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Autores: Prof. José Benedito Regina Prof. Guilherme Juliani de Carvalho Colaboradores: Profa. Sandra Castilho Prof. Mauro Kiehn Evolução do Pensamento Administrativo Professores conteudistas: José Benedito Regina / Guilherme Juliani de Carvalho José Benedito Regina É bacharel em Ciências Econômicas pela FEA/USP, especialista em Administração pela UNIP e mestre em Administração pela FEA/USP. Possui experiência profissional técnica, administrativa e gerencial em várias áreas organizacionais. Atuação expressiva em processos de mudança organizacional e de facilitação e formação técnica e gerencial em empresas de grande porte. É especialista em Qualidade Total, palestrante e consultor de organizações, com destaque para as áreas de gestão e desenvolvimento de RH. Faz assessoria para editoras na tradução/revisão de textos para a área de administração. Desde 1977 é professor, líder de disciplina e coordenador de cursos no ensino superior, em graduação e pós-graduação, em várias universidades paulistanas. Na UNIP, é professor conteudista, autor e ministrante de disciplinas relacionadas com Administração Geral e Administração de Recursos Humanos, graduação e pós-graduação, no programa de educação a distância (EaD). Também é participante em bancas de avaliação, atuando como coordenador e orientador para trabalhos acadêmicos diversificados, tanto para cursos de graduação como de pós-graduação. Guilherme Juliani de Carvalho Graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Senac/SP (2016) e em Comunicação Social – Relações Públicas pelo Centro Universitário Newton Paiva (2009). Possui especialização em Planejamento, Gestão e Implementação da Educação a Distância pela Universidade Federal Fluminense (2015), MBA em Gestão de Marketing pelo Centro Universitário UNA (2010) e em Gestão de Negócios pela mesma instituição (2010). Mestre em Administração de Empresas – Gestão Estratégica de Organizações pela Universidade Fumec (2013). Doutorando em Administração pela UNIP. Atua como docente universitário desde 2010 nas áreas de gestão, marketing, projetos e empreendedorismo. Coordenador de graduação e pós-graduação com publicações em diversos congressos, anais e revistas científicas, além de capítulos de livros. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R335e Regina, José Benedito. Evolução do Pensamento Administrativo / José Benedito Regina, Guilherme Juliani de Carvalho. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 168 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Administração. 2. Teoria. 3. Abordagem. I. Regina, José Benedito. II. Carvalho, Guilherme Juliani de. III. Título. CDU 658.01 U512.04 – 21 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Bruna Baldez Sumário Evolução do Pensamento Administrativo APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO ........................................................................ 11 1.1 Modelo fordista de produção .......................................................................................................... 17 1.2 Modelo toyotista .................................................................................................................................. 19 2 CONCEITOS GERAIS DA ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................ 22 2.1 O que é administrar: as várias visões ........................................................................................... 23 3 AS INFLUÊNCIAS SOBRE A ADMINISTRAÇÃO ...................................................................................... 28 4 AS VARIÁVEIS BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO ..................................................................................... 31 4.1 A organização ........................................................................................................................................ 32 4.2 Paradigma ................................................................................................................................................ 35 4.3 Os vários paradigmas da TGA .......................................................................................................... 39 Unidade II 5 AS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÂO ............................................................................................................ 46 5.1 Abordagem clássica da administração ........................................................................................ 47 5.1.1 Abordagem científica da administração ....................................................................................... 48 5.1.2 Teoria clássica da administração ...................................................................................................... 52 5.1.3 Teorias científica e clássica: convergências e divergências ................................................... 56 5.1.4 Teoria burocrática .................................................................................................................................. 57 5.2 A abordagem humanística da administração ........................................................................... 63 5.2.1 Teoria das relações humanas ............................................................................................................ 63 5.2.2 Teoria neoclássica da administração .............................................................................................. 67 5.3 A abordagem estruturalista da administração: a teoria estruturalista .......................... 71 5.4 A abordagem comportamental da administração .................................................................. 75 5.4.1 Teoria do desenvolvimento organizacional (DO) ....................................................................... 81 5.5 A abordagem sistêmica da administração ................................................................................. 84 5.5.1 Tecnologia da informação e administração ................................................................................. 85 6 TEORIA MATEMÁTICA DA ADMINISTRAÇÃO ........................................................................................ 87 6.1 Teoria de sistemas ................................................................................................................................ 88 6.2 Abordagem contingencial da administração ............................................................................ 91 Unidade III 7 NOVAS ABORDAGENS PARA A ADMINISTRAÇÃO ............................................................................1017.1 Administração estratégica ..............................................................................................................103 7.2 Administração japonesa – melhoria contínua – qualidade total ...................................104 7.2.1 Melhoria contínua (kaizen) ...............................................................................................................105 7.2.2 Qualidade total ......................................................................................................................................105 7.2.3 Modelos de gestão rumo à excelência .........................................................................................108 7.2.4 Conceitos fundamentais da excelência em gestão .................................................................109 7.3 Administração participativa ...........................................................................................................111 7.4 Equipes de alto desempenho .........................................................................................................115 7.5 Gestão de projetos .............................................................................................................................115 7.6 Gestão do capital intelectual ........................................................................................................116 7.7 Gestão pela integração total .........................................................................................................117 7.8 Organização de aprendizagem .....................................................................................................118 7.9 Reengenharia .......................................................................................................................................119 7.10 Sistema lean-sigma .........................................................................................................................120 7.11 Sistema 6-sigma ...............................................................................................................................121 7.12 Administração por objetivos .......................................................................................................122 7.13 Gestão holística ................................................................................................................................126 7.14 Home office ........................................................................................................................................128 8 PRINCIPAIS FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO ......................................................................................132 8.1 O planejamento e a organização .................................................................................................135 8.1.1 Planejamento ........................................................................................................................................ 135 8.1.2 Definição dos objetivos ..................................................................................................................... 136 8.1.3 Elaboração dos planos ....................................................................................................................... 139 8.1.4 Tomada de decisão ...............................................................................................................................141 8.1.5 Adhocracia .............................................................................................................................................. 147 8.2 A direção e o controle ......................................................................................................................149 8.2.1 Direção ..................................................................................................................................................... 149 8.2.2 Liderança ................................................................................................................................................ 150 8.2.3 Controle ................................................................................................................................................... 152 7 APRESENTAÇÃO Após terminar sua participação nesta disciplina, espera-se que o aluno tenha clareza dos conceitos gerais da administração, entendendo os seguintes aspectos: as diferentes percepções do que significa administrar; as influências recebidas pela administração ao longo do tempo; as suas variáveis básicas (ou ênfases); o conceito de organização; a importância da atuação do profissional administrador por meio de competências e papéis dele esperados; o conceito de paradigmas e sua relação com a evolução das várias teorias da administração. Ao estudar o conteúdo desta disciplina, o aluno poderá identificar a existência das várias teorias ou abordagens que permitiram a evolução do pensamento administrativo e ajudaram a construir esse magnífico edifício conceitual que hoje constitui a administração. Espera-se que possa identificar as variáveis destacadas pelas diversas teorias apresentadas, suas visões e propostas, seus principais estudiosos e autores e que tenha informação sobre o estágio atual dessa ciência e de suas possibilidades futuras. Para atingir esse objetivo, o foco desta disciplina é o estudo das teorias gerais da administração (TGAs). Assim, o aluno poderá entender a ciência administrativa, acompanhar a evolução dos processos de gestão, entender o contexto histórico, político e sua relação com as organizações, compreendendo as diversas formas pelas quais a administração foi sendo implementada nas organizações. É importante acentuar que administrar é aplicar o conhecimento à ação. Desse modo, faz-se necessário um bom embasamento teórico para aplicar esse conhecimento à prática e alinhar os processos e modelos de negócios ao contexto organizacional. Também é vital que o aluno compreenda o real significado de administrar, baseado no conceito do processo administrativo (PA), composto do planejamento, da organização, da direção e do controle, e que, por meio do detalhamento dessas quatro funções, tenha uma noção clara do que se espera do profissional administrador no exercício de seu importantíssimo papel. INTRODUÇÃO Prezado aluno, Queremos iniciar nosso contato propondo a você, futuro profissional, que tente responder a algumas questões fundamentais, como as seguintes: • O que significa administrar? • Que conceitos essa magnífica atividade abrange? • Como esses conceitos nasceram? Como se desenvolveram? • No que realmente consistem as atividades de um administrador? Pois bem, é sobre temas como esses que versa esta disciplina. 8 Saber administrar é fundamental para qualquer profissional de qualquer área de atividade. Um administrador competente, sendo um profissional específico para essa tarefa, é um elemento indispensável a qualquer organização no mundo de hoje, já que nenhuma empresa consegue sobreviver sem o seu trabalho. Toda e qualquer ação resultante do esforço do profissional administrador é a aplicação, direta ou indireta, de algum conceito ou da combinação de mais de um deles. Tais conceitos foram intuídos, observados, pesquisados, estabelecidos, desenvolvidos e testados ao longo da existência dessa ciência magnífica – a administração –, complexa, encantadora e, ao mesmo tempo, indispensável, pois nenhuma organização pode existir sem ela. Portanto, conhecer o que compõe a disciplina é adquirir conhecimentos valiosos, que poderão ser o diferencial que tornará você um profissional bem-sucedido. Uma das coisas interessantes desse arcabouço de conhecimentos é que todos eles, mesmo sofrendo críticas e restrições deste ou daquele estudioso, podem ser colocados em ação, pois não existe uma receita única para conseguir uma boa gestão. Conforme acentuava Henri Fayol, o pai dos teóricos clássicos (HAMPTON, 1992, p. 3), “não existe nadarígido ou absoluto quando se trata de problemas de administração: tudo é uma questão de proporção”. Embora essa afirmação tenha sido feita no início do século passado, ela nunca esteve tão atual. Isso acabou sendo ratificado pela própria teoria da administração, na abordagem contingencial, última corrente teórica registrada. Essa teoria defende que tudo em administração depende de circunstâncias que, na maioria das vezes, estão fora do controle do profissional administrativo, o que só demonstra a genialidade de Fayol. Do mesmo modo, outros teóricos, incluídos neste livro-texto, propuseram seus conceitos com repercussão e utilidade similares. Tais autores também podem ser considerados geniais em suas colocações. Logo, pretendemos apresentar a você o que é a administração e como ela evoluiu, desde os seus primórdios até os dias atuais. Muitos pesquisadores e estudiosos investiram suas vidas em conhecer e realizar descobertas para a administração, propondo diferentes abordagens para ela. Montar um material que seja uma amostra significativa de tudo o que já se escreveu nesta ciência é um grande exercício de escolha, uma vez que sua literatura é ampla. Assim, o objetivo deste livro-texto não é o de criar nenhuma teoria, mas sim o de fazer um retrospecto interessante para você sobre o que de mais importante existe no assunto. Nosso foco será discutir as teorias da administração. As teorias da administração abordam a administração dentro das empresas, sejam elas com ou sem fins lucrativos. Estudando as teorias, você passa a ter condições de compreender a evolução tanto dos conceitos quanto das práticas administrativas e usar esse conhecimento na administração atual. 9 As teorias de administração envolvem as práticas de gestão empresarial que foram desenvolvidas segundo as necessidades de cada época com o intuito de solucionar determinados problemas administrativos daquele momento em questão. Todas continuam válidas hoje, mas devem ser aplicadas na medida e na ocasião corretas. Faremos uma pequena viagem histórica para entender como a administração e os conceitos que a cerceiam surgiram, passando pelas influências históricas no sistema administrativo, as revoluções burguesas e industriais, as principais teorias da administração e, por fim, as principais tendências administrativas. Será destacado um pequeno painel, citando alguns desses autores (os principais), de forma que você possa ter uma visão de parte do que já se publicou sobre o assunto. Não pretendemos mostrar tudo o que já foi escrito na área, pelo simples fato de que isso seria um trabalho hercúleo, senão impossível: você terá toda a sua vida profissional pela frente para ir descobrindo, conhecendo, aplicando e reaplicando essas informações (não só o que já foi produzido, mas também aquilo que o futuro nos reserva como realizações nessa área). Por enquanto, você poderá perceber nas referências bibliográficas um volume interessante de títulos que podem ser explorados. Para facilitar o seu estudo, a linha-mestra deste livro-texto considerou uma bibliografia básica, e a estrutura deste material foi assim concebida: • primeiro, apresentaremos os conceitos gerais da administração, seus antecedentes históricos e os paradigmas que nortearam a evolução do pensamento administrativo e a relação das suas diferentes abordagens; • em seguida, falaremos das principais teorias da administração e seus impactos na gestão nos dias de hoje; • por fim, destacaremos as principais tendências e técnicas administrativas contemporâneas. Bons estudos! 11 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Unidade I 1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO De acordo com Chiavenato (2003b), foi a Revolução Industrial que provocou o aparecimento de grandes empresas e da administração moderna. A Revolução Industrial até hoje influencia as empresas. Isso porque para atingir os seus objetivos o homem tem se associado a outros, em um processo de produção, desde os primórdios. O homem aprendeu desde cedo que precisava de outro homem para trabalhar em equipe e atingir determinadas metas, gerando profundas mudanças no sistema de trocas/comercial vigente na época. Desse trabalho em conjunto surgiram as empresas rudimentares, que datam da época dos assírios, babilônicos, fenícios, egípcios, gregos e romanos. Contudo, a história da administração é recente, iniciou-se com o aparecimento das grandes corporações. Ao mesmo tempo, nasceu o sistema moderno de gestão, que, junto com os estudos das escolas da administração, resultou nos modelos de gestão que temos atualmente. Como profissão, a administração compreende a elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitragens e laudos em que se exija a aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas de organização, tais como pesquisas, estudos, análises, interpretação, planejamento, implantação, coordenação e controle dos trabalhos nos campos de administração geral, como: administração e seleção de pessoal; organização; análise; métodos e programas de trabalho; orçamento; administração de material e financeira; administração mercadológica; administração de produção; relações industriais; e outros campos correlatos. Vamos então entender como se deu toda a formação do sistema de gestão que usamos hoje. Antigamente, o poder econômico e o político estavam concentrados nas mãos do clero, isso porque a Igreja era a maior detentora de terras do período; quem tinha terras, tinha poder. Naquela época, os camponeses podiam usar as terras da Igreja em troca de um pagamento mensal, que era feito através de mercadorias. Segundo Chiavenato (2003b), se o camponês plantava mandioca, parte de sua colheita ia para o clero como forma de pagamento pelo uso das terras. Porém, com o tempo e o crescimento acelerado da população, a produção manufatureira de alimentos passou a não ser mais suficiente para subsistência dos camponeses, tampouco da população que vivia na cidade, e o clero aumentava, cada vez mais, as taxas sobre o uso das terras. O descontentamento era geral, e todos achavam que essa situação não podia continuar. 12 Unidade I Figura 1 – Camponeses e produção de subsistência Disponível em: https://bit.ly/3vU60hd. Acesso em: 11 maio 2021. Nesse período, cercado de fome e miséria, os camponeses começaram a abandonar as zonas rurais. Eles migravam para as cidades que começavam a se desenvolver porque ofertavam emprego. Essa migração ficou conhecida como êxodo rural. Desse modo, menos gente utilizava as terras da Igreja. Nesse contexto, ter terras, mas não ter os métodos de produção, fez com que o clero começasse a perder seu poder para a burguesia, camada social que detinha as ferramentas industriais necessárias para a produção. Com a chegada da mão de obra nas cidades, a burguesia passou a ter os meios de produção e a mão de obra necessária para aumentar sua produtividade, e, após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial (século XVIII), sua influência econômica cresceu de modo expressivo, e a burguesia passou a ser detentora dos poderes econômicos e políticos da sociedade da época, consolidando o que chamamos de revolução burguesa. No decorrer dos séculos XVI e XVII, a burguesia desenvolveu-se, graças à ampliação da produção de mercadorias e das práticas do mercantilismo, que auxiliaram no processo de acumulação de capitais (CHIAVENATO, 2003b). A partir das revoluções burguesas, o consumo começou a aumentar, e a produção manual já não era mais suficiente para atender às necessidades sociais (e de lucro da classe dominante); foi por essa razão que surgiram as revoluções industriais. O primeiro período de gestão é datado de 1780 a 1860 e foi denominado revolução do carvão, uma vez que tinha justamente o carvão como principal fonte de energia e o ferro como matéria-prima básica do sistema de produção. Foi nesse período, fase de transformação de pequenas oficinas em fábricas e o início dos estudos da administração, que surgiu a abordagemclássica da administração. Seu principal foco era a especialização da mão de obra como forma de aumentar a produção de mercadorias. 13 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Figura 2 – A Revolução Industrial consolidou o modelo fabril de produção Disponível em: https://bit.ly/3y2Xrm3. Acesso em: 11 maio 2021. O setor produtivo, com o intuito de aumentar a eficiência na produção, desenvolveu o modelo de produção focado na especialização da mão de obra, reduzindo a liberdade de ação dos trabalhadores e exercendo um maior controle do processo de produção. O segundo período, compreendido entre 1860 e 1914, trouxe a eletricidade e os derivados de petróleo como as principais fontes de energia, e o aço foi a principal matéria-prima desse período (CHIAVENATO, 2003b). O autor aponta ainda o aumento considerável da produção de bens de consumo como resultado do avanço da especialização da mão de obra e do surgimento de grandes empresas (Siemens, Dupont, Procter & Gamble etc.). Observação Não confunda revoluções industriais com revoluções burguesas. A Revolução Francesa teve forte cunho social. A Revolução Industrial, por sua vez, foi um movimento de caráter econômico. No fim dos anos 1880, nos EUA, uma máquina já podia fabricar 120 mil cigarros por dia: trinta dessas máquinas bastavam para saturar o mercado nacional. Máquinas automáticas permitiam que 75 operários produzissem todos os dias 2 milhões de caixas de fósforos. A “Procter & Gamble fabricava 200 mil sabonetes Ivory por dia” (LIPOVETSKY, 2008, p. 27). Assim, essa fase da Revolução Industrial é marcada pela expansão da produtividade de bens e pelo surgimento do consumo em massa. Um bom exemplo para tratar do crescimento de produção e de consumo é o setor de automóveis. Nesse período iniciou-se o consumo em massa. A segunda revolução industrial foi um marco para o transporte mundial, pois foi nesse período que se intensificaram o uso do motor a combustão e a ampliação da rede ferroviária, bem como o surgimento do avião (1906). Com a ampliação das ferrovias para escoamento da produção a distâncias mais longas e a consolidação de outros meios de transportes, a exemplo dos navios, permitiu-se também o transporte de pessoas. Graças à linha de montagem móvel, o tempo de trabalho necessário à montagem de “um chassi modelo T da Ford passou de 12 horas e 28 minutos, em 1910, para 1 hora e 33 minutos, em 1914. A fábrica da Highland Park colocava à venda mil carros por dia” (LIPOVETSKY, 2008, p. 27). 14 Unidade I Já a terceira fase da evolução da gestão, de acordo com Maximiano (2000a), aborda a transformação na dinâmica de comunicação como elemento de mudança no ambiente dos negócios e para a sociedade. Essa nova dinâmica comunicacional, com suas diversas interfaces – telefone, rádio, televisão, livro, internet, fax etc. –, interfere intensamente na educação, na saúde, no lazer, na família, na produção de bens e serviços e esfera na política, entre outros setores, ocasionando mudanças sociais e econômicas avassaladoras. A partir dessa afirmação, poderíamos comparar o período de transformação de que participamos com o deslocamento econômico do período agrário para o industrial. A exigência de novos parâmetros para convivermos nesse ambiente tecnológico, carregado de novos códigos e linguagens no processo de comunicação, é similar à ruptura que milhares de pessoas experimentaram ao abandonar as zonas rurais de plantio familiar para viver em regiões urbanas, sob a sedução do consumo de bens e serviços do século XIX. Maria Lucia Santaella, por exemplo, ao tratar do pós-moderno, lembra que, “da mesma maneira que a Revolução Industrial marcou o advento do modernismo, pode-se dizer que a pós-modernidade está marcada pela revolução eletrônica” (SANTAELLA, 1996, p. 108). Essas transformações tecnológicas e comunicacionais estão mudando toda a dinâmica social, cultural e econômica. Com as revoluções industriais, o capitalismo se consolidou como modelo econômico no mundo. Então surgiu a administração moderna, ocasionada por dois principais fatores: o crescimento acelerado e desorganizado das empresas, que passaram a exigir uma administração científica capaz de substituir o empirismo, e a improvisação e a necessidade de maior eficiência e produtividade das empresas, para enfrentar a intensa concorrência e competição no mercado, como apontam os estudos de Maximiano (2000a). No início do século XX, o engenheiro americano Frederick W. Taylor ganhou destaque; ele apresentou os princípios da administração científica e propôs o estudo da administração como ciência. Figura 3 – Consumo é uma das máximas do capitalismo Disponível em: https://bit.ly/3uETK3X. Acesso em: 11 maio 2021. 15 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO A Revolução Industrial é um período que essencialmente mudou nossa sociedade e economia. O termo desenvolvimento pode parecer indicar algum atraso no contexto de uma “revolução”, o que realmente significa uma mudança rápida e fundamental, mas não há dúvida de que grandes alterações ocorreram dentro de um período relativamente curto. Indústrias surgiram e substituíram as oficinas, o artesanato em pequena escala e os estúdios. As fábricas de tecido e de cerâmica foram as primeiras a se consolidarem, e uma nova infraestrutura de canais e linhas ferroviárias possibilitou uma distribuição eficiente. Desde o primeiro tear mecânico, datado de 1784, podemos distinguir quatro estágios no processo contínuo denominado Revolução Industrial. Isso é a forma como o vemos atualmente. A primeira “aceleração” ocorreu no final do século XVIII: produção mecânica com base na água e no vapor. A segunda revolução industrial consolidou-se no início do século XX: a introdução da correia transportadora e da produção em massa, aspectos ligados aos ícones Henry Ford e Frederick Taylor. A terceira revolução envolve a automação digital da produção por meio da eletrônica, e foi desta que se originou a quarta revolução. A quarta revolução está relacionada ao que é chamado de fábrica inteligente. Em uma fábrica inteligente, uma cópia virtual do mundo físico e a tomada de decisão descentralizada podem ser desenvolvidos. Além disso, sistemas físicos podem cooperar e se comunicar uns com os outros e com humanos em tempo real, tudo habilitado pela IoT (internet das coisas) e pelos serviços relacionados. É na quarta revolução que surge o conceito sobre a indústria 4.0. O debate sobre a indústria 4.0 e seu impacto global vem crescendo rapidamente devido a intensas discussões sobre digitalização, IoT e conhecimento inteligente e sistemas. O debate é movido pela incerteza sobre a melhor maneira de explorar o ritmo acelerado da inovação tecnológica para melhorar vários aspectos da vida humana. Atualmente, nós estamos na quarta etapa, que se caracteriza pelos chamados sistemas ciberfísicos (SCF). Esses sistemas são uma consequência da integração de longo alcance de produção, sustentabilidade e satisfação do cliente, formando a base de sistemas e processos de rede inteligente. O chão das fábricas já está repleto de “coisas” da internet. Nesse contexto, pode-se pensar em microprocessadores, que são os cérebros de dispositivos e sistemas digitais. Mas a enorme aceleração da indústria na internet vem do crescimento explosivo de dispositivos digitais. Câmeras de vídeo, leitores de RFID, tablets, ingressos etc. melhoram a qualidade, a eficiência e a segurança de produção e operações de processo. É uma transformação significativa de toda a produção industrial pela fusão digital e tecnologias de internet para a indústria convencional. Está se tornando mais fácil conectar aparelhos, máquinas, coisas, fábricas completas e outros ambientes e processos industriais para a internet. Todos visam ao desenvolvimento de uma indústria para lançar produtos mais rapidamente, a fim de aumentar a flexibilidade e a eficiência dos recursos por meio da digitalização. Os processos organizacionais se comunicam usando aIoT, cooperando em tempo real uns com os outros e com os recursos humanos. O armazenamento e o processamento de informações ocorrem por meio da computação em nuvem. As principais características da indústria 4.0 são: 16 Unidade I • Descentralização: acabou o modelo de gestão centralizada. A tecnologia permite a descentralização da gestão e maior autonomia possível na realização das atividades. • Virtualização: o uso da tecnologia possibilita a virtualização de modelos para simular e monitorar o processo produtivo da organização. • Tempo real: análises feitas em tempo real graças à alta tecnologia, que possibilita o rápido processamento de dados e informações obtidos. • Interoperabilidade: envolve aspectos como computação em nuvem, robôs, IoT e o ser humano. A integração entre todos esses elementos é ponto de destaque da revolução 4.0. • Modularidade: flexibilidade, capacidade de rápidas mudanças, descentralização de decisões e customização de produtos exigem que as organizações expandam módulos individuais na revolução 4.0. Observe a seguir os benefícios da indústria 4.0: • Tempo: cada funcionário se torna mais eficiente ao trabalhar de forma otimizada e integrada no processo. • Custo: a modernização e a digitalização dos processos geram redução de desperdícios e, consequentemente, redução de custos. • Flexibilidade: a revolução 4.0 se caracteriza pela flexibilidade, mudanças e novas oportunidades. • Integração: a manufatura digital envolve o desenvolvimento simultâneo do produto e do processo de produção. As empresas reduzem 80% do tempo de produção ao usarem validação digital. • Fábrica digital: permite a otimização de todas as fases do ciclo de vida do produto. As simulações virtuais de design e funcionalidade, desenvolvidas em paralelo ao planejamento, levam a um lançamento de mercado muito mais rápido, à redução significativa de custos e à maior qualidade. O futuro do trabalho tradicional será seriamente influenciado pela Indústria 4.0. As habilidades exigidas nas fábricas do futuro serão diferentes das atuais. Muitas atividades de hoje feitas manuseando máquinas de produção, posicionamento de precisão, montagem, qualidade e inspeção serão feitas por robôs, pois estes se comunicam perfeitamente com sistemas de decisão e controle. O mercado de trabalho vai mudar, mas é difícil prever se haverá mais ou menos empregos no geral. Os robôs ainda estão no início e não podem substituir as pessoas em todas as atividades. Por outro lado, a taxa de retorno do investimento em uma fábrica totalmente automatizada não é atraente agora. Todas as previsões são baseadas em dados históricos, mas as tecnologias exponenciais são completamente novas, então o efeito da evolução e do uso em grande escala é difícil de prever. 17 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Produção manual passa a ser mecanizada Trabalho assalariado Uso do carvão e do vapor 1ª Industrialização se expande pelo mundo Produção em massa Uso de energia elétrica e derivados de petróleo 2ª Revolução da informação Avanço tecnológico e científico Chegada das telecomunicações 3ª Surgimento de novos sistemas com base na revolução digital Uso da tecnologia nas indústrias Modificação dos processos produtivos 4ª Figura 4 – Resumo das quatro revoluções industriais Saiba mais Quer saber mais sobre um comparativo entre as quatro revoluções que estudamos até aqui? Assista ao vídeo indicado a seguir: INDÚSTRIA 4.0: a quarta revolução industrial. 2017. 1 vídeo. (3m45s). Publicado por Edson Gestão Sustentável. Disponível em: https://bit.ly/3tGQ3cH. Acesso em: 12 maio 2021. 1.1 Modelo fordista de produção A segunda revolução industrial foi muito marcada pelo surgimento do modelo fordista de produção. Esse “modelo implantou uma linha de montagem móvel e em massa”, conforme visto nos estudos da segunda revolução industrial (LIPOVETSKY, 2008, p. 27). O fordismo foi um modelo de produção em massa que surgiu nos EUA nos primeiros anos do século XIX na fábrica de automóveis de Henry Ford, em Highland Park. Embora não haja dúvida de que foi uma mudança revolucionária nos métodos de fabricação, o modelo de produção em massa da Ford foi construído pautando-se nos avanços anteriores nos métodos de fabricação, em particular no trabalho de Taylor sobre gestão científica (tema que estudaremos mais adiante), uma divisão técnica detalhada do trabalho no processo de produção e a medição precisa do tempo necessário para os trabalhadores realizarem uma tarefa específica em uma linha de produção. A produção em massa é baseada na venda de produtos padronizados de baixo custo em grandes mercados homogêneos. Quando inicialmente introduzido na produção de automóveis pela Ford, 18 Unidade I esse modelo levou a aumentos dramáticos na produtividade do trabalho. O tempo de trabalho necessário para produzir um Ford modelo T caiu de 12 horas e 8 minutos em outubro de 1913 para 1 hora e 30 minutos em apenas seis meses. A produção em massa, portanto, conferia grande vantagem competitiva, mas exigia que os trabalhadores se organizassem e trabalhassem de maneiras específicas, baseadas na separação do trabalho mental do manual, na extrema especialização das tarefas e em uma profunda divisão técnica do trabalho no local atuação. Os trabalhadores normalmente executavam tarefas simples, repetitivas e sem qualificação, com ciclos de trabalho-tarefa muito curtos (geralmente definidos em segundos) na linha de produção. A linha de movimentação entregava materiais a eles em velocidades determinadas pela administração. Os aumentos na produtividade do trabalho eram alcançados através do aumento da velocidade da linha devido às decisões gerenciais. O modelo fordista está equilibrado em três pilares: • Princípio da intensificação: consiste em diminuir o tempo de produção com o emprego imediato dos equipamentos e da matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado. • Princípio da economicidade: significa reduzir ao mínimo o volume do estoque da matéria-prima em transformação. • Princípio de produtividade: consiste em aumentar a capacidade de produção do homem no mesmo período através da especialização da linha de montagem. Princípios derivados de abordagens fordistas para a produção foram traduzidos em retrabalhados e, até certo ponto, estendidos dentro de uma ampla gama de atividades de serviço de rotina, incluindo o setor de fast-food, call centers e outras atividades que envolvem o processamento de grandes quantidades de dados e/ou papel ou lidando com consultas de clientes. Figura 5 – Modelo Ford que deu origem ao sistema fordista de produção Disponível em: https://bit.ly/3v6Hskk. Acesso em: 11 maio 2021. 19 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Observação Note que a diminuição dos preços no modelo fordista veio acompanhada pela queda na qualidade dos produtos fabricados. Provocou um crescimento econômico sem precedentes e permitiu a criação das sociedades de bem-estar social nesses países. Esse se tornaria o modelo de gestão da segunda revolução industrial e perduraria até meados da década de 1960. Esse sistema de produção em massa, denominado linha de produção, constituía-se em linhas de montagem semiautomáticas, possibilitadas pelos pesados investimentos para o desenvolvimento de maquinários e instalações industriais. Destacaram-se a implantação das esteiras rolantes, que levavam parte do produto a ser fabricado até os funcionários, que passaram a realizar trabalhos extremamente desgastantes e repetitivos. O modelo fordista de produção nasceu na segunda revolução industrial, e começou a entrar em declínio na década de 1960, com o surgimento do modelo desenvolvido pela General Motors (GM). Esse novo modelo de produção, além de promover flexibilização para a linha produtiva, trouxe novos modelos de carros e cores variadas, diferentemente da empresa de Henry Ford, que apenas montava veículos de cores pretas (Ford dizia: “todos podem ter o carro da cor quedesejarem, desde que ele seja preto”). Foi a partir de então que a GM ultrapassou a Ford e tornou-se a maior montadora automobilística do mundo. Todavia, o modelo da GM não durou tanto quanto o modelo fordista, e já na década de 1970 surgiu no Japão o modelo toytista de produção e gestão. Lembrete O mercado de trabalho vai mudar, mas é difícil prever se haverá mais ou menos empregos no geral. 1.2 Modelo toyotista O toyotismo é um modo de produção em cadeia que substituiu o fordismo nos primeiros anos da década de 1970, sendo desenvolvido por Eiji Toyoda. Para entender o conceito, portanto, é necessário saber qual a ideia de cadeia produtiva. O processo oriental para cadeia produtiva é usar uma linha de montagem na qual cada trabalhador desempenha uma única função sem se deslocar, eliminando o tempo de inatividade e favorecendo a especialização. O toyotismo evita as ações que não são necessárias. Com base no preceito de just in time (ou “na hora certa”, em português), o toyotismo busca produzir apenas o que se precisa e no momento exato. Com isso, o trabalho fica mais flexível e a mecanização perde preponderância. 20 Unidade I Em outras palavras: enquanto o fordismo visava produzir e armazenar mercadorias em massa, a Toyota tentava começar a produzir quando a mercadoria já estava vendida. Ou seja, o pedido era recebido primeiro, e depois vinha a produção. Para que o mecanismo funcione, é fundamental evitar atrasos (por burocracia, erros, danos a equipamentos, etc.). O toyotismo foi um dos pilares do sistema de produção no Japão e, após a primeira crise do petróleo, aos poucos foi substituindo o fordismo como referência da cadeia produtiva. De fato, a flexibilidade da Toyota apresentou diversas vantagens sobre o fordismo. Houve aumento da produtividade em relação aos métodos até então utilizados, tanto aqueles que geravam pontos mortos na cadeia – por manter vários funcionários inativos ciclicamente – como aqueles que optavam por um trabalho sem descanso, afinal, a ideia era ocupar cada funcionário até o último segundo de cada turno com a produção especializada. Esse modelo de produção em cadeia japonesa foi responsável pelo avanço da indústria no país, que passou de um estado de subdesenvolvimento a uma posição de potência mundial em poucas décadas. Em sua essência estão alguns princípios que conseguiram reverter a crise prevalecente no fordismo: • Rotação constante de trabalhadores para ocupar funções diversas e uma grande flexibilidade. • Promover o trabalho em equipe em vez da atividade isolada, para melhorar o desempenho por meio do incentivo decorrente do intercâmbio e do enriquecimento do aprendizado de outros. • O sistema just in time, mencionado anteriormente, conseguiu reavaliar a relação entre o tempo necessário para produzir um artigo e sua circulação. Além disso, a armazenagem de matéria-prima não era mais necessária, pois essa forma de produção fica sempre perto do estoque, o que também reduz os custos necessários para armazenar mercadorias. • Os preços dos produtos podiam ser reduzidos devido à economia no processo de fabricação, o que aumentava as vendas, pois atingia as classes sociais com menor renda. Uma das características do toyotismo é a produção de pequenos lotes. A quantidade de trabalho realizado em cada etapa do processo é ditada apenas pela demanda de materiais da próxima etapa imediata. Isso reduz os custos de manutenção de estoque e os tempos de entrega. Observe a seguir os aspectos relevantes do toyotismo: • Sistema produtivo pautado na simplicidade: o processo produtivo não deve ter paradas. A continuidade do processo pode ser feita através do fluxo constante de matérias-primas para a linha de produção. Isso pode ser alcançado quando há um rápido fluxo de matéria-prima para o produto acabado. • Identificação de pontos passíveis de melhorias: a finalidade da identificação desses gaps é o fluxo constante de matéria-prima e maximização do valor agregado. 21 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO • Melhoria contínua: um aspecto essencial do toyotismo é a busca por constantes aprimoramentos de seus processos produtivos. Reduzir o desperdício Busca pela eficiência Diminuir custos Flexibilização da produção Vantagens Figura 6 – Vantagens do toyotismo De forma geral, o toyotismo advém da intensificação do trabalho e da concentração de capital, que, assim como o modelo fordista, mantém a divisão do trabalho, embora em bases mais amplas. Se no fordismo as tarefas foram desmembradas em movimentos simples e rotineiros, no toyotismo a divisão foi feita em frações de trabalho, com a atribuição de responsabilidades aos grupos, que cumprem um conjunto de tarefas específicas. Devido à necessidade de maior flexibilidade e reação mais rápida às mudanças nas demandas do mercado, descentralização da tomada de decisões e o achatamento das hierarquias gerenciais, o toyotismo se consolidou como um sistema de produção muito vantajoso. Focos do modelo toytista: • just in time; • lead time; • kanban; • cicle time; • kaizen; • elaboração de planejamento estratégico (EPE); • jidoka; • cultura organizacional; • integração com sindicato; • pokayoke; • programa 5 S; 22 Unidade I • heijunka; • autonomia; • círculos de controle de qualidade (CCQ); • total productive maintenance (TPM); • fazer uma única vez. Exemplo de aplicação Quer ter uma noção do quanto o conceito de qualidade norteia o modelo de produção japonês? Acesse sites de reclamações de consumidores e faça um comparativo de número de reclamações entre as marcas japonesas e as marcas americanas. 2 CONCEITOS GERAIS DA ADMINISTRAÇÃO Neste tópico, um dos objetivos é esclarecer o que significa administrar, sabendo-se que existem várias possíveis definições para essa tarefa. Almeja-se mostrar que a administração, mesmo tendo existido sempre, foi se transformando ao longo do tempo e que o conceito de ciência que ela tem hoje não apareceu por acaso, mas foi fruto da influência de diferentes atividades humanas. Vamos apresentar e definir as ênfases que as várias correntes teóricas estudaram e em torno das quais se estruturou a administração e o que é organização, uma vez que nosso curso tem como função estudar a administração para uso nas organizações. E, dentro desse contexto, serão acentuados alguns aspectos que caracterizam o administrador, bem como os papéis que pode representar no cenário organizacional. Além disso, ao discutir o conceito de paradigmas, vamos mostrar a importância de se ter uma mente aberta para as possíveis diferenças e para as inevitáveis mudanças relacionadas com a administração. Exemplificaremos, por meio das várias abordagens administrativas existentes e de sua classificação histórica, que cada abordagem nova tem sido um paradigma novo, desde o nascimento da administração como ciência até os dias de hoje. Observação Segundo Houaiss (2001, p. 817), o contexto é a “inter-relação de circunstâncias que acompanham um fato ou uma situação”. Para a ação do administrador, o contexto é a organização, com todas as suas inter-relações. Por sua vez, conceitos administrativos são seus meios para poder agir. 23 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO 2.1 O que é administrar: as várias visões Iniciemos nosso estudo com a seguinte pergunta: o que significa administrar? Como resultado dos vários paradigmas que nortearam os estudos da administração, várias são as maneiras como ela foi e é percebida. Apenas como um estímulo a possíveis discussões, vale a seguinte questão: a administração poderia ser definida como uma ciência, como uma técnica ou como uma arte? Com o propósito de enriquecer nossa visão, apresentaremos, a seguir, algumas dessas definições. Administrar é resolver problemas Sim, essa é uma das definições mais diretas do que seja administrar: é resolver problemas! Uma vez exercendo sua profissão, o administrador sempre estará às voltas com problemas e buscando as suas soluções. Isso é sinônimode tomar decisões. Em outras palavras, ele precisa desenvolver ao extremo a sua capacidade de tomar decisões, pois essa é a habilidade mais exigida de um administrador. Para ter sucesso, isto é, para que suas decisões sejam adequadas ao momento em que estiver atuando, você precisa estar bastante atento e com a mente aberta. Ao longo de toda a história humana, todos aqueles que tiveram responsabilidades em suas organizações precisaram decidir sobre o que e sobre como fazer as coisas. Esse esforço, que corresponde ao processo decisório, será apresentado no capítulo correspondente ao processo de planejamento. Contudo, na verdade, é a aplicação de todo o processo administrativo. Observação Os conflitos são inerentes em qualquer tipo de relacionamento existente entre as pessoas. Quando se fala de conflitos dentro do ambiente corporativo, esse componente ganha uma maior gravidade, pois acaba influenciando o resultado final de toda a empresa. O profissional de gestão deve gerenciar os conflitos buscando a solução mais breve e causando os menores imapctos. Administrar é fazer as coisas por meio das pessoas O administrador, na verdade, não executa as tarefas para conseguir o que a organização espera dele: quem faz isso é a sua equipe. Se agir assim, será um executor, e não um gerente. Dessa forma, cabe ao administrador conduzir sua equipe, da melhor maneira possível, para que esta consiga os resultados que precisam ser atingidos. Em outras palavras, esse é o “problema” básico do administrador: definir bem os objetivos (o quê), a maneira de realizá-los (como) e energizar a sua 24 Unidade I equipe para isso. O verdadeiro administrador não faz, mas potencializa sua equipe para fazer (essa é a tradução do conceito de empowerment, ou energização, vital para o gerenciamento de pessoas). Essa é a principal tarefa do processo de direção, mas que, também, na verdade, é a aplicação de todo o processo administrativo. Administrar é ser eficaz com a maior eficiência possível Pode-se entender que toda organização, por meio de processos executados por suas pessoas, sempre produz alguma coisa: ou algum bem, ou serviço ou uma combinação dos dois. Para tanto, seus objetivos (o que ou aquilo que decidiu fazer) devem estar definidos claramente. Esses objetivos, bem como alcançá-los, têm a ver com a eficácia organizacional. Outro grande problema administrativo é estabelecer a maneira a ser utilizada para conseguir essa eficácia, o como. Essa questão trata da eficiência. Administrar é saber combinar adequadamente esses dois conceitos. Portanto, não basta ser eficaz, é preciso ter a maior eficiência possível. Stoner e Freeman (1985) definem o desempenho do administrador e da organização assim: Para uma organização ser bem-sucedida em alcançar seus objetivos, satisfazer suas responsabilidades sociais, ou ambas as coisas, ela depende dos administradores. Se os administradores fazem bem seu trabalho, a organização provavelmente atingirá suas metas. E se as grandes organizações de uma nação realizam seus objetivos, a nação como um todo irá prosperar. O sucesso econômico do Japão é uma evidência clara deste fato. A aplicação do trabalho dos administradores (do desempenho gerencial) e do desempenho organizacional (o trabalho das organizações) são temas de muitos debates, análises e confusão nos Estados Unidos e em outros países. Assim, discutiremos muitos critérios e concepções diferentes para avaliar os administradores e as organizações. Servindo de base a muitas dessas discussões estão dois conceitos sugeridos por Peter Drucker, um dos mais respeitados autores que escrevem sobre administração: eficiência e eficácia. Ele define eficiência como “fazer certo as coisas”, e eficácia como “fazer a coisa certa” (STONER; FREEMAN, 1985, p. 5). Assim, para esses autores, o “desempenho do administrador é a medida de quão eficiente e eficaz é o administrador, e da competência com que ele determina e alcança os objetivos apropriados” (STONER; FREEMAN, 1985, p. 5). Para que entendamos essa definição, observe o que os autores afirmam: 25 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO A eficiência – a capacidade de fazer certo as coisas – é um conceito de “insumo-produto”. Um administrador eficiente é aquele que obtém produtos, ou resultados, à altura dos insumos (trabalho, materiais e tempo) usados para alcançá-los. Os administradores que conseguem minimizar o custo dos recursos necessários para alcançar os objetivos estão agindo com eficiência. A eficácia, em contraste, implica escolher os objetivos certos. Um administrador que seleciona um objetivo inadequado – digamos, produzindo carros grandes quando cresce a demanda por carros pequenos – é um administrador ineficaz, mesmo que os carros grandes sejam produzidos com o máximo de eficiência. Nenhuma quantidade de eficiência pode substituir a falta de eficácia. Na verdade, diz Drucker, a eficácia é a chave para o sucesso de uma organização. Assim, antes de podermos focalizar a eficiência, precisamos descobrir quais são as coisas certas a fazer (STONER; FREEMAN, 1985, p. 5). Outro autor, Certo (2003), assim define esses mesmos conceitos: Eficácia administrativa [...] Quanto mais próxima de alcançar suas metas está uma empresa, mais eficazes são considerados seus administradores. Portanto, a eficácia administrativa é uma atitude contínua que vai da ineficácia à eficácia. Eficiência administrativa: é a parte do total dos recursos de uma empresa que contribui para a produtividade durante o processo de produção. Quanto maior essa parte, mais eficiente é o administrador. Quanto mais recursos forem desperdiçados ou não utilizados durante o processo de produção, mais ineficiente é o administrador. Nesse caso, os recursos da empresa se referem não apenas às matérias-primas utilizadas na fabricação de produtos ou serviços, mas também aos esforços humanos relacionados a esse processo. Assim como a eficácia administrativa, eficiência administrativa é bem descrita como uma atitude contínua, que varia da ineficiência à eficiência. Ineficiência significa que uma parte muito pequena do total de recursos contribui para a produtividade durante o processo de fabricação, eficiência significa que uma grande parte desses recursos contribui para a produtividade (CERTO, 2003, p. 8). Certo (2003) explica, na figura a seguir, como esses conceitos se relacionam: 26 Unidade I Alcance das metas Us o do s re cu rs os Eficiente (a maioria dos recursos contribui para a produção) Sem alcançar metas e sem desperdiçar recursos Alcançando metas sem desperdiçar recursos Ineficiente (poucos recursos contribuem para a produção) Sem alcançar metas e desperdiçando recursos Alcançando metas e desperdiçando recursos Ineficaz (pouco avanço em direção às metas da empresa) Eficaz (avanço substancial em direção às metas da empresa) Figura 7 – Várias combinações entre eficácia e eficiência administrativa Administrar é realizar o processo administrativo (PA) Realizar o processo administrativo e administrar são sinônimos, pois é isso que o administrador deve fazer, em essência. Existem diferentes verbos, utilizados por autores diversos, que representam esses componentes do processo administrativo. Por exemplo, Chiavenato (2003a), Griffin (2007) e Hampton (1992), entre outros, consideram que o processo administrativo é composto pelas seguintes funções: planejar, organizar, dirigir e controlar. Outra forma de definir o processo administrativo é por meio dos substantivos, e não dos verbos: “é a interação das funções planejamento, organização, direção e controle”. Para Stoner e Freeman (1985), administrar é o processo de planejar, organizar, liderar e controlar o trabalho dos membros da organização e de usar todos os seus recursos disponíveis para conquistar os objetivos estabelecidos. Dessa maneira, Stoner e Freeman (1985) substituem o verbo dirigir por liderar e todas as funções mantêm relações mútuas comtodas as outras, de forma que qualquer ação de uma delas afeta as demais. Griffin (2007) também considera a liderança no lugar da direção e descreve no que consiste cada uma das quatro funções do processo administrativo: 27 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO O processo da administração A administração envolve quatro atividades básicas: planejamento e tomada de decisão, organização, liderança e controle. Embora exista uma lógica básica para descrever tais atividades nessa sequência (conforme indicado pelas setas contínuas), a maior parte dos administradores se envolve em mais de uma atividade por vez, movendo-se para frente e para trás de maneiras imprevisíveis (como indicado pelas setas tracejadas). Organização Determinação da melhor maneira de agrupar atividades e recursos. Planejamento e tomada de decisão Estabelecimento dos objetivos da empresa e da melhor maneira de atingi-los. Controle Monitoração e correção de atividades em andamento para facilitar a consecução dos objetivos. Liderança Motivar membros da organização para trabalhar de acordo com os melhores interesses da empresa. Figura 8 – O processo de administração Adaptada de: Chiavenato (2003a). Certo (2003) substitui o verbo dirigir da maioria dos autores (ou o liderar, de Stoner e Freeman) por influenciar. Veremos, posteriormente, o estudo detalhado do processo administrativo. Ao estudar essas quatro definições – administrar é resolver problemas, administrar é fazer as coisas por meio das pessoas, administrar é ser eficaz com a maior eficiência possível e administrar é realizar o processo administrativo –, podemos notar a grande riqueza conceitual que envolve os vários aspectos da administração. Finalizando, apresentamos o que Certo (2003) diz a respeito da definição de administração: Os estudantes de administração devem atentar para o fato de que esse termo pode ser, e quase sempre é, empregado de diferentes maneiras. Pode se referir, por exemplo, simplesmente ao processo que os gerentes executam para alcançar os objetivos da empresa. Pode também fazer referência a um conjunto de conhecimentos; nesse sentido, administração é um conjunto de 28 Unidade I informações acumuladas que fornece noções de como administrar. O termo administração pode também se referir às pessoas que lideram e dirigem empresas ou a uma carreira dedicada à tarefa de liderar e dirigir empresas. A compreensão das diversas utilizações e definições do termo o ajudará a evitar problemas de comunicação durante discussões acerca de termos relacionados à administração. Na maioria das vezes em que aparece neste livro, administração é o processo que permite alcançar as metas de uma empresa, fazendo uso do trabalho com e por meio de pessoas e outros recursos da empresa. Uma comparação entre essa definição e as definições fornecidas por vários pensadores contemporâneos sobre administração mostra que existe um alto grau de concorrência e que a administração possui as três principais características relacionadas a seguir: • É um processo ou uma série de atividades contínuas e relacionadas. • Implica alcançar os objetivos da empresa e se concentra nisso. • Alcança esses objetivos fazendo uso do trabalho com e por meio de pessoas e outros recursos da empresa (CERTO, 2003, p. 5). Embora com possíveis variações entre a visão dos autores sobre a administração, Certo (2003) pode ser citado para encerrar essa questão, quando fala da universalidade da administração: Os princípios da administração são universais, isto é, aplicam-se a todos os tipos de empresas (negócios, igrejas, associações, equipes de atletas, hospitais e assim por diante) e níveis organizacionais. Naturalmente, as funções dos gerentes variam um pouco de uma empresa para outra, porque cada tipo de organização requer o emprego de conhecimentos especializados, possui um ambiente político de trabalho único e utiliza diferentes tecnologias. Entretanto, há semelhanças de funções em diferentes empresas, porque as atividades básicas da gerência – planejamento, organização, influência e controle – são comuns a todas as organizações (CERTO, 2003, p. 9). 3 AS INFLUÊNCIAS SOBRE A ADMINISTRAÇÃO O ato de administrar, como qualquer outra ação humana, é produto das influências que recebe do meio em que acontece. Ao longo da evolução histórica, a administração não teve comportamento diferente: mesmo antes de ser estudada como uma ciência, a sua prática sempre foi resultado de como a humanidade percebeu o mundo ao seu redor e de como aplicou essa percepção. 29 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Chiavenato (2003a) cita que a administração recebeu influências dos filósofos, da organização eclesiástica, da organização militar, da Revolução Industrial, dos economistas liberais e dos pioneiros e empreendedores. A influência dos filósofos Chiavenato (2003a) relaciona os seguintes nomes, que, de algum modo, mencionaram ou estudaram a administração e as organizações: Sócrates, Platão, Aristóteles, Francis Bacon, René Descartes, Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, Karl Marx e Friedrich Engels. Ele enfatiza que a administração recebeu duas profundas e marcantes influências. Uma delas veio da física tradicional de Isaac Newton: a tendência à exatidão e ao determinismo matemático. A outra veio de René Descartes e seu método cartesiano: a tendência à análise e divisão do trabalho. Essas duas influências definiram os rumos da administração até a década de 1990 (CHIAVENATO, 2003a, p. 31). A influência da Igreja Católica O autor apresenta dois aspectos: a unidade de propósitos e princípios, fundamentais tanto na organização religiosa quanto na militar, e a estrutura da organização religiosa, na qual uma só pessoa – o papa – pode operar e comandar uma organização de porte mundial. A influência da organização militar Originou-se de fatores como o desenvolvimento da organização linear, de táticas e manobras, de estratégias, da criação dos conceitos de staff como assessoria à centralização do comando e de linha, cuidando da execução descentralizada. Além disso, baseia-se no princípio de direção, que preceitua que todo soldado deve saber perfeitamente o que se espera dele e o que ele deve fazer, assim como os princípios da disciplina e do planejamento. A influência da Revolução Industrial A primeira revolução industrial ocorreu de 1780 a 1860, com base na revolução do ferro e do carvão. Caracterizou-se por meio de quatro fases: mecanização da indústria e da agricultura; aplicação da força motriz à indústria; desenvolvimento do sistema fabril; e espetacular aceleração dos transportes e das comunicações. Em seguida, de 1860 a 1914, ocorreu a segunda revolução industrial, baseada no aço e na eletricidade. 30 Unidade I Para Chiavenato (2003a, p. 35-36), a organização e a empresa moderna nasceram com a Revolução Industrial, graças a vários fatores, tais como: 1) a ruptura das estruturas corporativas da Idade Média; 2) o avanço tecnológico e a aplicação dos processos científicos à produção, a descoberta de novas formas de energia e a enorme ampliação de mercados, e 3) a substituição do tipo artesanal por um tipo industrial de produção. O autor ainda afirma que: O início da história da administração foi predominantemente uma história de cidades, de países, de governantes, exércitos e da Igreja. A Revolução Industrial provocou o surgimento das fábricas e o aparecimento da empresa industrial, e, com isso, provocou as seguintes mudanças de época: – substituição do artesão pelo operário especializado; – crescimento das cidades e aumento da necessidade de administração pública; – surgimento dos sindicatos como organização proletária a partir do início do século XIX. Somente a partir de 1890 alguns deles foram legalizados; – início do marxismo em função da exploração capitalista; – doutrina social da Igreja para contrabalançar o conflito entre capital e trabalho; – primeiras experiências sobre administraçãode empresas; – consolidação da administração como área de conhecimento; – início da era industrial, que se prolongou até a última década do século XX (CHIAVENATO, 2003a, p. 35-36). A influência dos economistas liberais Os estudos econômicos, que desde o século XVII já vinham desenvolvendo teorias para explicar os fenômenos empresariais, evoluíram, passando pelo liberalismo, pelo socialismo científico e pelo materialismo histórico, que obrigaram a construção de vários conceitos dentro das organizações para tratar do aperfeiçoamento dos métodos de produção (racionalização do trabalho) e da adequada remuneração. 31 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO A influência dos pioneiros e empreendedores O aparecimento de iniciativas pioneiras e empreendedoras, principalmente nos EUA, foi fundamental para a criação das bases que permitiram o surgimento da teoria administrativa. A necessidade de gerenciar os empreendimentos que surgiam obrigou a criação de técnicas e de processos de planejamento, de organização, de direção e de controle que ainda são vistos na prática administrativa atual. Em resumo: a administração não é uma atividade isolada, mas sim mais uma das inúmeras atividades humanas. Fica claro que ela tanto sofre influências como também influencia o ambiente em que é praticada. Portanto, a formação de um pensamento administrativo foi, é e continuará sendo resultado de como a humanidade cria e aplica seus paradigmas em todas as áreas de sua atuação. 4 AS VARIÁVEIS BÁSICAS DA ADMINISTRAÇÃO A teoria geral da administração (TGA) foi construída, ao longo do tempo, por várias correntes teóricas. Cada uma dessas teorias propôs a sua visão baseada em estudos com foco em algum assunto ou tema. Essas escolhas constituem as variáveis básicas das escolas administrativas e são as seguintes: tarefas, estrutura, pessoas, ambiente e tecnologia. Chiavenato (2003a) acrescenta uma sexta variável: a competitividade. Tais variáveis estão inter-relacionadas numa organização, como se pode ver na figura a seguir: Competitividade Tecnologia Pessoas OrganizaçãoOrganização Tarefas Estrutura Ambiente Figura 9 – Variáveis organizacionais Adaptada de: Chiavenato (2003a). 32 Unidade I Hoje sabemos que não é possível imaginar uma organização na qual, por exemplo, as tarefas sejam o mais importante e as demais variáveis sejam encaradas como inexistentes ou menos relevantes. É praticamente intuitivo para qualquer estudante atual de administração que as tarefas são importantes (sem elas não há produto nas empresas), mas só fazem sentido se pessoas estiverem desempenhando as tarefas, seja num agrupamento (estrutura), utilizando alguma técnica, ferramenta ou conhecimento (ou seja, tecnologia) e operando dentro de um ambiente que influencia o trabalho e é, reciprocamente, influenciado por ele. Tudo isso buscando a competitividade da organização, pois nenhuma empresa sobrevive se não for competitiva no mercado. Todavia, quando os vários teóricos foram construindo a ciência administrativa, não dispunham ainda dessa visão sistêmica. Então, de acordo com os problemas que mais os incomodaram ou os estimularam, foram propondo teorias com base nesta ou naquela variável, relacionando-as e tentando explicar como a administração funcionava. Assim, propuseram vários paradigmas diferentes, que hoje você pode dominar de maneira completa. A seguir, as principais abordagens da administração, a(s) variável(eis) enfatizada(s) e o ano em que surgiram: Quadro 1 – Principais abordagens da administração Teorias/abordagens Variável(eis) considerada(s) Anos Administração científica Tarefas 1903 Teoria da burocracia Estrutura 1909 Teoria clássica Estrutura 1916 Teoria das relações humanas Pessoas 1932 Teoria estruturalista Estrutura e ambiente 1947 Teoria dos sistemas Ambiente 1951 Abordagem sociotécnica Ambiente 1953 Teoria neoclássica Tarefas, pessoas e estrutura 1954 Teoria comportamental Pessoas e ambiente 1957 Desenvolvimento organizacional Pessoas e ambiente 1962 Teoria da contingência Tarefas, pessoas, estrutura, tecnologia e ambiente 1972 Novas abordagens Competitividade 1990 Adaptado de: Chiavenato (2007, p. 30). 4.1 A organização Organização é conceito fundamental para a administração, uma vez que toda a aplicação administrativa vai ocorrer numa organização e nas consequentes inter-relações dela com outras. 33 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO Comecemos com o entendimento do que é e do que faz uma organização. Em primeiro lugar, uma diferenciação entre duas interpretações para essa palavra: • A organização, como função administrativa, deriva do verbo organizar, e é a responsabilidade gerencial, que pertence ao processo administrativo definido por Henri Fayol e que tem como objetivo preparar a empresa para realizar a tarefa para a qual foi criada. • A organização, como substantivo, é o produto desse esforço de preparação gerencial, que resulta numa empresa. Assim, por extensão, a empresa também é chamada de organização. Então, sempre que falarmos em organização neste livro-texto, estaremos nos referindo a uma dessas conotações, que você vai perceber no contexto em que ela estiver aplicada. A seguir, algumas definições de organização estabelecidas por pesquisadores e por estudiosos, todas encontradas no documento do Instituto Paulista de Excelência em Gestão (IPEG, 2007, p. 66): Organização: companhia, corporação, firma, órgão, instituição ou empresa, ou uma unidade destas, pública ou privada, sociedade anônima, limitada ou com outra forma estatutária, que tem funções e estruturas administrativas próprias e autônomas, no setor público ou privado, com ou sem finalidade de lucro, de porte pequeno, médio ou grande. Unidade social, conscientemente coordenada, composta de duas ou mais pessoas, que funciona de maneira relativamente contínua para atingir um objetivo comum (ROBBINS, 2005). Organizações são entidades sociais que são dirigidas por metas, são desenhadas como sistemas de atividades deliberadamente estruturados e coordenados e são ligadas ao ambiente externo (DAFT, 2002). Uma organização é uma combinação intencional de pessoas e de tecnologia para atingir um determinado objetivo (HAMPTON, 1992). Duas ou mais pessoas trabalhando juntas e de modo estruturado para alcançar um objetivo específico ou um conjunto de objetivos (STONER; FREEMAN, 1985). Em todas essas definições, encontramos os seguintes elementos comuns: o envolvimento de pessoas (quem), a existência de algum processo de trabalho (como) e a definição de um propósito (o quê), definidor de tudo o que deve ser executado. 34 Unidade I Exemplo de aplicação Quer saber como uma organização funciona considerando o envolvimento de pessoas, o processo de trabalho e o propósito? Faça um mapeamento de sua residência: quem são as pessoas que moram com você? Qual a função de cada um na rotina diária da casa? Quem lidera o grupo? Qual o objetivo em comum dos residentes na sua casa? Stoner e Freeman (1985) discutem os seguintes aspectos relacionados com as organizações: As organizações servem à sociedade: as organizações são importantes porque são instituições sociais que refletem alguns valores e necessidades culturalmente aceitos. Elas permitem que vivamos juntos e de modo civilizado e que realizemos objetivos enquanto sociedade. Das delegacias de polícia às grandes corporações multinacionais, as organizações servem à sociedade, transformando o mundo num lugar melhor, mais seguro, mais barato e mais agradável de viver. Sem elas, seríamos pouco mais do que animais com cérebros superdesenvolvidos. As organizações realizam objetivos: considere por um instante quantas organizações estiveram envolvidas em trazer-nos o papel no qual este livro foi impresso: madeireiros, uma serraria, fabricantes de vários tipos de equipamentos e suprimentos, caminhoneiros, uma fábrica de papel, distribuidores, companhias de telefone e eletricidade, produtores de combustível, correios,bancos e outras instituições financeiras e muito mais. Mesmo que um indivíduo sozinho pudesse fazer tudo o que essas organizações fizeram para produzir uma resma de papel (o que é difícil de acreditar), ele jamais poderia fazê-lo tão bem ou tão rapidamente. Com isso, torna-se claro que as organizações e as pessoas que as administram realizam esta função essencial: coordenando os esforços de diferentes indivíduos, as organizações nos permitem alcançar metas que, de outra forma, seriam muito mais difíceis ou até mesmo impossíveis de serem atingidas. As organizações preservam o conhecimento: sabemos que, se o conhecimento registrado é destruído em larga escala (como quando o museu e a biblioteca de Alexandria foram incendiados nos século III), grande parte jamais é recuperada. Dependemos dos registros das realizações passadas como uma base de conhecimento sobre a qual possamos construir ou adquirir mais aprendizado e chegar a maiores resultados. Sem esses registros, a ciência e outros campos do conhecimento ficariam imobilizados. Organizações como universidades, museus e corporações são essenciais porque guardam e protegem a maior parte do conhecimento que nossa civilização juntou e registrou. Nesse sentido, as organizações tornam esse conhecimento uma ponte contínua entre gerações passadas, presentes e futuras. Além disso, 35 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO as próprias organizações fazem aumentar nossos conhecimentos, ao desenvolver meios novos e mais eficientes de realizar coisas. As organizações proporcionam carreiras: finalmente, as organizações são importantes porque proporcionam a seus empregados uma fonte de sobrevivência e, dependendo do estilo e da eficácia de seus administradores, até mesmo satisfação e autorrealização pessoal. A maioria de nós tende a associar oportunidades de carreira com corporações empresariais, mas na verdade muitas organizações, como igrejas, repartições públicas, escolas e hospitais também oferecem carreiras compensadoras (STONER; FREEMAN, 1985, p. 4-5). 4.2 Paradigma Este tópico foi desenvolvido com base na obra de Caravantes, Panno e Kloeckner (2005). Abrir a mente talvez seja a grande tarefa de qualquer ser humano durante a sua existência. Para o administrador, mente aberta é um requisito indispensável para o exercício de sua profissão. Este curso, embora tenha disciplinas muito práticas, é fundamentado em conceitos e em bases históricas sem os quais você não entenderia completamente certas situações em que estivesse operando e, assim, poderia decidir de modo inadequado. Por essa razão é que esta disciplina é fundamental, pois é o que se pode chamar de matriz conceitual, a origem de tudo. Contudo, como você verá, o estabelecimento de um conceito não é tarefa fácil, pois nem sempre o meio está preparado para recebê-lo bem (isso não significa somente aceitar o conceito, mas poder criticá-lo honestamente e usá-lo adequadamente). Por quê? Porque trabalhar com conceitos, sem dúvida, é trabalhar com preconceitos. Estamos decididamente no terreno dos paradigmas. O trabalho do administrador envolve aplicação de conceitos cientificamente aprovados, o uso de teorias ainda não devidamente testadas e, sem dúvida, dentro desse quadro, a sua própria interpretação disso tudo. Três importantes pensamentos de homens célebres, citados por Caravantes, Panno e Kloeckner (2005, p. 8), nos inspiram a refletir com cuidado sobre este assunto: – “A imaginação é mais importante que o conhecimento” (Albert Einstein). – “Formular novas questões, novas possibilidades, examinar velhos problemas a partir de um novo ângulo exigem imaginação criadora e assinalam real avanço na ciência” (Walter B. Wriston). – “Nós somos prisioneiros daquilo que sabemos” (Walter B. Wriston). 36 Unidade I Por essas “amostras”, já podemos perceber a importância da situação exigida da mente de um administrador. Thomas S. Kuhn, pioneiro do conceito de paradigma, citado por Caravantes, Panno e Kloeckner (2005, p. 8), diz o seguinte: Já vimos que uma comunidade científica, ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito, poderemos considerar como dotados de uma solução possível. Numa larga medida, esses são os únicos problemas que a comunidade admitirá como científicos ou encorajará seus membros a resolver. Outros problemas, mesmo muitos dos que eram anteriormente aceitos, passam a ser rejeitados como metafísicos ou como sendo parte de outra disciplina. Podem ainda ser rejeitados como demasiadamente problemáticos para merecerem o dispêndio de tempo. Assim, um paradigma pode até mesmo afastar uma comunidade daqueles problemas sociais relevantes com os instrumentos e conceitos proporcionados pelo paradigma. Uma questão – um “perigo” – a enfrentar é a pobreza paradigmática, que significa possuir um repertório conceptual limitado. Ela é um fator restritivo no desenvolvimento de carreira de executivos promissores. A riqueza de repertório paradigmático talvez seja a única diferença claramente definida para avaliarmos a habilidade de um administrador, principalmente quando vamos analisar e solucionar grande quantidade de questões e problemas variados. Um paradigma ou uma estrutura conceptual podem ser comparados a um software usado para programar computadores. O software de programação não traz em si todos os programas existentes no mundo, mas traz a potencialidade de podermos criar, com ele, os programas que quisermos. O que é então um paradigma? Paradigma é um modelo, um padrão aceito que explica e justifica tudo o que alguém faz ou quer fazer. “Um exemplo que serve como modelo; padrão” (HOUAISS, 2001). Para Grog (apud CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2005, p. 8): um paradigma pode ser definido como uma constelação de crenças, valores e técnicas compartilhadas por membros de uma determinada comunidade científica. Alguns paradigmas são de uma natureza filosófica básica e são muito gerais e abrangentes, outros governam o pensamento científico em áreas de pesquisa muito específicas e circunscritas. 37 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO De acordo com T. S. Kuhn, os paradigmas não têm apenas uma função explicativa, mas também uma função normativa, pois eles tendem a definir o que é e o que não é possível, juntamente com as explicações aceitas e não aceitas sobre como o mundo é constituído e como ele funciona. Na verdade, em um período de “ciência normal”, a comunidade científica tende a rejeitar e a suprimir, algumas vezes a um custo considerável, todas as “novas” explicações, porque elas são vistas como subversivas a suas crenças e a seus compromissos básicos. Kuhn argumenta que o surgimento de um novo paradigma científico se qualifica como um evento com implicações verdadeiramente revolucionárias, dizendo que novas teorias não podem surgir sem mudanças destrutivas nas velhas crenças sobre a natureza. Uma teoria realmente nova e radical nunca é somente uma adição ou incremento ao conhecimento existente. Ela muda regras básicas, requer revisão drástica e reformulação das hipóteses fundamentais da teoria anterior e envolve uma reavaliação dos fatos e observações existentes (CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2005, p. 9). Algumas mudanças de paradigmas estão limitadas a campos de conhecimento específicos, enquanto outras podem ter uma grande influência em muitas disciplinas. A competência paradigmática parte do princípio de que podem existir, simultaneamente, múltiplos paradigmas e que o fator limitador está na capacidade humana de entender e incorporar essa noção. O estudo dos paradigmas é essencialmente importante porque os paradigmas dominantes que aprendemos em nossa cultura, isto é, o complexo de suposições e valores que criam a “realidade” para nós, está prejulgando e predeterminando toda a nossa percepção do que está acontecendo. Assim, a leitura e a discussão dos estudiosos da “verdade”, especialmente os filósofos, serão muito úteis
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