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Abordagem familiar: quando, como e por quê? Um caso prático Lisa Teresa Moreira, Ana Castro Rollo, Ricardo Torre, Maria Antónia Cruz. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 2018 Ana Carolina, Débora, Eduardo, Gabriella, Giovana Introdução Este artigo pretende reforçar a importância da abordagem familiar - por meio de um estudo de caso - e promover a sua utilização quando pertinente. A abordagem familiar é uma componente da avaliação médica e tem como objetivo identificar uma variável familiar que possa estar relacionada a uma disfunção orgânica, psicológica e/ou psicossocial que o indivíduo apresenta. Família Família é uma forma de grupo organizacional, intermédio entre a sociedade e o indivíduo. Qualquer grupo, cujas ligações sejam baseadas na confiança, suporte mútuo e um destino comum, deve ser encarado como família. As interações em família nunca são unilaterais, mas circulares. A ação de A afeta B e, neste, produzem-se mudanças comportamentais que, por sua vez, afetam A e assim sucessivamente. Abordagem Familiar Para a realização da abordagem familiar, o processo é dividido em quatro fases: Suspeita e detecção de um possível problema; Avaliação das características estruturais da família; Avaliação da funcionalidade familiar; Avaliação da rede social de apoio e dos recursos do utente (usuário). Abordagem Familiar Essas fases possibilitam uma avaliação global do utente e um ponto de partida para a terapia familiar. A utilização integrada da avaliação familiar na consulta possibilita identificar uma possível disfunção familiar e atuar na capacitação do utente para a resolução dos problemas. Descrição do Caso J., sexo masculino, 14 anos (adolescente), 9º ano de escolaridade, vive com os avós maternos (de classe média) desde os 12 meses de vida, após o pai ter sido preso e a mãe ter negado as responsabilidades parentais (atualmente o visita de 3 em 3 meses). Tem um irmão mais velho que reside com os avós paternos. Apresenta excesso de peso desde os 10 anos de idade, sem consumos tabágicos, etílicos ou toxicofílicos. Não faz medicação habitual. Descrição do Caso Motivo da consulta: queixas álgicas na região lombar esquerda, sem irradiação, de características mecânicas e de predomínio vespertino há sete dias, após esforço na aula de educação física. Descrição da Consulta Durante a consulta, J. manteve evicção do olhar, sendo as queixas relatadas pela avó. Quando questionados acerca deste comportamento, a avó respondeu que J. estava triste porque a mãe tinha prometido visitá-lo no fim de semana; no entanto, já tinha avisado que não iria. A avó desculpou-se, afirmando: “A minha filha é muito ocupada e uma cabeça no ar!”, causando uma reação de irritação em J., que prontamente diz: “Não é nada disso, ela é que não quer saber!” Descrição da Consulta Esse “desabafo” de J. pode estar relacionado ao aparecimento da doença, tornando-se pertinente a realização de uma abordagem familiar. Discussão Uma abordagem familiar pode subdividir-se em quatro fases: • A suspeita é detecção de um possível problema • efetuar a avaliação das características estruturais da família e a sua relação com o problema • Analisar a funcionalidade da família • Analisar a rede de apoio e os recursos do utente Poderá existir eventualmente uma quinta fase, a terapia familiar ! Primeira fase A suspeita, de que uma alteração familiar possa ser a origem do problema em análise, tem em conta as situações que propiciam maior suscetibilidade de disfunção familiar, constituindo critérios para avaliação familiar Segunda fase A análise da estrutura familiar faz-se através dos instrumentos de avaliação familiar, que pemitem avaliar a família ao longo do tempo (genograma), no momento, as dinâmicas dentro da família, a presença de crises normativas/acontecimentos de vida estressantes. No caso apresentado associam-se a prisão do pai e a ausência da mãe como eventos stressantes. Os impactos dos acontecimentos da vida stressante (AVS) dependem de: • do indivíduo • avaliação do indivíduo sobre o evento estressante • recursos pessoais para lidar com tal evento (personalidade, experiências pessoais, crenças pessoais) • características familiares • etapa do ciclo familiar •relações interpessoal • experiências e crenças familiares • fatores que vão modular as respostas familiares A presença de um AVS implica em mudanças no paciente e por consequência necessita de uma adaptação familiar. Caso não haja essa adaptação pode-se gerar uma crise familiar. Mantendo-de a inaptibilidade pode progredir para uma DISFUNÇÃO FAMILIAR. Essa inaptibilidade pode gerar consequência não somente ao indivíduo com AVS como para os outros familiares
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