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Principio da especialidade (lex specialis derogat generalis) Aplica-se, como vimos, sempre que existir entre os tipos penais em conflito uma relação de especialidade (gênero — espécies). Será especial, e portanto prevalecerá, a norma que contiver todos os elementos de outra (a geral), além de mais alguns, de natureza subjetiva ou objetiva, considerados especializantes. “Toda a ação que realiza o tipo do delito especial realiza também necessariamente, e ao mesmo tempo, o tipo do geral, enquanto que o inverso não é verdadeiro”277 . Assim, se a mãe mata o filho durante o parto, sob a influência do estado puerperal, incorre, aparentemente, nos arts. 121 (homicídio) e 123 (infanticídio) do CP. No primeiro, porque matou uma pessoa; no segundo, porque essa pessoa era seu filho e a morte se deu no momento do parto, influenciada pelo estado puerperal. O infanticídio contém todas as elementares do homicídio (“matar” + “alguém”), além de outras especia‐ lizantes (“o próprio filho” + “durante o parto ou logo após” + “sob a influência do estado puerperal”), o que o torna especial em relação a esse. Percebe-se, então, que toda ação que realiza o tipo do infanticídio realiza o do homicídio, mas nem toda ação que se subsome ao homicídio tem enquadramento no tipo do infanticídio. De igual modo, o homicídio culposo de trânsito (CTB, art. 302) é especial em relação ao homicídio culposo do Código Penal (art. 121, § 3º), já que aquele exige que a conduta seja praticada “na direção de veículo automotor”. Dessa maneira, o motorista que acaba atropelando um pedestre, por não tomar as cautelas necessárias à condução do veículo, vindo o ofendido a morrer em decorrência do fato, responde o agente pelo crime de trânsito, embora a conduta aparentemente se subsuma também à figura típica do Código Penal. Relembre-se que esse conflito se resolve abstratamente, isto é, basta a comparação entre as duas normas, em tese, para saber qual delas é a especial e, por via de consequência, a aplicável. Também é interessante notar que na relação de especialidade é indiferente se a norma especial é mais ou menos grave. Acrescente-se que a relação de especialidade se dá entre tipos fundamentais e secundários (exs.: roubo simples — art. 157, caput, e roubo circunstanciado — art. 157, § 2º)
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