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Atenção: a abreviatura de Vossa Excelência é V. Ex.ª, e não “V. Excia.”, mas quase todo o mundo usa esta, porque é mais fácil ou prática. A cultura caminha passo “à” passo com o progresso? Não: caminha passo a passo. Se outro for o passo, é torção na certa. Locuções adverbiais com palavras repetidas dispensam o acento, mesmo que tais palavras sejam femininas: passo a passo, minuto a minuto, segundo a segundo, ombro a ombro; cara a cara, frente a frente, face a face, gota a gota, uma a uma, etc. Refiro-me “à” exportações Também não. Não se usa o a com acento grave antes de palavras no plural, porque nesse caso não ocorre crase, basta usar a preposição a: Refiro-me a exportações. *** Existem animais que são imunes a picadas de cobra. O acento só terá sentido se no lugar do a aparecer as (neste caso, o substantivo está determinado): Refiro-me às exportações. *** Existem animais que são imunes às picadas de cobra. Devo usar artigo antes de pronome possessivo? Não, necessariamente. É facultativo o emprego do artigo antes de pronomes possessivos. Por isso, usamos, indiferentemente: meu carro ou o meu carro, minha cidade ou a minha cidade, seu nome ou o seu nome, nosso quarto ou o nosso quarto. Sendo assim, também facultativo é o uso do acento grave da crase antes de pronomes possessivos femininos: estou a (ou à) sua disposição; ela ficou a (ou à) nossa espera por duas horas. “à” respeito de Está claro que antes de palavra masculina não se usa a com acento grave, indicando a existência de crase. Porque é impossível haver crase com palavra masculina. Num de nossos jornais, porém, apareceu isto: É cedo para qualquer apreciação “à” respeito do novo ministério. Nunca é tarde, porém, para aprender… Enquanto católico, não aceito o aborto Frase corretíssima, tanto na estrutura quanto no teor. Enquanto equivale, nesse caso, a no papel de, na qualidade de, como. Eis outros exemplos: Enquanto brasileiro, sinto vergonha de viver num país onde campeia a violência, onde campeia a impunidade, onde campeia a corrupção. *** Enquanto rubro-negro, ele quer que os vascaínos desapareçam da face da Terra, e estes desejam o mesmo aos rubro-negros. *** O presidente prestará depoimento tão somente enquanto testemunha. *** Como agir enquanto professor, quando descubro que um adolescente é usuário de maconha? Eis, agora, um exemplo excelente, muito bom mesmo, retirado de um editorial de jornal: A teoria na prática costuma ser outra, especialmente na política. Enquanto oposição, o PT deitava falação contra as prorrogações da CPMF. Quando assumiu o poder, o Partido dos Trabalhadores mudou de opinião: quis transformar em definitiva a contribuição provisória que em nada melhorou a saúde pública no país. Na prática, a teoria é quase igual… Convém não confundir esse uso correto de enquanto com este, incorreto, que se substitui por quanto: “Enquanto” a mim, estou tranquilo. o dinheiro sumiu É assim que o povo diz. É assim que está ficando. No português castiço, todavia, tudo o que desaparece, some-se. O pronome do verbo sumir-se está sumindo-se na língua cotidiana, a exemplo do que já ocorre com secar-se e vencer-se. Por isso, há muita gente por aí que já canta: A fonte secou, quero dizer que entre nós tudo acabou! E a duplicata que vence amanhã? Bem, isso é só amanhã… um dos que Esta expressão leva o verbo obrigatoriamente ao plural, no português contemporâneo: Sou um dos que mais trabalham aqui. *** Você é um dos que mais reclamam, porém, um dos que menos ajudam. *** Manuel foi um dos que mais me incentivaram. A mídia brasileira ainda não tomou conhecimento do assunto. Tanto é que só usa o singular com tal expressão. No Terra: Depois de 1994, o Brasil viu-se invadido por montadoras do mundo inteiro. A francesa Renault foi uma das que “chegou” e “conseguiu” se firmar. Todo o mundo consegue se firmar no Brasil. Menos a imprensa brasileira. É impressionante! Veja, agora, esta pérola, em manchete: Cardeal brasileiro é um dos mais “cotado” para suceder Bento XVI. Só mesmo dizendo: MEU DEUS!!! Blumenau viveu certa feita uma tragédia. Mas não foi apenas Blumenau que sofreu com as chuvas, enchentes e deslizamentos de terras. Também sofreram Itajaí, Ilhota, Camboriú, etc. Pois um dos apresentadores de telejornais da Globo usou esta frase para nos comunicar o fato: Blumenau é uma das cidades que mais “sofre” com as enchentes. Ora, se não foi apenas Blumenau, o verbo tem de ir ao plural: Blumenau é uma das cidades que mais sofrem com as enchentes. Mas essa gente conhece o assunto? Que nada! O pior de tudo é que eles pensam que sabem. E ainda se dão ares de formadores de opinião! Infeliz daquele que embarca na canoa deles. “guspir” Não é coisa que se fale nem se escreva. Se cuspir já não é um gesto recomendável, que se dirá, então, de alguém que “gospe”! Em português existe apenas cuspir, cuspo, cuspida, admitindo-se ainda a variante cuspe. Fora daí, tudo é muita falta de educação. Há dentistas que pedem a seus clientes, na cadeira de “tortura”: Pode “guspir”! Há quem, todas as vezes, resista… a partir “da” meio-dia É inacreditável, mas há profissional de televisão, tanto no esporte quanto fora dele, que já disse isso. Um famoso político declarou, certa vez, logo após ser eleito: Amanhã, a partir “da” meio-dia eu darei uma entrevista coletiva. Quanta asneira não viria, então, na tal entrevista!… chuva de “granito” A chuva ou a queda de granizo é menos devastadora. Quando da posse do novo presidente, em 2003, havia previsão de chuva justamente para o momento do evento. Aguardando por aquele instante havia mais de uma década, o presidente eleito declarou, então, às vésperas do acontecimento: Amanhã eu subo a rampa, mesmo que seja sob tempestade de granizo. Se fosse apenas um ou dois anos antes, ele trocaria granizo por “granito”. Que evolução!… austero A palavra é paroxítona: austéro. Há, no entanto, por aí, muita gente que, sem ser austera, espalha a pronúncia viciosa: “áustero”.