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SISTEMAS TÉRMICOS E ENERGÉTICOS AULA 4 Prof.ª Ana Carolina Tedeschi Gomes Abrantes CONVERSA INICIAL A combustão está presente em nossas vidas como a principal fonte de energia térmica. A utilizamos ao prepararmos nossa comida, ao nos deslocarmos para o trabalho e ao tomarmos banho. Mas estes são exemplos pequenos perto da ampla aplicação desse processo na sociedade. Através da combustão, energia elétrica é gerada em termoelétricas, vapor é produzido em caldeiras para aplicação térmica e motora e aviões a jato ganham velocidade utilizando turbinas a gás. A variedade de combustíveis disponíveis é grande, variando entre os renováveis e não renováveis. A escolha da melhor opção passa tanto pelo projeto do equipamento, quanto pela análise econômica e pelo impacto ambiental. O objetivo desta rota é que você tenha conhecimento suficiente para avaliar se os equipamentos que operam a combustão estão com o desempenho esperado. Mas para chegar a este ponto, será necessário “queimar um pouco de fosfato”. Vamos dar a ignição? CONTEXTUALIZANDO A utilização da máquina térmica é uma das formas de produção de potência útil. Na prática, a grande parte das fontes frias utilizadas está disponível na natureza, como a atmosfera, os rios e lagos. Em contrapartida, as fontes quentes costumam trabalhar em temperaturas bastante elevadas, sendo obtidas artificialmente no processo industrial. A forma mais comum é a combustão controlada utilizando-se materiais combustíveis e ar atmosférico. Este princípio é utilizado em fornalhas de fornos e caldeiras, como também em motores de combustão interna. As principais fontes energéticas atuais (Figura 1) se baseiam na combustão de combustíveis fósseis, na energia hidráulica e na energia nuclear. Outras formas de energia, como geotérmica, solar e eólica, ainda apresentam baixo consumo quando avaliado a nível mundial. Figura 1: Fontes energéticas atuais Fonte: PINHO (2014). Aprenda um pouco mais sobre os combustíveis fósseis assistindo ao vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=UjwVBUbKmrs> O conhecimento dos combustíveis e de seus produtos resultantes da queima, das variáveis de controle da combustão e da energia fornecida por esta reação é de grande importância para o ajuste do processo em sua maior eficiência. TEMA 1 - COMBUSTÍVEIS Combustível é a substância que, ao reagir com um agente oxidante (comburente), libera energia suficiente para seu aproveitamento na forma de calor e/ou trabalho. Ao se avaliar o melhor combustível para uma determinada aplicação se faz necessário o conhecimento de algumas de suas propriedades, entre elas: Massa molar, massa específica e viscosidade; https://www.youtube.com/watch?v=UjwVBUbKmrs https://www.youtube.com/watch?v=UjwVBUbKmrs https://www.youtube.com/watch?v=UjwVBUbKmrs Poder Calorífico Superior (PCS): Energia total liberada na combustão de uma substância resfriando os gases até a temperatura ambiente; Poder Calorífico Inferior (PCI): Energia liberada na combustão de uma substância até uma temperatura superior à de condensação da água (energia útil); Para grande parte dos combustíveis utilizados industrialmente, as propriedades acima descritas podem ser encontradas em: <http://www.antoniolima.web.br.com/arquivos/podercalorifico.htm> Temperatura de fulgor: é a temperatura mínima em que uma substância libera vapores suficientes para se tornar inflamável quando exposta a uma fonte de calor; Ponto de inflamação (autoignição): é a menor temperatura em que ocorre a combustão sem a existência de uma fonte de ignição. Os pontos de fulgor e de autoignição podem ser encontrados nas FISPQs (ficha de informações de segurança de produtos químicos) dos combustíveis. Ponto de fluidez: menor temperatura na qual o combustível apresenta fluidez, possibilitando seu bombeio; Temperatura de fusão das cinzas: importante para verificação de depósitos de cinzas nos equipamentos devido a sua solidificação na superfície. De acordo com Pinho (2014), A classificação mais comum dos combustíveis é em relação à fase na qual são normalmente manuseados: combustíveis sólidos, líquidos e gasosos. Os combustíveis gasosos compreendem o gás natural, os gases liquefeitos de petróleo e os gases obtidos a partir do carvão. Os combustíveis líquidos abrangem principalmente os álcoois, o petróleo e seus derivados. Os combustíveis sólidos estão relacionados aos carvões, coques, madeiras e resíduos industriais. (PINHO, 2014). COMBUSTÍVEIS GASOSOS Os combustíveis gasosos são os compostos que apresentam a maior facilidade de queima, dificilmente apresentando problemas com combustão incompleta e contaminantes. Os mais importantes http://www.antoniolima.web.br.com/arquivos/podercalorifico.htm http://www.antoniolima.web.br.com/arquivos/podercalorifico.htm http://www.antoniolima.web.br.com/arquivos/podercalorifico.htm são o gás natural, os compostos leves do petróleo e alguns gases produzidos pelo processo industrial. Estes combustíveis são constituídos basicamente por hidrocarbonetos gasosos, H2, CO e N2 e suas composições são fornecidas usualmente na base molar (Tabela 1). Para avaliações termodinâmicas, esses compostos podem ser considerados como gases perfeitos na temperatura e pressão ambientes. Tabela 1: Composição molar (%) de alguns combustíveis gasosos Fonte: PINHO (2014) O gás de alto-forno é produzido em um alto-forno a partir da passagem do ar por camadas de minério de ferro e coque. O aquecimento do carvão, para obtenção de coque, libera produtos voláteis que resultam no gás de coque. O gasogênio é resultado da queima parcial do carvão, com limitação de oxigênio, produzindo CO e CO2. O gás de água é resultado da injeção de vapor d’água em um leito de carvão ou coque quente, decompondo-se em H2 e O2 e recombinando-se com o carbono para formação de CO. Os principais componentes do gás natural são o metano e o etano e sua composição varia de acordo com a jazida. Já os gases liquefeitos de petróleo (GLP) são constituídos principalmente de butano e propano, compostos que se liquefazem a pressões levemente superiores à atmosférica, podendo ser mantidos liquefeitos a temperatura ambiente. COMBUSTÍVEIS LÍQUIDOS Tendo em vista que a combustão se dá prioritariamente na fase gasosa, os combustíveis líquidos necessitam ser queimados em pequenas gotas para que se obtenha uma combustão completa. São classificados como líquidos inflamáveis aqueles que possuem ponto de fulgor abaixo de 70°C. Já os líquidos combustíveis apresentam ponto de fulgor acima deste valor. Conforme descrito por Pinho (2014), A maioria dos combustíveis líquidos são hidrocarbonetos com temperatura de ebulição acima da ambiente (na pressão atmosférica) devido ao maior peso molecular, quando comparados aos gasosos (Tabela 2). Grande parte dos hidrocarbonetos líquidos (Tabela 3) apresenta uma composição mássica aproximadamente igual, entre 85% e 87% de C e 11% a 15% de H2, em massa. O enxofre é um elemento contaminante que gera compostos indesejáveis na sua queima. (PINHO, 2014). Tabela 2: Temperatura de ebulição de alguns hidrocarbonetos Fonte: PINHO (2014). Tabela 3: Composição mássica (%) de combustíveis líquidos derivados do petróleo Fonte: PINHO (2014). COMBUSTÍVEIS SÓLIDOS O estado sólido dificulta a queima deste tipo de combustível, o que leva a uma considerável quantidade de geração de resíduo sólido constituído de cinzas e carbono não queimado. Uma forma de aumentar a eficiência da combustão desses compostos é reduzir o tamanho de suas partículas. O combustível sólido não pode ser considerado uma substância pura no seu estado natural, pois não possui uma composição uniforme. Desta forma, sua composição é fornecida por elemento químico através de uma análise elementar, a qual pode ser realizada de três maneiras diferentes: i. conforme sua composição natural; ii. sem umidade; iii. sem umidade e sem cinzas (somente a matéria combustível). Esta análise é necessária para a realizaçãode cálculos referentes à reação de combustão (Tabela 4). Tabela 4: Composição mássica (%) de combustíveis sólidos Fonte: Pinho (2014). Um exemplo de combustível sólido bastante utilizado é o carvão (Figura 2), o qual é constituído de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre, água e cinzas. “O coque, por sua vez, é resíduo sólido da destilação de certos tipos de carvão, sendo constituído pelo carbono fixo remanescente após a liberação dos compostos voláteis” (Pinho, 2014). A madeira (Figura 2) é a biomassa de maior aplicabilidade industrial, principalmente em indústrias que a utilizam como matéria prima. O tamanho das partículas pode ser adequado de acordo com o projeto dos queimadores e para a otimização do controle de queima. Figura 2: Pellets de madeira (à esquerda) e carvão (à direita) utilizados como combustíveis sólidos TEMA 2 - COMBUSTÃO Para a avaliação de um processo de combustão, é necessário ter conhecimento da equação química referente a este processo. Esta equação indica os reagentes e os produtos da reação. Como a massa de cada elemento químico permanece constante, é possível levantar a quantidade envolvida dos reagentes e dos produtos formados. Como exemplo, vamos observar a equação de combustão completa do metano: Os reagentes são representados no lado esquerdo da equação enquanto os produtos aparecem no lado direito. Cada molécula está multiplicada por um número que se refere ao número de mols necessários para a reação. A maior parte dos combustíveis é constituída por hidrocarbonetos. Por envolverem muitos compostos diferentes, a sua combustão completa é representada por uma expressão geral, considerando um hidrocarboneto genérico CxHy. A composição deste hidrocarboneto pode ser obtida pela análise elementar. A combustão é considerada completa quando todo o combustível é queimado, gerando CO2 e água. Se for observado o aparecimento de CO, C e moléculas de combustível nos produtos da combustão, tem-se uma combustão incompleta. Normalmente, o comburente é o oxigênio do ar. EXCESSO DE AR A quantidade mínima de ar necessária para uma combustão completa é chamada de ar teórico, quando se tem, então, uma mistura estequiométrica de ar e combustível. Na prática, muito dificilmente consegue-se uma combustão completa adicionando somente a quantidade de ar teórico, uma vez que o tempo de residência dos reagentes não é suficiente para atender à cinética da reação. Essa condição é atingida somente com gases em condições específicas. Por isso, o controle de um processo de combustão envolve a avaliação do ar adicionado em excesso para garantir a queima completa. Se adicionado ar em menor quantidade, CO é gerado nos produtos e menor quantidade de energia é fornecida. Se o excesso for em demasia, parte da energia gerada é gasta no aquecimento do N2 adicionado com o ar, reduzindo a eficiência do equipamento. Dessa relação entre ar e combustível, surge o conceito de riqueza da mistura (r). Considera-se uma mistura rica aquela com excesso de combustível, e portanto com falta de ar para a combustão completa. Em contrapartida, o excesso de ar resulta em uma mistura pobre. Essa classificação é realizada baseando- se na razão entre a quantidade de oxigênio estequiométrico (O2 esteq) e a quantidade real de oxigênio (O2 real) utilizada na queima, conforme demonstrado a seguir. r = 1 mistura estequiométrica, combustão neutra r < 1 excesso de ar (mistura pobre), combustão oxidante r > 1 excesso de combustível (mistura rica), combustão redutora Este parâmetro é bastante utilizado para os motores alternativos de combustão interna, pois podem trabalhar em todas as condições, com r entre 0,9 e 1,2. A potência máxima de um motor de ignição por faísca ocorre da faixa de 1,05 ≤ r ≤ 1,1, ou seja, com mistura rica em combustível. Em contrapartida, equipamentos como fornalhas de caldeiras, turbinas de gás ou fornos industriais trabalham, predominantemente, com misturas pobres, e o excesso de ar (e) é definido como: Como exemplo, um motor de ignição por compressão, como o a diesel, trabalha com 0,4 ≤ r ≤ 0,5 enquanto que um turbo reator opera com 0,2 ≤ r ≤ 0,25, resultando em um excesso de ar de mais de 300%. Além do tipo de equipamento empregado, o excesso de ar depende também do combustível queimado. Este excesso é maior para os sólidos e menor para os gases, pois quanto mais difícil for a queima, maior a quantidade de ar necessária para completar a combustão. A Tabela 5 mostra o excesso de ar aplicado nos principais combustíveis utilizados em fornos e caldeiras. Tabela 5: Excesso de ar para alguns combustíveis Fonte: Pinho (2014). PRODUTOS DA COMBUSTÃO Na prática, o ajuste do excesso de ar é baseado nos produtos de combustão formados. A combustão completa de um hidrocarboneto com O2 libera CO2 e água. Porém, uma vez que a fonte de oxigênio é o ar atmosférico e os combustíveis possuem contaminantes, outros compostos podem ser encontrados nos gases de combustão. A composição desses gases pode ser obtida considerando ou não o vapor d‘água gerado. A composição em base úmida considera a água como componente, enquanto que a base seca desconsidera a presença de água nos gases. Um aparelho bastante difundido para a análise da composição em base seca dos gases é o aparelho de Orsat (Figura 3). Ele determina a composição e o peso molecular dos componentes através por processos de absorção e oxidação seletivos. É geralmente aplicado para avaliação de dióxido de carbono, oxigênio e monóxido de carbono. Figura 3: Aparelho de Orsat Fonte: <http://www.quimis.com.br/produtos/detalhes/aparelho-de-orsat> Substâncias como CO, C e resíduos de combustível nos gases de combustão demonstram que a combustão é incompleta e que mais O2 deve ser acrescentado. Uma indicação imediata de combustão incompleta é a coloração escurecida dos gases de combustão. Este parâmetro é observado facilmente durante o dia, porém tem pouca eficácia no controle de queima durante a noite. Para os equipamentos industriais que necessitam de um controle mais preciso, costuma-se medir a concentração de O2 e CO na saída dos gases de combustão. Com estes dois parâmetros, busca-se o menor excesso de O2 necessário para minimizar a produção de CO. Nem sempre é possível zerar a sua geração e por isso se estabelece uma concentração máxima admissível. Os medidores de CO costumam demonstrar a perda de controle na combustão antes mesmo de a coloração dos gases se modificar, demonstrando boa eficiência. A presença de contaminantes no combustível pode afetar a qualidade do ar e a eficiência dos equipamentos, assim como danificar suas estruturas. O enxofre libera, na sua queima, predominantemente SO2, que é um contaminante atmosférico, além de ser um agente corrosivo quando combinado com a água. O nitrogênio contido no combustível, juntamente com parte do atmosférico (em temperaturas elevadas), é convertido a NO e NO2, também prejudicial ao ar atmosférico. As cinzas tanto poluem o ar, quanto se depositam nas superfícies de troca térmica, reduzindo a sua eficiência. TEMA 3 - EQUIPAMENTOS, CARACTERÍSTICAS E TIPOS Basicamente, os equipamentos operados a combustão mais utilizados são: Turbinas a gás Motores de combustão interna Fornos Geradores de vapor (caldeiras) Nós estaremos abordando os dois primeiros equipamentos mais profundamente nas duas próximas aulas, portanto não serão abordados neste momento. Os fornos e as caldeiras possuem princípios de funcionamento muito semelhantes em relação ao processo de combustão, de forma que este tema será tratado em conjunto para esses equipamentos. FORNOS Os fornos são aplicados quando se necessita conservar calor em altas temperaturas com o objetivo de fornecer energia necessária à desumidificação, aquecimento e à realização de algumas reações. Em casa, quando assamos um bolo em um forno doméstico, o fermento químico se decompõe gerando CO2, produto responsável por fazer o bolocrescer. Minérios são transformados em metais com o auxílio de altos-fornos. Alimentos secos e desidratados são obtidos pela manutenção da temperatura acima do ponto de ebulição da água, assim como na secagem de produtos de barro, como tijolos e telhas. Uma aplicação bastante particular dos fornos industriais é a troca térmica, quando a energia necessária para aquecimento dos produtos é muito elevada para ser fornecida por fluidos auxiliares. É o caso do aquecimento do petróleo antes da sua destilação. Devido à elevada vazão de petróleo, a carga térmica é fornecida pela reação de combustão, aquecendo por radiação e convecção os tubos instalados no equipamento, por onde passa o petróleo. Na indústria metalúrgica, são empregados: i) fornos de arco, onde a corrente elétrica induzida entre dois eletrodos produz calor, ii) fornos de indução, que aproveita o calor gerado por fortes campos eletromagnético, e iii) fornos de cúpula ou câmara externa, que transferem o calor por radiação. Estes fornos se dividem em três categorias: contato direto entre o material tratado e o combustível, contato indireto entre eles e contato direto entre gases de combustão e a carga. Do tipo contato direto, a combustão do carvão no alto-forno libera energia para desidratar e aquecer o minério e derreter o ferro gusa. O excesso de calor é absorvido por água circulante e pelo ar de entrada. Figura 4: Alto-forno utilizado na indústria metalúrgica Na indústria alimentícia são utilizados tanto fornos mais simples, como os aquecidos a lenha, quanto fornos mais complexos, automatizados. Entre os fornos domésticos, os mais comuns possuem queimadores de gás. Os fornos elétricos também são utilizados quando se necessita aquecimento rápido de alimentos, assim como os fornos micro-ondas, que utilizam ondas eletromagnéticas para geração de calor. Quando se deseja proteger o material da ação dos gases da combustão, como em processos de recozimento ou esmaltação, são utilizadas muflas. Neste tipo de forno, os gases quentes circulam pela parte externa da câmara onde o material está localizado, não entrando em contato com ele. GERADORES DE VAPOR (CALDEIRAS) A utilização do vapor veio da revolução industrial para movimentação de máquinas e turbinas na geração de energia e em locomotivas, estendendo-se para outros processos, como cozimentos, higienização e fabricação de alimentos, produção de papel e celulose, entre outros. As caldeiras são equipamentos destinados a gerar vapor d’água através do calor liberado pela queima do combustível. A carga térmica fornecida deve ser suficiente para o aquecimento sensível da água, até a temperatura de ebulição, mais o calor latente para sua vaporização. Em muitos casos, produz- se também vapor superaquecido pelo aquecimento sensível do vapor gerado. A troca térmica ocorre por contato indireto com a água através de chapas e tubos. As caldeiras são classificadas em flamotubulares ou aquatubulares de acordo com seu projeto e operação. Nas flamotubulares (Figura 6), os gases quentes passam por dentro de tubos banhados externamente pela água a ser aquecida e evaporada. Os tubos são montados como um trocador de calor, com um ou mais passes. Como vantagem, atendem demandas variáveis de vapor, são de construção fácil e não necessitam de tratamento apurado de água. Em contrapartida, ocupam muito espaço, possuem deficiência na circulação de água deficiente, trabalham somente com pressões moderadas (≤ 15 atm) e apresentam partida lenta devido à grande massa de água. Assim, as caldeiras flamotubulares são aplicadas para baixas vazões de vapor e baixas pressões. Figura 5: Caldeira flamotubular As caldeiras aquatubulares (Figura 6) são as mais utilizadas, tendo maior flexibilidade tanto em relação à quantidade de vapor produzido, quando na pressão de operação. Neste tipo de caldeira, a água circula por dentro dos tubos e o gás de combustão por fora. A circulação da água pode ocorrer por convocação natural, como consequência da variação de densidade entre a água líquida e o vapor, ou convecção forçada, com a utilização de uma bomba. Essas caldeiras suportam altas pressões, apresentam grande área de troca de calor, realizam partida mais rápida e possuem maior capacidade de geração de vapor, assim como boa circulação de água. Seu custo é mais elevado, tanto operacional, quanto de instalação. A água necessita ser tratada para remoção de íons que possam causar depósitos e corrosão, suas paredes devem ser revestidas de material refratário, não operam em condições de demandas variáveis de vapor e exigem controle automático da queima. São usadas em plantas industriais de maior porte e na obtenção de vapor superaquecido. Figura 6: Caldeira aquatubular compacta Fonte: <http://www.cbcsa.com.br/caldeirascom.asp> Por trabalharem com pressões acima da atmosférica, as caldeiras devem obedecer a NR 13, a qual “estabelece requisitos mínimos para gestão da integridade estrutural de caldeiras a vapor, vasos de pressão e suas tubulações de interligação nos aspectos relacionados à instalação, inspeção, operação e manutenção, visando à segurança e à saúde dos trabalhadores”. Antes de dar continuidade ao estudo desta aula, assista aos vídeos abaixo para melhor compreensão destes equipamentos. Caldeira flamotubular: <https://www.youtube.com/watch?v=QYNtA5i6Lpk> <https://www.youtube.com/watch?v=DcMqQfcUp1Y> Caldeira aquatubular: <https://www.youtube.com/watch?v=kTQQ6yHRlJw> <https://www.youtube.com/watch?v=bc8p5srEhAY> TEMA 4 - PRINCIPAIS COMPONENTES FORNO As partes que compõem um forno são: Abóbada: localizada na parte superior do forno, garante a manutenção das temperaturas e a tiragem dos gases. Construída de material refratário, não pode apresentar frestas que atuam como fontes de perda de calor. Pode ser do tipo abóbada em arco ou abóbada plana suspensa. Paredes laterais: dão suporte à abóboda e apresentam boa resistência mecânica; Queimadores: são dispositivos usados para a queima de combustíveis líquidos e gasosos, tendo como função promover boa mistura entre o combustível e o comburente; pulverizar esta mistura e direcioná-la para a câmara de combustão e manter a queima de forma contínua e eficiente. Os tipos existentes são também aplicados às caldeiras e serão descritos mais adiante. Podem também ser aplicados aos combustíveis sólidos quando pulverizados. Pré-aquecedor: nele, o ar para a queima é aquecido pelo gás de combustão que está sendo encaminhado à chaminé; Câmara de combustão: é a região onde ocorre a queima do combustível. https://www.youtube.com/watch?v=QYNtA5i6Lpk https://www.youtube.com/watch?v=QYNtA5i6Lpk https://www.youtube.com/watch?v=QYNtA5i6Lpk https://www.youtube.com/watch?v=DcMqQfcUp1Y https://www.youtube.com/watch?v=DcMqQfcUp1Y https://www.youtube.com/watch?v=DcMqQfcUp1Y https://www.youtube.com/watch?v=kTQQ6yHRlJw https://www.youtube.com/watch?v=kTQQ6yHRlJw https://www.youtube.com/watch?v=kTQQ6yHRlJw https://www.youtube.com/watch?v=bc8p5srEhAY https://www.youtube.com/watch?v=bc8p5srEhAY https://www.youtube.com/watch?v=bc8p5srEhAY Chaminé: ajuda na tiragem dos gases de combustão, podendo ser construída em alvenaria ou chapas de aço. Esta tiragem pode ser: Natural: os gases de combustão escoam naturalmente devido à diferença de pressão gerada pela variação de densidade entre os gases quentes e ar frio na entrada do forno. Forçada: ventiladores fornecem o ar para a fornalha, sendo localizados nos dutos de ar para a queima. Induzida – os gases da combustão são sugados por um exaustor, sendo instalado nos dutos de saída dos gases. CALDEIRAS As caldeiras são compostas por mais componentes se comparadas aos fornos, uma vez que possuem, além da parte de combustão, componentes referentes à geração de vapor. Esses componentes se diferenciam entre as caldeiras flamotubulares (Figura 7) e as aquatubulares (Figura 8). Iremos detalhar os componentes da caldeira aquatubular por esta ser a mais aplicada industrialmente.Figura 7: Componentes de uma caldeira flamotubular Fonte: ELETROBRAS (2005). Figura 8: Componentes de uma caldeira aquatubular Fonte: ELETROBRAS (2005). Assim como nos fornos, a queima do combustível é realizada na câmara de combustão (fornalha). Nessa região, são produzidos os gases de combustão que fornecem calor à água localizada nos tubos. Estes tubos permitem a circulação de vapor e água dentro da caldeira para a troca térmica. Na seção de radiação, são instalados de forma a delimitarem as paredes da fornalha, compondo o que se denomina de parede de água. Já na seção de convecção, por onde os gases de combustão passam ao saírem da fornalha, os tubos são reunidos em feixes. A água é inicialmente admitida no tubulão (tambor) superior, um vaso de pressão horizontal que fica localizado no topo da caldeira. Esse vaso também recebe o vapor saturado gerado, de forma que a água e o vapor encontram-se em equilíbrio termodinâmico. Dele, o vapor saturado é encaminhado para superaquecimento. O tubulão é provido de eliminadores de gotas, visando evitar o arraste de gotículas de líquido junto ao vapor. A caldeira pode possuir também um tubulão inferior, em menores dimensões, com o principal objetivo de realizar a purga (retirada) da água concentrada em particulados. O superaquecimento de vapor ocorre em serpentinas chamadas de superaquecedores, as quais podem estar localizadas nas zonas de radiação ou de convecção, de acordo com o grau de superaquecimento que se deseja. Após a geração do vapor, a energia contida nos gases residuais da combustão é aproveitada para aquecer o ar de combustão nos pré-aquecedores e a água nos economizadores. Os queimadores são semelhantes aos dos fornos, e os tipos existentes se diferem em função do combustível a ser utilizado. Para gases são encontrados os queimadores de chama de difusão, com pré- mistura, com bicos de mistura (ou de mistura direta) e por radiação. Para combustíveis líquidos são utilizados queimadores pulverizadores, a jato de pressão, pulverizadores com 2 fluidos e com copo rotativo. Já para combustíveis sólidos, os tipos básicos englobam os queimadores de combustível pulverizado, os de leito fixo (grelhas) e os de leito fluidizado. Você pode aprofundar seu conhecimento nos tipos de queimadores consultando a bibliografia referenciada nesta aula. Devido à possibilidade de queimarem sólidos e líquidos viscosos, as caldeiras são providas de sopradores de fuligem que sopram vapor dentro da caldeira reduzindo a quantidade de cinzas depositadas nos tubos. Esta operação é necessária para manter o rendimento da caldeira durante o período programado entre paradas para limpeza, e ocorre de forma intermitente. Combustíveis sólidos geram grande quantidade de cinzas que são acumuladas no fundo da fornalha, em cinzeiros. É comum a admissão do ar para combustão com o auxílio de ventiladores que mantêm pressão positiva no interior da câmara de combustão. Dessa forma, tem-se uma tiragem forçada dos compostos gasosos e direção à chaminé. Outra opção é a instalação de exaustores nos dutos de saída dos gases, resultando em pressão negativa na câmara de combustão. Esta condição é conhecida como tiragem induzida. Na chaminé, os gases são eliminados na atmosfera em altura suficiente para promover a sua dispersão. As caldeiras possuem válvulas de segurança (PSV – Pressure Safety Valve) instaladas no tubulão com o objetivo de eliminar o vapor caso a pressão da caldeira ultrapasse a pressão máxima de trabalho admitida (PMTA). TEMA 5 - RENDIMENTO TÉRMICO A eficiência térmica de um equipamento a combustão mede a habilidade deste em transferir a energia do processo de combustão para o produto final na forma de calor e/ou trabalho. No caso de uma caldeira, o levantamento da sua eficiência avalia o aproveitamento do poder calorífico do combustível no vapor produzido, considerando, entre outras coisas, as perdas por radiação e por convecção pelo casco e outros componentes externos. Dois métodos são utilizados para avaliar a eficiência de uma caldeira, os quais também podem ser aplicados aos fornos por analogia: 1) Método direto (entrada-saída): é baseado no levantamento das energias totais de entrada e de saída, como as entalpias da água de entrada, do ar para combustão e dos vapores de saída, além do poder calorífico superior do combustível. A eficiência (η) é calculada dividindo-se a energia total que sai da cadeira pela energia total que entra, multiplicando o resultado por 100. Onde: mv = vazão de vapor (kg/s) mc = vazão de combustível (kg/s) h1 = entalpia específica da água de entrada (kJ/kg) h2 = entalpia específica do vapor (kJ/kg) PCS = poder calorífico superior do combustível (kJ/kg) Ee = consumo de energia elétrica (kJ/s) Eh = consumo de energia de outras fontes (kJ/s) As entalpias são calculadas após medição das vazões, das temperaturas e das pressões dos fluidos envolvidos. O poder calorífico do combustível é normalmente obtido em análises realizadas por laboratórios terceiros. 2) Método indireto (perdas de calor): este método pressupõe que a eficiência inicial do equipamento é de 100% e que esta é reduzida devido a perdas, a saber: a. Perda de energia com o descarte de gases quentes pela chaminé. b. Perdas por radiação e convecção para o ambiente através do invólucro da caldeira e do isolamento térmico. c. Perda por radiação direta da fornalha quando é necessário abri-la constantemente para adição de combustível sólido. d. Perdas por combustão incompleta ou combustível não queimado. e. Perdas por calor sensível nas cinzas descartadas. f. Perdas por energia gasta na vaporização da água contida no combustível. g. Perda por descarte de água quente (purga) para desconcentração de praticados e sais. h. Perda por operação intermitente (durante o processo de partida e parada há um gasto energético sem produção de vapor especificado). É preciso avaliar a disponibilidade e a confiabilidade das medições das variáveis de controle antes de optar entre um e outro método. Enquanto o primeiro aparenta ser mais exato, o segundo oferece a oportunidade de avaliação dos pontos de maior perda de energia. TROCANDO IDEIAS Agora com a conclusão desta aula, está na hora de conversarmos um pouco mais sobre os processos que envolvem combustão. NA PRÁTICA Cálculo do excesso de ar para combustão O ajuste do ar para combustão é de fundamental importância na operação de processos que operam absorvendo a energia da queima de combustíveis. Para isso, é preciso conhecer as reações de combustão e calcular a quantidade de O2 estequiométrico para então ajustar o excesso de ar conforme o combustível utilizado. Como exemplo, vamos avaliar a queima do metano (CH4) com o oxigênio (O2). A equação balanceada que representa esta reação é: Os produtos gerados são gás carbônico e vapor d’água. Observe que são necessários 2 mols de O2 para reação estequiométrica com 1 mol de metano. Utilizaremos esta base molar para os cálculos. Um mol de metano possui 16 g, enquanto que 2 mols de O2 possuem 64 g. Portanto, para a queima estequiométrica de 1 mol de metano, são necessários 64 gramas de O2. Como este oxigênio é normalmente adicionado na forma de ar atmosférico, é conveniente saber qual a massa de ar necessária para esta reação. O ar atmosférico possui aproximadamente 23% de O2 em massa. Com uma regra de três simples verificamos que a quantidade de ar necessária para fornecer 64 g de O2 é de 278 g. Uma vez que o metano é um hidrocarboneto gasoso do mais simples, podemos considerar um o excesso de ar de 5% para garantir a sua combustão completa. Isso significa que na queima serão adicionados 100% da massa de O2 estequiométrico mais 5% de excesso, totalizando 67,2g de O2. Para alguns equipamentos, o conhecimento do valor da riqueza de mistura se faz importante. Para nosso caso, temos: Um valor de riqueza de mistura inferior a 1 demonstra que temos uma combustão oxidante. SÍNTESE Com a conclusão desta rota,você já é capaz de identificar os principais combustíveis utilizados industrialmente e os impactos dos ajustes da combustão na eficiência dos equipamentos. Você também consegue identificar os vilões de redução do rendimento de uma caldeira e em equipamento similares, podendo atuar para eliminá-los. REFERÊNCIAS Eficiência Energética no Uso de Vapor. Rio de Janeiro: Eletrobrás, 2005. Disponível em <http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_18/2014/04/22/6281/LivroVapor.pdf>. Acesso em 14 jan 2017. PERA, H. Geradores de Vapor de Água. 2ª ed. São Paulo: Ed. Fama, 1990. PINHO, C. M. C. T. Sistemas térmicos. São Paulo: FEUP, 2014. SAMPAIO, R. Apostila de fornos de processo. Disponível em <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA0lIAH/apostila-fornos-processo>. Acesso em 14 jan 2017. BAZZO, E. Geração de vapor. 2ª ed. Florianópolis: Editora UFSC, 1995.
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