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294 ciÊncias da naTureZa e suas Tecnologias Biologia II Anual – Volume 1 A Re pr od uç ão /U ni ca m p 20 18 Udo Schmidt. Disponível em: <https://www.fl ickr.com/photos/ 30703260@N08. Acesso em: 29 out. 2017. B 9 8 7 6 5 4 P ta m an ho m éd io do “ ch ifr e” (c m ) M G C Tipo de macho Capacidade da cópula P 70 M 85 G 100 Capacidade de cópula de cada tipo de macho (% de encontros com uma fêmea que resultam em cópula). A) Os “chifres” são parte do esqueleto do besouro-hércules macho. Cite duas características do esqueleto de artrópodes e duas diferenças em relação ao esqueleto de vertebrados. B) Darwin acreditava que diferenças entre animais machos e fêmeas como as mostradas na fi gura A surgem durante a evolução como consequência da seleção sexual, um tipo especial de seleção natural. Defi na seleção natural. Utilizando os dados fornecidos anteriormente, explique por que a característica masculina dimórfi ca do besouro-hércules é uma adaptação, fruto da seleção natural. 03. (Enem-2ª aplicação/2016) Darwin, em viagem às Ilhas Galápagos, observou que os tentilhões apresentavam bicos com formatos diferentes em cada ilha, de acordo com o tipo de alimentação disponível. Lamarck, ao explicar que o pescoço da girafa teria esticado para colher folhas e frutos no alto das árvores, elaborou ideias importantes sobre a evolução dos seres vivos. O texto aponta que uma ideia comum às teorias da evolução, propostas por Darwin e por Lamarck, refere-se à interação entre os organismos e seus ambientes, que é denominada de A) mutação. B) adaptação. C) seleção natural. D) recombinação gênica. E) variabilidade genética. 04. (FCMMG/2018) Pelos dados do desenho a seguir, é possível concluir que ele está relacionado com: Cadáveres de plantas e animais assimilado por plantas e animais Radiações cósmicas Decaimento radioativo solo 14C 14C 14N 14N Re pr od uç ão /F C M M G 2 01 8 A) Ciclo do Carbono radioativo. B) Ciclo do Nitrogênio e suas interações com o Carbono. C) Alterações radioativas provocadas por poluição ambiental. D) Relógio geológico, utilizado para determinar a idade de rochas e fósseis. 05. (Famerp/2018) Considere os exemplos de características anatômicas e fi siológicas de três seres vivos. • O chimpanzé (Pan troglodytes) possui visão binocular e o primeiro dedo oponível nas mãos. A visão binocular permite que o cérebro distinga as diferentes distâncias entre os objetos observados e o observador e a presença do primeiro dedo oponível nas mãos permite o movimento de pinça, facilitando agarrar objetos. • O inseto maria-fedida (Nezara viridula) libera um odor, produzido por glândulas toda vez que se sente ameaçado. Além dessa defesa, ele pode apresentar algumas colorações, como verde ou marrom, o que auxilia na proteção contra predadores. • A planta urtiga (Urera baccifera) apresenta tricomas urticantes na superfície de suas folhas. Eles secretam substâncias ácidas, causando vermelhidão, coceira e ardência na pele de uma pessoa que as toca. Esses três seres vivos apresentam A) normas de reação, que apareceram por mutações induzidas. B) características adaptativas, que foram selecionadas pelo ambiente. C) órgãos homólogos, que surgiram para adaptá-los ao ambiente. D) órgãos vestigiais, que fi caram cada vez mais complexos com o tempo. E) órgãos análogos, que surgiram pela necessidade de sobrevivência. 295 ciÊncias da naTureZa e suas TecnologiasBiologia II Anual – Volume 1 Exercícios Propostos 01. (Udesc/2018) Um tubarão e um golfi nho possuem muitas semelhanças morfológicas, embora pertençam a grupos distintos. O tubarão é um peixe que respira por brânquias, e suas nadadeiras são suportadas por cartilagens. O golfi nho é um mamífero, respira ar atmosférico por pulmões, e suas nadadeiras escondem ossos semelhantes aos dos nossos membros superiores. Portanto, a semelhança morfológica existente entre os dois não revela parentesco evolutivo. Eles adquiriram essa grande semelhança externa pela ação do ambiente aquático que selecionou nas duas espécies a forma corporal ideal ajustada à água. Esse processo é conhecido como: A) isolamento reprodutivo. B) irradiação adaptativa. C) homologia. D) convergência adaptativa. E) alopatria. 02. (Fac. Albert Einstein – Medicina/2018) O nome cacto é atribuído a plantas da família Cactaceae. Os cactos são conhecidos, dentre outras características, pela presença de inúmeros espinhos caulinares e capacidade de armazenar água. No entanto, algumas espécies de plantas que apresentam esse mesmo aspecto vegetal pertencem à família Euphorbiaceae, ou seja, têm maior parentesco evolutivo com plantas tais como a mandioca e a seringueira. A fi gura a seguir mostra a semelhança entre essas plantas. Re pr od uç ão /F ac . A lb er t Ei ns te in - M ed ic in 2 01 8 Euphorbiaceae Cactaceae Disponível em: <http://plantconvergentevolution.weebly.com/ uploads/2/7/3/27301003/5588755_orig.jpg>. Considerando essas informações, é correto afi rmar que as plantas da fi gura representam um caso evolutivo de A) homologia. B) camufl agem. C) herança de caracteres adquiridos. D) analogia. 03. (Fepar/2017) As adaptações dos diversos organismos vivos são um aspecto central no estudo da Biologia. Todas as características que adequam um ser vivo a determinada circunstância ambiental são geralmente denominadas adaptativas; permitem que os seres vivos desenvolvam certa harmonia com o ambiente, ajustando-se assim para poder sobreviver em determinado local. O quadro apresenta dois fenômenos adaptativos que você deverá identifi car, denominar e explicar. 1 2 Re pr od uç ão /F ep ar 2 01 7 04. (Famerp/2017) Após uma aula sobre a teoria evolutiva de Darwin-Wallace, cinco estudantes discutiram sobre o tema e cada um chegou a uma conclusão sobre as adaptações encontradas em algumas espécies de animais. • Lucas: “As espécies animais tiveram que se adequar ao meio ambiente para sobreviver, e foi assim que as características adaptativas favoráveis foram surgindo.” • Bernardo: “O meio ambiente escolheu os seres vivos mais aptos e, assim, muitas espécies, como os insetos, formaram as asas para atender a essa escolha.” • Camila: “A seleção natural impôs às espécies animais que se modifi cassem e, dessa forma, elas sobreviveram, caso contrário, teriam sido eliminadas.” • Karen: “Os animais com características favoráveis tinham mais chance de sobrevivência e de reprodução e essas características foram transmitidas aos descendentes.” • Tatiana: “Animais, como os peixes, possuem adaptações semelhantes, uma vez que tinham as mesmas necessidades de sobrevivência na água e, por seleção natural, geraram fi lhotes semelhantes.” O conceito da teoria de Darwin-Wallace foi corretamente apresentado por A) Tatiana. B) Karen. C) Camila. D) Lucas. E) Bernardo. 05. (G1-IFSP/2016) Sapos e rãs são anfíbios, apresentam dependência de ambientes terrestres úmidos ou aquáticos, apresentam na sua pele as glândulas de muco para conservá-la úmida e favorecer trocas gasosas, além de poder exibir glândulas de veneno que eliminam substâncias para combater microrganismos e afugentar animais predadores. A explicação para essas características nos anfíbios, fornecida pela Teoria da Evolução de Charles Darwin é apresentada em: A) seleção de adaptações positivas devido à ação do meio ambiente. B) lei do uso e desuso. C) a existência de pulmão atrofi ado devido à respiração cutânea. D) a transmissão de características adquiridas para os descendentes. E) a destruição dessas espécies porque estão mal adaptadas. 296 ciÊncias da naTureZa e suas Tecnologias Biologia II Anual – Volume 1 06. (Fac. Albert Einstein – Medicina/2016) A tira de quadrinhos a seguir mostra, de maneira espirituosa, o aumento de acuidade auditiva em uma das duas fi guras que ali aparecem.Em seguida, há uma descrição de passos hipotéticos, enumerados de 1 a 3, que tentam explicar a evolução do comprimento das orelhas em coelhos. Frank & Ernest Bob Thaves Fr an k & E rn es t, B ob T ha ve s © 20 03 T ha ve s/ D is t. b y A nd re w s M cM ee l S yn di ca tio n O Estado de S. Paulo. 01/05/2016. 1. Em algum ponto no passado, os coelhos possuíam orelhas relativamente curtas. Como a sua sobrevivência dependia fortemente da sua capacidade de ouvir um predador que se aproximava, eles distendiam suas orelhas continuamente, a fi m de ouvir com o máximo de efi ciência. 2. A contínua distensão das orelhas afetou as células reprodutivas, com o resultado de que os coelhos vieram gradualmente a ter orelhas mais longas. Esses coelhos, por sua vez, distenderam suas orelhas e passaram o aumento para seus descendentes. 3. Eventualmente, um ponto foi atingido no qual o comprimento da orelha era suficiente para possibilitar aos coelhos sobreviverem sem distensão ulterior. Nesse ponto, o comprimento das orelhas estabilizou-se. Buffaloe, N. D. Diversidade de plantas e animais. São Paulo. Edgar Blücher, p. 20. A descrição em questão está em desacordo com A) a lei do uso e do desuso e a herança dos caracteres adquiridos, relativos à teoria proposta por Lamarck. B) a lei do uso e do desuso e a herança dos caracteres adquiridos, relativos à teoria proposta por Darwin. C) o conceito de seleção natural, relativo à teoria proposta por Lamarck. D) o conceito de seleção natural, relativo à teoria proposta por Darwin. 07. (Unesp/2014) Considere a afi rmação feita por Charles Darwin em seu livro publicado em 1859, A origem das espécies, sobre a transmissão hereditária das características biológicas: Os fatos citados no primeiro capítulo não permitem, creio eu, dúvida alguma sobre este ponto: que o uso, nos animais domésticos, reforça e desenvolve certas partes, enquanto o não uso as diminui; e, além disso, que estas modifi cações são hereditárias. É correto afi rmar que, à época da publicação do livro, Darwin A) estava convencido de que as ideias de Lamarck sobre hereditariedade estavam erradas, e não aceitava a explicação deste sobre a transmissão hereditária das características adaptativas. B) concordava com Lamarck sobre a explicação da transmissão hereditária das características biológicas, embora discordasse deste quanto ao mecanismo da evolução. C) havia realizado experimentos que comprovavam a Lei do Uso e Desuso e a Lei da Transmissão Hereditária dos Caracteres Adquiridos, conhecimento esse posteriormente incorporado por Lamarck à sua teoria sobre a evolução das espécies. D) já propunha as bases da explicação moderna sobre a hereditariedade, explicação essa posteriormente confi rmada pelos experimentos de Mendel. E) conhecia as explicações de Mendel sobre o mecanismo da hereditariedade, incorporando essas explicações à sua teoria sobre a evolução das espécies por meio da seleção natural. 08. (Unicamp/2013) Os tubarões e os golfi nhos são semelhantes quanto ao formato corpóreo, como pode ser notado nas fi guras seguintes. Tal semelhança, no entanto, não refl ete proximidade fi logenética. Re pr od uç ão /U ni ca m p 20 13 Re pr od uç ão /U ni ca m p 20 13 Disponível em: <www.cienciahoje.uol.com.br>. Acesso em: 5 dez. 2012. Fotos de Terry Goss e Jeff Krauss. A) Dado que a semelhança apontada entre os tubarões e os golfi nhos não pode ser explicada por ancestralidade comum, a que ela se deve? Explique o processo que originou tal semelhança. B) Diferencie os tubarões dos golfi nhos quanto ao sistema respiratório e quanto à estrutura do coração. 09. (Unicamp/2013) Olhos pouco desenvolvidos e ausência de pigmentação externa são algumas das características comuns a diversos organismos que habitam exclusivamente cavernas. Dentre esses organismos, encontram-se espécies de peixes, anfíbios, crustáceos, aracnídeos, insetos e anelídeos. Em relação às características mencionadas, é correto afi rmar que: A) O ambiente escuro da caverna induz a ocorrência de mutações que tornam os organismos albinos e cegos, características que seriam transmitidas para as gerações futuras. B) Os indivíduos que habitam cavernas escuras não utilizam a visão e não precisam de pigmentação; por isso, seus olhos atrofi am e sua pele perde pigmentos ao longo da vida. C) As características típicas de todos os animais de caverna surgiram no ancestral comum e exclusivo desses animais e, portanto, indicam proximidade fi logenética. D) A perda de pigmentação e a perda de visão nesses animais são características adaptativas selecionadas pelo ambiente escuro das cavernas. 297 ciÊncias da naTureZa e suas TecnologiasBiologia II Anual – Volume 1 10. (Fuvest/2012) Ao longo da evolução dos vertebrados, a A) digestão tornou-se cada vez mais complexa. A tomada do alimento pela boca e sua passagem pelo estômago e intestino são características apenas do grupo mais recente. B) circulação apresentou poucas mudanças. O número de câmaras cardíacas aumentou, o que não infl uenciou a circulação pulmonar e a sistêmica, que são completamente separadas em todos os grupos. C) respiração, no nível celular, manteve-se semelhante em todos os grupos. Houve mudança, porém, nos órgãos responsáveis pelas trocas gasosas, que diferem entre grupos. D) excreção sofreu muitas alterações, devido a mudanças no sistema excretor. Porém, independentemente do ambiente em que vivem, os animais excretam ureia, amônia e ácido úrico. E) reprodução sofreu algumas mudanças relacionadas com a conquista do ambiente terrestre. Assim, todos os vertebrados, com exceção dos peixes, independem da água para se reproduzir. Aula 03: Teoria Sintética da Evolução Considerações iniciais Durante as décadas de 1930 e 1940, os novos conhecimentos genéticos foram adicionados às ideias de Darwin, sendo, então, elaborada a “A teoria moderna da evolução”. Esta pode ser considerada a mais completa de todas, associando o conhecimento das mutações às ideias de luta pela vida e seleção natural, de Darwin, acrescendo ainda a valorização isolamento geográfi co, como fator de especiação, e a ocorrência puramente acidental ou aleatória das mutações, nunca procuradas intencionalmente pelos organismos com o propósito de se adaptarem a uma condição ambiental. Também pode ser chamada de “síntese evolucionária” ou “síntese moderna da evolução”, pois, de fato, sintetiza o processo evolutivo, valendo-se de conhecimentos advindos de diversas outras áreas, como: a genética, a paleontologia, a anatomia, a bioquímica e a embriologia. Fatores evolutivos A síntese moderna considera os seguintes fatores evolutivos: mutação gênica, recombinação gênica, fl uxo gênico, deriva genética e seleção natural. A mutação e a recombinação gênica aumentam a variabilidade genética. A mutação garante o surgimento de novos alelos, já a recombinação gênica, representada pelo crossing-over e pela segregação independente dos alelos na formação dos gametas, pode apenas misturar os alelos, mas não origina algo novo. O fl uxo gênico e a deriva gênica também são fatores que alteram a variação gênica de uma área, através, respectivamente, de migrações e eventos cataclísmicos sobre a população. Já a seleção natural reduz a variabilidade genética, pois “seleciona” os alelos mais adaptados a uma determinada condição ambiental, garantindo aos que os possuem na população, maior capacidade de sobrevivência de reprodução. Mutação Para que haja seleção natural sobre uma população, é preciso que tenha variabilidade genética entre os indivíduos. As mutações têm papel fundamental nisso, pois tornam possível o aparecimento de novos tipos de alelos dentro de uma espécie, sendo processos casuais. Dessa forma, podemos afi rmar que as mutações representam a fonte primária de variabilidade genética. As mutações podem ser deletérias, indiferentes ou benéfi cas. Na mutação deletéria, o fenótipocorrespondente torna seu portador menos adaptado e, consequentemente, propenso à extinção. Caso o alelo afetado seja recessivo, poderá persistir na população, nos indivíduos heterozigotos, especialmente se, por alguma razão, os heterozigotos se mostrarem mais adaptados. Isto é bem evidente no caso, por exemplo, do alelo da anemia falciforme em regiões onde a malária é endêmica (descrito a seguir). Caso o alelo seja dominante, sua frequência tenderá a diminuir rapidamente, pois tanto os homozigotos para aquele gene como os heterozigotos estarão afetados, supondo que se trate de gene autossômico. Na mutação indiferente, o fenótipo correspondente não afeta a competência de seu portador no que diz respeito à adaptação. Um alelo que não afeta a adaptabilidade de um organismo é chamado de alelo neutro. Tais alelos, não são atingidos pela seleção natural. Nesse caso, a frequência do alelo na população segue um padrão casual. Na mutação benéfi ca, seu portador, sob as condições em vigor no meio, está mais adaptado e, portanto, tem aumentadas as suas chances de sobrevivência e reprodução. Nesse caso, o alelo tenderá a se tornar mais frequente na população, e mais rapidamente se for dominante. Ainda que comumente se admita que as mutações deletérias sejam mais comuns que as mutações adaptativas (benéfi cas), estas últimas, ao longo de enormes períodos de tempo, representa a única forma de explicar a evolução dos seres vivos na Terra. A anemia falciforme ou siclemia é um exemplo bem característico de mutação na espécie humana. Ela leva uma redução da capacidade de a hemoglobina se ligar ao gás oxigênio, o que traz várias consequências fi siológicas para o indivíduo. Em relação às condições clínicas do organismo, é considerada uma herança autossômica recessiva, pois o heterozigoto é normal, não apresentando comumente os sintomas característicos do homozigoto recessivo. A siclemia ocorre numa maior frequência em pessoas afrodescendentes. C-1 H-3 C-4 H-16Aula 03 298 ciÊncias da naTureZa e suas Tecnologias Biologia II Anual – Volume 1 A anemia falciforme se caracteriza por uma mutação no 6º códon do alelo responsável pela formação da cadeia de β-globina da hemoglobina (lembre-se que a hemoglobina A1 ou normal tem duas cadeias de α-globina e duas cadeias de β-globina). No alelo normal o códon é o GAG e no alelo mutante o códon GTG, levando a uma substituição do aminoácido ácido glutâmico pela valina. Assim, a hemoglobina terá sua(s) cadeia(s) de β-globina alterada(s), levando uma redução da afi nidade da hemoglobina S (siclêmica) pelo O 2 . As pessoas que são homozigotas (HbSHbS) para esse alelo recessivo (HbS) possuem hemácias defeituosas, em forma de foice, sob condições de baixa pressão de O 2 . Nos locais onde o oxigênio é abundante, como nos pulmões, as hemácias são normais em forma e em função. Porém, em locais de baixas concentrações de oxigênio, como exemplo, nos músculos em funcionamento, as hemoglobinas S se aglutinam (formam fi bras poliméricas) e as hemácias adquirem uma forma de foice. Os heterozigotos (HbAHbS), que são ditos ter traço falciforme são, em geral, clinicamente normais, e suas hemácias podem se tornar ligeiramente falciformes quando submetidas a pressões baixíssimas de oxigênio. O homozigoto (HbAHbA) é clinicamente normal e suas hemácias nunca são falciformes. Estrutura primária 1 Val Subunidade normal Subunidade falciforme Hemoglobina falciforme Interações hidrofóbicas entre proteínas hemoglobina falciformes induzem a sua agregação e, fibras; a capacidade de transporte de oxigênio é bastante reduzida. As moléculas não se associam umas com as outras, cada uma transporta oxigênio. As células normais são repletas de moléculas individuais de hemoglobina. Fibras de hemoglobina anormais deformam as células em um formato falciforme. 5 mµ Hemoglobina normalβ β β β β β α α α α H em o g lo b in a n o rm al H em o g lo b in a fa lc if o rm e Estrutura secun- dária e terciária Estrutura quaternária Função Formato das hemácias 2 3 4 5 6 7 His Leu Thr Pro Glu Glu 1 Val 2 3 4 5 6 7 His Leu Thr Pro Val Glu 5 mµ A anemia falciforme ocorre por substituição de um único aminoácido na cadeia-β da hemoglobina, levando a formação da hemoglobina falciforme ou “S”, e das hemácias em foice. CAMPBELL, N.A.; REECE, J. B. / Biologia. – 10ª ed. – Porto Alegre: Artmed, 2015; p. 82. As células em formato de foice podem formar coágulos e obstruir pequenos vasos sanguíneos, muitas vezes levando a outros sintomas pelo corpo, incluindo enfraquecimento físico, dores, lesões em órgãos e até mesmo paralisia motora. Transfusões regulares de sangue podem evitar os danos cerebrais em crianças com anemia falciforme e novos medicamentos podem ajudar a prevenir ou tratar outros problemas, mas atualmente não existe cura. Um fato curioso é a elevada frequência do alelo para a anemia falciforme na África tropical, incomum para um alelo com efeitos prejudiciais tão severos em homozigotos. Uma explicação para isso é que uma única cópia para o alelo da anemia falciforme, como nos indivíduos heterozigóticos, reduz a frequência e a severidade dos ataques de malária, especialmente entre crianças jovens. O Plasmodium, protozoário agente causador da malária não se adapta bem às hemácias com quantidade regular de hemoglobina S (siclêmica), como a encontrada em indivíduos heterozigotos, resultando em densidades menores do protozoário nessas células, ocasionando neles sintomas mais leves da doença. Dessa forma, na África tropical, onde a infecção com o protozoário da malária é comum, o alelo para a anemia falciforme confere uma vantagem aos heterozigotos, mesmo sendo prejudicial no estado homozigoto. Observação: A anemia falciforme ilustra a arbitrariedade dos termos dominância completa, dominância incompleta e codominância. O tipo de dominância inferido depende do nível fenotípico em análise, ou seja, do organismo, da célula ou da molécula. Dessa forma, em relação ao nível de organismo (com ou sem anemia), o alelo HbA apresenta dominância completa sobre o HbS. No heterozigoto, um único alelo HbA produz hemoglobina funcional sufi ciente para prevenir a anemia. Entretanto, em relação ao nível de célula (formato da hemácia), existe dominância incompleta, pois o heterozigoto apresenta muitas células com um formato discretamente falciforme. Finalmente, em relação ao nível molecular (hemoglobina), existe codominância. Os alelos HbA e HbS codifi cam dois diferentes tipos de hemoglobina, que são sintetizados no heterozigoto. 299 ciÊncias da naTureZa e suas TecnologiasBiologia II Anual – Volume 1 Recombinação gênica Enquanto as mutações criam novos alelos na população, a recombinação gênica mistura os alelos já existentes nos cromossomos, sendo ambos responsáveis pelo aumento da variabilidade genética. A recombinação gênica depende da meiose, na qual ocorre a segregação independente dos alelos e o crossing-over (permutação), e da fecundação (fertilização). CHAVE Haploide (n) Diploide (2n) Gametas Zigoto Mitose Organismo multicelular diploide Organismo multicelular haploide (gametófito) Organismo multicelular ou unicelular haploide Organismo multicelular diploide (esporófito) Mitose Mitose Esporos Gametas Mitose (a) Animais. (b) Plantas e algumas algas. Três tipos de ciclos de vida sexuada. Uma características comum nos três tipos é a alternância da meiose e da fertilização, eventos essenciais que contribuem para a variação genética da prole. (c) Maioria dos fungos e alguns protistas n n n 2n 2n MEIOSE FERTILIZAÇÃO Zigoto n n n 2n n 2n MEIOSE FERTILIZAÇÃO n Mitose Gametas Mitose Zigoto n n n n 2n MEIOSE FERTILIZAÇÃO n A segregação independente dos cromossomos possibilita um grande número de combinações entre eles, permitindo a formação de vários tipos de gametas. Para entendermos que representa esse processo de segregação, devemos observar a célula diploide 2n = 4, da fi guraa seguir, que se encontra na metáfase I da meiose I. Os dois pares de homólogos, cada um, possuindo um cromossomo de origem materna (vermelho) e um outro de origem paterna (azul), estão situados na placa metafásica. Contudo, esses dois pares podem assumir duas possibilidades. Na 1, temos do lado esquerdo da célula em metáfase I apenas cromossomos paternos azuis, e, do lado direito, apenas cromossomos maternos vermelhos. Na 2, temos do lado esquerdo, um cromossomo paterno azul sobre um materno vermelho, e, do lado direito, um cromossomo materno vermelho sobre um paterno azul. Assim, para cada possibilidade (1 e 2) de metáfase I, haverá um padrão de anáfase I que originará 2 tipos de células-fi lhas. Ao todo, a partir de uma célula 2n = 4 que se divide por meiose, poderão ser formadas um total de 4 tipos de células-fi lhas haploides n = 2, que podem ser gametas ou esporos. Dessa forma, podemos observar que a disposição dos pares de cromossomos homólogos na placa metafásica da metáfase I ocorre de maneira aleatória, o que leva a uma segregação independente dos cromossomos de par em relação aos de outro par, durante anáfase I. O número de combinações possíveis entre cromossomos maternos e paternos pode ser calculado pela expressão 2n, em que “n” é o número de pares de cromossomos do indivíduo. Por exemplo, o número de tipos de gametas diferentes que um humano pode formar, sem considerar a ocorrência de crossing-over, é de 223. Possibilidade 1 Dois arranjos de cromossomos igualmente prováveis na metáfase I Metáfase II Células- filhas Combinação 1 Combinação 2 Possibilidade 2 Combinação 3 Combinação 4 Duas possibilidades de segregação independente dos cromossomos homólogos na anáfase I da meiose I.