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Introdução à Teologia Sergio de Goes Barboza Phoenix Maria Finardi Martins © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Imagens Adaptadas de Shutterstock. Todos os esforços foram empregados para localizar os detentores dos direitos autorais das imagens reproduzidas neste livro; qualquer eventual omissão será corrigida em futuras edições. Conteúdo em websites Os endereços de websites listados neste livro podem ser alterados ou desativados a qualquer momento pelos seus mantenedores. Sendo assim, a Editora não se responsabiliza pelo conteúdo de terceiros. Presidência Rodrigo Galindo Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão Julia Gonçalves Vice-Presidência Acadêmica Marcos Lemos Diretoria de Produção e Responsabilidade Social Camilla Veiga Gerência Editorial Fernanda Migliorança Editoração Gráfica e Eletrônica Renata Galdino Luana Mercurio Supervisão da Disciplina Ana Paula Moraes da Silva Maccafani Revisão Técnica Ana Paula Moraes da Silva Maccafani Conrado Puglia Barbosa José Tadeu de Almeida Luciana Colin Talavera Vanessa Moreira Crecci 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Barboza, Sérgio de Goes B239i Introdução à teologia / Sérgio de Goes Barboza, Phoenix Maria Finardi Martins. - Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020. 176 p. ISBN 978-85-522-1680-3 1. Teologia. 2. Igreja. 3. Cristianismo. I. Martins, Phoenix Maria Finardi. III. Título. CDD 230 Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753 mailto:editora.educacional@kroton.com.br http://www.kroton.com.br/ Sumário Unidade 1 A teologia como saber sistematizado da experiência cristã ..................... 7 Seção 1 A teologia como ciência ..................................................................... 9 Seção 2 A relação entre fé e a razão ..............................................................22 Seção 3 A igreja e a sociedade .......................................................................34 Unidade 2 A natureza e função da teologia ................................................................53 Seção 1 Teologia Natural ...............................................................................55 Seção 2 Teologia Revelada .............................................................................68 Seção 3 A função da teologia ........................................................................80 Unidade 3 A existência de Deus e seus atributos .......................................................96 Seção 1 A natureza trinitária de Deus ..........................................................98 Seção 2 Criação e providência ...................................................................108 Seção 3 História do Cristianismo ..............................................................121 Unidade 4 Criador e criatura ....................................................................................136 Seção 1 As criaturas e os filhos de Deus ...................................................139 Seção 2 Os anjos e o homem ......................................................................148 Seção 3 A natureza humana segundo a bíblia ..........................................159 Palavras do autor A teologia é uma ciência ou estudo sobre a existência de Deus, das questões referentes ao conhecimento da divindade, assim como de sua relação com o mundo e com os homens. Ela faz parte de uma área conhecida como Ciências Humanas e preocupa-se em buscar os conheci- mentos históricos e práticos, tendo como objetivo a capacidade de estratégias, identificação e interpretação de problemas contemporâneos relacionados às categorias temáticas, tais como teologia e ciência, fé e razão, teologia natural e revelada, etc. Portanto, em nosso estudo, o foco principal é a pesquisa e a reflexão sobre temas da área teológica, assim como mostrar os contrapontos existentes, caracterizando, assim, uma introdução à teologia. Nesse sentido, não temos a pretensão de trabalhar a questão do que é certo ou errado, mas sim trazer à luz do conhecimento temas que perfazem a essência dessa área e propor uma reflexão sobre a importância de cada categoria, sendo elas antagônicas ou não. Embora a teologia se limite ao cristianismo, considerando seu sentido amplo, ela aplica-se também a qualquer religião. Porém, mais do que compre- ender as diferentes práticas religiosas, rompendo-se, assim, a lógica carte- siana, o propósito é mostrar os seus efeitos e a interferência desses efeitos no desenvolvimento da sociedade, assim como a importância desse conheci- mento para o exercício prático dessa função. Esperamos que você entenda a importância da teologia como uma nova possibilidade para a sua formação, capacitação e atualização como agente religioso para atuação profissional em diferentes contextos. É fundamental que, independentemente de crença, você utilize dessa linguagem para o conhecimento histórico e epistemológico. Tenha um excelente estudo! Unidade 1 Sergio de Goes Barboza A teologia como saber sistematizado da experiência cristã Convite ao estudo Esta unidade está organizada em três seções, as quais são importantes para a compreensão teórico-científica da teologia de forma contextualizada. Na primeira seção, iniciaremos a discussão da teologia como ciência, caracterizando-a como uma ciência singular. Um teólogo cientista precisa ter confiança ou fé em sua obra para sistematizar os meios necessários para se obter conhecimento. Nesse sentido, a pergunta que se faz é: quanto ao método, há dados para sistematizar esses meios necessários? Buscaremos, então, compreender o seu objeto de estudo, o método e consequentemente a sua divisão. Uma vez conhecendo a estrutura teológica, vamos analisar posteriormente como a religião influenciou culturas e sociedades, sob pontos de vistas e contextos históricos. Já na segunda seção vamos analisar os contrapontos quanto à relação entre a fé e a razão na Bíblia, considerando-as como duas ferramentas impor- tantes para a vida. Vamos verificar e sintetizar historicamente a fé e a razão no pensamento medieval; Idade Média – reformas religiosas e a fé e a ciência nos dias atuais. Portanto, neste estudo vamos pensar um pouco mais sobre fé e razão, refletindo a hipótese de que ambas são compatíveis. Na terceira seção, utilizaremos da teologia contextual para vermos os princípios bíblicos para além de seu contexto cultural, os desafios atrelados a igreja de hoje e a reflexão sobre o papel da igreja na sociedade. Nesse sentido, você, ao refletir sobre a teologia como ciência, desen- volverá a capacidade de relacionar as várias temáticas da área teológica e compreender como se dá a relação entre a ciência e a religião, perceber a possível harmonia entre a fé e a razão e estar apto a analisar o contexto sócio-cultural-religioso. Para desenvolver o estudo das temáticas mencionadas anteriormente, elaboramos um contexto fictício. Num reencontro de amigos, a discussão sobre ciências e teologia deixou uma pergunta a ser respondida. Pedro está concluindo o curso de Filosofia e afirma, categoricamente, que ciência e teologia são apenas esforços humanos na busca do conhecimento e que a ciência, embora importante, não atingiu um avanço considerado na contem- poraneidade, não é infalívele dificilmente chega a uma solução definitiva em muitas outras perguntas que a humanidade ainda faz, pois o que é certo hoje, amanhã já não poderá ser. Lúcio discorda, por acreditar que não há concordância entre ciência e teologia, e sendo ele adepto da ciência, defen- de-a concluindo que a ciência é o único caminho para se chegar ao conheci- mento de fato. Portanto, é um dilema a ser refletido. Desafio apresentado, agora chegou a hora de desenvolver as reflexões necessárias para a sua reflexão. Bom estudo! 9 Seção 1 A teologia como ciência Diálogo aberto Para desenvolver o estudo das temáticas sugeridas, elaboramos um contexto fictício, onde alguns amigos se encontraram e, após algumas refle- xões sobre ciências e teologia, ficaram visíveis os contrapontos e os diferentes entendimentos sobre o assunto. Pedro está concluindo o curso de filosofia e afirma, categoricamente, que ciência e teologia são apenas esforços humanos na busca do conhecimento e que a ciência, embora importante, não atingiu um avanço considerado na contemporaneidade, não é infalível e dificilmente chega a uma solução definitiva em muitas outras perguntas que a humani- dade ainda faz, pois o que é certo hoje, amanhã já não poderá ser. Isso inquieta profundamente Lúcio, que discorda por acreditar que não há concordância entre ciência e teologia e, sendo ele adepto da ciência, defende-a, concluindo que a ciência é o único caminho para se chegar ao conhecimento de fato. Portanto, é um dilema a ser refletido. Um novo dilema aparece contrapondo essa discussão quando Fábio, que está no 3º ano de Teologia defende que a teologia já foi considerada a “Rainha das Ciências”, portanto, é possível reconhecer as diferentes formas de conhe- cimento e que certamente há uma interação entre elas. Ao analisarmos mais precisamente os conteúdos que propomos para reflexão “o que é a teologia”, o seu “objeto de estudo” e os “seus métodos”, e que consequentemente os carac- terizam como também uma ciência, é pertinente analisá-la e buscarmos mais profundamente as respostas que, se nem mesmo a ciência consegue entender, isso significa que as possibilidades estão abertas para as conclusões tanto da ciência, como da filosofia e da própria teologia. A ciência enfrenta muitas perguntas sem respostas até mais importantes do que aquelas que atormentavam Galileu Galilei, Nicolau Copérnico e outros cientistas. Existem muitos mistérios a serem desvendados e todas as possíveis formas de conhecimentos são bem-vindas para desvendá-los. Nesse sentido, são importantes os estudos desta unidade, primeiro para que a possamos conhecer melhor, segundo para propor a reflexão de outras possi- bilidades para as perguntas sem respostas e, em terceiro, para chegarmos a uma conclusão quanto ao debate dos nossos personagens. Para adentrarmos em nossa reflexão, é importante destacar o pensamento de Popper (apud LANA, 2019, [s.p.]), considerado um dos maiores filósofos do século XX. Ele defendeu que, “se a ciência se baseia na observação e 10 teorização, só se podem tirar conclusões sobre o que foi observado, nunca sobre o que não foi”. Não pode faltar Quando utilizamos o jargão “religião, política e futebol não se discutem”, é porque, de fato, cada um tem uma forma de pensar, e isso depende muito da educação, da influência familiar, dos amigos e tudo depende da forma com que cada um vivenciou a sua vida. Temos essa percepção na discussão que vimos no contexto de aprendizagem, em que Pedro e Lúcio têm uma forma de pensar diferente com relação ao tema teologia e ciência. Mas indepen- dentemente da forma como pensamos, precisamos pesquisar, analisar, independentemente de nossas concepções, e observar o outro lado, para que possamos ter certeza de que as nossas convicções são realmente verda- deiras. Não podemos vivenciar apenas os nossos conhecimentos naturais e não nos permitir verificar outras possibilidades. É claro que isso não signi- fica ser volúvel em nosso comportamento. Precisamos ter uma direção, ter bom senso e observar o que tem mais sentido. Um dilema a ser refletido, como vimos no contexto de aprendizagem, é o de Pedro, o qual faz filosofia e entende que ciência e teologia são apenas esforços humanos na busca de conhecimento; Lucio, o qual discorda por acreditar que não há concordância entre esse tema; e Fábio, que afirma que é possível analisar as diferentes formas de conhecimento e que é possível haver interação entre elas. Reflita De acordo com a nossa história, há concordância entre ciência e teologia? Considerando o pensamento de Fábio, como a ciência e teologia se relacionam? Como seria uma possível interação? Podemos caracterizar ambas como dois esforços humanos na busca do conheci- mento? Vamos refletir sobre esses questionamentos. O que percebemos nesta discussão não é muito diferente do que acontece no cotidiano das pessoas. Muito se tem discutido sobre a teologia ou qual é o seu significado, colocando em debate o seu “objeto de estudo” e a sua divisão. Os embates ocorrem, geralmente, entre a teologia e a ciência. Etimologicamente, o termo teologia é a junção de dois prefixos: theos + logia (Deus + ciência) e tem como significado atual o estudo da existência de Deus, da divindade e sua relação com o mundo e os homens. No mundo antigo, o termo theos tinha um significado pagão e foi usado para descrever algo sobrenatural, seres com poderes além da capacidade humana. 11 Embora o termo teologia já havia sido utilizado em outros momentos, ainda que de forma não objetiva, Platão, em seu livro A República, foi o filósofo que pela primeira vez utilizou o termo teologia com uma conotação mais específica. Para esse autor, o termo refere-se à compreensão da natureza divina por meio da razão. Figura 1.1 | Significado do termo teologia Fonte: elaborada pelo autor. A raiz desse termo é grega e versava sobre o aparecimento dos deuses “theologeion”, referindo-se às influências divinas, à ciência das coisas divinas ou até mesmo à oração e ao louvor a um deus. Portanto, todo aquele que discursava sobre deuses ou sobre a cosmologia eram considerados theologos. Esses são significados pertencentes à filosofia primeira que estudava as causas eternas e imutáveis. Percebe-se que, no decorrer da história, tivemos diferentes usos do termo, conforme aponta Libanio e Murad: A semântica estuda o significado das palavras. Debruça-se sobre as transformações de sentido que um termo sofreu ao longo da história. Como o termo “teologia” tem longa história, pode-se acompanhar-lhe as transformações de acepção. Não se trata no momento de tecer história da teologia, mas simplesmente de perseguir alguns momentos históricos em que o conceito de teologia passou por mudanças semânticas. (LIBANIO; MURAD, 2010, p. 64) Embora o termo teologia tenha, em sua origem, um significado diferente do que entendemos hoje, para a concepção cristã clássica, todas as vezes que utilizamos o termo ou qualquer reflexão teológica, referimo-nos de alguma maneira a Deus. Ou seja, a teologia é o estudo de Deus em sua relação ao ser humano, que começa pela revelação da palavra por meio de Jesus Cristo. Portanto, para que possamos ter uma compreensão teológica adequada, precisamos extrair tais conhecimentos de uma fonte correta, que nos coloque rumo ao reconhecimento e glorificação de sua pessoa, ou seja, reconhecer 12 a pessoa e os atos de Deus. Por outro lado, não é qualquer estudo ou decla- ração acerca de Deus que se pode chamar de teologia, pois precisa ser um estudo fundamentado, com critérios, com conhecimentos válidos, sistema- tizados. A falta de formação teológica pode representar um problema para a interpretação e contextualização referente aos dilemas que ocorrem na socie- dade contemporânea. Diante dessa questão histórica, é importante refletir: qual o objetivo da teologia nos dias de hoje? Já vimos que teologia é o estudo da existência de Deus, portanto, tem-se como objetivo o conhecimento deDeus, seus atributos e a revelação ao homem por meio de Jesus Cristo. O campo de estudo da teologia é bastante abrangente: Deus e suas relações com o mundo. Tudo que existe pode ser assunto da teologia, desde que considerado na sua relação com Deus. Pannenberg resume isto, dizendo que “Deus é o ponto de referência unificador de todos os objetos e temas que são tratados na teologia, e nesse sentido, então, ele é naturalmente o objeto da teologia em si”. O assunto básico da teologia é “Deus - Deus, na história de suas ações”. (SEVERA, 2010, p. 4) Como pudemos perceber, faz-se teologia sempre que reflete algo à luz da fé ou da revelação. E isso pode se aplicar a todas as religiões, se a teologia é considerada uma ciência, é preciso que ela tenha um objeto de estudo, pois toda ciência tem seu objeto de estudo independentemente de suas caracterís- ticas, sejam elas especulativas, naturais ou sociais. E como seria o objeto de estudo da teologia? Como os das outras ciências. A diferença é que, no caso da teologia, o teólogo não pode colocar-se acima do objeto, como ocorre nas demais ciências, mas sob o objeto de seu conhecimento. No caso da concepção clássica cristã, é por meio da revelação que o pesquisador conhece a Deus, que é o objeto formal enquanto revelado, e por consequência tudo que se relaciona a Ele. No entanto, é Deus que se faz descobrir à luz da fé. É importante entender que, embora, nessa concepção, a essência seja Deus e é a partir dessa realidade que tudo acontece, a teologia também estuda outros assuntos, obtém-se reflexões sobre dois pontos importantes, como as informações bíblicas ou de estudos afins e a realidade social (nesse caso, tem por objetivo propor soluções para resolver situações de injustiças na sociedade). Portanto, a teologia não é importante apenas para as insti- tuições religiosas e cristãs, mas também para o bom desenvolvimento da sociedade. Nesse sentido, para que a teologia seja relevante, é preciso que 13 se tenha diálogo com a cultura e com o mundo visível, até porque, no caso do cristianismo, e as demais crenças, por exemplo, não se estuda Deus da mesma maneira que se estuda outras formas utilizadas pelas ciências. Assimile Por que, neste estudo, a frase “objeto de estudo” está sempre entre aspas? Estranha-se falar que Deus é nosso “objeto de estudo”, pois dá uma conotação de algo inferiorizado, não é mesmo? Como se o homem, ou o pesquisador, estivesse acima daquilo que está sendo estudado. Mas pense, nesse caso em específico, o “objeto de estudo” tem como significado a busca de conhecimento, buscar algo que nos foi ordenado. Se olharmos para as escrituras, por exemplo, no Livro do profeta Oséias, capítulo 6, versículo 3, nos é ordenado a conhecer e buscar a Deus. Esta é a razão pela qual a teologia se torna necessária. Da mesma forma, cada religião tem a sua necessidade de buscar conhecer o que ainda não se tem conhecimento. Considerando que a teologia é um estudo sistemático sobre a divindade, e que ela se ocupa dos sistemas das crenças religiosas, existem, portanto, diversas teologias, como a cristã, a islâmica, a judaica e outras. Em todas, um dos objetivos principais, ou o mais comum, é sempre estudar a existência da divindade ou daquilo que se acredita levando sempre em consideração as questões que a elas se relacionam. Vejamos mais sobre a teologia, nas palavras do teólogo Afonso Murad: A teologia é um saber organizado, com regras próprias. Não se limita a repetir, mas pensa, cria, organiza e elabora” nesse sentido a teologia não é um saber aleatório, feito de qualquer forma, mas um saber organizado e sistêmico como uma ciência. Afonso Murad observa que a teologia tem em comum com o saber científico os seguintes aspectos: Possui objeto próprio, um método e a linguagem correspondente, e elabora conceitos e termos técnicos; pauta-se pelas normas da metodologia científica para gerar e difundir seu saber. Possui um grupo de pesquisa e produz novos conhecimentos: os teólogos (as) profissionais; difunde o ensino e promove a especialização em instituições de ensino superior; tem um espaço prático de validação de seus conhecimentos, que é a ação evangelizadora; serve-se das contribuições das ciências humanas afins. (FRAGA, 2019, [s.p.]) 14 Portanto, como pudemos perceber e assimilar, toda e qualquer religião, toda crença e a fé que a pessoa tem naquilo que acredita, na perspectiva teoló- gica, encontra-se a busca permanente de estudo, pesquisa e conhecimento. Percebemos, também, que a teologia não está direcionada apenas às questões espirituais, mas também participa do cotidiano das pessoas, propondo soluções para uma sociedade mais justa. Se a teologia tem um “objeto de estudo”, caracteriza-se como uma ciência, e necessitamos, portanto, entender qual é o seu método. Em relação ao método teológico, cuja a perspectiva é o modo como é feita a investigação para obter dados seguros e certos da realidade, temos, num primeiro momento, como fonte central, as escrituras sagradas, com as quais precisamos estar em constante conversação. Exemplificando O método em teologia passa por um processo de investigação que se compõe em diversas fases, mas um importante momento é a investi- gação onde se verifica os dados necessários e relevantes para a investi- gação teológica. Nesse momento, utiliza-se textos bíblicos e de pesquisa sobre assuntos desejados, imagens, os símbolos, etc. A pesquisa teoló- gica deve seguir um cuidado minucioso para que se chegue a um resul- tado fidedigno, fundamentado e sistêmico. Há vários métodos que são utilizados no estudo teológico. Outras fontes que o teólogo precisa ter conhecimento são as línguas e as culturas antigas. Além disso, o conhecimento é importante para os estudos teológicos, ainda que seja, em linhas gerais, das disciplinas como psicologia, sociologia, antro- pologia, arqueologia, política, economia, filosofia, as ciências naturais, bem como as fontes teológicas sobre as questões doutrinárias, etc. Quanto ao método, apresentamos seis passos, conforme menciona Zacarias: a) definir e esclarecer o problema ou a questão teológica a ser estudada. Exemplo: a Pessoa de Cristo, o Pecado, o Espírito Santo, a Salvação. b) identificar as várias soluções do problema que foram sugeridas na história cristã. Isto ajuda a entender a questão nos diversos contextos históricos. c) estudar a fonte da teologia cristã, a Bíblia, para determinar exatamente o que dizem os textos, e chegar a conclusões preliminares. d) relacionar as conclusões preliminares com a revelação em geral e com as outras doutrinas já estabele- cidas para concretizar a resposta teológica. e) defender essa 15 conclusão diante da oposição das ideologias contrárias. f) aplicar as conclusões teológicas às situações específicas da vida neste mundo. Há uma verdade divina, mas há muitas aplicações nos diferentes contextos e situações em que vive o ser humano (SEVERA, 2010, p. 6, grifo nosso) Considerando o vasto campo teológico, seja ele cristão ou revelado, identi- ficamos várias áreas que nos ajudam a compreender essa ciência. São elas: • Teologia bíblica: a teologia se ocupa das histórias e dos ensinamentos bíblicos tanto do Antigo testamento quanto do Novo Testamento. No Antigo Testamento temos, ainda, três divisões da teologia: a do Pentateuco, que é composto pelos cinco primeiros livros da bíblia; a dos Profetas, aqueles que anunciaram os desígnios divinos; e a dos Salmos, cujos textos são considerados verdadeiras poesias religiosas. • Teologia histórica: nesta área, estudamos as doutrinas da igreja, seu desenvolvimento e progresso. Portanto, temos como fonte de estudo a teologia patrística, cujo nome deve-se à filosofia cristã dos primeiros séculos. O termo Patrística refere-se aos pais da igreja que elaboraram a doutrina da verdade de fé do cristianismo. Teologia medieval, teologia dos reformadores, teologia contemporânea e a teologia de um movimento ou correntesteológicas da atualidade. • Teologia sistemática: teologia sistemática é a apresentação ordenada, racional, harmônica, coerente da fé e das crenças cristãs. Ela busca as verdades teológicas a fim de alcançar a unidade e a totalidade. • Teologia prática: a teologia prática nos orienta como viver, como orar, como pregar, como evangelizar. Inclui disciplina como teologia pastoral, teologia do evangelismo, etc. Sem medo de errar Vamos buscar agora a resposta ou delinear algumas reflexões para a situa- ção-problema elaborada no início desta seção? Para isso, devemos consi- derar os conhecimentos que já foram apresentados, adquiridos e construídos neste texto. Lembre-se que os personagens debatiam suas ideias referentes à ciência e à teologia e que tinham diferentes entendimentos sobre o assunto: Pedro, por exemplo, entende que tanto a teologia quanto a ciência são esforços humanos na busca de conhecimento e que a ciência, embora importante, não é infalível 16 e dificilmente chega a uma solução definitiva em muitas outras perguntas que a humanidade ainda faz; Lúcio, por sua vez, discorda por acreditar que não há concordância entre ciência e teologia, e sendo ele adepto da ciência, defende-a, concluindo que a ciência é o único caminho para se chegar ao conhecimento de fato; já Fabio, que faz Teologia, contrapondo essa discussão, defende que a teologia já foi considerada a “Rainha das Ciências”, portanto, é possível reconhecer as diferentes formas de conhecimento e que certamente há uma interação entre elas, sendo a teologia uma ciência importante. Antes de refletirmos sobre as considerações de Fábio, vamos pensar um pouco sobre a fala de Pedro. Ele certamente não errou quando disse que teologia e ciência são esforços humanos na busca de conhecimento. De fato, a teologia, como ciência, e as demais ciências buscam constantemente desco- brir e entender o desconhecido. Está correta também a sua afirmação de que a ciência não é infalível e dificilmente chega a uma solução definitiva em muitas outras perguntas que a humanidade ainda faz, pois o que é certo hoje, amanhã já não poderá ser. A ciência é importante para a humanidade, é quase difícil imaginar o mundo sem a sua contribuição, seus métodos científicos são fundamentais para as ciências modernas. No entanto, se considerarmos algumas linhas de pesquisas é percebível a sua não infalibilidade. Existem muitas questões ainda não respondidas pela ciência. Com relação aos limites da ciência, vemos o que diz Popper (apud LANA, 2019, [s.p.]): Os limites da ciência se definem claramente. A ciência produz teorias falseáveis, que serão válidas enquanto não refutadas. Por este modelo, não há como a ciência tratar de assuntos do domínio da religião, que tem suas doutrinas como verdades eternas ou da filosofia, que busca verdades absolutas. Contrariando o pensamento de Lúcio, é importante dizer que a Ciência não é o único caminho para se chegar ao conhecimento de fato e também não pode responder todas as coisas, até porque, para a ciência, o que ainda não foi descoberto não existe. Mas isso não significa que algo não existe só por que a ciência ainda não comprovou. Cabe aqui o pensamento de que se não é possível dizer que existe, também não se pode comprovar que não existe. No entanto, a pergunta a ser respondida, considerando o pensamento de Lúcio, é: há concordância entre ciência e teologia? Primeiramente vemos a teologia como uma ciência, pois tem um “objeto de estudo”, além de aplicar os mesmos princípios para a verificação das causas. O fato de haver, muitas vezes, um diálogo crítico entre ciência e teologia, não significa necessariamente que não haja interação entre ambas. Aliás, isso 17 faz parte do próprio método científico. A ciência pode oferecer à teologia elementos importantes sobre a lógica de seus objetos, assim como a teologia pode contribuir com as reflexões aos pressupostos científicos. A interação é possível, pois se a ciência é capaz de contestar é também capaz de confirmar as afirmações teológicas: Por outro lado, a ciência pode também confirmar as afirma- ções religiosas. Por exemplo, uma das principais doutrinas da fé judaico-cristã é que Deus criou o universo do nada num tempo finito do passado. A Bíblia começa com as palavras: “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gn 1.1). A Bíblia, portanto, ensina que o universo teve um começo. Esse ensinamento foi repudiado tanto pela filosofia grega como pelo ateísmo moderno, inclusive pelo materialismo dialético. Assim, em 1929, com a descoberta da expansão do universo, essa doutrina foi radicalmente confirmada. Ao falarem sobre o começo do universo, os físicos John Barrow e Frank Tipler explicam: “Nessa singularidade, espaço e tempo vieram à existência; literalmente, nada existia antes da singularidade, assim, se o universo se originou em tal singularidade, poderíamos ter verdadeiramente uma criação ex nihilo (do nada) ”. Contrariamente a toda expectativa, a ciência, portanto, confirmou essa predição religiosa. Robert Jastrow, diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais, da NASA, a vislumbra da seguinte maneira: [O cientista] escalou as montanhas da ignorância; está para conquistar o cume mais alto; ao galgar por sobre a última rocha, é recebido por um bando de teólogos que estão sentados lá em cima há séculos. (CRAIG, 2019, [s.p.]) Até quando é considerada válida a teoria científica? Até quando serem consideradas falsas por outras observações, com mais profundidade que as utilizadas na pesquisa original. Ao contrapor as falas de Pedro e Lúcio, Fábio está correto quando diz ser possível reconhecer as diferentes formas de conhecimento e que certa- mente há uma interação entre elas, sendo a teologia uma ciência importante. Vemos isso de forma resumida nos diversos modos diferentes pelos quais há relevância na relação entre ciência e teologia. 18 a) A religião fornece a estrutura conceitual em que a ciência pode florescer; (b) A ciência é capaz tanto de contestar como de confirmar as afirmações da religião; c) A ciência encontra problemas metafísicos que a religião pode ajudar a resolver; d) A religião pode ajudar a decidir entre teorias científicas; e) A religião pode ampliar a capacidade explana- tória da ciência; f) A ciência pode estabelecer uma premissa num argumento que tenha conclusão com importância religiosa. (CRAIG, 2019, [s.p.]) Embora tanto a ciência quanto a teologia passem por alguns momentos conflitantes, em linhas gerais, elas interagem e dialogam quando o assunto é a busca pelo conhecimento, desvendar questões ainda sem respostas ou confirmar as afirmações já conhecidas. Avançando na prática Reflexão: acreditar em deus por uma razão lógica Um certo dia, Jeffrey, um rapaz estudioso das escrituras, fez uma expla- nação aos seus amigos, os quais não acreditavam em nada que se relacionava à Bíblia. Estes até mesmo confrontavam Jeffrey por não “aproveitar a vida” da forma como eles faziam. É certo que esse grupo de amigos exageravam, tinham comportamentos que, para o padrão social, eram inadequados. Jeffrey começou dizendo que acreditava nas escrituras e praticava os princípios ali estabelecidos. Mas naquele momento, em sua sabedoria, fez um questiona- mento a eles: “Diante da Bíblia temos apenas duas possibilidades: ou ela é verdadeira ou é falsa. Portanto, imaginemos que um dia eu descubra que este livro é apenas um livro velho, sem valor, o qual contém apenas histórias. Eu, nessas condições, independentemente dele ser verdadeiro ou não, ainda assim não me arrependeria de tê-lo seguido, pois, sendo verdadeiro, eu teria ganhado a minha vida, e caso não fosse verdadeiro, teria vivido um bom relacionamento com a minha família, meus amigos, teria percorrido um caminho de solidariedade, de respeito ao outro e às diversidades. Ou seja, de qualquer forma, eu teria ganhado a minha vida, portanto, eu não perco em nenhuma das duas possibilidades, sendo este livroverdadeiro ou não. Agora vamos imaginar vocês, que aproveitam a vida sem respeito aos princípios. Sendo essas escrituras falsas, nada teria acontecido, vocês teriam aproveitado ao máximo a vida, apenas com as consequências decorrentes dos próprios 19 atos. Mas, neste caso, vocês teriam apenas 50% de chances de estarem certos. Ou seja, se as escrituras foram verdadeiras, para vocês, nada teria valido a pena e as consequências seriam fatais”. Diante do exposto podemos afirmar que a crença em um ser superior é exclusividade da fé ou também é acessível pela razão? Resolução da situação-problema Essa pergunta sobre crer em Deus considerando a fé e a razão é estimu- lada para uma profunda reflexão. Primeiro é importante entender o que é razão, depois a questão importante a ser pensada é que a própria fé precisa ser racional, caso contrário não é fé. Uma outra questão básica é a pergunta: por que deveríamos acreditar em Deus? Segundo Craig (apud PIRES, 2016, [s.p.]): “Porque os argumentos e evidências que apontam para a sua existência são mais plausíveis do que aqueles que apontam para a negação”. Considerando, ainda, as questões entre a fé e a razão, ambas são compatíveis, de acordo com Tomás de Aquino: Podemos aferir que o pensamento de Tomás de Aquino defende o fato de que as verdades reveladas não são incompatíveis com a reflexão racional, mas pelo contrário, é perfeitamente possível que por vias racionais de análise, a razão alcance sem nenhum prejuízo as verdades reveladas ou as verdades teologais da fé. (DOM TOTAL, 2019, [s.p.]) Enfim, é importante refletir sobre o verdadeiro significado do termo razão assim como qual tipo de fé estamos nos referindo. Nesse caso, estamos nos referindo não à fé emotiva, mas a fé inteligente, sobrenatural que vem do Espírito de Deus. Ou seja, a fé consciente e equilibrada nas suas práticas, está sendo, porém, compatível com a razão. Faça valer a pena 1. Considerando o vasto campo teológico, seja ele cristão ou revelado, identificamos várias áreas que nos ajudam a compreender essa ciência. Em uma delas, estudamos as doutrinas da igreja, seu desenvolvimento e progresso. Portanto, temos como fonte de estudo a teologia patrística, a teologia medieval, a teologia dos reformadores, a teologia contemporânea e a teologia de um movimento ou correntes teológicas da atualidade. Assinale a alternativa que apresenta a área descrita no texto. 20 a. Teologia bíblica. b. Teologia sistemática. c. Teologia histórica. d. Teologia prática. e. Teologia natural. 2. O campo de estudo da teologia é bastante abrangente, em nossos estudos, vimos que a teologia é um saber organizado, com regras próprias. Ele não se limita a repetir, mas pensa, cria, organiza e elabora, ou seja, não é um saber aleatório, feito de qualquer forma, mas um saber organizado e sistêmico, como uma ciência. Conforme menciona o teólogo Afonso Murad (apud FRAGA, 2019, [s.p.]), a teologia tem em comum com o saber científico os seguintes aspectos: I. Possui objeto próprio, um método e a linguagem correspondente, e elabora conceitos e termos técnicos. II. Pauta-se pelas normas da metodologia científica para gerar e difundir seu saber. III. Possui um grupo de pesquisa e produz novos conhecimentos. IV. Não tem um espaço prático de validação de seus conhecimentos. Nesse contexto, é correto o que se afirma em: a. I, II e III, apenas. b. I, II e IV, apenas. c. I, III e IV, apenas. d. II e III, apenas. e. I, II, III e IV. 3. Embora tanto a ciência quanto a teologia perpassem por alguns momentos conflitantes, em linhas gerais, elas se interagem e dialogam quando o assunto é a busca pelo conhecimento. Existem diversos modos diferentes pelos quais há relevância na relação entre ciência e teologia. Nesse contexto, assinale a alternativa correta. a. A religião pode ajudar a decidir entre teorias filosóficas, porém, não as científicas. 21 b. A ciência é capaz de contestar ou confirmar as afirmações da religião. c. A ciência encontra problemas metafísicos que a religião não pode ajudar a resolver. d. A religião fornece a estrutura conceitual em que a ciência pode florescer. e. A religião não se relaciona com a ciência em relação à capacidade explanatória. 22 Seção 2 A relação entre fé e a razão Diálogo aberto Considerando a relação entre fé e a razão e o antagonismo que se tornou evidente na cultura ocidental, essas crenças estão constantemente em meio a discussões. Esse confronto se deu pelas posições inexatas dos temas, porém, pela análise teológica e filosófica é possível compreendermos de forma serena as diferenças e os fatores que as unem. É nessa discussão sobre ciência e teologia, fé e razão, que os amigos Pedro, Lúcio e Fábio chegaram a um acordo e resolveram assistir ao filme Contato, de 1997, do gênero drama e ficção científica, para prosseguirem com as reflexões, conforme sugestão de Fábio. O filme escolhido pelos amigos fala sobre fé e ceticismo e aborda como esses conceitos se contrapõem. Fábio sugeriu que todos assistissem ao filme para propor uma reflexão com relação à ciência e à teologia e convencer os demais amigos. Você se lembra que eles debatiam sobre essa relação e Pedro, que cursa Filosofia, discordava da possível harmonia entre ciência e teologia, pois, para ele, elas são apenas esforços humanos na busca por conhecimento e não podem responder um monte de perguntas que a humanidade faz? Você também se lembra de Lúcio, que é adepto da ciência e entende que ela é o único caminho para se chegar ao conhecimento? Diante dessa concepção, já vimos, na primeira sessão, o que é a teologia, quais são os seus métodos e a sua importância como ciência e que consequentemente a ciência tradi- cional não é o único caminho para se chegar ao conhecimento, pois existem diversos outros tipos de conhecimento, sendo um deles a própria teologia. Conhecemos, também, Fábio, que estuda teologia, defende-a enquanto ciência e entende que é possível reconhecer as diferentes formas de conheci- mento e que certamente há uma interação entre elas. Nessa discussão, fortaleceu-se a ideia de analisar os contrapontos quanto à relação entre a fé e a razão na Bíblia. Vamos verificar e sintetizar histori- camente a fé e razão no pensamento medieval, Idade Moderna – reformas religiosas e a fé e ciência nos dias atuais. Portanto, nesta seção, vamos pensar um pouco mais sobre fé e razão, refletindo a hipótese de que ambas são compatíveis de acordo com o entendimento de Fábio, pois existem muitos contrapontos sobre essa temática, e o importante é que nossos amigos que começaram essa discussão, embora, num primeiro momento, defendam suas concepções, ainda assim estejam abertos a buscar o conhecimento sobre essa relação tão mencionada em nossos dias. Entende-se que novos 23 conhecimentos, muitas vezes causam temores e estranhamento, o que nos faz sair da zona de conforto comportamental e intelectual. Considerando a relação entre fé e razão, é possível mencionarmos, também, alguns pensa- mentos da Idade Média, como os de Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, e depois adentrarmos nessa reflexão mais profundamente. Não pode faltar Uma das primeiras questões que surgem quando se fala em fé e razão é se ambas são compatíveis. Se observarmos no Livro Sagrado (Bíblia), percebe- remos que esses dois termos são ferramentas importantes para a existência humana. Considerando essa concepção e refletindo sobre o assunto é possível perceber o quanto essas duas ferramentas são necessárias em nossas vidas, portanto, é relevante pensarmos na seguinte questão: se de um lado a razão não salva, por outro, a fé não deve ser emotiva, sem racionalidade. Ou seja, se de um lado o homem é um ser racional e não pode usar isso como a única proposta para o entendimento do ser e do que no mundo existe, por outro lado, a fé não é um instrumento único excluindo outras formas da relação do homem com Deus, não se fechando, assim, ao fideísmo ou fundamenta-lismo. Nesse sentido, a partir dessa reflexão, já é possível entender e refletir se há ou não compatibilidade. Para entendermos essa importância precisamos primeiramente compreender o significado dessas crenças separadamente: o que é a fé? E o que é a razão? A fé racional está presente num simples fechar de olhos e no levantar das mãos, um gesto que representa a adoração. Essa fé é oposta à fé emotiva, que está relacionada ao “sentimento do coração”, enquanto a fé racional está ligada ao intelecto, à mente, tende para o espírito, para a vida. É algo que temos certeza. A razão nos permite chegar a conclusões e explicações a partir da relação entre a causa e efeito. Pensa-se aqui em algo lógico, que se fundamenta em uma situação possível, que tenha mais sentido, seja mais real, enfim, é algo que se posiciona de forma contrária às emoções e que se realiza por meio de argumentos e de abstrações. A pessoa com esse sentimento “pensa racio- nalmente” considerando as consequências, as possibilidades, o individual e o coletivo. Portanto, vamos aprofundar o entendimento da fé em suas duas dimensões: a fé emotiva e a fé racional. A primeira nos remete àquilo que sentimos, que se inclina às paixões, acontece de repente, muitas vezes não leva em consideração as consequências ou aquelas pessoas que apresentam atitudes momentâneas em que se têm em primeiro plano os seus próprios desejos independentes da coletividade. Já a fé racional é o que nos permite refletir sobre a compatibilidade com a razão. É nesse ponto que Fábio propôs 24 aos amigos que assistissem ao filme Contato e posteriormente tirassem as conclusões sobre a relação ciência e teologia, fé e razão, se há ou não compa- tibilidade, se é possível pensarmos na relação entre as duas. Os amigos observaram, após assistirem ao filme, que uma das primeiras questões que se apresenta é motivo de reflexão quanto à distinção e posicio- namento que cada um tinha anteriormente e o fato de que a teologia ou os teólogos não são contra a tecnologia, mas são, sim, contra os homens que evitam a Deus ou questionam sua existência à custa da “verdade humana”. Percebeu-se, também, a necessidade de unir os aspectos políticos, filosóficos e religiosos quando o assunto é analisar um determinado acontecimento que foge do entendimento humano, quando tal acontecimento força a busca de evidências, considerando a necessidade de ser do próprio homem, o qual questiona se o fato realmente existe. Por outro lado, há aqueles que, pela fé, e ao ter uma experiência mais direta com o fato, persistem em seus conhecimentos e percepções, querendo provar aos céticos que essa fé é verdadeira. Enfim, quando todas as coisas são iguais, a explicação mais simples tem que ser a certa. No entanto, a personagem do filme teve uma experiência que não pôde provar, mas reconheceu, assim como os céticos, que, no mundo, alguma coisa é maior que nós mesmos. No roteiro do filme, é possível entender que, embora haja uma dicotomia entre a teologia e a ciência, e embora a crença de um seja diferente da crença de outro, a meta é uma só: a “busca da verdade”. No resultado de seus objetivos, aqui as crenças se igualam. O tópico concernente à ciência e à teologia é que ambos se esforçam para a busca de conhecimento. Enquanto a primeira busca estudar o mundo físico conduzido pela indução ou dedução, ou seja, tudo que se refere ao mundo natural, o segundo consiste no esforço para se compreender Deus e sua relação com o mundo e com os homens. Para a ciência, quando não se tem a explicação comprovada para algo, dá-se o nome de remissão espontânea para explicar o que não pode ser expli- cado. Uma diferença que podemos destacar entre o que tem fé e o que não tem é que este último não tenta ao menos experimentar, descarta logo de início a possibilidade de conhecer um fato novo, devido à sua descrença. No entanto, o que tem fé, tem ao mesmo tempo, persistência, busca conhecer profundamente algo, ainda que não se possa comprovar aos olhos humanos. Reflita Será que a fé e a razão são sempre incompatíveis? A fé na Bíblia não envolve a razão? Para entender essas indagações é preciso conhecer o significado dessas ferramentas e entender de que fé estamos falando quando nos referimos à compatibilidade com a razão. 25 Agora que conhecemos um pouco sobre fé e razão, vamos entender como se dá a relação desses termos no pensamento Medieval. Sabemos que na Idade Média houve o predomínio do cristianismo e do pensamento greco- -romano, portanto, o conflito dessa relação ocupou os pensadores cristãos. Se olharmos para o Antigo Testamento, vamos entender a fé como uma submissão a Deus, submissão de pensamentos e atos. Para entender a essência desse pensamento, vamos nos ater, aqui, à Filosofia Medieval e à grande pergunta que, naquele momento, pairava sobre a questão: é possível conciliar razão e fé? Na transição, no final da Idade Antiga, no período que ocorre a queda do Império Romano para o início da Idade Média (4000 a.C – 476 d.C), surge Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), o qual tem uma frase que marca bem a questão da razão e fé: “Creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço. ” Isso quer dizer que ele acreditava conciliação entre a fé e razão, e que a fé supera a razão. Podemos considerar, dessa forma, que, para compreender algo, precisamos primeiro crer, pois se não cremos, o caminho para se chegar à compreensão se tornaria mais complexo. Certamente esse é o princípio para entender a relação entre fé e razão, pois “entender” se refere à capacidade do ser racional. Todas as nossas inquietações teóricas e práticas se satisfazem pela fé, é o primeiro momento que precisamos para dar início ao entendimento de algo. Exemplificando Tudo o que concretizamos na vida é de praxe que primeiramente sonhemos e, para que esses sonhos se realizem, é preciso que tenhamos persistência, de forma que a sequência de trabalho na busca desses sonhos tenha estrutura. No entanto, nos caminhos dessas buscas, a persistência depende de fé, não uma fé cega, mas uma fé racional: crer que realmente é possível. E em todos os nossos sonhos em obter algo, é preciso pensar nas consequências, tanto na perspectiva indivi- dual quanto na perspectiva coletiva, levar em consideração o outro. É preciso compreender cada etapa, entender cada momento e, assim, chegar aos objetivos pretendidos. Dessa forma caminham a fé e a razão. Os muitos conflitos que surgiram nos tempos antigos devem-se ao fato de relacionarem a fé emotiva com a razão, o que se torna complexo e difícil se chegar a uma conciliação lógica, mas o objetivo da nossa reflexão é compa- rarmos com a própria racionalidade da fé, o que possibilita tal entendimento. Com os questionamentos da filosofia (como busca da verdade), a teologia (como verdade encontrada) surgiu com o propósito de explicar e substanciar 26 os textos históricos trazendo-os para uma reflexão mais “científica”, mais racional, ou seja, surgiu para fundamentar e debater alguns temas, explicar alguns enigmas que são difíceis de se ter uma explicação perante a razão humana. A teologia é a ciência que busca traduzir em entendimento o que a ciência tradicional denomina remissão espontânea, por não encontrar uma explicação lógica de um determinado fato ou acontecimento. Diante de tantos questionamentos que se enfatizaram na Idade Média, os caminhos foram abertos e facilitados para, mais tarde, as reformas religiosas se tornarem uma nova realidade, trazendo novas perspectivas às pessoas, porém, como é de praxe, novos questionamentos surgiram. Um dos motivos que ocasionou a Reforma foi devido à crise espiritual que se abatia sobre a Igreja daquele período. Portanto, quando questionamos o que ocorre no pensamento humano e nas interações sociais que tornam necessária essa reformulação, é certo e cabível refletirmos as transformações e as causas que proporcionarama nova forma de entender essa relação entre a fé e a razão. Figura 1.2 | A Reforma: Matinho Lutero Fonte: Pixabay. Quando entramos na Modernidade, e com o surgimento do Renascimento, foi possível notar o porquê do conflito entre razão humana e a fé e, a partir daí, entendemos, então, essa mesma relação que houve na Idade Média. 27 Com o Renascimento muito se buscava a razão humana contrária à fé cega das crenças religiosas, sendo o iluminismo a expressão desse movimento, o qual pautava-se pela razão. Assim, entrava-se em conflitos contra as crenças que se aprofundavam em heresias e superstições infundadas. Se de um lado a religião criticava a filosofia situando-a como uma ciência incrédula, da mesma forma, a filosofia fazia sua réplica contra a religião pela sua desatu- alização e sua forma de disseminar e refletir os valores da doutrina cristã. Esses movimentos defendiam o uso da razão em oposição às heresias e às incredulidades que a Igreja da época pregava, ou seja, em oposição à tradição e ao pensamento religioso de forma geral. Uma dessas transformações foi a Reforma Protestante, que ocorreu no século XVI, a partir do ano de 1517, durante a Idade Moderna. Esses movimentos nasceram para se contrapor às práticas da Igreja católica romana, que tinha uma forte estrutura política e econômica, e questionavam os dogmas da Igreja que se disseminaram por toda a Europa. Nessa época, a Igreja tinha grande influência política em muitos países monárquicos. Era um período de mudanças de ideias inspiradas no novo. Uma das coisas que esses movimentos criticavam era a cobrança de indulgências, ou seja, a Igreja da época vendia “terrenos no paraíso”. Nesse cenário, somente os ricos tinham condições de comprar e ter espaço garan- tido a todos os seus familiares. Além disso, anteriormente as missas, além se serem realizadas em latim, eram feitas de costa para o público, e as escri- turas só poderiam ser lidas pelo alto clero, ou seja, a Igreja monopolizava o conhecimento. No entanto, as pessoas passaram a ter hábitos de leitura, e o que não era acessível aos fiéis da Igreja passou a ser por meio das traduções da Bíblila, feitas por homens que se rebelaram contra as ideias da instituição predominante na época. Muitos dos que clamaram por uma reforma na religião daquele período, foram torturados, enforcados ou queimados, como o monge Girolamo Sayarola, enforcado a pedido do Papa Julio II, o jurista Thomas Morus e muitos outros. Na história temos grandes nomes que fazem parte da Reforma Protestante, como Martinho Lutero, João Calvino e outros. Martinho Lutero foi um monge católico alemão do século XVI, doutor em Teologia, e uma de suas inquietações era o fato da Igreja católica da época dizer que algumas pessoas possuíam méritos que poderiam ser transferidos por meio de pagamentos a outras pessoas, cuja salvação era duvidosa. 28 Assimile Quando estudamos um determinado tema, precisamos considerar as análises também para aquele tempo, pois para compará-los com outras épocas, ou épocas posteriores, é preciso fazer uma conversão dos acontecimentos, ou seja, acompanhar a própria evolução e a forma de pensar de cada época. Uma instituição, hoje, não pode ser considerada pelos seus erros do passado, mas sim ser caracterizada e refletida sobre o que ela é na atualidade. Assim como devemos ter em mente que um dos conflitos que ocorreram entre fé e razão são provenientes da forma como a fé se portava naquele momento da história. É inegável que um diálogo entre a fé e a razão ou entre a teologia e a ciência é, ao mesmo tempo, necessário e frutífero, porém, por falta de conhe- cimento, muitas vezes de ambos os lados, a história nos mostra que essas questões continuam perpassado por tensões. Assim é o debate entre fé e ciência no século XXI. A maior parte da discussão contemporânea sobre o suposto conflito entre fé e razão surgiu no contexto de discussões a respeito de ciência e religião. Limitações espaciais impedem uma discussão completa sobre essa questão, mas alguns pontos gerais devem ser avaliados para nos ajudar a entender como pensar sobre quaisquer supostos conflitos que venham surgir. Em primeiro lugar, devemos reconhecer com Agostinho, João Calvino e muitos outros que toda verdade é verdade de Deus. O que é verdade, é verdade porque Deus revelou, criou ou decretou. (MATHISON, 2019, [s.p.]) Portanto, como vimos, desde a antiguidade, ciência e religião estão em conflito e uma das premissas desses conflitos se deve a toda uma estrutura apresentada pela Igreja naquele momento da história. Pois qualquer teoria científica que surgisse, mas que fosse divergente da opinião da Igreja, ainda que correta, era fortemente repreendida. Mas hoje, muita coisa mudou, a própria Igreja Católica, com relação a este quesito, reconhece seus erros. E nos dias atuais, sobre a relação entre fé e ciência já é possível esboçar uma interação que em muitos momentos se torna harmoniosa. 29 Sem medo de errar Considerando o primeiro momento de discussão entre os amigos Pedro, Lúcio e Fábio sobre ciências e teologia e as formas distintas de entendimento e compreensão expressadas por eles, Fábio propôs, procurando defender a ideia de que há interação entre ciência e teologia, e de que não há motivo para por ambas em situação de conflito, que todos aprofundassem os estudos sobre o tema começando pela relação entre fé e razão, se desprendendo de suas primeira convicções, ou seja, fazendo uma pesquisa de forma neutra, procu- rando primeiro refletir sobre o tema por meio de estudos, com o objetivo de compreender as diversas possibilidades e consequentemente as coerências e as incoerências apresentadas. O exercício era que cada integrante do grupo escolhesse situações diferentes de suas concepções, mas que até certo ponto tinham coerência. Para isso, além da pesquisa bibliográfica, eles deveriam também assistir a alguns filmes que os fizessem refletir sobre o assunto. Contato, de 1997, do gênero drama e ficção científica, foi o primeiro filme escolhido pelos amigos. Essa produção aborda a fé e o ceticismo e trata como esses conceitos se contrapõem. O segundo filme escolhido foi Milagres do Paraiso. Esse filme tem um forte apelo emocional e é focado na fé humana, no sobrenatural. A diferença é que a história é real, aconteceu em 2011 na cidade de Cleburne, no Texas. Fábio sinalizou aos amigos que o objetivo não era fazer uma análise técnica de um filme a respeito do roteiro ou cenário, mas observar a essência da história narrada com a própria realidade. Após o filme e com base em estudos, Pedro chegou à conclusão, por exemplo, que milagres não são neces- sariamente fenômenos que desafiam a ciência, mas são ocorrências diárias de benevolência acessíveis a todos. Nesse sentido, chegamos a um primeiro ponto: nem tudo é concorrência ou desafios para se relacionar ciência e teologia, para expor quem está certo ou errado, pois ambas as crenças têm a sua função na sociedade e cada qual representa um tipo de conhecimento relevante para o crescimento humano. Para Fábio, os conflitos que existem entre ciência e religião são fruto do próprio homem pela sua própria comple- xidade, pois, para ele, a própria ciência faz parte da sabedoria entregue por Deus aos homens. Os mistérios grandes podem até desafiar a lógica, por isso são chamados de milagres, mas não têm objetivo de desafiar a ciência e nem deveriam ser da responsabilidade da ciência tentar desvendar mistérios no âmbito da religião, a não ser por questões completamente históricas, como os objetos encontrados por meio da arqueologia que afirmam a existência de determi- nado fato bíblico. Portanto, ambas as crenças devem existir para contribuir https://pt.wikipedia.org/wiki/Drama https://pt.wikipedia.org/wiki/Filme_de_fic%C3%A7%C3%A3o_cient%C3%ADfica 30 com a verdade e não para aniquilar uma a outra. Cabe às ciências outros fatores mais concretos e importantes, direcionados para soluções dosproblemas humanos. A conclusão que os amigos Pedro e Lúcio chegaram é que concordam com Fábio em uma questão importante, que razão e fé não podem ser duas situações totalmente separadas da vida humana. Sabe-se que a fé sem razão é apenas emotiva e, por outro lado, a razão sem a fé pode levar a uma vida vazia, sem estímulo ou sem objetivo. Fé e razão são campos que têm autonomia e características próprias, mas podem interagir usando a própria razão. Fábio completa sua reflexão citando uma passagem bíblica, em Romanos 8:28: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Enfim, a teologia teve que percorrer um longo caminho antes de ser acolhida no horizonte da fé cristã e da revelação. Ela legitima-se na alta Idade Média como ciência da fé, fundamentada sobre a natureza racional do homem e sobre a auto manifestação de Deus, no testemunho e na Sagrada Escritura, pois ela é obra da razão e da fé. Quando a teologia, como pergunta nascida no coração da própria fé, deixa de filosofar, ela facilmente cai num biblicismo fundamentalista ou num positivismo dogmático. Talvez, a atual crise da fé em relação ao homem possa oportunizar à teologia cristã um estudo mais criativo do encontro histórico entre a revelação judeu-cristã e o pensamento filosófico e científico contemporâneo. A fé inclui a capacidade de compreender e conhecer o que Deus revela ao homem, ou seja, para crer, o homem não precisa nem deve renunciar à sua razão. É verdade que o velho problema da fé e razão, atualmente, também se formula, de maneira nova, como questão da fé e da ciência, da relação entre conhecimento científico e conhecimento da fé. A teologia trata da experiência de Deus, de nossa experiência com Deus enquanto membros de uma comunidade de fé. É o esforço de reflexão siste- mática e científica, para compreender e interpretar a experiência de fé de uma comunidade e expressar essa experiência em linguagem compreensível em seu contexto histórico cultural concreto. Já a razão, enquanto uma filosofia, destaca-se por seu conhecimento científico pautado na experiência, se o esquecermos cairemos no risco de um isolamento cultural, cada vez maior, refugiando-se no conhecimento pré-científico e pré-crítico do homem e da sociedade. 31 Avançando na prática Os fatos que são entendidos apenas por teorias, mas não têm nada de concreto Fábio mencionou a seguinte questão: “Sabe-se que existe um fato e que não há entendimento concreto sobre ele por parte dos diversos aspectos de conhecimento, sejam eles científicos, políticos, teológicos, filosóficos, etc. Como esse fato, muitos enigmas são alvos da curiosidade da ciência, que busca evidências constantemente, porém não as encontra. Nesse sentido, lembremo-nos das diversas teorias, como a do Big Bang, que está entre as mais aceitas na atualidade para explicar a origem do Universo, entre outras teorias, que podem até falar que o universo era eterno e estático. Também temos a teoria da evolução com relação ao surgimento do homem, porém, são apenas teorias, não tendo sido definidas de forma concreta. Portanto, já perceberam que muitos dos acontecimentos que tentam explicar a origem do mundo e que estão ligados à religião, nem a ciência nem a filosofia ou outras filosofias conseguem efetivar uma resposta concreta. Diante disso, esses acontecimentos seriam apenas teorias, correto? Então por que muitos gostam de afirmar “concretamente” que Deus não existe ou que o Universo não teve um início, como descrito pelas Escrituras? Para refletir: quando não se pode provar que Deus existe, também não se pode provar que Ele não existe. E aí, como ficamos? Ciência e teologia têm coisas a dizer uma à outra, uma vez que temos a teologia como a verdade encon- trada e a filosofia como a busca da verdade? As suas preocupações podem interagir racionalmente? Resolução da situação-problema Esse enunciado tem uma característica definida, são questionamentos para reflexão, para pensar sobre a nossa fé ou como nos comportamos com relação à fé do outro. Sim, é possível que a ciência e a teologia tenham coisas a dizer uma à outra, considerando que ambas têm um propósito compa- tível, ou seja, a própria “verdade”. Considerando que muitas perguntas não são respondidas pelas categorias de conhecimentos existentes, a verdade, dependendo das circunstâncias, pode estar com uma ou com outra e assim sucessivamente. 32 Faça valer a pena 1. Uma das primeiras questões que surge quando se fala em fé e razão é se ambas são compatíveis ou não. Se refletirmos no Livro Sagrado (Bíblia), perceberemos que esses dois termos são ferramentas importantes para a existência humana. Considerando essa concepção e refletindo sobre o assunto, é possível perceber o quanto essas duas ferramentas são necessárias em nossas vidas. Nesse contexto, sobre a razão, assinale a alternativa correta. a. A razão nos permite chegar a conclusões e explicações a partir das emoções. b. Na razão pensa-se em algo lógico, que se fundamenta em uma situação possível. c. A razão é algo que se posiciona a favor das emoções. d. A razão não é algo que se realiza por meio de argumentos e de abstrações. e. A razão é particularmente associada apenas aos estudos filosóficos. 2. Uma personagem do filme Contato teve uma experiência que não pôde provar, mas reconheceu, assim como os céticos, que no mundo alguma coisa é maior que nós mesmos. Do roteiro do filme, dá para entender que embora haja uma dicotomia entre a teologia e a ciência, e que embora a crença de um seja diferente da crença do outro, a meta é uma só: a busca da verdade. No resultado de seus objetivos, as duas crenças se igualam. Nesse contexto, analise a afirmativa a seguir e complete as lacunas: Para a ciência, quando não se tem a explicação comprovada para algo, dá-se o nome de ____________ para explicar o que não pode ser explicado. No Entanto, a ciência e a teologia têm coisas a dizer uma à outra, uma vez que temos a teologia como a ____________ e a filosofia como ____________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. a. reflexão momentânea / a busca da verdade / incertezas contínuas. b. comprovação suspeita / verdade encontrada / dados improváveis. c. remissão espontânea / verdade encontrada / a busca da verdade. d. dados improváveis / a busca da verdade / comprovação suspeita. e. resultado lógico / remissão espontânea / verdade encontrada. 33 3. No que tange à discussão sobre fé e razão, teologia e ciência, fortale- ce-se a ideia, por meio da qual podemos analisar os contrapontos quanto à relação entre os dois temas – razão e fé – no pensamento medieval; na Idade Moderna; nas reformas religiosas e a fé e ciência nos dias atuais. Portanto, refletimos a hipótese de que ambas são compatíveis, pois existem muitos contrapontos sobre essa temática, e o importante é que nossos amigos que começaram essa discussão, embora, num primeiro momento, defendam suas concepções, ainda assim estejam abertos a buscar o conhecimento sobre essa relação tão mencionada em nossos dias. Sobre o texto, analise as afirmativas a seguir: I. A fé racional é o que nos permite refletir sobre a compatibilidade com a razão. II. O conflito da relação entre fé e razão ocupou os pensadores cristãos na Idade Média. III. A teologia surgiu com o propósito de explicar e substanciar os textos históricos trazendo-os para uma reflexão mais “científica”, mais racional. IV. A teologia surgiu para fundamentar e debater alguns temas, explicar alguns enigmas que são difíceis de explicação perante a razão humana. Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em: a. I e II, apenas. b. II e III, apenas. c. III e IV, apenas. d. I, II e IV, apenas. e. I, II, III e IV. 34 Seção 3 A igreja e a sociedade Diálogo aberto Vamos iniciar esta conversa sobre a importância da comunicação, do diálogo entre as pessoas.Como exemplo, podemos citar o encontro dos amigos. Vamos relembrar os nossos personagens? Pedro está concluindo o curso de Filosofia e não acredita muito na ciência, Lúcio defende a ciência e Fábio está fazendo Teologia e acredita na possibilidade de relação entre ciência e religião. Veja que, ao fazerem questionamentos, embora tendo pensamentos distintos, tiveram respeito um pelo outro, e de forma sábia, desafiaram-se a buscar conhecimentos sobre o assunto debatido. O diálogo é, muitas vezes, a solução de muitos conflitos. O que poderia ser constrangedor inicialmente se tornou um momento de descontração e de aprendizagem. Portanto, após um debate entre amigos, permeado de oposições e conflitos que se originaram pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos e pela relação entre igreja e sociedade, que mudou muito ao longo da história do cristianismo de acordo com as diferentes denominações cristãs, é sempre possível fazer uma releitura, repensar concepções e se atualizar para se compreender as circunstâncias que se apresentam constantemente. São exatamente esses contrapontos que tentaremos compreender a partir das seguintes indagações: a partir dessa relação com a igreja, é possível o desenvolvimento da sociedade? Ou seja, o desenvolvimento da sociedade foi influenciado por esses contrapontos que existiram e existem até hoje? Para isso, veremos a Teologia Contextual, a Teologia Política e os desafios e o papel da igreja hoje. Assim como na Teologia Contextual analisamos os princípios da Bíblia para além do contexto cultural, para chegarmos à compreensão, também precisaremos olhar para além do que nos parece óbvio, pois como dizem os filósofos, nem tudo que aparenta ser no primeiro plano é, de fato. É preciso que demonstremos um grau de maturidade e que nos coloquemos no lugar do outro para, então, nos relacionarmos de forma saudável. Aliás, esses são comportamentos que devem acompanhar qualquer profissional, principal- mente o Teólogo. As contradições muitas vezes nos forçam a sair da nossa zona de conforto ou das nossas verdades absolutas para olharmos outras possibilidades e aumentar nossa área de conhecimento. 35 Não pode faltar Notamos neste debate entre amigos permeado de oposições e conflitos oriundos de uma contradição entre os princípios teóricos e fenomênicos que a relação entre a Igreja e a sociedade mudou muito ao longo da história do cristianismo de acordo com as diferentes denominações cristãs. Em toda a história do cristianismo, a relação entre a igreja e a sociedade perpassaram por profundos conflitos, pois é possível perceber essas oposições entre ambas durante as perseguições do Império Romano e outros acontecimentos ao longo da história. Para respondermos as seguintes indagações sobre o desenvolvimento da sociedade a partir desta relação com a igreja e se o desenvolvimento da sociedade foi influenciado por esses contrapontos que existiram e existem até hoje, temos que observar alguns contextos históricos. É impossível olhar para a história da humanidade e não relacioná-la à própria história do cristianismo ou da religião, pois ambas se relacionam. Houve uma tolerância religiosa nos movimentos cristãos nos primeiros anos de sua existência, ou seja, os romanos não se preocuparam em seguir o cristianismo nascente porque achavam que ele fosse apenas mais uma “seita judaica”, mais um movimento que surgiu ali por alguma discórdia religiosa e que não iria representar qualquer perigo a eles. De acordo com o Novo Testamento, mais precisamente no Atos dos Apóstolos e também nas Epístolas aos Gálatas, vemos os registros das primeiras comunidades da Igreja Cristã. (Igreja que queria dizer “Reunião”). Essa etapa da história ocorreu aproximadamente nos Séculos I, II, III e no início do Século IV. Porém, desde as primitivas comunidades cristãs, muitas outras doutrinas surgiram, o que se deu em plena expansão do Império Romano. Os cristãos, nesse período descrito acima, foram perseguidos por vários Imperadores, e entre os primeiros, encontra-se Nero. A religião cristã só deixou de ser perse- guida no Século IV, a partir do ano 323, pelo Imperador Constantino. O Imperador, que se considerava uma figura religiosa máxima de seu Império, começou a ver as demais “religiões” como prejudiciais ao seu poder absoluto, portanto, as comunidades cristãs começaram a ser perseguidas. Por que o Cristianismo é tão importante quando falamos de sociedade? Porque, muitas das ocorrências devem-se à sua interferência. Essa crença desempenhou um papel importante para o controle, por exemplo, de sacri- fício humano, a escravidão, poligamia, infanticídio, o divórcio, incesto, 36 infidelidade, controle da natalidade, aborto, criminalidade e muitas outras situações que, muitas vezes, são despercebidas pelo mundo com relação aos feitos da igreja. Essas questões são frequentemente temas que a sociedade busca controlar para que ela mesma não entre em estado de anomia. A Igreja, ao interferir na vida social e política dos estados antigos, depois na idade média, renascimento, modernidade e pós-modernidade, traz para dentro do contexto social a moral Cristã, que, por diversas vezes, tende a controlar os impulsos humanos, regulando, dessa forma, a ética e moral social. Reflita Imagine que desde o começo do mundo a religião fosse ausente ou não existisse. Como seria o modelo de conduta das pessoas na sua interação em meio à sociedade. Percebe-se hoje a influência da fé cristã nos ordenamentos jurídicos, na declaração da ONU, na Declaração dos Direitos Humanos, etc. Enfim, os preceitos cristãos tiveram e têm até hoje a influência no modo de vida social, político e econômico. Os mandamentos tiveram como princípio direcionar as pessoas para um comportamento correto, mas se essa influência não existisse, se nada tivesse acontecido em termos de religião, como seria o mundo, a vida em sociedade? Nesse sentido, podemos refletir a importância e o papel da igreja na sociedade. Quando falarmos de anomia, lembremo-nos do sociólogo francês Emile Durkheim (1858-1917): seu conceito significa ausência ou desintegração das normas sociais. A igreja tem um papel preponderante que influencia e ajuda de forma considerável no controle dessas questões. Qual era o objetivo desse conceito? Descrever as patologias sociais da sociedade ocidental moderna, raciona- lista e individualista considerando, principalmente as condições que vive a sociedade hoje, com o acelerado processo de urbanização, falta de solidarie- dade e as novas formas de organização social, e não podemos deixar, ainda, de mencionar a influência da economia na vida das pessoas, o que implica dizer que a cada momento da história, a sociedade se identificava com algum tipo de anomia que se ampliavam conforme o desenvolvimento das cidades. Nesse sentido, a sociedade necessita cada vez mais do envolvimento e da participação de cada instituição, inclusive e principalmente do Estado, que não deve eximir de suas responsabilidades. De acordo com Durkheim (apud BARBOZA, 2015, p. 82), “a sociedade é semelhante a um corpo vivo, é composta de várias partes, cada parte cumpre uma função em relação ao todo”. Analisando o Quadro 1 a seguir, podemos 37 fazer um exercício de verificação a respeito de qual função cada uma das instituições ali nomeadas cumpre para o bom funcionamento da sociedade. Quadro 1.1 | As Instituições Família Religião Trabalho Escola Exército Leis Governo Lazer Fonte: Barboza (2015, p. 83). Apresentaremos a seguir algumas das funções de cada instituição: Família: formador social de opinião e conceitos. A sua importância está em transmitir os primeiros valores. A convivência familiar nos faz absorver as regras de comportamento e maneiras de pensar. Escola: da mesma forma, a escola, com todas as suas normas que envolvem os critérios de avaliação de desempenho, os horários, a convivência com professores e outros profissionais, educa,forma e prepara o indivíduo em sociedade ensinando normas, regras aquilo que se espera do indivíduo no meio social, bem como afirma uma perspectiva de futuro para as novas gerações de crianças e jovens. Religião: as igrejas possuem uma coesão social bem estruturada e tendem a se ajustar aos valores da sociedade. A religião é formadora de opinião social e reguladora de normas junto ao Governo. Ela traz para dentro do contexto social a moral Cristã, que, por diversas vezes, tende a controlar os impulsos humanos, regulando, dessa forma, a ética e a moral. Trabalho: Para Durkheim, a Divisão Social do Trabalho, que é típico das sociedades modernas, leva à coesão social – os laços de interdependência funcional entre os indivíduos. são fatores que unem os indivíduos numa sociedade, pois geram um sentimento de solidariedade. Nesse sentido, a divisão social do trabalho seria responsável por manter a harmonia desse sistema de órgãos que compõe o organismo. Exército: de acordo com Weber (1864 – 1920), essa instituição, assim como a polícia, detém o monopólio do uso legítimo da violência. Ele procura explicar que o Estado é a única instituição que pode fazer o uso legítimo da força física e da repressão. Os indivíduos devem aprender a respeitar essa instituição ou não cometer crimes (contra lei), para não sofrer esta punição, o objetivo é conter casos de anomia ou conflitos sociais. Governo: o Estado não é apenas um agente de poder, o Estado é também um agente moral, que estando também inserido na Divisão Social do Trabalho, desempenha funções sociais que ultrapassam a questão política per se. Como no desenvolvimento no exercício da cidadania, cuidando da vida 38 pública para além da política, como a saúde da comunidade, educação, meio ambiente, etc. Lazer: o lazer é ócio, é o descanso, fundamental para o desenvolvimento psicossocial dos indivíduos. É claro que, por outro lado, é possível ajudar moldar ou modificar as instituições. Os movimentos sociais, por exemplo, contribuem para que o Estado garanta um direito do cidadão. Exemplificando Independentemente da denominação religiosa, as igrejas têm um papel fundamental na estruturação de uma sociedade. Há muitos países cujo descaso com a população e com a qualidade de vida das pessoas é imenso, mas temos na Igreja a esperança de uma melhor situação, pois a igreja ensina, cuida, orienta, incentiva as pessoas a se libertarem. Além de orientar as famílias, governos e estruturas sociais, o papel da igreja é dar uma formação humana, desenvolvendo nos jovens e adultos seus principais atributos e dons, algo que é característico de cada ser humano. As suas missões têm por objetivo cuidar e instruir as comuni- dades locais por meio da caridade, papel exercido por nosso Senhor Jesus Cristo e confiado aos seus seguidores. As missões possuem um engajamento social, exercendo atividades públicas em países onde a educação, o alimento e os cuidados mínimos são escassos. Nesse cenário, o Cristão pode exercer sua missão evangélica, como instruir, comunicar, cuidar e anunciar o Reino de Deus. A partir disso, vamos refletir mais sobre a religião, qual é a sua função social enquanto uma instituição que participa do todo social. É possível notar que a igreja, além de sua importância individual, enquanto instituição pertencente ao corpo social, também tem algum tipo de participação ou influência em cada uma dessas outras instituições. 39 Figura 1.3 | Igreja e Sociedade Fonte: Pixabay. Se observarmos as leis, vamos perceber que os conceitos de religião e direito, por exemplo, sempre estiveram interligados de alguma forma durante a história. Agostinho de Hipona (354 d.C.-430 d.C.), que foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos, dizia que a justiça era dita como humana e divina, em que a lei humana se inspiraria na divina. Nesse sentido, embora do ponto de vista cultural, uma das maiores mudanças das sociedades ocidentais nos últimos anos foi a secularização do Estado deparando-se, vez e outra, com algum fato entre religiosos e secula- ristas no âmbito jurídico. Como já vimos anteriormente em nossa reflexão, é constante a influência da fé cristã nos ordenamentos jurídicos, na declaração da ONU, na Declaração dos Direitos Humanos, etc. É possível perceber que nos preâmbulos da Constituição brasileira, há a invocação de Deus como garantidor dos direitos. Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem 40 preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil. (BRASIL,1988, p. 1; grifo nosso) Existem algumas instituições sociais nas quais podemos notar com maior profundidade a influência da moral cristã e de seus atos evangélicos; tais instituições não tiveram influências somente no período em que o Império romano dominou, mas também, na Idade Média, período em que o cristia- nismo exerceu seu poder em todas as instituições sociais. Depois, nos outros períodos da história humana, com menos influência, ainda conseguiu manter a questão da moral como modelo a ser seguido pela sociedade até nos dias atuais. Não podemos nos esquecer de que a influência do cristianismo ainda se dá fortemente por meios das obras sociais em vários continentes. Figura 1.4 | Mensagem Cristã: liberdade Fonte: iStock. A mensagem cristã expressava a ideia de que não haveria mais distinção entre senhor e escravo, ideia de igualdade e liberdade em um mundo 41 desigual, portanto, muitos se convertiam por meio da pregação cristã. Da mesma forma, os soldados que estavam nos constantes combates, porém ao se depararem com a mensagem falando de paz, propondo um mundo sem guerra, um mundo com novas relações sociais e em consequência disso, tinha esperança de um mundo novo, convertiam-se ao cristianismo. Um outro grupo importante que vai ser atraído pela mensagem cristã são as mulheres. A mulher era extremamente descriminada ainda no contexto greco-romano, além de pouquíssimo espaço , não era alfabetizada e vivia em submissão dos pais, a princípio, e depois do marido, conforme menciona Menezes e Proença (2016, p.10): O valor dado à mulher é outro aspecto marcante no contexto das primeiras comunidades cristãs. No ambiente judaico havia se formatado, desde os tempos vétero-tes- tamentários uma mentalidade patriarcal com absoluta superioridade do homem sobre a mulher. Exemplo disso, era o rigor com que a Lei religiosa se impunha em relação à mulher, sendo, por isso, sua participação nos cerimoniais e cultos legada a uma condição de inferioridade e submissão. Durante as cerimônias religiosas havia espaços próprios e limites para a sua restrita participação, sendo obrigada, inclusive, a permanecer em silencio durante o evento. Na filosofia grega, à época, também não era muito diferente: a liberdade era atributo do homem. Platão e Xenofonte, por exemplo, a rmavam que as mulheres haviam sido criadas exclusivamente para trabalhos domésticos. A mensagem cristã que levou alívio e esperança às mulheres e aos escravos está em Gálatas 3: 38, “em Cristo não há mais distinção entre senhor e escravo, entre judeus e gentios e nem entre homem e mulher”. Sendo assim, o cristianismo valorizou o papel da mulher no meio social, entregando a ela uma liberdade que até então não havia sido experimentada por outras crenças monoteístas. Como a igreja proibia o aborto, e acolhia as crianças abandonadas, e em consequência disso praticava também ações de acolhida às mães que precisavam de apoio. Todas essas atitudes atraiam as mulheres,
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