Buscar

Efeito Cascata

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

"O efeito cascata" 
 
ou "Consequências da migração do eixo pendular". 
Ah, Joãozinho... Sempre metido em histórias incríveis, não? Noutro dia 
eu estava chegando perto de uma galera no pouso que formava uma 
roda. Não era roda de fumo não, era roda de conversa mesmo e sabe 
quem estava no centro, gesticulando e narrando a sua última aventura? 
Ele mesmo! Nosso amigo Joãozinho. 
 
 
Cá entre nós, fico particularmente impressionado com a capacidade de 
sobrevivência do Joãozinho, este pobre voador de fim de semana, já 
teria sucumbido à maioria dos eventos dos quais Joãozinho passa 
sempre raspando ileso. 
 
 
Mas voltando à roda, eu o reconheci mais pela voz do que pela cara, 
pois desta vez ele estava branco, bem mais branco, parecia um nabo, 
mas dava para ver sua euforia falando e gesticulando enquanto a 
galera olhava incrédula para aquela narrativa. Contava que seu 
parapente tinha adquirido vida, como Lázaro mesmo, que levanta do 
mundo dos mortos, pois enquanto enrolava uma térmica, a vela 
decidira do nada, dar um salto na sua frente, que aconteceu tão rápido 
que quando ele deu por si, já estava numa interminável e apavorante 
sequência de pêndulos que prosseguiu numa aparente e apavorante 
eternidade, até que milagrosamente, como que pelo toque do Espírito 
Santo, a vela decidiu voltar a voar e seguiu suave boiando no céu como 
se nada tivesse acontecido. Só seu coração que continuava repicando 
meio enlouquecido. Após vários suspiros, ele só teve de aproximar e 
pousar. 
 
 
Joãozinho narrava exasperado, mas sem esconder uma ponta de 
orgulho, talvez por ser dono da história de terror daquela tarde. Fui me 
aproximando da roda só para ver se tinha alguma coisa nova para 
aprender. Eis então, que surge correndo, um outro amigo nosso com o 
celular na mão: "Eu filmei tudo!" gritava ele, "eu peguei tudo! Se liga!". 
A conversa parou na hora e todos os olhares se voltaram para a telinha 
de cristal líquido que mostrava meio tremido o incrível Joãozinho 
enrolando uma termal entre outros pilotos. Tudo parecia tranquilo, até 
que... O que vi a seguir, vou procurar descrever para vocês da forma 
mais detalhada possível. Parecia-me que Joãozinho estava com 
dificuldade de manter a vela sobre a cabeça, aparentemente ele 
encaixou no núcleo da termal sem corrigir os batoques, já que a vela 
recuou nitidamente. Para dizer a verdade, a impressão foi a de que ao 
entrar na térmica ele apertou os freios um pouco mais. Isso não 
incomum, alguns pilotos se assustam ao entrar em uma térmica e 
involuntariamente tendem a calçar os freios. É claro que o efeito disso 
é o pior possível, pois justamente a entrada na termal pede que os 
freios sejam liberados, para que o velame consiga alcançar o piloto que 
normalmente irá pendular para frente. 
 
 
No caso de Joãozinho, o pêndulo foi inegavelmente forte, a vela recuou 
atrás da cabeça de Joãozinho uns 10 ou 20 graus. Dava para ver seu 
bracinho acionando os freios exatamente neste momento. Joãozinho 
aproximou-se bastante do estol, e acredito que tenha iniciado uma 
pequena parachutagem, já que repentinamente, seu velame fez um 
novo recuo, isso é típico quando acontece a entrada em estol e a vela 
para um pouco de voar. 
Até aí, as coisas poderiam ter sido suaves, se ele tivesse sido capaz de 
notar o estol, pena que isso não aconteceu. Deveria ser assim, já que 
quando o estol se torna realidade, os batoques tocam o alarme 
mostrando uma repentina redução de pressão. Essa é uma hora em que 
o piloto mais experiente, não solta os freios repentinamente, mas sim 
só um pouquinho enquanto procura segurar suavemente até que o 
velame esteja novamente acima da sua cabeça. 
 
 
Claro que não foi isso que Joãozinho fez. Sem saber como agir, ao invés 
de controlar os freios, Joãozinho se assustou e com seus bracinhos, 
apertou os batoques ainda mais e a vela retribuiu recando ainda mais 
também. 
 
 
Então Joãozinho resolve soltar os batoques e a vela avança 
violentamente. 
O que segue é uma cascata pendular, parece que cada pêndulo ajuda o 
próximo a ficar ainda mais violento. No último pêndulo, finalmente, a 
vela sofre um colapso espetacular, Joãozinho é projetado para o céu e 
milagrosamente passa perto das linhas enquanto o conjunto retoma 
sua forma e com um barulhão, a vela se abre com Joãozinho lá 
novamente pendurado debaixo dela como se nada tivesse acontecido. 
Que bom que se Joãozinho voa com um parapente A, se estivesse 
voando um parapente mais bravo, é bem provável que estes pêndulos 
tivessem evoluído com mais violência, produzindo um resultado mais 
desastroso. 
 
 
O eixo pendular 
 
 
Mas o que importa de tudo isto é uma peculiaridade deste tipo de 
pêndulo que eu gostaria 
 
de ressaltar aqui: percebam que normalmente, num pêndulo frontal, 
temos um eixo que corre no sentido do alongamento do parapente e 
que se situa em algum lugar muito próximo da vela, migrando 
delicadamente nalgum ponto entre a região do intradorso e do 
extradorso; este é o eixo X. Podemos dizer que o piloto se situa na 
região mais afastada deste eixo e a distância entre piloto e eixo do 
pêndulo pode ser chamada de raio, como numa roda de bicicleta. Veja a 
figura 1. 
 
 
 
 
 
 
Inércia 
 
 
O piloto, naturalmente descreve uma velocidade radial ao redor deste 
eixo (daí o nome, pois o corpo do piloto percorre o “raio”. Esse 
movimento também é conhecido com movimento circular). Isto 
acontece porque existe uma diferença de inércia muito importante 
entre parapente e piloto. Se você não se lembra o que é inércia, o tio te 
ajuda a lembrar: A inércia pode ser entendida como a tendência que 
um corpo possui em permanecer no estado em que se encontra, ou 
seja, quando um corpo está se deslocando, é a inércia que ajuda a 
“empurrar”. Naturalmente o atrito ou outra força como a atração 
gravitacional irá terminar mudando isso. Por outro lado, se o corpo 
está em repouso, a inércia o mantém assim até que outra força atue. No 
espaço sideral, onde não existe atrito, um corpo que for empurrado em 
uma determinada direção, permanecerá para sempre dentro daquele 
movimento até que outra força atue para modificar isto. 
Então é fácil concluir que para mudar o status de um movimento, é 
preciso que uma outra força atue no corpo, lutando contra a inércia. O 
valor da inércia é proporcional à massa de um corpo, tanto é que 
quanto maior a massa, maior será a energia necessária para mudar o 
movimento. A partir daí fica mais fácil entendermos por que às vezes é 
tão difícil permanecermos exatamente debaixo do velame, estamos 
pendurados em uma asa que tem um determinado valor de inércia, 
enquanto nosso corpo possui um valor muito mais alto. Então, o 
velame acelera e desacelera mais violentamente que o piloto, pois tem 
menos inércia. 
 
 
A migração do eixo pendular 
 
 
 
 
 
Então, ao entrar numa térmica ou quando o piloto aciona os batoques, 
o velame recua, e temos um pêndulo. Este movimento é enxergado 
pelo piloto como um “recuo” da vela. Na verdade, não foi a vela que 
recuou, mas sim desacelerou, ao passo que o piloto manteve a 
velocidade anterior e daí, o pêndulo. 
 
 
Quando finalmente o velame inicia seu movimento para frente, ele 
tende a ultrapassar o piloto, já que por inércia, este acelera e 
desacelera mais lentamente. A vela então “salta” para a frente do 
piloto. Enquanto isso acontece, outra peculiaridade também acontece e 
eu a chamo de migração do eixo pendular. Veja a figura 2 e perceba que 
o eixo X deixou sua posição anterior próximo ao alongamento do 
velame, migrando para um ponto bem mais perto do piloto. É aqui, que 
agora então, está o novo eixo do movimento, enquanto o velame 
percorre o perímetro ao redor do eixo. 
 
 
Velocidade radial 
 
 
Sabemos também que a velocidade radial está diretamente relacionada 
ao tamanho do raio, isto é, num movimento circular (como a evolução 
do piloto ao redor do eixo), a variação da distância entre piloto e eixo 
está diretamente relacionada a importantes alterações de velocidade 
radial.Imagine um corpo que se desloca ao redor de um eixo 
percorrendo em uma determinada fração de tempo, digamos, 3 metros 
por segundo. A distância do corpo até o eixo é o raio, então vamos 
imaginar que este raio tem 8 metros. 
 
 
Estamos então, diante de um movimento circular. Vamos então 
repentinamente reduzir o raio. O que irá acontecer em seguida será um 
aumento proporcional de velocidade radial. Se em nosso exemplo, 
reduzirmos o raio pela metade, isto é, de 8 para 4 metros, a velocidade 
radial resultante será o dobro, ou seja, 6 metros por segundo. Veja a 
figura 2a. 
 
 
 
Podemos simular facilmente este fenômeno fazendo uma experiência 
simples com uma pedrinha amarrada ao final de um pedaço de 
barbante. Faça a pedrinha girar e então coloque o dedo ou um lápis na 
altura da metade do raio. No mesmo instante, a pedrinha irá descrever 
várias voltas a mais em uma velocidade muito mais alta, aliás, as voltas 
a mais serão justamente a resultante desse repentino ganho de 
velocidade. 
 
 
Este fenômeno da física é importantíssimo e ele é a base de várias 
manobras aparentemente irrealizáveis ou difíceis de compreender no 
parapente, entre elas a manobra SAT e todas as suas derivadas 
especialmente aquelas onde o piloto passa por cima da vela. 
 
 
Então, o que é interessante constatar aqui é que: diferente do que 
acontece num processo pendular corriqueiro onde o eixo está na vela 
ou no piloto, existe um determinado momento em que o eixo pendular 
se torna capaz de migrar para algum ponto entre a vela e o piloto, 
causando um aumento repentino e vertiginoso na velocidade radial. 
 
 
A força centrífuga 
 
 
Uma segunda questão que precisa ser abordada diz respeito a força 
centrífuga. Esta é a força que nos empurra para fora do movimento 
circular e ela é proporcional à velocidade. Quanto mais rápido giramos, 
maior é a força. É importante lembrar que com o aumento da 
centrífuga, os comandos que Joãozinho aplica no parapente precisam 
ser igualmente mais fortes, pois com o aumento da aceleração 
centrífuga, o velame enrijece exigindo mais energia para atender a 
deformação que uma ação nos freios lhe pede. Em casos extremos, 
onde um giro em mergulho está acontecendo, é preciso frear com tanta 
força que muita gente nem acredita que seja possível. 
Lamentavelmente, essa é uma causa de acidentes, porque Joãozinho 
tenta tirar o parapente do giro acionando os freios, mas não produz 
resultados e ele termina desistindo. 
 
 
E a migração do eixo do parapente? 
 
 
A experiência da pedrinha é fácil, mas como conseguir a migração do 
eixo pendular em um parapente? 
 
 
Joãozinho também gostaria de saber, afinal isso tudo é uma novidade 
para ele e quando a tal migração acontece involuntariamente, 
Joãozinho a descreve como o momento em que seu parapente adquiriu 
vida. É claro, Joãozinho está acostumado com uma determinada 
velocidade radial, ou seja, o tempo que o pêndulo gasta para acontecer, 
mas agora, tudo está acontecendo praticamente duas vezes mais 
rápido. 
 
 
De fato, enquanto em um pêndulo normal, a vela parece mover-se 
numa velocidade menor que o piloto, nesta nova configuração, vela e 
piloto movem-se ao redor de um eixo imaginário que habita o centro 
do conjunto numa velocidade duas vezes maior. 
Se nos determos a observar o que acontece durante a famosa manobra 
SAT, iremos perceber que enquanto a vela se move para frente, o piloto 
gira para trás, caracterizando uma migração de eixo de rotação. Desta 
maneira, o aparentemente impossível se torna possível e um piloto 
torna-se capaz de através de um tumbling ou um SAT assimétrico (não 
vamos entrar em detalhes aqui sobre as diferenças específicas entre 
estas duas manobras) passar duas, três ou mais vezes por cima do 
velame. De onde veio toda aquela energia? Exatamente da migração do 
eixo pendular que ao reduzir o raio pela metade, tem a velocidade 
radial duplicada!! É esta mesma migração, a responsável pela 
"possessão" do velame durante o efeito cascata. 
 
 
Vamos lá, observe as figuras novamente, repare que elas são 
sequenciais e as diferentes posições angulares estão numeradas de 1 
até 10. 
 
 
A figura 1 nos mostra um atraso clássico do velame que pode ser 
causado pelo uso de freios ou entrada em uma ascendente. 
 
 
 
Se isto acontece de forma suave, passamos para a figura 2 onde 
assistimos o avanço da vela de forma suave com o eixo no piloto. Há 
um momento de ligeira "parada", que é apenas o ponto onde a 
velocidade radial é mais baixa, logo depois vem nova aceleração. 
 
 
 
Mas numa situação extrema, o “pilouco” resolveu estolar a vela 
inadvertidamente para então soltá-la, o que segue está demonstrado 
na figura 2a’ que mostra uma migração do eixo e consequente aumento 
vertiginoso de velocidade. 
 
 
 
 
É isso que acontece durante o efeito cascata assim como na situação de 
estol que acabo de mencionar. 
 
 
A figura 4 mostra a saída de ambos os movimentos. 
 
 
 
Bem, se o velame está "possuído pelo demônio", e o piloto não é a 
Linda Blair, está mais que na hora de exorcizá-lo. 
 
 
Vamos então voltar para a causa inicial da meleca toda: o estol 
involuntário. Se quisermos ser felizes, é essencial que levemos em 
conta que nem é preciso acionar os freios até embaixo da selete para 
provocar um estol, basta encontrar uma posição pendular favorável 
(ou desfavorável, como queira), com vela recuada atrás da cabeça e dar 
um pequeno toque. É assim que se provoca uma parachutagem, por 
exemplo, ou também a entrada no helicóptero. 
 
 
Quem já viu um piloto acro provocar um helicóptero entende agora 
como que o sujeito parece que sai girando do nada; ele provoca um 
pequeno pêndulo e aperta um pouco os freios no momento exato em 
que a vela está mais atrás provocando uma entrada em parachutagem, 
para em seguida, configurar o helicóptero (não vou me deter a detalhes 
desta manobra também). 
 
 
Solucionando o problema 
 
 
A questão então é que Joãozinho não se deu conta desta inclinação e 
caprichou no freio estolando a vela inadvertidamente. Agora ele está 
diante de um grave problema que precisa ser solucionado o quanto 
antes. 
 
 
Existem alguns cenários aqui que é preciso levarmos em conta. No 
primeiro, Joãozinho está alto, tem uma boa margem para inclusive 
abrir o paraquedas de emergência caso sinta que não é possível fazer 
seu parapente voltar a voo reto. Além disso, Joãozinho conseguiu 
perceber uma repentina queda de pressão nos batoques, 
imediatamente acompanhada de um recuo brusco do velame. Este é o 
melhor dos cenários, Joãozinho não irá soltar os freios nesta hora, 
apenas irá liberar um pouco, até perceber que o velame retorna para 
cima de sua cabeça, talvez nesse instante, ele tenha de voltar a dar uma 
pequena pressão, para evitar um avanço e finalmente soltar os freios. A 
vela irá saltar à sua frente, ele sentirá um bom frio na barriga, mas 
dificilmente passará disso. 
 
 
No segundo cenário, Joãozinho não percebe o estol, assusta-se com o 
recuo e solta os freios. O avanço resultante será violento, 
possivelmente alcançando 90º à frente do piloto e inclusive podendo 
colapsar. Joãozinho atuará com energia nos freios neutralizando o voo 
enquanto segura os batoques até que o velame esteja novamente sobre 
a cabeça do piloto. Uma olhada para cima será suficiente para conferir 
se o velame se parece com um, quero dizer, que não há uma 
deformação tão grande que descaracterize a asa complemente. Isso 
deverá ser suficiente para que ele então libere os freios para observar 
o avanço resultante até a retomada do voo reto. 
 
 
Se ele não conseguir realizar a intervenção necessária, o velame 
seguirá seu caminho e usará a força da gravidade como gerador de 
energia extra para novos movimentos ainda mais violentos. Perceba 
que a gravidade da situação pode ser crescente ou simplesmente pode 
ser que tudo se neutralize por puro acaso. De qualquer forma, ao 
observar o velame sobre a cabeça, é preciso liberar os freios 
completamente, caso contrário ele permaneceráestolado. Esse é um 
erro comum, o piloto não libera os freios, fica insistindo em seu 
desesperado desejo de obter uma forma perfeita no velame. Isso não 
irá acontecer porque este velame não está voando. Ele está estolado, 
não existe voo aqui, então é preciso aceitar uma configuração 
aproximada para liberar os freios. 
 
 
É nessa hora que eu me lembro da importância de um curso SIV. Existe 
um treinamento específico sobre estudo de estol, parachutagem e full 
estol. Na atividade, o piloto aprende a induzir o parapente a diferentes 
situações de estol, aprende o comportamento do parapente, toma 
conhecimento de sua forma, observa cuidadosamente como ele se 
move de maneira estranha, entra em contato com um universo de 
sensações a serem experimentadas, interpretadas e estudadas, e tudo 
isso sob a orientação de um instrutor, em um ambiente previsível, com 
a segurança da represa logo abaixo. Nada mais conveniente. As vezes 
escuto as pessoas falando que “aquele colapso valeu por um SIV” ... que 
engano! Um SIV vai muito, muito além de um colapso. 
 
 
E falando em SIV, eu tenho a impressão de que só quem fez um 
treinamento prévio em um, tem condições técnicas de fazer um full 
estol para retirar o parapente de uma situação de cascata, pois um 
erro, poderá conduzir o piloto a uma situação bem mais grave com até 
um possível mergulho dentro do velame, ou gravata seguida de 
autorrotação. 
 
 
Então, na falta de experiência prévia, não fazer nada pode ser uma 
solução bastante factível com boas probabilidades de uma solução para 
o problema. Por outro lado, as tentativas de seguir fórmulas infalíveis 
como "posição mágica", "mão-na-orelha" e outras. Isto só tende a 
complicar ainda mais as coisas, pois o parapente precisa de velocidade 
para retomar voo. 
 
 
Tenho insistido muito para o Joãozinho fazer um SIV, mas ele é muito 
resistente ao mesmo tempo em que está muito sujeito aos conselhos da 
galera que embora possam até ser bem-intencionados, na maioria das 
vezes podem também carecer de base técnica. Essas coisas são difíceis, 
espero que agora depois deste susto ele acorde para uma realidade tão 
dura quanto o chão abaixo de nós.

Outros materiais