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Abordagens e Urgências em Saúde Mental

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Indaial – 2022
Saúde Mental
Prof. Julio Cesar Carregari
Profª. Luciana Kelly Da Silva Fonseca
1a Edição
abordagenS e 
UrgênciaS eM
Elaboração:
Prof. Julio Cesar Carregari
Profª. Luciana Kelly Da Silva Fonseca
Copyright © UNIASSELVI 2022
 Revisão, Diagramação e Produção:
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
 Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.
Núcleo de Educação a Distância. CARREGARI, Julio Cesar.
Abordagens e Urgências em Saúde Mental. Julio Cesar Carregari; Luciana 
Kelly Da Silva Fonseca. Indaial - SC: UNIASSELVI, 2022.
209p.
ISBN 978-65-5646-460-2
ISBN Digital 978-65-5646-461-9
“Graduação - EaD”.
1. Saúde 2. Urgência 3. Abordagem 
CDD 616.89
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Olá! 
Caro Acadêmico, o estudo que você está iniciando é um conteúdo dinâmico e 
ilustrativo de como a Psicologia tem contribuído para a construção de compreensões so-
bre as abordagens teórico conceituais em saúde mental, além de como estão organiza-
das algumas das principais práticas presentes nas urgências desse tipo de atendimento.
Na Unidade 1, abordaremos os aspectos constitutivos da instituição hospitalar, 
a formação de Redes de Apoio e de Atenção em Saúde e o posicionamento profissional 
do psicólogo diante da crise e urgências em saúde mental. 
Vale destacar que compreendemos o acesso ao equipamento hospitalar como 
direito fundamental de todo o cidadão e que seu funcionamento e composição técnico-
profissional pode favorecer, ou não, a efetivação dos cuidados necessários aos usuários 
do Sistema Único de Saúde em suas demandas de atenção, prevenção e reabilitação da 
saúde física e mental das pessoas.
É, portanto, dever do Estado e de todo o profissional presente nesse dispositivo 
de atenção à saúde, manter e trabalhar para a regulamentação de um atendimento 
humanizado no acolhimento dos usuários, qualificado ética e tecnicamente com base 
na ciência e na sua responsabilidade de produção de terapêuticas sustentadas pela 
lógica da clínica ampliada em defesa da vida em sua diversidade de expressão.
Em seguida, na Unidade 2, trabalharemos os temas referentes às principais 
abordagens de cuidado e intervenções psicológicas com ênfase na clínica terapêutica 
aplicadas às situações de urgências em saúde mental.
Com o compromisso ético-estético e político assumido pelos profissionais 
das equipes de atenção aos usuários da rede de atendimento e apoio à saúde mental, 
o psicólogo atuará no enfrentamento das práticas de patologização da vida diária e 
cotidiana promovendo a integralidade dos cuidados e a potencialização da vida e dos 
diferentes dispositivos clínicos de acolhimento e tratamento.
Por fim, na Unidade 3, apresentaremos a estratégia clínica do Acompanha-
mento Terapêutico como dispositivo clínico a ser implementado pelos serviços de 
atendimento às situações de crise urgências em Saúde Mental.
APRESENTAÇÃO
Como dispositivo clínico, o acompanhamento terapêutico pode ser apropriado 
por diferentes abordagens teórico-conceituais e sua contribuição aos diferentes mo-
mentos de atenção e serviços ofertados aos usuários da rede pela equipe multiprofis-
sional deve fortalecer o entendimento e a efetivação da Rede de Atenção Psicossocial 
prevista no Sistema Único de Saúde.
 
Bom estudo!
Prof. Julio Cesar Carregari
Profª. Luciana Kelly Da Silva Fonseca
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e 
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
GIO
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
QR CODE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - A INSTITUIÇÃO HOSPITALAR, REDES DE ATENÇÃO
EM SAÚDE, CRISE E URGÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL ........................................................ 1
TÓPICO 1 - A INSTITUIÇÃO HOSPITALAR COMO DIREITO
DE ACESSO AO CUIDADO E À SAÚDE MENTAL ....................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA PARA O SISTEMA ATENÇÃO
A SAÚDE MENTAL ..................................................................................................................3
2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DA ATENÇÃO À CRISE
 E URGÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL...................................................................................................12
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 20
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 21
TÓPICO 2 - A REFORMA PSIQUIÁTRICA ............................................................................ 23
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................23
2 A REFORMA PSIQUIÁTRICA............................................................................................. 23
2.1 ATENÇÃO À CRISE NO CONTEXTO DA CLÍNICA AMPLIADA ......................................................32
RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 42
TÓPICO 3 - REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL ...................................................... 45
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 45
2 REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL ...................................................................... 45
2.1 CONTRIBUIÇÕES CLÍNICAS E DESAFIOS HISTÓRICOS ..............................................................53
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 62
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 68
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 69
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 71
UNIDADE 2 — PRINCIPAIS ABORDAGENS DE CUIDADO E MODELOS
DE INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS E DE ACOMPANHAMENTO
TERAPÊUTICO EM SITUAÇÕES DE URGÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL ..............................75
TÓPICO 1 — AS ESTRATÉGIAS DE ACOLHIMENTO E A INTERVENÇÃO
PROFISSIONAL..................................................................................................................... 77
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 77
2 HISTÓRICO DE PRÁTICAS E INTERVENÇÕES PROFISSIONAIS
EM SAÚDE MENTAL .............................................................................................................. 77
3 ABORDAGENS DE CUIDADO E MODELOS DE INTERVENÇÕES
PSICOLÓGICAS EM SAÚDE MENTAL ..................................................................................81
3.1 O DESAFIO DA ESTRUTURAÇÃO DAS REDES DE SAÚDE .........................................................87
4 SAÚDE MENTAL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES NAS REDES
DE ATENÇÃO À SAÚDE ....................................................................................................... 92
RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................97
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 98
TÓPICO 2 - ATENÇÃO À CRISE EM SAÚDE MENTAL ........................................................ 101
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 101
2 SAÚDE MENTAL ..............................................................................................................102
3 ATENÇÃO À CRISE: URGÊNCIA E EMERGÊNCIA .......................................................... 104
3.1 DOS PROTOCOLOS AOS CUIDADOS EFETIVOS COM A SAÚDE ..............................................108
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................111
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 112
TÓPICO 3 - A DESPATOLOGIZAÇÃO DA VIDA................................................................... 115
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 115
2 A MEDICALIZAÇÃO DA VIDA .......................................................................................... 115
3 ESTIGMAS EM SAÚDE MENTAL ...................................................................................... 118
4 DESPATOLOGIZAÇÃO DA EXISTÊNCIA ........................................................................ 119
4.1 O COMPROMISSO ÉTICO, ESTÉTICO E POLÍTICO DA PSICOLOGIA
 COM A SAÚDE MENTAL .....................................................................................................................121
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................124
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................129
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................130
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................132
UNIDADE 3 — SITUAÇÕES DE CRISE E URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL
E O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO ..........................................................................143
TÓPICO 1 — CRISE E URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL......................................................145
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................145
2 SITUAÇÕES DE CRISE E URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL
MAIS PREVALENTES .........................................................................................................152
2.1 CONCEITOS DE DIFERENTES SITUAÇÕES E URGÊNCIA
 PSICOLÓGICA EM CONTEXTOS VARIADOS .................................................................................158
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................162
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................163
TÓPICO 2 - DESAFIOS PARA O ATENDIMENTO NAS REDES DE SAÚDE .........................165
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................165
2 DESAFIOS PARA O ATENDIMENTO NAS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE ....................165
2.1 INTERVENÇÕES INTERDISCIPLINARES ....................................................................................... 169
2.2 O TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE MENTAL .......................................................... 172
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................178
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 179
TÓPICO 3 - ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO COMO ESTRATÉGIA CLÍNICA .................. 181
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 181
2 O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO NA SAÚDE .......................................................182
2.1 ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E PRINCIPAIS ABORDAGENS
 TEÓRICO CONCEITUAIS ....................................................................................................................188
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................194
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................199
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 200
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 202
1
UNIDADE 1 -
A INSTITUIÇÃO HOSPITALAR, 
REDES DE ATENÇÃO EM 
SAÚDE, CRISE E URGÊNCIAS 
EM SAÚDE MENTAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade,você deverá ser capaz de:
• compreender o percurso histórico das práticas de institucionalização e tratamento 
da saúde mental;
• refl etir as circunstâncias históricas para o surgimento das ideias e práticas da Refor-
ma Psiquiátrica como estratégia de atendimento humanizado à saúde mental;
• entender o signifi cado da concepção de clínica ampliada e suas consequências para 
a produção prática do fazer profi ssional;
• reconhecer as contribuições clínicas dessa nova perspectiva de intervenção em 
saúde mental e seus desdobramentos éticos e políticos para os sujeitos envolvidos 
por essa temática.
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de 
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A INSTITUIÇÃO HOSPITALAR COMO DIREITO DE ACESSO AO CUIDADO E À 
SAÚDE MENTAL
TÓPICO 2 – A REFORMA PSIQUIÁTRICA
TÓPICO 3 – REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
A INSTITUIÇÃO HOSPITALAR COMO 
DIREITO DE ACESSO AO CUIDADO E À 
SAÚDE MENTAL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos como a Psicologia está contribuindo 
para a oferta de serviços especializados ao Sistema Único de Saúde, ao apropriar-
se de seu papel na formação das equipes multiprofissionais, compondo junto das 
diferentes e diversas especialidades de conhecimento no campo da saúde, uma 
unidade de atenção com vistas ao entendimento e à compreensão do homem em sua 
integralidade física e mental.
Analisaremos como a formação de um sistema público de atendimento em 
saúde produz efeitos na formação acadêmica desse profissional e direciona seu agir 
em práticas clínicas e terapêuticas capazes de responder às diferentes demandas de 
cuidado que perpassam desde a dimensão mais individualizada do ser em seu processo 
de singularização da vida e da expressão de seu sofrimento até os aspectos mais 
coletivos e socio-comunitários de sua determinação.
Estudaremos alguns aspectos relevantes referentes aos direitos de acesso 
da população aos serviços de saúde mental e à operacionalidade desses direitos, 
junto aos diferentes aparelhos institucionais de atenção – dentre eles, em especial 
atenção, o hospital como espaço de referência ao atendimento das crises e urgências 
experienciadas pelas pessoas com algum tipo e grau de sofrimento mental com 
demanda para atendimento emergencial da Rede de atenção à saúde mental.
2 A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA PARA O SISTEMA 
ATENÇÃO A SAÚDE MENTAL
Pensar a instituição hospitalar como um espaço de garantia de direitos e de 
acesso ao cuidado à saúde, de modo geral, pode parecer uma redundância quanto 
aos compromissos assumidos por aqueles profissionais que se responsabilizam pelo 
desenvolvimento e cumprimento das práticas necessárias ao bom funcionamento 
organizacional dessa unidade de atenção à saúde, bem como de todo complexo 
derivado de suas atribuições básicas de atenção, acolhimento, tratamento e reabilitação 
dos sujeitos que dele necessitam.
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
4
Para o atendimento das demandas específicas apresentadas pelos usuários 
do Sistema Único de Saúde e o enfrentamento das diversas condições de trabalho 
vivenciadas pelas equipes multiprofissionais que compõem os diferentes equipamentos 
institucionais de atenção à saúde mental, faz-se necessário um esforço de parceria 
e comprometimento conjunto com vistas a produzir um espaço participativo e 
protagonizado pelas pessoas em seu exercício cidadão de direito e de fato.
 
Esta perspectiva está alinhada à participação cidadã e na busca de uma melhor 
condição de oferta de serviços de qualidade de atendimento integral à saúde pública e 
em específico à Saúde Mental, que se tem na concepção preconizada pelos princípios 
constitucionais da universalização dos atendimentos, da integralidade dos cuidados e 
de igualdade de acesso às ações ofertadas nas diferentes modalidades institucionais de 
atenção, a compreensão de que toda e qualquer intervenção feita nessa área demanda 
efetiva participação ativa dos envolvidos nesses processos, desde a pessoa dos agentes 
gestores de setor, até mesmo do usuário final dos equipamentos de oferta de serviços.
A contribuição da Psicologia na participação e sistematização dos serviços 
de saúde mental no Brasil ganha visibilidade, dentre tantos outros destaques, pela 
publicação, em 2013, do relatório da regulação dos serviços de saúde mental no Brasil 
com vistas a discutir e apresentar a inserção do profissional da Psicologia tanto no 
Sistema único de Saúde, quanto na participação do quadro de profissionais da saúde 
complementar (CFP, 2013).
Com essa publicação o Conselho Federal de Psicologia, além de apresentar 
as principais normas jurídicas que organizam e regulamentam os serviços de atenção 
à saúde mental no Sistema Único de Saúde brasileiro, também toca na questão da 
necessidade de se refletir, debater e transformar a lógica que a regulamentação da 
Saúde Mental está assumindo em nosso país. “[...] Dentre vários importantes achados, 
a pesquisa identifica que as ações preventivas na área da saúde mental no país ainda 
se concentram em poucos programas específicos, como, por exemplo, àqueles voltados 
para atendimento de usuários de álcool e outras drogas” (CFP, 2013, p.10).
É claro que o tema do atendimento de usuários de álcool e outras drogas é uma 
questão importante e merece o interesse e as intervenções profissionais especializadas 
sobre esse fato, porém a saúde mental é um amplo e complexo campo que requer 
estratégias de práticas e saberes que se aplicam no constante enfrentamento das 
demandas suscitadas na emergência dos sujeitos que se apresentam em sofrimento 
psíquico e na real possibilidade de existência e reinserção social destes.
5
Para o enfrentamento e o cuidado ofertado às pessoas que apresentam 
problemas de uso e abuso de álcool e outras drogas, foi adotado no Brasil 
uma estratégia de intervenção em saúde reconhecida como Redução de 
Danos. Essa modalidade de atendimento aos dependentes químicos de 
drogas lícitas ou ilícitas visa a valorização da vida no respeito à autonomia 
dos sujeitos, ao diálogo com os serviços de saúde prestados e à garantia 
dos direitos cidadãos.
INTERESSANTE
Desse modo, o que se busca como princípio na prática profi ssional do psicólogo 
é assegurar a todos o fundamental direito de acesso aos cuidados à saúde, à dignidade 
e às condições básicas de vida com vistas a integralidade de ações pautadas na preven-
ção, promoção e recuperação da saúde de modo geral e da saúde mental em específi co.
Vale destacar que a presença do profi ssional da Psicologia nos espaços de 
atendimento à saúde e sua especial atenção à saúde mental, tanto os pacientes dos 
sistemas quanto dos demais profi ssionais que formam as equipes de trabalho, constitui-
se em uma demanda moderna de organização do espaço institucional de acolhimento 
dos sujeitos e de suas necessidades de cuidado e tratamento. 
As contribuições da Psicologia nesses espaços e com relação às demandas 
de saúde mental se referem tanto ao enfrentamento das questões vivenciadas pelas 
demandas de acolhimento de conteúdos emergentes das relações humanas quanto da 
necessidade de embate dos saberes e práticas historicamente constituídas e a busca 
por melhores e humanizadas estratégias de tratamento e promoção de saúde.
Em uma análise de como a Psicologia tem se constituído nos espaços 
institucionais de atuação profi ssional, Baremblitt, Barros e Hur (2021), ao apresentarem 
o editorial de um número especial da publicação Ciência e Profi ssão do Conselho 
Federal de Psicologia, nos apontam para a pluralidade e diversidade desse campo de 
conhecimento e a sua contribuição na transformação do saber-fazer técnico e científi co 
na perspectiva de uma profi ssão constituída na interface dialógica com os diferentes 
saberes com osquais se relaciona.
[...] Nesse sentido, a inserção da Psicologia nos contextos institu-
cionais é marcada por uma conexão de saberes que a torna uma 
disciplina de interface, ou que demanda que suas/seus autoras/es 
e pesquisadoras/es se posicionem num território de fronteira, pro-
duzindo bricolagens entre saberes que têm origens em campos di-
versos. Constitui-se assim um amplo campo permeado de práticas 
e saberes heterogêneos, e este número temático é uma expressão 
dessa heterogeneidade (BAREMBLITT; BARROS; HUR, 2021, p. 2).
6
É interessante perceber o viés normativo que a Psicologia assume enquanto 
área do conhecimento constituída na interseção entre as ciências sociais e humanas e 
do quanto seu compromisso histórico com uma prática profissional regulamentada há 
59 anos no Brasil se estabeleceu como possibilidade de luta, resistência e emancipação 
do homem em sua potência livre e criadora. Ainda nos dizeres de Baremblitt, Barros, Hur 
(2021, p. 1):
[...] Vale destacar que essa inserção da psicologia em contextos 
institucionais é fruto do desenvolvimento de suas práticas durante 
os 58 anos de existência enquanto profissão. Consideramos que toda 
a mobilização e a campanha acerca de um compromisso social da 
psicologia e a ênfase da relação entre psicologia e políticas públicas 
forneceram as bases para que a articulação com distintos contextos 
institucionais fosse realizada com êxito.
 
Desse modo, é por meio do compromisso assumido também pelos psicólogos, 
que a defesa da saúde como direito fundamental do homem e dever do estado 
acontece em várias frentes de trabalho e se realiza na oferta de serviços de qualidade 
e de viabilidade técnica responsáveis pelo exercício ético e político do fazer profissional.
Por se tratar de uma prática em rede, o hospital são umas das pontas dos servi-
ços ofertados nessa dinâmica relação de cuidado e tratamento revelando-se como um 
dos espaços de possibilidade de intervenção profissional cujas funções de prevenção, 
promoção e recuperação das pessoas nele assistidas e por ele tratadas, se atualizam e 
se legitimam como elementos constitutivos do plano da saúde pública e de qualidade.
Vejamos como o Sistema Único de Saúde (SUS), garantido e previsto pela 
Constituição Federal de 1988 organiza e oferece os diferentes espaços de atendimento 
aos cidadãos que precisam de atenção e apoio à saúde, de um modo geral, e à saúde 
mental, com uma demanda específica pelos serviços de atendimento psicológico, com 
vistas a realizar o acesso de fato e de direito também aos cuidados psicossociais.
[...] O Sistema Único de Saúde – SUS é a instituição jurídica criada 
pela Constituição Federal para organizar as ações e serviços públicos 
de saúde no Brasil. A CF define o SUS (art. 198), estabelece as suas 
principais diretrizes (Art. 198, incisos I a III), expõe algumas de suas 
competências (art. 200), fixa parâmetros de financiamento das ações 
e serviços públicos de saúde (art. 198, parágrafos 1º a 3º) e orienta, de 
modo geral, a atuação dos agentes públicos estatais para a proteção 
do Direito à saúde (arts. 196, 197 e 198, caput). Como um sistema que 
é, o SUS reúne em si todas as instituições jurídicas que desenvolvem 
ações e serviços públicos de saúde no Brasil (CFP, 2013, p. 31).
 
Ainda podem fazer parte desse sistema público de saúde as iniciativas privadas 
que se integram ao SUS denominadas como redes de saúde complementar ou até 
mesmo aquelas ações exclusivamente privada, usualmente, organizadas pelos planos 
de saúde, denominadas de saúde suplementar. Há ainda os prestadores autônomos 
cujos serviços são prestados de forma liberal, totalmente particular.
7
Independentemente de como são ofertados os serviços que viabilizam o 
direito de acesso à saúde de qualidade e que atendam a todas e quaisquer demandas 
apresentadas pela população, ainda sim, é dever do estado regular, fiscalizar e assegurar 
o bom funcionamento desse sistema. Vale destacar que, assim como toda e qualquer 
atividade profissional regulamentada pela legislação brasileira, as ações relacionadas 
às prática da Psicologia no âmbito da saúde são normatizadas e fiscalizadas pelos 
Conselhos Regionais e Federais de Psicologia, estando também as ações realizadas na 
esfera da saúde suplementar fiscalizadas pelos órgãos de defesa do consumidor.
Está previsto na base das regulações e normativas técnicas e legais do Sistema 
Único de Saúde a construção de uma rede de apoio, cuidado e assistência à saúde 
mental com a efetiva realização do princípio da integralidade dos serviços e com 
destaque às atividades de prevenção, promoção e reabilitação de saúde das pessoas, 
garantidas a qualidade e abrangência de suas intervenções. 
Segundo o relatório do Conselho Federal de Psicologia, as atividades de 
prevenção à Saúde Mental no Brasil ainda são caracterizadas de forma pontuais, apesar 
de fazer clara referência à lógica de redução de riscos de doenças. 
[...] A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde – 
NOB/SUS, portaria do Ministério da Saúde de 6 de novembro de 
1996, define três grandes campos de atenção à saúde, a saber: a) 
o da assistência, em que as atividades são dirigidas às pessoas, 
individual ou coletivamente, e que é prestada no âmbito ambulatorial 
e hospitalar; b) o das intervenções ambientais, no seu sentido mais 
amplo, incluindo as relações e as condições sanitárias nos ambientes 
de vida e de trabalho, o controle de vetores e hospedeiros e a 
operação de sistemas de saneamento ambiental (mediante o pacto 
de interesses, as normalizações, as fiscalizações e outros); e c) o das 
políticas externas ao setor saúde, que interferem nos determinantes 
sociais do processo saúde-doença das coletividades, de que são 
partes importantes questões relativas às políticas macroeconômicas, 
ao emprego, à habitação, à educação, ao lazer e à disponibilidade e 
qualidade dos alimentos (CFP, 2013, p. 52-53).
Essa normatividade ganhou novos destaques com a Portaria MS 399, de 22 de 
fevereiro de 2006, ao propor como projeto de abrangência de ação nacional o Pacto 
pela Saúde 2006 ou Consolidação do SUS e Diretrizes Operacionais.Com essa portaria, 
há ênfase no processo de regionalização dos serviços de saúde no SUS e, com isso, a 
consolidação de uma estratégia que melhor atendesse aos critérios de integralidade 
nas práticas de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação da saúde das pessoas 
atendidas por esse sistema.
Apesar dos avanços previstos pela normatividade do Pacto pela Saúde 2006, 
no SUS, a demanda de uma intervenção que se ajustasse ao processo de prevenção 
à Saúde Mental se organizava para além das experiências e vivencias experimentadas 
por grupos específicos de atenção dessa modalidade de atendimento à saúde, como é 
o caso dos usuários de álcool e outras drogas. 
8
Desse modo, com base na III Conferência Nacional de Saúde Mental de 2001, a 
sistematização de oferta de serviços de saúde oferecidas pelo SUS, atende ao processo de 
descentralização previsto na criação e funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial. 
Uma estratégia que reorganizava e direcionava a administração pública e 
seus diferentes entes constitutivos, com responsabilidades e atuações distintas em 
consonância aos princípios de universalidade, integralidade e igualdade na oferta de 
ações de prevenção, promoção e reabilitação da saúde.
[...] A base normativa para implantação e funcionamento dos CAPS 
foi estabelecida pelas Portarias Ministeriais MS/GM (Gabinete do 
Ministro) 336 e SAS (Secretaria de Atenção à Saúde) 189, ambas de 
2002. A Portaria MS/GM 336, de 19 de fevereiro de 2002, acrescentou 
novos parâmetros aos definidos pela Portaria SNAS 224 de 1992 
para a área ambulatorial, ampliando a abrangência dos serviços 
substitutivos de atenção diária, estabelecendo portes diferenciados 
a partir de critérios populacionais, e direcionando novos serviços 
específicos para área de álcool e outras drogas, bem como para a 
infância e adolescência (CFP, 2013,pp.57-58).
Dentre as diferentes atribuições previstas para os CAPS estão as atenções di-
árias oferecidas aos usuários; realizar o gerenciamento dos projetos clínicos terapêu-
ticos personalizados; atuar na busca de reabilitação e integração social completa dos 
usuários valorizando e resgatando as expressões singulares dos sujeitos presentes nas 
diferentes dimensões de imanência das pessoas (educação, trabalho, esporte, cultura 
e lazer) e realizando o enfrentamento das questões problemas através de estratégias 
conjuntas com outros setores da sociedade.
[...] Os CAPS também têm a responsabilidade de organizar a rede de 
serviços de Saúde Mental de seu território; dar suporte e supervisionar 
a atenção à Saúde Mental na rede básica, PSF (Programa de Saúde 
da Família), PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde); 
regular a porta de entrada da rede de assistência em Saúde Mental 
de sua área; coordenar junto com o gestor local as atividades de 
supervisão de unidades hospitalares psiquiátricas que atuem no seu 
território; e manter atualizada a listagem dos pacientes de sua região 
que utilizam medicamentos para a Saúde Mental (CFP, 2013, p.58).
 
Diante do que fora até agora apresentado você deve estar se perguntando, mas 
e como fica questão das emergências em Saúde Mental? Como se organiza o cuidado 
oferecido nos serviços de emergências ambulatoriais e hospitalares às demandas dos 
sujeitos em sofrimento psíquico? Como trabalha o profissional de Psicologia diante das 
demandas enfrentadas nesses serviços?
Essas e outras questões serão desenvolvidas sem a pretensão de minimizar ou 
simplificar o complexo contexto dos atendimentos em Saúde Mental e seus desafios 
diários e cotidianos vividos pelos diferentes profissionais que compõem o quadro 
de especialidades e de cuidados médicos e sociais envolvidos desde o acolhimento, 
tratamento e acompanhamento dos usuários e familiares atendidos nesse sistema.
9
Para tanto, vale refletir que, preferencialmente e originalmente, a lógica de 
trabalho do SUS e da Saúde Mental acontece no processo de descentralização e 
territorialização dos sujeitos atendidos pela rede de serviços organizada por diversos 
aparelhos e dispositivos institucionais com ações específicas e objetivos práticos que 
se complementam e viabilizam a integralidade do acesso ao direito pleno do cidadão à 
saúde. Desse modo, as emergências e atenção hospitalar à Saúde Mental é uma das 
diferentes e diversa frente de atuação e cuidado profissional onde o psicólogo pode 
e deve atuar em busca da promoção e reabilitação da saúde e da saúde mental dos 
sujeitos atendidos.
Então, por que o tema da atenção hospitalar e das emergências é uma questão 
central na Saúde Mental e como as estratégias de atendimento podem garantir, 
verdadeiramente, um efetivo acesso ao direito básico de cuidado à saúde e melhores 
condições de vida?
Quando nos referimos aos serviços hospitalares em saúde mental, nem sempre 
o que embasa as práticas institucionais de cuidado estava pautada por uma ética da 
vida como a entendemos hoje e a defendemos como critério fundamental presente na 
ideia de projetos de políticas públicas capazes de atender a diversidade das expressões 
humanas em suas singularidades.
Leia o trecho a seguir e analise como, ao longo da história de atendimento 
emergencial às pessoas com algum tipo de transtorno mental e em situações de crise, 
eram assistidas por esses serviços e então reflita sobre a importância das mudanças 
de paradigmas vivenciadas pelo setor da Saúde Mental para o atendimento de seus 
usuários e a atuação profissional das equipes multiprofissionais. 
[...] A população com transtorno mental deve ter acesso aos 
serviços de saúde, da atenção básica à urgência e emergência, 
como qualquer outro cidadão, porém nem todos os profissionais 
são preparados para tratar um usuário em crise. Pensando nisso, 
o município de Campinas há dez anos agrega psiquiatras às 
equipes do Samu. “Antigamente, quando alguém entrava em crise, 
quem ia buscar era uma ambulância vazia, com uma grade, e era 
muito desumano. Campinas inseriu o especialista na unidade de 
emergência para qualificar o atendimento”, afirmou a psiquiatra Sara 
Maria Teixeira Sgobin, que compõe a coordenação da área técnica 
de saúde mental do município. Segundo ela, um próximo passo da 
Reforma Psiquiátrica seria que a formação do médico generalista 
englobasse aspectos de urgência e emergência em Psiquiatria 
(OLIVEIRA, 2015, p. 542).
Como forma de resposta ao desafio proposto pela demanda dos usuários dos 
serviços de Saúde Mental, houve um reordenamento da rede de atenção básica de 
saúde através das estratégias de oferta de serviços especializados implementados 
pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
10
Estes centros respondem à necessária substituição dos tratamentos realizados 
em hospitais psiquiátricos ou internações prolongadas que distanciavam as pessoas 
de suas famílias e comunidade. Com vistas a atender a lógica de promoção de saúde, 
reabilitação psicossocial dos sujeitos e reinserção comunitária o CAPS pode constituir-
se em uma estratégia de valorização da vida e de maior eficácia de tratamento e oferta 
de cuidados humanizados.
Segundo as Portarias MS/GM 336, de 19 de fevereiro de 2002 e SAS 189, desse 
mesmo ano, os Núcleos/ Centros de atenção psicossocial (NAPS/ CAPS) previam os 
atendimentos individuais, em grupo, visitas domiciliares e atividades comunitárias 
que buscavam a reinserção dos usuários no contexto sociocultural de trabalho, lazer e 
demais espaços de convivência e manutenção da vida.
[...] A Portaria SNAS 224 também instituiu o chamado Hospital-
Dia e definiu procedimentos para serviços de urgência psiquiátrica 
em hospitais gerais – tudo com o objetivo de evitar a internação 
hospitalar integral, incentivando o paciente a retornar ao convívio 
social (CFP, 2013, p. 67-68).
Dessa forma, o Sistema Único de Saúde (SUS) irá organizar seu atendimento e 
modalidades de serviços a partir da ideia de uma formação em rede, uma perspectiva de 
intervenção cuja abrangência será garantida pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) 
constituída por diferentes tipos de Centros de Atenção Psicossocial estruturados em 
função tanto das especificidades de atendimento quanto da relação dos serviços por 
número de habitantes caracterizados como territórios de abrangência.
Assim os CAPS podem apresentar as seguintes modalidades de atendimento 
que atendem municípios ou regiões de saúde com população acima de 15 mil habitantes, 
independente da faixa etária, mas que estejam vivenciando:
 
[...] intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos 
mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao 
uso de substâncias psicoativas, e outras situações clínicas que 
impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida 
(BRASIL, 2015, p. 17).
Os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPS - I), aqueles dedicados ao 
atendimento de crianças e adolescentes com igual indicação clínica de sofrimento psíquico, 
indicado para municípios ou regiões de saúde com população acima de 70 mil habitantes.
Os Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS - AD), os centros 
responsáveis pelo atendimentos:
 
[...] pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso 
sofrimento psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras 
drogas, e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer 
laços sociais e realizar projetos de vida. Indicado para municípios ou 
regiões de saúde com população acima de 70 mil habitantes (BRASIL, 
2015, p.19).
11
Ainda estão previstos para o bom funcionamento desses Centros e para o 
melhor desempenho de suas funções na atenção à saúde mental da população os 
serviços também deverão contar com equipe multiprofissional especializada durante 
todo horário de funcionamento com vistas a atender as demandas regionalizadas dos 
seus usuários com respeito às suas singularidades clínicas e socioculturais.[...] Estes serviços são especializados em saúde mental e têm caráter 
de base comunitária, que funcionam de “porta aberta” e atendem tanto 
a demandas referenciadas pela atenção básica e demais serviços 
intra e intersetoriais, quanto demanda espontânea, destinam-se 
prioritariamente à assistência de pessoas com transtornos mentais 
mais graves e persistentes, efetuando ações de reabilitação em 
regime mais intensivo (BRASIL, 2021, p.4).
Vale destacar que para o projeto de um programa de Saúde Mental alinhado aos 
princípios da reforma Psiquiátrica, o processo de hospitalização dos sujeitos em crise 
devido a manifestação de algum transtorno mental e/ ou pelo uso/ abuso de álcool, 
crack e outras drogas.
Esses processos serão considerados em sua excepcionalidade e contara, como 
toda a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), com profissionais especializados para o 
acolhimento da demanda específica dessa população, sendo indicada a internação 
quando esgotados os demais recursos oferecidos pela rede.
Assim como nos CAPS, no processo de atendimento hospitalar das pessoas em 
sofrimento psíquico deve contar com um serviço terapêutico capaz de avaliar e diag-
nosticar os processos de adoecimento dos sujeitos reconhecendo suas manifestações 
somáticas ou psiquiátricas, atuar nas situações de crise e/ou fragilidades socioemocio-
nais que revelem risco de vida tanto para o usuário do sistema de saúde quanto para as 
pessoas de seu convívio, familiar e comunitário. “[...] O tratamento é focado no manejo 
da crise aguda, pelo tempo mínimo necessário, sempre atentando para oferta do melhor 
cuidado, com segurança e proteção do paciente” (BRASIL, 2021, p.13).
A garantia do serviço voltado à prevenção, promoção e reabilitação psicossocial 
das pessoas assistidas por essa rede de atenção circunscreve-se também pelo 
favorecimento de acesso aos princípios básicos e fundamentais pertinentes ao efetivo 
exercício cidadão dos sujeitos, com a garantia de acesso digno e de qualidade a todo e 
qualquer serviço voltado para o cuidado da Saúde Mental.
A organização de um modelo de atenção à saúde mental montado na ideologia 
de um serviço que funcione em rede e aparelhado por diversos dispositivos em níveis 
tão diferenciados parece favorecer o princípio básico de direitos e deveres fundamentais 
vivenciados por todos nós, cidadãos brasileiros como garantia de acesso digno e de 
qualidade à saúde mental em sua prevenção, promoção e reabilitação psicossocial.
12
Todo o planejamento técnico-científico pautado pelo projeto de práticas que se 
constituem no ideário dos direitos humanos e da luta da reforma psiquiátrica, ainda temos 
um longo caminho na construção de espaços e serviços que contem com toda a equipe 
técnica-profissional previstas na letra das leis e que tenham condições estruturais, 
físicas e humanas mínimas necessárias para desempenharem seus trabalhos de forma 
eficiente e com respeito a todos os envolvidos nesse processo.
2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DA ATENÇÃO À 
CRISE E URGÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL 
Para iniciarmos esse percurso que pretende apresentar como os aspectos 
históricos e conceituais da atenção à crise e urgências em saúde mental se encontram 
na base das práticas dos serviços de acolhimento e de promoção da saúde dos sujeitos 
que deles se utilizam, gostaríamos de chamar a atenção, primeiramente, como hoje se 
constitui a ideia de crise e urgência em saúde mental.
Lembrando que todo o processo de acolhimento, promoção e reabilitação de 
saúde mental no Brasil deverá ocorrer, prioritariamente pelos diversos e diferentes 
serviços de atenção e cuidado dispostos na Rede de Atenção Psicossocial, os hospitais 
e todos os recursos que dizem respeito ao seu funcionamento, desde o resgate 
realizado pelos Serviços Móveis de Urgência (SAMU), até o processo de intervenção e 
administração da crise com possíveis internações de caráter temporária, trabalharão em 
consonância com a lógica da rede de cuidado com vistas a estabilização dos sujeitos, 
redução dos riscos de danos a terceiros ou ao próprio sujeito e reinserção social e 
comunitária assim que possível o retorno dessas pessoas aos espaços de convívios, de 
trabalho e de lazer.
 Para Caldeiraro, Spode, Fleck (2008, p. 17):
[...] Resumidamente, podemos definir emergência psiquiátrica (EP) 
como qualquer situação de natureza psiquiátrica em que existe um 
risco significativo (de morte ou injúria grave) para o paciente ou para 
outros, necessitando de uma intervenção terapêutica imediata.
Existe, nesta modalidade de emergência em saúde, uma peculiaridade com 
relação à possível necessidade de intervenção sem o prévio consentimento do sujeito 
atendido, pois, é obrigação do Estado promover a atenção necessária desse paciente 
até mesmo e, principalmente, quando a pessoa com transtorno mental não apresentar 
condições clínicas de responder sobre seus atos colocando a própria vida em risco ou a 
segurança dos demais (CFP, 2013).
Caldeiraro, Spode, Fleck (2008), sistematizam o que consideram ser os 
principais enfrentamentos profissionais experimentados nos serviços de urgências e 
emergências em saúde mental pela equipe de saúde a partir dos seguintes pontos de 
13
atenção: a concentração da atenção profissional focada no principal sintoma expresso 
pelo sujeito no momento da crise; a formulação de uma hipótese diagnóstica para fins 
de uma melhor intervenção clínico-terapêutica sobre as demandas e necessidades da 
pessoa atendida e melhor adequação do manejo clínico adotado pelos profissionais; 
a avaliação do quadro evolutivo de resposta do paciente ao tratamento; exclusão de 
causa orgânica, ou seja, averiguação da não existência de qualquer causa orgânica 
para o irrompimento da crise; e o necessário encaminhamento do paciente para melhor 
efetivação e avaliação do tratamento iniciado na emergência.
Como você já pode ter notado, na condição de emergência e urgência em saúde 
mental, existe uma intensificação de todo o processo de acolhimento, tratamento e 
reabilitação da pessoa em sofrimento psíquico cujas estratégias de cuidado e de 
acompanhamento terapêutico devem favorecer, desde o seu primeiro contato, a 
universalidade e integralidade dos serviços em saúde.
Observe como está estruturado esse serviço no Sistema Único de Saúde e 
como está sistematizado seu funcionamento de modo que a oferta de atendimento 
profissional especializado atende a lógica da desinstitucionalização da loucura para o 
seu efetivo tratamento e cuidado humanizado com vistas ao exercício e fortalecimento 
da autonomia dos sujeitos.
[...] Especificamente para a saúde mental, existem os serviços de 
urgência psiquiátrica em hospital-geral, conforme o que dispõe a 
Portaria SNAS nº 224/92:
2. Serviço de urgência psiquiátrica em hospital geral
2.1. Os serviços de urgência psiquiátrica em prontos-socorros gerais 
funcionam diariamente durante 24 horas e contam com o apoio de 
leitos de internação para até 72 horas, com equipe multiprofissional. 
O atendimento resolutivo e com qualidade dos casos de urgência tem 
por objetivo evitar a internação hospitalar, permitindo que o paciente 
retorne ao convívio social, em curto período.
2.2. Os serviços de urgência psiquiátrica devem ser regionalizados, 
atendendo a uma população residente em determinada área 
geográfica.
2.3. Estes serviços devem oferecer, de acordo com a necessidade de 
cada paciente, as seguintes atividades:
a) avaliação médico-psicológica e social;
b) atendimento individual (medicamentoso, de orientação, 
dentre outros);
c) atendimento grupal (grupo operativo, de orientação);
d) atendimento à família (orientação, esclarecimento sobre o 
diagnóstico, dentre outros).
Após a alta, tanto no pronto atendimento quanto na internação 
de urgência, o paciente deverá, quando indicado, ser referenciado 
a um serviço extra-hospitalar regionalizado, favorecendo assim a 
continuidade do tratamento próximo à sua residência. Em caso de 
necessidade de continuidade da internação, deve-se consideraros seguintes recursos assistenciais: hospital-dia, hospital geral e 
hospital especializado.
2.4. Recursos Humanos (CFP, 2013, pp. 97-98, grifos dos autores).
14
Pautados por esses princípios, é possível também observarmos como a prática 
médica se transforma na composição de um saber compartilhado com as demais 
especialidades que compõem a equipe técnica responsável pelo serviço de urgência 
psiquiátrica, garantindo o efetivo cuidado das demandas apresentadas pelas diversas 
situações e emergências em saúde mental e trabalhando para o real acesso do direito 
fundamental à saúde.
Para tanto, é importante ressaltar algumas medidas de atuação profissional 
voltados para o atendimento das pessoas em crise, acolhidas pelos serviços 
emergenciais, que possibilitarão um melhor manejo clínico e terapêutico dessas 
situações favorecendo a qualidade do atendimento prestado bem como uma melhor 
apropriação do tratamento por parte do paciente e, consequentemente, viabilizando 
com mais rapidez a alta hospitalar e a reinserção social desses sujeitos.
Como estratégia de aproximação do profissional atendente da emergência, 
Caldeiraro, Spode, Fleck, (2008) apresentam quatro medidas importantes presentes 
na relação médico-paciente que também podem contribuir para o processo de 
acolhimento da pessoa em crise por parte de toda equipe e que corresponde, na base, 
a uma manifestação empática ao sofrimento desses sujeitos e visam dar sustentação 
ao desequilíbrio vivenciado.
[...] Conectar-se com o afeto do paciente: perguntas como “o que 
o traz ao hospital?” ou “como posso ajudá-lo?” serão úteis para pa-
cientes que claramente desejem ser atendidos. Pacientes trazidos à 
emergência contra a própria vontade poderão reagir a estas pergun-
tas de forma negativa, comprometendo o restante da avaliação (...) 
Identificar estes sentimentos e motivar o paciente a falar sobre eles 
aproxima o paciente do examinador e previne que eles sejam ex-
pressos de outras formas, como por meio de uma conduta agressiva.
Esclarecer os objetivos da avaliação: embora o psiquiatra tenha uma 
clara noção dos seus objetivos na avaliação, isso não costuma estar 
tão claro para o paciente. Explicar esses motivos e os objetivos das 
medidas tomadas diminui a ansiedade em pacientes que neguem 
estar doentes e em pacientes com ideias paranoides.
Conhecer o contexto do paciente: os pacientes costumam estar mais 
preocupados com os acontecimentos que os trouxeram até o estado 
atual do que com o conjunto dos seus sintomas. Uma avaliação 
sumária de estressores psicossociais mostra ao paciente que o 
médico está interessado nele e pode trazer informações importantes 
para o manejo do caso.
Não se identificar com os sentimentos do paciente: pacientes irri-
tados ou assustados facilmente transferem estes sentimentos ao 
avaliador por comunicação não-verbal, ou com frases como “você 
parece muito novo para ser médico”, “se eu for internado vou te pro-
cessar”, “já falei tudo para outro médico, vocês não se comunicam?”. 
É necessário estar atento para sentimentos provocados por essas 
atitudes para não agir em resposta a eles (CALDEIRARO; SPODE; 
FLECK 2008, p. 19-20). 
15
Apesar de parecerem obvias as alegações dos autores, muitas situações de 
crises atendidas pelas emergências hospitalares em saúde mental poderiam ter 
um manejo clínico mais adequado se os profissionais envolvidos estivessem melhor 
preparados para o enfrentamento dos desafios desse tipo de atendimento.
Segundo as diretrizes do próprio Ministério da Saúde, o cuidado hospitalar para 
situações de crises em saúde mental está previsto tanto para o atendimento de pessoas 
descompensadas em suas manifestações agudas de transtornos ou sofrimento 
psíquico, quanto para crises “[...] do consumo ou abstinência de álcool, crack e outras 
drogas” e sem comorbidades clínicas, advindos da Rede de Atenção Psicossocial e da 
Rede de Urgências e Emergências (RUE)” (BRASIL, 2021, p. 13).
Para o efetivo desenvolvimento do atendimento prestado em urgências e 
emergências em saúde mental, concomitante ao processo empático de acolhimento 
do paciente, é necessário que os profissionais envolvidos façam uma análise crítica 
e reflexiva dos acontecimentos e do sujeito em crise, compreendam rapidamente a 
dinâmica de expressão dos seus sintomas, reconheçam os gatilhos da crise buscando 
estratégias que favoreçam a condição de reabilitação da pessoa na integralidade de 
seus cuidados.
Os profissionais podem então recorrer aos critérios diagnósticos das funções 
mentais do paciente propostos na avaliação psiquiátrica da pessoa analisando os 
principais pontos que possibilitem a melhor vinculação dos sujeitos aos serviços 
prestados no momento da crise e seu posterior encaminhamento.
Questões importantes sobre as condições do lugar onde o paciente está sendo 
atendido, se ele está seguro nas atuais circunstâncias ou se é preciso oferecer-lhe ou-
tros “espaços” de acolhimento; sobre o foco desencadeador da crise, se possui origem 
orgânica ou funcional, ou ainda se é resultante de uma combinação desses fatores; 
considerar se na ocorrência da emergência, o paciente apresenta-se em surto psicótico; 
avaliar se existe tendências suicidas ou homicidas na manifestação da crise e; avaliar 
as condições da pessoa realizar um autocuidado (CALDEIRARO, SPODE, FLECK, 2008).
Tais critérios, quando explorados em suas dimensões relacionais e vinculares 
podem favorecer um atendimento mais humanizado às questões enfrentadas por todos 
os envolvidos na situação de atenção à crise e às urgências em saúde mental, dirimindo 
as angústias e as ansiedades presentes nessa relação e conduzindo a situação de modo 
que haja uma diminuição significativa dos comportamentos e cenários de risco.
Mas por que nas situações que envolvem crises de ordem da saúde mental 
parece existir uma maior tensão entre a demanda do serviço e sua intervenção prática? 
Como a Psicologia como ciência e profissão tem contribuído para embasar práticas que 
busquem a defesa da vida e os aspectos positivos na produção de situações de melhores 
condições de saúde, tanto para os assistidos pelos serviços em questão, quanto para a 
equipe de profissionais atuantes nessas questões?
16
A Psicologia, como ciência construída entre as os saberes das ciências sociais 
e humanas contribuiu para o desenvolvimento de um certo entendimento sobre o 
homem e seus modos de subjetivação, atrelando-se, por muito tempo às demandas 
de organização e ordenamento dos sujeitos nos diversos e diferentes espaços 
institucionalizados, de modo a justificar práticas excludentes e cerceadoras de liberdade 
sobe égide do discurso médico da prevenção e do tratamento.
Pelo caráter normativo assumido nesse paradigma positivista e racional 
de ciência, toda prática avaliativa tinha como efeito a classificação e consequente 
qualificação dos sujeitos em relação ao que se veiculava como norma, por vezes 
desqualificando e enquadrando todos os processos desviantes desse modelo como 
deficiente ou doente.
É por isso que o pensamento predominante sobre os aspectos presentes nas 
denominadas crises e urgências em saúde mental está fortemente associado ao modelo 
médico tradicional da relação do paciente com seus sintomas, fato esse que, na maioria 
das vezes, quando o tema é abordado, não é rara a emergência de concepções do tipo 
de práticas de isolamento e contenção, uso excessivo de força e alienação dos sujeitos 
de todo e qualquer projeto terapêutico a ele direcionado.
Há a atualização de um sentimento forjado pelas práticas e conhecimentos 
médico-assistenciais ao longo dos tempos e que reiteram a crença de que o usuário 
dos serviços de saúde mental está comprometido em sua condição racional e crítica, 
desfavorecendo qualquer possibilidade de expressão de vontade e de desejo própria 
desses sujeitos, colocando-os à mercê dos direcionamentos e conduções dos 
profissionais a quem devem satisfação e explicações de suas escolhas, nem sempre 
sensatas pois, prejudicadospelos efeitos da loucura, carecem de condicionamento 
externo e direcionamento moral de seus comportamentos. 
Há dessa maneira uma naturalização da tutela que se exerce sobre essas 
pessoas e o assujeitamento delas às medidas de tratamento que buscam objetivar 
um certo controle das reações distorcidas dos sujeitos em detrimento de práticas de 
cuidados clínicos capazes de viabilizar o resgate de si mesmos na produção de condições 
mínimas para um autocuidado e exercício consciente de escolhas positivas no mundo.
É importante que o profissional que atua diretamente com a questão da saúde 
mental e que esteja na composição das equipes de intervenção tenha presente a 
concepção de que sua prática acontece na contramão de toda e qualquer forma de 
exclusão e desigualdade de tratamento, historicamente embasada pela tutela dos 
sujeitos e seu aprisionamento pelo controle disciplinar de suas vontades, através do 
discurso médico e disciplinar de normalização da vida.
17
 Para que não fique dúvidas sobre a importância desse posicionamento ético-
estético e político do profissional frente às necessidades e às demandas dos sujeitos, 
é preciso que os profissionais se constituam em suas práticas em favor da vida e da 
liberdade dos usuários em todo o processo de tratamento com vistas à promoção 
íntegra de cuidado à vida e suas manifestações singulares. 
Com especial atenção à vida e à liberdade de expressão dos sujeitos em toda 
sua multiplicidade de formas e intensidade, Yasui (2015) nos lembra o quanto essas 
questões se fazem presente nos embates realizados pelas ideias e práticas construídas 
sob a lógica da Reforma Psiquiátrica e do quanto ainda temos que avançar na produção 
desse projeto.
[...] Na perspectiva basagliana, liberdade não é resultado e sim base 
da prática terapêutica. Ou seja, não é possível pensar o cuidado ao 
sofrimento psíquico considerando-o apenas como um diagnóstico 
resultante das disfunções de interações neurobioquímicas, nem 
tampouco com práticas que restrinjam ou limitem o exercício do ir e 
vir, que incidam sobre o já precário poder de contratualidade que o 
sujeito tem sobre si e sobre as coisas do mundo. Muito menos com 
práticas que o submetam a um regime de controle e de vigilância 
sobre todas as suas ações cotidianas. O resultado histórico deste 
modo de pensar a dor psíquica é bem conhecido: segregação, 
violência institucional, isolamento, degradação humana (YASUI, 
2015, p. 18).
Aproveitamos a referência realizada por Yasui (2015), à “perspectiva basagliana”, 
para apresentar um dos principais autores da história da luta realizada pelo movimento 
da Reforma Psiquiátrica na busca pelo processo de desinstitucionalização da loucura, 
Franco Basaglia.
Enquanto diretor de um Hospital Psiquiátrico na cidade de Gozia, na Itália, 
Basaglia realiza um movimento de resgate das pessoas que ali se encontravam em 
tratamento desumano e com graves episódios de violência e cerceamento da autonomia, 
para a produção de uma terapêutica que assumisse como princípio a liberdade como 
condição clínica de transformação do doente/ paciente em agente capaz de desenvolver 
o autocuidado e o autogoverno de suas ações no mundo.
Quando tratamos do tema saúde mental em os processos de atenção a crise 
e urgência, estamos nos movendo nesse terreno movediço de sentidos e significados 
históricos e conceituais que exigem dos profissionais uma atualização de tudo o que 
fora vivenciado pelos sujeitos estigmatizados pela sombra da loucura e de tudo o que 
pode representar a experiência do desarrazoado na vida em sua coletividade. 
Há uma tensão entre o que se faz em termos de tratamento e o que se quer 
fazer em termos de atenção e cuidado humanizado, realiza-se nesse encontro uma 
espécie de reafirmação ética em que os profissionais especialmente envolvidos pelas 
18
circunstâncias do desencadeamento das ações emergenciais precisam realizar diante 
dos possíveis desdobramentos trágicos para a vida das pessoas em sua individualidade 
existencial e em sua expressão social e coletiva.
Para tanto, chamamos a atenção para as possíveis considerações apontadas 
por Menezes Junior et al. (2019) ao trabalharem uma ampliação do conceito de crise em 
saúde mental e a importante consideração desse processo frente a demanda própria da 
denominada por eles de Crise Psicossocial.
Lembram os autores da condição dessas crises estarem associadas a 
circunstâncias de intensa afetação e de estados delicados tanto da razão, quanto dos 
sentimentos envolvidos entre os participantes do manejo clínico, pacientes e equipe 
técnico profissional. Nessa perspectiva:
[...\ o cuidado, ao se fazer compartilhado e intersetorial, multiplica 
as possibilidades de circulação dos sujeitos e amplia a circulação de 
recursos concretos, além de considerar questões que os serviços de 
saúde, sozinhos, não dão conta de mediar (MENEZES JUNIOR et al., 
2019, p. 94).
Existe uma conscientização dos profissionais envolvidos na temática do cui-
dado em saúde mental que permite aos mesmos um manejo clínico e terapêutico que 
os aproxime das pessoas atendidas na situação de crise e que favoreça aos usuários 
desses serviços, certo acesso aos conteúdos manifestos e às latências simbólicas das 
expressões de seus processos subjetivos.
Ainda como critério de atuação profissional qualificada e diante das diferentes 
necessidades de intervenções emergenciais vivenciadas nas crises e urgências em saúde 
mental, é necessário que os envolvidos por essas manifestações de comportamentos 
disruptivos de novos sentidos frente à precariedade subjetiva que a norma institui 
assumam e se comprometam pelo cuidado do outro e de seus conteúdos como 
verdadeiro objeto de trabalho especializado, no momento específico de manifestação, 
mas que se encontra como características de singularizações emanadas “[...] por amplos 
setores da estrutura social e política” (MENEZES JUNIOR et al., 2019, p. 94).
Desse modo, acompanhando a reflexão e o compromisso expresso pelos autores 
citados anteriormente, temos, ao longo de todo trabalho envolvendo a demanda das 
emergência e urgências de crise em saúde mental um exercício ético, político e estético 
na dimensão dos saberes postos em práticas que favorecem a produção de sentidos de 
vida e criação de alianças terapêuticas pautadas na lógica do acolhimento e do cuidado 
do outro a partir de sua perspectiva de mundo, porém com o efetivo compromisso de 
também ofertar-lhes modos e estratégias vitais que favoreçam a criação de novos 
movimentos, outras perspectivas e olhares esperançosos a fim de se constituírem 
sujeitos de suas narrativas, desenvolverem com autonomia e liberdade práticas de 
um autocuidado e compreenderem o momento difícil e conturbado pelo qual estão 
passando, a crise.
19
Diante das incertezas e se possível for um convite à invenção, para 
você, se couber, uma dica: é preciso deixar abertas as portas do 
coração para, nos movimentos da clínica, mediar as complexas rela-
ções do sujeito com o mundo, debruçando-se com ele sobre a com-
plexidade de seu sofrimento (MENEZES JUNIOR et al., 2019, p. 94).
Assim, é preciso fazer o desafio de reinventar e transformar as práticas 
terapêuticas aplicadas nos momentos de crise para que, cada vez mais, possamos 
acolher e tratar as pessoas em suas manifestações singulares e coletivas de expressão 
do sofrimento psíquico, oferecendo-lhes conteúdos e formas clínicas com competência 
técnico científica associada à sensibilidade inerente às relações humanas de fato.
É no agenciamento dos diferentes saberes com os fazeres profissionais 
presentes no cuidado prestado à saúde mental que faremos emergir nas circunstâncias 
de nossas práticas sociais uma concepção de clínica com total respeito aos sujeitos, 
sua individualidade e singular forma de expressão forjada pelo colapso da saúde mental 
das pessoas. Há nessa condição limite de expressão do plano da produção subjetiva das 
pessoas uma condição de expressão de vida que precisa ser acolhida, compreendidae 
cuidada em toda sua manifestação individual e coletiva na formação de sentidos. 
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Neste tópico, você aprendeu:
RESUMO DO TÓPICO 1
• As normas e legislações que regem o sistema de saúde mental no Brasil oferecem 
para o psicólogo uma base constitucional de direitos e deveres que devem estar 
presentes para sua atuação profissional e científica nessa área de conhecimento. 
• A organização da Rede de Atenção à Saúde Mental e a implicação do profissional 
de Psicologia no atendimento aos usuários junto à equipe multiprofissional se 
estabelece por meio do compromisso ético-estético e político em favor da liberdade 
e das diversas expressões de vida.
• As características e especificidades do trabalho da Psicologia nas situações de 
urgência e emergência em Saúde Mental devem ser pautadas pelo gesto sensível 
às demandas de acolhimento e encaminhamento das necessidades suscitadas no 
atendimento das pessoas envolvidas nessas circunstâncias. 
• A sistematização e referências de ações práticas para o profissional no enfrentamento 
das demandas da realidade de atenção Psicossocial constituem-se de forma sensível 
às subjetividades envolvidas e com todo o processo de produção de sentidos 
presentes na atenção à saúde mental.
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1 A publicação do Conselho Federal de Psicologia sobre o Relatório dos Serviços de 
Saúde Mental no Brasil, em 2013, apresenta as normas jurídicas que regulam os 
serviços de saúde mental, a participação do psicólogo junto ao quadro de profissionais 
das diferentes áreas que compõem os diversos serviços prestados à população e os 
debates necessários para a transformação desses espaços para melhor atenderem 
às demandas das pessoas em atendimento. Diante desse exposto, assinale a 
alternativa CORRETA:
a) ( ) O trabalho do psicólogo está pautado pela possibilidade de acesso dos usuários 
aos cuidados da saúde em sua integralidade.
b) ( ) As ações preventivas na área da saúde mental têm se destacado em vários 
programas, por exemplo, o projeto de volta para casa.
c) ( ) A saúde mental é uma área de aplicação prática de conhecimento que demanda 
pouca formação para o manejo das situação terapêuticas.
d) ( ) As contribuições da Psicologia nos espaços institucionais referem-se, 
especificamente, aos aspectos subjetivos dos indivíduos atendidos.
2 A Psicologia como ciência e profissão no Brasil tem se constituído ao longo de seus 
60 anos como um plano de conhecimento produzido na interface entre os saberes e 
que se apresenta como prática social em busca de respostas a fenômenos coletivos 
e individuais, mas sempre analisados pelo viés sócio-histórico e cultural. Segundo 
essa afirmativa, pode-se considerar as afirmações abaixo sobre o fazer da Psicologia:
I- A Psicologia contribui para a defesa da saúde como direito fundamental do homem 
e dever do Estado atuando em todos os pontos da rede de atenção à saúde.
II- Está preconizada nas práticas da Psicologia presente nos Sistema de Saúde, 
somente as ações voltadas para a reabilitação dos sujeitos assistidos.
III- As ações de prevenção, promoção e recuperação de saúde fazem parte das 
atividade institucionais e intersetoriais onde atua o profissional de Psicologia nos 
diferentes sistemas de saúde.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
AUTOATIVIDADE
22
3 Está na base das relações vivenciadas pelos profissionais que atuam nos serviços de 
atendimento a crise e emergências em saúde mental um processo de empatia que se 
caracteriza por oferecer aos usuários uma sustentação ao desequilíbrio apresentado 
por eles e como estratégia de humanização do sistema de atendimento. Classifique V 
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
(   ) A manifestação de perguntas que se conectem com os afetos do paciente permitem 
a aproximação do atendente e favorece o contato inicial para o acolhimento. 
(   ) A equipe médica deverá posicionar-se conforme o sentimento expresso do pacien-
te, respondendo com medo ou raiva quando esta for a manifestação do usuário.
(   ) O atendente deverá esclarecer os objetivos da avaliação para o paciente de modo 
a diminuir a ansiedade no processo e favorecer o encontro terapêutico.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) (   ) V – F – F.
b) (   ) V – F – V.
c) (   ) F – V – F.
d) (   ) F – F – V.
4 O atendimento as situações de crise e emergência em saúde mental, dada a sua 
imprevisibilidade e especificidade da natureza de expressão dos sujeitos com 
transtornos mentais, exige dos profissionais uma atenção técnica e sistematizada 
que auxilia no processo de acolhimento das demandas e possíveis encaminhamentos 
para melhores respostas dos usuários aos tratamentos ofertados. Apresente os 
procedimentos adotados pelos profissionais que melhor organizam o processo de 
atenção aos usuários nessas circunstâncias.
5 A Psicologia como ciência e profissão tem se constituído ao longo do processo de 
construção da rede de saúde mental uma área de conhecimento e uma referên-
cia prática que auxilia tanto aos usuários atendidos pela equipe multiprofissional 
quanto aos outros profissionais com os quais compartilha experiências e constrói 
dinâmicas de serviço. Descreva como a Psicologia tem contribuído para embasar 
práticas de defesa da vida em resposta às necessidades e demandas dos serviços 
o qual se insere.
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A REFORMA PSIQUIÁTRICA
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos o processo de produção histórica do 
saber sobre a loucura enquanto condição humana, experimentada ao longo da própria 
construção cultural do ser humano em sua dimensão cultural e transformada em área 
específica do conhecimento científico, metodologicamente justificado para hegemonia 
de um saber ou poder de controle e disciplinamento social dos diferentes ao longo dos 
diversos momentos históricos.
Estudaremos como essa narrativa científica da loucura, historicamente, datada 
pelos princípios da concepção moderna do mundo e da objetividade do estudo do ser 
humano, transformou radicalmente o modo como o homem se relacionava com a vida, 
seus sentidos e interesses, promovendo importantes avanços nas diferentes áreas de 
conhecimento, mas também produzindo e justificando práticas de dominação, controle 
e injustiça social.
Ainda será analisado nesse percurso, como os movimentos de resgate e de trans-
formação das práticas de exclusão social e de criminalização da loucura propuseram 
uma verdadeira revolução não somente na compreensão do que deveria ser apresentado 
como princípio ético e político da ciência como também dos modos de atuação e inter-
venção desses saberes junto às pessoas que sofrem algum tipo de transtorno mental, 
constituindo-se o que formalmente denominamos de Reforma Psiquiátrica. 
2 A REFORMA PSIQUIÁTRICA
Como você pode ter observado as temáticas presentes no contexto do trabalho 
da saúde mental, em sua maioria, estão envoltas pelas questões referentes ao sofrimento 
mental ou psíquico das pessoas, suas manifestações atípicas, disruptivas, geralmente 
experimentadas em situações de crise e que refletem certos desequilíbrios mental e 
comportamental dos sujeitos, exigindo intervenções especializadas que garantam 
cuidado clínico e terapêutico com concomitante acesso ao direito fundamental de 
cuidado integro da saúde.
De modo geral, essa narratividade diz respeito à loucura e a toda rede de 
significantes derivada de suas interações práticas e conceituais que fomentam 
modos existenciais capazes e potentes tanto de enclausuramento de subjetividades e 
docilização dos corpos, quanto de liberdades e intensidades materiais vibrantes.
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
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Visto desse modo, já não é mais possível pensar ou imaginar que o conceito de 
sofrimento psíquico, circunscrito pela lógica reduzida à forma médico-psiquiátrica, seja 
considerada a mesma coisa que loucura.
[...] Ahistória da loucura não se resume à história da “doença mental”. 
Enquanto a doença mental, por se tratar de uma concepção médica 
moderna acerca da loucura, possui pouco mais de 200 anos de 
história, a loucura, entendida como a experiência trágica da desrazão, 
acompanha a humanidade desde seu surgimento. Foi, portanto, 
relativamente recente, na virada do século XVIII para o XIX, que a 
loucura ganhou status de patologia mental, tendo sido apropriada 
pela medicina moderna. Retraçaremos a seguir um panorama das 
diversas e divergentes concepções históricas da loucura no mundo 
ocidental, até sua conceitualização pelo saber médico como “doença 
mental” (HENRIQUES, 2010, p. 1).
 
É importante destacar que a apropriação de uma experiência humana por meio 
de uma área do conhecimento historicamente constituída concorrerá para a consolida-
ção de uma outra área de conhecimento a qual o que entrará em jogo não é a produção 
de saberes capazes de explicar o fenômeno ou objeto de sua atenção, mas, por outro 
lado, provocará o que o autor acima citado denominará de área de dispersão de saber.
Essa dispersão de saber caracteriza-se pela constituição de um novo e 
promissor campo de investimento do discurso moderno sobre as ciências humanas 
atravessadas pelo viés médico se instituirá como uma potente ordem discursiva de 
controle normativo e disciplinar, a psicopatologia.
Se um campo científico se constitui com a delimitação de um objeto de 
investigação realizada por meio de uma metodologia específica capaz de responder 
às questões elementares de sua origem, materialidade e funcionalidade, como se 
explica a loucura ter se tornado o objeto de base para a psicopatologia? E, por sua vez, 
como essa especialidade médica que tinha por objetivo o trabalho sobre os aspectos 
desviantes da norma, dos desadaptados, “desarrazoados” e delirantes passa a funcionar 
como referência de saúde e, mais especificamente, de saúde mental? Afinal, o que é o 
sofrimento mental ou psíquico e como deve ser tratado?
Essas são algumas questões ilustrativas do quanto, historicamente, a sociedade 
moderna com suas administrações científicas e justificativas humanitárias, viu florescer 
uma nova perspectiva de vida objetivada pela razão e pela racionalidade da norma e de 
seus desvios devidamente avaliados, classificados e controlados por regimes de saber/
poder cada vez mais próximos da biologização/medicalização da vida conceituada e 
estruturada pela gestão do risco e pela produção positivista da própria vida.
Para nos apropriarmos de uma leitura sócio-histórica de como a loucura em sua 
potência humana passou de um regime do campo da existência dos sujeitos para uma 
área especializada do saber médico psiquiátrico sobre o funcionamento mental dos 
25
sujeitos em sofrimento, nos utilizamos da perspectiva foucaultiana sobre a concepção 
do dispositivo e como ele opera no plano das relações de saber/ poder engendrando 
realidades e operando sobre elas. 
[...] o Dispositivo como um tipo de formação que tem a função de 
responder a uma urgência em um determinado momento histórico, 
assumindo, desse modo, uma função estratégica. Além disso, ele 
engloba elementos heterogêneos, como citado anteriormente, que 
surgem dispersamente, o que caracteriza sua qualidade de gênese 
(FOUCAULT, 1992, apud FIGUEIRÊDO, 2019, p.51).
Eis o substrato fecundo e necessário para a emergência de uma área específica 
do conhecimento médico psiquiátrico constituído como um campo de saber científico 
do homem sobre a própria condição humana.
Por isso, segundo Henriques (2010), uma área de dispersão de saber, pois foi a 
partir de sua constituição como área de um discurso oficial sobre a loucura, criou-se a 
ideia de sofrimento psíquico e, como seu desdobramento teórico-conceitual, o campo 
da saúde mental. Uma especificidade capaz de garantir a toda a população, possibilidade 
de explicação e intervenção sobre questões que antes se tratava por superstições e 
saberes populares de todas as ordens (religiosidade, tradições, costumes etc.), e que 
passa então a fazer parte de uma assistência técnica e científica com vistas a garantia 
de um tratamento adequado e efetivo sobre a doença mental.
Ao analisar o processo de produção de uma nova forma de tratamento e 
entendimento da loucura e do louco na sociedade moderna, Figueirêdo (2019, p. 53), 
apontará que “[...] a função estratégica do Dispositivo é responder a urgência de um 
determinado período histórico, no caso do Dispositivo da Loucura, esse emergiu quando 
tal população tornou-se incômoda e, ao mesmo tempo, visibilizada”.
A nova organização pela qual as sociedades começavam a construir práticas 
sociais de administração pública e de relação de trabalho cada vez mais especializada e 
com vistas a maior produtividade e concentração de riquezas, inaugurou uma produção 
de subjetividades cujos princípios humanitários e valores morais não admitiam a con-
vivência compartilhada de tempos e espaços com pessoas contrárias a esses modelos.
É importante destacar que a construção da narrativa sobre a loucura só é 
possível quando as disciplinas médicas e psiquiátricas, enquanto representantes de um 
saber-fazer científico sobre a condição humana, começam a ser revisitadas em uma 
perspectiva crítica e indagadora sobre a eficiência e qualidade no tratamento ofertado 
aos sujeitos isolados e submetidos a toda sorte de violências e tortura sob o véu de um 
discurso humanitário e especializado.
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[...] No final do sec. XVIII, em 1793, é que Pinel, uma vez nomeado 
para dirigir o Hospital de Bicêtre, na França, define um novo status 
social para a loucura. Trata-se da apropriação da loucura pelo saber 
médico. A partir de então, loucura passa a ser sinônimo de doença 
mental. Pinel manda desacorrentar os alienados e inscreve suas 
“alienações” na nosografia médica. Desse modo, a loucura, enquanto 
doença, deveria ser tratada medicamente. A iniciativa de Pinel abre 
duas questões importantes: se por um lado, tal iniciativa cria um 
campo de possibilidades terapêuticas, por outro, define um estatuto 
patológico e negativo para a loucura. As ideias de Pinel terminam 
por reforçar a separação dos loucos dos demais excluídos, a fim 
de estudá-los e buscar sua cura. O asilo passa a ser visto como a 
melhor terapêutica, onde aplica-se a reclusão e disciplina, sendo seu 
objetivo o tratamento moral (ALVES et al., 2009, p. 87).
Nesse momento, importante salientar que o processo escolhido para a 
construção de uma perspectiva teórico-metodológica da Reforma Psiquiátrica, 
inevitavelmente acontece pela perspectiva da sistematização do significado manifesto 
e latente do termo psiquiátrica ao longo de sua instituição prática e conceitual e porque 
o movimento que se institui como seu contraponto imbuiu-se de formular o que 
historicamente ficou conhecido como Reforma. 
Ao reafirmar a expressão da loucura em uma condição humana e reconhecer 
que, o cuidado com o sujeito que sofre é o objetivo primeiro das intervenções também 
realizadas nos planos das especialidades médicas e áreas ‘PSI’ (psiquiatria, psicologia, 
psicanálise etc.), está se optando por um trabalho de valorização da vida e de sua 
positividade enquanto produtora de sentidos que precisam ser respeitados em seus 
estilos e processos singulares e de individualização das pessoas.
No ano de 2016 foi lançado no Brasil, Nise: O coração da loucura, 
um filme em homenagem a psiquiatra Alagoana que revolucionou 
o tratamento dado à loucura nos hospitais psiquiátricos da época, 
propondo e aplicando formas alternativas de cuidados, com base na 
arte, no afeto e no convívio com animais em substituição a métodos 
agressivos e comparáveis à tortura.
DICA
Há uma condição bastante apropriada destacada por Pereira (2019), ao retomar 
a visão conceitual sobre saúde como condição ético-política, trabalhada por (SOUZA; 
SAWAIA, 2016). Nessa compreensão, a autora apresenta a potencialidade que existe 
na expressão de saúde para além de uma produção reducionista

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