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– AULA PRÁTICA 09: DETERMINAÇÃO DO TEOR DE CLORO RESIDUAL EM ÁGUA DE ABASTECIMENTO 9.1 – OBJETIVOS Esta aula prática tem como objetivo geral, desenvolver habilidades e competências referentes à utilização da titulometria de oxi-redução enquanto técnica analítica. Como objetivos específicos podem ser destacados os pontos a seguir: - identificar as possíveis aplicações da titulometria de oxi-redução; - reconhecer uma reação de oxi-redução e suas peculiaridades; - distinguir os diferentes métodos de análise por titulometria de oxi-redução; - compreender as curvas de titulação de oxi-redução. 9.2 – ABORDAGEM TEÓRICA 9.2.1 – Titulometria de oxidação-redução A titulometria de oxidação-redução é um tipo de análise titulométrica baseada em reações de transferência de elétrons entre a espécie titulante e a espécie titulada. a) Reações de oxidação-redução O processo de perda de elétrons por uma espécie química é chamado de oxidação, enquanto que o processo de ganho de elétrons por uma espécie química recebe o nome de redução. O processo de oxidação se traduz num aumento do número de oxidação da espécie química envolvida e o processo de redução é acompanhado de uma diminuição do número de oxidação da espécie. Em uma reação de oxidação-redução, ambos os processos ocorrem simultaneamente e o número de elétrons ganhos pela espécie que sofre redução é igual ao número de elétrons perdidos pela espécie que sofre oxidação. EXEMPLO: Um reagente que se reduz retirando elétrons de outra substância e provocando a oxidação desta é chamado de AGENTE OXIDANTE. Um reagente que se oxida, cedendo assim elétrons para outra substância e provocando a redução desta substância é chamado de AGENTE REDUTOR. b) Diferença de potencial e energia livre de Gibbs A diferença de potencial eletroquímico (E) entre dois pontos é a medida do trabalho necessário para mover uma carga elétrica de um ponto a outro: qE Onde: = trabalho (J), E = potencial (V) e q = carga elétrica (C). A diferença de potencial eletroquímico (E) está então associada à energia (trabalho) necessária para que ocorra uma transferência de elétrons em uma reação química. Assim, o valor de E pode ser relacionado ao valor da energia livre de Gibbs para uma dada reação de oxidação-redução através da seguinte expressão: nF G E Onde: E = diferença de potencial eletroquímico (ou simplesmente potencial) (V); G = variação da energia livre de Gibbs (J/mol); n = número de elétrons trocados na reação; F = constante de Faraday = 96 485 C/mol; Cu 2+ Zn (0) Cu (0) Zn 2++ + + 2 e- (redução) - 2 e- (oxidação) c) Equação de Nernst Para uma reação oxidação-redução do tipo: aA + bB cC + dD; a diferença de potencial eletroquímico (E) está relacionada as concentrações das espécies oxidantes e redutoras através da equação de Nernst: ba dc BA DC nF RT EE ][][ ][][ ln Onde: E° = diferença de potencial eletroquímico padrão (valor quando todas as concentrações dos participantes da reação são iguais a 1,0 mol/L) R = constante dos gases = 8,314 J/mol.K T = temperatura absoluta em kelvins n = número de elétrons F = constante de Faraday = 96 485 C/mol ln = logaritmo natural = 2,303 log d) Curvas de titulação redox Uma curva de titulação em titulometria de oxi-redução é um gráfico que relaciona o potencial (E) da solução titulada ao volume de titulante adicionado ao titulado, conforme mostra a figura 01. Figura 01 – Curva de titulação de 30 mL de uma solução de Fe2+ (analito) 0,100 M c/ uma solução de Ce4+ (titulante) 0,200 mol/L (em H2SO4 1,0 M) 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 0 5 10 15 20 25 30 Volume de titulante (mL) E ( V ) VE PE REGIÃO DE EXCESSO DE REGIÃO DE EXCESSO DE ANALITOANALITO REGIÃO DE EXCESSO REGIÃO DE EXCESSO DE TITULANTEDE TITULANTE 1,06 V 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 0 5 10 15 20 25 30 Volume de titulante (mL) E ( V ) VE PE REGIÃO DE EXCESSO DE REGIÃO DE EXCESSO DE ANALITOANALITO REGIÃO DE EXCESSO REGIÃO DE EXCESSO DE TITULANTEDE TITULANTE 1,06 V e) Identificação visual do ponto final de uma titulação redox Existem três formas de se detectar visualmente o ponto final de uma titulação redox: 1) através de reagentes auto-indicadores, 2) através de indicadores específicos e 3) através de indicadores redox. Reagentes auto-indicadores: titulantes tais como o íon permanganato, MnO4-, apresentam uma diferença significativa na cor entre suas formas oxidadas e reduzidas. Soluções de MnO4- possuem uma forte coloração violeta. A forma reduzida do íon MnO4-, em solução ácida é o íon manganoso, Mn2+, que é praticamente incolor. Devido a essa diferença marcante de coloração entre as formas oxidada e reduzida do titulante, um pequeno excesso do titulante tornará a solução titulada ligeiramente rósea e indicará o ponto final da titulação. Indicadores específicos: algumas substâncias podem indicar a presença de uma espécie oxidada ou reduzida específica. Um exemplo é o amido que em presença do íon triiodeto, I3-, forma um complexo azul escuro e pode ser usado para sinalizar um excesso desses íons. Podemos também citar como exemplo de indicadores específicos o íon tiocianato SCN-, que forma um complexo vermelho intenso com o Fe3+. Indicadores redox verdadeiros: estes indicadores são substâncias que mudam de coloração segundo o potencial eletroquímico da solução onde se encontram. Esses indicadores são substâncias cujas formas oxidadas e reduzidas apresentam uma nítida diferença de coloração. A semi-reação responsável pela mudança na coloração do indicador redox é uma reação do tipo: Inox + ne- Inred cor 1 cor 2 Sendo, Inox a forma oxidada do indicador e Inred a forma reduzida do indicador. A faixa de viragem do indicador (numa temperatura de 25 °C) em termos de potencial eletroquímico é dada pela seguinte expressão: n EE oind 0592,0 Pode-se citar como exemplos de indicadores redox verdadeiros a ferroína e a difenilamina. f) Principais titulantes usados em titulometria de oxi-redução Agentes redutores: a maioria dos agentes redutores são pouco estáveis pois reagem com o oxigênio do ar. Por esse motivo, agentes redutores são raramente usados como titulantes. Na determinação de analitos oxidantes recorre-se com freqüência à titulação indireta. Os dois principais agentes redutores usados em titulometria redox são as soluções de Fe2+ e as soluções de tiossulfato de sódio. Agentes oxidantes: Os agentes oxidantes mais usados em titulometria redox são: o permanganato de potássio (KMnO4), os íons Ce4+, o dicromato de potássio (K2Cr2O7), o iodo, o bromato de potássio (KBrO3), iodato de potássio (KIO3). A escolha do agente oxidante a ser usado como titulante dependerá dos seguintes fatores: força redutora do analito, velocidade da reação entre o oxidante e o analito, estabilidade do oxidante em solução, disponibilidade de um indicador satisfatório e custo. 9.2.2 – Titulações iodométricas (iodometria) A técnica de titulação iodométrica utiliza o fato que os íons iodeto (I-) podem ser convertidos em iodo (I2) por ação de um analito oxidante: Semi-reação: 2I- + 2e- I2 O iodo produzido pela oxidação do iodeto pode ser titulado utilizando-se uma solução padrão de tiossulfato de sódio (Na2S2O3) padrão como titulante. Os íons tiossulfato são oxidados pelo iodo a íons tetrationato (S4O62-): Reação: 2S2O32- + I2 2I- + S4O62- As titulações iodométricas devem ser conduzidas em pH inferior a 8,0 pois em meio alcalino o iodo reage com os íons hidroxila, formando íons hipoiodito e íons iodeto. Os íons hipoiodito são instáveis e convertem-se em íons iodato. Para determina-se o pontofinal de uma titulação iodométrica costuma-se empregar uma solução de amido como indicador. Em presença de iodo o amido produz um complexo de transferência de carga azul escuro. O amido é adicionado quando a titulação se aproxima do ponto de equivalência, o que é indicado pelo quase desaparecimento da coloração amarelada do iodo, a titulação é prosseguida até que a coloração azul do complexo amido-iodo desapareça. As titulações iodométricas não devem ser confundidas com as titulações iodimétricas, nas quais utiliza-se uma solução de iodo (na realidade de íons triiodeto I3-) na titulação direta de analitos redutores. 9.2.3 – Uso do cloro como agente de desinfecção O cloro é um dos principais agentes de desinfecção utilizados no tratamento de água para abastecimento. Sua aplicação na água além de destruir ou desativar os microorganismos patogênicos é capaz de melhorar a qualidade da água devido à sua ação como agente oxidante. O cloro reage com os íons ferro, manganês, enxofre, amônia e substâncias orgânicas, reduzindo a cor e o odor da água. Porém, o cloro pode agir de forma adversa, gerando compostos organoclorados tóxicos ou acentuando o gosto e o odor de fenóis e outras substâncias orgânicas. Uma das vantagens do uso de cloro como agente de desinfecção é a possibilidade de se manter um teor de cloro residual capaz de eliminar possíveis contaminações posteriores ao tratamento. A cloração da água pode ser realizada por aplicação de cloro ou de íons hipoclorito. O cloro aplicado sob a forma de cloro molecular (Cl2) ou de íons hipoclorito (ClO-) podem igualmente se converter em ácido hipocloroso (HClO). As concentrações relativas de cloro molecular (Cl2), íons hipoclorito e ácido hipocloroso na água dependem do pH do meio. No pH da maioria das água predominam o ácido hipocloroso e o íon hipoclorito. Reações: Cl2 + H2O HCl + HClO HClO + H2O H3O+ + ClO- Exige-se na legislação que a água de abastecimento público possua um teor mínimo de cloro residual de 0,3 ppm. Recomenda-se, no entanto, que esse mínimo seja de 0,5 ppm. O teor de cloro residual de uma água potável não deve , igualmente, ultrapassar 3,0 ppm. 9.2.4 – Determinação de cloro residual por iodometria O teor de cloro residual de uma água pode ser determinado por iodometria. O processo de análise começa com a adição de iodeto de potássio à amostra de água analisada a qual é logo em seguida acidificada com ácido acético (não usar ácido clorídrico nem ácido sulfúrico). Os íons iodeto são oxidados pelos íons hipoclorito presentes na amostra, produzindo iodo e tornando a solução amarelada. Reação: ClO- + 2I- + 2H+ Cl- + I2 + H2O O iodo liberado nessa reação é titulado com uma solução padrão de tiossulfato de sódio, usando amido como indicador. Os íons tiossulfato (S2O32-) reduzem o iodo a iodeto e formam íons tetrationato (S4O62-). Reação: I2 + 2S2O32- 2I- + S4O62- O ponto final de titulação é indicado pela mudança da coloração da solução titulada do azul para o incolor. Através da estequiometria das reações envolvidas observamos que: 22 IClOCl nnn (1) O número de moles de cloro molecular é igual ao número de moles de íons hipoclorito presente em solução, que por sua vez é igual ao número de moles de iodo liberado pela reação de oxidação do íon iodeto I-. Pela reação entre os íons tiossulfato e o iodo temos que: 2 322 2 OSI nn (2) Combinando as equações (1) e (2) podemos escrever a seguinte relação entre a quantidade em matéria de Cl2 presente na amostra e a quantidade de matéria de S2O32- gasta na titulação do iodo: 2 322 2 OSCl nn (3) Expressando essas quantidades de matéria em termos de concentrações e dos volumes da amostra e de titulante gasto, teremos a seguinte expressão: 2 32 2 322 2 OSOSamostraCl VMVM (4) ou amostra OSOS Cl V VM M 2 2 32 2 32 2 (5) Podemos transformar a concentração em quantidade de matéria de Cl2 multiplicando o valor obtido pela massa molar do Cl2 e pelo fator de conversão de gramas em miligramas: amostra ClOSOS Cl V gmgMMVM ppm 2 )/(1000 2 2 32 2 32 2 (6) Onde: 2Cl ppm = concentração de cloro residual em mg/L; 2 32OS M = concentração em quantidade de matéria (mol/L) da solução de tiossulfato de sódio usada como titulante; 2 32OS V = volume da solução de tiossulfato de sódio gasto na titulação (mL); 2Cl MM = massa molar do cloro (71 g/mol); Vamostra = volume da amostra (mL); 2Cl M = concentração em quantidade de matéria de cloro na amostra; 2 32OS n = número de moles de tiossulfato gastos na titulação; 2I n = número de moles de iodo liberado na oxidação do íon iodeto; 2Cl n = número de moles de cloro molecular presente na amostra. A equação 6 permite calcular a concentração, em ppm, de Cl2 residual na água analisada. EXEMPLO: Adicionou-se iodeto de potássio (KI) a 200 mL de uma amostra de água de abastecimento, em seguida a amostra foi acidificada com ácido acético glacial e deixada em repouso durante 10 minutos. Em seguida adicionou-se 3 mL de solução de amido a 1 % como indicador e o iodo liberado pela reação do cloro residual com os íons iodeto foi titulado com uma solução padrão de tiossulfato de sódio 0,001 mol/L. Sabendo que foram gastos 5,0 mL da solução de tiossulfato para atingir-se o ponto final de titulação, calcule a concentração de cloro residual na amostra de água analisada. Dados: Vamostra = 200 mL 2 32OS M = 0,001 mol/L 2 32OS V = 5,0 mL 2Cl MM = 71 g/mol Solução: amostra ClOSOS Cl V gmgMMVM ppm 2 )/(1000 2 2 32 2 32 2 )(2002 )/(1000)/(71)(0,5)/(001,0 2 mL gmgmolgmLLmol ppmCl ppmCl2 = 0,89 mg/L de Cl2 9.3 – PROCEDIMENTO PRÁTICO a) Transfira 100 mL da amostra para um erlenmeyer de 250 ml, adicione alguns cristais de KI, 0,5 mL de ácido acético concentrado e 0,5 mL de solução de amido à 1 %. Deixe repousar cerca de 10 min (tampe com vidro de relógio). b) Titule com solução de tiossulfato de sódio (Na2S2O3) 0,001 mol/L até que a coloração azul desapareça. Anote o volume de titulante gasto. c) Calcule a concentração de cloro residual usando a equação (6). 9.4 – PÓS-LABORATÓRIO a) Faça uma pesquisa em livros de química analítica e relacione três substâncias que podem ser determinadas por iodometria além do cloro. b) Explique a diferença existente entre os termos iodometria e iodimetria. c) O amido pode ser considerado como um indicador redox verdadeiro. Explique sua resposta? d) Qual é a função do ácido acético na análise de cloro residual por iodometria ? 9.5 – MATERIAIS E REAGENTES MATERIAIS REAGENTES - Erlenmeyer de 250 ml - cristais de iodeto de potássio P.A. - bureta de 25 ml, - solução de amido à 1 % - balão volumétrico de 200 ml - ácido acético glacial - vidro de relógio. - solução padrão de tiossulfato de sódio 0,001 M, 9.6 – BIBLIOGRAFIA 1 - HARRIS, Daniel C. Análise química quantitativa. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. 862 p. 2 - SKOOG, D.H. et al. Fundamentos de Química Analítica. 8. ed. São Paulo: Thomson, 2006. 999 p. 3 - BACCAN, Nivaldo et al. Química analítica quantitativa e elementar. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Edgard Blücher; Campinas 4 – APHA, Standards Methods for Examination of Water and Wastewater. 19 th edition.