Buscar

Teoria Política (4)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TEORIA POLÍTICA 
APRESENTAÇÃO 
 
#CURRÍCULO LATTES# 
 
Professora Me. Itamires Lima Santos Alcantara 
 
● Doutoranda em Serviço Social e Política Social pela Universidade 
Estadual de Londrina (UEL). 
● Mestre em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade pela 
Universidade Federal da Bahia (UFBA). 
● Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). 
● Graduanda em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). 
● Pesquisadora na Associação Brasileira de Pesquisadores Negros 
(ABPN). 
● Membro do Observatório de Racialidade e Interseccionalidade (ORI - 
UFBA). 
● Membro do Grupo de Pesquisa CNPQ Produção do Conhecimento e 
Pesquisa Social (UEL). 
● Membro do Grupo de Pesquisa CNPQ Formação, Currículo e Cultura 
(FORCCULT-UFRB) 
● Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas CNPQ de Gênero, 
Raça/Etnia e Geração (NEPGREG) 
● Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0036800667092517 
 
 
 
 
http://lattes.cnpq.br/0036800667092517
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA 
 
Querido(a) estudante, seja muito bem vindo(a)! 
Inicia-se agora o caminho que trilharemos juntos(as) na disciplina Teoria 
Política do Curso de Serviço Social. Fico muito feliz em tê-lo aqui nesta jornada 
e tenho certeza de que a nossa troca de conhecimentos será extremamente 
enriquecedora. A apostila foi construída com muito cuidado e objetiva possibilitar 
o conhecimento sobre a construção do Estado Moderno e as teorias clássicas 
da política, bem como, os aspectos da teoria democrática em nosso atual 
contexto e a participação social. 
 Para tanto, na unidade I, iniciaremos a nossa caminhada estudando o 
surgimento e a construção do chamado Estado Moderno com as diversas 
compreensões sobre esse tema, suas bases históricas e culturais e as 
abordagens e teorizações dos clássicos da política, Maquiavel, Hobbes, 
Rousseau e Locke. Essa discussão é extremamente importante, pois dará base 
para toda a construção da Teoria Política. 
 Já na unidade II, veremos mais detidamente alguns dos aspectos que 
constituem a Teoria Política Clássica, como a noção do “homem” como “animal 
político”, ou seja, a política como uma ação essencialmente humana. 
Abordaremos, ainda, as teorizações sobre o contrato social e de como essa 
noção ideal é importante para a Teoria Política. Por fim, estudaremos também a 
importância da construção do direito em meio a todo esse processo. 
 Em seguida, trataremos da concepção liberal de Estado, passando pelas 
suas principais compreensões e a crítica marxista do Estado através da 
abordagem de dois dos maiores marxistas do século XX, Lênin e Gramsci. 
Finalmente, discorreremos sobre a construção da noção de democracia e como 
ela se apresenta em nosso contexto, o modelo hegemônico de governo que é o 
modelo representativo e as críticas a essa dinâmica através da abordagem da 
democracia participativa. 
 Espero que esta disciplina possa contribuir com o seu processo de 
formação numa direção crítica e que subsidie e instigue outros estudos e 
aprofundamentos. Convido você a mergulhar comigo neste oceano que é a 
Teoria Política. 
Um ótimo estudo! 
 
 
UNIDADE I 
SURGIMENTO DO ESTADO MODERNO 
Professora Me. Itamires Lima Santos Alcantara 
 
 
Plano de Estudo: 
● Bases históricas e culturais; 
● Construção do Estado Moderno (Maquiavel); 
● O pensamento Político de Rousseau; 
● Liberalismo político (Locke). 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
● Conceituar e contextualizar o surgimento e desenvolvimento do Estado Moderno; 
● Compreender as diferentes teorizações sobre o surgimento do Estado Moderno a 
partir dos autores clássicos da Teoria Política; 
● Discutir as diferentes compreensões sobre o Estado Moderno e as suas 
influências para a consolidação do pensamento político contemporâneo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Querido(a) estudante, seja muito bem-vindo(a). É com imensa alegria que lhe 
recebo aqui na disciplina de Teoria Política. Nesta primeira unidade será abordado o 
surgimento do Estado Moderno, você verá que, embora seja uma entidade consolidada 
no contexto atual, que parece ter sempre existido, o Estado surgiu no percurso da história 
a partir da ação humana e estabeleceu-se complexamente ao longo do tempo. É, dessa 
forma, historicamente determinado e socialmente construído. 
Para explicar o seu surgimento, diversas formulações apareceram e possuem 
diferentes concepções sobre o Estado e suas características. Inclusive, especula-se que, 
diante de tanta diversidade de compreensões, é mesmo possível caracterizar o Estado a 
partir de pontos em comum. São essas questões que você verá no primeiro tópico desta 
unidade. 
Tendo em vista esse processo, será discutido, de forma introdutória, um pouco do 
pensamento e concepção dos autores clássicos que teorizaram sobre o Estado. O 
primeiro deles será Maquiavel, autor que, com certeza, você já ouviu falar em algum 
momento da sua vida, considerado o fundador da ciência política moderna, o qual, dentre 
muitas outras questões, situa a política como ação humana e não mais no plano religioso. 
O terceiro e quarto tópicos abordam a teoria do “jusnaturalismo”, o chamado 
“direito natural” e os autores contratualistas Hobbes, Rousseau e Locke e, como cada um 
a seu modo, com semelhanças e diferenças, vão formular a partir de concepções ideais, 
ou seja, no plano do pensamento, baseados no que estavam observando em seus 
momentos históricos, teorias explicativas sobre o surgimento do Estado e da sociedade 
civil e de que maneira marcaram as suas épocas e influenciam o pensamento político até 
os dias atuais. 
Espero que essa leitura possa contribuir com o seu processo de aprendizado. 
 
Tenha uma ótima reflexão! 
 
1 BASES HISTÓRICAS E CULTURAIS 
 
 
SHUTTER: 1933777250 
 
A literatura sobre o Estado de maneira geral - com bastante controvérsias- indica 
que aquilo que se conhece no contexto atual como Estado tem a sua gênese na 
sociedade ocidental, principalmente, a partir do século XV. A denominação propriamente 
de “Estado”, “significando situação permanente de convivência e ligada à sociedade 
política, aparece pela primeira vez em "O Príncipe" de MAQUIAVEL, escrito em 1513”. 
Nesse sentido, é, só mesmo a partir do século XVI que começará a se formar um corpus 
teórico que versará sobre o Estado em sua concepção moderna (DALLARI, 1998, p. 22). 
 No entanto, existem diversas teorias que versam sobre o surgimento do Estado 
Moderno. Dallari (1998), destaca, pelo menos, três perspectivas que podem ser tomadas 
como principais no que diz respeito à teorização sobre o Estado. A primeira perspectiva 
destacada pelo autor, é a concepção que defende a existência do Estado desde os 
tempos imemoriais e nas mais variadas culturas. Ou seja, nessa conceituação o Estado 
é uma entidade que sempre existiu ao longo da História. 
A segunda concepção, que indica o autor, refere-se à ideia de que o Estado 
formou-se dos mais variados aspectos, nas diversas sociedades e de que ele nem 
sempre existiu. Havia desse modo, uma sociedade anterior à formação do Estado. E a 
terceira perspectiva, é a que entende o Estado a partir de determinadas características 
que precisam estar muito bem definidas. Isto é, nesta última, falar em Estado não seria 
 
algo geral, que pode ser aplicado a toda e qualquer sociedade, mas um fenômeno 
histórico que surge num tempo e lugar determinado. 
 Essas considerações são importantes para que se compreenda que não existe 
uma concepção unitária e homogênea sobre o surgimento e desenvolvimento do Estado 
Moderno. A esse respeito, existem bastantes considerações sobre seu surgimento, 
desenvolvimento e caracterização. Por exemplo, existem os que vão defender a 
formação do Estado como um processo natural, a partir do alargamento da família ou 
pela violência etc. e, existem também os que advogam a formação do Estado a partir de 
um ato deliberadocom a existência de um contrato, os chamados “contratualistas”. Nos 
próximos tópicos serão abordados os principais pensadores dessa última concepção. 
 Como aponta Pereira (2009), dentro da diversidade de abordagens sobre a 
constituição do Estado, dentre os que defendem que existe uma possível definição deste, 
existem, de maneira geral, três elementos ideais principais que o compõe: 
● o primeiro diz respeito à legitimidade do Estado em exercer o poder 
coercitivo, que, em tese, foi passado pela própria sociedade; 
● o segundo elemento é a existência de um determinado território onde o 
poder do Estado possa ser exercido e onde também se dá a relação com 
outras sociedades e; 
● O terceiro elemento destacado pela autora é a existência de normativas que 
regulam todas as pessoas dentro desse território. 
Ainda de acordo com as elaborações de Pereira (2009), dentre aqueles que 
colocam que existe uma extrema dificuldade em se definir o Estado, geralmente, 
argumentam que: 
● existem muitas possibilidades de se entender determinadas concepções de 
Estado, que também não possuem uma definição pronta e acabada, tais 
como: Estado de Direito, Estado Liberal, Estado Social, entre muitos outros 
(não se preocupe, durante o desenvolvimento da disciplina essas noções 
serão abordadas); 
 
● o argumento de que o Estado é historicamente constituído e socialmente 
determinado, ou seja, existiram (e podem vir a existir) Estados de diferentes 
formas, como o Estado feudal, o Estado burguês, o Estado socialista etc.; 
● e, ainda, o elemento que aponta a concepção de Estado a partir da 
associação com os órgãos que o compõe, como os governos, a burocracia, 
a justiça, uma série de questões que, muitas vezes, são tomadas como o 
próprio Estado. 
Dentro de todas essas considerações, o que é importante se ter em mente é que: 
como foi abordado exaustivamente, existem muitos entendimentos sobre o Estado, 
então, não se tem uma definição única; muitas dessas formulações são concepções 
ideais, ou seja, embora o Estado exista concretamente na realidade, muitas das 
explicações sobre ele, partem do plano das ideias e não da realidade concreta e; de fato, 
existiram ao longo do desenvolvimento das sociedades - principalmente ocidentais-, 
várias “formas” de Estado até se obter uma certa homogeneização - não absoluta- da 
forma Estado na contemporaneidade. 
 Levando em consideração essa última formulação, podem existir Estados, por 
exemplo, democráticos ou totalitários, no mesmo tempo histórico ou num mesmo espaço 
territorial ou que existem muitos elementos de formas anteriores de Estado, convivendo 
com formas atuais, como elementos do Estado feudal que sobrevivem e, muitas vezes, 
são funcionais ao Estado burguês que se vive atualmente, o que torna o estudo do Estado 
bastante complexo. 
 É por isso que Pereira (2009), acentua que o estudo desse conceito é ao mesmo 
tempo histórico e relacional, é confluência de passado, presente e futuro, é dialético, sofre 
influências de diferentes sujeitos e interesses, é uma instituição, portanto, permeada por 
intensas contradições. Por essa razão, nem de longe ele é neutro, ou uma entidade que 
deva ser colocada acima do “bem” e do “mal”. Ao contrário, existem muitas correlações 
de forças em torno do Estado, justamente pela sua importância na sociedade moderna. 
 Sendo assim, uma importante mediação para se compreender o Estado é a noção 
de sociedade. Essa que também é um conceito extremamente complexo, com diversas 
teorizações a respeito, mas que, como nos aponta Pereira (2009), não pode ser 
entendida apenas como um conjunto de seres-humanos num determinado local, mas 
 
como um complexo de relações construídas historicamente. Nesta unidade, ter-se-á a 
oportunidade de se discutir um pouco sobre a sociedade em sua relação com o Estado. 
 Dentro de todas essas considerações, será discutido ao longo dos próximos 
tópicos um pouco do que os chamados autores “clássicos” teorizaram sobre esse 
fenômeno que é tão controverso e ao mesmo tempo tão presente na vida dos seres 
humanos chamado Estado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 CONSTRUÇÃO DO ESTADO MODERNO (MAQUIAVEL) 
 
 
SHUTTER: 368915041 
 
 Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, mais conhecido no Brasil como Nicolau 
Maquiavel, nasceu em 3 de maio de 1469 em Florença, numa Itália em grande 
movimentação pelo surgimento do Renascimento e morreu em 21 de junho de 1527. Foi 
um dos principais filósofos do final do século XV e XVI e é considerado, por muitos, como 
o pensador que inaugura a ciência política, sendo autor de um dos grandes clássicos 
dessa disciplina, a obra, que com certeza, você já ouviu falar em algum momento da sua 
vida, “O Príncipe”, escrita em 1513 e lançada após a sua morte em 1532. 
 Maquiavel é considerado o autor que lança as bases do Estado Moderno e 
estabelece a sua teoria, observando a realidade que o cercava naquele momento 
histórico. Ele também exerceu cargos no governo de Florença e, além disso, efetuou 
atividades diplomáticas com a França de seu período, o que o ajudou a ter elementos 
para as suas formulações. 
 O impacto das formulações de Maquiavel é tão forte, que você provavelmente já 
usou, ou já ouviu alguém usar a expressão “maquiavélico”. De acordo com Chauí (2010 
apud CHICARINO, 2014, p. 4). 
 
 
Falamos de um “poder maquiavélico” para nos referir a um poder que age 
secretamente nos bastidores, mantendo suas intenções e finalidades 
desconhecidas para os cidadãos; que afirma que os fins justificam os meios e 
usa meios imorais, violentos e perversos para conseguir o que quer; que dá 
regras do jogo, mas fica às escondidas, esperando que os jogadores causem a 
si mesmos sua própria ruína e destruição. 
 
 O nome de Maquiavel ou o adjetivo que ele origina, está geralmente associado a 
coisas “ruins” e “imorais” porque, segundo Chicarino (2014), o pensamento político 
anterior a Maquiavel estava fundamentalmente associado aos valores cristãos. Ou seja, 
existiria algo maior e externo à política que ditaria as suas regras, como as ideias de “bem 
comum” e “justiça”, que justificavam a monarquia e o direito hereditário. 
 Maquiavel traz justamente novas ideias sobre essas concepções. O contexto 
social em que ele vive é de surgimento do capitalismo na Europa ocidental em sua 
primeira fase comercial ou mercantil, que vigorou, mais ou menos, entre os séculos XV e 
XVII e é caracterizado pelo acúmulo de capitais por meio das trocas comerciais. 
 É, portanto, um contexto de surgimento de um novo sistema econômico - 
capitalista - com profundas mudanças de ordem política e social. Não se pode esquecer 
que o sistema feudal - ordem social anterior ao capitalismo na Europa ocidental - é 
marcado pela relação senhor/servo e é um sistema estamentário, no qual a desigualdade 
é marcada pela origem e nascimento e baseia-se na ética religiosa. 
 A partir de um longo processo histórico - aqui extremamente resumido- com o 
surgimento do capitalismo e da burguesia (nesse momento embrionária), começa-se a 
ventilar novas ideias apoiadas nas noções de “livre-arbítrio”, “igualdade”, “trabalho livre”, 
“lucro”, “acumulação” etc., é a ética burguesa que começa a instalar-se nesse momento 
e que, posterior e, principalmente, a partir das transformações ocorridas no mundo 
ocidental e, a partir do século XVIII com a Revolução Francesa (1789) e a Revolução 
Industrial (1780-1830), vai espraiar-se para todo o mundo como pode ser percebido na 
atualidade (PRONI, 1997). 
 
SAIBA MAIS 
 
 
A Revolução Francesa, ocorrida em 1789, foi e continua sendo um importante 
evento sucedido no final do século XVIII na Europa ocidental que moldou a sociedade 
contemporânea e configura-se em um dos marcos para a ascensão da burguesia 
francesa e queda do Antigo Regime. Nesse primeiro momento, a burguesia ergue-se 
como uma classe revolucionária que questiona a monarquia e a nobreza, no entanto,posteriormente, trai a classe trabalhadora e torna-se ela própria a classe dominante 
exploradora. 
 
Fonte: HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. São 
Paulo: Paz e Terra. 5a ed., 1986. 
 
#SAIBA MAIS# 
 
SAIBA MAIS 
 
A Revolução Industrial é um conjunto de transformações que se inicia no século 
XVIII na Inglaterra que marca o surgimento da indústria e da maquinaria. É importante 
ressaltar que as transformações ocorridas a partir do século XVIII não se dão apenas na 
esfera da produção, mas começa a instaurar-se um novo conjunto de relações sociais 
capitalistas que vão reger o mundo moderno a partir dessas transformações. 
 
Fonte: HOBSBAWM, Eric. A Revolução Industrial. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. São 
Paulo: Paz e Terra. 5a ed., 1986. 
 
#SAIBA MAIS# 
 
Nesse processo de surgimento da burguesia enquanto classe social que já possui 
poder econômico, ela buscará também obter poder político, ainda exercido pela nobreza 
feudal, ao mesmo tempo em que há um processo na Europa de “centralização do poder 
que daria origem aos Estados absolutistas, como Portugal, Espanha, França e 
Inglaterra”. (DIMENSTEIN; STRECKER; GIANSANTI, 2008 apud CHICARINO, 2014, p. 
7). 
 
 Além de todo esse contexto, o momento histórico em que viveu Maquiavel, é 
marcado pela fragmentação da Itália, que era constituída por diversos pequenos Estados 
que disputavam entre si, o que gerava uma série de conflitos políticos em sua época. 
Mesmo com esses intensos conflitos internos, como nos conta Chicarino (2014), a Itália 
vivia um momento de crescimento econômico, impulsionado, principalmente, por 
Lourenço de Médici, conhecido como “Lourenço, o Magnifico”. Após a sua morte, 
algumas regiões da Itália são marcadas por invasões constantes e tentativas de 
dominação. Ainda assim, a fragmentação de seus Estados permanece. 
Sobre Maquiavel, Chauí (2000, p. 511), acentua: 
 
Foi diplomata e conselheiro dos governantes de Florença, via as lutas européias 
de centralização monárquica (França, Inglaterra, Espanha, Portugal), viu a 
ascensão da burguesia comercial das grandes cidades e sobretudo viu a 
fragmentação da Itália, dividida em reinos, ducados, repúblicas e Igreja. A 
compreensão dessas experiências históricas e a interpretação do sentido delas 
o conduziram à ideia de que uma nova concepção da sociedade e da política 
tornara-se necessária, sobretudo para a Itália e para Florença. 
 
É nessa conjuntura de intensas transformações sociais e movimentações políticas, 
portanto, que nasce e vive Maquiavel. Ele vai criticar a associação que vigorava até 
então, fundamentada na religião, entre ética e política, que dependeria de “qualidades 
morais” dos “homens”. Maquiavel opera uma ruptura no pensamento político ao formular 
que a própria política deve instituir as suas próprias regras, sem uma força maior ou 
exterior a ela. Chauí (2000), destaca quatro pontos principais dessa ruptura provocada 
por Maquiavel: 
● O primeiro ponto destacado pela autora é que “Maquiavel não admite um 
fundamento anterior e exterior à política (Deus, Natureza ou razão)”. Nesse 
sentido, o que existe é “o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o 
desejo do povo de não ser oprimido nem comandado”. Assim, o que marca 
a Cidade é o conflito e as lutas sociais, que só o poder político, nascido 
dessas próprias lutas, pode dirimir. (CHAUÍ, 2000, p. 512). 
● O segundo ponto que a autora salienta é que “Maquiavel não aceita a ideia 
da boa comunidade política constituída para o bem comum e a justiça”. Isso 
 
quer dizer que, para Maquiavel a sociedade vive em constante conflito, 
portanto, não pode estar voltada para o “bem comum”, assim “a finalidade 
política não é, como diziam os pensadores gregos, romanos e cristãos, a 
justiça e o bem comum, mas, como sempre souberam os políticos, a 
tomada e manutenção do poder”. (CHAUÍ, 2000, p. 512). 
● A autora ressalta ainda que “Maquiavel recusa a figura do bom governo 
encarnada no príncipe virtuoso, portador das virtudes cristãs, das virtudes 
morais e das virtudes principescas”. Para ele, “o príncipe precisa ter virtu”, 
mas essa “virtu” é eminentemente política, “referindo-se às qualidades do 
dirigente para tomar e manter o poder, mesmo que para isso deva usar a 
violência, a mentira, a astúcia e a força”. (CHAUÍ, 2000, p. 512 e 513). 
● Por último, Chauí, acentua que “Maquiavel não aceita a divisão clássica dos 
três regimes políticos (monarquia, aristocracia, democracia)”, para ele 
“qualquer regime político - tenha a forma que tiver e tenha a origem que 
tiver - poderá ser legítimo ou ilegítimo”, o que aponta a sua legitimidade ou 
ilegitimidade, é a “liberdade”. É legítimo para Maquiavel, qualquer regime, 
seja da forma que for, “no qual o poder não está a serviço dos desejos e 
interesses de um particular ou de um grupo de particulares”. (CHAUÍ, 2000, 
p. 513). 
 
A partir dos aspectos discutidos até aqui, neste tópico, em que fala sobre a 
importância de Maquiavel para o pensamento político moderno, pode-se depreender que 
ele rompe com a noção tradicional de política, fundamentada, sobretudo, na noção de 
“hereditariedade, personalidade e virtude” (CHAUÍ, 2000, p. 514) e foi duramente 
perseguido em sua época, especialmente, pela Igreja. No entanto, todo o pensamento 
político precisou ser reordenado a partir de suas ideias. 
 Maquiavel inverte a concepção de virtude do príncipe ao postular que este deve 
ser flexível e se moldar diante às circunstâncias e não que elas seriam a causa constante 
de seus infortúnios. Esse processo está afastado da noção de “moralidade”, obedece a 
noções próprias da política que podem ser consideradas “imorais”, mas que, na 
 
concepção do pensador, se tiver um efeito prático favorável, são virtuosas do ponto de 
vista político. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 O PENSAMENTO POLÍTICO DE ROUSSEAU 
 
SHUTTER: 1371473165 SHUTTER: 1352053430 
 
 
 Como foi mencionado no tópico anterior, a Europa ocidental passou por diversas 
transformações a partir do século XV. Um emaranhado de relações sociais começa a se 
modificar em função do processo de surgimento de uma nova ordem econômica, que 
provocará, entre outros fatores, a derrocada do sistema feudal baseado, principalmente, 
no cultivo da terra e cada vez mais o crescimento e a expansão do comércio, através, 
inclusive, da colonização de territórios exteriores à Europa (dentre eles, o Brasil). 
 Essa atmosfera gerará um período de intensa movimentação, com inúmeras 
revoltas no interior da Europa ocidental em face do processo de urbanização e 
degradação das condições de vida dos trabalhadores - que nesse momento já começam 
a ser trabalhadores livres e não mais em uma condição de servidão nas Cidades. Surge 
claramente, uma disputa entre grupos sociais antagônicos: os trabalhadores e os 
burgueses. 
 Nesse contexto, Chauí (2000, p. 516), coloca que: 
 
Os teóricos precisavam, portanto, explicar o que eram os indivíduos e por que 
lutavam mortalmente uns contra os outros, além de precisarem oferecer teorias 
capazes de solucionar os conflitos e as guerras sociais. Em outras palavras, 
foram forçados a indagar qual é a origem da sociedade e da política. Por que 
indivíduos isolados formam uma sociedade? Por que indivíduos independentes 
aceitam submeter-se ao poder político e às leis? 
 
 São dessas indagações que surgem as noções, que também, provavelmente, 
você já deve ter ouvido falar alguma vez na sua vida, de “Estado de Natureza” e “Estado 
civil”, que tentam explicar a sociedade antes do surgimento do Estado. Dentro dessas 
explicações, as que mais se destacaram foram as concepções de Hobbes (1588-1679), 
Locke (1632-1704) - que trataremos no próximo tópico - e Rousseau (1712-1778). 
 O primeiro autor, Thomas Hobbes, foi um filósofo, matemático e teórico político, 
nascido na Inglaterra em finais do século XVI, nasce e desenvolveseu pensamento nesse 
contexto que foi citado anteriormente, de mudanças sociais, expansão marítima, 
colonização etc., existe um intenso processo de expansão do Império Inglês através de 
sua Marinha e também de intensos conflitos sociais. 
 Sua principal obra, “O Leviatã”, amplamente conhecida, faz referência, aqui de 
maneira superficial, a um monstro marítimo que protege as criaturas mais indefesas do 
 
mar. Esse “Leviatã”, na concepção de Hobbes, é justamente o Estado e, em meio a esse 
conflito social vivido na Inglaterra de sua época, o pensador se coloca na defesa da 
monarquia inglesa. 
 Hobbes parte do princípio do “jusnaturalismo”, sob o qual, qualquer ser humano é 
resguardado por uma lei natural que o permite fazer tudo o que quiser, é o chamado 
“Estado de natureza”. Essa situação de “liberdade sem limites”, na concepção do filósofo, 
faz com que as pessoas vivam em conflitos constantes, ou seja, é um contexto de 
violência generalizada, em que o homem é essencialmente mau e vive em uma “guerra 
de todos contra todos”, no qual, fica famosa a sua frase de que “o homem é o lobo do 
próprio homem”. 
 Para sair dessa situação de caos, os seres humanos assinam um contrato que 
poria fim a esse estado de violência generalizada e instituem um conjunto de leis e regras 
regidas pelo Estado, que todos deveriam seguir. Esse contrato, marcaria a passagem do 
“Estado de natureza” para a “Sociedade Civil” e institui o Estado, que deveria ser um 
Estado soberano, forte e centralizado para garantir a ordem social, com um grande poder 
coercitivo que deve governar a partir da imposição do medo. 
 O outro autor mencionado que trataremos ainda neste tópico, é Jean-Jacques 
Rousseau. Nascido em 1712 em Genebra, na Suíça e falecido em 1778, em 
Ermenonville, França, Rousseau, é considerado também um filósofo chamado de 
“contratualista”, e vai exercer grande influência no pensamento político moderno, até os 
dias de hoje, sendo o precursor “do pensamento democrático moderno e o grande 
enunciador, no plano das ideias, da Revolução Francesa de 1789” (CHICARINO, 2014, 
p. 33). Suas principais obras são o “Discurso sobre a origem e os fundamentos da 
desigualdade entre os homens”, de 1755 e “O contrato social”, publicado em 1762. 
 Assim como Hobbes, Rousseau parte de um momento idealizado dos seres 
humanos, no qual estes viviam em Estado de Natureza. No entanto, diferentemente de 
Hobbes, nesse Estado de natureza de Rousseau, “os indivíduos vivem isolados pelas 
florestas, sobrevivendo com o que a Natureza lhes dá, desconhecendo lutas e 
comunicando-se pelo gesto, o grito e o canto, numa língua generosa e benevolente.” 
(CHAUÍ, 2000, p. 517). É um estado, portanto, de felicidade e não de violência 
generalizada. 
 
 No entanto, a existência, nesse Estado de natureza, de talentos diferenciados 
entre as pessoas, a qual, Rousseau denomina de “desigualdade natural” passa a 
aumentar cada vez mais entre os grupos humanos, o que leva “a dominação, a servidão, 
o roubo, a guerra, a morte e a violência” (CHICARINO, 2014, p. 34) de uns contra os 
outros. Assim: 
 
Esse estado de felicidade original, no qual os humanos existem sob a forma do 
bom selvagem inocente, termina quando alguém cerca um terreno e diz: “É meu”. 
A divisão entre o meu e o teu, isto é, a propriedade privada, dá origem ao Estado 
de Sociedade, que corresponde, agora, ao Estado de Natureza hobbesiano da 
guerra de todos contra todos. (CHAUÍ, 2000, p. 517). 
 
Deparados com essa situação, os seres humanos, de acordo com Rousseau, 
fazem um “pacto social” ou um “contrato” para assegurar a sua “liberdade civil”. No 
entanto, para o estabelecimento desse contrato, todas as partes devem estar em 
condição de igualdade, cedendo os seus direitos a “um corpo soberano”, que é o próprio 
povo. (CHICARINO, 2014) 
 Destarte, em Rousseau, é o povo que é soberano e não o governante, o contrato 
social, então, “forma o povo e, por meio dele, os direitos naturais do povo se transformam 
em direitos civis”. Diferentemente de Hobbes, o Estado não é soberano, “mas o 
representante da soberania popular” (CHICARINO, 2014, p. 36). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 LIBERALISMO POLÍTICO (LOCKE) 
 
SHUTTER: 1626614812 
 
 John Locke nasceu em 29 de agosto de 1632, em Wrington, Inglaterra e morreu 
em outubro de 1704, em Harbor, também na Inglaterra. De acordo com Quadros (2016), 
Locke, assim como Rousseau, faz parte de um movimento que buscou opor-se ao poder 
absoluto do governante, como defendiam Maquiavel e Hobbes, chamado de 
“constitucionalismo”. Para os constitucionalistas, a existência de poder absoluto por parte 
dos governantes pode fazer com que estes abusem desse tipo de poder, para impedir 
esse processo, é necessário, portanto, limitá-lo. 
 
 Sua obra de maior envergadura é “Segundo tratado sobre o governo”, de 1690, na 
qual “o autor faz a defesa política de um Estado nos moldes liberais, em que o poder 
deste é limitado de acordo com direitos naturais invioláveis dos indivíduos” (QUADROS, 
2016, p. 94). Com essas ideias, Locke influenciou as revoluções liberais ocorridas no 
século XVII e XVIII, como a independência estadunidense de 1776, a Revolução 
Francesa de 1789 e a Revolução Gloriosa inglesa de 1688. 
 Locke, assim como Hobbes e Rousseau, também parte da explicação sobre o 
Estado de natureza e a existência de um contrato social que funda o Estado. Para ele, 
“no estado de natureza, o homem desfruta da liberdade, da igualdade, das posses e da 
razão para sua autopreservação”, ou seja, de uma existência harmoniosa. 
 Um aspecto importante nesse pensamento de Locke é que ele introduz a ideia de 
“posses” ou “propriedade privada” as quais, para ele, já existem de acordo com a lei da 
natureza, diferentemente de Hobbes e Rousseau, para os quais, a propriedade privada 
só é introduzida a partir do estabelecimento da sociedade civil, é, nesse sentido, um 
direito civil e não natural. Mas, para Locke, apesar da propriedade ser um direito natural, 
ela pode ser violada “em virtude da falta de razão de certos homens que ignoram a lei 
natural” e também em função “da distribuição desigual das posses no interior da 
sociedade, o que introduz a penúria e a pobreza entre os homens” (QUADROS, 2016, p. 
97). 
 Pode-se depreender, então, que para Locke, apesar de no Estado de natureza, os 
seres humanos viverem em um eventual estado de paz e harmonia, existem certas 
situações que violam as leis da natureza e a propriedade privada e que podem levar a 
um estado de guerra. É tendo em vista essa prerrogativa que se dá o estabelecimento 
de um contrato que funda a sociedade política, ou seja, o Estado. Este tem a função de 
regular o cumprimento da lei da natureza e a não violação da propriedade privada. 
 O Estado na concepção de Locke, não possui poderes absolutos, como vimos 
anteriormente em Maquiavel e Hobbes, mas é submetido ao Legislativo, ou seja, a um 
conjunto de leis e regras que limitam e fiscalizam a sua atuação e que só pode ser 
fundado a partir de um contrato estabelecido de forma “livre” pelos seres humanos. 
 Locke, com a sua formulação da propriedade privada como um direito natural, 
oferece à burguesia em ascensão à fundamentação teórica necessária para justificar a 
 
sua legitimidade, que, diferente da nobreza feudal que se baseia no sangue e na 
hereditariedade, respalda-se no trabalho e na propriedade privada (CHAUÍ, 2000). Nessa 
linha de raciocínio, o principal objetivo do Estado é justamente garantir a propriedade 
privada obtida por meio do trabalho. 
 Com isso: 
 
O burguês não se reconhece apenas como superior social e moralmente aos 
nobres, mas também como superior aos pobres. De fato, se Deus fez todos os 
homens iguais, se a todos deu a missão de trabalhar e a todos concedeu o direito 
à propriedade privada, então, os pobres, isto é, os trabalhadores que não 
conseguem tornar-se proprietáriosprivados, são culpados por sua condição 
inferior. São pobres, não são proprietários e são obrigados a trabalhar para outros 
seja porque são perdulários, gastando o salário em vez de acumulá-lo para 
adquirir propriedades, ou são preguiçosos e não trabalham o suficiente para 
conseguir uma propriedade. (CHAUÍ, 2000, p. 520) 
 
 Não à toa, Locke funda as bases do chamado “liberalismo político” ou da “teoria 
liberal”, que serão levados a cabo, como foi citado no início do tópico, pela independência 
estadunidense e pela Revolução Francesa e, mais tardiamente, por pensadores como 
Max Weber. De acordo Chauí (2000), nessa perspectiva, o Estado teria três funções 
principais, sendo elas: 
 
1. por meio das leis e do uso legal da violência (exército e polícia), garantir o 
direito natural de propriedade, sem interferir na vida econômica, pois, não tendo 
instituído a propriedade, o Estado não tem poder para nela interferir. Donde a 
idéia [sic] de liberalismo, isto é, o Estado deve respeitar a liberdade econômica 
dos proprietários privados, deixando que façam as regras e as normas das 
atividades econômicas; (CHAUÍ, 2000, p. 520). 
 
 Por esse ângulo, então, o Estado não deve interferir na economia, apenas deve 
garantir o “direito natural” da propriedade privada. 
 
2. visto que os proprietários privados são capazes de estabelecer as regras e as 
normas da vida econômica ou do mercado, entre o Estado e o indivíduo intercala-
se uma esfera social, a sociedade civil, sobre a qual o Estado não tem poder 
instituinte, mas apenas a função de garantidor e de árbitro dos conflitos nela 
 
existentes. O Estado tem a função de arbitrar, por meio das leis e da força, os 
conflitos da sociedade civil; (CHAUÍ, 2000, p. 520). 
 
 Como a economia é regulada pelos proprietários privados, a esfera da sociedade 
civil, a esfera pública, deve ser regulada pelo Estado apenas para garantir a “liberdade” 
individual e dirimir os conflitos sociais que possam surgir. 
 
3. o Estado tem o direito de legislar, permitir e proibir tudo quanto pertença à 
esfera da vida pública, mas não tem o direito de intervir sobre a consciência dos 
governados. O Estado deve garantir a liberdade de consciência, isto é, a 
liberdade de pensamento de todos os governados e só poderá exercer censura 
nos casos em que se emitam opiniões sediciosas que ponham em risco o próprio 
Estado. (CHAUÍ, 2000, p. 520). 
 
 Por fim, nessa perspectiva, o Estado também não pode intervir na “liberdade de 
expressão” da sociedade, apenas, estritamente, nos casos em que as formulações e 
pensamentos possam ameaçar a sua existência. 
 O que é interessante observar é que essa formulação do liberalismo político 
fundado por Locke, estabelecerá as bases da sociedade moderna em que vivemos e 
voltará com grande força - e com muitas deformações-, no atual contexto sob a forma do 
neoliberalismo, sobre o qual trataremos nas próximas unidades, em que se apregoa de 
forma dissimulada uma atuação reduzida do Estado e uma ampla atuação do mercado 
na regulação da vida social. 
 
REFLITA 
 
De acordo com o Artigo 5º da Constituição Federal Brasileira de 1988, “Todos são 
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e 
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade”. Esses direitos a que se referem a Constituição 
são os direitos civis, fundados juntamente com o estabelecimento da sociedade moderna 
e os ideais liberais, como você viu em Locke. No entanto, ainda hoje, o que se observa é 
que, embora o discurso liberal defenda os direitos civis, eles não são implementados na 
 
prática, muitas vezes, não passando da dimensão jurídico-formal. Reflita sobre o porquê 
desse processo. 
 
Fonte: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da 
República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. 
Acesso em: 20 ago. 2021. 
 
#REFLITA# 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Que bom que você chegou ao final desta unidade. Você pode perceber que o 
surgimento do Estado moderno não é uma questão homogênea no campo da teoria 
política. Isso porque, de fato, existem muitas formulações a respeito. No primeiro tópico, 
pode-se compreender alguns dos possíveis rumos desse debate. 
 Dentro dessas formulações sobre o Estado, nesta unidade, foram destacadas 
quatro concepções que tiveram (e têm), grande importância para se pensar sobre essa 
entidade ainda hoje. O primeiro autor trabalhado foi Maquiavel, este, opera uma 
importante ruptura no pensamento ocidental sobre política ao desvencilhar a sua 
compreensão do plano moral religioso. Maquiavel, com seu “O Príncipe”, escreveu uma 
espécie de manual com passos que o governante deveria seguir. Para ele, o governante 
não poderia guiar-se por questões morais, mas lançar mão do que fosse necessário para 
garantir o poder e a governabilidade. 
 O outro conjunto de autores que foi trabalhado foram os autores contratualistas. 
O primeiro autor abordado, Hobbes, discorre que a humanidade vivia em um processo 
de guerra de todos contra todos e que para findar esse estado de violência instituem, a 
partir de um contrato social, a sociedade política, ou seja, o Estado. Já Rousseau, 
também um autor contratualista, acentua que na verdade, no Estado de natureza, “os 
homens” viviam em harmonia e que é a instauração da sociedade civil que introduz o 
caos. 
 O último autor abordado é John Locke, filósofo inglês que estabelece as bases 
para o liberalismo político que serve de fundamentação para a ascensão da burguesia, à 
época, uma classe com poder econômico, mas ainda sem poder político. Locke coloca a 
propriedade enquanto um direito natural e caberia ao Estado, principalmente, garanti-la. 
 Como pode-se observar, é extremamente importante compreender como se dá 
o processo histórico de gestação do Estado e as formulações sobre ele, pois, só assim é 
possível compreendê-lo criticamente na atual conjuntura e traçar alternativas futuras. 
Agradeço por ter me acompanhado até aqui. Até a próxima! 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
BOBBIO, N. Estado, governo, sociedade. Para uma teoria geral da política. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1987. 
 
ENGELS, F. A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 1979. 
 
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 
 
HOBSBAWM, E. A Era das Revoluções. São Paulo: Paz e Terra. 5a ed., 1986. 
 
LOCKE, J. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 
 
ROUSSEAU, J.J. Do Contrato Social. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
 
Título: O príncipe 
Autor: Nicolau Maquiavel. 
Editora: Nova Fronteira. 
Ano: 2019. 
Sinopse: Nicolau Maquiavel é considerado o fundador da ciência política moderna, cujos 
princípios básicos emergem de sua obra mais famosa, O príncipe. Escrito em 1513 na 
atmosfera agitada do Renascimento e publicado somente anos depois da morte do autor, 
em 1532, o livro tenta definir as formas de governo, as virtudes do soberano e uma nova 
ética do fazer político. Com um estilo vigoroso e direto, este verdadeiro manual sobre a 
arte de conquistar e manter o poder tornou-se um dos mais influentes tratados do 
pensamento ocidental. Esta edição conta com tradução e prefácio de Livio Xavier e traz 
também uma apresentação inédita do filósofo Júlio Pompeu. 
 
FILME/VÍDEO 
 
 
 
Título: A Guerra do Fogo 
Ano: 1982. 
Sinopse: Na pré-história, a pouco desenvolvida a tribo Ulam é composta por membros 
que se comunicam por gestos e grunhidos e acreditam que o fogo é sobrenatural. Quando 
a fonte única de calor se apaga após um ataque, três guerreiros saem numa jornada em 
busca de outra chama e acabam conhecendo os Ivaka, grupo com hábitos avançados ecomunicação complexa, além de domínio da produção do mítico fogo. 
Link do vídeo: Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=ibK3UI2YTDE. Acesso 
em: 07 dez. 2021. 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
CHAUI, M. Convite à filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/533894/mod_resource/content/1/ENP_155/Refe
rencias/Convitea-Filosofia.pdf. Acesso em: 15 ago. 2021. 
 
CHICARINO, T. S. (Org.). Teorias Políticas, Estado e Sociedade. São Paulo: Pearson 
Prentice Hall, 2014. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br. Acesso em: 15 
ago. 2021. 
 
DALLARI, D. de A. Elementos de Teoria Geral do Estado. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 
1998. Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=2799722&forceview=1. Acesso 
em: 15 ago. 2021. 
 
PEREIRA, P. A. P. Estado, sociedade e esfera pública. In: CFESS-Conselho Federal de 
Serviço Social. ABEPSS-Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 
(Orgs.). Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais, 2009. Disponível 
em:http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/8jWy8e5p39eA46R2v6H9.pdf. Acesso em: 
13 ago. 2019. 
 
PRONI, M. W. História do capitalismo: uma visão panorâmica. In Cadernos do CESIT. 
Campinas, n. 25, out. 1997. 
 
QUADROS, D. G. de. O Estado na teoria política clássica: Platão, Aristóteles, 
Maquiavel e os contratualistas. Curitiba: InterSaberes, 2016. Disponível em: 
https://plataforma.bvirtual.com.br. Acesso em: 16 ago. 2021. 
 
 
UNIDADE II 
TEORIA POLÍTICA CLÁSSICA 
Professora Me. Itamires Lima Santos Alcantara 
 
 
Plano de Estudo: 
• “Homem Político”; 
• Contrato Social; 
• Teoria Geral do Direito. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
• Compreender o ser humano como um ser político; 
• Identificar o surgimento da política; 
• Apontar o modelo do “contrato social” como uma das formas de explicação do 
surgimento do Estado na Teoria Política; 
• Compreender a Teoria Geral do Direito e a sua importância para a Teoria Política. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Na primeira unidade desta apostila, você pode aprender um pouco sobre o 
processo de surgimento do Estado moderno na Europa ocidental e algumas das 
principais teorizações a respeito dessa entidade que regula a vida dos seres humanos 
no atual contexto e que é de suma importância para o trabalho da(o) assistente social. 
Nesta segunda unidade, será abordado alguns dos principais temas referentes à 
chamada “Teoria Política Clássica”. 
 Tendo em vista essas considerações é que, no primeiro tópico será abordado a 
noção de “homem político”, baseada principalmente nas elaborações de Aristóteles na 
Grécia Antiga, para quem, o ser humano é um “animal” essencialmente político por sua 
própria natureza. Nesse sentido, está sempre propenso à vida em sociedade e realiza-
se nela. 
 No segundo momento será abordada a perspectiva do “contrato social” para o 
surgimento do Estado e da sociedade, a partir de um pacto surgido do consenso entre 
os indivíduos que decidem, por sua própria vontade, sair do estado de natureza - seja 
ele um momento de paz ou de guerra - e abdicarem do seu direito natural submetendo-
se a um poder maior que os regule e garanta a convivência social - para alguns, que 
garanta também a propriedade privada. 
 Tendo em vista esses aspectos da vida em sociedade, ou seja, o estado civil e 
não mais de natureza, é que surge o Direito no ocidente, como um fenômeno histórico e 
social que regula a vida em sociedade. A Teoria Geral do Direito, assim, o terceiro tópico 
desta apostila, versa sobre os diversos aspectos fundamentais que constituem o direito 
em uma perspectiva ampla e é de suma importância para a compreensão da organização 
da sociedade contemporânea. 
 Espero que esta leitura contribua para a ampliação de seus conhecimentos. 
Vamos à leitura! 
 
 
1 “HOMEM” POLÍTICO 
 
 
Shutter: 1075062629 
 Para dar início à discussão deste primeiro tópico que versa sobre a compreensão 
do ser humano enquanto um ser essencialmente político, é importante compreender que 
os seres humanos também são seres fundamentalmente sociais e sociáveis, ou seja, 
para além das necessidades básicas fisiológicas e biológicas - como comer, dormir etc. 
- Ele necessita relacionar -se com as outras pessoas e com o mundo a sua volta. 
 É justamente essa necessidade de relações que leva os seres humanos a fazer 
política. A partir do momento em que os indivíduos reúnem-se em grupos, desenvolvem 
formas coletivas de sobrevivência, formam cidades etc., é preciso estabelecer também 
formas de negociação para essa convivência, é nesse processo, então, que se forma a 
política. É tendo em vista essa realidade que Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), filósofo 
fundador da "lógica", vai afirmar que o “homem” é um “animal político”. 
 De acordo com Borges (2008): 
 
 
A palavra política é de origem grega: tá polítika, vinda de pólis. Segundo Chauí 
(1994), pólis significa cidade, entendida como comunidade organizada, formada 
pelos cidadãos (politikos), isto é, pelos homens nascidos no solo da cidade, livres 
e iguais, portadores de dois direitos inquestionáveis, a isonomia (igualdade 
perante a lei) e a isegoria (o direito de expor e discutir em público opiniões sobre 
ações que a Cidade deve ou não realizar). (BORGES, 2008, p. 65,grifos do 
autor). 
 
 A sociedade grega antiga é caracterizada pela pólis, organização das cidades-
estados gregas, onde já se tinha um início de organização “democrática” de algumas 
dessas cidades-estados. Segundo Chauí (2000), os gregos e os romanos inventaram a 
política, pois: 
 
[...] instituíram práticas pelas quais as decisões eram tomadas a partir de 
discussões e debates públicos e eram adotadas ou revogadas por voto em 
assembléias públicas; porque estabeleceram instituições públicas (tribunais, 
assembléias, separação entre autoridade do chefe da família e autoridade 
pública, entre autoridade político militar e autoridade religiosa) e sobretudo 
porque criaram a idéia[sic] da lei e da justiça como expressões da vontade 
coletiva pública e não como imposição da vontade de um só ou de um grupo, em 
nome de divindades.(CHAUÍ, 2000, p. 31) 
 
Nascido na Grécia no século IV a.C., Aristóteles vivencia essa dinâmica política 
da pólis grega. O pensador entendia que a política está tão intimamente relacionada à 
natureza humana que é um elemento diferenciador dos seres humanos em relação aos 
outros animais, pois só os primeiros possuem a linguagem, a capacidade da 
comunicação. 
No entanto, apesar de, para a maioria dos autores, na Grécia e Roma antigas ter 
sido criada a política, não se pode entendê-la como nos tempos atuais, ainda que, você 
possa perceber que muitas das coisas formuladas naquela época mantêm-se ou sofrem 
influência direta. Não era todo mundo, por exemplo, que poderia participar da pólis, 
Aristóteles entendia que cidadão era aquele que participava ativamente da execução das 
leis. Ou seja, no regime democrático grego, o poder não pertencia ao monarca, como se 
viu em alguns pensadores apresentados no tópico anterior, mas, sim ao “povo”. 
 
No entanto, é importante ressaltar que, o conceito de cidadania grega era 
extremamente restrito, não eram todas as pessoas que eram consideradas cidadãs ou o 
“povo”, como hoje se entende na contemporaneidade - ainda que, na maioria dos casos, 
seja apenas no discurso formal-, mas, sim uma parcela reduzida da população, que 
deveriam ser: 
● homens - as mulheres não eram tidas como cidadãs e não poderiam 
participar politicamente; 
● a partir de uma certa idade pré-definida; 
● gregos - pessoas de outras nacionalidades - estrangeiros- também não 
tinham direito à participação e; 
● livres - ou seja, era uma sociedade escravocrata na qual as pessoas 
escravizadas não eram cidadãs. 
 Assim, todos aqueles que não atendessem a essas características não eram tidos 
como cidadãos. Ainda conforme Chauí(2000), a desigualdade de classe social também 
não pode ser ignorada quando se trata da sociedade grega e romana. 
 
A cidadania era exclusiva dos homens adultos livres nascidos no território da 
Cidade. Além disso, a diferença de classe social nunca era apagada, mesmo que 
os pobres tivessem direitos políticos. Assim, para muitos cargos, o pré-requisito 
da riqueza vigorava e havia mesmo atividades portadoras de prestígio que 
somente os ricos podiam realizar. Era o caso, por exemplo, da liturgia grega e 
do evergetismo romano, isto é, de grandes doações em dinheiro à cidade para 
festas, construção de templos e teatros, patrocínio de jogos esportivos, de 
trabalhos artísticos, etc. (CHAUÍ, 2000, p. 486) 
 
Como foi dito anteriormente, o cidadão, na democracia grega, é aquele que 
participa da criação e execução das leis. Tendo em vista esse processo, Aristóteles 
propõe, então, uma distinção entre aqueles que eram cidadãos e aqueles que seriam 
apenas habitantes, para ele, este último é aquele que habita a cidade, mas que não pode 
participar ativamente da política, atividade reservada apenas aos cidadãos, que têm o 
direito de participar do poder executivo, legislativo e judiciário. 
 
 
REFLITA 
 
Você pode perceber nas considerações feitas acima que nem todas as pessoas 
eram consideradas cidadãs na Grécia Antiga. A noção de cidadania grega, apesar de 
ser reconhecida como o berço da democracia ocidental, é extremamente restritiva. Os 
direitos políticos - como votar e ser votado-só foram conquistados nas sociedades 
ocidentais para todas as pessoas a partir das lutas históricas dos movimentos sociais e, 
ainda assim, não se tem um processo que atenda, ainda hoje, a todas as pessoas de 
maneira igualitária. O que se pode depreender dessas questões? 
Fonte: A autora. 
 
#REFLITA# 
 
 Aristóteles define também o que é comunidade, para ele, seria um agrupamento 
de pessoas reunidas com um mesmo objetivo. No caso das cidades, esse objetivo seria 
a busca da justiça e da igualdade entre todos, que promoveria a paz e a sobrevivência 
da espécie humana. A relação para Aristóteles, por meio da qual esse processo se dá, 
é através do vínculo afetivo, ou seja, da relação de amizade. Não significando, porém, 
que todos devam ser amigos, mas que esse vínculo é formado pelo objetivo em comum 
e por pertencer a mesma espécie. 
 Quadros (2016) afirma que o filósofo grego entendia que o surgimento do Estado 
se dá para assegurar a “proteção e sobrevivência dos membros que formam a cidade”, 
esta, por sua vez, foi formada a partir da “evolução” da família, que se agregaram até 
formar as cidades. 
 Conforme aponta Borges (2008, p. 67), Aristóteles, em sua obra clássica, “A 
Política”, “contribui com o primeiro tratado sobre a natureza, funções e divisões do 
Estado e suas formas de governo”. Conhecer o seu pensamento é de suma importância 
para a compreensão da política na contemporaneidade. 
 
 
 
2 CONTRATO SOCIAL 
 
Shutter: 538828525 
 
 Na primeira unidade, como você deve ter observado, foram abordadas as teorias 
que versam sobre o surgimento do Estado. Uma das elaborações mais importantes na 
Teoria Política é o modelo contratualista, sobre o qual foi falado brevemente e 
apresentado os seus principais autores, Hobbes, Locke e Rousseau. Cada um a seu 
modo, influenciam até os dias atuais o pensamento político. 
 De acordo com Quadros (2016), o primeiro ponto que merece destaque quando 
se fala do modelo contratualista é a teoria do “jusnaturalismo” ou escola do direito natural, 
criada para “legitimar a necessidade da existência do Estado”, ou seja, são formulações 
que tentam explicar o porquê e como nascem o Estado e a sociedade. Schiavon (2001), 
salienta que é possível dividir os períodos do jusnaturalismo em três: o clássico, o 
teológico e o racionalista ou moderno. 
 Para o autor: 
 
No jusnaturalismo clássico, no mundo antigo, com sua interpretação mítica da 
realidade, a razão aparece como meio de explicar o mundo em seu conjunto, a 
unidade na diversidade dos fenômenos. Esse pensamento oriental, ao final, é 
absorvido pelos romanos. Já no jusnaturalismo teológico - da Idade Média - a 
razão constitui-se no melhor caminho para se aceder à revelação divina. 
Gradualmente, as idéias cristãs incorporam influências germânicas, romanas e 
da filosofia oriental. Por fim, no jusnaturalismo moderno (ou racionalista) 
resultado das idéias [sic] do renascimento e da ilustração - as teorias do 
contratualismo são resgatadas para fundamentar racionalmente o Estado. 
(SCHIAVON, 2001, p. 359). 
 
No entanto, como afirma Bobbio (1996), quando se fala em jusnaturalismo na 
contemporaneidade, está se referindo ao período que mais ficou conhecido que é o 
último período citado, o racionalista ou moderno, que, de acordo com o autor, pode ser 
datado a partir do século XVII, com as elaborações de Hugo Grócio (1588-1625). 
Quadros (2016), apoiado nas elaborações de Bobbio (1996), aborda que seus 
pensadores partem de dois momentos distintos e dicotômicos, o “estado de natureza” e 
o “estado civil ou político”. 
 
SAIBA MAIS 
 
“Hugo Grotius (1583-1645) foi um jurista holandês, considerado um dos 
fundadores do Direito Internacional. Foi também diplomata, poeta, dramaturgo e 
historiador. É o autor da obra “O Direito da Guerra e Paz”. Desenvolveu a doutrina da 
guerra justa, já estabelecida por Santo Agostinho”. [...] 
 “Hugo Grotius deixou uma obra original em diversos campos de atividades: no 
campo jurídico aparece como o primeiro teórico moderno do Direito Natural e o pai do 
Direito Internacional. Em teologia, com o texto “De Veritage Religionis Christianae” 
(1627) inaugura a investigação dos elementos racionais comuns a todos os cultos 
históricos. Como historiador publicou “Annales et Historiae de Rebus Belgicis” (1657) e 
“Historia Gothorum Vandalorum et Longobardorum”. Em exegeses (interpretação de uma 
obra) publicou “Adnotationes ad Vetus et Novum Testamentum”, onde antecipa os 
métodos de comparação filológica e da crítica bíblica moderna”. 
 
 
Fonte: FRAZÃO, Dilva. Biografia de Hugo Grotius. E Biografia, 2017. Disponível em: 
https://www.ebiografia.com/hugo_grotius/. Acesso em: 14 out. 2021. 
 
#SAIBA MAIS# 
 
Nessa perspectiva hipotética, no estado de natureza, um estado inicial, como se 
viu na unidade anterior, os seres humanos são “livres” para agirem como bem quiserem, 
sem a existência de uma entidade que regule as suas ações, é um estado no qual, nessa 
concepção, a política não existe, onde não existem regras sociais. O estado civil, 
portanto, é radicalmente oposto ao estado de natureza. 
 No entanto, há os pensadores que vão considerar que esse estado de natureza é 
“pacífico e social” e “tendem a considerá-lo como um estado imperfeito e inseguro, do 
qual o indivíduo retira motivos para fazer um contrato com os demais homens com o 
objetivo de fundar o estado civil ou político” (QUADROS, 2016, p. 85). Existem, também, 
os pensadores que o consideram como um momento em que existe a “guerra de todos 
contra todos”, como se viu também na unidade anterior. 
 Existem, porém, acordo entre os jusnaturalistas, como ressalta Bobbio (1996, p. 
53), de que “é preciso sair do estado de natureza” e instituir o estado civil, seja “porque 
é útil”, como em Hobbes e Locke “ou necessário”, como em Spinoza (1632-1677), ou 
ainda “algo imposto pelo dever como em Kant (1724-1804). 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
 
“Baruch de Espinosa (1632-1677), também conhecido como Espinoza ou Spinoza, foi 
um filósofo holandês considerado um dos principais pensadores da linha racionalista, da 
qual faziam parte os filósofos Leibniz e René Descartes. O pensador destacou-se 
especialmente no estudo da teologia e da política tendo escrito sobre ambos na sua obra 
mais importante, “Ética (1677)”. 
 
Fonte: REBECA, Fuks. Baruch de Espinosa. E Biografia, 2020. Disponível em: 
https://www.ebiografia.com/hugo_grotius/.Acesso em: 14 out. 2021. 
 
#SAIBA MAIS# 
 
#SAIBA MAIS# 
 
“Filósofo alemão do século XVIII, Immanuel Kant foi um dos principais pensadores 
do período moderno da filosofia. Abordando questões que abrangiam desde a 
moralidade até a natureza do espaço e do tempo, Kant é reconhecido particularmente 
por promover a reunião conceitual entre o racionalismo, que tem em Descartes seu maior 
expoente, e o empirismo, tal como apresentado por Hume. Desta forma, reunindo o 
potencial da razão humana e a relevância da experiência no processo de aquisição e 
produção de conhecimento”. 
 
Fonte: MACIEL, Willyans. Immanuel Kant. Infoescola, [s.d.]. Disponível em: 
https://www.infoescola.com/biografias/immanuel-kant/. Acesso em: 14 out. 2021. 
 
#SAIBA MAIS# 
 
 
Tendo em vista essas situações, segundo os teóricos do contratualismo, os seres 
humanos decidem sair do estado de natureza para o estado civil por meio da instituição 
de um contrato ou pacto social, “fruto de um consenso entre os indivíduos”. Assim, 
Bobbio (1996, p. 61) afirma que “o princípio de legitimação das sociedades políticas é 
exclusivamente o consenso”. O autor considera ainda que, mesmo que a tese do contrato 
social já fosse anterior e largamente utilizada, ela ganha peso somente com os 
jusnaturalistas modernos. 
 Dessa forma, para os contratualistas, o pacto social instaurado por indivíduos 
“livres e iguais” expressa o processo de criação e legitimação do poder político por meio 
do qual os seres humanos renunciam aos seus direitos naturais, os quais, não se tem 
muito consenso sobre exatamente quantos e quais seriam. A grosso modo, o que se tem 
é que os seres humanos abdicam da sua liberdade e transferem esse direito para um 
terceiro, o Estado, ou para o coletivo, o povo. Esse processo cria, portanto, o estado civil, 
ou seja, a sociedade e o Estado. 
 Existem diversos questionamentos na literatura da Teoria Política sobre a 
veracidade ou não da existência histórica de um contrato social que teria fundado a 
sociedade e o Estado. No entanto, Bobbio (1996), acentua que, independentemente de 
o contrato social ter existido, ou não, ele é concebido como uma “verdade da razão” que 
serve como uma teoria ideal explicativa da realidade. 
 
 
 
 
3 TEORIA DO DIREITO 
 
 
Shutter: 1171978513 
 
O campo da Teoria do Direito envolve diversas tentativas de teorizações sobre o 
Direito a partir de diferentes perspectivas. Do grego “theoresis”, teoria “significa a 
conversão de um assunto em problema, sujeito a[sic] indagação e pesquisa, a fim de 
superar a particularidade dos casos isolados, para englobá-los numa forma de 
compreensão, que correlacione entre si as partes e o todo” (REALE, 2002, p. 52). Desse 
modo, a teoria busca oferecer explicações gerais, globalizantes, sobre determinado 
fenômeno. 
 No que se refere à Teoria Geral do Direito, grosso modo, esta busca, ao mesmo 
tempo, explicar elementos gerais e particulares do Direito, bem como o seu 
funcionamento e possibilidades de interpretação e aplicação. Consoante Reale (2002), 
a Teoria Geral do Direito: 
 
 
[...] representa a parte geral comum a todas as formas de conhecimento positivo 
do Direito, aquela na qual se fixam os princípios ou diretrizes capazes de 
elucidar-nos sobre a estrutura das regras jurídicas e sua concatenação lógica, 
bem como sobre os motivos que governam os distintos campos da experiência 
jurídica. (REALE, 2002, p.52) 
 
Como se viu no primeiro tópico desta unidade, Aristóteles postula que os seres 
humanos são seres sociais e essencialmente políticos. De acordo com Kretschmann e 
Ohlweiler (2013, p. 36), “social porque tem uma tendência natural à vida em sociedade, 
e político porque procura estabelecer condições de convivência com os demais”. Nesse 
sentido, faz parte da própria natureza humana a sociabilidade. 
 Os contratualistas modernos - como se viu também anteriormente - postulam a 
criação da sociedade e do Estado por meio do contrato social. Porém, existem, segundo 
Kretschmann e Ohlweiler (2013, p. 36-37), baseados na classificação de Reale, os que 
consideram o contratualismo como “total”, ou seja, “a própria sociedade é fruto do 
contrato”, e os que consideram como “parcial”, para os quais “a sociedade é um fato 
natural, mas o Direito constitui um fato contratual”. Para estes últimos , “o Direito estaria 
baseado no contrato social, enquanto a Moral seria anterior ao contrato positivo e sua 
condição primordial”. 
 De todo modo, entende-se que o Direito é parte integrante e essencial da estrutura 
da sociabilidade humana, e, por assim ser, “é um fenômeno histórico-social sempre 
sujeito a variações e intercorrências, fluxos e refluxos no espaço e no tempo” (REALE, 
2002, p. 44), se desenvolvendo desde os costumes mediados principalmente pela 
religião nas sociedades antigas, até chegar ao que conhecemos hoje, não numa 
perspectiva evolucionista, mas de desenvolvimento histórico por meio das contradições 
próprias da realidade. 
 O Direito, nessa narrativa, refere-se, de forma mais ampla, à necessidade de 
ordenamento da convivência social e não apenas, como se vê largamente difundido pelo 
direito positivo, a leis e a regras, embora estes elementos o componham e se constituam 
em aspectos fundamentais. É, por conseguinte, fundamentalmente, um fenômeno social, 
que existe na sociedade e que não pode existir fora dela (REALE, 2002) e que se 
 
configura tendo como base as sociedades ocidentais que se espraiam pelo mundo a 
partir, principalmente, do processo de colonização. 
 A chamada Modernidade é marcada por intensas transformações nas correntes 
doutrinárias do Direito, dentre elas, a diferenciação entre o direito natural ou 
jusnaturalismo - conforme se viu - e o direito positivo ou juspositivismo. O contexto do 
Iluminismo é um dos principais impulsionadores dessas transformações, que institui a 
razão, a racionalidade, como aquela que define as ideias de justiça e não mais os 
costumes ou Deus, como na Idade Antiga e Média. Um expoente desse processo, que 
institui a razão para pensar a noção de direito natural é o filósofo Immanuel Kant (1724-
1804), autor que defende que a racionalidade determina o comportamento humano. 
Sobre Kant, Esteves (2012), acentua que este: 
 
[...] concebe o estado de natureza e a própria ideia de “contrato originário” a ele 
ligada como “meras ideias a priori da razão”, como uma situação idealizada em 
que homens viveriam “antes” da constituição do Estado, de autoridade e leis 
externas, onde essa anterioridade deve ser entendida não em sentido 
cronológico, mas em sentido lógico. (ESTEVES, 2012, 160) 
 
Para o pensamento juspositivista ou do direito positivo, respondendo às 
necessidades da ascensão da burguesia naquele contexto e criticando o jusnaturalismo, 
o Direito é aquilo que está positivado nas leis, arbitrado, e posto em ação por uma 
autoridade, no caso, o Estado. O direito, então, de “dizer o Direito”, passa a ser do 
Estado, independentemente de ser “justo” ou não. Uma expressão desse pensamento é 
o jurista e filósofo austríaco Hans Kelsen (1881-1973), com a sua “Ciência Pura do 
Direito”, para o qual o Direito não deveria ter nenhuma influência externa e comunga 
numa compreensão “normativista do direito e do Estado” (DALLARI, 1998, p. 46). 
 
SAIBA MAIS 
 
 
Hans Kelsen, “jurista austro-americano, um dos mais importantes e influentes do século 
XX. Foi um dos produtores literários mais profícuos de seu tempo, tendo publicado cerca 
de quatrocentos livros e artigos, destacando-se a Teoria Pura do Direito pela difusão e 
influência alcançada. É considerado o principal representante da chamada Escola 
Positivista do Direito. Kelsen dá valor apenas ao conteúdo normativo. A função da ciência 
jurídica teoriza, “é descrever a ordem jurídica, não legitimá-la”. 
É Direito, em última instância, Direito posto, positivado. Quer seja pela vontade humana 
(positivismo),quer seja por uma vontade transcendente, supra-humana (jus-
naturalismo). Assim, desenvolve uma metodologia voltada exclusivamente para a norma 
posta”. 
 
Fonte: BIOGRAFIA: Hans Kelsen. Projeto Pasárgada, 2011. Disponível em: 
https://www.olibat.com.br/bibliografia-hans-kelsen/. Acesso em: 14 out. 2021. 
 
#SAIBA MAIS# 
 
Dentre as possíveis diferenciações estabelecidas entre o direito natural e o direito 
positivo, Kretschmann e Ohlweiler (2013, p.56-57), destacam as formulações de Bobbio, 
para quem: 
A. “o direito natural é universal, enquanto o direito positivo é particular e contingente”; 
B. “o direito natural é imutável no tempo, quanto o positivo sofre alterações [...]”; 
C. “o direito natural é fundado na natureza, quanto o direito positivo na “potestas 
populus”, ou seja, no poder popular”; 
D. [...] “o direito natural é conhecido através da razão, quanto o direito positivo é 
conhecido através de uma declaração de vontade alheia [...]”; 
E. o direito natural regula os comportamentos “bons e maus”, enquanto esses 
comportamentos para o direito positivo são indiferentes, só assumindo alguma 
“qualificação porque foram de alguma forma atingidos pelo direito positivo”; 
 
F. “o direito natural estabelece aquilo que é bom, enquanto o direito positivo 
estabelece o que é útil”. 
Existe, ainda, na contemporaneidade, uma grande influência dessas correntes de 
pensamento no Direito contemporâneo, contudo, como alertam os autores, essas 
diferenciações não são estáticas e têm perdido força no contexto atual. É interessante 
notar que na compreensão do direito, existem aqueles, que, por exemplo, partem da 
premissa do direito natural como universal, tal como o direito à vida, enquanto, tem-se 
nas sociedades contemporâneas uma grande força do direito imposto e normatizado. 
 Nesse percurso histórico, existe, como se viu no pensamento do direito positivo, 
uma identidade construída entre o Direito e o Estado como aquele que tem “a 
prerrogativa de criar legalidade com exclusividade”, ou seja, ao Estado é conferido o 
poder de legislar e da coação a partir do uso da força (GIAMBERARDINO, 2005, p. 9). 
Ainda nesse escopo, não se pode ignorar o papel histórico do Direito na garantia do 
cercamento e legitimação jurídica necessária para a ascensão capitalista. 
 
 
 
REFLITA 
 
Tem-se consolidado no campo do Direito uma série de críticas ao direito positivo 
baseado nas leis e nas normas, pois tem-se a compreensão de que essas leis e normas 
não contemplam a todas as pessoas da mesma forma-ainda que seja largamente 
apregoado pelo pensamento liberal imperante-e de que não necessariamente o que está 
nas leis é o que é “justo”. Reflita sobre as contradições postas no direito positivo, as 
desigualdades e as diferenças sociais do mundo contemporâneo. 
 
Fonte: A autora. 
 
 
#REFLITA # 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Esta segunda unidade apresentou alguns dos aspectos que compõem a Teoria 
Política Clássica e que são importantes para se compreender o mundo político 
contemporâneo em suas múltiplas expressões. 
 Sendo assim, foi abordada a noção dos seres humanos como animais políticos. 
Ou seja, está na natureza humana relacionar-e com os outros seres humanos e com a 
natureza, o que os leva a estabelecer normas para a convivência social, nascendo assim, 
a política. É importante atentar para o fato de que a política não se resume à forma 
contemporânea organizada apenas nos partidos políticos - ainda que esta seja uma 
forma extremamente importante e que não possa ser desprezada-, mas perpassa por 
todas as dimensões da vida social. Por isso, é tão importante aprender mais sobre ela. 
 No segundo momento foi discutido sobre o contrato social. Como você viu, essa 
é uma importante noção explicativa no campo da Teoria Política. Embora a perspectiva 
do contrato social já existisse há bastante tempo, ela só ganha amplitude com o chamado 
jusnaturalismo moderno, que tenta justificar e legitimar o surgimento do Estado. 
 Por fim, foi abordada a Teoria Geral do Direito, a qual busca oferecer explicações 
gerais sobre o campo do Direito positivado, este que historicamente corresponde ao 
Direito posto nas normas e legislações tendo como principal árbitro o Estado e que se 
coloca na contramão da noção do direito natural. Assim, é o próprio Direito fruto da 
instituição da sociedade, criada para regular a vida social. 
 Finalmente, gostaria de parabenizá-lo(a) por ter concluído esta etapa de estudos 
e espero que você, assim como eu, também esteja se apaixonando pela Teoria Política. 
Muito obrigada pela companhia, nos vemos na próxima unidade! 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
 
ARISTÓTELES. A política. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1978. 
 
BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. 12. 
ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. 
 
BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico. São Paulo: Ícone, 1995. 
 
BOBBIO, Norberto. Locke e o direito natural. Trad. Sérgio Bath. Brasília: UnB, 1997. 
 
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. 2. ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 1992. 
 
 
 
 
 
LIVRO 
 
Título: A Política 
Autor: Aristóteles. 
Editora: Editora Lafonte. 
Ano: 2021. 
Sinopse: A Política, de Aristóteles, é a observação mais crítica que se tem registro do 
modelo grego de cidade. O filósofo foi o primeiro a trazer o conceito de ética na política 
e via o Estado como natural e único. Para ele, o cidadão era um instrumento político. 
Nesta obra, Aristóteles reflete como as instruções poderiam promover o desenvolvimento 
e a felicidade coletiva, discutindo em profundidade as formas de governo e os 
mecanismos que organizam a sociedade. 
 
FILME/VÍDEO 
 
 
Título: 300 
Ano: 2007. 
Sinopse: Em 480 A.C., existe uma guerra entre a Pérsia, liderada pelo rei Xerxes, e a 
Grécia. Na batalha de Thermopylae, Leônidas, rei da cidade grega de Esparta, lidera 
seus guerreiros em desvantagem contra o massivo exército persa. Mesmo sabendo que 
a morte certa os espera, seus sacrifícios inspiram toda a Grécia a unir-se contra o seu 
inimigo comum. 
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=hIL3nTSwvXs. Acesso em: 07 dez. 2021. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BOBBIO, N. Primeira parte. O modelo jusnaturalista. In: BOBBIO, N.; BOVERO, M. 
Sociedade e Estado na filosofia política moderna. São Paulo: Editora Brasiliense, 
1996. 
 
BORGES, P. P. O homem como ser político: ensaio. Multitemas, Campo Grande-MS, 
n. 36, p. 63-90, jun. 2008. Disponível em: 
https://www.multitemas.ucdb.br/multitemas/article/download/671/695/. Acesso em: 17 
ago. 2021. 
 
CHAUI, M. Convite à filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/533894/mod_resource/content/1/ENP_155/Ref
erencias/Convitea-Filosofia.pdf. Acesso em: 15 ago. 2021. 
 
DALLARI, D. de A. Elementos de Teoria Geral do Estado. 20. ed. São Paulo: 
Saraiva, 1998. Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=2799722&forceview=1. Acesso 
em: 15 ago. 2021. 
 
ESTEVES, J. Sobre a Relação entre o Direito Natural e o Direito Positivo em Kant. O 
que nos faz pensar, [S.l.], v. 21, n. 32, p. 147-166, dec. 2012. ISSN 0104-6675. 
Disponível em: <http://www.oquenosfazpensar.fil.puc-
rio.br/index.php/oqnfp/article/view/380>. Acesso em: 16 ago. 2021. 
 
GIAMBERARDINO, A. R. Colonialismo e Teoria Geral do Direito: diálogos com a 
história do Brasil a partir da vida negada. Revista da Faculdade de Direito UFPR, v. 
43, n. 0, 2005. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/direito/article/view/6980/4958. 
Acesso em: 18 ago. 2021. 
 
KRETSCHMANN, A.; OHLWEILER, L. P. Uma introdução à Teoria Geral do Direito. In: 
KRETSCHMANN, A. (Org.). Formação Jurídica. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. 
São Paulo: Saraiva, 1998. Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=2799722&forceview=1. Acesso 
em: 15 ago. 2021. 
 
QUADROS, D. G. de. O Estado nateoria política clássica: Platão, Aristóteles, 
Maquiavel e os contratualistas. Curitiba: InterSaberes, 2016. Disponível em: 
https://plataforma.bvirtual.com.br. Acesso em: 16 ago. 2021. 
 
REALE, M. Lições preliminares de direito. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 
 
SCHIAVON, G. H. B. O jusnaturalismo clássico. Scientia Iuris, v. 5, 2001, p. 357-373. 
Disponível em: 
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/article/viewFile/11193/9949. Acesso em: 
17 ago. 2021. 
http://www.oquenosfazpensar.fil.puc-rio.br/index.php/oqnfp/article/view/380
http://www.oquenosfazpensar.fil.puc-rio.br/index.php/oqnfp/article/view/380
 
UNIDADE III 
TEORIA LIBERAL (KARL MARX) 
Professora Me. Itamires Lima Santos Alcantara 
 
 
Plano de Estudo: Teoria Liberal (Karl Marx) 
● Estado no pensamento liberal; 
● Estado no pensamento marxista: as elaborações de Lênin; 
● “Estado ampliado” em Gramsci. 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
• Conceituar e contextualizar o Estado na concepção liberal, marxista e marxiana; 
• Compreender o papel do Estado na atual sociedade; 
• Estabelecer a importância de uma análise crítica sobre o Estado. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado(a) aluno(a), iniciamos mais uma unidade e ao longo de toda esta apostila, 
você e eu estamos aprendendo um pouco mais sobre a Teoria Política. Já estudamos 
bastante coisa, vimos a Teoria Política Clássica, as teorias sobre o surgimento do Estado 
e da sociedade na modernidade, os principais teóricos, o desenvolvimento histórico do 
campo, em suma, já passamos por muitos assuntos. 
 As questões que abordaremos nesta unidade dizem respeito às compreensões 
do Estado sob as óticas, principalmente, do pensamento liberal e a crítica marxista e 
marxiana do Estado, a partir, sobretudo, das elaborações dos autores revolucionários do 
início do século XX, Lênin e Gramsci. 
 Nesse sentido, num primeiro momento discutiremos sobre o Estado no 
pensamento liberal, veremos que o liberalismo representa os interesses da burguesia 
europeia no processo de ascensão e consolidação desta como classe dominante e sob 
roupagens de defesa das liberdades individuais, defende, na realidade, a propriedade 
privada e a economia capitalista, a livre ação do mercado na regulação da vida social e 
falsamente, a retirada do Estado. 
 Posteriormente, trataremos sobre o Estado no pensamento marxista a partir das 
elaborações do intelectual revolucionário russo Vladímir Lênin que nos mostra em sua 
obra, a partir de uma linguagem clara e objetiva uma interpretação robusta do conjunto 
das interpretações de Marx e Engels sobre o Estado na sociedade burguesa. 
 Num terceiro momento discutiremos sobre a concepção de outro autor marxista 
sobre o Estado, Antonio Gramsci, que considera a existência de um “Estado integral” ou 
“ampliado” não resumido ao governo e aos aparelhos repressivos, mas composto pela 
sociedade civil e como um espaço de correlação de forças. 
Iniciemos, então, mais uma caminhada, que espero, seja de muito aprendizado. 
Vamos lá! 
 
 
1 O ESTADO NO PENSAMENTO LIBERAL 
 
 
Shutter: 1887830293 
 
 De acordo com Quartim de Moraes (2014), os termos “liberal”, “liberalismo” etc., 
têm uma série de sentidos, correspondendo às transformações econômicas, políticas e 
sociais ocorridas a partir do século XVII no mundo ocidental. Ainda, o pensamento liberal, 
embora tenha uma mesma raiz de pensamento, desenvolve-se de forma diferenciada 
também nas diferentes formações sociais. Por exemplo, existem países em que a 
denominação “liberal” corresponde a uma defesa profunda da não intervenção do Estado 
na economia, enquanto que em outros, pode significar uma tendência mais à esquerda, 
como no caso estadunidense. 
 Embora exista essa polissemia, por ora, é importante a compreensão do 
pensamento liberal como uma “doutrina que prega as virtudes de mercado natural 
autorregulado contra os males da intervenção estatal” e a compreensão do “liberalismo 
jurídico”, “cujo foco está na concepção de um Estado que garanta os direitos dos 
indivíduos contra o uso arbitrário do poder pelos governantes” (QUARTIM DE MORAES, 
2014, p. 71). 
 
 O marco de início da predominância do pensamento liberal é definido pela 
literatura a partir da Revolução Francesa iniciada em 1789, a qual, é importante ressaltar, 
foi efetivada pelos camponeses e pela burguesia europeia na luta contra a nobreza 
feudal, então detentora de todo poder político. No entanto, a burguesia, após consumada 
a Revolução, trai os camponeses e coloca-se no decurso da história como classe 
dominante. 
 Esse novo momento histórico caracterizado pelo Estado liberal pressupõe 
“liberdade” entre as partes por meio do estabelecimento do contrato formal-nesse 
desenrolar, o Direito é uma peça fundamental que serviu ao processo de liberalização-, 
na qual, existiria um mercado “natural” que objetiva autorregular-se sem a interferência 
estatal, “a propriedade e o contrato são os institutos jurídicos básicos da nova sociedade 
e refletem sua ordem natural” (QUARTIM DE MORAES, 2014, p. 272). 
 Nesse ínterim, a defesa de atuação do Estado seria apenas no âmbito da 
preservação dos interesses e da segurança individual dos cidadãos, nas palavras do 
autor Quartim de Moraes (2014, p. 273): 
 
Temos, portanto, na feliz expressão de Carl Schmitt (1934, p. 145), um Estado 
Burguês de Direito cuja Constituição corresponde aos ideais do individualismo 
da burguesia e contém em seu bojo uma escolha pela liberdade. Mas note-se: 
pela liberdade burguesa. Ou seja: pela liberdade contratual, pela liberdade de 
propriedade, de comércio e de indústria. (MORAES, 2017, p.273) 
 
 Esse “Estado Burguês de Direito” ou Estado Liberal tem como objetivo a sua 
autopreservação e assegurar a liberdade individual por meio das leis, permitindo, sob 
sua gerência uma série de desigualdades sociais subsumidas a uma defesa da igualdade 
formal. Esse pensamento liberal, perdurou dominante na Europa Ocidental até, pelo 
menos, a Primeira Guerra Mundial, a qual, diante da crise social instaurada, tornou-se 
cada vez mais difícil a defesa de um liberalismo irrestrito. 
 
 
SAIBA MAIS 
 
 Segundo Burigana (2014), “A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) marcou 
profundamente a história do século XX, não só pelos trágicos eventos que envolveram 
 
milhões de pessoas – determinando o fim de impérios seculares e o nascimento de novas 
realidades estatais –, mas também e, sobretudo, pela memória destes eventos, que 
deixaram abertas questões políticas, econômicas e culturais, das quais nasceram outras 
guerras ao longo do século”. 
 
Fonte: BURIGANA, R. A Grande Guerra: a Primeira Guerra Mundial (1914-2014), Evento e Memória. 
História Unicap, v. 1, n. 1, jan./jun. de 2014. Disponível em: 
https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5615907. Acesso em: 10 ago. 2021. 
 
#SAIBA MAIS# 
 
 De acordo com Behring e Boschetti (2011, p. 56), o liberalismo possui dois 
sustentáculos principais: “o princípio do trabalho como mercadoria e sua regulação pelo 
livre mercado”. Nesse processo, é o mercado “livre” que regula as relações sociais e 
cada indivíduo que, agindo em seu próprio benefício, proporciona o bem estar coletivo. 
 
O predomínio do mercado como supremo regulador das relações sociais, 
contudo, só pode se realizar na condição de uma suposta ausência de 
intervenção estatal. O papel do Estado, uma espécie de mal necessário na 
perspectiva do liberalismo, resume-se a fornecer a base legal com a qual o 
mercado pode melhor maximizar os “benefícios aos homens”. (BEHRING; 
BOSCHETTI, 2011, p. 56) 
 
 Essa tese, tem em David Ricardo (1772-1823) e Adam Smith (1723-1790) os seus 
principais expoentes como intelectuais da burguesia. É importante atentarmo-nos para o 
fato de que, o pensamento liberal, ambiguamente, não defende a extinção do Estado, ao 
contrário, este serve para garantir a maximização dos lucros e a propriedade privada. A 
ideia, portanto,

Outros materiais