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Livro Didático - Linguagens (Prof Felipe Pereira)-040-042

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O simbolismo, movimento muito próximo 
temporalmente ao parnasianismo (fim do século 
XIX), compartilha algumas concepções estéticas 
do parnasianismo, como o gosto pelo soneto e 
pela poesia metrificada. O apreço pela escolha das 
palavras segue presente no simbolismo, mas de 
maneira quase que contrária ao parnasianismo. 
Enquanto os parnasianos buscavam as palavras 
que fossem mais “precisas”/objetivas para 
transmitir a mensagem do poema, os simbolistas 
buscavam as palavras mais “imprecisas”, as que 
tivessem a capacidade de “abrir” mais o sentido 
de seus poemas, deixando mais espaço para a 
subjetividade do leitor atribuir sentido ao poema.
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas...
 
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, sodas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rime clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
(...)
Cruz e Souza, Antífona.
 Competência 5 | 39
Surgindo sob o domínio cultural do parnasia-
nismo, o Modernismo brasileiro – especialmente 
em sua primeira fase – buscou incorporar, no 
seu procedimento de criação do texto, um ideal 
radicalmente oposto ao parnasianismo. Ao verso 
metrificado, deu-se preferência ao verso livre; 
ao vocabulário erudito, preferiu-se o simples; 
os exageros retóricos e sintáticos deram lugar a 
uma poesia que explora a linguagem quase até 
seu essencial, deixando o texto fragmentado em 
muitos poemas.
ESCAPULÁRIO
No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia
O GRAMÁTICO
Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantorrou
O CAPOEIRA
- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeça na calçada
HÍPICA
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails
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Um dos movimentos literários que mais nos 
exige relacionar as concepções artísticas de 
seus autores com a construção do texto é o 
concretismo. Surgido nos anos 1950, e criado 
pelos poetas e estudiosos da linguagem Haroldo 
de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, 
o concretismo necessita que saibamos seu “fundo 
teórico” para uma boa análise de suas poesias.
Os concretistas consideravam que o verso, a 
unidade rítmica da poesia, havia chegado a seu 
fim, pois a poesia já estava mais ligada à sua 
grafia do que a sua oralidade. Eles pregavam que 
a forma do poema (sua cor, seu tamanho, sua 
disposição espacial) devia estar relacionada com 
sua sonoridade (que não é a mesma coisa que 
oralidade/declamação) e esses aspectos deveriam 
ser representativos de seu significado. O poema 
deveria ser uma estrutura verbi-voco-visual, não 
dependendo apenas do ritmo e da organização 
sintática das palavras para a composição do seu 
significado e recepção.
 Competência 5 | 41

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