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alfaconcursos.com.br MUDE SUA VIDA! 3 b) Sugestão: Sua observação é chave para o entendimento da poética simbolista. Abandona-se o descritivismo parnasiano em busca de uma revitalização do gênero lírico. São criadas novas imagens, novas metáforas, símbolos. Acentua-se o caráter obscuro de certas palavras, o emotivo de outras, tudo como repúdio à linguagem poética usual, carregada de lugares-comuns, clichês, frases-feitas que se repetiam de geração a geração. Trata-se de reinventar a linguagem, explorar suas possibilidades, recriá-la palavra após palavra, à procura de imagens originais e envolventes. A verdadeira poesia consiste em não-dizer, em insinuar, sugerir. Cruz e Sousa foi especilalista na utilização de imagens ousadas com efeito de sugestão. Angustia sexual e erotismo misturam-se na exaltação de uma mulher: “Cróton selvagem, tinhorão lascivo Planta mortal, carnívora, sangrenta, De tua carne báquica rebenta A vermelha explosão de um sangue vivo.” c) Musicalidade: Na tentativa de sugerir infinitas sensações aos leitores, os simbolistas aproximarão a poesia da música. Entendamos: não se trata de poesia com fundo musical, mas poesia com musicalidade em si mesma, através do manejo especial de ritmos da linguagem, esquisitas combinações de rimas, repetição intencional de certos fonemas, etc. realiza-se assim a exigência de Verlaine: “A música antes de qualquer coisa”. Somos atingidos pela sonoridade de qualquer bom poema simbolista: “Vozes, veladas, veludosas vozes Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.” (Cruz e Sousa) d) Irracionalismo e mistério No principio, os simbolistas têm como projeto “revestir” as idéias de uma “forma sensível”, isto é, traduzi-las para uma linguagem simbólica e musical. Pouco a pouco, este intelectualismo se converte numa aventura antiintelectual, numa negativa às chances de comunicação lógica entre os homens. “Nós não estamos no mundo”, brada Rimbaud, o mundo concreto se esvaiu em nossos pés, perdeu sua inteligibilidade. Agora é puro mistério: atrás da ordem aparente das coisas estão o caos, a névoa, a bruma, a neblina, o incorpóreo, o fantasmagórico, o estranho, o inefável. “Infinitos, espíritos dispersos Inefáveis, edênicos, aéreos Fecundai o Mistério destes versos Com a chama ideal de todos os mistérios.” (Cruz e Sousa) O SIMBOLISMO BRASILEIRO O Simbolismo foi entre nós um movimento marginal. Desenvolveu-se apenas em estados periféricos e de pouca ressonância cultural: estados do Sul e Minas Gerais. Sufocados pela dominação parnasiana, os poetas simbolistas não tiveram maior repercussão junto ao publico e à crítica da época. Depois de 1922, alguns deles foram revalorizados. https://www.alfaconcursos.com.br/ alfaconcursos.com.br MUDE SUA VIDA! 4 Não se pense, contudo, que a marginalidade simbolista implicou numa mudança das relações de dependência estabelecidas entre os nossos letrados e os valores europeus. A exemplo dos parnasianos – e às vezes é difícil identificar as diferenças entre ambos, inclusive poeticamente – os simbolistas transplantaram uma cultura que não tinha nada a ver com o nosso contexto. Daí uma poesia completamente afastada do espaço histórico brasileiro. E que desse ponto de vista tem sua validade literária comprometida. As primeiras experiências da nova estética foram realizadas por Medeiros e Albuquerque, a partir de 1890. Porém, as manifestações basicamente simbolistas competiriam a Cruz e Sousa que, em 1893, lançava dosi textos sob a égide renovadora: Broquéis e Missal. O primeiro era poesia em versos, e o segundo, um livro constituído por poemas em prosa. O POETA SIMBOLISTA CRUZ E SOUSA A poesia de Cruz e Sousa refelte a ambigüidade quase inevitável dos letrados procedentes de grupos marginalizados. Ao se alçarem, eles sentem uma espécie de compromisso com o passado, mas não conseguem fugir do prestigio das formas de expressão da classe dominante. A vingança de Cruz e Sousa contra o preconceito de cor não se daria através de uma aproximação com seu mundo étnico. Ele buscaria na aristocratização intelectual, no hermetismo, na imitação do “dernier cri” parisiense, o sinal de sua diferença em relação aos escritores brancos vinculados ao Parnasianismo. Como diz Roger Bastide, ele quis mostrar que o negro não era um materialista, preso à terra e ao prazer dos sentidos. Daí a espiritualização contínua de sua poesia, que sonha em desfazer-se de todos os referenciais concretos. Trata-se de uma poesia limpa das impurezas da vida, imaculada, obsessivamente branca. Essa tendência à espiritualização, ao idealismo platônico encontra a sua correspondência numa linguagem difícil, requintada, musical, dominada por palavras que indicam a cor branca. “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves de neblinas!” REPRESENTANTES • Cruz e Sousa • Alphonsus de Guimaraens Cruz e Sousa (1861-1898) Considerado o precursor do simbolismo no Brasil, João da Cruz e Sousa foi um poeta brasileiro nascido em Florianópolis. Sua obra é marcada pela musicalidade e espiritualidade com temáticas individualistas, satânicas, sensuais. Suas principais obras: Missal (1893), Broquéis (1893), Tropos e fantasias (1885), Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905). Alphonsus de Guimarães (1870-1921) Um dos principais poetas simbolistas do Brasil, Afonso Henrique da Costa Guimarães, possui uma obra marcada pela sensibilidade, espiritualidade, misticismo, religiosidade. Sua temática é a morte, a solidão, o sofrimento e o amor. Sua produção literária apresenta características neorromântico, árcades e simbolistas. Suas principais obras: Setenário das dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902), Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923). https://www.alfaconcursos.com.br/