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SISTEMAS TÉRMICOS E ENERGÉTICOS AULA 5 Prof.ª Ana Carolina Tedeschi Gomes Abrantes CONVERSA INICIAL As turbinas estão presentes na nossa vida, muito mais do que imaginamos. O próprio verbo turbinar é utilizado frequentemente quando queremos nos referir à melhoria de alguma situação. Isso porque as turbinas surgiram como alternativas para a produção de elevadas quantidades de trabalho, o que viabilizou processos nos quais estão envolvidas altas cargas de pressão e vazão. As turbinas a vapor são utilizadas na área industrial e, embora não tenhamos contato direto, são responsáveis por auxiliar diversos processos industriais que utilizam bombas, compressores e geradores elétricos. Em compensação, as turbinas a gás estão mais próximas ao cidadão comum, principalmente quando associadas aos meios de transporte, movendo aeronaves e navios. Aprender sobre esses equipamentos e seus ciclos termodinâmicos é fundamental para avaliar a eficiência e otimizar a operação deles. Dessa forma, esta aula trará subsídios para gerenciar os processos nos quais as turbinas estão inseridas. CONTEXTUALIZANDO A maioria dos equipamentos de geração de potência, como as turbinas, opera em ciclos difíceis de serem analisados. Visando tornar o estudo viável, suas irreversibilidades e complexidades são desconsideradas, de forma a se modelar um ciclo ideal para o estudo. Uma vez que essas máquinas térmicas foram concebidas a fim de converter a energia térmica de um fluido em trabalho, o desempenho é medido pela eficiência térmica (η). Esse parâmetro é calculado por meio da razão do trabalho líquido produzido (Wliq) pelo calor total fornecido (Qent). Entre os ciclos térmicos ideais, o ciclo Carnot é o que apresenta maior eficiência. Porém, não representa os ciclos encontrados em aplicações práticas, tornando‑se inadequado. Assim, outros ciclos ideais foram propostos para grupos específicos de máquinas térmicas. As simplificações consideradas pelos ciclos ideais são: Não há queda de pressão no escoamento do fluido por conta do atrito. A expansão e a compressão acontecem em condições praticamente estacionárias. Não há transferência de calor pelas tubulações que transferem o fluido. As energias cinética e potencial são desprezíveis. Os diagramas de propriedades T-S e P-v são muito úteis para a avaliação dos ciclos termodinâmicos que serão estudados nesta aula, principalmente na comparação das condições ideais com as reais. As turbinas são constituídas por rodas de pás, que transformam a energia térmica em energia mecânica. Estas rodas são instaladas em um rotor o qual é interligado a um eixo que gira sobre mancais. Usualmente, a rotação do eixo é utilizada para movimentar equipamentos rotativos, como compressores, bombas, geradores de eletricidade e propulsores aeronáuticos. Na indústria, as turbinas fornecem uma potência que pode variar de centenas de KW até milhares de MW. TEMA 1 – TURBINA A VAPOR (TV) A turbina a vapor (TV) é uma máquina térmica que aplica a energia termodinâmica contida do vapor para produção de trabalho mecânico. Esse trabalho é transmitido por intermédio de um eixo para um compressor, uma bomba ou um gerador de eletricidade (figura 1), por exemplo, nos quais o consumo de energia é muito elevado para utilização de motores elétricos ou à combustão interna. Figura 1 – Gerador de eletricidade movido a vapor Sendo máquinas de combustão externa, o vapor utilizado é gerado em um equipamento à parte. A energia necessária para a produção de vapor pode vir de reações nucleares ou químicas. A combustão é a mais aplicada. Dessa forma, existe flexibilidade em relação à fonte de energia, isso pode ser ajustado a diversos processos industriais e diferentes tipos de combustíveis. Em contrapartida, esse tipo de turbina exige a instalação de equipamentos auxiliares, como condensadores e bombas, o que torna o sistema bastante complexo. As principais partes de uma turbina a vapor são: a carcaça, os mancais, o rotor e as palhetas. A carcaça é o “casco” da turbina, responsável por conter todo o conjunto rotativo e acondicionar os bocais de entrada e saída do vapor. Normalmente, é feita de aço fundido e pode ter espessura acima de 150 mm na região de alta pressão. O rotor (figura 2) é composto pelas palhetas – transformam a energia do vapor em trabalho – e pelo eixo – responsável pela transmissão do torque. Esse conjunto é “encaixado” na carcaça inferior e suportado pelos mancais. Figura 2 – Rotor de uma turbina a vapor composto pelo eixo e pelas palhetas As palhetas (figura 3) são projetadas para apresentarem pressões diferentes nas duas faces. Essa diferença de pressão tem como consequência uma força resultante que gira o eixo. A quantidade de rodas (conjunto de palhetas instaladas no mesmo ponto) define se a turbina é simples (uma única roda), dupla (duas rodas) ou múltipla (mais rodas). Figura 3 – Palhetas de uma turbina a vapor O vapor pode atuar nas palhetas de acordo com o princípio de ação ou de reação. Nas turbinas de ação, o vapor sai de um expansor fixo e é dirigido diretamente contra as palhetas, o que força seu deslocamento. Em contrapartida, o expansor nas turbinas de reação (figura 4) é móvel, por isso, o jato de vapor o desloca no sentido contrário, isso resulta no mesmo efeito. Os compressores também se diferenciam em função da pressão na saída do vapor. Nas turbinas de condensação, o vapor exausto entra direto em um condensador (figura 5) e sua redução de volume provoca a formação de vácuo na saída da turbina. Esse tipo de turbina tem alta eficiência, por isso, é aplicada para alta potência. Em contrapartida, algumas situações operacionais podem exigir que o vapor exausto tenha pressão superior à atmosférica, como nas turbinas de contrapressão, o que dificulta seu escoamento. Essas turbinas são normalmente utilizadas quando se necessita de vapor de baixa pressão em outros equipamentos industriais. Figura 4 – Máquina térmica desenvolvida por Hero baseada no princípio de reação Figura 5 – Condensador de uma turbina a vapor A representação de uma turbina nos desenhos e diagramas é um trapézio deitado (figura 6), pois representa a variação do volume do vapor devido à perda de pressão no processo. O lado menor representa a entrada do vapor na turbina; o lado maior, a saída. Figura 6 – Desenho representativo de uma turbina a vapor É comum diferenciar as turbinas de um conjunto em função da pressão de trabalho (figura 7). Normalmente, o vapor vindo da caldeira entra primeiro em uma turbina de alta pressão (High Pressure Turbine – HP) e o vapor exausto, ainda em pressões medianas, é aproveitado em uma turbina de baixa pressão (Low Pressure Turbine – LP). Em alguns casos, o vapor intermediário tem a temperatura elevada, antes de entrar na turbina de baixa pressão. Figura 7 – Exemplificação de turbinas de alta e baixa pressão O produto final de uma turbina a vapor é a potência gerada para aproveitamento de outro equipamento acoplado em seu eixo. Essa potência é calculada por: Onde: = vazão mássica do vapor. h1 = entalpia específica do vapor na entrada. h2 = entalpia específica do vapor na saída. TEMA 2 – CICLO RAKINE IDEAL A turbina a vapor, por ser uma máquina térmica, trabalha em ciclos, em conjunto com outros equipamentos. A figura 3 representa um exemplo aplicável a uma planta de geração de energia elétrica (Steam Power Plant). O vapor superaquecido é gerado em uma caldeira (boiler) e utilizado nas turbinas de alta pressão (HP turbine) e de baixa pressão (LP turbine) as quais estão acopladas a um gerador elétrico (generator). O vapor exausto é então resfriado e condensado no condensador (steam condenser), retornando à caldeira com o auxílio de uma bomba (water pump). Figura 8 – Representação esquemática de uma planta de geração de energia elétrica a vapor Esse sistema pode ser representado termodinamicamente por um ciclo reversível, conhecido como ciclo Rankine ideal (figura9), o qual é constituído pelas seguintes etapas básicas: Expansão adiabática (turbina). Troca de calor a pressão constante (condensador). Bombeamento adiabático (bomba). Troca de calor a pressão constante (caldeira). Figura 9 – Ciclo de Rankine simples e ideal Fonte: Garrido, 2012. Essas transformações termodinâmicas são mais bem explicadas pelos diagramas P-V e T-S (gráfico 1). A bomba aumenta a pressão do liquido desde a pressão do condensador Pcond (3) até a pressão de admissão na caldeira Pcald (4). Nesse processo, a temperatura e a entropia do líquido praticamente não variam. Na caldeira, o líquido recebe calor Qabs em pressão constante, transformando‑se em líquido saturado (4’) e, posteriormente, em vapor saturado (1). Aqui, o fluido tem sua temperatura e sua entropia aumentadas consideravelmente. Após a caldeira, o vapor é direcionado à turbina e sofre expansão (2), produzindo trabalho em um processo isentrópico. O vapor exausto é descarregado em um condensador no qual é liquefeito em temperatura e pressão constantes (3), fechando o ciclo. Gráfico 1 – Diagramas do ciclo Rankine ideal (a) P-V (b) T-S Fonte: Garrido, 2012. Além da potência gerada pela turbina, observamos nesse ciclo que há outras potências relacionadas às energias trocadas pelos outros equipamentos. Elas podem ser calculadas por: 1. Potência devido ao trabalho realizado pela bomba sobre o fluido ( 2. Potência devido ao calor absorvido pelo fluido na caldeira ( 3. Potência devido ao calor liberado pelo fluido no condensador ( Onde: Pn = pressão do fluido no ponto n (n = 1, 2, 3 ou 4). hn = entalpia específica do fluido no ponto n (n = 1, 2, 3 ou 4). = vazão mássica do fluido. = volume específico do fluido. Sabendo-se as energias trocadas, é possível obter o rendimento (η, em %) deste ciclo ideal por: TEMA 3 – CICLO RAKINE REAL Nas aplicações reais, as transformações do ciclo Rankine não são totalmente reversíveis. Há perda de energia devido à perda de carga por conta do escoamento do fluido nas tubulações e nos equipamentos. O processo de expansão não resistida, na turbina, e o atrito do fluido com o rotor da bomba elevam a entropia do fluido. O gráfico 2 faz a comparação do ciclo ideal (linha cheia) com o ciclo real (linha pontilhada), além de indicar o superaquecimento do vapor no ponto 3, necessário para evitar umidade e prevenir a erosão das palhetas na turbina. O tratamento matemático é o mesmo, porém, utilizam‑se as condições reais de entalpia do fluido em cada ponto. Gráfico 2 – Diagrama T-S do ciclo Rankine com irreversibilidades Fonte: Cengel; Boles, 2013. Na prática, algumas modificações são realizadas no ciclo Rankine para o aumento da eficiência. Essas modificações são realizadas com o objetivo de aumentar a temperatura de transferência de calor para o fluido na caldeira, e de reduzir a temperatura na qual o calor é rejeitado pelo fluido no condensador. Uma opção é a redução da pressão (abaixo da atmosférica) no condensador por meio do aumento do trabalho líquido. Essa condição é obtida ao reduzir a temperatura da água de resfriamento no trocador. O gráfico 3 representa essa modificação passando o processo de condensação de 4-1-2 para 4’-1’-2’. Operacionalmente, deve-se cuidar para não se alcançar a pressão de saturação do vapor ainda na saída da turbina, pois ocasiona erosão nas pás e perda de eficiência da turbina. As conexões do condensador também devem estar bem vedadas, para evitar infiltração de ar para o interior. Gráfico 3 – Efeito da redução de pressão no condensador no ciclo Rankine , Fonte: Cengel; Boles, 2013. Outra possibilidade de aumento de eficiência é a elevação da pressão da caldeira, o que aumenta a temperatura de ebulição da água (gráfico 4). Embora a energia adquirida pelo fluido na caldeira seja maior, essa manobra reduz o trabalho líquido na turbina, além de acarretar aumento da umidade do vapor e resultar na erosão das pás da turbina. Gráfico 4 – Efeito do aumento da pressão da caldeira no ciclo Rankine Fonte: Cengel; Boles, 2013. A energia do vapor também pode ser aumentada ao elevar o grau de superaquecimento (gráfico 5). Esse processo aumenta a eficiência da turbina e reduz a possibilidade de erosão nas pás. Deve-se cuidar somente em relação à temperatura máxima admitida de vapor na turbina, conforme o projeto desenvolvido. Gráfico 5 – Efeito do superaquecimento no ciclo Rankine Fonte: Cengel e Boles, 2013. Outros processos que podem ser encontrados são: Reaquecimento do vapor que é encaminhado para o estágio de baixa pressão (gráfico 6), diminuindo a sua umidade e mantendo a eficiência da turbina. Nesta condição, as vazões, pressões e temperaturas intermediárias devem ser levantadas, surgindo novas parcelas de cálculo da potência. Gráfico 6 – Ciclo Rankine com reaquecimento Fonte: Cengel; Boles, 2013. Extração de parte do vapor que sai da turbina de alta pressão para aquecimento da água de alimentação da caldeira – ciclo regenerativo (gráfico 7). Esse processo também atua na desaeração mecânica da água, o que previne a corrosão e auxilia a reduzir vazão de vapor nos estágios seguintes da turbina. O tratamento matemático é um pouco mais complicado, pode ser encontrado nas referências citadas nesta aula. Gráfico 7 – Ciclo Rankine regenerativo Fonte: Cengel; Boles, 2013. O principal equipamento desse ciclo é a turbina, uma vez que o trabalho é gerado por ela. Os demais equipamentos são auxiliares para condicionamento do fluido de trabalho. No Anexo 2, você encontrará mais informações sobre as turbinas a vapor, como a descrição dos componentes que a compõe e o tratamento matemático para o cálculo do trabalho gerado. TEMA 4 – TURBINA A GÁS O gás é utilizado em sistemas de potência que incluem as turbinas a gás e os motores alternativos. Neste anexo, abordaremos somente a turbina a gás, pois os motores serão descritos na última aula desta disciplina. A turbina a gás (TG) é definida como uma máquina térmica que utiliza a energia termodinâmica contida nos gases de combustão, para produção de trabalho mecânico ou propulsão. As aplicações mais conhecidas são: na aeronáutica, para propulsão a jato e no turbopropulsor; e nas termelétricas, normalmente vinculadas à cogeração. Esse equipamento fornece trabalho de forma contínua, sem apresentar movimentos alternativos, como nos motores, e com elevada confiabilidade. Tem a vantagem de ser leve e compacto, tendo em vista a alta potência, e tem alguma flexibilidade em relação ao tipo de combustível (embora menor que a turbina a vapor). Durante sua operação, a temperatura na câmara eleva-se muito, por isso, é necessário resfriá-la. O processo de partida e parada é bastante lento, levando‑se em consideração sua elevada inércia. Na figura 10, é possível verificar os principais componentes de uma turbina a gás e o seu processo de operação. O ar é admitido na turbina (air inlet) e comprimido por um compressor (axial, centrífugo ou combinado). Nessa etapa, a temperatura do ar varia entre 300°C e 450°C. O ar comprimido entra na câmara de combustão (combustor), na qual também se adiciona o combustível (fuel). Após a combustão, os gases são direcionados para a turbina (turbine), onde a energia térmica é transformada em energia mecânica na forma de potência. Praticamente metade dessa potência é utilizada para girar o compressor; a outra metade é a potência líquida disponível. Quando a turbina é aplicada à propulsão, esses gases são acelerados em um bocal antes de serem descartados. Na zona de queima, parte do ar é adicionada próximo à quantidade estequiométrica. O restante, 70%, é adicionado posteriormente, com a finalidade de reduzir a temperatura dos gases gerados na combustão. Assim, a temperatura na saída da câmara é mantida entre 650°C e 1200°C. Figura 10 – Representação esquemática de uma turbina a gás Assista ao vídeo a seguir para entender melhor o conjunto de peças que compõem uma turbina a gás. <http://www.shutterstock.com/pt/video/clip-5892356-stock-footage-turbojet-airplane-airliner-engine-black-night-metallic-grows-into-a-plane-jet.html?src=search/LzL02cXHjQUoaPJXbSnpYw:1:8/3p> As turbinas a gás podem ser classificadas de acordo com o princípio de funcionamento. Ou seja: As turbinas de ação (ou impulso) apresentam transformação da energia térmica em cinética somente nos bocais, local onde há a única variação de pressão. São pouco utilizadas. Nas turbinas de reação, os gases de combustão se expandem nos bocais e nas palhetas, como consequência de canais existentes entre as palhetas e do seu perfil aerodinâmico. As turbinas podem apresentar escoamento axial – paralelo ao eixo – ou radial, pouco usado. Sua conexão com o compressor pode ser direta ou livre. A conexão direta é realizada por um eixo, o qual também é responsável pela geração de potência de eixo. Esse caso é aplicado às turbinas estáticas, com a rotação de operação constante. Outra opção é o acionamento do eixo de potência e do compressor por turbinas independentes, caracterizando a conexão do tipo livre. Essa configuração permite a operação em diferentes rotações. http://www.shutterstock.com/pt/video/clip-5892356-stock-footage-turbojet-airplane-airliner-engine-black-night-metallic-grows-into-a-plane-jet.html?src=search/LzL02cXHjQUoaPJXbSnpYw:1:8/3p http://www.shutterstock.com/pt/video/clip-5892356-stock-footage-turbojet-airplane-airliner-engine-black-night-metallic-grows-into-a-plane-jet.html?src=search/LzL02cXHjQUoaPJXbSnpYw:1:8/3p http://www.shutterstock.com/pt/video/clip-5892356-stock-footage-turbojet-airplane-airliner-engine-black-night-metallic-grows-into-a-plane-jet.html?src=search/LzL02cXHjQUoaPJXbSnpYw:1:8/3p http://www.shutterstock.com/pt/video/clip-5892356-stock-footage-turbojet-airplane-airliner-engine-black-night-metallic-grows-into-a-plane-jet.html?src=search/LzL02cXHjQUoaPJXbSnpYw:1:8/3p A representação gráfica da turbina a gás utilizada em fluxogramas é exemplificada na figura 11 a seguir. Figura 11 – Representação de uma turbina a gás TEMA 5 – CICLO DE BRAYTON IDEAL Diferentemente do ciclo de potência a vapor, o fluido de trabalho no ciclo de potência a gás se mantem gasoso em todo o ciclo. Conforme estudado no tema anterior, as turbinas a gás costumam operar em ciclo aberto (figura 12), sem recirculação dos gases. Esse ciclo pode ser modelado a um ciclo fechado (figura 4), se for considerado o ar como fluido motor (gás ideal). “Nessa condição, o processo de combustão é substituído pelo fornecimento de calor por uma fonte externa (qent), e o de exaustão é trocado pela liberação de energia (qsai) para o ar ambiente, ambos com pressão constante” (Cengel; Boles, 2013, grifo nosso). Figura 12 – Turbina a gás de ciclo aberto Fonte: Cengel; Boles, 2013. Figura 13 – Turbina a gás de ciclo fechado Fonte: Cengel; Boles, 2013. O ciclo que descreve as transformações termodinâmicas de um fluido gasoso em ciclo fechado é o ciclo Brayton ideal, composto por quatro processos irreversíveis (gráfico 8): Compressão entre pontos 1 e 2 por um compressor com entropia constante. Recebimento isobárico de calor entre os pontos 2 e 3. Expansão entre os pontos 3 e 4 em uma turbina, com entropia constante. Perda isobárica de calor entre os pontos 4 e 1. Cada uma dessas etapas pode ser verificada nos diagramas T-S e P-v a seguir. Gráfico 8 – Diagramas T-S e P-v do ciclo Brayton ideal Fonte: Cengel; Boles, 2013. Para o cálculo do calor recebido (Qentra) e do calor cedido (Qsai) pelo fluido, são utilizadas as expressões: Onde: Tn = temperatura do fluido no ponto n (n = 1, 2, 3 ou 4). hn = entalpia específica do fluido no ponto n (n = 1, 2, 3 ou 4). m = massa do fluido. cp = calor específico do fluido. Uma vez que as trocas térmicas ocorrem à pressão constante, é possível deduzir que: A eficiência térmica (η, em %) do ciclo Brayton ideal é obtida por: Dois coeficientes bastante aplicados para avaliação da eficiência térmica da turbina a gás é a razão de pressão (rp) e a razão dos calores específicos (k) dos processos 1-2 e 3-4. TEMA 6 – CICLO DE BRAYTON REAL As condições reais de operação de uma turbina a gás diferem das condições do ciclo ideal devido à: queda de pressão nos trocadores de calor; irreversibilidades presentes nos processos de compressão e expansão do gás, resultando em um consumo maior de trabalho no compressor e uma produção menor de trabalho na turbina. As eficiências reais desses componentes ficam entre 80% e 90% em relação à condição ideal. O raciocínio dos cálculos para o ciclo Brayton real é o mesmo realizado para o ciclo ideal, todavia, devem ser consideradas as condições reais de processo. Uma forma de aumentar a eficiência real da turbina a gás é utilizar os gases de exaustão para aquecer o ar comprimido para a combustão, por meio de um trocador de calor contracorrente. Essa configuração é conhecida como ciclo Brayton com regeneração (figura 14). Figura 14 – Turbina a gás com regenerador Fonte: Cengel; Boles, 2013. NA PRÁTICA 1ª aplicação: instalação de potência a vapor Exemplo 10-2, de Cengel e Boles (2013) Uma usina de potência a vapor opera segundo o ciclo mostrado no gráfico 9 a seguir. Gráfico 9 Fonte: Cengel; Boles, 2013. Se a eficiência isentrópica da turbina é 87% e a eficiência isentrópica da bomba é de 85%, determine: 0. A eficiência térmica do ciclo. 1. A potência líquida da usina para um fluxo de massa de 15 kg/s. Resolução Algumas hipóteses necessitam ser consideradas para a resolução deste exercício: A instalação opera e regime permanente. As variações de energia cinética e potencial são desprezíveis. As temperaturas e pressões do vapor em diversos pontos estão indicados na figura. Ao avaliar o diagrama T-S, verifica-se que a usina opera no ciclo Rankine real. 1. A eficiência térmica de um ciclo é a razão entre o trabalho líquido e o consumo de calor. A eficiência isentrópica da turbina e da bomba relaciona o trabalho gerado ou consumido no ciclo ideal (com subscrito s) com a condição real. Para o trabalho consumido na bomba utiliza-se a equação a seguir, retirando o valor do volume específico no ponto 1 (v1) da tabela de propriedades termodinâmicas da água saturada (condição ideal do ciclo Rankine). O que irá definir a condição ideal nesta situação é a pressão do ponto 1 (9 kPa). Na tabela, não há condição com pressão exatamente igual a 9 kPa, por isso, é necessário fazer uma interpolação entre uma condição de pressão maior e outra de pressão menor. Nesse caso, escolheram-se as linhas referentes às pressões de 7,3851 e 9,5953 kPa. É importante destacar que as temperaturas dessas condições de água saturada (40 e 45°C) são maiores do que a condição real (38°C). Isso significa que, na prática, a água encontra-se subresfriada, e não saturada, como definido no ciclo Rankine ideal. Considerando a condição de pressão menor como A e a condição de pressão maior como B, a obtenção de v1 por interpolação se dá por: Tabela 1 Fonte: Cengel; Boles, 2013. Calcula-se, então, o trabalho consumido na bomba: Em relação ao trabalho gerado na turbina, utilizamos a relação: Ao avaliarmos a pressão e a temperatura do ponto 5, verificamos que o vapor se encontra superaquecido nesse ponto, por isso, sua entalpia (h5) necessita ser retirada de uma tabela de propriedades termodinâmicas para vapor superaquecido. Essa entalpia é lida na linha referente a temperatura de 600ºC da tabela para P = 15 MPa. Tabela 2 Fonte: Cengel; Boles, 2013. Em contrapartida, a condição ideal no ponto 6 (P=10kPa) apresenta uma mistura de líquido e vapor saturados, cuja proporção pode ser obtida pela regra da alavanca no diagrama T-S (80,45% de vapor). O cálculo da entalpia específica nesta condição (h6,s) é realizada por uma média ponderada entre a entalpia do líquido e a entalpia do vapor de acordo com a proporção obtida. Tabela 3 Fonte: Cengel; Boles, 2013. h6,s=0,8045 x 2583,9 + 0,1955 x 191,81 = 2115,25 kJ/kg Com os valores das entalpias, tem-se, portanto: Conforme demonstrado pela equação a seguir, faz-se necessáriaa obtenção das entalpias nas condições 3 e 4, para o cálculo do calor gerado na caldeira. Ao avaliarmos a pressão e a temperatura do ponto 3, verificamos que a água se encontra no estado subresfriado. Entre as tabelas para água subresfriada, não há disponível a opção de P3 = 15,9 MPa, nem uma linha referente a T3 = 35°C. Com isso, será necessário encontrar primeiro os valores das entalpias para as temperaturas de 20 (passo 1) e 40°C (passo 2) para P = 15,9 MPa e, depois, calcular a entalpia para T = 35°C (passo 3) nessa pressão. Tabela 4 Fonte: Cengel; Boles, 2013. Passo 1: Passo 2: Passo 3: No ponto 4, o vapor encontra‑se superaquecido e o levantamento de sua entalpia é realizado nas tabelas de vapor superaquecido, para P = 15 MPa e P = 17,5 MPa, da mesma forma que foi feito para o líquido subresfriado. Como a pressão é muito próxima a 15,0 MPa e a temperatura é a média de 600 e 650°C, podemos simplificar esse cálculo para 15 MPa, sem erros significativos, como se segue: Tabela 5 Fonte: Cengel; Boles, 2013. Assim, o calor gerado na caldeira é igual a: Finalmente, a eficiência do ciclo por ser calculada: 2. A potência produzida na usina é 2ª aplicação: instalação de potência a gás Um ciclo padrão de Brayton opera com uma razão de compressão de 10. O ar entra no compressor a 0,1 MPa e 20ºC com uma vazão em massa de 11 kg/s. A temperatura na entrada da turbina de 1200K. Nessas condições, determine: (a) a eficiência térmica do ciclo; (b) a potência desenvolvida. Dado: cp do ar = 1,0035 KJ/kgK Resolução Os diagramas que descrevem o ciclo Brayton estão representados a seguir. Gráfico 10 Fonte: Cengel; Boles, 2013. 1. Para o cálculo da eficiência térmica do ciclo usaremos a equação abaixo, uma vez que nos foi informada a sua razão de compressão (rp). Como ar é o fluido de trabalho, temos k = 1,4. Assim: 2. Para o cálculo da potência desenvolvida (gerada), precisamos conhecer a energia recebida ( e cedida ( pelo ar, uma vez que: O fluido recebe energia para aumentar sua temperatura de T2, na saída do compressor, para T3, na entrada da turbina. T3 foi fornecido do problema como 1200K e T2 é calculado por: A energia que o fluido recebe é, portanto: Para o cálculo da energia cedida pelo fluido, necessita-se conhecer as temperaturas de saída da turbina (T4) e de entrada do compressor (T1). Conforme enunciado, T1 = 273 + 20 = 293K. Uma vez que as trocas de calor ocorrem à pressão constante, T4 pode ser obtido por: Assim: O sinal negativo indica a liberação de calor. Ao calcular a potência fornecida com base no do módulo das energias calculadas: SÍNTESE Nesta aula, estudamos os ciclos termodinâmicos ideais e reais, que representam os sistemas de potência a vapor (Rankine) e a gás (Brayton). Estudamos também as respectivas turbinas, tanto em relação ao seu aspecto construtivo quanto às condições operacionais. REFERÊNCIAS AFONSO, C. Termodinâmica para engenharia. Porto: FEUP Edições, 2012. CENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termodinâmica. 7. ed. Porto Alegre: McGraw Hill Brasil, 2013. GARRIDO, S. G. Operación y mantenimiento de centrales de ciclo combinado. Madri: [s.n.], 2012.
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