, existe uma junção da crítica e da estética, que a autora denominou “leitura de imagem”, aliadas ao fazer artístico e à história da arte. Com o passar do tempo e dos estudos, a autora problematizou em suas discussões a expressão história da arte, percebendo que se limitava muito a uma área do conhecimento, quando esse termo abrange muitas outras questões, como: refl exão sobre os diferentes contextos, sobre a política, a economia, entre outros, mudando o termo para “contextualização”. O fazer artístico objetiva desenvolver a produção de imagens expressivas. A leitura da obra de Arte está centrada na análise e apreciação da obra de arte. A contextualização está relacionada aos estudos da história da arte e visa possibilitar o entendimento de que Arte se dá num contexto, tempo e espaço onde se situam as obras de arte. Esses três eixos podem ser trabalhados independentes de uma sequência obrigatória. A Proposta Triangular de ensino de Arte refl ete uma concepção de ensino de arte pós-moderna, com um projeto formativo voltado para a cidadania. O professor é o coordenador, estimulador, desafi ador, mediador do processo 74 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo de formação, tendo um conhecimento profundo para confrontar com seus alunos; o aluno, por sua vez, é um sujeito que percebe, critica e pratica a arte, confrontando seus saberes com os trazidos pelo professor. Desencadeia processos metodológicos estimulantes, que motivam o professor a rever sua prática pedagógica. Esta proposta defende a necessidade de se trabalhar pedagogicamente os conteúdos da área de Arte e tem por base um trabalho pedagógico integrador, que contempla três eixos do conhecimento em arte para a intervenção educativa do professor. A metodologia é problematizadora; sem dogmas estabelecidos, incita à dialogia. O papel e a função do ensino de Arte, nesta perspectiva, é formar o cidadão ciente de si, seu meio e seu momento histórico, e de formar sujeitos críticos e ativos na sociedade, de proporcionar conhecimento, enquanto expressão e cultura de um povo, com suas complexas redes de relações e de valores. Nesse sentido, a concepção de arte refl ete conhecimento, produto constituinte de uma cultura, sociedade e construção histórica. No contexto escolar, em que a Proposta Triangular é trabalhada, é preciso interligar as vertentes de triângulo, conhecer, apreciar, fazer, buscando nos processos cognitivos o equilíbrio entre razão, emoção e intuição. Atualmente, e talvez, em grande parte por causa de uma formação docente inadequada, o ensino de arte na educação básica vem sendo desenvolvido de forma fragmentada e numa perspectiva reducionista, os eixos da abordagem são muitas vezes reduzidos a atividades estanques e estereotipadas, principalmente em atividades de releitura das obras de arte, muitas vezes tratadas como a simples realização de cópias de obras originais. 75 ESTUDO DOS PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA A AÇÃO REFLEXIVA Capítulo 2 REFERÊNCIAS BARBOSA, A. M. Dilemas da Arte/Educação como mediação cultural em namoro com as tecnologias contemporâneas. In: BARBOSA, A. M. (org). Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. BARBOSA, A. M. As mutações do conceito e da prática. In: BARBOSA, A. M. (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003. BARBOSA, A. M. A imagem no ensino da Arte. São Paulo: Max Limonad, 2002. BARBOSA, A. M. Arte-educação no Brasil. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999. BARBOSA, A. M. Arte como cultura e expressão. In: BARBOSA, A. M. (Org.). Tópicos e Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. BARBOSA, A. M. Arte-educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997. BARBOSA, A. M. A imagem do ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1991. BNCC. Educação é a base. 2019. Disponível em: http://basenacionalcomum. mec.gov.br/a-base. Acesso em: 12 fev. 2020. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: proposta preliminar. 2. ed. Brasília: MEC, 2016. BRASIL. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. (Orientações curriculares para o Ensino Médio; volume 1). BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, MEC, 2001. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 1997. COUTINHO, R. G. Qual o lugar da arte na Educação? In: CHRISTOW, L. H. da S.; MATTOS, S. A. R de. Arte educação: experiências, questões e possibilidades. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2006. EISNER, E. Estrutura e Mágica no ensino da arte. In: BARBOSA, A. M. Arte- educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997. 76 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo FERRAZ, M. H. C. de T.; FUSARI, M. F. de R. e. Metodologia do ensino de arte. (Coleção magistério 2ª grau. Série formação do professor) 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. HERNÁNDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Tradução: Jussara H. Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 2000. HOFFMANN, J. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. 18. ed. Porto Alegre: Mediação, 2000. MARINHO, V. M. O papel da arte na educação básica. In: PEREGRINO, Y. R. et al. Da camiseta ao museu: o ensino das artes na democratização da cultura. João Pessoa: Editora Universitária / UFPB, 1995. MORTIZ, C. L.; SCHRAMM, M. de L. K. A Arte Contribuindo na Construção da Cidadania. In: SCHRAMM, M. de L. K.; CABRAL, R. M. W., PILLOTTO, S. S. D. (org.). Arte e o ensino da arte. Teatro, música e artes visuais. Blumenau: Nova Letra, 2004. OLIVEIRA, E. D. de. Avaliação no Ensino da Arte. In: PILLOTO, S. S. D.; SCHRAMM, M. de L. K. (orgs.). Refl exões sobre o ensino das artes. Joinville, SC: UNIVILLE, 2001. PALMA FILHO, J. C. O lugar da educação em artes na educação básica. In: CHRISTOV, L. H. da S.; MATTOS, S. A. R. de. Arte-Educação: experiências, questões e possibilidades. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2006. PEREGRINO, Y. R.; PENNA, M.; COUTINHO, S. R. Da camiseta ao museu: a conquista cotidiana na cidadania plena. In: PEREGRINO, Y. R. et al. Da camiseta ao museu: o ensino das artes na democratização da cultura. João Pessoa: Editora Universitária / UFPB, 1995. PILLAR, A.; VIEIRA, D. O vídeo e a metodologia triangular no ensino de arte. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Fundação Iochpe, 1992. CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Reconhecer a importância da avaliação para a aprendizagem dos alunos. Conhecer e compreender as principais concepções de avaliação da aprendizagem. Compreender a concepção de avaliação formativa. Refl etir sobre as diferentes práticas de avaliação de aprendizagem e enfatizar a concepção formativa para a aprendizagem. 78 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo 79 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O presente capítulo tem por objetivo apresentar ao leitor a trajetória da avaliação, detalhando as tendências, concepções, mudanças e enfoques de avaliação da aprendizagem na educação e em Arte, refl etindo,por meio da literatura especializada, sobre suas implicações para os processos formativos à medida que são incorporadas pelas instituições de ensino. A avaliação tem muitas faces. Signifi ca muitas coisas, se apresenta de muitos modos e busca cumprir distintas fi nalidades. Também oculta muitos signifi cados. Não a podemos compreender simplesmente como instrumento ou mecanismo técnico. Ela produz sentidos, consolida valores, afi rma interesses, provoca mudanças, transforma. Tem uma profunda dimensão pública. Então, interessa a muita gente. Por isso é política e ética, embora muitas vezes queira esconder isso sob o manto da técnica, como se sua tecnicalidade a fi zesse neutra de valores (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 37). Com isso, podemos mencionar o caráter plurirreferencial que o autor aponta em várias de suas obras. “A avaliação é plurirreferencial, semanticamente plural, dotada, pois, de múltiplos sentidos e interesses distintos e contraditórios, como tudo o que se realiza na esfera social e pública dos valores e ideologias” (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 40). Entende-se ser fundamental refl etir sobre a avaliação em Arte, por tratar-se de um processo que auxilia tanto o professor, que pesquisa e ensina, quanto o estudante, sujeito central desse processo. Dessa forma, de posse dessas informações, o professor pode planejar com propriedade suas propostas pedagógicas, afi nal, como afi rmam Mödinger et al. (2012, p. 149), a avaliação é uma âncora dos processos de ensinar e de aprender e tem como premissa: Acompanhar, questionar, instigar e principalmente provocar mudanças. É retomar o que foi feito desde o primeiro momento e gestar novo planejamento com base na observação sistemática e no registro consciente, nos acertos e desacertos, costurando um processo no outro de forma dialética. Uma avaliação é sempre o embrião da próxima ação pedagógica. Tornar a avaliação uma ferramenta diária no processo de ensino- aprendizagem assegura ao estudante e aos professores momentos de refl exão sobre o objeto do conhecimento. 80 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo 2 UM OLHAR SOBRE AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO Nunca desestimule alguém que evolui, por mais lenta que seja sua evolução! (autor desconhecido) A avaliação sempre se fez presente nos meios escolares e, ao longo da história, vem sendo utilizada de diferentes formas, com distintas funções, objetivos e metodologias. Na Antiguidade, nas escolas, não havia processos de avaliação institucionalizados. Na Antiguidade, não havia nenhuma organização institucional da avaliação. O discípulo acompanhava o mestre, o saber transmitia-se sob forma de diálogo e interrogação. Esta abordagem supõe o sujeito como lugar de construção do saber, o que levou, por um lado, a centrar o ensino nele; mas também considerar de uma certa maneira, o saber como se fosse algo previamente inscrito no sujeito (CHARDENET, 2007, p. 147). 1 Qual o seu entendimento acerca do conceito avaliação da aprendizagem? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. Chardenet (2007) relata que as primeiras investigações sobre avaliação se deram na Europa, na década de 1930, quando Henri Piéron criou a ciência da medida em exame. [...] ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, a gestão das tarefas e parcelização no processo de produção industrial conduzem os responsáveis de dispositivos de formação a enfatizar a noção de objetivos. R. Tyler procura determinar em qual medida os objetivos de educação podem ser atingidos pelo programa de estudos (currículo) em um curso. Elaboram- se testes que impõem a descrição de objetivos precisos. É uma ruptura com procedimentos sem referências, uma abordagem 81 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 input/output, mas o centro de interesses fi ca no programa e não no aluno. Procura-se verifi car conhecimentos precisos, fora de situação de aplicação das competências. Entra-se então na era industrial da efi cácia (CHARDENET, 2007, p. 149). Baseado no autor citado, nos anos de 1960 a noção de avaliação se espalhou pela divulgação alargada deste termo nos discursos especializados da educação. De acordo com Ferreira e Boff (2009), desde meados dos anos 1960, sociólogos da educação já denunciavam o caráter reprodutivo da escola e bradavam que a avaliação não possuía a neutralidade até então sugerida, mas sim era um meio lícito de exacerbar a desigualdade. Tais ideais revolucionaram a forma de pensar a ação avaliativa, criando novos focos e pontos de debate que resultaram na dicotomia avaliação quantitativa/qualitativa e avaliação de produto/processo. A avaliação formativa surge das discussões desse período. Chardenet (2007) aponta já na década de 1980 que as noções de avaliação entraram nos discursos sociais, especializados e não especializados, adquirindo certo reconhecimento público e destaca em sua pesquisa que a análise dos discursos dos professores mostra que os procedimentos há cerca de vinte anos eram designados sob o nome de dever, testes, controles, e desde o início de século XXI passaram a ser designados pelo termo que os engloba: avaliação. Além disso, houve uma mudança na própria percepção dos docentes e da sociedade quanto aos fi ns e meios da avaliação, incorporada à escola por seu caráter pedagógico e político. Cipriano (2007) faz um recorte da década de 1980 e observa que a avaliação e suas concepções eram denunciadas como instrumentos repressores, alienantes e autoritários, contrariando o que era posto, ou seja, a escola como espaço de construção da cidadania, de autonomia e exercício do direito à democracia. Para Dias Sobrinho (2002), o modelo de Estado Intervencionista ou de Bem- Estar, que vigorou no Ocidente até meados dos anos 1980, representava um pacto social entre o trabalho e o capital devido à crise econômica ocorrida na década de 1970. A formulação de uma política pública, de acordo com esses princípios, é condicionada pela privatização e diminuição dos gastos públicos. A escola se tornou um lugar de desenvolvimento de competências que promovam adequação dos indivíduos para o mercado de trabalho. Essas mudanças se refl etiram em vários países da América Latina, a partir dos anos 1980, num conjunto de reformas educacionais. Elaboradas e impostas pelo governo, as reformas educacionais 82 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo estavam claramente fundamentadas no paradigma econômico, à medida que ressaltavam como princípios: descentralização (como exigência de maior efi ciência e democratização dos processos educativos, inclusive de gestão); redução dos gastos públicos e aumento da efi ciência dos serviços oferecidos; maior aproximação com as culturas locais; liberalismo econômico; modernização; aceleração da produção do conhecimento científi co e das tecnologias deles derivados (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 149). A efetivação da concepção neoliberal levou a educação a um caráter instrumental, levando esses países a problemas como: a) altos índices de evasão e repetência; b) inadequação dos currículos às novas demandas do conhecimento; c) falta de qualidade e renovação dos métodos de ensino. Dias Sobrinho (2002) aponta que no Brasil, as políticas educacionais também foram reorientadas, visando promover maior consonância com o mercado e capacitar para a produção e manutenção da engrenagem econômica. Essa discussão surgiu com o Ensino Superior na década de 1980. A primeira atitude a ser adotada na busca de compreensões do termo avaliação é fugir da tentação do discurso monorreferencial, do sentido único, das defi nições que tentam substituir a indagação por ponto fi nal. Avaliação é um fenômeno essencialmente complexo e permanece incompreensível ou até mesmo se torna deturpado se sobre elelançamos uma visão simplifi cadora (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 39). Assim, para o autor, nesse campo de sentidos, caberia falar também da profi ssão do educador, tratando dos valores educativos, das competências técnicas e sociais dos professores. Não podemos omitir a discussão social, a penosa realidade da carreira, as carências de formação e de aperfeiçoamento contínuo, as coerções que produzem heteronomia, a usurpação do currículo mediante os mecanismos avaliativos de controle e a precarização da vida do educador em razão dos baixos salários e das más condições de trabalho. Assista ao fi lme “Entre os muros da escola”. É começo de ano letivo, François, professor de língua francesa, prepara-se para enfrentar uma sala de aula da sétima série em uma escola da periferia de Paris. Alunos indisciplinados, diferenças culturais, problemas de aprendizado. Mais do que o cotidiano da classe, mais do que os desafi os de um professor 83 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 (que se mostra falível, diferente dos “mestres com carinho” a que Hollywood nos acostumou), o fi lme fala sobre histórias reais, humanas, e da forma de contá-las. O fi lme coloca o público na mesma condição do professor, dando-lhe acesso apenas ao que ocorre na escola. O espectador é lembrado a todo momento que está assistindo a um fi lme, e, portanto, que aquela realidade não é a dele. A sociedade quando enfrenta duras crises econômicas e políticas tende a responsabilizar a educação, como se esta fosse sempre a principal, senão a única, culpada pelos problemas nacionais e pelo declínio da competitividade internacional dos países. A responsabilização principal recai quase sempre sobre os professores, sem que jamais se considerem as precárias condições da carreira e da profi ssão docente, os salários e as faltas de oportunidades para aperfeiçoamento e atualização e a crescente negação da autonomia. A avaliação dos professores acaba sendo, nessas circunstâncias, um mecanismo de dispersão, uma cortina de fumaça que inibe a visão dos verdadeiros problemas e retira de setores da sociedade e do Estado a responsabilidade que tem sobre a provisão e o desenvolvimento qualifi cado da educação. Assim, a avaliação desenvolvida segundo essa racionalidade da responsabilização da educação pelas crises econômicas, sociais e políticas de um país e da desprofi ssionalização dos professores pode acabar justifi cando as desídias dos poderes públicos, os baixos investimentos na área e os precários salários dos educadores (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 42-43). Para Dias Sobrinho (2002), tendo em perspectiva a ética e a epistemologia, se a educação tem como foco apenas os empregos, a funcionalização para os postos de trabalho, o fortalecimento da indústria, o desenvolvimento material por meio da modernização tecnológica, então a sua avaliação privilegiará a efi ciência, a efi cácia, a competência técnica, a competitividade, a produtividade, a utilidade, o êxito individual e os valores dessa ordem. Estes são valores que assumem primordialidade no liberalismo e, sobretudo, na atual expressão fundamentalista do mercado, assim, a educação há de valorizar o indivíduo e a objetividade. A avaliação deve interessar, sobretudo, pela quantifi cação e a comparação objetiva dos resultados, tendendo provavelmente ao uso de instrumentos de medida e ao exercício do controle e valorização daquela instituição que seja capaz, mais que as outras e muitas vezes contra as outras, de mostrar-se competitiva, efi ciente e efi caz. Dias Sobrinho (2002) menciona que por outro lado, se a educação prioriza os valores da formação humana integral, a avaliação que lhe corresponde 84 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo também estará vinculada a essa concepção. Neste caso, a avaliação estará dirigida principalmente aos valores humanos fundamentais e duradouros, no sentido que são universais na história da humanidade, como os de justiça social, paz, pertinência, cidadania, independência intelectual, felicidade, solidariedade, liberdade, fraternidade, igualdade, respeito à alteridade etc., no qual esses valores reconhecem o homem como sujeito da história, ou seja, como um agente dotado de um sentido ético que deve ser respeitado enquanto tal. Luckesi (2000) aborda que avaliar o que fazemos e o que os alunos fazem não consiste somente em somar e dividir notas, com a obtenção de resultados provenientes do julgamento do desempenho do aluno e em foco dos conteúdos e objetivos propostos, bem como na empatia do professor e aluno. “A avaliação da aprendizagem na escola tem dois objetivos: auxiliar o educando no seu desenvolvimento pessoal, a partir do processo de ensino-aprendizagem, e responder à sociedade pela qualidade do trabalho educativo realizado” (LUCKESI, 2000, p. 174). Nesse sentido, Hoffmann (2000) afi rma que, pensar avaliação requer pensar educação. Portanto, requer que as metodologias estejam atualizadas e em sintonia com o processo, com os instrumentos e critérios de avaliação discutidos pelo contexto escolar. São vários os responsáveis para que o ensino e a avaliação se efetivem e sejam signifi cativos para a contribuição do conhecimento na vida escolar do aluno. Tanto aluno, professor e instituição (escola) têm papel fundamental nessa construção de uma avaliação signifi cativa. A seguir, conheceremos as concepções de ensino de Arte que fi zeram e fazem parte dos diferentes contextos educacionais, assim como situar os leitores dos contextos sociais, políticos e econômicos em que foram inseridos. 2.1 CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO EM ARTE Durante muito tempo, as aulas de Artes tinham como principal objetivo o papel de enfeitar as paredes da escola em consonância com as datas comemorativas. Ainda hoje essa prática é muito forte. Nessa perspectiva, as aulas se resumiam em realizar tarefas técnicas, em que os professores propunham aos alunos atividades nas quais o produto fi nal era mais importante do que o processo. Quando o tema da aula era artes visuais, os alunos estudavam técnicas de pintura e desenho. Nas aulas de música, dança 85 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 e teatro, ensaiavam para apresentações em datas comemorativas ou eventos na escola. A ideia de estar acompanhando o percurso de produção dos alunos não é recente e a prática tornou-se central na Escola Nova, nos anos 1960. Nesse período, os processos de aprendizagem começaram a determinar a rotina de sala de aula. Trabalhar em ateliês livres tornou-se uma estratégia, mas qualquer intervenção dos professores era considerada prejudicial ao processo criador, por ser indutora ou até mesmo bloqueadora das buscas individuais. Por isso, os docentes apenas forneciam materiais, espaço e estrutura para as turmas criarem. Não conheciam com precisão os objetivos didáticos, nem tinham clareza dos conteúdos a abordar. Estavam sempre acompanhando o processo, mas sem intervir. A educadora Rosa Iavelberg (2006) conta que esse modelo foi batizado de escola espontaneísta (ou de livre expressão). Tudo para permitir que a arte surgisse naturalmente, de dentro para fora, e sem orientações que pudessem atrapalhar esse processo. Achava-se que a criança tinha uma arte própria e o adulto não deveria interferir. A proposta extrema de preservar a criação infantil de qualquer modelo adulto foi fundamental para marcar a ideia de que a arte tem como princípio a liberdade. Esse era um valor central naquele momento histórico, presente nas manifestações artísticas da época. A escola de livre expressão deu um passo importante para aproximar os campos da arte e Educação. Iniciou-se um movimento presente até hoje nas concepções contemporâneas de ensino de arte. Entretanto, as formas de avaliação preocupavam os professores que tinham a experimentação como foco. Afi nal,se a produção em arte é fruto de geração espontânea, avaliar é desnecessário, até mesmo sem sentido, pois cada um tem seu processo de criação garantido. Em alguns casos, os professores adotavam um modelo híbrido: avaliavam tanto o produto fi nal quanto as práticas cotidianas voltadas ao processo. Nos anos 1980, educadores passaram a entender que a arte tem conteúdos e objetivos próprios. Impulsionados pelos movimentos empenhados em devolver a arte para a arte-educação, defendiam que é possível entrelaçar as manifestações artísticas dos estudantes à de diferentes grupos sociais e épocas diversas. Desse modo, acreditavam que o processo criador também pode ser alimentado por referências externas. A avaliação tem sido alvo de discussões acaloradas entre os diversos atores sociais, em um contexto em que os resultados dos processos avaliativos 86 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo promovidos pelo Estado são realizados com vistas a sua utilização como sentido político. De acordo com os estudiosos em avaliação da aprendizagem, compreendemos que o objetivo da avaliação é contribuir para o processo de construção do conhecimento e desenvolvimento dos alunos por meio de todo o processo de ensino-aprendizagem. Em Arte, uma das razões de sua pouca consideração na escola é que muitos docentes pensam não ser necessário avaliar, pois possuem diferentes concepções sobre o ensino e a avaliação em Arte. Refl etir sobre a função da avaliação no processo de ensino-aprendizagem é fundamental para que professores repensem suas práticas pedagógicas e que o ensino tenha signifi cado para os alunos. A avaliação em Arte deveria ter a mesma função, na qual o professor possa observar e contribuir no desenvolvimento do aluno durante o processo de ensino-aprendizagem em face dos conteúdos e objetivos propostos, atento às diversidades intelectuais e às habilidades que cada um possui e desenvolve durante as aulas. Outro fator importante na avaliação em Arte é de o professor ter um olhar sensível perante o processo de produção dos alunos, focando na qualidade em vez da quantidade de produções artísticas que o aluno desenvolve. De acordo com Oliveira (2001), a avaliação no ensino de arte é um meio pelo qual o professor, no seu papel de interlocutor atento e consciente dos diferentes conhecimentos e estruturas de raciocínio dos alunos, adquiri subsídios, percebendo nos diferentes momentos do processo de ensino-aprendizagem de que forma o aluno internalizou os conceitos de arte e os valores trabalhados; como o aluno construiu conhecimentos a partir da mediação professor, aluno e grupo e da utilização de diversos procedimentos, métodos, materiais e instrumentos, garantindo a identifi cação do resultado que está construindo, o que poderá ser visto nas mudanças do comportamento do aluno, na sua promoção. Isso possibilitará ao professor a organização ou reorganização das experiências de ensino-aprendizagem da arte, perseguindo o caminho que deverá seguir. A realidade das práticas pedagógicas denuncia diferentes práticas avaliativas, com propósitos diferentes na educação. [...] não devemos esquecer que nem sempre são os estudantes mais inteligentes os que tiram melhores notas, mas sim aqueles que se adaptam melhor ao sistema idealizado pelo professor. Costumam ser bons reprodutores que se propõem à aprendizagem como uma adequação às normas mais do 87 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 que como uma busca de alternativas às situações propostas (HERNÁNDEZ, 2000, p. 154). Nessa perspectiva, nem sempre a avaliação assume uma postura que contribui para a emancipação dos alunos com relação a sua formação intelectual. Ela tem se caracterizado como disciplinadora punitiva e discriminatória, como decorrência da ação corretiva do professor a partir dessa correção. A utilização de notas, conceitos, estrelinhas, carimbos e outras menções nas tarefas dos alunos enfatizam o sentido discriminatório da avaliação. “Com comparações de atividades, o número de estrelinhas, os décimos e centésimos. Classifi cam-se, eles mesmos, em burros e inteligentes, e têm sua autoestima abalada a ponto de surgirem bloqueios intransponíveis” (HOFFMANN, 2000, p. 110-111). De acordo com o enunciado, devemos refl etir sobre a real função da avaliação na educação em Arte, e pensar sobre as práticas atuais de avaliação num constante olhar crítico. De acordo com Hadji (2001), a avaliação é importante e essencial na prática de ensino-aprendizagem escolar tanto para os professores quanto para os alunos. Por meio da avaliação o professor pode se perceber e perceber o desenvolvimento de seus educandos mediante sua prática de ensino. Ela tem a possibilidade de propiciar a situação geral que o aluno tem mediante a prática do professor. Boughton (2005) alerta para a difi culdade encontrada no ato de avaliar em Artes Visuais devido aos múltiplos enfoques que esse ato pode tomar, dependendo da função que assume. Um mesmo instrumento avaliativo pode ser usado, exigido e mensurado de formas diferentes para se adaptar ao propósito educacional ao qual está vinculado. De acordo com o autor, apesar dos melhores esforços de especialistas para estabelecer padrões claros esperados das artes, conduzir uma avaliação é uma das mais complexas tarefas que os professores enfrentam em sua vida diária. Diversos fatores contribuem para essa complexidade, em primeiro lugar, o fato de a avaliação requerer dos professores várias formas de análise e de relato, a fi m de satisfazer diferentes propósitos educacionais. 1 Descreva suas experiências como aluno sobre o processo de avaliação na escola. Você pode abordar situações positivas e negativas: R.: ____________________________________________________ ___________________________________________________ _ 88 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________. A avaliação da aprendizagem remete a diferentes metodologias, concepções e contextos em que pode estar inserida, mas para compreender o que fundamenta seus objetivos e procedimentos, cabe questionar o seu lugar no processo de ensino-aprendizagem, ou seja, qual a relação da avaliação com a construção de conhecimento? Para que se utilize corretamente a avaliação no processo ensino-aprendizagem no contexto escolar, importa estabelecer um padrão mínimo de conhecimentos, habilidades e hábitos que o educando deverá adquirir, e não uma média mínima de notas, como ocorre hoje na prática escolar (LUCKESI, 2000, p. 96). A resposta a essa pergunta é essencial para a compreensão de como ocorre a avaliação no meio educativo em seus objetivos e estratégias. De forma geral, apesar de existirem diversas correntes e nomenclaturas para identifi car as práticas avaliativas nos meios escolares, podemos dizer que a literatura aponta três grandes tendências: classifi catória, diagnóstica e formativa. Para isso, contribuem tanto com a cultura avaliativa herdada da escola tradicional como com o desconhecimento/falta de formação do professor quanto às concepções de avaliação e suas implicações para a aprendizagem, uma vez que nos cursos de formação de professores esse tema é recente. O processo de avaliação na escola é uma prática particular de cada professor, que tem sua formação escolar e acadêmica como exemplo a seguir ou não, se as experiências não foram boas. Para tal, conheceremos as diferentes concepções de avaliação e suas funções na educação. 2.1.1 Concepção de avaliação classifi catória em Arte A avaliação classifi catória vem dos primórdios da escola, quando o ensino e a aprendizagem não andavam juntos. A avaliação era parte de um processo de 89 AVALIAÇÃO EM ARTE:CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 aferição do quanto o aluno aprendeu de dado conteúdo, e não apoio para ampliar o universo sociocultural e cognitivo. Naquele momento não existia um projeto formativo e a avaliação atuava como exclusão de quem não se adaptava a ele. Sua função constitui-se num instrumento estático e frenador do processo de crescimento. [...] O educando como sujeito humano e histórico; contudo, julgado e classifi cado, ele fi cará, para o resto da vida, do ponto de vista do modelo escolar vigente, estigmatizado, pois as anotações e registros permanecerão, em defi nitivo, nos arquivos e nos históricos escolares, que se transformam em documentos legalmente defi nidos (LUCKESI, 2000, p. 35). Quando a avaliação tem por foco a capacidade de reprodução de determinado conteúdo repassado pelo professor, são bons alunos os de maior capacidade mimética. Nessa perspectiva, ela é realizada apenas no fi nal do processo de aprendizagem, a fi m de medir seu produto fi nal, atuando como instrumento de coleta de “nota”, que classifi ca os alunos como “bom”, “médio” ou “inferior” sem considerar um processo de refl exão autônoma (LUCKESI, 2000). Por isso, diz-se que esta avaliação tem caráter classifi catório. Atualmente, existem difi culdades de se proceder de acordo com uma concepção de avaliação confi gurada aos moldes de uma proposta formativa, observando ao longo dos séculos práticas excludentes de avaliação. Pode-se mencionar que a prática da avaliação classifi catória é muito atual não somente nas aulas de Arte, mas em todos os níveis e realidades educacionais. Essa prática é comum, pois a maioria das escolas não possui um projeto formativo ativo no qual a avaliação faz parte do processo de desenvolvimento dos alunos, mas sim a avaliação se encaminha nos moldes de regulação do Estado. Muitos estudos mostram que o papel da avaliação em Arte tem sido apenas verifi car a capacidade mimética do aluno, ou seja, de reprodução de conteúdos repassados pelo professor, que é o centro do processo educativo, dotado de um currículo eurocêntrico, com foco em conteúdos dissociados da realidade social do aluno. Nessa perspectiva, a avaliação está inserida numa concepção de ensino de Arte tradicional, cuja avaliação consiste em atribuir um valor sobre o que o aluno sabe ou sobre seu desempenho. De acordo com Mizukami (1986), nessa concepção, o professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se limita, passivamente, a escutá-lo. O ponto fundamental desse processo será o produto da aprendizagem. A reprodução dos conteúdos feita pelo aluno, de forma automática e sem variações, na maioria das vezes, é considerada como um poderoso e sufi ciente indicador de que 90 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo houve aprendizagem e de que, portanto, o produto está assegurado. A didática tradicional quase que poderia ser resumida, pois, em “dar a lição” e em “tomar a lição”. São reprimidos frequentemente os elementos da vida emocional ou afetiva por se julgarem impeditivos de uma boa e útil direção do trabalho de ensino. Como geralmente é realizada apenas no fi nal do processo de aprendizagem, tendo o poder de impedir a trajetória escolar do estudante, a avaliação classifi catória possui “caráter frenador” e traz danos à aprendizagem do aluno. O processo avaliativo acontece, portanto, com a preocupação de medir a capacidade que o aluno tem de reproduzir, com a máxima fi delidade, o conhecimento ‘original’ passado pelo professor. Diante dessas questões, percebemos a aproximação com a concepção de ensino de Arte tecnicista, no qual a efi ciência e a efi cácia eram as palavras-chave das aulas de Arte, e a avaliação deveria corresponder à ênfase de perfeição nos modelos. Diante do exposto, a avaliação não é colocada em função da aprendizagem, mas sim, como um instrumento de averiguar o quanto o aluno sabe sobre determinado conteúdo ou técnica. Para Luckesi (2000), com esta perspectiva, o professor apenas “domestica” seus alunos, sem contribuir para desenvolver seu potencial. Os instrumentos de avaliação têm ênfase quantitativa (pois mensuram o acúmulo de informações) e as notas fi nais, coletadas em geral por meio de provas, visam apenas aprovar ou reprovar o aluno, não intervindo para o crescimento do estudante. À medida que o professor tira o foco da transmissão de conteúdos e avança em estratégias que promovam a construção do conhecimento de forma que, paulatinamente, os estudantes desenvolvam mecanismos para busca e refl exão sobre informações e se mostrem capazes de atribuir a estes signifi cados diversos, a avaliação passa a ter outros objetivos. Além disso, a quantidade de conhecimento ou de conteúdos nem sempre é sinônimo de qualidade. Hadji (2001) aponta que a multicorreção (ênfase do quantitativo pelo professor na sua prática, sem preocupação se o aluno está interiorizando o conhecimento e superando suas dúvidas) não é o melhor caminho a ser seguido. Esse passa a ser um fator muito sério, porque a avaliação, nesses graus, é um fenômeno com características seriamente reprodutivistas, ou seja, o modelo que se instala em cursos de formação é o que vem a ser seguido pelos professores que exercem o magistério nas escolas e universidades. Muito mais forte que qualquer infl uência teórica que o aluno desses cursos 91 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 possa sofrer, a prática vivida por ele enquanto estudante passa a ser o modelo seguido quando professor (HOFFMANN, 2000, p. 138). A avaliação não deve ser sinônimo de prova/testes, com o objetivo de checar o conhecimento acumulado pelo aluno durante um determinado período, a fi m de obter uma nota ou valor sobre ele. Essa marca negativa da avaliação é modifi cada à medida que oferecem melhores condições e formação docente aos professores, que passam a ver mais sentido nos novos modelos. Com isso, o fracasso dos alunos deixa de ser encarado como uma defi ciência e se torna um desafi o para quem não aceita deixar ninguém para trás. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996, determina que a avaliação seja contínua e cumulativa e que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos. Assim, busca que os resultados obtidos pelos estudantes ao longo do ano escolar sejam mais valorizados que a nota da prova fi nal. Notas ou conceitos têm por objetivo registrar o processo de aprendizagem do aluno por uma determinada escola. Eles expressam o testemunho do educador de que aquele estudante foi acompanhado por ele na disciplina sob sua responsabilidade. O registro é necessário, afi nal, nossa memória viva não é capaz de reter tantos dados relativos a um estudante, quanto mais de muitos, e por anos a fi o. O que ocorreu historicamente é que notas ou conceitos passaram a ser a própria avaliação, o que é uma distorção, pois a princípio, eles deveriam ser um diagnóstico da situação atual para ao longo da trajetória oportunizar o desenvolvimento de cada aluno. Se os registros tiverem por objetivo observar o processo de aprendizagem de cada aluno e sua consequente reorientação, eles subsidiam uma avaliação formativa, mas se representarem conceitos ou valores/nota resultarão somente em classifi cações sucessivas do estudante. A avaliação classifi catória é, portanto, herança do ensino tradicional, em que a metodologia de ensino é centrada na reprodução de uma técnica/conteúdo e na aquisição de habilidades, de modo que há ênfase no ‘fazer’ ditado pelo professor e não no conhecimento construído pelos estudantes. Com isso, não há processo de reconstrução do saber, mas, sim, a preocupação com avançar no conteúdo previsto nas unidades do livro, ou seja, o papel e a função da educação, para o qual contribui a avaliação, é fazer dos alunos cópias fi éis/reprodutoras do que foi ditadopelos professores, chegando à perfeição do original. 92 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo A concepção de avaliação classifi catória em nada contribui para a aprendizagem dos alunos, porém possui suas contribuições na educação. Boughton e Cintra (2005) mencionam que a avaliação classifi catória desempenha muitos papéis importantes. [...] O primeiro diz respeito às avaliações nacionais para todo o sistema, feitas para fornecer informações estatísticas aos órgãos federais sobre o desempenho dos estudantes, estes inseridos em diversos subgrupos divididos por critérios, tais como gênero, carga cultural, região e assim por diante (BOUGHTON; CINTRA, 2005, p. 376). A avaliação classifi catória pode ser “medida de temperatura” por permitir aos órgãos federais uma visão geral do sistema educativo por meio de provas padronizadas, cujos resultados podem ser analisados em termos do desempenho de grupos específi cos. Elas também podem ser “catracas”, determinando o acesso a oportunidades educacionais – como o ingresso em instituições de educação superior. Como esclarecem Boughton e Cintra (2005), a medida promovida por avaliações classifi catórias é uma atitude desenvolvida com o propósito de quantifi car as qualidades, e a quantifi cação não é, por si, uma avaliação. Nessa linha, o resultado do teste ou da prova está desvinculado da avaliação, pois extrai somente um produto. Ele pode auxiliar os professores a estimar o que os alunos aprenderam, mas é apenas parte de um processo capaz de identifi car isso. Do mesmo modo, a atribuição de nota permite fazer um julgamento sobre certo grau alcançado dentro de um critério particular, mas, restringir o desempenho ou a capacidade de um aluno a um valor – seja número, letra, conceito – indica extremo reducionismo do processo educativo. Resgatamos também a avaliação na concepção de ensino de Arte escolanovista, em que a avaliação não existe, não faz parte do processo de aprendizagem do aluno. Segundo Hernández (2000), a corrente expressionista, baseada, sobretudo, na importância do desenvolvimento da espontaneidade, destacava a importância de não perturbar, nem interferir no desenvolvimento natural da criança; que o processo (atividade gráfi ca espontânea) tinha prioridade sobre o produto; e que os conteúdos do ensino deviam ser propostos num ambiente de liberdade e sem restrições no planejamento além das próprias atividades. [...] a tendência expressionista que se seguiu à Segunda Guerra Mundial se viu acompanhada, devido ao triunfo do condutismo, de uma explosiva e contraditória combinação, que se refl etiu num amplo desdobramento de recursos, propostas e métodos, para recolher e avaliar os resultados observáveis dos alunos. 93 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 Essa tendência tentava evitar que o critério do professor fosse imposto aos alunos e tentava evitar, além disso, cair na subjetividade. Essa concepção sobre a avaliação centrava-se na medida dos resultados e seguiu a tendência tecnológica de educação para a efi cácia, que percorre a educação durante o período que se estende de 1940 a 1970 (HERNÁNDEZ, 2000, p. 154). Essa visão começou a ser questionada em dois sentidos. Por um lado, destacando que aprendizagem artística e criatividade não são a mesma coisa, e, por outro, que os conhecimentos e as habilidades não amadurecem por si mesmos, de maneira natural, mas sim que se requer uma aprendizagem vinculada a um processo de ensino. Aprendizagem artística: de acordo com Hernandéz (2000), a aprendizagem no campo artístico utiliza estratégias intelectuais, como a análise, a interferência, o planejamento e a resolução de problemas ou formas de compreensão e interpretação. Criatividade: associada à imaginação é a capacidade de fantasiar a realidade, enquanto fonte do processo criador. É inovar para renovar a sedução. 2.2 CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA EM ARTE A concepção de avaliação diagnóstica prevê relação entre o ensino e a aprendizagem. Ela avança na perspectiva de entender o processo de aprendizagem do estudante, mas não de intervenção na prática docente. A avaliação não intervém, necessariamente, na proposta de ensino e no projeto formativo. Se por um lado simplesmente não exclui, por outro também não necessariamente promove e propicia alternativas. [...] o ato de avaliar não serve como pausa para pensar a prática e retornar a ela; mas sim como um meio de julgar a prática e torná-la estratifi cada. De fato, o momento de avaliação deveria ser um “momento de fôlego” na escalada, para, em seguida, 94 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo ocorrer a retomada da marcha de forma mais adequada, e nunca como um ponto defi nitivo de chegada, especialmente quando o objeto da ação avaliativa é dinâmico, como, no caso, a aprendizagem. Com a função classifi catória, a avaliação não auxilia em nada o avanço e o crescimento. Somente com a função diagnóstica ela pode servir para essa fi nalidade (LUCKESI, 2000, p. 34-35). A avaliação diagnóstica vai além da tradição classifi catória, fundamenta-se na percepção do professor sobre o desempenho do aluno, de modo que se busca destacar os erros e acertos do aluno em relação ao objeto cognitivo (HOFFMANN, 2000). Ela é conduzida com o propósito de identifi car as fraquezas e as potencialidades dos estudantes, com o intuito de informar futuras estratégias ao professor e ao aluno. Este conceito está fundamentado na ideia de que, para o professor, a atenção ao desempenho do estudante é elemento primordial à prática pedagógica; ou seja, cabe ao educador desenvolver estratégias que lhe permitam conhecer os erros e acertos do aluno a fi m de promover o seu objetivo cognitivo. Neste sentido, os dados adquiridos numa abordagem classifi catória não possibilitam a superação diante do conhecimento (ato de reconstrução de saberes), mas são mecanismos de diagnóstico da situação e ponto de partida para o avanço e o crescimento, não a “estagnação disciplinadora” (LUCKESI, 2000, p. 32). O diagnóstico propiciado pela avaliação pode ser, portanto, a depender de como o professor interage com o aluno depois da avaliação, limitado ao seu caráter classifi catório ou, ainda, antecedendo a tomada de decisão quanto à continuidade dos processos pedagógicos, a partir do diagnóstico estimular o aluno para a refl exão do saber. Para Oliveira (2001), a avaliação diagnóstica é um constante olhar crítico sobre o que se está fazendo. Citando diversos estudos, a autora identifi ca as contribuições desta concepção e estratégias de avaliar, permite ao professor identifi car os caminhos percorridos por ele e seu aluno, tomando decisões quanto às metas a serem perseguidas. A avaliação diagnóstica em Arte é um meio para detectar e informar as potencialidades e fraquezas observadas durante as produções e atuação do aluno na disciplina de Arte. 95 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 2.3 CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO FORMATIVA EM ARTE Na concepção de avaliação formativa, o foco do ensino e da avaliação está na aprendizagem do estudante por meio de uma ação docente mais ativa e transformadora. “Mais do que medir, avaliar signifi ca entender, interpretar e valorizar” (HERNÁNDEZ, 2000, p. 154). Hernández (2000) compreende a avaliação como um conjunto de ações que agregou uma gama diversifi cada de fazeres, de instrumentos e de critérios avaliativos. No entanto, é importante ter em mente que a Arte no Ensino Fundamental é a experiência com o sensível de cada humano. Assim, como afi rma Gonçalves (2010, p. 164), é preciso refl etir se “[...] aquilo que está propondo propicia uma aproximação do sujeito ao ser humano e à ampliação criativa e crítica de suas possibilidades de [se] expressar”. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN-ARTE),analisamos que os documentos abordam três momentos essenciais para realizar a avaliação: o diagnóstico, durante o processo e ao fi nal ou término de um conjunto de atividades. O PCN-Arte apresenta muitos indícios de como realizar a avaliação em Arte colocando o professor como sujeito ativo e interlocutor dessa prática, elencando a refl exão em grupo, a autorrefl exão do professor, a autoavaliação do aluno, sugerindo utilizar diferentes instrumentos avaliativos, se basear em conteúdos de Arte, promover a crítica e a refl exão, além de auxiliar o professor a discutir os instrumentos e critérios de avaliação com os alunos e a escola. O presente documento não menciona uma concepção norteadora, mas por meio de estudos embasados nesses teóricos, percebemos a aproximação com a concepção de avaliação formativa. Avaliar implica conhecer como os conteúdos de Artes são assimilados pelos estudantes em cada momento de escolaridade e reconhecer os limites e a fl exibilidade necessária para dar oportunidade à coexistência de distintos níveis de aprendizagens, num mesmo grupo de alunos. Para isso, o professor deve saber o que é adequado dentro de um campo largo de aprendizagem para cada nível escolar, ou seja, o que é relevante o aluno praticar e saber nessa área (BRASIL, 2001, p. 95). Arte-educadores compreendem que a avaliação em Arte deva seguir uma perspectiva formativa na qual a função da avaliação é observar o desenvolvimento do aluno em face dos conteúdos e objetivos propostos. Sanmartí (2009) e o arte- 96 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo educador Hernández (2000) mencionam que podemos identifi car três momentos- chave do processo de ensino nos quais a avaliação formativa tem características e fi nalidades específi cas. De acordo com Sanmartí (2009), são: avaliação inicial, avaliação enquanto está se aprendendo e avaliação fi nal. Já Hernández (2000) as denomina como: avaliação inicial, avaliação formativa e avaliação somativa. Como estamos vendo, “ensinar implica diagnosticar”. A avaliação diagnóstica inicial tem como objetivo fundamental analisar a situação de cada aluno antes de iniciar um determinado processo de ensino-aprendizagem, para tomar consciência (professores e alunos) dos pontos de partida, e assim poder adaptar tal processo às necessidades detectadas. Em consequência as atividades iniciais de todo processo de ensino deveriam ter, entre outras coisas, um componente de avaliação inicial (SANMARTÍ, 2009 p. 31). O arte-educador Hernández (2000) menciona esse momento como avaliação inicial, que possui a intenção de detectar os conhecimentos que os estudantes já possuem ao iniciarem um curso ou estudo de um tema. Com elas, os professores podem posicionar-se diante do grupo para planejar melhor seu processo de ensino. O autor ainda aborda que é recomendável que a avaliação seja estruturada a partir do conhecimento básico do aluno. Esse tipo de avaliação deveria coletar evidências de como os alunos aprendem. Sanmartí (2009) discorre sobre a avaliação durante o processo mencionando que a avaliação mais importante para os resultados da aprendizagem é a realizada ao longo do processo de ensino-aprendizagem. O fundamental para aprender é que o próprio aluno seja capaz de detectar suas difi culdades, compreendê-las e autorregulá-las. Hernández (2000) nomeia esse momento como avaliação formativa. De acordo com o autor, implica para os professores uma tarefa de ajuste constante entre o processo de ensino e o de aprendizagem, para ir-se adequando à evolução dos alunos e para estabelecer novas pautas de ação com relação às evidências sobre suas aprendizagens. Nesse processo, a análise dos trabalhos dos alunos poderia ser realizada não na ótica de estarem bem ou mal realizados, mas sim levando em conta a exigência cognitiva das tarefas propostas, a detecção dos erros conceituais observados e as relações imprevisíveis. Esse momento de avaliação pode utilizar as mesmas estratégias de recolhimento de informações sobre os alunos, e ter as mesmas limitações em sua prática nas escolas sobre as quais se falava na avaliação inicial. Segundo Hernández (2000), a avaliação formativa é aquela que se supõe 97 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 que deveria estar na base de todo processo avaliador. Sua fi nalidade não é controlar e qualifi car os estudantes, mas sim ajudá-los a progredir no caminho do conhecimento, a partir do ensino que se ministra e das formas de trabalhos utilizadas em sala de aula. Por fi m, Sanmartí (2009) traz a avaliação fi nal, que deveria orientar-se a ajudar os alunos a reconhecerem os aspectos que aprenderam. Também é útil para verifi car aqueles aspectos que deverão ser reforçados nos processos de ensino de sucessivos temas, porque não podem ser ensinados novos conteúdos sem considerar os resultados de processos anteriores. A avaliação fi nal é realizada quando se termina o período de tempo dedicado ao ensino de um determinado conteúdo, orienta-se tanto verifi car o que o aluno não conseguiu interiorizar, podendo representar um obstáculo para aprendizagens posteriores, quanto a determinar aqueles aspectos da sequência de ensino que deveriam ser modifi cadas (SANMARTÍ, 2009, p. 33). A avaliação fi nal também é útil para verifi car aqueles aspectos que deverão ser reforçados nos processos de ensino de sucessivos temas, porque novos temas não podem ser ensinados se não se considerar os resultados de processos anteriores. Em contraponto, Hernández (2000) denomina essa última etapa como avaliação somativa. A avaliação somativa é proposta como processo de síntese de um tema, de uma série ou de um nível educativo, sendo “o momento” que permite reconhecer se os estudantes alcançaram os resultados esperados, adquiriram algumas das destrezas e habilidades propostas. Na prática esse tipo de avaliação se associa, sobretudo, à noção de êxito ou fracasso dos estudantes na aprendizagem e serve como passagem para dar credibilidade ofi cial aos conhecimentos adquiridos. No entanto, centrar-se na função da avaliação de dar crédito minimiza a possibilidade de uma avaliação em ciclo que destaque o processo seguido e sirva aos professores para avaliar sua própria tarefa e o progresso ou as difi culdades dos alunos (HERNÁNDEZ, 2000, p. 150). Se esse processo for desenvolvido de forma sistemática por todos os professores, supõem-se que, gradativamente, os alunos comecem a entender que não se estuda visando um determinado valor, mas para aprender e, na medida em que vão fazendo as correções durante o processo, busquem perder o medo de errar e de serem avaliados (MELCHIOR, 2003, p. 47). Por fi m, na concepção de avaliação formativa, a proposta de ensino está 98 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo confi gurada num projeto formativo, que constitui a formação integral do cidadão e visa à promoção de sujeitos, proporcionando seu crescimento. Desse modo, a avaliação não deveria ser o momento fi nal da aprendizagem, mas, sim, parte deste processo, de modo que haja a percepção, a crítica e a prática dos agentes (aluno e professor). A avaliação formativa é um ideal que pode tornar a avaliação verdadeiramente útil em situações pedagógicas. Segundo Oliveira (2001), para pensar a avaliação em Arte é preciso romper com o modelo que está posto, de uma relação de aprendizagem linear, estática e classifi catória, que deseja possuir a verdade de forma ameaçadora, punitiva e autoritária. Precisamos compreender que nossas ações avaliativas devem estar em harmonia com as novas concepções de aprendizagem. A escassa bibliografi a para uma metodologia apropriada à avaliação no ensino de arte, a resistência a mudanças e a pouca disponibilidade de tempo dosprofessores para troca de ideias são alguns fatores que difi cultam a inovação pedagógica. “Quando a avaliação se situa no centro da ação de formação é então chamada de formativa, pois sua fi nalidade principal é, ou deveria ser, contribuir para uma boa regulação da atividade de ensino (ou de formação no sentido mais amplo)” (MELCHIOR, 2003, p. 47-48). A concepção formativa assemelha-se muito a algumas concepções de avaliação que possuem propósitos em comum: fazer da avaliação um meio para o desenvolvimento dos alunos e refl exão dos agentes envolvidos (professor e aluno) na aprendizagem. Essas concepções são nomeadas: avaliação emancipatória, mediadora, dinâmica, apreciativa e meta-avaliação, publicadas no artigo “Concepções de avaliação e práticas avaliativas na escola: entre possibilidades e difi culdades” de Meneghel e Kreisch (2009), em que foram discutidas as especifi cidades de cada concepção. A avaliação mediadora, por sua vez, segundo Hoffmann (2005), refere- se à ação docente no processo avaliativo. Ela exige do professor maior tempo de permanência em sala de aula e atendimento individualizado ao aluno para acompanhar o processo de construção do conhecimento, favorecendo o desenvolvimento do estudante com a oferta de novas e desafi adoras situações de aprendizagem, novas leituras ou explicações, sugestão de investigações, oportunidade de vivências enriquecedoras e favorecimento da tomada de consciência progressiva sobre o tema estudado. Hoffmann (2000) destaca que a mediação deve ocorrer no sentido de dialogar com os educandos sobre suas inquietações, discutir considerações, desse modo, de nada adianta uma prova depois de concluído um semestre se o educador e o educando não refl etirem sobre as considerações da presente avaliação. 99 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 A perspectiva emancipatória privilegia a avaliação processual, em que o docente analisa todas as atitudes do estudante ao executar uma tarefa de avaliação e, após, faz considerações relevantes para um processo de reconstrução e aprimoramento do saber. Para tanto, os instrumentos são diversifi cados, contínuos, e os alunos respeitados em suas diferenças (HOFFMANN, 2000; SAUL, 2000). Nos últimos anos têm sido elaborados diversos estudos que, a fi m de promover estratégias para atingir a avaliação segundo a concepção emancipatória e com o ideal de formação humana, propõem modelos avaliativos com focos e elementos específi cos. Na avaliação dinâmica, embora o centro seja a formação do ser humano e a aproximação e o envolvimento do professor no processo de ensino-aprendizagem, o foco da atuação está no estudante. A Avaliação Dinâmica está baseada na crença de que o ser humano é “altamente plástico”, isto é, tem a capacidade, o potencial de modifi car-se. Esse olhar é diferente do olhar da escola. Enquanto a escola está preocupada com o nível de funcionamento real, observável do sujeito, a avaliação dinâmica está centrada na possibilidade desse sujeito de aprender, de modifi car-se, de aprender a aprender. A avaliação é denominada “dinâmica”, pois avalia o sujeito de forma não estática, pontual. Avalia seu modus operandi, na trajetória entre o não aprendido ao aprendido. Muito mais que uma lista de conteúdos aprendidos, a avaliação dinâmica possibilita ao professor conhecer quais de suas interferências possibilitaram insights ao aluno. Mais do que uma nota pelo conjunto de tarefas resolvidas, a avaliação dinâmica quer saber porque razão uma ou outra tarefa não foi possível de ser resolvida e, principalmente, como ajudar esse aluno a resolver tais tarefas, consideradas a princípio difíceis (MÉIER, 2007, p. 130-131). Segundo Méier (2007), a avaliação dinâmica é quantitativa num primeiro momento, pois é necessário conhecer o ponto de partida do seu desenvolvimento real, mas, num segundo momento, ela é qualitativa, permitindo ao professor e ao aluno conhecer seus processos metacognitivos, revelando, assim, velocidade, modalidades de apresentação mais signifi cativas, áreas de interesse maior, formas de raciocínio mais efi cazes. Esse tipo de saber/conhecimento a respeito do desempenho do aluno está em uma dimensão muito além da nota e das provas tradicionais, auxiliando-o a observar seu próprio progresso, particularidades no processo de aprender, estilo de aprendizagem. Deixa de ser apenas conhecimento, cognição, para ser metacognição, ou seja, conhecimento sobre os processos de conhecer. Também com foco no aluno está a avaliação apreciativa, que valoriza o trabalho do autor, ou seja, a produção dos estudantes. O avaliador, ao invés de direcionar o foco de atenção para problemas e aspectos que não funcionam bem, 100 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo ao encontrar-se com seus avaliados, pede que analisem e descubram o que ocorre com sucesso. Solicita, então, que visualizem, imaginem o que ocorreria com tal organização ou processo se aquilo que está acontecendo com êxito acontecesse mais frequentemente. Assim, com base no que já era melhor, os envolvidos elaboram seus planos para as desejadas mudanças. Não se trata de inventar um modo de avaliação, mas sim de tornar a avaliação signifi cativa e de estimular a criatividade do processo com maior satisfação dos envolvidos, com honestidade e integridade na comunicação. É importante destacar que a ênfase na direção positiva da avaliação apreciativa não elimina a percepção dos aspectos negativos, ela apenas ressalta os positivos para que se fortaleça a capacidade de admitir falhas, problemas e a iniciativa em resolvê-los (FIRME, 2007). Finalizando, destacamos a meta-avaliação, termo introduzido por Michel Scriven em 1969, que signifi ca avaliação da avaliação. Ela pode ser tanto avaliação de avaliadores quanto do próprio processo avaliativo, em procedimentos e instrumentos. Avaliadores profi ssionais precisam de um retorno sobre a qualidade de seu trabalho para assegurar um constante aperfeiçoamento da sua prática profi ssional. Os diferentes usuários dos resultados da avaliação precisam saber a qualidade das informações que recebem (LETICHEVSKY, 2007, p. 21). Para Letichevsky (2007), o debate sobre os mecanismos de meta-avaliação é o mesmo da qualidade do processo avaliativo. Portanto, é fundamental que ele considere os princípios seguidos pelo avaliador na condução da avaliação. Conduzir a meta-avaliação é importante para avaliadores, gestores e educadores. 1 No que consiste a avaliação classifi catória, diagnóstica e formativa? R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 101 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 2 Cite três características que fazem parte da avaliação classifi catória, diagnóstica e formativa. R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________. 3 Analise as descrições feitas sobre as práticas de avaliação vivenciadas no seu processo escolar (podendo acrescentar outras situações) e defi na as que se aproximaram das concepções estudadas (classifi catória, diagnóstica e formativa). R.: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________. Devemos estar conscientes que não basta examinar somente as produções fi nais dos alunos. Devemos avaliar todo o processo de desenvolvimento da criação e estarmos ativo, interferindo e estimulando os estudantes a refl etirem sobre suas produções. 3 AVALIAÇÃO FORMATIVA E INTEGRAL DE ACORDO COM A BNCC Frequentemente, a fala mais comum nas escolas é que os alunos são avaliados durante todo o processo de ensino e aprendizagem, mas muitas vezes essa afi rmação é feita somente da boca para fora. A avaliação numa proposta integradora da educação é um procedimento que tem como importantes aliadas a análise e a refl exão, refl exão de si, refl etir sobre o outro, sobre a sociedade, sobre o que se está ensinando, aprendendo, por que ensinar determinados conteúdos, sobre as atividades, os progressos e principalmente os erros. 102 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo Quando pensamos em um ensino e avaliação integradora pensamos em educação integral. Nesse contexto, a BNCC afi rma, de maneira explícita, o seu compromisso com a educação integral. Reconhece, assim, que a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva (BRASIL, 2019, p. 14). Segundo a BNCC, trabalhar de acordo com a educação integral signifi ca assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto e promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. “Nessa concepção, a escola, como espaço de aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades” (BRASIL, 2019, p. 14). A avaliação deve ser um meio de contribuir para a caminhada dos alunos. Segundo Luckesi (2000), o erro, especialmente no caso da aprendizagem, não deve ser fonte de castigo, pois é um suporte para a autocompreensão, para o crescimento, seja pela busca individual (na medida em que me pergunto como e por que errei), seja pela busca participativa. Nessa refl exão, o erro é visto e compreendido de forma dinâmica, na medida em que contradiz o padrão, para, subsequentemente, possibilitar uma conduta nova em conformidade com o padrão ou mais perfeita que este. O erro, aqui, é visto como algo dinâmico, como caminho para o avanço [...] Reiteramos que insucesso e erro, em si, não são necessários para o crescimento, porém, uma vez que ocorram, não devemos fazer deles fontes de culpa e de castigo, mas trampolins para o salto em direção a uma vida consciente, sadia e feliz (LUCKESI, 2000, p. 59). É importante ressaltar que avaliamos indivíduos sensíveis, em desenvolvimento, compreendendo que seus olhares e pensamentos são diferentes dos nossos já familiarizados com a arte. Portanto, a ênfase que queremos apontar é olhar o indivíduo em sua totalidade, para assim a avaliação ser realizada de maneira mais qualitativa e honesta com o aluno avaliado. “Estimular e dedicar tempo para identifi car e regular as difi culdades dos alunos antes da avaliação fi nal é muito mais rentável para o reforço da autoestima dos alunos e para a aprendizagem, para fazê-lo a posteriori” (SANMARTÍ, 2009, p. 33). 103 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 A avaliação formativa visa fornecer aos alunos um feedback de seus progressos, considerando avaliações feitas em diferentes momentos e instrumentos. A avaliação formativa é aquela que se supõe que deveria estar na base de todo processo avaliador. Sua fi nalidade não é controlar e qualifi car os estudantes, mas sim ajudá-los a progredir no caminho do conhecimento, a partir do ensino que se ministra e das formas de trabalho utilizadas em sala de aula (HERNÁNDEZ, 2000, p. 150). Segundo Hadji (2001), a avaliação formativa é um ideal que pode tornar a avaliação signifi cativa em situações pedagógicas ao permitir a crítica da realidade, a libertação dos sujeitos e a saída do imediatismo pedagógico. Segundo o autor, a crítica da realidade consiste em oportunizar aos estudantes o confronto de saberes e relacionar com as realidades presentes no contexto de sala de aula. A libertação dos sujeitos consiste em possibilitar um avanço e construção de um conhecimento que a princípio não poderia ser questionado e discutido. Por fi m, a saída do imediatismo pedagógico consiste em quebrar os padrões das práticas pedagógicas que enfatizam o conteúdo, no qual o professor somente planeja em avançar sua prática de ensino sem levar em consideração o ritmo e as necessidades de aprendizagem dos alunos e as diferenças culturais, deixando de lado um processo rico na aprendizagem que é a avaliação, que possibilita ao aluno questionar e refl etir sobre determinado assunto. De acordo com Macedo (2007), a avaliação formativa ajuda o aluno a compreender e a se desenvolver. Colabora para a regulação de suas aprendizagens, para o desenvolvimento de suas competências e o aprimoramento de suas habilidades em favor de um projeto. Um professor comprometido com a aprendizagem de seus alunos utiliza os erros, inevitáveis, sobretudo, no começo, como uma oportunidade de observação e intervenção. Com base neles, propõe situações-problema, cujo enfrentamento requer uma nova e melhor aprendizagem, possível e querida para quem a realiza. Para Cipriano (2007), a avaliação formativa reforça a ideia de que a avaliação, no desenvolvimento global do currículo, é uma ocasião a mais de aprendizagem e não uma interrupção, tampouco um “prestar contas” mecânico e rotineiro “de” e “sobre” a informação recebida e acumulada previamente. A avaliação, em sua intenção e função formativa, transcende os resultados da prova e da qualifi cação, pois somente a partir de um interesse técnico e de controle se pode confundir o instrumento, o recurso – como o exame – com a atividade – avaliar. A avaliação formativa implica, para os professores, uma 104 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo tarefa de ajuste constante entre o processo de ensino e aprendizagem, para ir-se adequando à evolução dos alunos e para estabelecer novas pautas de ação em relação às evidências sobre sua aprendizagem. Nesse processo, a análise dos trabalhos dos alunos poderia ser realizada não da ótica de estarem bem ou mal realizados, mas sim levando em conta a exigência cognitiva das tarefas propostas, a detecção dos erros conceituais observados e as relações imprevisíveis. Esse momento de avaliação pode utilizar as mesmas estratégias de recolhimento de informação sobre os alunos, e ter as mesmas limitações em sua prática nas escolas sobre os quais se falava na avaliação inicial (HERNÁNDEZ, 2000, p. 150). Segundo Boughton (2005), ‘a avaliação ‘formadora’ tem como intenção fornecer aos alunos um feedback de seus próprios progressos e está, em certa medida, relacionada ao processo avaliatório ‘diagnóstico’. O elemento ao qual se dá menos atenção na avaliação em arte é a refl exão interior do estudante, estimulada por meio do diálogo entre professor e aluno. Como vimos anteriormente, as possibilidades de fazer da avaliação elemento/subsídio para construir conhecimento está presente em diversas propostas avaliativas, surgidas nos últimos anos, fundamentadas em uma concepção formativa. Veremos, a seguir, algumas das difi culdades de estas serem efetivamente incorporadas ao cotidiano dos docentes e das instituições de ensino. Mais do que mencionar que a avaliação é realizada durante todo o processo, o professor deve deixar claro como a avaliação procede, pois Artes é uma disciplina subjetiva. Encantar os alunos nem sempre é umatarefa fácil, mesmo quando a arte é encarada como área de conhecimento. Essa tarefa exige planejar propostas que dialoguem com o percurso de aprendizagem dos alunos e potencializem as conexões entre produção, apreciação e contextualização. Também precisamos assegurar que as propostas de produção deixem de ter papel secundário, fi cando a serviço de outras aprendizagens, como ocorreu por muito tempo, ou seja, não deixar que os assuntos estudados sejam somente uma complementação de outro assunto. Nesse contexto, o professor, diante do processo avaliativo, precisa atender aos seguintes requisitos: • Informar aos alunos os Procedimentos, Instrumentos e Critérios de Avaliação. • A avaliação deve ser contínua. 105 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 • Deve seguir a concepção formativa. • Deve-se levar em consideração processos como recuperações paralelas, seguindo os critérios estipulados pelo professor. • Utilizar diversos instrumentos de avaliação. • Utilizar critérios de avaliação objetivos, sempre relacionados com as atividades previstas. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê que os professores planejem suas aulas levando em consideração as competências e as habilidades, as avaliações mudaram para atender à nova proposta de ensino. As avaliações processuais/formativas seguem as habilidades previstas nos documentos, mas salienta-se a importância das escolas de estudarem os documentos e adequarem seu currículo e diretrizes avaliativas. Conforme o documento: Construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos (BRASIL, 2019, p. 17). A BNCC e os currículos se identifi cam na comunhão de princípios e valores que, como já mencionado, orientam a LDB e as DCN. Dessa maneira, reconhecem que a educação tem um compromisso com a formação e o desenvolvimento humano global, em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica. O professor deve evitar aplicar uma avaliação única ao fi nal da sequência. Diversifi car instrumentos de avaliação garante que todos os alunos sejam integrados em suas habilidades cognitivas. Cada instrumento de avaliação deve ser analisado de acordo com a faixa etária dos estudantes (BRASIL, 2019). Uma possibilidade é propor que os alunos se autoavaliem a cada etapa do processo. Oportunizar a realização de exposições e apresentações, analisar cadernos, portfólios e exercícios das diversas linguagens, apresentação oral, em grupo, individual, seminários, apresentação de vídeos, paródias, entre outros. Ao defi ni-los, propomos uma mudança de cultura de avaliação. Os instrumentos dialogam com a natureza da área de conhecimento e colocam o aluno como protagonista de suas aprendizagens. Nesse sentido, a autoavaliação deve fazer parte da prática do professor, que deve compartilhar com os estudantes, desde o início de cada projeto ou 106 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo sequência didática, os instrumentos e critérios de avaliação das atividades. A avaliação pode ocorrer de diferentes formas, de uma maneira que promova a refl exão crítica e faça com que eles próprios analisem sua caminhada e percurso formativo. Se o trabalho for em grupo, elencar que cada aluno avalie o desenvolvimento dos demais, socializem as observações e atribuam uma nota em consonância com o parecer do avaliado. Dessa forma, abordamos uma autoavaliação guiada pelo professor, com a fi nalidade de fazer com que eles refl itam sobre sua atuação passiva ou ativa na atividade em questão. Outra ferramenta citada pelo documento é o portfólio. Ele é um instrumento interessante para avaliar o processo, pois evidencia as diferentes trajetórias dos estudantes. Nesse sentido, os alunos devem compreender a verdadeira fi nalidade do portfólio e não o tomar somente como uma pasta de armazenar trabalhos de arte. Esse deve ser um material construído pelos alunos e não pela direção, professores e secretárias das escolas. Ele deve ser parte do material didático do aluno. Deve conter todas as belezas das atividades, mas também as difi culdades e defi ciências do processo de aprendizagem. A criação em arte mistura o fazer e o pensar. Por isso, é tão importante reservar tempo para que os estudantes analisem seu percurso verbalmente, em situações orais e escritas. Também é preciso propor que os estudantes olhem para o próprio processo e teorizem sobre suas produções. A pesquisa em arte deve ser complementada com a pesquisa sobre arte. Para esse exercício de metalinguagem é fundamental eleger instrumentos que estejam de acordo com o processo criador das diferentes linguagens. Embora investiguem processos relativos às artes visuais, o portfólio e o caderno do artista também podem ser ajustados para serem instrumentos pertinentes à avaliação de aprendizagem nas outras linguagens. Os cadernos de artista podem ser um dos documentos para realizar a avaliação processual. Possibilitam observar o ir e vir, o pensamento presente quando se produz algo, os caminhos percorridos, as descobertas e difi culdades, os projetos, as alterações de rota, as pesquisas e investigações que se ramifi cam por diferentes campos. Evidenciam a qualidade do inacabado, contrapondo-se às ideias de perfeição tão enraizadas quando se trata da arte. Hernández (2000) defende que o portfólio oferece aos alunos e professores 107 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 uma oportunidade para refl etir sobre o progresso dos estudantes em sua compreensão da realidade, ao mesmo tempo em que possibilita introduzir mudanças durante o desenvolvimento do programa de ensino. Além disso, permite aos professores considerarem o trabalho dos alunos não de uma forma pontual e isolada, como acontece com as provas avaliadoras tradicionais, mas sim no contexto do ensino e como atividade complexa baseada em elementos e momentos de aprendizagem que se encontram relacionados. O uso do portfólio está ligado a uma concepção de ensino e aprendizagem que permite a construção autônoma por parte dos estudantes. Essa noção respeita diferentes trajetórias com base em um projeto curricular comum e defi nido. Em suma, cadernos e portfólios abarcam a dimensão temporal e permitem uma retomada das ações a partir de registros gráfi cos, escrituras, desenhos, fotografi as, anotações e projetos. Mais importante, suscitam refl exões acerca da relação com esses documentos. É assim que ajudam a compreender os movimentos envolvidos na criação. Expor trabalhos e fazer apresentações pode ser, sim, uma estratégia de avaliação processual. A ideia pode ser contraditória, uma vez que as duas situações têm como objetivo tornar público o produto fi nal, mas é bom lembrar que os próprios artistas consideram o momento de apresentar a produção ao público uma etapa signifi cativa do processo de criação. No entanto, os questionamentos aparecem somente quando os produtos estão fi nalizados. Para incorporá-los ao processo de aprendizagem de forma efetiva, é preciso tornar objetos de estudo dois aspectos ligados a exposições e apresentações. O primeiro é o relacionamento do público com a produção – as reações podem apontar transformações para o processo. O segundo, e mais signifi cativo, é o grande aprendizado que o aluno tem ao se apresentar e se expor para o público. Ambos os conteúdos podem ser objetos de refl exão. Por tocarem o eixo da apreciação, ativam a sensibilidade. Espetáculos passam a funcionar como instrumentos potentes de autorregulação, favorecendo as pausas para os alunos refl etirem sobre aprendizagens, conquistas e difi culdades, aspectos que podem ser melhorados e aprofundadose indicações de novas pesquisas. A turma analisa o processo e o professor ganha a oportunidade de fazer abordagens signifi cativas, complexas e, por essa razão, possíveis de serem planejadas com frequência. A avaliação não deve ser planejada para coletar aspectos numéricos e sim, se 108 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo tornar uma ferramenta para o projeto de vida do aluno. É preciso deixar bem claro os critérios de avaliação e observar os alunos a cada dia, acompanhando passo a passo o desenvolvimento deles. Também é função do professor desmitifi car a ideia de bonito e feio, e acolher os erros que eventualmente possam ocorrer no processo. Compete ainda à União promover e coordenar ações e políticas em âmbito federal, estadual e municipal, referentes à avaliação, à elaboração de materiais pedagógicos e aos critérios para a oferta de infraestrutura adequada para o pleno desenvolvimento da educação (BRASIL, 2019). A primeira tarefa de responsabilidade direta da União será a revisão da formação inicial e continuada dos professores para alinhá-las à BNCC. A ação nacional será crucial nessa iniciativa, já que se trata da esfera que responde pela regulação do Ensino Superior, nível no qual se prepara grande parte desses profi ssionais. Diante das evidências sobre a relevância dos professores e demais membros da equipe escolar para o sucesso dos alunos, essa é uma ação fundamental para a implementação efi caz da BNCC (BRASIL, 2019, p. 21). Repensar as atuais práticas avaliativas garante a qualidade na educação seguindo os princípios propostos pela Base Nacional Comum Curricular de uma avaliação integral e processual. Nesse sentido, reforçamos que a avaliação formativa é um processo de idas e vindas no processo de aprendizagem, em que muitas vezes o conteúdo é retomado e algum conceito deve ser explicado de outra forma para deixá-lo mais claro aos alunos e contribuir para sua aprendizagem. 109 AVALIAÇÃO EM ARTE: CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO E SUAS DIMENSÕES NA EDUCAÇÃO BÁSICA Capítulo 3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Nesse estudo, identifi camos três grandes tendências de avaliação: classifi catória, diagnóstica e formativa. A avaliação classifi catória é ocupada de ‘atribuir nota’ ao estudante, com referência na reprodução do conteúdo ditado pelo professor. A avaliação diagnóstica identifi ca difi culdades e avanços do processo de aquisição de conhecimento, podendo ser utilizada para classifi car o estudante ou subsidiar a continuidade da aprendizagem. A avaliação formativa promove a reconstrução do saber. Embora a ênfase dos estudos esteja na concepção formativa, em suas múltiplas vertentes, como ideal para o crescimento intelectual e cidadão dos sujeitos, nas escolas (assim como em diversas políticas públicas) ainda prevalecem práticas classifi catórias. Uma avaliação formativa ajuda o aluno a compreender e a se desenvolver. Colabora para suas aprendizagens, para o desenvolvimento de suas competências e o aprimoramento de suas habilidades. Um professor comprometido com a aprendizagem de seus alunos utiliza os erros, inevitáveis, sobretudo no começo, como uma oportunidade de observação e intervenção. Com base neles, propõe situações-problema, cujo enfrentamento requer uma nova e melhor aprendizagem, possível e querida para quem a realiza. A avaliação formativa visa fornecer aos alunos um feedback de seus progressos, considerando avaliações feitas em diferentes momentos e instrumentos. Assim, o erro não é fonte para castigo, mas suporte para o crescimento. Prezado acadêmico, esperamos que seu caminho pedagógico seja orientado por práticas integradoras e que realmente o ensino e a avaliação possam contribuir para o desenvolvimento das crianças e jovens. Sucesso! 110 ENSiNo E APrENDiZAGEm DE ArTES: CurrÍCuLo E AVALiAÇÃo REFERÊNCIAS BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e métodos. Porto: Porto Editora, 1994. BOUGHTON, D. Avaliação: da teoria à prática. In: BARBOSA, A. M. (org.). Arte/ educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. BOUGHTON, D.; CINTRA, A. H. R. Avaliação: da teoria à prática. 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