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CBI of Miami 1 CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre ele estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 Ética na Prestação de Serviços em ABA Natalie Brito Araripe Olá, caros alunos do CBI! Sejam bem-vindos a mais um módulo da nossa pós-graduação! Dessa vez, um módulo bem importante de reflexão e norte para as nossas condutas. No nosso cotidiano, é bem frequente utilizarmos expressões como “ele é um bom profissional”, “ela é uma terapeuta mediana” ... Essas expressões, utilizadas pelo senso comum, não ocorrem “do nada”. Elas são comportamentos e, assim como todo comportamento, estão sujeitas à seleção pelas consequências e sofrem influências culturais. Mas o que definiria um bom profissional? Especificamente, na nossa área, o que definiria um bom analista do comportamento? Não existe uma única resposta para esses questionamentos. Existem algumas diretrizes escritas por profissionais experientes e uma visão Skinneriana de ética, importantes para quem pretende prestar serviços na área. A ética é o ramo da filosofia que se preocupa com o alcance e as consequências da conduta humana. Quando falamos de códigos de conduta, estamos nos referindo aos códigos morais de um determinado estrato social. A ética, por sua vez, compreende o estudo da moral. Na análise do comportamento, olhamos para a ética por meio da lente da seleção por consequências. As consequências produzidas pelos nossos comportamentos seriam bens éticos e, nesse sentido, haveria três tipos de bens: os bens pessoais, reforços positivos relacionados ao próprio comportamento de que os produzem; os bens do outro, que resultam em reforços positivos para outras pessoas; e os bens da cultura, consequências de práticas culturais que selecionam e fortalecem essas práticas (Dittrich; Abib, 2004). Dittrich & Abib (2004) afirmam que o comportamento ético das pessoas é definido por meio da produção desses três tipos de bens. Dilemas éticos geralmente são um reflexo do conflito entre esses diferentes bens (ex.: jogo esse papel aqui na rua, mais perto de mim (bem pessoal) ou jogo longe e ajudo a preservar o meio (bem da cultura)? CBI of Miami 4 Além desses pontos, é importante considerarmos sobre quais éticas estamos falando: uma ética descritiva (que descreve comportamentos morais das pessoas) ou uma ética prescritiva (que sugere condutas para as pessoas). Quando falamos dos códigos de ética profissionais, estamos nos referindo, predominantemente, a uma ética prescritiva. Até o presente momento, em 2022, não há uma regulamentação da profissão analista do comportamento no Brasil. Em alguns países, a exemplo dos Estados Unidos, o analista do comportamento deve ter uma certificação específica para atuar. Geralmente, essas certificações condensam um longo processo de estudo, prática supervisionada e uma prova de conhecimentos1. Destaca-se que essas certificações, geralmente, têm um código de ética profissional, que o analista deve seguir, a fim de manter o título de certificado. Dessa forma, mesmo que o profissional não seja certificado e não seja obrigado a seguir essas diretrizes, códigos de ética como o do BCBA©, do QBA© e do IBA© são bons documentos norteadores para a prática do analista do comportamento de toda forma e podem ser consultados na íntegra por meio do site das instituições certificadoras2. Não obstante, apesar de não ser obrigado a seguir o código de ética de instituições das quais o profissional não é certificado, ele tem a obrigação de seguir códigos de ética da sua profissão e se atentar a algumas legislações importantes, como o estatuto da pessoa com deficiência e o estatuto da criança e do adolescente, por exemplo. Não devemos esquecer de que o profissional, antes de tudo, é cidadão, e tem deveres legais, o que remete a uma pergunta ética fundamental: “o que é certo fazer?” (Bailey; Burch, 2016). Nesse sentido, é importante que o profissional se atente para fazer o que é legal e ético ao mesmo tempo. Para tanto, além de conhecer a legislação vigente sobre a área e os códigos de ética, é importante que o analista do comportamento tenha consciência dos seus valores pessoais e dos valores culturais. Outra pergunta ética importante, a ser feita pelo analista do comportamento é “o que vale a pena fazer?” (Bailey; Burch, 2016). Ela envolve 1 Dentre as mais conhecidas mundialmente estão o BCBA, o QBA e o IBA (dos órgãos BACB, QABA e IBAO, respectivamente). 2 www.bacb.com , www.qababoard.com e www.theibao.com CBI of Miami 5 o custo-benefício de determinados procedimentos e intervenções. Por exemplo: o analista do comportamento pode planejar uma intervenção a ser implementada pelos pais da criança, mas eles não têm tempo para realizá-la. Nesse sentido, vale a pena alocar tempo da intervenção para isso? É importante que o profissional se atente à validade social da intervenção. Por fim, a terceira e última pergunta ética que os autores supracitados fazem é “o que significa ser um bom analista do comportamento?”. Para pensarmos na resposta a essa pergunta, precisamos olhar para diretrizes da área, ou seja, para regras sobre ética já produzidas por analistas do comportamento experientes e competentes, ou seja, para os códigos de ética da área. O código de ética do IBAO© (2021)3, por exemplo, traz 8 seções que endereçam regras importantes para o exercício prático em análise do comportamento: 1. Promoção dos direitos e dignidade do cliente: Nessa seção, o código afirma a importância de o profissional tratar os clientes com respeito e de proteger os direitos do cliente. Fala também sobre utilizarmos procedimentos mais efetivos e menos restritivos possível e não causar danos. Para proteger o cliente, é importante que o analista do comportamento utilize termos de consentimento informado e assinado pelo cliente e/ou responsável legal antes de executar o plano de intervenção ou de avaliação. Outro ponto importante, relacionado aos direitos do cliente, é a confidencialidade dos dados. Isso envolve cuidados com os dados produzidos e com a imagem do cliente. No Brasil, os profissionais também devem se atentar à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). 2. Respeitar Dignidade: Os profissionais devem promover igualdade e equidade, ficando atentos aos valores e à diversidade cultural de quem atende. Uma postura profissional perpassa também por saber separar dados relativos a valores pessoais e valores dos outros e 3 Utilizaremos o código de ética do IBAO como modelo nessa disciplina pois a pós-graduação em ABA do CBI é provedora oficial das horas teóricas para a certificação IBA (ACP – Approved Content Provider). O conhecimento do código de ética do IBAO é essencial para as pessoas que pretendem se certificar. CBI of Miami 6 não deixar que valores pessoais interfiram negativamente no trabalho. 3. Competência e excelência: Nessa seção, o código destaca quatro pontos importantíssimos de uma conduta ética: a) honestidade; b) integridade na utilização de práticas baseadasem evidência; c) segurança do cliente em primeiro lugar e d) trabalhar nos limites da competência – isso significa que só devemos atuar em práticas compatíveis com a nossa experiência e formação. Sobre atuar dentro do escopo de competência, é importante que o analista do comportamento que está se candidatando a um processo de certificação esteja atento aos requisitos para ser um analista do comportamento certificado. O IBA (Analista do Comportamento Internacional)©, por exemplo, deve seguir os requisitos abaixo: Figura 01: Tabela retirada do Manual de Requisitos para Analista do Comportamento Internacional do IBAO© (página 3). Portanto, além de cumprir as horas teóricas adquiridas nos Objetivos Educacionais Requiridos (essa pós é uma provedora oficial), o profissional deve passar por uma série de requisitos, como o de prática supervisionada e aprovação em teste de competências. Isso garante para o consumidor que o analista do comportamento tem as competências mínimas para exercer as funções de supervisor de caso. CBI of Miami 7 4. Gerenciamento, supervisão e treinamento: Uma grande parte do trabalho do analista do comportamento supervisor envolve gerenciamento da pasta do caso, treinamento e supervisão da equipe. Isso implica que o supervisor deve treinar essas habilidades e se atentar para as relações éticas com a sua equipe, também. Se atentar às regras de supervisão da instituição certificadora, ministrar supervisão e treinamento apenas nas áreas para as quais tem experiência e formação (escopo de competência), e alertar colegas e, em segundo caso, instituições, sobre práticas anti-éticas é o mínimo que esse profissional deve fazer. 5. Responsabilidade social: Dentro das responsabilidades, relacionadas à sociedade no geral, do analista do comportamento estão: veicular apenas informações verdadeiras e científicas em anúncios profissionais, proteger o direito à imagem do cliente em veiculação dessa e promoção de cultura ética em divulgações. 6. Relacionamentos profissionais: Essa seção é crucial dentro do código, pois é o cerne das relações com o cliente e com outros profissionais. Em primeiro lugar, devemos estar conscientes de que cliente é o tomador do serviço (cliente direto e seus familiares), e não quem paga por ele. O melhor interesse desse cliente deve estar acima de outras questões em conflitos éticos. A consequência direta disso é a proteção do cliente e não causar danos. As implicações indiretas se referem à: honrar aspectos contratuais; tomar muito cuidado com relacionamentos múltiplos (ex.: se tornar ‘amigo’ da mãe do cliente); colaborar com a equipe interdisciplinar e não se engajar em relações de exploração na equipe. Esses quatro pontos citados, quando em risco, prejudicam ou têm o potencial de prejudicar o melhor interesse do cliente. 7. Autorresponsabilidade do titular da certificação: Esse tópico corrobora as outras seções ao afirmar que os interesses próprios do titular da certificação devem vir depois dos interesses do cliente e do campo da ABA. No final do código, os autores fornecem algumas diretrizes para o profissional resolver conflitos éticos. CBI of Miami 8 8. Pesquisa e publicação: O analista do comportamento que faz pesquisa também precisa se atentar a alguns aspectos éticos fundamentais: obter o consentimento dos participantes, fornecer escolha para retirada do consentimento a qualquer momento, proteger confidencialidade dos participantes, fornecer feedback após a pesquisa, fornecer créditos corretos a autores e respeitar direitos autorais de publicações. Outrossim, é importante considerar, na sua prática, as 7 dimensões em ABA. Sempre que estiver diante um dilema ético, além de fazer as 3 perguntas fundamentais sobre ética e lembrar das diretrizes do código de ética, pense se a sua prática está compatível com as sete dimensões da ABA. Não esqueça também de que, para que se considere o melhor interesse do cliente, as escolhas dele devem ser priorizadas em um plano terapêutico. Um plano centrado no cliente, considerando suas preferências, fornecendo oportunidades de ensino que priorizem a escolha e respostas de retirada de assentimento são fundamentais para a preservação da dignidade dessa pessoa. Lembre-se também dessa máxima em ética: só faça com os outros o que gostaria que fosse feito com você! É bem importante que você, aluno do CBI da pós-graduação em ABA, não só leia o código, mas também comece a incorporar as diretrizes desse código na sua prática, a fim não só de estar em conformidade com ele, mas também de se comprometer com as melhores práticas da profissão. Isso é o mínimo que você pode fazer pelo seu cliente! Referências Bibliográficas BAILEY, J., & BURCH, M. (2016). Ethics for behavior analysts. Routledge. DITTRICH, A., & ABIB, J. A. D. (2004). O sistema ético skinneriano e conseqüências para a prática dos analistas do comportamento. Psicologia: reflexão e crítica, 17, 427-433. VANDENBERGHE, L. (2005). Uma ética behaviorista radical para a terapia comportamental. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 7(1), 55-66.
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