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Produção do espaço, planejamento e políticas públicas Apresentação A ação de planejamento das cidades é considerada uma atividade tão complexa que influencia e depende de vários aspectos. Assim como o planejamento está relacionado à produção do espaço urbano, podendo promovê-lo, incentivá-lo ou controlá-lo, ele só se efetiva por meio das políticas públicas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre o funcionamento e o surgimento dos espaços urbanos, relacionando o planejamento a esse fenômeno das cidades. Além disso, vai poder assimilar a influência das políticas públicas no processo de planejamento das cidades. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer como ocorre a produção do espaço urbano.• Relacionar o planejamento e a produção do espaço.• Evidenciar o impacto das políticas públicas no processo de planejamento urbano.• Desafio Quando se pensa em planejar as cidades, é sempre preciso estabelecer objetivos, metas e ações que estão em um documento chamado de políticas públicas. Essas políticas servem de embasamento para a resolução de questões urbanas, tendo em vista o melhoramento das cidades. Imagine uma área de uma cidade que tem um grande potencial turístico. Dentro dessa área existe um parque abandonado com vastos recursos ambientais, como árvores de grande porte e uma cachoeira. Porém, essa área é pouco frequentada, pois fica a 5 km da cidade, não tem segurança nem mobiliário adequado e seu acesso é por estrada de chão. Considerando que essa porção da cidade, se valorizada, representa um diferencial para o município e você, urbanista, deve elaborar uma política pública para revitalizar essa porção do território, proponha ações para os três aspectos a seguir, explicando o motivo para cada proposição. - Segurança. - Acesso. - Mobiliário. Infográfico A produção do espaço urbano se dá por diversos agentes. Alguns deles produzem o espaço urbano por meio de ações voluntárias, como o Estado, ou por seus interesses, como os proprietários e promotores imobiliários. Já os grupos sociais excluídos produzem o espaço urbano numa ação não organizada, pois para eles qualquer pedaço de terra já é o suficiente para se estabelecer. Confira o Infográfico. Conteúdo do livro A produção do espaço urbano é uma ação que pode ser voluntária ou involuntária, pensada estrategicamente ou não, que pode ocorrer a partir de um planejamento ou simplesmente a partir da ação de grupos da sociedade. Nesse sentido, é muito importante que as políticas públicas governamentais deem suporte para que o planejamento possa cumprir sua função de organizar o território e prever a produção do espaço urbano de forma consciente e equilibrada. Na obra Planejamento Urbano, leia o capítulo Produção do espaço, planejamento e políticas públicas, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. PLANEJAMENTO URBANO Vanessa Scopel Produção do espaço, planejamento e políticas públicas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer como ocorre a produção do espaço urbano. � Relacionar o planejamento à produção do espaço. � Evidenciar o impacto das políticas públicas no processo de planeja- mento urbano. Introdução A ação de planejamento das cidades é considerada uma atividade tão complexa que influencia e depende de vários aspectos. Assim como o planejamento está relacionado à produção do espaço urbano, podendo promovê-lo, incentivá-lo ou controlá-lo, ele só se efetiva por meio das políticas públicas. Neste capítulo, você estudará sobre o funcionamento e o surgimento dos espaços urbanos, relacionando o planejamento a este fenômeno das cidades. Além disso, poderá assimilar a influência das políticas públicas no processo de planejamento das cidades. A produção do espaço urbano Quando se fala em produção do espaço, é preciso pensar em como os locais surgem nas sociedades e por meio do que. Alguns autores importantes discor- rem sobre a produção do espaço urbano em seus livros, explicando um pouco U N I D A D E 2 sobre como esse fenômeno ocorre. Henri Lefrebvre, David Harvey e Karl Marx defendem a ideia de que o espaço é produzido a partir das relações sociais. Para Carlos (1994), esse fenômeno tem a ver com questões que vão além da necessidade das pessoas, envolvendo, também, relações de capital, de modo que a produção do espaço urbano é “[...] produto de contradições emergentes do conflito entre as necessidades da reprodução do capital e as necessidades da sociedade como um todo [...]” (CARLOS, 1994, p. 14). Santos (2008, p. 63) considera a produção do espaço como algo “[...] formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá [...]”. Segundo o autor, os espaços estão sempre interagindo com as pessoas, condicionando ações, adquirindo funcionalidade. Dessa maneira, Santos (2008) vê o espaço produzido como uma totalidade que está sempre em constante movimento: “É o espaço que, afinal, permite a sociedade global realizar-se como fenômeno” (SANTOS, 2008, p. 119). Sendo assim, é importante pensar sobre a produção do espaço urbano levando em consideração aspectos como as relações de poder nas comunida- des, as relações de troca e as apropriações e os domínios dos espaços. Esses espaços produzidos pelas relações da sociedade são a expressão dos povos, mas também têm grande influência sobre a reprodução da sociedade. Para Lefebvre (2008, p. 26), o espaço como produto de uma sociedade é “[...] um modo e um instrumento, um meio e uma mediação. [...] O espaço é um instrumento político intencionalmente manipulado, mesmo se a intenção se dissimula sob as aparências coerentes da figura espacial [...]” . Isso quer dizer que quando analisamos um espaço que é produto das ações de pessoas sobre uma determinada área, podemos tirar dessa análise conclusões sobre como as pessoas se sentem em relação àquela porção da cidade. Soja (1993, p. 38) acrescenta, ainda, que: O espaço social e político tornou-se cada vez mais reconhecido como uma força material (e não material, isto é, ideológico) influente, ordenando e re- ordenando as próprias relações sociais produtivas. Longe de ser um reflexo passivo, incidental, um “espelho”, a espacialidade tornou-se ativa como uma estrutura concreta e repositório de contradições e conflitos, um campo de luta e estratégia política. As relações sociais e espaciais, a divisão social e espacial do trabalho, a práxis social e espacial estão, deste modo, interativamente engajadas e concatenadas, ao invés de reduzidas a simples gênese-reflexo, causa inicial e efeito subsequente. Produção do espaço, planejamento e políticas públicas2 Thrift (2007) destaca que a produção dos espaços urbanos é contínua e acontece através da ordenação das coisas, a partir das necessidades das pessoas. Segundo o autor, o espaço é “[...] visto como um receptáculo no qual o mundo avança, mas também como coproduto dos processos, ressaltando a importância de se entender o espaço como construção da sociedade e que, consequentemente, tem influência sobre esta [...]” (THRIFT, 2007, p. 96). Lefebvre (2008) ressalta, também, que o espaço urbano tem um papel ativo e passivo com relação à reprodução da sociedade. Pode ser considerado passivo porque está em segundo plano, tendo em vista as relações sociais que ocorrem nestes espaços; por outro lado, também pode ser considerado um local ativo, pois exerce forte papel no cotidiano da sociedade. A produção do espaço, portanto, engloba a materialidade, a subjetividade, o real e o imaginado, os objetos e as ações, sempre vistos de forma interligada; é esse o espaço que nos serve aqui, o espaço do movimento das sociedades. Sendo assim, a cidade pode ser considerada uma produção permanente das sociedades,que materializa, nas paisagens, diferentes períodos e fases de relações sociais. Em resumo, quando se fala em produção do espaço, considera-se as influências das ações das pessoas sobre as áreas urbanas. Por exemplo, a ocupação de áreas para habitação resulta em espaços que podem ser bons locais para viver, mas também podem se tornar um problema para as cidades por estarem localizados em áreas insalubres e perigosas. Outro exemplo comum é quando vendedores de artesanato se estabelecem em praças ou vias das cidades, transformando esses locais em espaços de troca e comer- cialização. Nas nossas cidades, temos diversos exemplos da produção do espaço urbano que podem ter como agentes não somente a sociedade, mas o Estado, entidades, entre outros. O termo Placemaking está relacionado à valorização de áreas públicas surgidas a partir do uso e da apropriação das pessoas. Ou seja, quando grupos sociais se estabelecem em determinadas áreas, produzindo espaços urbanos, promovendo, nesse sentido, o encontro e a interação entre as pessoas, esses espaços, a partir da prática do Place- making, podem ser valorizados. Entenda um pouco mais sobre o que é Placemaking lendo o texto “O que é placemarking?” (PLACEMAKING BRASIL, 2017). 3Produção do espaço, planejamento e políticas públicas Planejamento e produção do espaço O processo de produção do espaço urbano é fragmentado, articulado de acordo com as necessidades, não sendo homogêneo. Da mesma forma, a produção do espaço urbano é desigual, pois reflete as ações de cada grupo social em detrimento de uma área: “Cada sociedade produz e reproduz sua existência de modo determinado, deixando no espaço as marcas de suas características históricas específicas [...]” (CARLOS, 1994, p. 26). Considerando essa influência da sociedade na produção dos espaços ur- banos, esses locais tornam-se áreas de “batalhas”, que se constituem pelos diferentes agentes do espaço na briga pelo solo urbano. Nesse sentido, segundo Carlos (1994, p. 291), “[...] estabelece-se, portanto, um conflito entre o espaço abstrato, concebido pelos interesses e necessidades do capital, e o espaço vivido, fragmentado pelas estratégias dos diferentes atores sociais, percebido pelo indivíduo através de sua vida cotidiana [...]”. A produção do espaço se dá no plano da vida cotidiana e se determina entre os diferentes agentes responsáveis pela reprodução deste espaço urbano. Nesse sentido, existem diversos atores sociais responsáveis pela reprodução do espaço urbano, cada um atuando de acordo com seus interesses de classe. “Os agentes responsáveis pela produção do espaço urbano, de forma geral, são os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários e usuários de moradia, os promotores imobiliários, o Estado e as instituições governamentais, e os grupos sociais excluídos” (HARVEY, 1980, p. 139). Na contemporaneidade, a produção do espaço urbano se caracteriza por ações, relações e processos. Para Piccinato Junior (2014, p. 249), [...] os agentes sociais, que podem ser entendidos como aqueles que são vistos como indivíduos, como as empresas, as parcerias público-privadas, as orga- nizações sociais, culturais e econômicas, etc., agem diretamente na definição do que é espaço, entretanto, há várias formas de entender o espaço em razão das diversas escalas de lugares que são (re)estruturados. Para fundamentar a reflexão acerca dos caminhos possíveis de serem traçados para construir uma ideia de produção do espaço urbano, quanto mais complexas as divi- sões do trabalho, maior a diversificação e complexificação dos agentes e de suas ações. Em outras palavras, tomando a perspectiva do lugar e de seus habitantes, a espacialidade se constrói a partir de articulações financeiras e socioculturais distantes e estranhas, mas que, de certa maneira, acabam se impondo à consciência daqueles que irão viver sob essa ação. Produção do espaço, planejamento e políticas públicas4 Esses agentes que interferem e produzem o espaço urbano têm estratégias diferenciadas, de acordo com seus respectivos interesses, podendo conflitar entre si ou, em algumas situações, unir-se para agir em busca de um mesmo interesse. Portanto, a apropriação do solo, dos espaços da cidade, das áreas e terras, torna-se um objeto de conflito, disputado por esses agentes. É nesse sentido que o planejamento urbano deve entrar e se impor, a fim de organizar as políticas, analisar situações e viabilizar o que for do interesse de todos ou da grande maioria, afinal, o espaço público é um bem comum da sociedade. É importante destacar que o Estado deve se impor no sentido da ação de planejar, evitando conflitos e benefícios a privilegiados, mas isso não significa que essa tarefa represente uma hierarquia de poder em relação aos demais agentes. O Estado tem papel fundamental na produção dos espaços, pois é ele que decide por quê, quando, como e onde intervir, considerando também a opinião dos cidadãos, sempre levando em conta a distribuição igual dos benefícios e áreas, assim como dos investimentos. Afinal, os espaços urbanos são a garantia da manutenção da vida, do solo como moradia e como fonte de riqueza; eles têm, portanto, um valor importante para as cidades, devendo ser geridos de maneira eficaz e apropriada. Um exemplo de intervenção do Estado na produção do espaço urbano é uma proposta para a cidade de Madri. O espaço anteriormente ocupado pela rodovia M-30, construída na década de 1970, ganhou, em 2011, um novo rosto e uma nova função (Figura 1). A gestão do prefeito Alerto Ruiz–Gallardón resolveu devolver à população o espaço que antes era ocupado apenas por carros, transformando essa via em um parque com 9 km de extensão. A avenida, que antes poluía e separava bairros e pessoas, agora é o ponto de encontro de muitos madrilenhos que redescobriram uma área quase abandonada do centro. Figura 1. Vista aérea da rodovia M-30, em Madri, antes e depois da intervenção. Fonte: Cantanhede (2012). 5Produção do espaço, planejamento e políticas públicas Atualmente, é notório que este espaço se tornou ponto de encontro para a população de Madri, que passou a redescobrir uma área que, anteriormente, estava inacessível, quase abandonada. O Parque Madrid Río, como foi chamado, segue um plano de integração completo, une fisicamente bairros e tem estações de metrô e trem que conectam zonas da periferia ao centro da cidade (Figura 2). Figura 2. Intervenções realizadas em Madri. Fonte: The City Fix Brasil (2017). O que acontece atualmente é que, ainda, às vezes, o planejamento urbano não consegue ser justo e igualitário, refletindo, assim, as diferenças sociais, que, com certeza, não têm a ver apenas com essa atividade, mas contemplam infinitos aspectos que devem ser considerados para a resolução dessa situação. Conforme expõe Harvey (1980, p. 61): A atuação dos incorporadores imobiliários, dos proprietários e do Estado determina a distribuição das benfeitorias (infraestrutura urbana) e das ex- ternalidades de forma diferenciada, o que vai gerar diferentes valores do solo urbano. A atuação desses grupos determina espaços diferenciados, com valores de solo diferenciados, determinando também o direcionamento da população para cada área da cidade. Como esses grupos possuem os recursos necessá- rios e, consequentemente, grande poder de barganha política, são capazes de determinar a disposição final dos recursos e da infraestrutura urbana, o que contribui para reforçar a desigualdade social na cidade. Essa desigualdade fica expressa na paisagem urbana (Figura 3), basta observar diferentes áreas das cidades para entender quais são aquelas áreas Produção do espaço, planejamento e políticas públicas6 privilegiadas e supervalorizadas e quais são os pontos que foram quase es- quecidos pelos investidores e pelos planos das cidades. Conforme Ribeiro (2004, p. 27), “[...] a segregação social expressa na paisagem urbana reflete também a distribuição do poder socialna sociedade [...]”. Isso é resultado das ações dos diferentes agentes junto ao Estado e da capacidade diferenciada de algumas classes na obtenção de recursos e investimentos. Figura 3. Cenário da desigualdade e segregação na paisagem urbana. Fonte: Esquerda Online (2017). Nota-se, com isso, que o planejamento urbano está diretamente relacionado à produção do espaço urbano, de modo que a atividade de planejar tem o poder de induzir, limitar e direcionar investimentos, opções e usos de forma distribuída por todo o território da cidade, de maneira a evitar ao máximo possível as desigualdades sociais, muitas vezes intensificadas pela influência dos agentes nos órgãos públicos e na sociedade em geral. As políticas públicas no processo de planejamento Atualmente, discute-se muito o papel das políticas públicas nos governos locais e como cada vez mais se tornam importantes para o aperfeiçoamento da qualidade de vida. Considera-se política pública uma ação do governo que influencia a vida dos cidadãos, assim como uma diretriz elaborada para enfrentar algum problema de caráter público. A essência das políticas públi- 7Produção do espaço, planejamento e políticas públicas cas é a discussão de ideias e interesses. Segundo Souza (2006, p. 32), “[...] a definição mais conhecida continua sendo a de que decisões e análises sobre política pública implicam, em linhas gerais, responder as questões: quem ganha o quê, por quê e que diferença faz [...]”. Na maioria das vezes, as políticas públicas são elaboradas com o intuito de criar ações para tratar ou resolver alguma situação imperfeita. As políticas públicas são elaboradas por meio de leis, projetos, campanhas, programas, entre outros. Porém, para que se possa implantar uma política pública com qualidade, é necessário organizar todo um esquema de implemen- tação, iniciando pelos objetivos daquela política, até a maneira de implantar, monitorar e controlar sua eficácia. Dessa forma, podem estar voltadas para diversos segmentos da sociedade, mas, em geral, a maioria das políticas públicas abrange aspectos que, de uma maneira ou de outra, dizem respeito ao planejamento urbano e influenciam diretamente o funcionamento das cidades. Portanto, a relação entre a atividade do planejamento urbano está estrita- mente ligada às políticas públicas, de maneira que, para que se possam resolver os problemas das cidades, são necessárias a formulação e a implementação dessas políticas que têm a ver com as alternativas e ações para a resolução das disfunções urbanas. O planejamento urbano não se torna eficaz nem aplicável senão pelo desenvolvimento destes planos, projetos e leis. O grande problema relacionado a essa questão de planejamento e de políticas públicas é que, em nosso país, esse processo é ainda bastante burocrático e requer uma aplicação bastante técnica na formulação de planos e projetos que, muitas vezes, nem saem do papel. Então, por mais que exista a necessidade de resolver um problema e a intenção para se implantar essas políticas, isso esbarra em etapas penosas que empatam a aplicabilidade da proposta. Além disso, os recursos disponíveis são muitas vezes precários, limitando projetos de qualidade. Assim como o planejamento é um processo, a elaboração e a implemen- tação de uma política pública também deve ser. Portanto é preciso haver um diálogo entre essas partes, de maneira que a produção da mesma deve prever e analisar também sua aplicabilidade no contexto. Para Fausto Ancona (2011), A preocupação com o planejamento, principalmente em políticas públicas, já não é de hoje. Desde a década de 70, um grupo de estudiosos já se preocupava com os problemas que a falta de se esquematizar um plano poderia trazer. Escritores norte-americanos, como Jeffrey Pressman e Aaron Wildavisky, em 1973, optaram por desenvolver essa temática, após ficarem impressionados com a falta de informação sobre o assunto. Desde então, muitos autores vêm desenvolvendo esse assunto de forma a melhorar cada vez mais o processo Produção do espaço, planejamento e políticas públicas8 de se planejar com qualidade. Essas obras, em sua grande maioria, propõem identificar as possíveis falhas nos projetos e em suas implementações, pautados em três aspectos: Político-institucional, Econômico e Técnico. Conforme Ancona (2011), em função de o Brasil ser uma democracia recente, constatam-se falhas em suas políticas públicas no que diz respeito ao aspecto político institucional, de maneira que não houve tamanha evolução na Constituição de 1988, o que influencia diretamente as maneiras de fazer política pública no Brasil. Considerando o ponto de vista econômico, [...] notou-se, nos últimos anos, um aumento significativo da receita do governo brasileiro, mas muito desse dinheiro é oriundo de arrecadação de impostos e serve exclusivamente para pagamento da dívida pública e de rombos da previdência, não deixando uma quantia suficiente para se elaborar planos de qualidade ou faltar recursos quando a implementação não é pensada (AN- CONA, 2011). E no que se refere ao viés técnico, porque o nosso país é bastante buro- cratizado, existe uma grande dificuldade na implantação de projetos, o que torna essa ação ainda mais complicada. Embora existam aspectos que dificultem a implementação das políticas públicas, é de extrema importância pensar o planejamento urbano em conso- nância com essas aplicações, pois isso é uma maneira de assegurar, mesmo que aos poucos, uma sociedade mais justa, equilibrada e com qualidade de vida para todos. Conforme Ancona (2011), [...] não se pode ver o planejamento como forma de controle da economia e da sociedade, mas, sim, como colaboração dos diversos atores envolvidos. [...] Deve-se empregar tecnicidade, reconhecendo-se limites para formulação de políticas públicas de qualidade, de maneira justa, ética e responsável, como o próprio autor frisa no texto. É preciso que se pense e que se planeje não só bons projetos, mas como eles serão aplicados e como contribuirão para a sociedade. Portanto, o planejamento urbano está intimamente ligado à produção do espaço urbano, não de maneira a impedi-lo, afinal ele é resultado muitas vezes das ações involuntárias da sociedade, mas de organizá-lo e incentivá-lo de uma forma mais justa e igualitária; no entanto, também está totalmente conectado com as políticas públicas, já que sem elas o planejamento se torna ineficaz, pois não completa seu processo de ação até o fim. É relevante entender que a produção do espaço, o planejamento e as políticas públicas são itens interligados que, se considerados em conjunto na elabora- 9Produção do espaço, planejamento e políticas públicas ção de planos e na resolução de problemas, podem trazer os mais variados benefícios para a população das cidades. Como exemplo de política pública voltada ao planejamento urbano, pode-se citar a Lei nº 12.1587/2012 (Lei da Mobilidade Urbana Sustentável), que pode ser definida como o resultado de um conjunto de políticas de circulação e transporte que tem por objetivo proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano por meio da priorização de modos de transporte não motorizados e coletivos (Figura 4). Figura 4. Exemplo de cidade que privilegia a mobilidade sustentável com corredores de ônibus e ciclovias. Fonte: Haus (2016). 1. Podemos considerar o processo de produção do espaço urbano como uma ação: a) desarticulada. b) heterogênea. c) homogênea. d) desvinculada. e) desassociada. 2. Podemos considerar como atores sociais responsáveis pela reprodução do espaço urbano: a) os comerciantes. b) as instituições educacionais. c) os grupos sociais excluídos. d) as instituições filantrópicas. e) os fazendeiros. Produção do espaço, planejamento e políticas públicas10 3. O que são políticas públicas? a) Ações do governo que influenciam positivamente a vida dos cidadãos. b) Diretrizes elaboradas para enfrentar algum problema de caráter privado. c) Açõesvoltadas para a resolução dos problemas do governo. d) Instrumentos de valorização do patrimônio público. e) Ações voltadas para resolver problemas de segmentos privilegiados da sociedade. 4. A dificuldade de implementação das políticas públicas no Brasil acontece por ele ser considerado um país: a) desorganizado. b) burocrático. c) de terceiro mundo. d) pouco desenvolvido. e) atrasado. 5. Com relação à produção involuntária do espaço urbano, o planejamento urbano deve tomar uma atitude: a) passiva, deixando livre a produção do espaço. b) compreensiva, entendendo os interesses privados dos agentes. c) repreensiva, aplicando multas para aqueles que estiverem envolvidos na produção do espaço. d) autoritária, dando a entender que o Estado, sozinho, é que pode tomar decisões sobre os espaços urbanos. e) impositiva, a fim de organizar as políticas e os espaços. ANCONA, F. A importância do planejamento nas políticas públicas. Observa- tório da Gestão Pública, 18 nov. 2011. Disponível em: <http://www.igepri.org/ observatorio/?p=5117>. Acesso em: 10 dez. 2017. BRASIL. Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana; revoga dispositivos dos Decretos-Leis nos 3.326, de 3 de junho de 1941, e 5.405, de 13 de abril de 1943, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e das Leis nos 5.917, de 10 de setembro de 1973, e 6.261, de 14 de novembro de 1975; e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12587.htm>. Acesso em: 10 dez. 2017. CANTANHEDE, L. Ao invés de enterrar um rio, enterrem as rodovias. [S.l.]: Dose de sus- tentabilidade, 2012. Disponível em: <http://dosedesustentabilidade.blogspot.com. br/2012/10/Parque-Linear-Madrid-Rio.html>. Acesso em: 10 dez. 2017. CARLOS, A. F. A. A cidade. São Paulo: Contexto, 1994. ESQUERDA ONLINE. 2017: Aumenta a desigualdade social no Brasil. [S.l.]: Esquerda Online, 2017. Disponível em: <https://esquerdaonline.com.br/2017/02/19/desigual- dadesocial/>. Acesso em: 10 dez. 2017. 11Produção do espaço, planejamento e políticas públicas HARVEY, D. A justiça social e a cidade. São Paulo: Hucitec, 1980. HAUS. Mobilidade Urbana Sustentável será tema de palestra na sede do CAU. Gazeta do Povo, 23 mar. 2016. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/haus/eventos/ mobilidade-urbana-sustentavel-sera-tema-de-palestra-na-sede-do-conselho-de- -arquitetura/>. Acesso em: 10 dez. 2017. LEFEBVRE, H. Espaço e política. Belo Horizonte: UFMG, 2008. PICCINATO JUNIOR, D. A produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, Recife, v. 16, n. 2, p. 246- 249, nov. 2014. RIBEIRO, L. C. Q. O futuro das metrópoles: desigualdades e governabilidade. Rio de Janeiro: Revan, 2004. SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informa- cional. 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Conteúdo: Dica do professor Na Dica do Professor, você vai entender as relações entre o planejamento, ou a falta dele, na produção dos espaços urbanos e a sua importância para a criação de locais adequados para a população. Assista. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/9a632a53536d4d1471bf62a15b908b0c Exercícios 1) Podemos considerar o processo de produção do espaço urbano como uma ação: A) Desarticulada. B) Heterogênea. C) Homogênea. D) Desvinculada. E) Desassociada. 2) Podemos considerar como atores sociais responsáveis pela reprodução do espaço urbano: A) Os comerciantes. B) As instituições educacionais. C) Os grupos sociais excluídos. D) As instituições filantrópicas. E) Os fazendeiros. 3) O que são políticas públicas? A) Ações do governo que influenciam positivamente a vida dos cidadãos. B) Diretrizes elaboradas para enfrentar algum problema de caráter privado. C) Ações voltadas para a resolução dos problemas do governo. D) Instrumentos de valorização do patrimônio público. E) Ações voltadas para resolver problemas de segmentos privilegiados da sociedade. 4) A dificuldade de implementação das políticas públicas no Brasil acontece por ser considerado um país: A) Desorganizado. B) Burocrático. C) De terceiro mundo. D) Pouco desenvolvido. E) Atrasado. 5) Com relação à produção involuntária do espaço urbano, o planejamento urbano deve tomar uma atitude: A) Passiva, deixando a produção do espaço livre. B) Compreensiva, entendendo os interesses privados dos agentes. C) Repreensiva, aplicando multas para aqueles que estiverem envolvidos na produção do espaço. D) Autoritária, dando a entender que o Estado, sozinho, é quem pode tomar decisões sobre os espaços urbanos. E) Impositiva, a fim de organizar as políticas e os espaços. Na prática As políticas públicas são um instrumento determinante no processo de planejamento das cidades, contribuindo para a elaboração dos objetivos e a execução destes. Elas são uma resposta do Estado às necessidades da coletividade, que, por meio do desenvolvimento de ações e programas, objetivam o bem comum e a diminuição da desigualdade social. Essas ações precisam ser estruturadas de maneira funcional e sequencial para tornar possíveis a produção e a organização do projeto. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/b3ff12e7-814e-46db-8830-e924b8233872/00b59b51-4b62-4611-bad0-a95fcab475ae.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Este vídeo fala sobre o que são as políticas públicas. Para saber mais, acesse o link a seguir. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. As políticas públicas podem ser divididas em três tipos. Esta matéria explica um pouco melhor do que se trata cada um desses tipos de políticas públicas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Este vídeo aprofunda sobre o conceito de mobilidade urbana. A mobilidade está prevista na Lei no 12.587, Lei da Mobilidade Urbana Sustentável, que é uma política pública relacionada ao planejamento urbano. Acesse o link. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/ehLZKqU1QQw?rel=0 http://www.okconcursos.com.br/apostilas/apostila-gratis/134-politicas-publicas/1156-tipos-de-politicas-publicas#.Why5u1WnHIU https://www.youtube.com/embed/CX6Krvv7ss8?rel=0