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O simbolismo, movimento muito próximo temporalmente ao parnasianismo (fim do século XIX), compartilha algumas concepções estéticas do parnasianismo, como o gosto pelo soneto e pela poesia metrificada. O apreço pela escolha das palavras segue presente no simbolismo, mas de maneira quase que contrária ao parnasianismo. Enquanto os parnasianos buscavam as palavras que fossem mais “precisas”/objetivas para transmitir a mensagem do poema, os simbolistas buscavam as palavras mais “imprecisas”, as que tivessem a capacidade de “abrir” mais o sentido de seus poemas, deixando mais espaço para a subjetividade do leitor atribuir sentido ao poema. Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras... Formas do Amor, constelarmente puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas... Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... Visões, salmos e cânticos serenos, Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... Dormências de volúpicos venenos Sutis e suaves, mórbidos, radiantes... Infinitos espíritos dispersos, Inefáveis, edênicos, aéreos, Fecundai o Mistério destes versos Com a chama ideal de todos os mistérios. Do Sonho as mais azuis diafaneidades Que fuljam, que na Estrofe se levantem E as emoções, sodas as castidades Da alma do Verso, pelos versos cantem. Que o pólen de ouro dos mais finos astros Fecunde e inflame a rime clara e ardente... Que brilhe a correção dos alabastros Sonoramente, luminosamente. (...) Cruz e Souza, Antífona. Competência 5 | 39 Surgindo sob o domínio cultural do parnasia- nismo, o Modernismo brasileiro – especialmente em sua primeira fase – buscou incorporar, no seu procedimento de criação do texto, um ideal radicalmente oposto ao parnasianismo. Ao verso metrificado, deu-se preferência ao verso livre; ao vocabulário erudito, preferiu-se o simples; os exageros retóricos e sintáticos deram lugar a uma poesia que explora a linguagem quase até seu essencial, deixando o texto fragmentado em muitos poemas. ESCAPULÁRIO No Pão de Açúcar De Cada Dia Dai-nos Senhor A Poesia De Cada Dia O GRAMÁTICO Os negros discutiam Que o cavalo sipantou Mas o que mais sabia Disse que era Sipantorrou O CAPOEIRA - Qué apanhá sordado? - O quê? - Qué apanhá? Pernas e cabeça na calçada HÍPICA Saltos records Cavalos da Penha Correm jóqueis de Higienópolis Os magnatas As meninas E a orquestra toca Chá Na sala de cocktails 40 | Um dos movimentos literários que mais nos exige relacionar as concepções artísticas de seus autores com a construção do texto é o concretismo. Surgido nos anos 1950, e criado pelos poetas e estudiosos da linguagem Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, o concretismo necessita que saibamos seu “fundo teórico” para uma boa análise de suas poesias. Os concretistas consideravam que o verso, a unidade rítmica da poesia, havia chegado a seu fim, pois a poesia já estava mais ligada à sua grafia do que a sua oralidade. Eles pregavam que a forma do poema (sua cor, seu tamanho, sua disposição espacial) devia estar relacionada com sua sonoridade (que não é a mesma coisa que oralidade/declamação) e esses aspectos deveriam ser representativos de seu significado. O poema deveria ser uma estrutura verbi-voco-visual, não dependendo apenas do ritmo e da organização sintática das palavras para a composição do seu significado e recepção. Competência 5 | 41
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