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APOSTILA-TRABALHO SOCIAL COM FAMILIAS E COMUNIDADES

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1 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 4 
2 CONCEPÇÃO INICIAL DE ESTADO E DE SOCIEDADE CIVIL .................. 5 
3 GRÉCIA ANTIGA: PERÍODOS ..................................................................... 7 
3.1 Período Pré-Homérico ou Micênico – entre 2000 e 1.100 a.C ............... 7 
3.2 Período Homérico ou Idade das trevas – entre 1.100 e 700 a.C ............ 8 
3.3 Período Arcaico – entre 700 e 500 a.C .................................................. 9 
3.4 Período Clássico – entre 500 e 338 a.C ............................................... 10 
3.5 Período Helenístico – entre 338 e 146 a.C ........................................... 11 
4 NASCIMENTO DA PÓLIS GREGA ............................................................. 12 
5 ROMA ANTIGA (CIVITAS ROMANA) ......................................................... 14 
5.1 O social e o político .............................................................................. 15 
5.2 A promoção do social ........................................................................... 18 
5.3 A esfera privada ................................................................................... 22 
5.4 A esfera pública .................................................................................... 22 
6 CONCEITO DE SOCIEDADE ..................................................................... 25 
6.1 A cooperação humana ......................................................................... 27 
6.2 A sociedade civil nos jusnaturalistas .................................................... 29 
6.3 A sociedade civil em Rousseau ............................................................ 30 
6.4 A sociedade civil em Hegel .................................................................. 31 
6.5 A sociedade civil em Marx .................................................................... 32 
6.6 A sociedade civil em Gramsci .............................................................. 33 
6.7 Sociedade, Comunitarismo e Liberalismo ............................................ 34 
7 O ESTADO ................................................................................................. 36 
7.1 Nação ................................................................................................... 38 
7.2 Governo ................................................................................................ 39 
 
 
2 
7.3 Cidadania ............................................................................................. 39 
7.4 Povo ..................................................................................................... 40 
7.5 Território ............................................................................................... 40 
8 ESTADO, ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO ........................................ 41 
8.1 Estado Absolutista ................................................................................ 42 
8.2 Estado Liberal-Democrático ................................................................. 42 
8.3 A crise no liberalismo ........................................................................... 45 
8.4 Neoliberalismo, globalização e desemprego estrutural ........................ 47 
8.5 Estado Democrático ............................................................................. 48 
9 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DOS PODERES ..................................... 49 
9.1 Os três poderes .................................................................................... 50 
9.2 Administração pública .......................................................................... 51 
10 O ESTADO DE BEM-ESTAR (WELFARE STATE) ................................. 52 
10.1 Estado de Direito e Estado Social ........................................................ 54 
10.2 O capitalismo organizado ..................................................................... 55 
10.3 O poder legal-racional .......................................................................... 56 
11 CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DO HOMEM ................... 57 
11.1 Período Colonial (1500-1822): a força do passado .............................. 58 
11.2 A educação no Período Colonial .......................................................... 59 
11.3 Período Imperial (1822-1889) ............................................................... 60 
11.4 Os direitos políticos saem na frente ..................................................... 61 
11.5 A escravidão no Brasil: da diáspora africana à abolição ...................... 62 
11.6 A Primeira República (1889-1930) ....................................................... 63 
11.7 Da Revolução de 1930 ao golpe militar de 1964 .................................. 66 
11.8 O Regime Militar ................................................................................... 68 
11.9 Redemocratização no Brasil: 1985 – até os dias atuais ....................... 69 
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 73 
 
 
3 
13 SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao 
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno 
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para 
que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça 
a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço 
virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser 
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 CONCEPÇÃO INICIAL DE ESTADO E DE SOCIEDADE CIVIL 
 
Fonte: brasilescola. uol.com.br 
A linguagem política é notoriamente ambígua. A maior parte dos termos usados 
no discurso político tem significados diversos. Esta variedade depende tanto do fato de 
muitos termos terem passado por longa série de mutações históricas — alguns termos 
fundamentais, tais como "democracia", "aristocracia", "déspota" e "política", foram 
legados por escritores gregos —, como da circunstância de não existir até hoje uma 
ciência política tão rigorosa que tenha conseguido determinar e impor, de modo unívoco 
e universalmente aceito, o significado dos termos habitualmente mais utilizados. 
A maior parte destes termos é derivada da linguagem comum e conserva a 
fluidez e a incerteza dos confins. Da mesma forma, os termos que adquiriram um 
significado técnico através da elaboração daqueles que usam a linguagem política para 
fins teóricos estão entrando continuamente na linguagem da luta política do dia-a-dia, 
que por sua vez é combatida, em grande parte com a arma da palavra, e sofrem 
variações e transposições de sentido, intencionais e não intencionais muitas vezes 
relevantes. 
 Sendo assim, na linguagem da luta política quotidiana, palavras que são 
técnicas desde a origem ou desde tempos imemoriais, como "oligarquia", "tirania", 
"ditadura" e "democracia", são usadas como termos da linguagem comum e por isso 
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de modo não unívoco. “““ “““ Outros vocábulos comsentido mais propriamente técnico, 
como todos os “ismos” em que é rica a linguagem política — “socialismo”, “comunismo”, 
“fascismo”, peronismo”, “marxismo”, “leninismo”, stalinismo”, etc.—, indicam 
fenômenos históricos tão complexos e elaborações doutrinais tão controvertidas que 
não deixam de ser suscetíveis das mais diferentes interpretações. 
Nessa lógica, diferentemente de outras ciências que têm uma tradição mais 
longa e uma autonomia reconhecida e respeitada, ganha notoriedade a ciência política, 
que apesar de antiga, abrange campos como a teoria e a filosofia políticas, os sistemas 
políticos, as ideologias, a economia política, a geopolítica, a geografia política, as 
políticas públicas, as relações internacionais, a administração pública etc. Por esse 
motivo, tanto os sociólogos, como os juristas, os economistas e os historiadores sempre 
ofereceram a ela importantes contribuições. 
No mais, no desenvolvimento dos estudos políticos, a relação entre Estado e 
Sociedade vem sendo construída com a história da própria humanidade, no modo como 
o homem estabelece sua relação com os outros homens e com o meio onde vive. Na 
linguagem dos filósofos e estadistas, o conceito de sociedade e Estado tem sido 
empregado ora indistintamente, ora em contraste, aparecendo então a sociedade como 
círculo mais amplo e o Estado como círculo mais restrito. 
 Em outras palavras, a sociedade vem em primeiro lugar e o Estado, depois, ou 
melhor, enquanto o Estado é formado por grupos de pessoas convivendo em sociedade 
e que buscam metas em comum, a sociedade se refere a um agrupamento de seres 
que convivem em estado gregário e em colaboração mútua, constituindo-se objeto geral 
do estudo das antigas Ciências do Estado, que investigam sobre os diversos aspectos 
relacionados ao comportamento humano ao longo do tempo e como esses 
comportamentos podem influenciar a estrutura de uma sociedade. 
Por conseguinte, há muito tempo os povos e os grupos sociais têm normas e 
códigos que estabelecem regras que organizam cada sociedade. Entretanto, tais 
normativas não costumavam tocar no assunto dos direitos humanos, da qualidade de 
vida e dos quesitos necessários para garantia de uma vida plena para seus integrantes. 
A questão da defesa da cidadania e da instituição de alguns direitos básicos como 
pressupostos de uma vida cidadã se modificou em leis e regulamentações com a 
constituição do Estado moderno. 
 
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3 GRÉCIA ANTIGA: PERÍODOS 
 
historiaica.wordpress.com 
Ao tratar do tema Estado e sociedade, o estudo da história da Grécia Antiga se 
faz necessário e está dividido em cinco períodos, caracterizado em: 
3.1 Período Pré-Homérico ou Micênico – entre 2000 e 1.100 a.C 
No período micênico ocorreu a ocupação do território da Grécia. Povos indo-
europeus vieram para a região, primeiro os aqueus, ou micênicos, que eram pastores 
e encontraram na região bons pastos, depois os jônios e os eólios. Nessa mesma 
época, desenvolvia-se a civilização cretense, numa Ilha próxima. 
Os micênicos acabaram se sedentarizando e desenvolveram grandes cidades, 
e com as novas atividades produtivas e tributárias que vem com essa especialização, 
desenvolveram a primeira escrita que o homem “moderno” conseguiu decifrar, o Linear 
B. 
Essa escrita foi encontrada em placas de argila em vários pontos da região, 
como Cnossos, Tebas e Micenas. Mais antiga que esta escrita, nesta região, apenas a 
Linear A, que nunca foi decifrada. No final desse período houve a invasão dos Dórios, 
que destruiu as cidades micênicas, provocou a dispersão dos povos da região e sua 
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consequente ruralização. As pessoas que não conseguiram fugir foram escravizadas 
pelos Dórios. 
3.2 Período Homérico ou Idade das trevas – entre 1.100 e 700 a.C 
O Período Homérico corresponde ao segundo período de desenvolvimento da 
civilização grega que ocorreu após o período pré-homérico, entre os anos de 1150 a.C. 
a 800 a.C. O nome dado a esta fase, está relacionado com o poeta grego Homero, 
autor dos poemas épicos “A Ilíada” e a “Odisseia”. No Período Homérico, compreendido 
entre XII a.C à VIII a.C, houve a criação de diversas comunidades gentílicas, que se 
caracterizavam por serem unidades agrícolas pequenas, mas de autossuficiência, e 
nelas todas as riquezas que eram produzidas eram feitas de forma coletiva. 
A gerência do grupo era função do pater, o patriarca encarregado de organizar 
ações de cunho administrativo, judiciário e religioso a serem exercidas por todos ali, no 
qual, seguidamente, a população foi progredindo e se mantendo desproporcional em 
relação à produção agrícola, devido à carência de terras e a falta de recursos 
avançados, além das técnicas de plantio. 
Com a invasão dos povos dórios nas regiões gregas, a sociedade da época 
sofreu no período anterior a diáspora grega (dispersão de diversos povos), visto a 
maneira violenta que eles tomaram e destruíram diversas cidades da Hélade grega. 
Após esse evento, que pôs fim ao período anterior (pré-homérico), a sociedade grega 
passa por uma fase de reestruturação, que tem início com o período homérico. 
Assim, diversas colônias gregas são fundadas e surgem os genos, um tipo de 
organização social familiar desenvolvido a partir desse período. Em outras palavras, 
essa fase marcou a substituição da cultura micênica pela gentílica (dos genos). As 
principais características dos genos eram: sistema fechado, autônomo e 
autossuficiente (independência econômica), de forma que o trabalho coletivo era 
realizado por membros da mesma família. 
Eles eram comandados pelo pater, o chefe e autoridade máxima dessas 
organizações que possuía autoridade política, militar e religiosa. Assim, os genos eram 
sociedades patriarcais, cujos membros compartilhavam laços consanguíneos. 
Nos genos, os bens eram comuns a todos os habitantes, ou seja, era baseado 
numa sociedade igualitária, donde seus membros (os gens) cultivavam as terras e 
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criavam animais para o sustento de todos. No entanto, esse sistema de organização 
econômica e social entrou em decadência, levando a “segunda diáspora grega”. 
A desestruturação das comunidades gentílicas ocorreu porque a população foi 
crescendo e almejou melhores condições de vida. Assim, com o passar do tempo, o 
trabalho nos genos não suportava alimentar toda a população. 
Da mesma forma que ocorreu na primeira diáspora grega, ou seja, a fundação 
de diversas colônias, no período homérico esse fator também é propulsionado com a 
dispersão de diversos povos, dando origem a importantes cidades-Estado como 
Bizâncio, Marselha, Nápoles, Siracusa, dentre outras. 
Além disso, a decadência dos genos possibilitou uma fragmentação social e 
econômica tendo em conta a proximidade com os chefes dessas organizações, que por 
fim, levou a uma nova estrutura social dividida em: eupátridas (bem-nascidos), georgóis 
(agricultores) e thetas (marginais). Surge, portanto, as classes sociais e a propriedade 
privada na Grécia Antiga, pondo fim ao período homérico e dando início ao período 
arcaico. 
3.3 Período Arcaico – entre 700 e 500 a.C 
Por sua vez, no Período Arcaico situa-se uma fase inicial de desenvolvimento da 
arquitetura grega entre os séculos VIII a.C e V a.C sendo considerado um período em 
que ocorreu significativo desenvolvimento cultural, social, econômico e político na 
Grécia, tendo como principais características: 
 Construção dos primeiros templos; 
 Gestação do sistema político democrático. Muitas pólis gregas eram 
governadas por reis (chamados de basileus); 
 Formação e desenvolvimento da pólis (cidades-Estado da Grécia Antiga); 
Ascidades-Estado mais importantes do período arcaico foram: Atenas, 
Esparta, Tebas e Corinto; 
 Desenvolvimento da arte cerâmica com suas pinturas, retratando 
aspectos culturais da Grécia Antiga; 
 Intensificação do processo de colonização de várias regiões da Península 
Balcânica e ilhas gregas. Formação de colônias gregas na Magna Grécia, 
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após período de grande crescimento populacional na região continental 
entre os séculos VIII a.C. e VII a.C; 
 Surgimento do alfabeto fonético grego; 
 Na Filosofia o período ficou conhecido como Pré-Socrático. Várias 
escolas filosóficas se desenvolveram neste período como, por exemplo, 
Escola Jônica, Escola Itálica e Escola Eleática e Escola Eclética. Os 
principais filósofos do Período Arcaico foram: Tales de Mileto, 
Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Xenófanes, Parmênides 
de Eléia e Arquelau de Atenas; 
 Surgimento dos Jogos Olímpicos em 776 a.C; 
 A escultura grega teve grande influência da egípcia, principalmente nas 
primeiras décadas do período arcaico; 
 Foi um período de gestação da mitologia grega, com o desenvolvimento 
de muitos mitos; 
 Intensificação do comercio marítimo grego no Mediterrâneo. 
Cada pólis, portanto, tinha sua própria organização social. Algumas, como 
Atenas, admitiam a escravidão, por dívida ou guerras. Por sua vez, Esparta, tinha 
poucos escravos, mas possuía os servos estatais, que pertencia ao governo espartano. 
Ambas as cidades tinham uma oligarquia que os governava que também eram 
os proprietários das terras cultiváveis. Também em Atenas verifica-se a figura dos 
estrangeiros chamados metecos. Só era cidadão quem nascia na cidade e por isso, os 
estrangeiros não podiam participar das decisões políticas da pólis. 
3.4 Período Clássico – entre 500 e 338 a.C 
O período clássico é uma época de grande desenvolvimento econômico, cultural, 
social e político da Grécia Antiga. As pólis se fortalecem, há grande desenvolvimento 
do comércio marítimo e, consequentemente, conflitos externos por poder e hegemonia, 
principalmente sobre o Mediterrâneo. 
Nessas disputas Atenas e Esparta ganham destaque. Nesse período ocorre a 
Guerra do Peloponeso, conflito bélico principal que envolveu Esparta e Atenas 
diretamente. Essa guerra não começou entre as duas potências, porém envolveu-as 
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por causa dos diversos acordos econômicos e militares entre elas e outras cidades – 
Atenas e a Liga de Delos; Esparta e a Liga do Peloponeso. 
A guerra durou quase 30 anos, e passou por diversas fases onde por vezes 
Esparta estava melhor e a Liga do Peloponeso se fortalecia com novas cidades, por 
vezes o mesmo acontecia com Atenas e a Liga de Delos. Porém, por fim, Esparta vence 
a guerra e domina Atenas, que era a cabeça da Liga inimiga, porém o mundo grego 
está em frangalhos física e estruturalmente, e dá brechas para que Alexandre da 
Macedônia domine-o. 
3.5 Período Helenístico – entre 338 e 146 a.C 
Após Esparta vencer Atenas e assumir o poder político dessa pólis, o mundo 
grego como um todo estava enfraquecido: cidades destruídas, populações diminuídas, 
produção mais fraca e incapaz de suprir todas as necessidades, comércio também 
enfraquecido, pois os mares tinham passado por fases perigosas e as inimizades entre 
as diversas cidades das ligas cortaram várias rotas. 
Essas dificuldades não passaram despercebidas, e Alexandre, rei da 
Macedônia, aproveitou esse momento e invadiu o território grego, dominando-o e 
incorporando-o ao seu império, que já ia até a índia, a Oriente. Assim começa o período 
Helenístico. Porém, apesar desse domínio imperial, Alexandre tinha grande apreço pela 
cultura grega, por política e filosofia, o que possibilitou a difusão da cultura grega e sua 
fusão com outras culturas orientais, o chamado helenismo. 
Um dos principais elementos gregos que foram difundidos foi a mitologia/religião, 
alguns costumes, e a filosofia; porém, politicamente, a democracia e outras formas 
políticas não foram absorvidas durante o helenismo. 
 
 
 
 
 
 
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4 NASCIMENTO DA PÓLIS GREGA 
 
Fonte: porquefilosofia.com 
Conforme visto, o homem é um ser histórico e vive mergulhado no tempo. Sua 
ação transformadora faz com que o homem vá “tecendo” sua trajetória individual e 
coletiva, ao expressar suas próprias necessidades. Para o filósofo grego Aristóteles 
(384 a.C – 322 a.C), o homem é um ser político, ou seja, um ser de relações. 
Todavia, os membros de uma sociedade podem ser de diferentes grupos étnicos, 
podendo também pertencer a diferentes níveis ou classes sociais, sendo caracterizados 
pela partilha de interesses entre os membros e a preocupação mútua direcionada a um 
objetivo comum, na obediência a determinadas normas e regulamentos. 
O pensamento de Aristóteles representa uma notável contribuição à filosofia 
política no que diz respeito à qualificação do homem como um ser que realiza os seus 
mais altos fins na relação indissociável com a comunidade (pólis) na efetivação de um 
bem comum, ou melhor, as origens da ação remontam a polis grega, espaço de ação 
política, através da pluralidade de opiniões. 
Tal perspectiva orientou um modo quase programático de pensar a ação humana 
na matriz comunitária, repercutindo no chamado “comunitarismo contemporâneo” em 
contraste com o “individualismo liberal”. Este último concebe a comunidade como uma 
associação composta por indivíduos que possuem suas próprias e independentes 
concepções em relação a um bem comum que, eventualmente, a comunidade poderia 
professar como essencial para o viver humano. 
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Assegurando a manutenção da ordem doméstica, exercia um poder totalitário 
sobre a vida e a morte, ou seja, nessa esfera, o homem encontrava-se privado da mais 
importante das capacidades - a ação política e só era inteiramente humana se 
ultrapassasse o domínio instintivo e natural da vida privada. Entretanto, a antiga 
civilização grega quando estava em processo de desenvolvimento viveu um momento 
que é destacado por historiadores como um dos principais da Antiguidade: o surgimento 
da “pólis”. 
Ser cidadão da pólis, pertencer aos poucos que tinham liberdade e igualdade 
entre si, pressupunha um espírito de luta: cada cidadão procurava demonstrar perante 
os outros que era o melhor exibindo, através da palavra e da persuasão, os seus feitos 
singulares, isto é, a pólis era o espaço de afirmação e reconhecimento de uma 
individualidade discursiva. 
A pólis, no entanto, entendida basicamente como a junção de várias Cidades-
Estado constituintes do território grego era estruturada como um organismo próprio, 
possuindo forte autonomia. Logo, a passagem de uma tradição mítica e palaciana para 
o regime da pólis exigia dos cidadãos uma inédita compreensão do fenômeno político, 
social, religioso etc., porque a pólis transformara-se no centro cultural e administrativo 
em que viviam os livres helenos e seus escravos estrangeiros. 
Diante dessa realidade, a cidade grega enraizara e fortalecera a diferenciação 
de classe na sociedade. Vale notar que a pólis grega substituíra o caráter fechado da 
cultura consanguínea camponesa com instituições e formas públicas na vida urbana, 
tais como: comércio, política, aparato administrativo e expressões culturais, cada uma 
delas no seu devido lugar – feira, praça, teatro etc., tendo Acrópole como o ponto mais 
alto da cidade (geralmente uma montanha, que reunia palácios e templos religiosos), 
no qual, servia como refúgio para os habitantes das cidades no momento de 
observação e ataques militares. 
As ruínasda Acrópole de Atenas, por exemplo, que abrigam o Partenon (templo 
da deusa grega Atenas) são um dos pontos turísticos mais visitados da Grécia. Com a 
fundação da pólis, determinou-se a criação de uma aristocracia que seria responsável 
pelo propósito político de sua população e historicamente, significou um espaço onde 
se fixariam diversas formas de organização, e também foi a partir dela que políticas 
foram criadas, desenvolvidas e nesse sentido, é possível dizer que a Filosofia Antiga é 
um fenômeno da cultura urbana. 
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5 ROMA ANTIGA (CIVITAS ROMANA) 
 
Fonte: historialivre.com 
Ao longo da História, foi perceptível um processo de interação cultural entre as 
regiões que circundavam o Mediterrâneo Antigo. A cidade-estado denominada Roma, 
desde o século III a.C apresentou uma dinâmica expansionista, a qual a historiografia 
pontua como prática imperialista, sobre os territórios os quais ela anexou a sua zona 
de poder. 
O oppidum de Saguntum foi uma das sociedades que se aliaram a Roma em 
troca de benefícios e com isso vivenciou uma intensa reconfiguração do seu espaço 
territorial e das suas práticas culturais, por meio de um novo viés, o qual se enfoca no 
período posterior ao conflito entre romanos e cartagineses, ou seja, após a Segunda 
Guerra Púnica (III a.C). 
A cidade ou a Civita romana pode ser pensada enquanto um laboratório 
excepcional, ou seja, como um espaço no qual se vivenciava, experimentava e 
concretizavam-se ideias, ações políticas, religiosas, econômicas e sociais; além do 
status sócio jurídico que Saguntum adquiriu junto a Roma, um movimento de 
modificação urbanística do território surgiu devido aos contatos que passaram a ser 
estabelecidos entre romanos e saguntinos. 
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Possivelmente tal processo de reconfiguração do espaço ocorreu para se 
adaptar as necessidades romanas que foram se construindo ao longo do tempo. 
Ademais ao refletirmos sobre a interação cultural, a cidade se torna um ponto 
fundamental a ser analisado, por ser ali o local em que as culturas se 
encontram, negociam os seus interesses e se enfrentam para conseguir 
satisfazer os seus desejos (IANNI, 2000 apud CAMPOS, 2011, p. 2403). 
As culturas citadinas podem apresentar dois tipos de urbanização. O primeiro 
modelo seria conservador, que é fruto de uma sociedade rural. A segunda é a 
heterogênea, a qual seria um produto das inovações e do constante processo de 
interação social das cidades, os quais visam romper com a forma de organização da 
sociedade tradicional, como ocorreu com a cidade romana ao ser implementada em 
diversos pontos do Antigo Mediterrâneo, o que provavelmente ocasionou uma 
transformação na estrutura anterior do local. 
As civitates romanas, geralmente, possuíam no centro uma forma de praça 
pública, a qual se assimilava ao forum, constituído de: uma região de culto da 
religião oficial, o Capitólio; uma curiae para as assembleias dos Decuriões; e a 
basilique, sede da vida judiciária. Além disso, possuíam um teatro e/ou um 
anfiteatro para espetáculos e jogos; santuários para as suas diversas 
divindades; as termas; os aquedutos e fontes; as construções monumentais as 
quais expressavam o poder cívico (GRIMAL, 2003, apud CAMPOS, 2011, p. 
2404). 
Diante desse contexto, torna-se essencial discutir as relações históricas, 
econômicas, políticas e sociais, tendo o Estado como expressão da razão e a 
sociedade como um conjunto de indivíduos que têm necessidade de transmitir a outros 
indivíduos noções de moral, valores e leis sociais que regem o comportamento de 
determinado grupo de pessoas; ambos nascem por contraste com um estado primitivo 
de sociedade em que o homem vivia sem outras leis senão as leis naturais. 
5.1 O social e o político 
Hannah Arendt salienta que existe uma relação mútua entre a ação humana e 
vida em comum na comunidade ou sociedade. Este fato é um dos motivos da incorreta 
tradução da expressão animal político, formulada por Aristóteles, como animal social. 
Para Aristóteles, o homem é um animal político. 
Todavia, os tradutores e comentadores de Aristóteles, desde Séneca até S. 
Tomás de Aquino, traduziram incorretamente animal político por animal social. Esta 
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substituição do político pelo social é a consequência da concepção latina da sociedade 
como uma sociedade da espécie humana, na qual os homens se associam para viver 
juntos em função de fins específicos, por exemplo: para dominar os outros ou para 
cometer um crime. 
Deste modo, existe uma diferença substancial entre a pólis dos gregos como 
espaço de afirmação da política, através da liberdade e igualdade dos cidadãos, e a 
sociedade dos romanos como um espaço de dominação do poder imperial sobre os 
cidadãos e restantes súbditos do Império Romano. Arendt salienta as posições de 
Platão e Aristóteles, para os quais o termo “social” significava apenas a vida em comum 
das espécies animais, enquanto limitação da vida biológica, isto é, a sociedade era uma 
característica biológica do animal humano e de outras espécies animais. 
A política tanto para Platão, como para Aristóteles era a única característica 
essencialmente humana. Para Arendt, o animal político de Aristóteles significava 
somente a existência de uma característica matricial e única da condição humana, que 
consistia na ação política dos cidadãos da pólis num espaço de liberdade e igualdade. 
Mediante a política, o homem tinha a possibilidade de escapar à organização instintiva 
e biológica da casa e da família. 
Paralelamente à incorreta tradução de animal político como animal social, os 
latinos traduziram erradamente a noção de homem como um ser vivo dotado de fala, 
formulada também por Aristóteles, como animal racional. Para Arendt, Aristóteles 
queria apenas indicar não a faculdade racional de fala, mas a capacidade dos cidadãos 
da pólis confrontarem opiniões através do discurso. 
Contrariamente, todos os que viviam fora da pólis (mulheres, crianças, escravos 
e bárbaros) estavam impedidos não da faculdade de falar, mas do poder de 
discursarem publicamente uns sobre os outros confrontando opiniões. Para Arendt, a 
confusão entre o social e o político decorre da moderna concepção da sociedade, a 
qual encara a política como um espaço de regulação da esfera privada. 
O Estado nacional tende a regular a vida doméstica mediante uma "economia 
nacional", "economia social" ou "administração doméstica coletiva". Atualmente, a 
economia política do Estado-nação efetiva-se no controle do poder estatal sobre a 
família e a administração doméstica do lar. Trata-se de um processo contraditório, pois 
originariamente a economia pertencia ao domínio do chefe da família e a política à 
cidadania na pólis. 
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A esfera privada da família, fenômeno pré-político na Grécia Antiga, transformou-
se num "interesse coletivo" controlado pelo monopólio de um Estado soberano, 
consequentemente a esfera privada e a esfera pública correlacionam-se 
reciprocamente. Na época contemporânea, Marx recebeu dos modernos economistas 
políticos a ideia que a política é uma função da vida social e o pensamento, o discurso 
e ação são superestruturas dependentes da infraestrutura económica. Para Arendt, 
esta situação anula a dualidade clássica entre esfera privada e esfera pública. 
Porém, durante a Idade Média, ainda existia uma oposição, embora 
enfraquecida e com uma localização diferente, entre a esfera privada do social e a 
esfera pública do político. Após a queda do Império Romano, o poder religioso da Igreja 
Católica fornecia um substituto para a cidadania anteriormente outorgada pelo governo 
municipal. Mas por mais "profana" que se tornasse a Igreja Católica existia uma 
comunidade de crentes unidos pela fé em Cristo. 
O sagrado monopolizava a vida sociale a vida política. Com o feudalismo, 
verifica-se a absorção da esfera privada dos vilãos e dos servos da gleba pelo senhor 
feudal que centraliza o poder na esfera pública do feudo (que incluía o castelo, a vila e 
as propriedades dos vilãos). O senhor feudal administrava a justiça aplicando as leis na 
esfera privada e na esfera pública. 
Comparativamente, o chefe de família da Grécia Antiga só conhecia a lei e a 
justiça na pólis. Na esfera privada da casa e da família, isto é, nas primeiras formas de 
efetivação do social, o chefe da família grega podia dominar os escravos, a mulher e 
as crianças sem qualquer limite judicial ou legal. 
A transferência dos moldes familiares (e primeiramente sociais) da esfera 
privada para a esfera pública institucional manifesta-se nas corporações profissionais 
da Idade Média - os guilds, confréries e compagnons - e mesmo nas primeiras 
companhias comerciais onde estava presente, desde a origem etimológica, a ideia de 
uma partilha de bens materiais privados (tais como o pão e o vinho) no domínio público. 
Na Idade Média, o significado da expressão "bem comum" não estava ligado à 
política. Mas apenas à reciprocidade de interesses materiais e espirituais entre os 
vários indivíduos. Estes só podiam conservar a sua individualidade privada quando um 
deles se encarregava de garantir os interesses partilhados pela comunidade. 
 A existência desta situação explica-se devido a uma mentalidade cristã, que 
reconhecia o bem comum extensível à vida privada e à vida pública. Deste modo, 
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segundo Arendt o pensamento medieval, que concebia a política e a família 
subordinados ao fim divino, foi incapaz de compreender o abismo originário entre a 
esfera privada e a esfera pública. 
Arendt assegura que Maquiavel foi o único autor pós-clássico que reconheceu a 
separação entre a esfera privada e a esfera pública. Em “O Príncipe”, Maquiavel 
defende, tal como os gregos, a coragem como uma qualidade política essencial, 
procurando restaurar a identidade clássica da política através da figura do Condottieri 
(mercenário), o qual passa da privacidade das circunstâncias naturais existentes em 
todos os indivíduos para o domínio público do Principado. 
5.2 A promoção do social 
Para os gregos, não existia um conceito unívoco de social. O social situava-se 
tanto na esfera privada das relações da casa e da família, como na esfera da 
participação política. A filósofa política Hannah Arendt (uma das mais influentes do 
século XX) assinala um fator fundamental que contribuiu para a promoção do social: a 
subordinação da esfera pública aos interesses privados dos indivíduos. 
Consequentemente, os meios deste processo foram: o desenvolvimento das 
atividades artísticas privadas (romance a música e a poesia); a estereotipização do 
comportamento no conformismo da sociedade (vontade geral, convenções sociais dos 
salões, burocracia, economia, estatística, behaviorismo, cientismo, "mão invisível", 
multidão numerosa, doutrinas socialistas e comunistas enquanto coação da 
comunidade totalitária, sociedade de massas, promoção do labor, interesse público). 
Arendt critica a estereotipização conformista dos comportamentos sociais, que 
negam a espontaneidade da opinião. Esta tendência verifica-se desde o século XVIII 
até à atualidade. O conformismo da sociedade adopta um duplo posicionamento: o 
político constitui o receptáculo dos interesses domésticos e nas relações sociais 
desaparece a pluralidade da discussão política em virtude de uma vontade geral 
normalizada. Ora, para Arendt a política e a história são o campo da multiplicidade de 
ações possíveis devendo o homem abolir o conformismo e exercitar uma vida ativa 
pluralista. 
A passagem das preocupações da esfera privada da família e da casa para o 
domínio da política anulou a oposição clássica entre a pólis e o oikos. A esfera privada 
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atual teve a sua origem nos últimos períodos do Império Romano. Numa época em que 
devido à desagregação do Império os cidadãos procuravam afirmar os seus direitos 
privados (nomeadamente o direito de propriedade) no espaço público como resposta 
aos ataques dos bárbaros. 
Na modernidade, o privado opunha-se à esfera da sociabilidade e da esfera 
política situando-se no domínio do individualismo. No século XVIII, Rousseau defendeu 
que os sentimentos privados deveriam ser preservados da esfera comum do social. O 
desenvolvimento das atividades artísticas privadas nomeadamente a música, a poesia 
e o romance aprofundaram a relação entre a sociabilidade e a individualidade. Os 
românticos, Rousseau e Tocqueville reagiram contra a tentativa de a sociedade nivelar 
o individualismo negando a discussão crítica, pois no fundo o intimo privado e a 
sociedade constituíam formas de valorização da subjetividade individual. 
Na perspectiva de Rousseau, os homens agem sempre numa vontade geral que 
unifica a opinião pública, mesmo que inicialmente tenham opiniões divergentes. Antes 
da desintegração da família nuclear, que ocorreu principalmente a partir do século XVIII, 
o chefe da família exercia um poder despótico controlando os membros da família e do 
lar evitando a desunião e afirmando uma opinião única detentora do interesse comum. 
 O modelo de governo do chefe da família foi adoptado na esfera política pelo 
poder despótico do Rei. Mas posteriormente com o liberalismo [e os ideais da 
Revolução Francesa] o poder político transforma-se numa "espécie de governo de 
ninguém", isto é, numa vontade geral consubstanciada no espaço público burguês dos 
salões, cafés e clubes, bem como na democracia parlamentar. 
Neste contexto, a burocracia assume um controlo despótico nas relações sociais 
uniformizando o comportamento humano perante a administração pública. Arendt 
salienta implicitamente que este "governo de ninguém" significa apenas uma vontade 
geral podendo conduzir a um poder tirânico na repressão das minorias. Deste modo, 
não existe ausência de governo, mas um poder desligado da pessoa do Rei e 
concentrado numa vontade geral unitária. Esta última aparece efetivada inicialmente na 
tentativa de democracia direta (no período da Revolução Francesa) e posteriormente 
na democracia representativa. Nesta "normalização" da conduta social, Rousseau 
defende a existência de convenções predefinidas nos salões da alta sociedade do 
século XVIII. 
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Do mesmo modo, também na sociedade de classes do século XIX e mais 
recentemente no século XX com a sociedade de massas a ação individual de afirmação 
de uma racionalidade discursiva foi absorvida por uma sociedade unitária, que 
uniformizou o privado e o público através da supremacia do social. Contrariamente ao 
modelo grego de oposição entre o oikos e a pólis defendido por Arendt, a política 
passou a preocupar-se com a esfera privada, ou seja, o social privado adquiriu um 
estatuto de ação política. A economia, anteriormente ligada ao lar transformou-se em 
economia política doméstica ao serviço do conformismo privado. 
Arendt critica o despotismo das multidões numerosas defendendo o modelo 
político da pólis grega em que a ação política era individual e estava restrita aos 
cidadãos. Neste ponto, é possível colocar uma questão: Como só os cidadãos tinham 
acesso à vida política não haveria o perigo de uma elite de eruditos restringirem a 
liberdade de discussão dos outros indivíduos? Por conseguinte, Arendt afirma que 
maior população significa maior probabilidade de o social monopolizar a totalidade da 
esfera pública. Mas se aceitar a legitimidade de uma classe política restrita não existirá 
a possibilidade de um totalitarismo sofisticado da minoria da classe dirigente, uma 
espécie de meta-poder desligado dos problemas reais dos indivíduos? 
Os economistas liberais defenderam que a base da economia seria uma 
harmonia de interessesna comunidade, uma "mão invisível" que coletivamente 
regularia os interesses individuais. Contrariamente, Marx afirmou que a sociedade é a 
história da luta de classes e que só na esfera comunista o homem seria igual ao seu 
semelhante completamente livre e sem Estado. Para Arendt, embora Marx na revolução 
do proletariado recuse o conformismo, a sociedade comunista recai num novo 
conformismo em que a liberdade individual é absorvida pela vontade da comunidade. 
Na perspectiva de Arendt, Marx errou ao prever que somente uma revolução 
poderia provocar a decadência do Estado e que a sociedade comunista significaria um 
reino de liberdade. Ora para Arendt, o Estado enquanto espaço político deve resistir à 
uniformização do social pelos interesses privados e o "reino de liberdade" somente 
pode existir no confronto das opiniões públicas. Arendt lamenta que atualmente a 
conduta social da sociedade de massas, no seu esforço de promover o político e o 
privado a uma uniformização do comportamento consumista, tenha conduzido ao 
conformismo do social negando a pluralidade da discussão. 
 
 
21 
De fato, na sociedade de massas o homem garante a sua sobrevivência no 
despotismo de uma única opinião desprovida da discussão racional pela ação política 
da palavra e da persuasão. Para Arendt, esta situação pode conduzir ao totalitarismo, 
à destruição da política e da própria humanidade. 
 A sociedade de massas é guiada pela atividade do labor. Na sociedade massas, 
o animal laborans adquiriu o estatuto de “assalariado” (ou em termos marxistas 
“proletário”), que procura a subsistência da sua vida e da sua família pelo mero 
consumo e interessa-se pelo trabalho material naturalmente admitido longe de qualquer 
produção técnica, ação política ou vida contemplativa. Deste modo, a promoção social 
pelo labor conduziu o espaço público da política a um processo de afirmação da 
sobrevivência biológica, cujos condicionalismos da vida orgânica transformaram-se em 
interesse social e político. 
Nessa lógica, a divisão do trabalho, enquanto multiplicidade da manipulação foi 
o modo de efetivação da vida orgânica do animal laborans, isto é, o trabalho adquiriu 
excelência (uma virtude classicamente ligada à esfera política) tal como se verifica nas 
teorias marxistas e leninistas que valorizam a condição laboral do proletariado e 
consequentemente a sua produção material, como matriz do interesse coletivo. 
Ora, para Arendt a excelência apenas pode existir na ação política através do 
confronto de opiniões. Assim, a promoção do social incorporou a excelência na esfera 
privada do labor. Com a promoção do labor, a coisa pública libertou o trabalho da 
sobrevivência biológica e incorporou-o na praxis política. Os fatores que favoreceram a 
promoção do labor a interesse da sociedade e da esfera pública foram, sobretudo, os 
seguintes: 
 A desagregação entre as capacidades técnicas do trabalho e o 
desenvolvimento humanístico (o animal laborans é incapaz de reconhecer 
o valor humanístico da política como meio de excelência e autopromove 
o valor do trabalho como meio de sobrevivência biológica capaz de atingir 
a esfera pública) e; 
 A subordinação do labor às explicações das ciências físicas e 
consequentemente a separação entre ciências físicas e ciências sociais. 
 
 
 
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5.3 A esfera privada 
É a esfera da casa (oikos), da família e daquilo que é próprio (idion) ao homem. 
Baseia-se em relações de parentesco como a phratria (irmandade) e a phyle (amizade). 
Trata-se de um reino de violência em que só o chefe da família exercia o poder 
despótico sobre os seus subordinados (a sua mulher, filhos e escravos). Não existia 
qualquer discussão livre e racional. 
Os homens viviam juntos subordinados por necessidades e carências biológicas 
(por exemplo: alimentação, alojamento, segurança face aos inimigos). A necessidade 
motivava toda a atividade no lar: o chefe da família proporcionava os alimentos e a 
segurança em face de ameaças internas (por exemplo: revoltas de escravos) e externas 
(outros senhores que quisessem destruir uma dada casa e família), a mulher era 
propriedade do chefe da família e competia-lhe procriar e cuidar dos filhos, os escravos 
ajudavam o chefe da família nas atividades domésticas. 
Na esfera privada, existia a mais pura desigualdade: o chefe da família 
comandava e os outros membros da família eram comandados. Assim, o chefe da 
família não era limitado por qualquer lei ou justiça. A esfera privada da família, 
fenômeno pré-político na Grécia Antiga, transformou-se num "interesse coletivo" 
controlado pelo monopólio de um Estado soberano, consequentemente a esfera 
privada e a esfera pública correlacionam-se reciprocamente. Na época contemporânea, 
Marx recebeu dos modernos economistas políticos a ideia que a política é uma função 
da vida social e o pensamento, o discurso e ação são superestruturas dependentes da 
infraestrutura econômica. 
5.4 A esfera pública 
É a esfera do comum (koinon) na vida política da pólis. Baseia-se no uso da 
palavra e da persuasão através da arte da Política e da Retórica. Para Aristóteles, a 
esfera pública era o domínio da vida política, que se exercia através da ação (praxis) e 
do discurso (lexis). Os cidadãos exerciam a sua vida política participando nos assuntos 
da pólis. Vencer as necessidades da vida privada constituía a condição para aceder à 
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vida pública. Só o homem que tivesse resolvido todos os assuntos da casa e da família 
teria disponibilidade para participar num reino de liberdade e igualdade sem qualquer 
coação. Todos são iguais (não há desigualdade de comandar e de ser comandado) e 
todos são livres em expressar as suas opiniões. O poder da palavra através da 
persuasão (a prática da retórica) substitui a força e a violência da esfera privada. Os 
cidadãos livres e iguais da esfera pública da polis opõem-se, assim, às relações de 
dominação e de propriedade sobre os subordinados do oikos. 
Deixar o lar e a família manifestava a mais importante virtude política - a 
coragem. No oikos, o homem defendia a sua sobrevivência biológica. Na pólis, o 
homem tinha de ter coragem para arriscar a própria vida libertando-se do servilismo do 
amor à vida. A vida boa, que Aristóteles identificava com a ação política, significava a 
libertação do homem, face às esferas do animal laborans e do homo faber efetivando-
se através da virtude da coragem e da eudaimonia (vida boa). Ter coragem era a 
condição para aceder à vida política afirmando uma individualidade discursiva e 
contrariando a mera socialização imposta pelas limitações da vida biológica privada. 
O termo "público" remete para dois fenómenos distintos embora correlacionados. 
Em primeiro lugar "público" centra-se na ideia de acessibilidade: tudo o que vem a 
público está acessível a todos: pode ser visto e ouvido por todos. Quando divulgamos 
um pensamento ou um sentimento através de uma estória, bem como quando 
divulgamos experiências artísticas individuais o privado torna-se de acesso público. A 
garantia deste fenómeno depende de uma condição essencial: os outros têm de 
partilhar a realidade do mundo e de nós mesmos. No entanto, para Arendt há 
sentimentos que não podem ser inteiramente divulgados aos outros no espaço público: 
a dor física e o amor. 
O encantamento por "pequenas coisas" pode parecer insignificante, mas 
constitui o sentimento de um povo em que o bom senso pelos pequenos objetos 
contraria o processo de industrialização. Em segundo lugar, o termo "público" centra-
se na ideia de comum. A realidade do mundo tem um bem comum ou interesse comum 
do artefatoe dos negócios humanos, na medida em que é partilhado por indivíduos que 
se relacionam entre si. Com a sociedade de massas, o homem perdeu a capacidade 
de viver em comum limitando-se ao mero consumo. 
Arendt assinala que a filosofia cristã do vínculo da caridade tematizado por S. 
Agostinho a partir da mensagem de Cristo, é o único princípio capaz de unir as pessoas 
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criando um mundo extraterreno que aceita o amor ao próximo como forma de evitar a 
condenação do mundo. 
Para Arendt, as comunidades cristãs foram incapazes de criar uma esfera 
política própria. Contudo, nas ordens monásticas a esfera pública manifestava-se na 
adopção comum de regulamentos [por exemplo: a regra de S. Bento que proibiam a 
excelência e o orgulho defendendo a humildade da ação evangélica]. A negação da 
política como fenómeno terreno que não durará eternamente está subjacente à 
concepção cristã do mundo. 
 Para os cristãos, a queda do Império Romano foi a constatação de que toda a 
política desligada da submissão à omnipotência cristã é efémera. A recusa cristã do 
mundo terreno produziu na atualidade um efeito inverso: verifica-se a intensificação do 
materialismo e a consequente formação de uma sociedade das massas consumistas 
desligadas do espírito da comunhão. 
Arendt defende, contra o consumo da sociedade de massas, uma comunhão dos 
interesses individuais pela política, que transcenda o espaço intergeracional e se afirme 
de forma estrutural como fenómeno meta-mortal. Neste sentido, Arendt ultrapassa a 
salvação da alma como bem comum dos cristãos salientando a função fundamental da 
ação humana (política) que sobrevive à história quando se manifesta como presença 
no espaço público. 
Na Antiguidade, os homens ingressavam na vida pública através da ação política 
para alcançarem notoriedade e, assim, escaparem ao anonimato da vida natural da 
esfera privada. Esta garantia de notoriedade da esfera política conduzia à intenção de 
ser lembrado para além da morte. A laicização da esfera pública (e consequente perda 
da preocupação metafísica) é um indício significativo do desaparecimento da esfera 
pública clássica. De fato, apesar da separação entre a tradição no domínio da religião 
e a política no domínio do interesse público, tanto a polis grega, como a res publica dos 
romanos eram herdeiras de uma concepção metafísica, que consagrava a imortalidade 
da ação como a maior prova de valor político. 
Arendt salienta a opinião de Adam Smith segundo a qual a admiração pública 
que se efetiva na vaidade consumista e a posterior recompensa monetária são 
intermutáveis possuindo a mesma natureza: ambos são processos subjetivos que 
tendem a tornar objetiva a esfera pública através de formação de status. Esta 
objetividade do status manifesta-se no poder do dinheiro como satisfação das 
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necessidades individuais prontamente transformadas em assunto público. Mas, para 
Arendt nunca a sociedade de massas empenhada no mero consumo e na subjetividade 
dos interesses privados, bem como a esfera privada da família e da casa poderá 
substituir a pluralidade de opiniões na esfera pública da política. 
A esfera pública do comum não resulta da igualdade da natureza humana, mas 
fundamentalmente de um objeto comum - a política - que interessa a todos os indivíduos 
ainda que sob perspectivas diferentes. Assim se compreende a pluralidade de opiniões 
no espaço político. 
Quando o interesse comum da política se transforma no interesse único privado 
do regime tirânico e da sociedade de massas surge a destruição da comunhão na 
esfera pública criando-se as condições para o aparecimento do totalitarismo. 
Especificamente, a sociedade massas destrói a esfera privada e a esfera pública: 
impede a pluralidade de opiniões num espaço público comum; exclui os homens da 
casa e da família enquanto refúgios perante o mundo. 
6 CONCEITO DE SOCIEDADE 
 
Fonte: mises.org.br 
A sociedade é a consequência do comportamento propositado e consciente. Isso 
não significa que os indivíduos tenham firmado contratos por meio dos quais teria sido 
formada a sociedade. As ações que deram origem à cooperação social, e que 
diariamente se renovam, visavam apenas à cooperação e à ajuda mútua, a fim de 
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atingir objetivos específicos e individuais. Esse complexo de relações mútuas criadas 
por tais ações concertadas é o que se denomina sociedade. 
Sociedade é divisão de trabalho e combinação de esforços. Por meio da 
colaboração e da divisão do trabalho, o homem substitui uma existência isolada — 
ainda que apenas imaginável — pela existência conjunta. Por ser um animal que age, 
o homem torna-se um animal social. 
No quadro da cooperação social podem emergir, entre os membros da 
sociedade, sentimentos de simpatia e amizade e uma sensação de comunidade. Esses 
sentimentos são a fonte, para o homem, das mais agradáveis e sublimes experiências. 
Entretanto, esses sentimentos são fruto da cooperação social e só vicejam no seu 
quadro; não precederam o estabelecimento de relações sociais e não são as sementes 
de onde estas germinam. 
Os fatos fundamentais que fizeram existir a cooperação, a sociedade e a 
civilização, e que transformaram o animal homem em um ser humano, é o fato de que 
o trabalho efetuado se valendo da divisão do trabalho é mais produtivo que o trabalho 
solitário, e o fato de que a razão humana é capaz de perceber esta verdade. 
Não fosse por isso, os homens permaneceriam sempre inimigos mortais uns dos 
outros, rivais irreconciliáveis nos seus esforços para assegurar uma parte dos escassos 
recursos que a natureza fornece como meio de subsistência. Cada homem seria 
forçado a ver todos os outros como seus inimigos; seu intenso desejo de satisfazer 
seus próprios apetites o conduziria a um conflito implacável com seus vizinhos, no qual, 
nenhum sentimento de simpatia poderia florescer em tais condições. 
Alguns sociólogos têm afirmado que o fato subjetivo original e elementar na 
sociedade é uma "consciência da espécie". Outros sustentam que não haveria 
sistemas sociais se não houvesse um "senso de comunidade ou de propriedade 
comum". Em um mundo hipotético, no qual a divisão do trabalho não aumentasse a 
produtividade, não haveria sociedade ou qualquer sentimento de benevolência e de 
boa vontade. 
O princípio da divisão do trabalho é um dos grandes princípios básicos da 
transformação cósmica e da mudança evolucionária. Logo, os biologistas tinham razão 
em tomar emprestado da filosofia social o conceito de divisão do trabalho e em adaptá-
lo a seu campo de investigação. Existe divisão do trabalho entre as várias partes de 
qualquer organismo vivo. Mais ainda: existem, no reino animal, colônias integradas por 
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seres que colaboram entre si; tais entidades, formadas, por exemplo, por formigas ou 
abelhas, costumam ser chamadas, metaforicamente, de "sociedades animais". Mas o 
traço característico da sociedade humana é a cooperação propositada: a sociedade é 
fruto da ação humana, isto é, apresenta um esforço consciente para a realização de 
fins. 
Nenhum elemento desse gênero está presente, ao que se saiba, nos processos 
que resultaram no surgimento dos sistemas estruturais e funcionais de plantas e de 
corpos animais ou no funcionamento das sociedades de formigas, abelhas e vespas. A 
sociedade humana é um fenômeno intelectual e espiritual. É a consequência da 
utilização deliberada de uma lei universal que rege a evolução cósmica: a maior 
produtividade gerada peladivisão do trabalho. Como em todos os casos de ação, o 
reconhecimento das leis da natureza é colocado a serviço dos esforços do homem 
desejoso de melhorar suas condições de vida. 
6.1 A cooperação humana 
Conforme visto, na busca de sua identidade social, o homem se agrupa 
formando uma comunidade, que, por sua vez, constitui-se num conjunto de 
comunidades, configurando-se numa sociedade. Logo, a necessidade de viver em 
grupo é justificada pelo fato de que em sua trajetória, o indivíduo interage com grupos 
distintos em cada etapa da vida, desde o núcleo familiar até o relacionamento com 
grupos profissionais, sociais, etc. 
Por esse ângulo, a sociedade em si não existe a não ser por meio das ações dos 
indivíduos: 
 “O individual e o social se completam e confundem entre si. Por isso, é legítimo 
afirmar que todo indivíduo é um grupo da mesma maneira como todo grupo 
pode comportar-se como uma individualidade” (ZIMERMAN et al, 1997, apud 
CASTRO, 2016, p. 185). 
A cooperação humana é diferente das atividades que ocorreram sob as 
condições pré-humanas no reino animal e daquelas que ocorriam entre pessoas ou 
grupos isolados durante as eras primitivas. A faculdade humana específica que 
distingue o homem do animal é a cooperação. Os homens cooperam. Isso significa 
que, em suas atividades, eles preveem que as atividades incorridas por outras pessoas 
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irão produzir certas coisas que possibilitarão os resultados que eles objetivam com seu 
próprio trabalho. 
O mercado é uma situação, ou um conjunto de situações em que há trocas. Um 
ditado em latim, há mais de 2.000 anos, já apresentava a melhor descrição do mercado: 
do ut des — (dou algo para que assim você também dê. Eu contribuo com algo de modo 
que você contribua com algo mais). Com base nisso desenvolveu-se a sociedade 
humana, o mercado, a cooperação pacífica entre os indivíduos. E cooperação social 
significa divisão do trabalho. 
Os vários membros, os vários indivíduos de uma sociedade não vivem suas 
próprias vidas sem qualquer ligação ou conexão com outros indivíduos. Graças à 
divisão do trabalho, os sujeitos constantemente estão associados a terceiros: 
trabalhando para eles e recebendo e consumindo o que eles produziram. Como 
resultado, existe uma economia baseada nas trocas e que consiste totalmente na 
cooperação entre vários indivíduos. Todo mundo produz, não apenas para si próprio, 
mas para outras pessoas também, na expectativa de que essas outras pessoas irão 
produzir para ele. Esse sistema requer atos de troca. 
A cooperação significa que as pessoas estão trocando serviços e bens, sendo 
estes últimos os produtos dos serviços. São essas trocas que criam o mercado. O 
mercado representa precisamente a liberdade de as pessoas produzirem, consumirem 
e determinarem o que deve ser produzido, em qual quantidade, com qual qualidade e 
para quem esses produtos devem ir. Um sistema livre sem um mercado é impossível. 
O mercado é a representação prática desse sistema livre. 
Tem-se aquela ideia de que as instituições criadas pelo homem são (1) o 
mercado, que é a livre troca entre indivíduos, e (2) o governo, uma instituição que, na 
mente de muitas pessoas, é algo superior ao mercado e poderia existir na ausência do 
mercado. A verdade é que o governo — que representa necessariamente o recurso à 
violência, pois não passa de um poder policial com seu correspondente aparato de 
compulsão e coerção — não pode produzir nada. Tudo que é produzido de bom é 
produzido somente pelas atividades desempenhadas por indivíduos, e é disponibilizado 
no mercado com o intuito de se receber algo benéfico em troca. 
É importante lembrar que tudo o que é feito, tudo que o homem já fez, tudo que 
a sociedade já fez, é o resultado da cooperação e dos acordos voluntários. A 
cooperação social entre os homens — e isso significa o mercado — é o que cria a 
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civilização. E foi essa cooperação que permitiu todas as melhorias ocorridas nas 
condições humanas, melhorias essas que podem ser usufruídas hoje. 
6.2 A sociedade civil nos jusnaturalistas 
A expressão “sociedade civil” teve, no curso do pensamento político dos últimos 
séculos, vários significados sucessivos; o último, o mais corrente na linguagem política 
de hoje, é profundamente diferente do primeiro e, em certo sentido, é-lhe até oposto. 
Em sua acepção original, corrente na doutrina política tradicional e, em particular, na 
doutrina jusnaturalista. 
O Jusnaturalismo é uma doutrina segundo a qual existe e pode ser conhecido 
um "direito natural" (ius naturale), ou seja, um sistema de normas de conduta 
intersubjetiva diverso do sistema constituído pelas normas fixadas pelo Estado (direito 
positivo). Este direito natural tem validade em si, é anterior e superior ao direito positivo 
e, em caso de conflito, é ele que deve prevalecer. 
Por isso, é uma doutrina antitética à do "positivismo jurídico", segundo a qual só 
há um direito, o estabelecido pelo Estado, cuja validade independe de qualquer 
referência a valores éticos. Às vezes o termo é reservado, por antonomásia, a doutrinas 
que possuem algumas características específicas comuns, de que se falará a seguir, e 
que defenderam as mesmas teses nos séculos XVII e XVIII: tanto que se gerou a 
opinião errônea de que a doutrina do direito natural teve a sua origem apenas nesse 
período. Ainda assim, sociedade civil (societas civilis) contrapõe-se a "sociedade 
natural" (societas naturalis), sendo sinônimo de "sociedade política" (em 
correspondência, respectivamente, com a derivação de "civitas" e de "pólis") e, 
portanto, de "Estado". 
[...] o homem [...] vive amarrado ao poder econômico de tal forma que só vale 
como braço que produz, sem tempo para o social, o afetivo, o cultural, para 
nada. Transmite-se, ainda, desde criança, toda uma visão social exatamente 
contrária do social, como se o relacional, o afetivo fosse o determinante de sua 
sorte (ARROYO, 1988, apud FERREIRA, 2011, p.82). 
Conforme o modelo jusnaturalístico da origem do Estado, que se repete, com 
sensíveis variações, mas sem alterações substanciais da dicotomia fundamental 
"Estado de natureza-Estado civil", de Hobbes, que é seu criador, até Kant e seus 
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seguidores, o Estado ou sociedade civil nasce por contraste com um estado primitivo 
da humanidade em que o homem vivia sem outras leis senão as naturais. 
 Nasce, portanto, com a instituição de um poder comum que só é capaz de garantir 
aos indivíduos associados alguns bens fundamentais como a paz, a liberdade, a 
propriedade, a segurança, que, no Estado natural, são ameaçados seguidamente pela 
explosão de conflitos, cuja solução é confiada exclusivamente à autotutela. 
Ao passo que “sociedade civil” e “cidadania” remetem de algum modo, uma para 
a outra, sendo difícil dizer qual precede ou qual pressupõe a outra. Em todo caso, pode 
dizer-se que a sociedade civil – isto é, a organização de redes e grupos autónomos de 
defesa de valores e interesses distintos ou concorrentes entre si, e, sobretudo distintos 
das esferas de interesse do Estado e das igrejas – constitui a materialização efetiva do 
exercício da cidadania. 
No sentido de sociedade política ou Estado, a expressão “sociedade civil” é 
comumente usada por teólogos, canonistas e, em geral, por escritores de direito 
eclesiástico e história religiosa, para distinguir a esfera do temporal da esfera do 
espiritual, a esfera das relações sobre que se estende o poder político, da esfera derelações sobre que se estende o poder religioso. Na linguagem da doutrina cristã 
referente às relações entre Igreja e Estado, o problema destas relações é apresentado 
e ilustrado como problema das relações entre a sociedade civil e a sociedade religiosa. 
6.3 A sociedade civil em Rousseau 
 Uma segunda acepção deriva do fato de que através da identificação do Estado 
de natureza e do Estado selvagem, a sociedade civil não se contrapõe mais somente 
à sociedade natural, abstrata e idealmente considerada, mas também à sociedade dos 
povos primitivos. 
 É importante a distinção entre as duas acepções — "sociedade civil" como 
"sociedade política" e "sociedade civil" como "sociedade civilizada" — porque, enquanto 
na maior parte dos escritores dos séculos XVII e XVIII, os dois significados se 
sobrepõem, no sentido de que o Estado se contrapõe conjuntamente ao Estado de 
natureza e ao Estado selvagem, passando "civil" a significar, ao mesmo tempo, 
"político" e "civilizado", em Rousseau os dois significados são nitidamente distintos. 
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Quando descreve, na segunda parte do Discurso sobre a origem da 
desigualdade, a passagem do Estado de natureza ao da "société civile" ("o primeiro 
que, após haver cercado um terreno, pensou em dizer isto é meu e achou os outros tão 
ingênuos que acreditaram, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil"), usa a 
expressão sociedade civil, não no sentido de sociedade política, mas no sentido 
exclusivo de "sociedade civilizada" (onde, de resto, "civilização" tem, como se sabe, 
uma conotação negativa). 
Esta sociedade civil descrita por Rousseau é tão pouco identificável com a 
sociedade política ou Estado que, em certas passagens, é apresentada como um 
estado em que "as usurpações dos ricos, o banditismo dos pobres e as paixões 
desenfreadas de todos" geram um estado de "guerra permanente" que faz pensar no 
Estado de natureza de Hobbes. Por outras palavras, enquanto para Hobbes (e 
igualmente para Locke) a sociedade civil é a sociedade política e ao mesmo tempo a 
sociedade civilizada (civilizada na medida em que é política), a sociedade civil de 
Rousseau é a sociedade civilizada, mas não necessariamente ainda a sociedade 
política, que surgirá do contrato social e será uma superação da sociedade civil. A 
sociedade civil de Rousseau é do ponto de vista hobbesiano, uma sociedade natural. 
6.4 A sociedade civil em Hegel 
A terceira acepção é aquela que Hegel tomou célebre na sua obra Lineamentos 
de filosofia do direito. No sistema hegeliano, o espírito objetivo (que segue ao espírito 
subjetivo e precede o espírito absoluto) é distinto nos três momentos do direito abstrato, 
da moralidade e da eticidade. 
 A eticidade, por sua vez, é distinta nos três momentos da família, da sociedade 
civil e do Estado. Como se vê, a sociedade civil, nesta sistematização geral das 
matérias tradicionalmente ligadas à filosofia prática, não coincide mais com o Estado, 
mas constitui um dos seus momentos preliminares. A sociedade civil não é mais a 
família, que é uma sociedade natural e a forma primordial da eticidade, mas também 
não é ainda o Estado, que a forma mais ampla de eticidade e, como tal, resume em si 
e supera, negando-as e sublimando-as às formas precedentes da sociabilidade 
humana. 
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A sociedade civil coloca-se entre a forma primitiva e a forma definitiva do espírito 
objetivo e representa, para Hegel, o momento no qual a unidade familiar, através do 
surgimento de relações econômicas antagônicas, produzidas pela urgência que o 
homem tem em satisfazer as próprias necessidades mediante o trabalho, se dissolve 
nas classes sociais (sistema das necessidades). 
A luta de classes acha uma primeira mediação na solução pacífica dos conflitos 
através da instauração da lei e da sua aplicação (administração da justiça). É então, 
enfim, que os interesses comuns encontram uma primeira regulamentação meramente 
externa na atividade da administração pública e na constituição das corporações 
profissionais (polícia e corporação). Para fazer compreender que a sociedade civil 
possui algumas características do Estado, mas não é ainda Estado, Hegel define-a 
como "Estado externo" ou "Estado do intelecto". O que falta à Sociedade civil para ser 
um Estado é a característica da organicidade. 
6.5 A sociedade civil em Marx 
Não é improvável que, ao sujeitar esta terceira maneira de entender a sociedade 
civil à crítica das teorias jusnaturalistas, especialmente à teoria de Locke, para o qual o 
Estado, não sendo outra coisa senão uma associação de proprietários, não pode ser 
considerada um Estado no sentido pleno da palavra à maneira de Hegel, se haja 
interposto uma terceira significação de "civil" que, em sua forma alemã, "bürgerlich", 
significa também "burguês". Na realidade, algumas páginas que Hegel dedicou à 
Sociedade civil, especialmente as que descrevem o sistema das necessidades, onde, 
entre outras considerações, achamos o reconhecimento da importância e da novidade 
da economia política, "ciência que faz honra ao pensamento", constituem 
representação fiel das relações econômicas entre indivíduos em conflito entre si, 
características da imagem que a sociedade burguesa tem de si mesma. 
Foi com Marx que se deu a passagem do significado de sociedade civil, nas 
várias acepções até aqui mostradas, ao significado de "sociedade burguesa". Quando 
Marx, na Questão hebraica, descreve o processo através do qual a Sociedade civil se 
emancipa do Estado, que impede seu livre desenvolvimento, e se cinde em indivíduos 
independentes que se proclamam libertos e iguais perante o Estado, e quando critica 
os pretensos direitos naturais, universais e abstratamente humanos, como direitos que 
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nascem da própria sociedade civil, deixa claro que, por sociedade civil, devemos 
entender "sociedade burguesa". 
O homem, membro da sociedade burguesa, é agora a base, o pressuposto do 
Estado político. “Ele é reconhecido como tal pelo Estado nos direitos do homem”. O 
que importa relevar é que, na medida em que Marx faz da sociedade civil o espaço 
onde têm lugar as relações econômicas, as relações que caracterizam a estrutura de 
cada sociedade, ou "a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e 
política", a expressão sociedade civil, significava, conforme a etimologia, a sociedade 
política e o Estado, passa a significar (e significará cada vez mais de agora em diante 
por influência do pensamento marxista) a sociedade pré-estatal; 
Portanto, tem a mesma função conceptual que tinha, para os escritores 
jusnaturalistas, o Estado de natureza ou a sociedade natural, que era exatamente a 
sociedade das relações naturais ou econômicas entre os indivíduos, de cuja 
insuficiência nascia a necessidade de evoluir para uma fase superior de agregação (de 
civilização) que seria a sociedade política ou Estado. 
6.6 A sociedade civil em Gramsci 
Gramsci também distingue repetidamente sociedade civil e Estado. Esta distinção 
é um dos motivos condutores da análise histórica e política que ele faz, em Cadernos 
do cárcere, da sociedade burguesa e da evolução da sociedade burguesa para a 
sociedade socialista. Esta distinção, porém, apesar da identidade da terminologia, não 
coincide com aquela de Marx. 
A expressão “sociedade civil” adquire assim, na obra mais madura de Gramsci, 
um quinto significado. Ele afirma: "Podem-se por enquanto fixar dois grandes planos 
superestruturais, o que se pode chamar da Sociedade civil, ou seja, do conjunto de 
organismos vulgarmente denominadosprivados, e o da sociedade política ou Estado, 
que correspondem à função de hegemonia que o grupo dominante exerce em toda a 
sociedade, e ao do domínio direto ou de comando que se expressa no Estado ou no 
Governo jurídico". 
Em suma, Gramsci serviu-se da expressão Sociedade civil, não para contrapor a 
estrutura à superestrutura, mas para distinguir melhor do que o haviam feito os 
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marxistas precedentes, no âmbito da superestrutura, o momento da direção cultural do 
momento do domínio político. 
6.7 Sociedade, Comunitarismo e Liberalismo 
 Em oposição a este modo de ver a sociedade, e nela os valores ético-políticos 
que orientam a ação dos indivíduos, o comunitarismo propõe uma filosofia baseada no 
pertencimento social e, ao ressaltar valores comunais próximos ao ideal da virtude 
cívica, sob o lema de que o bem deve ser correlato ao justo, pretende destacar a 
conformação social do sujeito engajado e imerso nas diversas configurações do viver 
comum. O comunitarismo aspira, assim, não só a corrigir os desvios da filosofia liberal 
na obliteração dos valores sociais, como também reavaliar a acusação antimodernista 
do comunitarismo de Aristóteles. 
No que diz respeito ao primeiro aspecto, a tese aristotélica da radical 
sociabilidade do ser humano atesta a insuficiência de uma vida isolada: aquele que vive 
sem cidade ou é um ser degradado (um animal) ou está acima da humanidade (um 
deus), "comparável ao homem ignominiosamente tratado por Homero como 'sem 
família, sem lei sem lar". 
No Livro IX da "Ética a Nicômaco", o filósofo, ao analisar a virtude ética da 
amizade, observa que a felicidade está atrelada à convivência humana, ao fato do viver 
junto com os outros em relações de compartilhamento social, uma vez que "não menos 
estranho seria fazer do homem feliz um solitário, pois ninguém escolheria a posse do 
mundo inteiro sob a condição de viver só, já que o homem é um ser político e está em 
sua natureza o viver em sociedade". 
Dentro da psicologia moderna, os interacionistas Piaget e Wallon e o 
sociointeracionista Vygotsky têm um trabalho brilhante a respeito da condição social 
humana e do papel das relações sociais no desenvolvimento dos indivíduos e da 
sociedade e, utilizando-se de diferentes matrizes epistemológicas, esses três 
estudiosos defendem que a relevância do meio social para a espécie humana, e de 
cada sujeito para o seu meio em um processo recíproco de trocas, envolvem aspectos 
cognitivos e socioafetivos que são fundamentais para a construção individual dos 
sujeitos e das sociedades. 
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Ao introduzir novas determinações na esfera do ser social e da política, “a 
dinâmica do desenvolvimento histórico-ontológico tornou necessária à 
superação dialética de uma concepção ‘restrita’ do Estado, na medida em que 
o próprio Estado se ampliou objetivamente [...]” (COUTINHO, 1996, apud 
KOLODY, 2011, p. 38). 
Existem duas teorias que procuram dar conta do conceito de Sociedade: a teoria 
organicista, cujas origens podem ser encontradas desde a filosofia grega, que entende 
que o homem é um ser eminentemente social e por isso não pode viver fora da 
sociedade, entendendo o indivíduo como uma parte “orgânica” da sociedade; e a teoria 
mecanicista, que entende o homem como um ser primário que vale por si mesmo e do 
qual todos os ordenamentos sociais emanam como derivações secundárias. 
 Para os primeiros, a Sociedade é definida como “o conjunto das relações 
mediante as quais vários indivíduos vivem e atuam solidariamente em ordem a formar 
uma entidade nova e superior”. Já os mecanicistas entendem a Sociedade como um 
grupo derivado de indivíduos que buscam objetivos em comum, mas que, 
individualmente, seriam impossíveis de serem alcançados. 
Os mecanicistas criticam essa visão “biologizante” da sociedade, pois, segundo 
eles, na sociedade ocorrem fenômenos que não acham equivalente no corpo humano: 
as migrações, a mobilidade social e o suicídio, por exemplo. Além disso, dizem: as 
partes do organismo não vivem por si mesmas, sendo impossível imaginá-las fora do 
ser que a integram e nem podemos admiti-las noutra posição que não seja aquela que 
a natureza lhes determinou, bem diferente do que pode suceder com os indivíduos na 
sociedade. 
Em que momento, dessa evolução da sociedade, a ideia de Constituição surgiu? 
Ela está associada à renovação ou ao restabelecimento do pacto social, ocorrido no 
início da Idade Moderna (Renascimento) em oposição à decadente ordem feudal e 
também aos excessos do absolutismo monárquico. Trata-se de um pacto, um acordo 
estabelecido entre os diversos segmentos de uma sociedade para a definição das 
regras fundamentais da convivência social em determinado território. 
 
 
 
 
 
 
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7 O ESTADO 
 
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Todo regime político, com sua respectiva ordem constitucional, fornecerá uma 
resposta própria a cada uma dessas questões, de acordo com as possibilidades do 
momento histórico. O Estado se vincula a uma forma organizacional cujo significado é 
de natureza política, e apesar de ser um conceito amplo, existe considerável 
discordância sobre a sua caracterização. 
Ao longo da história o Estado foi adquirindo características e elementos bem 
diferentes, mas, de forma geral, é possível entender o Estado como um poder central 
(estatal) que possui plenos poderes sobre seu território. Ao longo da História foram 
identificados alguns “modelos estatais” bem distintos entre si, sendo eles: o Estado 
Absolutista, o Estado Liberal-Democrático, o Estado Totalitário e o Estado de Bem-
Estar Social. 
O Estado se utiliza de ferramentas de arrecadação e transferência para, em tese, 
retirar daqueles que possuem mais e repassar aos que possuem menos, possuindo um 
monopólio de poder ao qual ele “retira” determinados bens de um indivíduo “A” e realiza 
o repasse de forma igualitária aos usuários “B”, “C” e “D”. Um bom exemplo disto é a 
cobrança de Imposto de Renda (IR), o qual tributa os cidadãos brasileiros de acordo 
com o montante de bens declarados (e adquiridos) e realiza a aplicação da cobrança 
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dos impostos em benfeitorias públicas. Assim sendo, o Estado se apropria de um bem 
privado (valores monetários de um indivíduo), tornando-o um bem público (os valores 
monetários individuais tornam-se do Estado) e por fim o aplica em fim público (saúde, 
educação, segurança e etc.). 
Em tal caso, para a garantia da sociedade, o Estado reúne objetivos de caráter 
fundamental, que são efetivados por um conjunto de políticas de Estado e de Governo. 
Assim, no contexto político, o Estado é produto da sociedade, mas não se confunde 
com ela, porque a sociedade vem primeiro, o Estado vem depois, ou melhor, o Estado 
é uma ordem política da sociedade. 
Nesse ponto de vista, o pensador Nicolau Maquiavel foi famoso da época do 
Renascimento. Filho de pais pobres, Maquiavel desde cedo se interessou pelos 
estudos, tornando-se um importante historiador, diplomata, poeta, músico, filósofo e 
político italiano. Viveu durante o governo de Lourenço de Médici. Sua educação, porém, 
foi fraca quando comparada com a de outros humanistas, devido aos poucos recursos 
de sua família. 
Sua obra mais importante foi escrita em 1513. Em O Príncipe, Maquiavel 
aconselha os governantes sobre como governar e manter o poder absoluto, mesmo 
que seja necessário utilizar forças militares para alcançar tal objetivo; sugerindo, no 
entanto, a famosa expressão: “os fins justificam os meios”, transmitindo a ideia de que 
não importa o que o governante faça em seus domínios, tudo é válido para manter-se 
como autoridade. 
Em

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