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SISTEMAS TÉRMICOS E ENERGÉTICOS AULA 3 Prof.ª Ana Carolina Tedeschi Gomes Abrantes CONVERSA INICIAL Operações que envolvem os fundamentos da refrigeração são encontradas em praticamente todas as atividades industriais, tanto no processo produtivo quanto no ambiente administrativo. Alguns processos operam a temperaturas abaixo do ponto de congelamento da água, sendo impossível utilizá- la como fluido refrigerante. Abre-se aí a oportunidade de aplicação de outros fluidos no processo de refrigeração industrial. A refrigeração também aborda a atividade de climatização de ambiente para conforto térmico e aumento de produtividade humana. Seu conhecimento não se faz importante somente para a sua aplicação industrial, mas também para o emprego comercial e residencial. Espero que você conclua esta aula compreendendo a aplicação deste conteúdo no seu dia a dia, seja na vida pessoal como na profissional. Vamos embarcar neste mundo gelado? CONTEXTUALIZANDO O processo de refrigeração e climatização tem sido registrado no decorrer do desenvolvimento da civilização humana, iniciando-se com o uso de gelo e neve em áreas que são naturalmente frias, como cavernas. Com isso, era possível armazenar alimentos e transportá-los, além de armazenar o gelo para o período de verão. Também foram construídas casas específicas para o armazenamento de gelo, cujas paredes tinham aproximadamente 1 m de espessura, uma vez que não havia isolamentos térmicos. Com o tempo, o homem começou a desenvolver dispositivos para climatizar o ar ambiente, baseados na evaporação da água, tornando possível o seu trabalho em regiões de temperatura elevada. A aplicação da água como fluido refrigerante é realizada até os dias de hoje. Entre os séculos XVIII e XIX, diversos estudos foram realizados com o objetivo de produzir frio a partir de processos artificiais. Willian Cullen, em 1755, obteve gelo a partir da evaporação do éter. A patente britânica nº 6662 foi a primeira descrição completa de um equipamento de refrigeração, desenvolvido por Jacob Perkins, em 1834. Esse equipamento introduziu a utilização do funcionamento em ciclos e utilizava éter como fluido refrigerante (Figura 1). Figura 1: Equipamento descrito por Jacob Perkins Fonte: Arora (2010). Em 1862, Daniel Siebe construiu o primeiro equipamento real de refrigeração (Figura 2), com base nas patentes britânicas 747 e 2362, desenvolvidas por James Harrison. Esse equipamento aplicava o princípio de refrigeração por compressão mecânica e também utilizava éter como fluido refrigerante. Figura 2: Equipamento construído por Daniel Siebe Fonte: <www.centroargo.com.br>. No início do século XX apareceram as primeiras geladeiras, que eram verdadeiras caixas de gelo, sendo preenchidas por gelo fabricado artificialmente. Tais geladeiras necessitavam de constante reposição de gelo. Em 1918, surgiu o primeiro refrigerador automático graças à descoberta da eletricidade por Thomas Edson, sendo fabricado por Kelvinator Company, nos Estados Unidos. Os fluidos refrigerantes utilizados apresentavam toxicidade e inflamabilidade, ocasionando até mortes. Em 1928, houve o surgimento dos gases refrigerantes fluorados (CFCs), estudados primeiramente por Thomas Midgley, os quais foram usados por 70 anos na refrigeração doméstica e comercial. Em 1974, os CFCs foram associados à redução da camada de ozônio da estratosfera pelos professores Sherwood Rowland e Mário Molina. Essa teoria foi comprovada com a descoberta de um buraco na cama de ozônio sobre a Antártida em 1985 e reconhecida com o prêmio Nobel em 1995. Frente a esse cenário, os CFCs foram substituídos por gases constituídos por carbono, hidrogênio e flúor, os chamados HFCs. Embora não sejam tóxicos e inflamáveis, apresentam baixa compatibilidade química com óleos minerais e são susceptíveis a contaminantes. Mesmo com essas limitações, foram aceitos pelo mercado, mas por um curto espaço de tempo, uma vez que atuam no efeito estufa. A partir daí, passou-se a utilizar fluidos refrigerantes naturais como isobutano, propano, ciclopentano e dióxido de carbono. Os hidrocarbonetos, particularmente, são inflamáveis e requerem cuidados na sua aplicação. TEMA 1 - DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES Afinal, do que se trata a refrigeração? Você conseguiria defini-la? Seria a mesma coisa que resfriamento? Antes de iniciar seu estudo, precisamos esclarecer alguns conceitos. Refrigeração é o processo de retirada de calor de um objeto ou ambiente com o objetivo de reduzir a sua temperatura. Esse processo ocorre por meio da transferência de calor para outro meio. A redução da temperatura de uma substância até a temperatura ambiente é chamada de arrefecimento, enquanto a sua diminuição até sua temperatura de congelamento é denominada resfriamento. O congelamento desta substância ocorre se a temperatura for reduzida abaixo da sua temperatura de congelamento. A transferência de calor em um processo de refrigeração é auxiliada por um agente refrigerante, o qual absorve calor do ambiente ou o refrigera diretamente, como o gelo, o CO2 e os refrigerantes líquidos. Nos refrigeradores com gelo, ele é colocado na parte superior do equipamento, onde o ar é resfriado. Pela convecção, consequente da diferença de densidade, o ar refrigera o restante do espaço interno do refrigerador. Já os refrigerantes líquidos são utilizados pela sua capacidade de absorver calor durante a sua vaporização. Os refrigerantes líquidos mais importantes são: amônia (R717), tricloromonofluormetano (Freon-11 ou R-11), diclorodifluormetano (Freon-12 ou R-12), monoclorodifluormetano (Freon-22 ou R-22) e tetracloretodecarbono (R-10). Como o ambiente refrigerado é mantido a temperatura inferior ao do ambiente, faz-se necessário instalar um isolamento térmico para evitar que o ambiente seja aquecido, acarretando em gasto desnecessário de energia. Esse isolamento é constituído de uma substância sólida porosa preenchida com ar, como a lã de rocha e o isopor. Na teoria, qualquer fenômeno endotérmico pode ser aplicado para a produção do frio. Entre processos endotérmicos usados na refrigeração, podemos citar: i. a fusão de sólidos, como o gelo comum (0ºC) e o CO2 (gelo seco a –78,9ºC); ii. a mistura de algumas substâncias (gelo comum, gelo seco) com água, formando misturas criogênicas (–20 a –40ºC); iii. a expansão de um gás com a produção de trabalho; iv. fenômenos de adsorção; v. os fenômenos termoelétricos. Os processos i) e ii) são obtidos de forma descontínua, restringindo-se a pequenas aplicações (doméstica, laboratorial, etc.). Os demais processos apresentam transformações reversíveis capazes de se combinarem em ciclos, o que torna o processo contínuo. Por exemplo, a expansão de um gás combinada com a sua compressão é utilizada nos refrigerados frigoríficos. Sendo um processo muito utilizado, a vaporização de um líquido puro pode ser obtida por meios mecânicos (máquinas frigoríficas de compressão de vapor), por meio de ejeção de vapor (máquinas frigoríficas de vapor d’água) e por meio de aquecimento (instalações de absorção). A refrigeração pode ser classificada em função da sua aplicação. A mais conhecida é a refrigeração doméstica, pois abrange os refrigeradores de uso doméstico e freezers, que participam do nosso cotidiano. O número de unidades destes equipamentos é bastante significativo, o que torna este tipo de refrigeração importante na indústria de refrigeração. As unidades domésticas são do tipo hermeticamente fechado e consomem cerca de algo entre 1/20 e 1/2 CV. Ainda relacionada ao nosso dia a dia, a refrigeração comercial aborda o projeto, a instalação e a manutenção de instalações utilizadas pelos estabelecimentos comerciais (Figura 3), tanto para armazenamento quanto para exposição, beneficiamento e distribuição de produtos perecíveis. Figura 3: Exemplos de refrigeradores comerciais Fonte: <qualifrioba.com.br>. Na área industrial (Figura 4), as instalações de refrigeraçãosão maiores que as comerciais e requererem um operador de processo. Uma aplicação industrial pouco conhecida está relacionada à indústria da construção, em que escavações podem ser facilitadas pelo congelamento do solo e o resfriamento da massa de concreto, evitando a expansão e o aparecimento de tensões no concreto devido ao aquecimento natural da cura. Figura 4: Exemplo de aplicação da refrigeração na indústria alimentícia Fonte: <www.engenhariaearquitetura.com.br/noticias/1128/Industria-de-alimentos.aspx>. Os meios de transporte também utilizam a refrigeração para armazenamento e transporte de produtos perecíveis. Na refrigeração marítima, por exemplo, é aplicada em barcos de pesca e nos navios que transportam alimentos entre os continentes. No transporte rodoviário e ferroviário, verificamos os caminhões e os vagões refrigerados transportando alimentos a todos os pontos do país. Quando há processos criogênicos requeridos nas aplicações industriais e comerciais, a baixa temperatura é alcançada com a utilização de gases liquefeitos que possuem temperaturas de liquefação bem baixas. A liquefação desses gases é obtida em equipamentos em que o próprio gás ou refrigerantes adicionais agem como refrigerante. Outra aplicação bastante importante da refrigeração é a climatização, ou seja, o condicionamento do ar tanto para o conforto térmico das pessoas, com a utilização de ar condicionado, quanto para atender condições de processos laboratoriais e industriais no controle da temperatura e da umidade. TEMA 2 - REFRIGERAÇÃO DE CARNOT Por serem máquinas térmicas, os equipamentos de refrigeração são fundamentados na 2.ª Lei da Termodinâmica, a qual afirma que um fluxo de calor espontâneo somente realiza trabalho se houver rejeição de parte deste calor para a fonte fria (de temperatura mais baixa). Da mesma forma, se houver interesse em que ocorra fluxo de calor da fonte fria para a fonte quente (processo não espontâneo), a realização de trabalho externo sobre o sistema se faz necessária. Como vimos anteriormente, esse trabalho necessita ser realizado de forma contínua nos processos de refrigeração, operando em ciclos. O ciclo ideal foi estudado por Carnot, baseando-se na reversibilidade dos processos. Com isso, este ciclo possui o maior rendimento possível e nenhuma outra máquina térmica que opere nas mesmas condições conseguirá rendimento maior. O rendimento de uma máquina térmica pode ser calculado considerando os fluxos de calor da fonte fria (QF) e da fonte quente (QQ) por: Para o ciclo de Carnot, esta equação pode ser representada também como: Quando consideramos a eficiência de uma máquina térmica de refrigeração, a qual opera com o ciclo inverso de uma máquina térmica comum (espontânea), a forma mais adequada é calcular o coeficiente de performance (COP), também conhecido como coeficiente de eficiência (Β), desta máquina térmica de refrigeração. Este parâmetro representa, para qualquer ciclo de refrigeração, a capacidade que a máquina térmica tem de retirar calor da fonte fria em relação a potência consumida pelo compressor. A representação de potência na equação está sendo feita com um ponto sobre o tipo de energia considerado. Para o ciclo de refrigeração de Carnot, que considera todas as transformações termodinâmicas do ciclo reversíveis, o coeficiente de performance calculado é considerado como o máximo teórico para um ciclo que opera entre as temperaturas TF (fonte fria) e TQ (fonte quente). Vale ressaltar que as temperaturas devem ser consideradas na escala Kelvin ou Rankine nos cálculos de eficiência dos processos reversíveis (Carnot). A representação de potência na equação está sendo feita com um ponto sobre o tipo de energia considerado. Para compreendermos como o ciclo de Carnot opera, é importante conhecermos primeiro o diagrama de Mollier. O diagrama de Mollier, também conhecido por diagrama P-H, é um diagrama termodinâmico em que a abcissa e a ordenada são a entalpia e a pressão, respectivamente. Esse diagrama é o mais adequado para representar os ciclos de refrigeração. Observando a Figura 5, podemos verificar que a curva divide três regiões distintas: a de liquido sub-resfriado (a esquerda), a de vapor superaquecido (a direita) e a de equilíbrio líquido-vapor (ao centro). A linha da curva à direita representa o vapor saturado e a linha à esquerda o líquido saturado. A intersecção destas linhas na parte superior é o ponto crítico. Figura 5: Desenho esquemático do diagrama P=H Fonte: Stoecker (1998). Nesse diagrama é possível representarmos os processos isotérmicos (temperatura constante), isocóricos (volume constante) e isentrópicos (entropia constante), conforme representado na figura abaixo. Figura 6: Representação das linhas isotérmicas, isocóricas e isentrópicas no diagrama P-H Fonte: Stoecker (1998). Uma máquina frigorífica é constituída basicamente pelo compressor, um motor e por dois permutadores de calor (Figura 7). Figura 7: Circuito de Carnot Fonte: Stoecker (1998). Conforme o ciclo ideal proposto por Carnot, entre os pontos 1 e 2 da Figura 7 ocorre compressão do fluido refrigerante, sem atrito e troca térmica, assim como na expansão desse fluido, representada entre os pontos 3 e 4. Tais processos são termodinamicamente reversíveis por não apresentarem fricção; adiabáticos por não realizarem transferência de calor; e isentrópicos, por também ocorrerem à temperatura constante. Essas condições não são observadas na prática e, por isso, o ciclo de Carnot é considerado como ideal e teórico. Os dois outros processos que completam o ciclo de Carnot ocorrem a temperatura constante: entre os pontos 2 e 3 há a rejeição de calor do fluido, enquanto entre os pontos 4 e 1 acontece a absorção de calor. Os fluxos de calor rejeitado (Qr) e absorvido (Qa) podem ser calculados por: T representa a temperatura e S a entropia das etapas identificadas pelo índice subscrito. O balanço energético de uma máquina de Carnot é realizado por e representado pelo diagrama T-S da Figura 8, em que a área fechada pelo ciclo refere-se ao trabalho W recebido pelo sistema. Figura 8: Ciclo de Carnot em coordenadas T-S Fonte: Stoecker (1998). A representação do ciclo de Carnot no diagrama de Mollier está exemplificada na Figura 9. Os pontos 1 e 4 estão na região de mistura, portanto o fluído refrigerante no evaporador é uma mistura de líquido com vapor. Para sabermos qual é a fração de vapor γ nesses pontos, medimos no diagrama de Mollier as distâncias m e n, conforme a Figura 10, e calculamos . Figura 9: Ciclo de Carnot no diagrama P-H. Fonte: Stoecker (1998). Figura 10: Cálculo da γ no diagrama P-H. Fonte: Stoecker (1998). TEMA 3 - REFRIGERANTES Como vimos, as máquinas de refrigeração que operam com compressão mecânica de vapor necessitam trabalhar com fluidos refrigerantes que acabam sofrendo mudança de fase durante o processo. Para ser considerado um bom fluido refrigerante, esse precisa: condensar-se a médias pressões e evaporar-se em pressões acima da atmosférica; ter baixo volume específico e elevado calor latente de vaporização; ser quimicamente estável e inodoro; não ser corrosivo, inflamável ou tóxico; permitir a localização de vazamentos; ser miscível a óleo lubrificante sem degradá-lo; não danificar outros materiais da unidade; não deve deteriorar os alimentos, contribuir para o aquecimento global ou atacar a camada de ozônio. Não há um fluido refrigerante que reúna todas estas propriedades, sendo necessário selecioná-lo de acordo com os pontos críticos da instalação. Os fluidos refrigerantes podem ser classificados de acordo com o processo de absorção ou extração do calor das substâncias a serem refrigeradas: Classe 1: O processo de resfriamento ocorre por absorção do calor latente (CFCs, HCFCs, HFCs); Classe 2: O processo de resfriamento ocorre pela absorção de calor sensível (ar, solução de cloreto de cálcio ou de sódio, álcool); Classe 3: São soluções que contêm vapores absorvidosde agentes liquidificáveis, produzindo o resfriamento pela absorção do calor latente (amoníaco). No início do desenvolvimento da refrigeração, muitas substâncias foram utilizadas como fluidos refrigerantes, porém sem aplicação em grande escala. Por volta de 1930, começaram a ser usados os CFCs (clorofluorcarbonos), os quais foram considerados a melhor solução para a refrigeração devido às suas características técnicas, baixa flamabilidade e toxicidade zero. Porém, pesquisadores mostraram que essas substâncias prejudicavam a camada de ozônio da atmosfera e, então, outras alternativas foram desenvolvidas: HCFCs (hidroclorofluorcarbonos), como o R22, HFCs (hidrofluorcarbonos), como o R134a, misturas de HCFCs e HFCs (R401a, R401b, R409a) e misturas de HFCs (R404A, R407C, R410A, R508b). Embora os HCFCs sejam bastante utilizados até hoje, como o R22, por exemplo, eles ainda mantêm o problema de agredir a camada de ozônio. Em contrapartida, os HFCs não geram impacto sobre a camada de ozônio, mas possuem alto potencial de aquecimento global. A alternativa a esses compostos são os fluidos refrigerantes naturais, como os hidrocarbonetos (R600a, R290 e R170), o dióxido de carbono (R744), a amônia (R717) e o ar (R729). Entre essas opções, os hidrocarbonetos (HCs) têm sido bastante utilizados. O R600a (isobutano) é indicado para equipamentos domésticos e aplicações comerciais de pequeno porte, substituindo o R134a. O R290 (propano) é uma opção para a aplicação comercial leve, substituindo o R134a, o R404A e, parcialmente, o R22. Estes HCs promovem melhoria de eficiência na refrigeração e suas cargas são 40% a 60% menores do que as de R134a e R404A. Alguns fluidos refrigerantes e suas aplicações encontram-se na tabela abaixo: Tabela 1: Exemplos de fluido refrigerante e suas aplicações Fonte: <http://www.clubedarefrigeracao.com.br>. Comparando os fluidos refrigerantes mais utilizados, a escolha entre a amônia e os fluidos halogenados depende do tipo de aplicação. A amônia é tóxica e, portanto, deve ser aplicada em locais pouco povoados e em instalações industriais supervisionadas por operadores especializados. O preço da amônia é menor, cerca de 10 a 40 vezes. A amônia apresenta temperaturas de descarga mais altas, sendo necessário resfriar os cabeçotes dos compressores alternativos com água. Como a amônia não é miscível com o óleo das instalações, este fica depositado em regiões de baixa velocidade, precisando ser removido. Já os fluidos refrigerantes halogenados são solúveis com o óleo, sendo este separado por evaporação. Os sistemas de amônia podem admitir pequenas quantidades de água, enquanto que esta pode congelar nas válvulas de expansão e de controle de nível quando aplicados os fluidos halogenados. Devido ao seu cheiro, qualquer vazamento de amônia pode ser detectado facilmente. TEMA 4 - SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO Os sistemas de refrigeração são constituídos basicamente pelo compressor, pelo dispositivo de expansão e por dois trocadores de calor (condensador e evaporador). Antes de abordarmos esses componentes, é necessário que compreendamos o conceito de Tonelada de Refrigeração (TR). A TR é uma unidade utilizada com frequência para a capacidade frigorífica (potência) da instalação e foi concebida baseando-se na energia necessária para liquefazer uma tonelada de gelo em 24 horas: 1 TR = 12000 BTU/h = 3,5 kW COMPRESSORES A função do compressor é elevar a pressão do fluido refrigerante, promovendo sua circulação no sistema. Os tipos de compressores mais utilizados são: alternativo, centrífugo, de parafusos, palhetas e Scroll. O conhecimento da carga térmica da instalação é fundamental para a escolha do melhor modelo. Os sistemas de refrigeração são divididos em: pequena capacidade (< 2,5 TR); média capacidade (entre 2,5 e 75 TR); grande capacidade (> 75 TR). Os compressores podem ser classificados em função das características do processo de compressão: Máquinas de deslocamento positivo: elevam a pressão do vapor do fluido refrigerante reduzindo seu volume em uma câmara de compressão, por meio da aplicação de uma força mecânica. Nessa classificação, enquadram-se os compressores alternativos, de parafusos, de palhetas e Scroll. Máquinas de fluxo: a elevação de pressão ocorre pela conversão da pressão dinâmica em pressão estática, estando classificado nessa categoria o compressor centrífugo. Em relação ao projeto do compressor, esse se divide em: Hermético: tanto o compressor e o motor de acionamento são alocados dentro de uma carcaça, com entrada e saída para as conexões elétricas. O compressor opera somente com refrigerantes halogenados, cujo vapor resfria o enrolamento do motor por contato direto. São aplicados em refrigeradores domésticos e condicionadores de ar com potências de 30kW, aproximadamente. Semi-hermético: diferencia-se do hermético por permitirem a remoção do cabeçote, possibilitando o acesso aos pistões e às válvulas. Aberto: o compressor é acionado por um motor externo por meio de um eixo que atravessa a carcaça. É adequado para operar com amônia e fluidos halogenados. A seleção do compressor envolve alguns aspectos, como: condições de operação; capacidade requerida; curva de carga (variação e controle de capacidade). Em sistemas de pequena capacidade (motores elétricos de até 5 kW), como pequenas câmaras frias e pequenos chillers, a escolha pode se basear no esquema da Figura 11. Figura 11: Indicativo para a seleção de compressores de pequena capacidade Fonte: Eletrobras (2005). Para sistemas de maior capacidade, os compressores utilizados são os alternativos e os parafusos, tanto os abertos quanto os semi-herméticos. Os centrífugos também podem ser utilizados em casos específicos. A opção mais eficiente baseia-se também no consumo dos equipamentos (dados dos fabricantes). CONDENSADORES O condensador tem a função de liquefazer o fluido refrigerante, retirando seu calor latente. O vapor entra no condensador superaquecido e a fração de líquido e de vapor no escoamento varia ao longo do condensador até sair completamente no estado líquido. Diversos tipos de condensadores podem ser utilizados conforme as características do sistema de refrigeração. Os condensadores resfriados a ar são utilizados em unidades condensadoras de pequena ou média capacidade. Grandes condensadores a ar também podem ser aplicados quando a utilização de sistemas resfriados a água não é econômica, devido ao alto custo ou à indisponibilidade da água. As capacidades por unidade variam de 1 a 100 TR (7 a 352 kW), podendo atingir capacidades totais superiores com montagem de compressores em paralelo. Condensadores resfriados a água bem condicionados operam de forma mais eficiente que os condensadores resfriados a ar, principalmente em períodos de elevada temperatura ambiente. Esses condensadores costumam utilizar água proveniente de uma torre de resfriamento, sendo os mais utilizados: duplo tubo; casco - serpentina; casco - tubo; placa. Os condensadores evaporativos são constituídos por uma torre de resfriamento de tiragem mecânica, no interior da qual é instalada uma série de tubos, por onde escoa o fluído refrigerante. Água é pulverizada no topo da torre, sobre a tubulação de refrigerante, escoando em direção à bacia do condensador, enquanto ar atmosférico é seccionado por um exaustor de baixo para cima. Ao mesmo tempo em que o fluido refrigerante se condensa pelo contato da água com os tubos, esta é resfriada por evaporação para ser utilizada novamente. EVAPORADORES O evaporador é um dos quatro componentes principais de um sistema de refrigeração, tendo a finalidade de retirar calor do meio a ser resfriado. Dessa forma, os evaporadores podem ser classificados de acordo com a substância a ser resfriada: Evaporador para ar: o fluido refrigerante resfria o ar que escoa pela superfície externa do equipamento ao vaporizar no interior de tubos. O ar resfriado é aplicado, então, em câmaras de resfriamento, balcõesfrigoríficos e salas climatizadas, por exemplo. Evaporador para líquidos: o líquido é resfriado até uma determinada temperatura e bombeado para outros equipamentos, como serpentinas de câmaras frigoríficas, para o resfriamento de outro meio. Os tipos de evaporadores para líquidos mais utilizados são: casco e tubo, casco e serpentina, cascata (Baudelot) e placas. Evaporador de contato: é um caso particular do evaporador tipo placa, utilizado para o congelamento de produtos (sólidos, pastosos ou líquidos), como serpentinas de prateleiras em congeladores. Quanto ao seu sistema de alimentação, os evaporadores podem ser classificados em secos e inundados. No evaporador seco, também conhecido como de expansão direta, o fluido refrigerante entra no evaporador de forma intermitente através de uma válvula de expansão (termostática), sendo vaporizado e superaquecido ao receber calor em seu escoamento dentro dos tubos. Este tipo de evaporador é utilizado com fluidos halogenados em instalações de pequena capacidade. No evaporador inundado, o líquido é admitido por uma válvula de expansão (tipo boia), escoando nos tubos da serpentina e removendo calor do meio. Uma parte do refrigerante evapora ao receber calor no evaporador, sendo necessário separar as duas fases na saída do equipamento. O vapor saturado é seccionado pelo compressor, enquanto que o líquido retorna para o evaporador. Esse tipo de evaporador é muito usado em sistemas que utilizam amônia como refrigerante. Sua aplicação com fluidos halogenados é limitada pela dificuldade de retorno do óleo ao cárter do compressor. Seu custo inicial é mais elevado do que os demais e também consome grandes quantidades de fluido refrigerante. DISPOSITIVOS DE EXPANSÃO O dispositivo de expansão tem a função de despressurizar o fluido refrigerante da pressão de condensação até a de vaporização, além de regular a vazão do fluido que chega ao evaporador. As válvulas de expansão termostática (VET) são as mais utilizadas nos sistemas de refrigeração de expansão direta, pois ajustam o fluxo de fluido que entra no evaporador, conservando certo grau de superaquecimento do vapor na saída. As válvulas de expansão eletrônicas promovem um melhor controle do fluxo de refrigerante, economizando energia. Existem três tipos básicos: as acionadas por motores de passo; as de pulsos de largura modulada; e as analógicas. Outro tipo de válvula de expansão é a do tipo boia, que mantém constante o nível de líquido em um recipiente, no evaporador ou nos separadores de fases. Os dois tipos existentes são: alta pressão e baixa pressão. Para sistemas de baixa capacidade, como geladeiras e ar condicionado de janela, o dispositivo mais utilizado para expansão do fluido refrigerante é o tubo capilar. O diâmetro interno do tubo varia entre 0,5 e 2,0 milímetros, com comprimento de 1,0 a 6,0 metros. Normalmente é construído de cobre para fluidos halogenados. TORRES DE RESFRIAMENTO Quando a água é utilizada como fluido refrigerante, como em sistemas de refrigeração de ar condicionados e processos industriais, ela é resfriada utilizando-se torres de resfriamento. Você pode revisar as informações sobre este equipamento na rota 2. TROCANDO IDEIAS Após ter estudado esse conteúdo, tenho certeza que você poderá correlacioná-lo com alguma situação do seu dia a dia. Divida sua experiência conosco no nosso fórum! NA PRÁTICA Condicionamento de ar A indústria de refrigeração investe no desenvolvimento de tecnologias para suprir a necessidade dos usuários. Para isso, verifica os padrões de comportamento e as tendências em diversas áreas, como a engenharia e arquitetura. Vamos conhecer os modelos de ar condicionado e a diferença entre eles. 1. Portátil: a mobilidade é a sua principal vantagem, evitando problemas de instalação e permitindo a refrigeração de diversos ambientes. Os modelos possuem entre 9.000 e 13.000 BTUs. Fonte: <http://www.shutterstock.com/pic-85830157/stock-photo-3d-image-of-portable-air-conditioner.html? src=UrXnwQViDIZXIxL8ghrXWw-1-3>. 2. Janela: o primeiro a ser desenvolvido para o consumidor particular. Possui baixo investimento de instalação e manutenção. Os modelos possuem entre 7.000 e 30.000 BTUs. Fonte: <http://www.shutterstock.com/pic-186147407/stock-vector-appliance-built-in-window-air-conditioner-vector- illustration.html?src=2qXfkjWeZdXv_6YFwZDXww-1-22>. 3. Split: são classificados em seis grupos: a. Canto-teto: a instalação é feita nos cantos do ambiente. Os modelos possuem entre 9.000 e 12.000 BTUs. Fonte: <http://www.webarcondicionado.com.br/split-canto-teto>. b. Cassete: normalmente acoplado ao teto, pode ser camuflado no forro de gesso. Sua interface é bem disfarçada e elegante. Os modelos possuem entre 18.000 e 60.000 BTUs. Fonte: <http://www.shutterstock.com/pic-441598291/stock-photo-ceiling-mounted-cassette-type-air-conditioner.html?src=w- CY9hPjXKmPu-PWY2nJ2w-1-1>. c. Hi-wall: comumente chamado apenas de Split, é instalado na parte superior dos ambientes de forma centralizada para melhor distribuição da ventilação. Os modelos possuem entre 7.000 e 30.000 BTUs. Fonte: <http://www.shutterstock.com/pic-231832180/stock-photo-air-conditioner-blowing-cold-air.html? src=2qXfkjWeZdXv_6YFwZDXww-1-1>. d. Piso-teto: podem ser instalados na horizontal ou vertical, no piso ou no teto. Os modelos possuem entre 18.000 e 80.000 BTUs. Fonte: <http://www.arcondicionado.com.br/ar-condicionado-piso-teto>. e. Quarto-lados: fica no centro do ambiente com o vaporizador exposto. Possui boa distribuição de ar e necessita de um pé direito mais elevado. Os modelos possuem entre 30.000 e 60.000 BTUs. Fonte: <http://www.webarcondicionado.com.br/split-quatro-lados>. f. Windows: com o objetivo de substituir o tipo janela, este modelo não foi bem aceito e está indisponível. Os modelos possuem 7.000 BTUs. 4. Dutado: permite uma boa distribuição de ar devido a um sistema de distribuição em dutos. Pode ser projetado de acordo com a necessidade do ambiente, sendo indicado para conjuntos comerciais e ambientes empresariais. Fonte: <http://www.shutterstock.com/pic-187518515/stock-photo-large-metal-tube-for-the-air-conditioning-of-a-large-industrial- complex.html?src=Lg__m5zMsW9bYOAU8EVuCA-1-53>. 5. Multi Split: aplicado quando se tem problema de espaço, possui apenas um condensador para múltiplos pontos de climatização. Seu consumo energético é maior do que um conjunto de hi-wall equivalente. Os modelos possuem entre 18.000 e 36.000 BTUs. Outras aplicações Para sua melhor compreensão e aprofundamento do tema, leia os artigos listados abaixo. SBRAVATI, A.; FIGUEIREDO, J. R. Projeto de sistema para condicionamento de ar por absorção de água-brometo de lítio utilizando energia solar e simulação de sua operação sob condições diversas. Mercofrio 98. (Anexo 1) SILVA, D. R. B.; NETO, A. I. Dimensionamento de sistema geotérmico para climatização de residências em Curitiba. ENTAC 2010. (Anexo 2) GASPAR, P. D.; PITARMA, R. A. Simulação de equipamento industrial de refrigeração: estudo de caso. Métodos computacionais em engenharia, 2004, Lisboa. (Anexo 3) SILVA, G. F.; CARNELOSSI, M. A. G.; JALALI, V. R. R. Refrigeração usando gás natural como fonte de energia. Revista da Fapese de Pesquisa e Extensão, v. 1, p. 23-42, mar./jun. 2005. (Anexo 4) SÍNTESE Nesta rota aprendemos a respeito dos conceitos envolvidos na Refrigeração, assim como as suas classificações. Verificamos o ciclo termodinâmico ideal, desenvolvido por Carnot, e sua aplicação nos processos de refrigeração que envolvem fluidos refrigerantes. Estudamos também os principais componentes de um sistema de refrigeração e as condições de utilização. REFERÊNCIAS ARORA, R. C. Refrigeration and air conditioning. India: PHI, 2010. ABNT NBR 16401-1:2008. Instalações de ar condicionado – Sistemas centrais e unitários. Parte 1: Projeto das instalações. FROTA, A. B.; SCHIFFER, S. R. Manual de conforto térmico. 5. ed. São Paulo: Studio Nobel, 2001. MESQUITA, A.L.S.Engenharia de ventilação. São Paulo, Edgard, Blucher, 1977. ELETROBRAS. Eficiência Energética em Sistemas de Refrigeração Industrial e Comercial. Rio de Janeiro, Eletrobrás, 2005. STOECKER, W. F. Industrial refrigeration handbook. New York, McGraw-Hill, 1998.
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