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198 Unidade III Unidade III 7 NEOPLASIAS: ASPECTOS GERAIS E EPIDEMIOLÓGICOS Neoplasia pode ser entendida como a lesão constituída pela proliferação celular anormal, descontrolada e autônoma, em geral com perda ou redução da diferenciação celular, em consequência de alterações nos genes que regulam crescimento e diferenciação. Nesse contexto, o que diferencia uma neoplasia de displasia e hiperplasia é exatamente a autonomia de proliferação. Quando ocorre em um órgão sólido, o maior número de células de uma neoplasia forma um tumor. Neoplasia significa crescimento novo. Ao contrário de alterações no crescimento do tecido ocorridas em processos como hipertrofia e hiperplasia, o desenvolvimento de uma neoplasia ocorre sem coordenação e é relativamente autônomo, no sentido em que carece de controle regulador normal para o crescimento e a divisão celulares. A renovação e a reparação do tecido normalmente envolvem dois componentes: proliferação e diferenciação celular. Proliferação, ou processo de divisão celular, é um método adaptativo para o crescimento de novas células que substituirão as que estão envelhecidas ou quando for necessária a formação de células adicionais. Diferenciação é o mecanismo pelo qual as células se tornam cada vez mais especializadas a cada divisão mitótica. A apoptose é uma forma de morte celular programada, que elimina células senescentes, células com DNA (ácido desoxirribonucleico) danificado ou células indesejadas. O câncer representa a segunda causa de morte no mundo, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares. São mais de cem tipos de doenças diferentes com inúmeras causas, desde fatores herdados e adquiridos associados a questões ambientais e intrínsecos do hospedeiro. Estima-se que em 2018 tenham morrido quase 10 milhões de pessoas no mundo em decorrência do câncer. Se a ocorrência do câncer é algo mundial, o mesmo não se pode afirmar em relação à morte por esse tipo de patologia. Aproximadamente 70% dos óbitos por câncer ocorrem em países de baixa e média renda. Falta de rastreamento, acesso aos exames de prevenção, diagnóstico tardio e tratamentos caros, demorados e muitas vezes inacessíveis à população de baixa renda são os principais fatores que levam ao óbito. Apesar do caráter multifatorial e da extensa lista de fatores de risco e desencadeantes do câncer, estima-se que mais de 30% de todos os casos estejam relacionados ao estilo de vida e à alimentação – sedentarismo, altos índices de massa corpórea, baixa ingestão de frutas e legumes e alto consumo de produtos industrializados, além do uso de álcool e tabaco. 199 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Depois do tabagismo, a segunda causa mais evitável do câncer são as infecções crônicas, que também são fatores de risco para a doença e têm um maior impacto em países de baixa renda. Aproximadamente 15% de todos os cânceres diagnosticados são atribuídos a infecções persistentes e não tratadas; entre elas, os vírus oncogênicos têm um papel de destaque: o HPV é o agente etiológico e causa necessária para a ocorrência do câncer de colo uterino (SILBERNAGL; LANG, 2016, p. 45). Também estão relacionados à carcinogênese dos tumores de cabeça e pescoço, ânus, pênis e vagina. O vírus Epstein-Barr (VEB) é o mais potente indutor de transformação maligna e crescimento celular descontrolado, sendo capaz de imortalizar linfócitos B humanos. Está relacionado principalmente com o linfoma de Burkitt. A infecção pelos vírus da hepatite B e da hepatite C é o fator principal para a ocorrência de câncer de fígado e representa um grande problema de saúde pública pelo alto número de pacientes no mundo que são portadores do vírus da hepatite C. Além desses vírus, a infecção persistente pela bactéria Helicobacter pylori, associada a baixos índices ou ausência de saneamento básico, está envolvida na carcinogênese de aparelho digestório, principalmente esôfago e estômago. Seus números crescentes no Brasil têm sido motivo de grande preocupação. De acordo com as estatísticas do Inca (2017) e do Ministério da Saúde, são esperados 600 mil casos novos de câncer para 2019, sendo 53% em homens e 47% dos casos em mulheres. Uma vez que o processo da carcinogênese é dependente de mutações que ocorrem nos genes, os tipos mais prevalentes de câncer são derivados de populações de células que se dividem constantemente como as células epiteliais e glândula prostática. Já os tipos mais raros são das populações celulares que tipicamente não se dividem: células diferenciadas musculares e nervosas. O câncer de pele não melanoma será o mais frequente em ambos os sexos, correspondendo a aproximadamente 170 mil novos casos. Os outros tipos de câncer equivalerão a 420 mil casos novos, sendo os tumores mais frequentes os de próstata, pulmão, mama feminina, cólon e reto. São esperadas, ainda, altas taxas para os cânceres do colo do útero, estômago e esôfago (SILBERNAGL; LANG, 2016, p. 51). Localização primária Casos % Homens Mulheres Localização primária Casos % Próstata Traqueia, brônquio e pulmão Cólon e reto Estômago Cavidade oral Esôfago Bexiga Laringe Leucemias Sistema nervoso central 68.220 18.740 17.380 13.540 11.200 8.240 6.690 6.390 5.940 5.810 31,7% 8,7% 8,1% 6,3% 5,2% 3,8% 3,1% 3,0% 2,8% 2,7% Mama feminina Cólon e reto Colo do útero Traqueia, brônquio e pulmão Glândula tireoide Estômago Corpo do útero Ovário Sistema nervoso central Leucemias 59.700 18.980 16.370 12.530 8.040 7.750 6.600 6.150 5.510 4.860 29,5% 9,4% 8,1% 6,2% 4,0% 3,8% 3,3% 3,0% 2,7% 2,4% Figura 81 – Dez tipos de câncer mais incidentes estimados para 2018 (exceto pele não melanoma – números arredondados para múltiplos de 10), Instituto Nacional de Câncer (Inca) 200 Unidade III 7.1 Proliferação celular Proliferação celular é o processo de aumento no número de células por divisão mitótica. Em tecidos normais, é regulada de modo que a quantidade de células em divisão ativa seja equivalente à quantia de células mortas ou perdidas. Nos seres humanos, existem duas grandes categorias de células: os gametas e as células somáticas. Os gametas (óvulo e espermatozoide) são células haploides, com apenas um conjunto de cromossomos de um dos pais, sendo projetados especificamente para a fusão sexual. Após ela, é formada uma célula diploide contendo os dois conjuntos de cromossomos, a célula somática, que passa a formar o resto do organismo. Em termos de proliferação celular, os duzentos diferentes tipos de células que compõem o organismo podem ser divididos em três grandes grupos: • Neurônios e células da musculatura esquelética e do músculo cardíaco, que são bem diferenciados e raramente se dividem e se reproduzem. • Células progenitoras ou mães, que continuam a se dividir e se reproduzir, como as células do sangue, da pele e do fígado. • Células-tronco indiferenciadas, que podem ser acionadas para entrar no ciclo celular e na produção de um grande número de células progenitoras se necessário. As taxas de reprodução celular variam muito. Os leucócitos e as células que revestem o sistema digestório vivem vários dias e devem ser substituídos constantemente. Na maior parte dos tecidos, a taxa de reprodução de células é grandemente aumentada quando o tecido é danificado ou ocorre perda tecidual. Um sangramento, por exemplo, estimula a reprodução das células formadoras de sangue encontradas na medula óssea. Em alguns tipos de tecido, o programa genético de replicação celular normal é suprimido, mas pode ser reativado em determinadas condições. O fígado, por exemplo, tem uma extensa capacidade de regeneração sob certas condições. 7.2 Diferenciação celular É o processo pelo qual as células emproliferação se tornam progressivamente tipos celulares mais especializados. Esse procedimento resulta em uma célula totalmente diferenciada, adulta, que tem um conjunto de características estruturais, funcionais e tempo de vida específicos. Por exemplo, a hemácia é uma célula terminalmente diferenciada que foi programada para se transformar em um disco côncavo, que funciona como um veículo para o transporte de oxigênio e vive cerca de três meses. Os diversos tipos de células do organismo se originam de uma única célula, o óvulo fertilizado ou ovo. À medida que as células embrionárias aumentam em número e envolvem-se em um processo coordenado de diferenciação necessário para o desenvolvimento de todos os órgãos do corpo. O processo de diferenciação é regulado por uma combinação de processos internos, envolvendo a expressão de genes específicos e estímulos externos fornecidos por células vizinhas, matriz extracelular, exposição a substâncias na circulação materna e fatores de crescimento, citocinas, oxigênio e nutrientes. O que torna as células de um órgão diferentes das células de outro órgão são os genes específicos expressos e o padrão específico de expressão gênica. Embora todas as células tenham o mesmo conjunto de genes, 201 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA poucas são expressas na vida pós-natal. Quando células, como as do embrião em desenvolvimento, se diferenciam e dão origem a outras diferenciadas de um tipo de tecido particular, os genes apropriados são mantidos em um estado ativo, enquanto o restante permanece inativo. Normalmente, a taxa de reprodução de células e o processo de diferenciação celular são controlados com precisão na vida pré-natal e pós-natal, de modo que ambos os mecanismos são interrompidos assim que são formados a quantidade e os tipos de células adequados. O processo de diferenciação ocorre em etapas ordenadas. Seguindo o progresso de cada etapa, o aumento na especialização é trocado por uma perda na capacidade de desenvolver características celulares diferentes e tipos distintos de células. À medida que elas vão se tornando cada vez mais especializadas, os estímulos capazes de induzir à mitose ficam mais limitados. Os neurônios, que são células altamente especializadas, perdem a capacidade de se dividir e se reproduzir quando o desenvolvimento do sistema nervoso está completo. Mais importante ainda, existem pouquíssimas células precursoras remanescentes para orientar sua substituição. No entanto, uma quantidade apropriada delas é gerada no embrião, de modo que a perda de determinada porcentagem de células não afeta a sua população total e suas funções específicas. Em alguns tecidos, como a pele e a mucosa que reveste o sistema digestório, um grau elevado de renovação celular é mantido ao longo da vida. Mesmo nessas populações de células que se renovam continuamente, as mais especializadas são incapazes de divisão. Essas populações dependem de progenitores ou células-mãe da mesma linhagem que ainda não tenham se diferenciado ao ponto de perder a capacidade de se dividir. Essas células são diferenciadas o suficiente de modo que as células-filhas sejam limitadas à mesma linhagem de células, mas não o suficiente para evitar a possibilidade de proliferação ativa. No entanto, suas propriedades de renovação celular são restringidas por fatores de crescimento necessários para que ocorra a divisão celular. Outro tipo de célula, chamada célula-tronco, permanece incompletamente diferenciado ao longo da vida. As estaminais são as células de reserva que permanecem em repouso até que exista a necessidade de reposição celular, caso no qual se dividem, produzindo outras células estaminais e células capazes de realizar as funções de uma célula diferenciada. Quando uma célula-tronco se divide, uma célula-filha retém as características das estaminais e a outra se torna uma célula progenitora, que passa pelo processo que resulta na diferenciação terminal. A progênie de cada célula progenitora segue programas genéticos mais restritos, com as células de diferenciação passando por várias divisões mitóticas durante o processo de transformar-se em um tipo maduro de célula e com cada geração tornando-se mais especializada. Dessa maneira, uma única célula-tronco pode dar origem a muitas células necessárias para a reparação normal de tecidos ou produção de células do sangue. Quando as células que se dividem se tornam totalmente diferenciadas, a taxa de divisão mitótica é reduzida. No sistema imunológico, por exemplo, com o estímulo adequado, os linfócitos B se tornam progressivamente mais diferenciados, à medida que passam por sucessivas divisões mitóticas, até se tornarem células plasmáticas maduras, que já não podem se dividir, mas que são capazes de secretar grandes quantidades de anticorpos. 202 Unidade III As células-tronco têm duas propriedades importantes: autorrenovação e potência. Autorrenovação significa que as células estaminais podem sofrer numerosas divisões mitóticas, mantendo seu estado indiferenciado. O termo potência é utilizado para definir o potencial de diferenciação das células estaminais. Células-tronco totipotentes são as primeiras produzidas por fertilização do óvulo e podem se diferenciar em embrionárias e extraembrionárias. Dão origem a células-tronco pluripotentes, possíveis de se diferenciarem em três camadas germinativas do embrião. Já as multipotentes são, por exemplo, as células estaminais hematopoiéticas, que dão origem a apenas alguns tipos de células. E, finalmente, as células-tronco unipotentes produzem apenas um tipo celular, mas mantêm a propriedade de autorrenovação. A classificação das células-tronco é praticada em duas categorias básicas: embrionárias e adultas (às vezes chamadas somáticas). Células-tronco embrionárias são pluripotentes derivadas da massa celular interna do blastocisto do embrião. Dão origem às três camadas de células germinativas embrionárias. Com o desenvolvimento, o embrião forma células-tronco germinativas para reprodução e células-tronco somáticas para organogênese. Tanto as germinativas quanto as somáticas mantêm a capacidade de autorrenovação. As células-tronco adultas estão localizadas em microambientes especializados, que diferem uns dos outros dependendo do tipo de tecido. Estas têm um papel importante na homeostase, pois contribuem para a regeneração tecidual e a reposição de células perdidas por morte celular. Célula-tronco Célula-tronco Célula progenitora Células-filhas Células diferenciadas Figura 82 – Mecanismo de substituição celular mediado por célulastronco A divisão de uma célula-tronco com um potencial ilimitado para proliferação resulta em uma célula-filha, que mantém as suas características, e uma segunda célula-filha, que se diferencia em progenitoras (ou células-mães), com potencial limitado para diferenciação e proliferação. À medida que as células-filhas da progenitora proliferam, tornam-se mais diferenciadas até alcançarem um estágio em que estão totalmente diferenciadas. 203 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA 7.3 Nomenclatura Na prática, as neoplasias são chamadas de tumores. O termo tumor é mais abrangente, pois significa qualquer lesão expansiva ou intumescimento localizado, podendo ser causado por vários outros processos patológicos (inflamações, hematomas etc.). Nesse caso, a palavra será empregada como sinônimo de neoplasia, ou seja, a lesão expansiva formada por proliferação celular. O vocábulo câncer deriva de cancer/cancri e é a tradução latina da palavra carcinoma (do grego karkinos = crustáceo, caranguejo). Foi usado pela primeira vez por Galeno (aproximadamente 138-201 d.C.) para indicar um tumor maligno da mama noqual as veias superficiais desse órgão eram túrgidas e ramificadas, lembrando as patas de um caranguejo, como geralmente cresce e se espalha a doença, enviando projeções para os tecidos circundantes. O termo generalizou-se e hoje é usado para indicar qualquer neoplasia maligna. Cancerologia ou oncologia é a parte da medicina que estuda os tumores. Cancerígeno ou oncogênico é o estímulo ou o agente causador de câncer. A uniformização da nomenclatura dos tumores é importante para que os dados de frequência, evolução, tratamento e prevenção obtidos em regiões geográficas diferentes possam ser comparados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) edita periodicamente, com a participação de especialistas de muitos países, publicações sobre nomenclatura e classificação dos tumores de diferentes setores do organismo. As neoplasias geralmente recebem o nome por adição do sufixo oma ao tipo de tecido parenquimatoso a partir do qual se origina o crescimento. Desse modo, uma neoplasia benigna do tecido epitelial glandular é chamada de adenoma, enquanto outra do tecido ósseo é nomeada de osteoma. O termo carcinoma é empregado para designar uma neoplasia maligna com origem no tecido epitelial. No caso de uma neoplasia maligna do tecido epitelial glandular, a denominação utilizada é adenocarcinoma. Neoplasias malignas de origem mesenquimal são chamadas sarcomas, por exemplo, osteossarcoma. Papilomas são projeções digitiformes, benignas e de tamanho microscópico ou macroscópico, que crescem em qualquer local. Um pólipo é um crescimento de tecido que se projeta a partir de uma superfície mucosa, como a do intestino. Embora o termo geralmente indique uma neoplasia benigna, algumas neoplasias malignas podem surgir como pólipos. Os adenomatosos são considerados precursores de adenocarcinomas do cólon. Os tumores podem ser classificados de acordo com vários critérios: pelo comportamento clínico (benignos ou malignos), pelo aspecto microscópico (critério histomorfológico) e pela origem da neoplasia (critério histogenético). Nem sempre esses elementos são usados na denominação da lesão, sendo comuns alguns epônimos, como tumor de Wilms, linfoma de Hodgkin, linfoma de Burkitt etc. Dos pontos de vista clínico, evolutivo e de comportamento, as neoplasias são divididas em duas grandes categorias: benignas e malignas. As benignas geralmente não são letais nem causam sérios transtornos para o hospedeiro, por isso, podem evoluir durante muito tempo e não colocam em risco a vida de seu portador. As malignas, ao contrário, em geral têm crescimento rápido, e muitas vezes provocam perturbações homeostáticas graves que acabam levando o indivíduo a óbito. Na grande maioria dos casos, as características macro e microscópicas das neoplasias permitem separá-las em benignas ou malignas. 204 Unidade III 7.4 Neoplasias benignas São compostas de células bem diferenciadas que se assemelham àquelas dos tecidos de origem e se caracterizam por crescimento lento e progressivo, que pode paralisar ou regredir. Por motivos desconhecidos, as neoplasias benignas perderam a capacidade de suprimir o programa genético de proliferação celular, mas mantiveram o programa normal de diferenciação celular. Elas crescem por expansão e permanecem no local de origem, sem a capacidade de se infiltrar, invadir ou criar metástases para locais distantes. Como se expandem lentamente, desenvolvem uma borda de tecido conjuntivo comprimido denominada cápsula fibrosa, que é responsável pela linha nítida de demarcação entre a neoplasia benigna e os tecidos adjacentes, um fator que facilita sua remoção cirúrgica. Geralmente, neoplasias benignas são uma ameaça muito menor à saúde e ao bem-estar do que neoplasias malignas e não causam morte, a menos que venham a interferir nas funções vitais, devido à sua localização anatômica. Por exemplo, uma neoplasia benigna que cresce na cavidade craniana acaba provocando morte por compressão das estruturas cerebrais. Neoplasias benignas também podem causar distúrbios na função de estruturas adjacentes ou distantes, por meio de pressão sobre os tecidos, vasos sanguíneos ou nervos. Ainda, algumas neoplasias benignas são conhecidas por sua capacidade de causar alterações na função orgânica devido à produção anormal de hormônios. Observe o quadro a seguir, que compara neoplasias benignas e malignas. Quadro 5 – Características das neoplasias benignas e malignas Parâmetros observados Benignas Malignas Taxa de crescimento Baixa Alta Figuras de mitose Raras Frequentes Grau de diferenciação Bem diferenciadas Desde bem diferenciadas até anaplásicas Atipias celulares e arquiteturais Raras Frequentes Degeneração/necrose Ausentes Presentes Tipo de crescimento Expansivo Infiltrativo Cápsula Presente Geralmente ausente Limites da lesão Bem definidos Imprecisos Efeitos locais e sistêmicos Geralmente inexpressivos Geralmente graves e às vezes letais Recidiva Em geral ausente Presente Metástase Ausentes Presentes Fonte: Brasileiro Filho (2017, p. 242). Apesar de muitas vezes não representarem grande problema para seus portadores, os tumores benignos têm grande interesse prático por sua frequência e pelas consequências que podem gerar. Seja por seu volume, seja por sua localização ou outras propriedades, tumores benignos podem causar vários transtornos para o paciente (obstrução de órgãos ou estruturas ocas, pressão de órgãos, produção de substâncias em maior quantidade etc.), inclusive sua morte. Nesse sentido, o termo benigno deve ser entendido com reservas. 205 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA As células das neoplasias benignas em geral são bem diferenciadas e podem até ser indistinguíveis das células normais correspondentes. As atipias celulares e arquiteturais são discretas, ou seja, o tumor reproduz bem o tecido que lhe deu origem. Como a taxa de divisão celular é pequena (baixo índice mitótico), em geral, o tumor tem crescimento lento. Nos tumores benignos, as células crescem unidas entre si, não infiltram os tecidos vizinhos e formam uma massa geralmente esférica. Diz-se que esse crescimento é expansivo e provoca compressão das estruturas adjacentes, que podem sofrer hipotrofia. Com frequência, forma-se uma cápsula fibrosa em torno do tumor, resultante da compressão do estroma adjacente. Por isso mesmo, a neoplasia fica mais ou menos bem delimitada e pode ser completamente removida por cirurgia. Em geral, os tumores benignos não recidivam após ressecção cirúrgica. O crescimento lento do tumor permite o desenvolvimento adequado de vasos sanguíneos, assegurando boa nutrição das células. Desse modo, degenerações, necroses e hemorragias são pouco comuns. Por essa razão e pelo fato de não infiltrar ou destruir os tecidos vizinhos, o tumor benigno não leva à ulceração. Além disso, não compromete a nutrição do hospedeiro nem produz substâncias que podem produzir anemia ou caquexia. Há exceções a essas regras. Apesar de bem delimitados, adenomas pleomórficos das glândulas salivares, por exemplo, com frequência recidivam após cirurgia. Por outro lado, células de tumores benignos não se disseminam espontaneamente, mas podem ser levadas à distância. Por traumatismos ou por grande aumento da pressão intracavitária, cistadenomas papilíferos do ovário podem se romper e liberar células ou papilas na cavidade peritoneal. Pelos movimentos das alças intestinais, essas células podem se espalhar e se implantar na superfície da serosa, onde formam colônias tumorais secundárias. Além disso, certos tumores histologicamente benignos podem ser fatais. É o caso de adenomas secretores de substâncias importantes para a homeostase, que, quando em excesso, podem causar a morte (tumores pancreáticos secretores de insulina podem levar à hipoglicemia fatal). Outro exemplo de tumorbiologicamente maligno é o de neoplasias localizadas em sedes vitais, como a cavidade craniana. Mesmo com crescimento lento e sendo circunscritos e desprovidos de capacidade invasora, certos gliomas situados profundamente no encéfalo são de difícil acesso cirúrgico e não podem ser totalmente ressecados; quando atingem certo volume, podem interromper a circulação do liquor, comprimir e deslocar estruturas nervosas vitais e, finalmente, levar o paciente à morte. Por tudo isso, essas neoplasias não podem ser classificadas como benignas ou malignas apenas por seus aspectos morfológicos; componentes da biologia da lesão, seu componente clínico e formas de evolução são também muitas vezes indispensáveis para se rotular um tumor. 7.5 Neoplasias malignas Neoplasias malignas, que invadem e destroem o tecido circundante e se propagam para outras partes do corpo, tendem a crescer rapidamente e se disseminar; têm potencial para causar a morte. Devido à sua rápida taxa de crescimento, as neoplasias malignas podem comprimir vasos sanguíneos e comprometer o suprimento sanguíneo, causando isquemia e lesão tecidual. Algumas doenças malignas podem secretar hormônios ou citocinas, liberar enzimas e toxinas ou induzir uma resposta inflamatória prejudicial ao tecido normal, tanto quanto a própria neoplasia. Diversas 206 Unidade III condições malignas secretam fator de VEGF, que aumenta o suprimento sanguíneo para a neoplasia e facilita um crescimento mais rápido. Existem dois tipos de VEGF: VEGF1, usado no desenvolvimento embrionário, mas também pode ser encontrado em alguns tipos de metástases cancerígenas; VEGF2, o mais importante entre os receptores associados à angiogênese patológica e linfangiogênese com neoplasias. Existem duas categorias de neoplasias malignas: as sólidas e os cânceres hematológicos. As neoplasias sólidas, inicialmente, se mantêm confinadas a um tecido ou órgão específico. À medida que progride o seu crescimento quando primária, as células se separam da massa neoplásica original, invadem o tecido circundante e penetram nos sistemas de vasos sanguíneos e linfáticos para se disseminarem para locais distantes, em um processo denominado metástase. O câncer hematológico envolve células normalmente encontradas no sangue e na linfa, tornando-os condições disseminadas desde o início. Carcinoma in situ é uma lesão pré-invasiva localizada. Como exemplo, nos casos de carcinoma ductal in situ da mama, as células ainda não atravessaram a membrana basal. Dependendo de sua localização, lesões assim em geral podem ser removidas cirurgicamente, ou tratadas, de modo que a probabilidade de recorrência é pequena. Por exemplo, o carcinoma in situ do colo do útero é essencialmente 100% curável. Observação Um tumor é identificado como maligno quando a invasão é sucedida por implantação de massas tumorais adicionais em sítios distais. O tecido ou órgão do qual o tumor se originou nem sempre é aparente com base nas propriedades morfológicas. Nesses casos, a microscopia eletrônica ou o uso de marcadores tumorais imunoistoquímicos podem auxiliar na detecção da origem correta de um tumor. Figura 83 – Câncer metastático: o mesentério associado a uma parte do intestino delgado mostra pequenos nódulos de carcinoma metastático do ovário 207 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Figura 84 – Carcinoma in situ: o colo do útero apresenta células neoplásicas escamosas que ocupam todo o epitélio, embora confinadas à mucosa pela membrana basal intacta subjacente 7.6 Invasão e metástase Ao contrário de neoplasias benignas, que crescem por expansão e geralmente são encapsuladas, o câncer se dissemina por invasão direta e extensão, semeadura de células cancerígenas em cavidades orgânicas e metástase através de vasos sanguíneos ou linfáticos. A maioria dos cânceres sintetiza e secreta enzimas que degradam proteínas e contribuem para infiltração, invasão e penetração nos tecidos circundantes. A falta de uma linha de demarcação nítida que separe o câncer do tecido circundante torna a retirada cirúrgica completa de uma neoplasia maligna muito complexa. Muitas vezes, o cirurgião precisa retirar porções de tecido aparentemente normal, pois fazem fronteira com a neoplasia, para que o patologista possa estabelecer as margens livres de câncer em torno da neoplasia removida e garantir que o tecido restante seja livre de câncer. A semeadura de células cancerígenas em cavidades orgânicas ocorre quando uma neoplasia lança células nesses espaços ocos. Na maioria das vezes, dá-se o envolvimento da cavidade peritoneal, mas outros espaços, como a cavidade pleural, a cavidade pericardial e os espaços articulares, também podem ser comprometidos. A semeadura para a peritoneal é particularmente comum em casos de câncer de ovário. De modo semelhante ao que se verifica na cultura de tecidos, as neoplasias nesses locais crescem em massas e estão associadas ao acúmulo de líquido (por exemplo, ascite e derrame pleural). 208 Unidade III A semeadura de um câncer em outras áreas do corpo frequentemente é resultado de uma complicação pós-operatória, depois da remoção da neoplasia. O termo metástase é empregado para descrever o desenvolvimento de uma neoplasia secundária, em uma região distante da primária. Como neoplasias metastáticas retêm, com frequência, muitas características da primária da qual se originaram, por vezes é possível determinar seu local primário a partir das suas características celulares. Algumas neoplasias tendem a apresentar metástase no início de seu desenvolvimento, enquanto outras não o fazem até mais tarde no curso da doença. Às vezes, uma neoplasia metastática será encontrada muito antes que a primária se torne clinicamente detectável. As neoplasias malignas do rim, por exemplo, podem permanecer totalmente indetectáveis e assintomáticas até que uma lesão metastática seja encontrada no pulmão. 7.7 Vias de disseminação A metástase ocorre através dos canais linfáticos (disseminação linfática) e vasos sanguíneos (disseminação hematogênica). Em muitos tipos de câncer, a primeira evidência de doença disseminada é a existência de células neoplásicas nos linfonodos que drenam a área da neoplasia. Quando a metástase ocorre através dos vasos linfáticos, as células neoplásicas se alojam inicialmente no primeiro linfonodo que recebe a drenagem da área da neoplasia. Depois de ali instaladas, as células podem morrer devido à falta de um ambiente adequado, ou crescer e se transformar em uma massa discernível, ou permanecer adormecidas, por causas desconhecidas. Quando sobrevivem e crescem, as células cancerígenas podem se disseminar a partir de linfonodos mais distantes para o ducto torácico e, desse modo, ter acesso à vasculatura. O termo linfonodo sentinela é empregado para descrever o primeiro linfonodo que recebe a drenagem da neoplasia primária. Como a metástase inicial no câncer de mama é quase sempre linfática, a disseminação linfática e, portanto, a expansão da doença pode ser determinada por meio do mapeamento linfático e da biópsia do linfonodo sentinela. Isso é feito pela injeção de um marcador radioativo e/ou corante azul na neoplasia, para determinar qual é o primeiro linfonodo no percurso de drenagem linfática do câncer. Uma vez identificado o linfonodo sentinela, ele é examinado para determinar se há ou não células cancerígenas. O procedimento também é utilizado para mapear a propagação de melanoma e outros tipos de câncer que têm disseminação metastática inicial através do sistema linfático. Nos casos em que ocorre disseminação hematológica, as células cancerígenas transmitidas pelo sangue podem entrar no fluxo venoso que drena o local da neoplasia primária. As células cancerígenas também podem penetraros vasos sanguíneos associados à neoplasia, se infiltrando nela ou sendo encontrados em sua periferia. Antes de entrar na circulação geral, o sangue venoso proveniente de sistema digestório, pâncreas e baço é encaminhado através da veia porta para o fígado. Portanto, o fígado é um local comum para metástase de cânceres que se originam nesses órgãos. Embora o local de propagação hematológica geralmente esteja relacionado com a drenagem vascular da neoplasia primária, algumas desenvolvem metástases para áreas distantes e independentes. Uma explicação para isso é que células de diferentes neoplasias tendem a apresentar metástase para órgãos-alvo específicos, que proporcionam microambientes adequados por conterem substâncias, como 209 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA citocinas, ou fatores de crescimento necessários à sua sobrevivência. Por exemplo, a transferrina, uma substância promotora do crescimento, que é isolada de tecido pulmonar, estimula o crescimento de células malignas que tipicamente fazem metástase para os pulmões. Outros órgãos considerados locais preferenciais para metástases contêm citocinas e fatores de crescimento específicos, além de outras características microambientais que facilitam a sobrevivência e o crescimento da neoplasia metastática. A natureza seletiva da disseminação hematológica indica que a metástase é um processo minuciosamente orquestrado, que inclui várias etapas e apenas um pequeno clone de células selecionadas de câncer tem a combinação certa de produtos genéticos para executar todos os passos necessários para o estabelecimento de uma neoplasia secundária. Para formar metástases, uma célula neoplásica deve ser capaz de se separar da neoplasia primária, invadir a matriz extracelular circundante, ter acesso a um vaso sanguíneo, sobreviver à sua passagem pela corrente sanguínea e emergir em um local favorável, invadir o tecido circundante, começar a crescer e estabelecer suprimento sanguíneo. Liberação de enzimas proteolíticas Repetição da ligação e dissolução da matriz extracelular Vaso sanguíneo Vaso linfático As células neoplásicas fazem metástase por meio de vasos sanguíneos ou linfáticos Figura 85 – Mecanismos de metástase neoplásica: etapas pelas quais uma neoplasia maligna penetra a membrana basal e invade o ambiente extracelular; primeiramente, ela adquire a capacidade de se ligar aos componentes da matriz extracelular; diversas moléculas de adesão fazem a mediação dessa ligação, em seguida, são liberadas enzimas proteolíticas das células neoplásicas, e a matriz extracelular sofre degradação; o câncer invasor se move através do meio extracelular e, em seguida, penetra nos vasos sanguíneos e linfáticos pelos mesmos mecanismos 210 Unidade III 7.8 Genética molecular do câncer O câncer tem uma base genética. As propriedades que apoiam essa conclusão incluem: • predisposição genética; • presença de anormalidades cromossômicas em células neoplásicas; • correlação entre comprometimento do reparo de DNA e ocorrência de câncer; • associação íntima entre carcinogênese e mutagênese. O crescimento de células malignas decorre da aquisição sequencial de mutações somáticas em genes que controlam o crescimento celular, a diferenciação, a apoptose e a manutenção da integridade do genoma. Estima-se que sejam necessários pelo menos quatro a sete genes mutantes para a transformação de uma célula normal em célula maligna, e esse processo de várias etapas pode ocorrer durante um período de anos. Três classes principais de genes sofrem mutação em diferentes cânceres: • Proto-oncogenes, que regulam crescimento, diferenciação e sobrevida celulares normais. • Genes supressores de tumor, cujos produtos inibem a proliferação celular. • Genes de reparação de não equivalência de DNA, que mantêm a fidelidade da replicação do DNA. Os oncogenes são versões mutantes de proto-oncogenes, os genes normais envolvidos na regulação do crescimento. O conceito de oncogenes derivava anteriormente de estudos de vírus tumorais de animais (retrovírus transformadores), que conseguiam conferir um fenótipo neoplásico a células infectadas por vírus. Os oncogenes virais transformadores foram denominados genes v-onc, e descobriu-se que apresentam homologia com sequências de DNA eucariótico denominadas proto-oncogenes; os que mostraram a capacidade de sofrer mutação são chamados oncogenes celulares e designados pelo prefixo “c” (por exemplo, c-myc e c-abl). A discussão anterior sobre oncogenes descreve a geração de caracteres malignos por meio da ativação de genes que promovem o crescimento celular. No entanto, a malignidade também pode decorrer da inativação de genes que normalmente suprimem ou que regulam negativamente o crescimento celular, chamados de genes supressores de tumor. Dois desses são os genes do retinoblastoma (Rb). O retinoblastoma é um raro câncer intraocular da infância atribuído à inativação do gene Rb. Cerca de 40% dos casos estão associados a uma mutação na linhagem germinativa (retinoblastoma hereditário). Vários genes vêm sendo relacionados como uma predisposição hereditária a câncer, por exemplo: gene RB associado ao retinoblastoma, gene p161NK4A associado à predisposição para melanoma, gene APC com predisposição genética ao desenvolvimento de polipose adenomatosa familiar e câncer colorretal, genes NF1 e NF2 com o desenvolvimento de neurofibromatoses, genes BRCA1 e BRCA2 com tumores de mama e ovário, entre outros. 211 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA 7.9 Principais marcadores tumorais Marcadores tumorais são macromoléculas expressas pelos tumores, ou ainda presentes na circulação sanguínea e/ou nos líquidos biológicos que apontam para o surgimento de células neoplásicas. Além de serem moléculas expressas pelos tumores, tais marcadores podem vir a ser produzidos pelo organismo em resposta a eles. Em sua maioria, os marcadores tumorais, são estruturas proteicas ou derivadas, podem ainda ser hormônios ou enzimas. Eles são importantes para efeito de diagnóstico, prognóstico e tratamento, podendo ser mensurados e a partir dos valores obtidos é feita a estimativa do estadiamento, agravamento, ou seja, a evolução clínica do paciente. Destacaremos a seguir os principais marcadores tumorais e em quais situações normalmente eles são encontrados. Alfafetoproteína (AFP) A alfafetoproteína (proteína frequentemente encontrada na circulação e de produção hepática) pode apresentar-se em altas concentrações em pacientes portadores de tumores gastrintestinais, hepatite, cirrose e hepatocarcinoma. Valores em geral acima de 500 ng/mL são altamente sugestivos de malignidade, e números acima de 1000 ng/mL são indicativos de presença de neoplasia. Antígeno mucoide associado ao carcinoma (MCA) Apresenta-se como uma glicoproteína importante no acompanhamento do carcinoma mamário. Sua especificidade a depender da metodologia empregada pode variar de 87 a 90%, o que o habilita como marcador de evolução clínica. Cromogranina A Presente em vários tecidos neuroendócrinos e também conhecida como secretogranina I, vem sendo utilizada como um eficiente marcador em neoplasias endócrinas, síndrome carcinoide, carcinoma medular da tireoide, adenoma hipofisário, carcinoma de células das ilhotas do pâncreas, além do carcinoma pulmonar de células pequenas. Antígeno tumoral da bexiga (BTA) Raramente expressa por células normais, a proteína BTA é produzida sobretudo por tumores uroteliais da bexiga, cuja sensibilidade pode alcançar, a depender da metodologia utilizada, em até 100%. Eventualmente, pode-se ter resultados falsamente positivos em pacientes que apresentem quadros de cálculos renais ou litíase urinária, ou utilizem, por exemplo, de sonda vesical de demora. 212Unidade III Fosfatase ácida prostática (PAP) Olhando em retrospecto, a fosfatase ácida prostática (PAP) foi o primeiro marcador a ser utilizado no diagnóstico do câncer de próstata. Infelizmente, seus valores só aparecem mais elevados nos estágios mais avançados da doença, não permitindo sua utilização na detecção precoce de alterações ou tumorais em estágios iniciais. Além disso, a elevação de PAP pode ocorrer em situações outras que não envolvam neoplasia, como na osteoporose e doença de Paget e hiperplasia prostática benigna. Gonadotrofina coriônica Humana β-HCG A gonadotrofina coriônica humana é uma glicoproteína que habitualmente é utilizada como marcador de gravidez. No entanto, é sabido que ela pode estar presente nos de células germinativas de testículo e de ovários, podendo nestes casos ser utilizada no diagnóstico e monitorização clínica. Antígeno carcinoembrionário (CEA) Na presença de neoplasia maligna, podem ser mensurados altos níveis de CEA associados sobretudo com os casos de carcinoma colorretal metastático. Também vêm sendo reportados níveis elevados associados a neoplasias de pulmão, pâncreas, trato gastrintestinal, trato biliar, tireoide e em até 50% dos pacientes com neoplasia de mama. Vale destacar que os níveis de CEA também poderão estar elevados em situações distintas das neoplasias como em indivíduos com cirrose hepática, insuficiência renal e doença de Crohn. Em suma, independentemente de se tratar ou não de processo neoplásico à detecção em altos níveis de CEA, merece ser melhor investigada. Antígeno prostático específico (PSA) O PSA é secretado normalmente no líquido seminal. Em pacientes com números de PSA acima de 10 ng/mL, o valor preditivo positivo para o adoecimento alcança facilmente a marca de 60%. No entanto, seu valor diagnóstico torna-se ainda maior se tal resultado for combinado com a avaliação realizada a partir do toque retal. Apesar da insistente resistência por parte de um número ainda significativo de pacientes ao exame de toque retal, inúmeros estudos apontam que de 18 a 20% dos tumores de próstata não seriam detectados sem o toque retal e que a combinação entre PSA e toque retal é extremamente favorável a um diagnóstico precoce para um prognóstico favorável. Calcitonina A calcitonina é um hormônio secretado pelas células da tiroide, por essa razão é utilizada como marcador de carcinoma medular da tireoide. Em indivíduos com histórico familiar, apresenta uma sensibilidade para detecção precoce em cerca de 90% dos pacientes. Outras doenças também podem estar associadas com a elevação dos níveis de calcitonina, entre as quais citamos insuficiência renal crônica, cirrose alcoólica e hiperparatireoidismo. 213 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA CA 125 O CA 125 é uma glicoproteína a qual vem sendo utilizada no acompanhamento dos casos de câncer epitelial do ovário. Pode alcançar até 85% de sensibilidade para diagnóstico, variando de acordo com o estadiamento da doença. A elevação de CA 125 pode ocorrer de forma extremamente precoce, variando em até 12 meses antes do aparecimento de qualquer sinal e/ou sintoma que evidenciaria clinicamente uma recorrência. O CA 125 também pode ser detectado em outras neoplasias; no carcinoma de estômago, por exemplo, a presença elevada de CA 125 combinada com a também excessiva concentração de CEA indica mal prognóstico e alta taxa de agressividade. CA 15.3 e CA 27.29 Considerado um marcador ultrassensível do câncer de mama, apresenta sensibilidade superior ao CEA e se associa de forma diretamente proporcional à elevação com a evolução do estadiamento da doença, variando de 5% no estádio I a 90% no estádio IV, sendo muito utilizado no diagnóstico sobretudo de recidivas. O CA 27.29 comparado ao CA 15.3 também é comumente empregado nas suspeitas de recorrência de tumores de mama; no entanto, é comum apresentar-se em níveis elevados de forma mais precoce que o CA15,3, o que acaba permitindo uma avaliação mais efetiva da situação de recorrência. CA 19.9 e CA 50 Estes marcadores tumorais apresentam-se significativamente elevados e, por isso, são indicados no diagnóstico e na avaliação do estadiamento e tratamento nos casos de câncer de pâncreas, trato gastrintestinal e do trato biliar, podendo também ser usado nas situações de câncer colorretal. 7.10 Graduação e estadiamento de cânceres Na tentativa de prognosticar o comportamento de um tumor e de estabelecer critérios para o tratamento, muitos cânceres são classificados por grau e estágio. As opções de cirurgia e tratamento são influenciadas pela fase, que reflete a extensão da disseminação, e pelo grau, que representa as características celulares. A graduação citológica e histológica tem por base o grau de anaplasia e o número de células em proliferação. Os esquemas de graduação classificam os tumores em três ou quatro graus. Aqueles de grau baixo são bem diferenciados, enquanto os de grau alto são anaplásicos. A correlação geral entre grau e comportamento biológico não é invariável. Os critérios habitualmente empregados são: tamanho do tumor, extensão de crescimento local, presença de metástases em linfonodos e de metástases distantes. Esses critérios foram codificados no sistema internacional de estadiamento de câncer TNM: • T: refere-se ao tamanho do tumor primário. 214 Unidade III • N: metástases em linfonodos regionais. • M: presença e extensão de metástases distantes. De acordo com as estatísticas disponíveis, o câncer afeta parcela expressiva da população mundial e é uma das principais causas de morte. Apesar do declínio do número de óbitos para alguns tipos da doença (linfomas, certas neoplasias da infância etc.), a taxa de mortalidade global da doença tem aumentado nas últimas décadas. Segundo estimativas de 2017 da Organização Mundial da Saúde (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2017), cerca de 8,8 milhões de pessoas morrem anualmente por câncer em todo o mundo. Dado o impacto que tudo isso tem na população, é muito natural que sejam enormes os esforços para encontrar formas mais eficazes de enfrentar a doença. As frentes mais importantes nessa batalha são o aprimoramento do diagnóstico (a detecção precoce permite maior chance de controle da doença), novas modalidades de tratamento (procedimentos menos agressivos e dirigidos essencialmente às células malignas) e medidas preventivas aplicáveis à população (para cuja adoção é essencial conhecer as causas e os mecanismos de aparecimento do câncer). Nas últimas três décadas, houve formidável progresso no conhecimento e na abordagem dessa enfermidade, graças, em boa parte, aos grandes investimentos feitos por muitos países em pesquisa básica e aplicada em oncologia. 7.11 Principais neoplasias Além do histórico familiar e de fatores genéticos associados ao aparecimento de neoplasias, é importante citar que inúmeros agentes muitas vezes encontrados no meio ambiente de diferentes formas também podem contribuir para o aparecimento de neoplasias, entre eles podemos citar: • arsênico (associado a câncer de pulmão, pele e hemangiossarcomas); • asbesto (pulmão, trato gastrintestinal, sobretudo estômago); • benzeno (associado ao aparecimento de leucemias); • berilo, cromo e radônio (pulmão); • cádmio (favorecimento ao desenvolvimento de Ca de próstata); • cloreto de vinila (com angiossarcomas e Ca de fígado). Apesar de diversas dessas substâncias serem por muitos desconhecidas, elas são frequentemente encontradas como componentes de aparelhos eletroeletrônicos, ladrilhos, papéis de revestimento, roupas impermeáveis, combustíveis para uso aeroespacial, adesivos, solventes, baterias, tintas, pigmentos, conservantes, refrigerante, entre outros. 215 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA A seguir, discutiremosas características gerais de forma sucinta dos principais tipos de neoplasias. Câncer de mama É o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma. Estima-se que exista cerca de 25% de novos casos a cada ano. É considerado um tipo raro antes dos 35 anos; acima dessa idade, sua incidência cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos. Também acomete homens, porém é raro, apenas 1% do total de casos. Ele consiste em um crescimento descontrolado de células da mama que adquiriram características anormais, causadas por uma ou mais mutações no material genético das células destas estruturas: • Células dos lóbulos (produtores do leite). • Células dos ductos lactíferos (por onde é drenado o leite). Entre os elementos de risco podemos destacar os fatores modificáveis e os inevitáveis. • Fatores de risco modificáveis: — Peso corpóreo: quando o índice de massa corpórea ultrapassa de 35. — Dieta: o consumo exagerado de alimentos gordurosos aumenta o risco 1,5 vezes. — Consumo de álcool: quando excessivo, aumenta 1,3 vezes. — Tabagismo: se a mulher fumar mais de um maço por dia durante 10 anos, aumenta em 60% a chance. — Ter recebido radioterapia no tecido mamário para tratamento de outro tipo de câncer. — Uso contínuo de contraceptivos orais: aumenta 1,24 vezes. — Reposição hormonal por mais de dez anos: aumenta 1,35 vezes. • Fatores de risco inevitáveis: — Idade: 75% a 80% dos casos ocorrem em mulheres com mais de 50 anos. — História familiar. — Menarca: menstruar pela primeira vez antes dos 11 anos triplica o risco. — Menopausa: parar de menstruar depois dos 54 anos duplica o risco. 216 Unidade III — Primeiro filho: primeira gravidez depois dos 40 anos triplica o risco. — Biópsia prévia em nódulo mamário benigno com resultado de hiperplasia atípica: aumenta de 4 a 5 vezes o risco. — Já ter tido câncer de mama. Os principais tipos de câncer de mama são: • Carcinoma ductal in situ (CDIS): desenvolve-se nas células dos ductos mamários (ductos por onde se drena o leite durante a amamentação) e, por ocasião do diagnóstico, ainda não invadiu células adjacentes aos ductos. • Carcinoma ductal invasivo: é o tipo mais comum de câncer de mama invasivo, representando aproximadamente 80% dos casos. Desenvolve-se nas células dos ductos mamários, mas já invadiu células adjacentes aos ductos quando diagnosticado. • Carcinoma lobular in situ (CLIS): desenvolve-se nas células dos lóbulos mamários (onde é produzido o leite) e, por ocasião do diagnóstico, não há sinais de que tenha invadido células adjacentes. • Carcinoma lobular invasivo: é o segundo tipo mais comum de câncer de mama invasivo, representando aproximadamente 10% dos casos. Desenvolve-se nos lóbulos mamários, mas já invadiu células adjacentes. A) B) Figura 86 – Carcinoma ductal invasivo: A) Imagem radiográfica; B) Aspecto macroscópco 217 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Saiba mais É possível obter informações adicionais sobre câncer de mama no site a seguir: INCA. O desafio feminino do câncer. Rede Câncer, Rio de Janeiro, n. 9, p. 20-25, nov. 2009. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu. sti.inca.local/files//media/document//rede-cancer-ed09-capa.pdf. Acesso em: 24 jan. 2020. Câncer de próstata No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele). Em valores absolutos, é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de 10% do total, e, mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade. O câncer é responsável por cerca de 13% de todas as causas de óbito no mundo: mais de 7 milhões de pessoas morrem anualmente da doença, e a explicação desse percentual tão alto de óbitos por câncer está diretamente relacionada à maior exposição dos indivíduos a fatores de risco cancerígenos. O câncer de próstata caracteriza-se pelo crescimento e aumento da próstata e com jato e intensidade diminuído da urina. Influências genéticas, história sexual, exposição a patógenos, substâncias químicas industriais, urbanização, hábitos alimentares, metabolismo hormonal, além da idade e do estilo de vida, são fatores de risco para início da doença. Uretra prostática Carcinoma Figura 87 – Carcinoma de próstata 218 Unidade III Câncer de intestino colorretal O câncer colorretal acomete o segmento do intestino grosso (o cólon) e o reto. É tratável e, na maioria dos casos, curável, ao ser detectado precocemente, quando ainda não se espalhou para outros órgãos. Grande parte desses tumores se inicia a partir de pólipos, lesões benignas que podem crescer na parede interna do intestino grosso. Uma maneira de prevenir o aparecimento dos tumores seria a detecção e a remoção dos pólipos antes de se tornarem malignos. O câncer colorretal é um dos mais frequentes na população brasileira. Nas mulheres, é o 2º mais comum, por exemplo, com 17.620 casos estimados em 2016, e nos homens, ocupa a 3ª posição, com 16.660 novos casos. Entre os principais fatores de risco para o câncer colorretal, podemos citar: • idade acima de 50 anos; • história familiar de câncer colorretal; • pólipos intestinais (adenomatosos); • história pessoal de outros tipos de câncer, como ovário, endométrio (útero) ou mama; • doenças inflamatórias do intestino (retocolite ulcerativa e doença de Crohn); • obesidade; • sedentarismo; • alcoolismo; • tabagismo. Os sinais e sintomas do câncer colorretal dependem da localização do tumor no intestino e apresentam-se como dor ou desconforto abdominal com aparecimento de cólicas frequentes; excesso de gases; diarreia ou constipação intestinal; sangramento anal ou melena (sangramento nas fezes); sensação de evacuação incompleta; dor ao evacuar; fraqueza. 219 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Figura 88 – Câncer retal ulcerado circunferencial Câncer de estômago O câncer de estômago é a quarta causa de mortalidade no mundo e a segunda em óbitos por câncer. A expectativa para 2019 era de 13.540 novos casos em homens e 7.750 em mulheres, sendo 13 casos novos a cada 100 mil homens e 7 para cada 100 mil mulheres. Possui alta mortalidade, 2 a 3 vezes maior em países em desenvolvimento. A sobrevida em cinco anos é muito baixa e não ultrapassa os 20% em todo o mundo, sendo ainda mais baixo em países com baixa cobertura de saúde. No Japão, a sobrevida atualmente chega à casa dos 60% por conta de programas de rastreamento populacional para câncer de estômago e diagnóstico precoce (SILBERNAGL; LANG, 2016, p. 81). Sua causa é multivariada, porém os componentes de risco conhecidos podem ser de origem infecciosa, como a infecção gástrica pelo Helicobacter pylori e pelo vírus Epstein-Barr. Fatores não infecciosos como idade avançada, dieta pobre em produtos de origem vegetal e rica em sal, consumo excessivo de alimentos com conservantes, tabagismo e associação com doenças como gastrite crônica atrófica, metaplasia intestinal da mucosa gástrica, anemia perniciosa, pólipo adenomatoso do estômago, gastrite hipertrófica e história familiar da doença também estão relacionados com o desenvolvimento da doença. A prevenção do câncer de estômago está associada a melhorias no saneamento básico, mudanças no estilo de vida da população, maior ingestão de frutas, legumes e verduras, redução do uso do sal, melhores métodos de conservação alimentar, não uso do tabaco e manutenção do peso corporal. 220 Unidade III Câncer de pulmão O câncer do pulmão – ou neoplasia maligna do pulmão – é um dos tipos mais comuns e graves de câncer, apresentando aumento de 2% por ano na sua incidência mundial. A última estimativa apontou incidência de 1,82 milhão de casos novos de câncer de pulmão no ano de 2012, sendo 1,24 milhão em homens e 583mil em mulheres. Em 90% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco. Entre os fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão, apresentam-se; • tabagismo (fumantes ativos e passivos); • radiação; • fatores genéticos; • exposição a agentes químicos (arsênico, amianto, asbesto, berílio, cromo, radônio, níquel, cádmio, cloreto de vinila); • doenças pulmonares. Na prática clínica, os carcinomas de pulmão são classificados em carcinoma de pequenas células (linfocitoide – oat cell –, intermediário e combinado) e carcinoma de células não pequenas (carcinoma de células escamosas ou carcinoma espinocelular, adenocarcinoma e carcinoma indiferenciado de grandes células). Figura 89 – Carcinoma broncogênico 221 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Câncer de pele O câncer de pele pode ser classificado como carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma. O carcinoma basocelular (CBC) normalmente localiza-se na região da face, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. O principal fator de risco para seu desenvolvimento é a exposição solar. Caracteriza-se por lesões de aspecto papular, de coloração avermelhada, brilhosa, com crosta central e que pode sangrar com facilidade. As células acometidas em geral são da camada basal da epiderme, apresenta baixa letalidade e cura-se com relativa frequência desde que diagnosticado de forma precoce. O carcinoma espinocelular (CEC) aparece nas mesmas áreas que o CBC; normalmente seus fatores de risco incluem além da exposição solar, o uso prolongado de imunossupressores e radiação. As lesões sugestivas de CEC surgem com o aspecto de ferida descamativa de coloração avermelhada que não cicatriza e tem alta probabilidade de sangrar. As células escamosas que constituem a camada externa da epiderme são as mais atingidas. A evolução clínica do paciente será boa se diagnosticada de forma precoce; no entanto, vale ressaltar que o CEC apresenta um maior risco de invasão de tecido adiposo e linfonodos, favorecendo as metástases. O melanoma surge em qualquer área exposta ao sol, e além da óbvia exposição solar como fator de risco, aponta-se a maior predisposição de indivíduos com pele clara e histórico familiar da doença, indicando um componente hereditário importante ao desenvolvimento do melanoma. Normalmente, o melanoma manifesta-se pelo surgimento de pintas de coloração enegrecida ou acastanhada de formato e tamanhos variados, as quais ainda podem apresentar sangramento. No caso do melanoma, os melanócitos são as células atingidas e o prognóstico é o pior de todos, em razão da alta probabilidade de metástases. No entanto, como nas demais situações descritas, caso seja diagnosticado de forma precoce, existe uma maior possibilidade de cura. Figura 90 – Carcinoma basocelular 222 Unidade III Saiba mais É possível obter dados e informações adicionais sobre câncer de pele através do artigo a seguir: SILVA, T. D. N. C. et al. Estudo retrospectivo de aspectos epidemiológicos, clínicos e histológicos na neoplasia de pele não melanoma. Revista Brasileira de Cirurgia da Cabeça e Pescoço, v. 45, n. 1, p. 1-6, jan./fev./mar. 2016. Disponível em: https://www.sbccp.org.br/wp-content/uploads/2016/07/ Rev-SBCCP-45-1-artigo-01.pdf. Acesso em: 4 fev. 2020. Exemplo de aplicação Cada vez mais avançamos no desenvolvimento de novas propostas terapêuticas no combate ao câncer, mas é a profilaxia o que está sendo feito para evitarmos o surgimento de neoplasias? Você já ouviu falar em vacinas que previnem o câncer? Pesquise e reflita sobre o assunto. Câncer de pâncreas Os tumores de pâncreas mais comumente diagnosticados no Brasil são os adenocarcinomas, de modo usual localizados no que se denomina cabeça do pâncreas. A alta taxa de letalidade associada ao câncer de pâncreas se deve à dificuldade para sua detecção, por vezes sendo diagnosticado de forma bastante tardia. Estima-se que no Brasil, cerca de 2% dos pacientes com câncer apresentem câncer de pâncreas e que ele seja o responsável por mais de 4% de todas as mortes por câncer relatadas. Não é usual o surgimento desse tipo de câncer antes dos 30 anos de idade, tornando-se mais comum na fase senil, ou seja, a partir dos 60 anos (a frequência pode variar de acordo com o histórico familiar para a doença). Entre os sinais e sintomas mais comuns, destaca-se a icterícia (amarelamento da pele e das mucosas) com o surgimento de fezes de cor de argila em razão de obstrução ducto biliar, náuseas, vômitos, anorexia, mal-estar e sangramento nas fezes por ulceração no trato gastrintestinal ou na ampola de Vater (região de união entre ducto pancreático e ducto colédoco comum). Para o diagnóstico, recomenda-se laparotomia com biópsia, ultrassonografia, provas de coagulação, provas enzimáticas para avaliação de fosfatase alcalina, exames de glicemia e marcadores tumorais específicos, além de outros exames de imagem e laboratoriais. 223 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Figura 91 – Carcinoma de cabeça de pâncreas Lembrete Existem evidências de que os benefícios da ingestão de frutas, legumes e verduras na prevenção do câncer superam os malefícios do consumo desses alimentos com resíduos de agrotóxicos. Previna-se também mantendo atividades físicas, evitando uso de álcool e o tabagismo. 8 ANATOMIA PATOLÓGICA 8.1 Conceitos gerais O exame anatomopatológico fundamenta-se nas avaliações macroscópica e microscópica de tecidos e células extraídas de um paciente. Ele é realizado por médicos e outros profissionais, como biomédicos e farmacêuticos bioquímicos, desde que devidamente habilitados, a fim de se estabelecer o diagnóstico de inúmeras patologias e o estadiamento de inúmeros tipos de tumores. A obtenção de amostras para o exame anatomopatológico pode ser efetuada através da realização de: • biópsia; • punção aspirativa com agulha fina (Paaf); • exérese; • necrópsia. 224 Unidade III Biópsia O termo biópsia vem do grego bios, termo que significa vida, e opis, que quer dizer aparência. O método consiste na remoção de um pequeno fragmento de tecido do organismo vivo. Após esta remoção, o material extraído deve ser cuidadosamente acondicionado em recipiente apropriado contendo fomol salina ou tamponado a 10%, devidamente identificado e posteriormente enviado para a anatomia patológica. Além de tecidos, líquidos biológicos, secreções e outros materiais, podem vir a ser estudados todos os órgãos a serem biopsiados, como músculos, pele, ossos, entre outros. Muitos exames são capazes de promover uma visão morfofuncional dos órgãos, como os de imagem e os exames bioquímicos que podem fornecer informações da fisiologia e dos processos metabólicos dos órgãos envolvidos; no entanto, a avaliação morfofuncional das células e dos tecidos depende de uma avaliação microscópica das amostras. A biópsia pode vir a ser realizada para o diagnóstico tanto de processos simples como feridas, lesões que não cicatrizam, verrugas, bem como nos casos suspeitos de câncer. No estudo de doenças infecciosas ela pode ser decisiva a fim de determinar o agente causal e nos casos citados de câncer pode ser fundamental no objetivo de avaliar o estadiamento e a agressividade do tumor. De forma geral, as biópsias são procedimentos simples e não demandam muitas preocupações. Na maioria das vezes, não necessitam de hospitalização sendo realizadas de forma ambulatorial; no entanto, pelo excesso de manipulação das lesões ou do órgão afetado podem ocorrer processos hemorrágicos, infecção e formação de fístulas. São descritos vários tipos de biópsias e a escolha depende do tipo de lesão, órgão afetado, hipótese diagnóstica e condição de saúde geral do paciente a ser submetido ao procedimento. Dessaforma, as biópsias podem ser: internas, externas, perioperatórias, excisionais, incisionais e por aspiração. • Biópsias internas: são realizadas por incisão ou punção. A punção pode ser executada às cegas ou ecoguiadas, por ultrassonografia, endoscopia ou broncoscopia. • Biópsias externas: são praticadas quando há lesões presentes nas camadas superficiais da pele e das mucosas. • Biópsias perioperatórias: são executadas durante procedimentos cirúrgicos planejados. • Biópsias excisionais: são aquelas nas quais se remove por completo a lesão. • Biópsias incisionais: são responsáveis pela remoção de parte da lesão. • Biópsias por aspiração: ocorrem quando o material a ser examinado é aspirado através de agulha ou instrumento adequado para tal. 225 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Punção aspirativa com agulha fina (Paaf) Punção aspirativa por agulha fina (Paaf) consiste na retirada de pequena parte de tecido por método aspirativo com posterior coloração do material aspirado para microscopia. Entre as inúmeras aplicações do método, destaca-se a utilização no diagnóstico de nódulos tireoidianos, reduzindo a necessidade de cirurgia em mais de 50% dos casos. A Paaf é indicada para pacientes com tumoração cervical indefinida e não deve ser entendida como um teste de screening, mas de diagnóstico. São raras as complicações associadas, normalmente abaixo de 1%, podendo por esta razão ser utilizada com bastante segurança em pacientes pediátricos. Exérese Exérese é um procedimento utilizado com finalidade de remoção de um órgão ou tecido com objetivo terapêutico. São vários os procedimentos cirúrgicos que envolvem o procedimento, como: remoção de lesões, osteotomias, curetagens e exodontias. Necrópsia A palavra necrópsia significa a avaliação detalhada e precisa das cavidades e órgãos do sujeito humano ou animal morto, objetivando determinar a causa mortis. Por definição, a morte se caracteriza por evidências orgânicas que se apercebem rapidamente, como a parada dos movimentos respiratórios, a parada cardíaca, a perda da consciência e da mobilidade voluntária, assim como dos reflexos. Após a morte, surgem mudanças denominadas de alterações cadavéricas, distribuídas em fases: • fase de rigidez cadavérica; • fase dos livores ou de manchas cadavéricas; • fase gasosa; • fase de coliquação; • fase de esqueletização. A partir de 1 a 24 horas do falecimento ocorre o resfriamento do cadáver de forma concomitante com o rigor mortis, o qual surge entre 3 e 6 horas após o óbito, durando até 24 horas, quando se iniciam os primeiros sinais de putrefação. 226 Unidade III A fase de livor mortis é caracterizada pelo aparecimento de manchas de coloração violácea, podendo ser de tamanho e formas variáveis. A decomposição cadavérica é evidenciada por uma série de fenômenos, tais como manchas da putrefação, timpanismo, enfisema da putrefação, maceração e odor. Todos decorrentes da invasão e da difusão de bactérias pelo corpo, quase sempre de origem intestinal; daí o início dos processos putrefativos na cavidade abdominal. As manchas da putrefação são de cor verde ou azulada e irregulares; surgem na pele e nos órgãos em contato com os intestinos. Para a coleta de material em um procedimento de necrópsia, várias técncicas podem ser utilizadas a fim de se realizar uma avaliação anatomopatológica e com o objetivo de detecção da presença de parasitas e bactérias. A necrópsia deve ser realizada, respeitando-se uma série de procedimentos de forma organizada e hierárquica, a fim de se obter o melhor resultado possível. Inicialmente, tem de ser feita uma preparação do corpo, identificando-o com número de registro geral ou do boletim de ocorrência, e procede-se com a coleta das digitais do cadáver. Roupas, projéteis e outros objetos são retirados, identificados e separados para posterior avaliação. O corpo deve ser lavado com água e sabão. Iniciam-se os cortes a partir do crânio, tórax e abdômen. Órgãos como cérebro, coração, pulmões, entre outros, são removidos, pesados, medidos e examinados. Tal procedimento é crucial na determinação da causa mortis; por exemplo, em situações de afogamento, nota-se que os pulmões se encontram significantemente mais pesados por razão do acúmulo de água. A necrópsia do tipo clínica será importante a fim de se determinar não somente a causa mortis, mas também os demais processos patológicos que puderam ter sido decisivos e que afetaram o indivíduo. Já a necrópsia dita forense é realizada por um médico legista especialista em afirmar quais foram as causas, efeitos ou quaisquer mecanismos que levaram ao falecimento da pessoa. Essa é a forma que comumente aparece em seriados de televisão. Observação Anatomia patológica é uma especialidade médica laboratorial, cujo objetivo é o diagnóstico das doenças através do estudo de material biológico obtido a partir de órgãos ou tecidos e que pode ser constituída por células ou fluidos. Esse material pode ser adquirido através de biópsias, peças cirúrgicas, exames citológicos, citologia aspirativa ou exames extemporâneos, e pode ser realizado em peças retiradas em processos de necropsia. O anatomopatologista deve alinhar conhecimentos importantes da anatomia, fisiologia e patologia a fim de possibilitar um diagnóstico rápido e correto. 227 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA 8.2 Alterações anatomopatológicas: apresentação de casos Sistema cardiovascular (coração) Miocárdio normal: aspecto carnoso, consistência firme Infarto: miocárdio de espessura reduzida, consistência flácida Figura 92 – Trombose coronariana e infarto do miocárdio Na figura anterior, nota-se um coração aberto pela frente, mostrando o ventrículo esquerdo (VE) e a saída da aorta. A parede do VE do lado esquerdo apresenta uma área de infarto que se estende até a ponta. O miocárdio normal é mais espesso e firme que o infartado. Este sofreu redução de espessura devido à necrose e (presumivelmente) reabsorção do produto necrótico. A causa do infarto foi um trombo no ramo descendente anterior da artéria coronária esquerda, ainda visível in situ, observando-se a peça pela margem superior esquerda. O motivo da trombose foi provavelmente aterosclerose coronariana. A seguir, notam-se as alterações celulares observadas em áreas infartadas e não infartadas nas quais se pode evidenciar, nas áreas infartadas, a ausência dos núcleos celulares. Trombo Aterosclerose Figura 93 – Aterosclerose aórtica com trombose 228 Unidade III Há intensa aterosclerose, caracterizada como placas elevadas e de cor amarela. Nelas, histologicamente, é possível encontrar macrófagos que fagocitaram lípide proveniente do sangue. A aterosclerose é um importante fator que favorece a trombose por acarretar lesão do endotélio. Infarto com múltiplas pequenas rupturas Figura 94 – Infarto do miocárdio com múltiplas áreas de rupturas Na figura anterior, notam-se áreas escuras indicando rupturas provocadas por infarto. Normalmente, os infartos no tecido cardíaco são anêmicos, porém, não é incomum notarmos áreas de infiltração de sangue para dentro da área de necrose. A) Dilatação global do coração Face anterior B) Aspecto em moringa Face posterior Figura 95 – Miocardite crônica chagásica Sistema respiratório (pulmão) Nas figuras anteriores, notam-se os aspectos anatomopatológicos que podem ser observados em paciente portadores de doença de chagas crônica. Observa-se a presença de um tecido cardíaco dilatado com aspecto de moringa. 229 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Figura 96 – Antracose pulmonar Analisando-se a figura prévia, nota-se um pulmão com aspectos normais, porém, com manchas enegrecidas na superfície pleural típicas da inalação de partículas de carbonomuitas vezes advindas da poluição atmosférica. A antracnose, como já discutida anteriormente, tem aspecto social envolvido sobretudo associado a atividades ocupacionais as quais expõem os indivíduos à inalação de carvão. No detalhe microscópico a seguir, é possível visualizarmos as manchas negras que denotam o depósito do carvão no tecido pulmonar. Antracose Figura 97 – Antracose pulmonar – Detalhe microscópico 230 Unidade III Figura 98 – Abscesso subpleural Na figura anterior, revelou-se a presença de um abcesso subpleural com a presença de pus ainda aderido à cavidade. É importante salientar que a presença de pus revela processo de origem infecciosa promovido por ação de bactérias piogênicas. As áreas pulmonares próximas demonstram-se intactas apesar do abcesso em curso. Conclui-se isto em razão das áreas apresentarem-se de coloração róseo claras. Figura 99 – Tuberculose cavernal Na figura prévia foi possível observar os efeitos de uma infecção por Mycobacterium tuberculosis denominada de tuberculose cavernal apical com formação de tubérculos e disseminação broncogênica. Pacientes portadores desta forma podem transmitir o bacilo para pelos menos 20 pessoas/ano. Na imagem notam-se os tubérculos como pequenos nódulos esbranquiçados e, como a distribuição deles não é homogênea, entende-se que ocorre a disseminação deles pela árvore brônquica (disseminação broncogênica). 231 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Figura 100 – Criptococose pulmonar Na figura anterior, notam-se os efeitos provocados pela infecção por Cryptococcus neoformans no tecido pulmonar. No detalhe dá para percebermos que a área afetada apresenta aspecto esponjoso, envolvendo o lobo superior. O fungo é conhecido por sua capacidade de disseminação a partir dos pulmões para a circulação sanguínea e, ocasionalmente, por alojar-se no SNC sendo responsável por quadros de meningite. Na figura a seguir nota-se no detalhamento microscópico o aspecto das leveduras encontradas na análise microscópica obtida por cortes histológicos do tecido pulmonar acima descrito. Podem-se observar também as leveduras em processo de brotamento, ou seja, em processo de reprodução e suas características formadas por dupla membrana e cápsula de contorno bem visíveis, típico de C. neoformans. A) Septos interalveolares Fungos B) Membrana de duplo contorno Brotamento simples Figura 101 – Criptococose pulmonar – Detalhe microscópico 232 Unidade III Sistema gastrintestinal (estômago, intestino, fígado, pâncreas e vesícula biliar) Figura 102 – Úlcera gástrica Na figura anterior, nota-se o aspecto provocado pela ulceração, com dimensão em termos de diâmetro e profundidade de cerca de 2 cm. A lesão localiza-se na região prépilórica e é circundada por extensa área de fibrose no entorno da ulceração. Figura 103 – Múltplos pólipos em intestino grosso Na figura prévia, destaca-se a presença de múltiplos pólipos de origem familiar, com alto risco de malignidade. A doença é de origem genética autossômica dominante, por mutação no gene APC (adenomatous polyposis coli) presente no cromossomo 5, o qual controla a proliferação celular e caso apresente-se alterado acaba por favorecer o surgimento dos pólipos em número e frequência crescentes desde a juventude/adolescência. É comum associarmos o aparecimento de câncer de intestino em pacientes portadores de polipose antes dos 35 anos de idade. 233 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Saiba mais A fim de adquirir informações adicionais a respeito do câncer de estômago, acesse o site a seguir: INCA. Câncer de estômago. Brasília, 2019. Disponível em: https://www. inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-estomago. Acesso em: 29 jan. 2020. A) B) C) Fibrose periportal Ramos intra-hepáticos da veia porta Figura 104 – Esquistossomose hepática 234 Unidade III Ao observar as imagens anteriores, visualizamos os efeitos provocados pela disseminação do Schistosoma mansoni (helminto intestinal), causador da doença denominada esquistossomose, de característica endêmica em várias regiões do Brasil. Os parasitas adultos vivem nos ramos intra-hepáticos da veia aorta, ocasionando processo inflamatório crônico com lesão e que acabam por evoluir para quadro de fibrose periportal. Como consequência da presença por vezes maciça de vermes e ovos, pode haver obstrução da veia porta e acarretamento do processo de hipertensão portal. A seguir apresentaremos um quadro de pancreatite crônica esclerosante com atrofia dos lóbulos pancreáticos, podendo ser observada pelas alterações de coloração amarelada. Note-se que a pancreatite crônica está fortemente associada com o etilismo crônico, o qual promove adaptações celulares por vezes irreversíveis e que predispõem ao câncer. Figura 105 – Pancreatite crônica esclerosante Na sequência está o detalhamento microscópico da atrofia esclerosante, com redução dos acinos em número e tamanho, bem como da área de fibrose. Fibrose Ácinos pancreáticos atróficos Figura 106 – Pancreatite crônica esclerosante – detalhe microscópico 235 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Cálculo de colesterol Figura 107 – Cálculo de colesterol em vesícula biliar O cálculo presente na vesícula é um achado fortuito e comum. O aspecto morfológico sugere um cálculo de colesterol, que habitualmente é único, arredondado ou ovalado e com cor entre branca e amarelada. Os tipos mais comuns na vesícula são os mistos (de colesterol e pigmento biliar), que em geral são múltiplos e têm formato facetado. Sistema geniturinário (rins, genital masculino e genital feminino) Figura 108 – Rim policístico Anteriormente, pôde-se observar o aspecto anatômico de rim policístico, no qual nota-se um aumento significativo do tamanho do órgão, lembrando um “saco de batatas”. Vê-se que o parênquima é frequentemente substituído por um número variável de cistos o que pode induzir de maneira errônea a um quadro de neoplasia que não se confirma. O rim policístico pode acabar em algumas situações favorecendo o aparecimento de insuficiência renal crônica, neste caso podendo gerar complicações típicas da condição. 236 Unidade III Na figura a seguir, destaca-se a presença de um carcinoma papilífero de bexiga, o qual é maligno e tem o aspecto de couve-flor. Não é raro que ocorram metástases em razão do seu potencial de se disseminar por áreas ou camadas mais profundas da bexiga. Estatisticamente, cresce o número de casos de câncer na bexiga que acabam por metastatizar para outros tecidos, como rins e ossos. Figura 109 – Carcinoma papilífero de bexiga Tumor polipoide originado no endométrio Figura 110 – Adenocarcinoma de útero A figura anterior apresenta um tumor polipoide originado no endométrio no corpo uterino. Este é o carcinoma mais comum de útero, a figura na sequência exibe o detalhamento microscópico do adenocarcinoma. O tumor é mais comum após a menopausa e normalmente associa-se com a atrofia do endométrio e com processos hemorrágicos bastante intensos causados por esta ação de atrofia. 237 FISIOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLÓGICA Adenocarcinoma Endométrio atrófico Miométrio Figura 111 – Adenocarcinoma de útero – detalhe microscópico Sistema endócrino (tireoide) As figuras subsequentes apresentam o detalhe macroscópico de uma tiroide normal e de outra proveniente de paciente com tireoidite de Hashimoto. No detalhamento, podemos notar a tireoide normal de cor âmbar com folículos contendo coloide, enquanto na tireoidite de Hashimoto vemos uma tireoide de cor clara com parênquima substituído por infiltrado inflamatório. Também é possível visualizar um ligeiro aumento no tamanho da glândula que favorece o aparecimento do bócio. A) B) Figura 112 – Tireoide normal e tireoidite de Hashimoto A figura
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