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Figura 14. Refugiados deslocam-se entre a Eslovênia e a Croácia, escoltados pela polícia, em outubro de 2015. O país mais procurado era a Alemanha, cujos governantes esperavam receber mais de 800 mil refugiados em 2015. Somente em setembro desse ano, chegaram ao país 270 mil refugiados, mais do que o total de 2014, que havia sido 200 mil. Além da Alemanha, a França e países do norte da Europa, como Suécia, são os mais procurados por refugiados para pedir asilo. A partir de 2013, sobretudo, cenas de resgates de refugiados e imigrantes em botes e embarcações precárias no Mar Mediterrâneo, e de pessoas mortas, inclu- sive crianças, em praias do litoral de países europeus, infelizmente, passaram a ser comuns (figura 15, na página seguinte). Para fazer frente a essa situação, a Itália estruturou a Operação Mare Nostrum, gerida pela Marinha italiana, a fim de vigiar o Mar Mediterrâneo até a Líbia. Essa operação buscava prender traficantes de refu- giados ou imigrantes e salvar pessoas que realizavam a travessia da costa africana até a Europa. Com um ano de duração resgatou mais de 150 mil pessoas e deteve 351 traficantes. diversos naufrágios ocorreram, principalmente nas proximidades de ilha italiana de Lampedusa, provocando a morte de centenas de pessoas. Sem a colaboração de outros países da União Europeia, os governantes italianos decidiram interromper a operação por falta de recursos. diante dessa situação, a União Europeia estruturou, então, a Operação Triton, sob a coordenação da Frontex, que procura primordialmente controlar as frontei- ras, limitando-se às águas territoriais dos países da União, sem a preocupação de resgatar refugiados e com um orçamento bem mais modesto do que o da Mare Mostrum. Leia o Entre aspas. Frontex Na União Europeia, os países-membros são responsáveis por controlar o fluxo de pessoas e mercadorias em suas fronteiras, contando, para isso, com a Agência de Proteção de Fronteiras, a Frontex. Em situações de risco, os países da UE devem proteger suas fronteiras com países que não são membros, como aconteceu na crise de refugiados de meados da década de 2010. JE F F J M IT C h E L L /G E T T y I M A G E S 195Capítulo 8 – Povos em movimento TS_V3_U3_CAP08_179_199.indd 195 5/23/16 7:07 PM Fonte: Principais rotas de travessia pelo Mediterrâneo. Folha de S.Paulo. Disponível em: <www.folha.uol.com.br>. Acesso em: dez. 2015. Figura 15. Principais rotas de travessia de refugiados e imigrantes no Mar Mediterrâneo – 2015 20° L 40° N MAR NEGRO OCEANO ATLÂNTICO Alexandria Benghazi Marselha ARGEL ATENAS TRÍPOLI FRANÇA ESPANHA ARGÉLIA LÍBIA MALTA TUNÍSIA TURQUIA EGITO SÍRIA SÉRVIA GRÉCIA MARROCOS i. Lampedusa ITÁLIA Ceuta Melilla Sousse Bodrum M A R M E D I T E R R Â N E O Ocidental Central Oriental Capital de país Cidade N 0 280 km O encaminhamento para superação dessa crise de refugiados que atinge a Europa passa, em parte, por mudanças na legislação para concessão de asilo por parte dos países integrantes da União Europeia. A legislação atual tem seu referencial na Diretriz de Dublin, assinada em 1990 e que entrou em vigor em 1997, a qual determina que o país onde o refugiado entrou na UE é responsável pelo asilo. Em 2015, foram estabelecidas novas diretrizes: os países-membros da União devem seguir os mesmos critérios; os processos para concessão de asilo não podem passar de seis meses; a proteção dada aos refugiados deve ser a mesma para todos os países-membros; cada país é autônomo para conceder asilo, que fica válido somente para o país que o concedeu. Outra medida adotada pela UE para lidar com a questão dos refugiados, visando limitar a concessão de asilo, foi a criação da lista de países seguros, que relaciona países que não se encontram em situação de conflito, guerra ou perseguição, e que, portanto, seriam migrantes econômicos, cuja solicitação de asilo pode ser recusada. Cada país-membro da União tem a sua lista de países seguros. há países que consideram, por exemplo, o Ira- que seguro e não aceitam refugiados iraquianos; outros países, no entanto, entendem que o Iraque não é um país seguro e recebem refugiados iraquianos. Em razão dessas discrepâncias no tratamento dos refugiados, em 2016, a União Europeia, por meio da Comissão Europeia, pretendia estruturar uma legislação única em toda a União, de modo que, por exemplo, a concessão de asilo por um país da UE passaria a valer para todos os membros, e haveria uma lista comum de países seguros. Essa legislação única está prevista no Tratado de Lisboa. Em meio a essas discussões no âmbito institucional, na esfera governamental, reações a favor dos refugiados e contra eles ocorriam por parte da sociedade civil dos países-membros da União Europeia (figura 16). É importante acompanhar a evolução na alteração da legislação da União Europeia para refugiados. Figura 16. Galpão de antiga gráfica é utilizado como abrigo e centro de registro de refugiados em Frankfurt (Alemanha), 2015. K A I P F A F F E n B A C h /R E U T E R S /L A T In S T O C K S O n IA v A z 196 unidade 3 | espaço, sociedade e economia TS_V3_U3_CAP08_179_199.indd 196 5/23/16 7:07 PM Estados devem restringir a entrada de imigrantes por motivos econômicos? SIM – Argumentos econômicos e pragmáticos contra abertura das fronteiras “De uma perspectiva econômica, a migração internacional de trabalhadores cria ganhadores e perdedores, pelo menos no curto prazo. Os maio- res beneficiários da migração de trabalhadores são os migrantes e seus empregadores no país que os acolhe. Os perdedores são os trabalhadores residentes (incluindo os migrantes já existentes) que estão competindo com novos migrantes no mercado de trabalho. O emprego no exterior permite que os migran- tes ganhem salários muito mais altos do que eles conseguiriam obter nos seus próprios países. Por essa razão, liberar a migração [de trabalhadores] pouco qualificados para países de maior renda poderia levar facilmente a maiores ganhos em renda e desenvolvimento humano. O Banco Mun- dial, por exemplo, acredita que uma maior migra- ção internacional laboral é uma das maneiras mais eficientes de aumentar a renda dos trabalhadores em países de baixa renda. Empregadores se beneficiam da migração porque ela permite que eles tenham um leque maior de trabalhadores para contratar, que são mais bem qualificados que os residentes e/ou aceitam trabalhar recebendo salários menores. Os migrantes geralmente aceitam trabalhar por salários e em condições que são inaceitáveis para os trabalhadores residentes, portanto, a migração reduz a necessidade de os empregadores aumen- tarem os salários e melhorarem as condições de trabalho, especialmente em ocupações de baixo nível técnico. Mas o que é melhor para os empregadores não é sempre o melhor para a economia do país como um todo. No curto prazo, a migração pode pressionar os salários e as perspectivas de emprego dos traba- lhadores residentes que têm nível de qualificação semelhante ao dos migrantes e têm de competir com os migrantes por empregos. Então, deveriam os países restringir a migração de trabalhadores? Essa é uma questão normativa que não tem resposta correta. Tudo depende dos interesses que você tem em mente. Empregado- res em países de alta renda e trabalhadores de baixa qualificação em países de baixa renda se beneficiariam muito de haver menos restrições, ou nenhuma restrição. Mas os trabalhadores residen- tes nos países de maior renda seriam prejudicados, uma vez que seus salários e condições de trabalho não seriam mais protegidos da competição global. O meu próprio ponto de partida para essa ava- liação é ‘cosmopolita’, no sentido de que eu acre- dito que as políticas de imigração deveriam levar em conta os interesses dos migrantes e dos países que os enviam, em vezde serem apenas baseadas nos interesses dos cidadãos do país acolhedor. Mas eu também tenho uma ‘abordagem pragmática’ que aceita algumas realidades, incluindo a neces- sidade dos países desenharem suas políticas de tal forma que deem pelo menos alguma prioridade aos interesses dos cidadãos (ou, pelo menos, dos residentes existentes), em relação às pessoas de outros países. Eu sou contra fronteiras abertas por causa de seus efeitos adversos sobre os trabalhadores de baixa renda nos países de alta renda, o que poderia, por sua vez, levar a um retrocesso social e político. Entretanto, eu sou a favor de aumentar signifi- cantemente a migração de trabalhadores de baixa qualificação de países de baixa renda para países de alta renda por meio de programas cuidadosa- mente administrados de migração, que admitam os migrantes em setores e ocupações específicas e por um período de tempo limitado.” RUHS, Martin. Argumentos econômicos e pragmáticos contra abertura das fronteiras. Opera Mundi, 24 jan. 2014. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br>. Acesso em: mar. 2016. 197capítulo 8 – Povos em movimento TS_V3_U3_CAP08_179_199.indd 197 5/23/16 7:07 PM
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