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HIDRONEFROSE SECUNDÁRIA A MAL FORMAÇÃO URETERAL EM UM FELINO (1)

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Hidronefrose secundária a mal formação ureteral em um felino: relato de caso
Suzana Mourão Gomes¹, Kelly Karoline Gomes do Nascimento¹, Danilo Ferreira Rodrigues¹, Elisa Carla Barra Freire¹, Luana Brito Bluhm de Bastos¹, Débora Almeida¹, Ana Caroline Alves da Silva.
1. Universidade Federal do Pará
Resumo
A hidronefrose caracteriza-se pelo acúmulo de líquido em decorrências de processos que obstruem parcial ou totalmente o fluxo urinário, ocasionando a dilatação da pelve renal. Relatos que envolvam deformidades na conexão entre o rim e ureter são raros. Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Pará – UFPA um felino, 6 meses, macho, srd, com histórico de aumento de volume abdominal direito. No exame radiográfico, foi visibilizado aumento da região em topografia renal direita, sugerindo nefromegalia. No rim direito apresentou dimensões acentuadamente aumentadas e severa dilatação de pelve por conteúdo anecogênico homogêneo, medindo 7,0 cm x 4,57 cm. Paciente foi submetido a nefrectomia unilateral total. A hidronefrose deve ser incluída como diagnóstico diferencial em casos de aumento de volume abdomina. O prognóstico é positivo desde que haja integridade no rim e ureter contralateral. A manutenção da qualidade de vida do animal está diretamente conectada à sua evolução.
Palavras-chave: hidronefrose, felino, nefrectomia.
Introdução
A hidronefrose caracteriza-se pelo acúmulo de líquido em decorrências de processos que obstruem parcial ou totalmente o fluxo urinário, ocasionando a dilatação da pelve renal (LIMA et al, 2019). Dentre as principais causas de hidronefrose destacam-se a urolitíase ureteral e uretral, porém pode ser gerado por deformação congênita, iatrogênica e por trauma nos ductos condutores de urina. Com a progressão da doença, podem ocorrer lesão irreversível. Quando a obstrução é unilateral o rim não afetado compensa as funções renais, o que proporciona a não apresentação clínica da doença (BENEDITO et al, 2020; LIMA et al, 2023). Sendo de difícil identificação pelo tutor, o que interfere na agilidade da detecção da doença (ABDEL-SAEED, 2021).
A hidronefrose altera a morfologia renal, interferindo diretamente na qualidade de vida do paciente (WAJCZYK et al, 2020). O diagnóstico precoce e a monitoração por exames de imagem e sanguíneos é fundamental para o reconhecimento desta patologia e determinação da melhor opção de tratamento.
No momento em que a hidronefrose está em um estádio grave, a nefrectomia é uma das opções terapêuticas indicada, sendo direcionada especialmente a doença renal unilateral (ALVES, 2023).
Dentre as anomalias congênitas que afetam os ureteres, a inserção ectópica é a mais relatada, podendo ser intramurais e extramurais dependendo de seu local de inserção. Tendo como principal opção terapêutica, a correção cirúrgica envolvendo a criação e/ou reimplante do ureter na bexiga, e em casos mais severos a ureterectomia e nefrectomia (MAYHEW et al, 2023). 
Em sua posição anatômica convencional, os ureteres perpassam na região retroperitoneal, no interior da pelve renal, e seguem para o trígono vesical (GRIFFIN et al, 2021). Relatos que envolvam deformidades na conexão entre o rim e ureter são raros. 
O objetivo deste trabalho é realizar um relato de caso determinando os fatores clínicos, diagnósticos e terapêuticos de um felino com um quadro de hidronefrose gerado por alterações congênitas na junção ureteropiélica, a qual cursou com uma nefrectomia unilateral total.
Relato de caso
Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Pará – UFPA um felino, 6 meses, macho, srd, com histórico de aumento de volume abdominal direito. Durante a anamnese, os tutores informaram que animal foi resgatado no mesmo período e apresentava normorexia, normoúria e normoquesia. Na avaliação física, observou-se normohidratação, Tempo de Preenchimento Capilar – TPC: 1 segundo, temperatura: 38° Celsius, mucosas normocoradas, sem alteração na ausculta cardiopulmonar. Na palpação abdominal, verificou-se uma área nodular rígida em topografia renal direita. Solicitou-se hemograma total, análise bioquímica para avaliação renal e hepática (figura 1), ultrassonografia abdominal total, radiografia abdominal (projeções ventro-dorsal e latero-lateral direita e esquerda). 
Na análise do hemograma total, os parâmetros do hemograma, leucograma e plaquetograma se encontraram dentro na normalidade.
	Avaliação
	Resultado
	Referência
	Bilirrubina Total
Direta
Indireta
	0,37 mg/dL
0,16 mg/dL
0,21 mg/dL
	0,15 – 0,50 mg/dL
-
-
	ALT
	67 U/L
	6 – 83 U/L
	CREATININA
	1,4 mg/dL
	0,8 – 1,8 md/dL
	GGT
	3,5 U/L
	1 – 10 U/L
Figura 1: Avaliação bioquímica do paciente.
No exame radiográfico, foi visibilizado aumento da região em topografia renal direita, sugerindo nefromegalia.
Figura 2: Radiografia abdominal. 
No exame de ultrassonografia (figura 3) foi observado rins tópicos. Sendo que o rim esquerdo, medindo 4,12 cm de comprimento, apresentando superfície regular e ecogenicidade preservada apresentando limites córtico-medulares definidos e relação córtico-medular preservada, pelve e divertículos dentro da normalidade. No rim direito apresentou dimensões acentuadamente aumentadas e severa dilatação de pelve por conteúdo anecogênico homogêneo, medindo 7,0 cm x 4,57 cm (comprimento x altura). Estrutura tubular localizado em região cranial ao rim direito, com diâmetro aumentado (4,3 cm – Diâmetro) por conteúdo anecogênico heterogêneo pela presença de moderada quantidade de sedimento hiperecóico em suspensão e uma estrutura amorfa ecogênica homogênea, medindo 2,0 cm x 1,31 cm (comprimento x altura).
Figura 3: Ultrassonografia Renal.
Após os resultados dos exames complementares, o paciente foi encaminhado para a terapia cirúrgica com nefrectomia unilateral total para remoção do rim anômalo. 
Foi realizado uma laparotomia exploratória, e dissecção cuidadosa dos tecidos lipídicos retroperitonial localizados na região renal direita. Após a exposição, foi visualizado inserção ureteral cranial ao rim perpassando pela porção dorsal, aderindo-se a veia cava caudal e seguindo para inserção no trígono vesical. Em seguida, sucedeu-se a nefrectomia, com dupla ligadura com fio absorvível multifilamentar (poliglatina 2-0). 
Após a remoção, o material obtido foi enviado para análise histopatológica, a qual identificou cortes histológicos de tecido renal com perda parcial da arquitetura tecidual, apresentando glomérulos com espessamento da membrana basal associado a infiltrado inflamatório crônico/linfoplasmocitário junto a áreas de congestão vascular e tumefação tubular. Observou-se áreas de fibrose intersticial e dilatação dos túbulos e alguns glomérulos. Áreas de congestão vascular. O tecido adiposo adjacente ao rim com extensa fibrose associado a áreas de congestão vascular. Os achados foram condizentes com glomerulonefrite crônica moderada associada a hidronefrose difusa e áreas de fibrose peri-renal.
O paciente evoluiu bem após a intervenção cirúrgica e permanece estável, além de não apresentar sintomatologia condizente com doença renal.
Discussão
A manutenção da qualidade de vida do animal está diretamente conectada à evolução da hidronefrose (WAJCZYK et al, 2020). Neste caso, apesar da evolução profusa da hidronefrose ocasionando perda do parênquima renal, o paciente não apresentava sintomatologia clínica, favorecendo o prognóstico do paciente. Outro fator relevante é o acometimento unilateral ou bilateral, tendo em vista que em situações de patologias bilaterais em ureteres o prognóstico é ruim a reservado (PEREIRA et al, 2019).
A principais afecções ureterais em felinos relatadas na literatura envolvem a mal formação na inserção do ureter na vesícula urinária, entretanto megaureter e ureter retrocava também são mencionados (BORGES, 2020; ALBERNAZ et al, 2019; COSTA, 2019). Quando tais afecções propiciam o desenvolvimento de quadros de hidronefrose severa, a remoção cirúrgica do rim afetado é a principal forma de tratamento. Desde que os pré-requisitos para a realização da nefrectomiasejam atendidos, corroborando com o pressuposto por Alves (2021), ao mencionar que devem ser verificadas a unilateralidade da afeção, função normal do rim contralateral e ausência de metástases em situações de neoplasias renais, os quais foram confirmados no presente relato.
A ausência de sintomatologia condizente com doença renal, bem como normalidade nos exames laboratoriais básicos para análise da função renal não devem ser interpretados de maneira isolada em casos de hidronefrose unilateral, tendo em vista que o rim contralateral poderá suprir a demanda fisiológica do animal, como foi evidenciado nesse caso. Sendo assim, os exames de imagem são cruciais para diagnóstico da doença. Nesse sentido, em situações de patologias renais e ureterais, a tomografia computadorizada é de suma importância para diferenciar a hidronefrose das demais patologias que atingem os mesmos como ureter ectópico, obstrução por cálculos e ligadura cirúrgica (RODRIGUES et al, 2021), entretanto é um exame de baixa acessibilidade na rotina clínico-cirúrgica de cães e gatos, motivo pelo qual não foi realizado no presente relato. Neste caso optou-se por laparotomia devido ao custo-benefício.
Os achados encontrados no exame histopatológico indicaram tumefação tubular, glomerular e fibrose, sendo que de acordo com Lima et al (2019), as principais alterações mencionadas envolvem fibrose e degeneração tubular, onde os glomérulos apresentam maior resistência e estão vinculados a lesões de carácter de cronicidade da doença. 
Conclusões
A hidronefrose deve ser incluída como diagnóstico diferencial em casos de aumento de volume abdominal, mesmo em situações onde não haja sintomatologia sugestiva de patologias do trato renal. O prognóstico é positivo desde que haja integridade no rim e ureter contralateral.
Referências;
ABDEL-SAEED, H.; REEM, R. T.; ALI, M. E. Diagnostic and anatomical studies on unilateral hydronephrosis in domestic cats. Adv. Anim. Vet. Sci, v. 9, n. 10, p. 1641-1648, 2021.
ALBERNAZ, V. G. P. et al. Ureter retrocava tipo II causando hidronefrose em um gato: relato de caso. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 71, p. 828-832, 2019.
ALVES, Beatriz Dias Gil. Estudo retrospetivo de cães e gatos submetidos a nefrectomia (2011-2021). 2023. Tese de Doutorado. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária.
BENEDITO, Geovanna Santana et al. Pionefrose unilateral em cão-relato de caso. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR, v. 23, n. 2cont, 2020.
ALVES, Beatriz Dias Gil. Estudo retrospetivo de cães e gatos submetidos a nefrectomia (2011-2021). 2023. Tese de Doutorado. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária.
BORGES, Isadora Scherer et al. Ureteres Ectópicos Bilaterais e Criptorquidismo Unilateral em Felino Maine Coon. Comfel 2020, v. 44.
COSTA, Fred George Tenório da. Megaureter Esquerdo associado a Hidronefrose: relato de caso em cadela. 2019. Trabalho de Conclusão de Curso. Brasil.
GRIFFIN, Maureen A. et al. Surgical treatment of retroiliac ectopic ureters with secondary hydronephrosis and hydroureter in a dog. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 258, n. 7, p. 740-747, 2021.
LIMA, Geyse Maria Machado et al. Hidronefrose em Cadela com Síndrome do Remanescente Ovariano-Complicações Pós-Cirúrgicas. Journal of Veterinary Science , v. 50, não. 1, pág. 831, 2022.
MAYHEW, Philipp D.; BERENT, Allyson. Treatment Strategies for Ureteral Ectopia. Small Animal Soft Tissue Surgery, p. 559-570, 2023.
RODRIGUES, Isabelle Medeiros et al. Unilateral hydronephrosis due to ureter obstruction after ovariohysterectomy in a feline-case report. In: Proceedings of the Southern Brazilian Journal of Chemistry. 2021 Virtual Conference. 2022.
PEREIRA, Marcy Lancia; POPP, Priscila; CÉSAR, Jane Regina França. URETEROLITÍASE BILATERAL ASSOCIADA A DOENÇA RENAL CRÔNICA EM FELINO. Science And Animal Health, v. 7, n. 3, p. 180-188, 2019.
WAJCZYK, Talita et al. Nefrectomia associada à renomegalia direita em um cão acometido por hidronefrose. Pubvet, v. 14, p. 148, 2020.
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