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Lições de Educação Clássica, Liberal e Católica Mãos à obra! Canta num coral, aprende latim e grego e lê os livros escritos, lê as histórias e os mitos; lê também os livros da natureza, os livros do tempo e do espaço. As histórias da vida de Nosso Senhor e de Seus Santos se parecem muito com mitos, com a diferença de que aconteceram no tempo e no espaço, e a eficácia da leitura destas biografias é maior por causa disso talvez. Se as vidas dos santos, se as histórias de evangelização entre os bárbaros estiverem muito monótonas, ou se tiverem elementos difíceis de serem explicados pela simples e pura narração dos fatos no melhor estilo historiográfico positivista de Leopold von Ranke, é normal que o hagiógrafo exagere nalgum aspecto. Mas lembra que para Deus, nada é impossível. Para ti, é preciso esforço para leres bem os livros e a natureza. Mãos à obra, costumas dizer ao exortar os outros ao trabalho, às ações, às fábricas. O homem é fisicamente bastante limitado; seu corpo é muito sensível a tudo; não consegue dormir sobre a própria pele; esta pele que se queima sob o sol e que não consegue suportar temperaturas mais baixas que 20 °C. O homem não consegue se defender de predadores com seus dentes nem suas unhas, não têm a velocidade necessária nas pernas para fugir de lobos, tigres ou ursos. Quando solto na natureza, o homem, no que depender do seu corpo, está ferrado. Que bom que ele não é só corpo; é alma e corpo. Há porém, uma parte do corpo que é extremamente complexa e a única exclusivamente humana: a mão. Já viste um bebê de pouquíssimos meses olhando para a própria mão? Ela é um pedaço deste corpo fraco que parece fruto da misericórdia do criador. De que adiantaria ter sido dada ao homem a casa que é a criação inteira, com este corpo fraco? E certo que, no Eden, as mãos de Adão e Eva eram mãos de poetas, não tinham bolhas nem calos, mas depois do pecado, que os condenou a suar, isso mudou. Que seria de Adão e Eva sem as mãos? Mãos à Obra! Dependemos muito das mãos não só para o trabalho duro, para os negócios, mas também para o ócio. Com os dedos contamos, com os dedos inventamos os números, com os dedos medimos e apontamos: os dedos são ótimos símbolos. O estoico Zeno disse que a dialética é como uma mão fechada em punho e que a retórica é uma 93 Clistenes Hafner Fernandes mão aberta. Eu vou continuar com ele porque acho que estas duas servas da Philologia subordinam as outras: cada um dos dedos é uma das cinco servas reunidas para auxiliar ora a retórica espalmada, ora a dialética cerrada. Qual dedo é qual? Não importa, cada um tem uma função específica dependendo do que precisamos ler nos livros e na natureza. Mãos à obra! Ora et labora! Os beneditinos cantavam — não por acaso em latim — e nas horas vagas, nas horas dos negócios, construíram a Europa, salvaram o mundo inteiro da barbárie entre um canto e outro. Zenonis est, inquam, hoc Stoici omnem vim loquendi, ut iam ante Aristóteles, in duas tributam esse partes, rhetoricam palmae, dialecticam pugni similem esse dicebat, quod latius loquerentur rhetores, dialectici autem compressius. Qbsequar igitur voluntati tuae dicamque, si potero, rhetorice, sed hac rhetorica philosophorum, non nostra ilia forensi, quam necesse est, cum populariter loquatur, esse inter dum paulo hebetiorem. (Cicero de Finibus, II, XVII) Ubique credimus divinam esse prasentiam et oculos Domini in omni loco speculari bonos et malos, maxime tamen hoc sine aliqua dubitatione credamus, cum ad opus divinum adsistimus. Ideo semper memores simus quod ait Propheta: Servite Domino in timore, et iterum: Psallite sapienter, et:In conspectu angelorum psallam tibi. Ergo consideremus qualiter oporteat in conspectu Divinitatis et angelorum eius esse, et sic stemus adpsallendum, ut mens nostra concordet voci nostra. (Caput XIX Regulae Sancti Benedict!) 94 Lições de Educação Clássica, Liberal e Católica Bibliografia (Estes são os livros que li algum dia e que me vieram à memória enquanto escrevia estas lições. Talvez estejam faltando alguns, e por isso peço perdão aos seus autores — vivis atque defunctis) AB ELSON, Paul. The Seven Liberal Arts BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega CARVALHO, Olavo de. História Essencial da Filosofia _______ .Aristóteles sob Nova Perspectiva CURTIUS, Ernst. Literatura Europeia e Idade Média Latina DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente _______ . The Crisis of Western Education FRANCA, Leonel. O Método Pedagógico dos Jesuítas GILSON, Etienne. As Artes do Belo JÀGER, Werner. Paideia LECLERQUE, Jean. O Amor às Letras e o Desejo de Deus MARROU, Henri-Irinée. História da Educação na Antiguidade MCLUHAN, Marshal. O Trivium Clássico MEYER, Gabriel. Das Trivium und Quadrivium in Theorie und Praxis MIRAGLIA, Luigi. Latine Doceo NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da Educação na Antiguidade Cristã _______ . História da Educação na Idade Média _______ . História da Educação na Renascença PIEPER, Josef. Mufie und Kult REALE, Giovanni. História da Filosofia RICO, Christoph. A Sixth Renascence 95