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Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
456 
 
Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de 
Garantia, Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na 
Região dos Coredes do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
OLCZEVSKI, Carlos Roberto66 
COTRIN, Décio Souza67 
RESUMO 
Este artigo trata das possibilidades existentes da participação de seis cooperativas 
do ramo agropecuário da região de Frederico Westphalen-RS, na criação de uma 
organização coletiva de certificação de produtos orgânicos, através de um Sistema 
Participativo de Garantia (SPG), uma das três modalidades de certificação de 
orgânicos no Brasil. Este sistema entrou em vigor através da regulamentação da Lei 
de Certificação de Produtos Orgânicos (Lei 10.831 de 23/12/2003).Para identificar o 
interesse destas cooperativas em participar desta organização social participativa de 
certificação foram aplicados questionários diretamente aos dirigentes destas 
cooperativas, momento em que se identificou, por parte da maioria dos 
entrevistados, o interesse em participar deste modelo de certificação de produtos 
orgânicos, as dificuldades enfrentadas pelas cooperativas para desenvolver a 
produção orgânica e as possíveis ações que poderiam ser realizadas para agilizar a 
certificação de produtos orgânicos nesta região. Para que se desenvolva esta 
tecnologia e modelo de produção agrícola, os entrevistados sugerem, entre outras 
ações, incentivos do Estado, considerando que os fornecedores de insumos 
químicos e genéticos privados não têm este interesse. 
 
Palavras-chave: Certificação de produtos orgânicos. Sistema Participativo de 
Garantia. Cooperativas agropecuárias. 
ABSTRACT 
This article deals with the existing possibilities of involvement of six cooperatives of 
the agricultural branch of the region of Frederico Westphalen-RS in the creation of a 
collective organization to certification of organic products, through a system called 
Sistema Participativo de Garantia (SPG), Participatory Guarantee System (PGS), 
 
66 Mestrando na área de Integração Regional e Desenvolvimento Local Sustentável, na Universidade 
Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul - UNIJUI. Pós-graduado em Marketing pela 
Universidade Regional Integrada das Missões e Alto Uruguai - URI. Pós-graduado em 
Planejamento e Gestão pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - 
Campus de Erechim. Graduado em agronomia pela Universidade Federal de Pelotas – UFPel. 
Engenheiro agrônomo na ASCAR/EMATER – ESREG em Frederico Westphalen. E-mail: 
carlosr@emater.tche.br. 
67 Engenheiro Agrônomo, Gerente de Recursos Humanos da EMATER/RS-ASCAR. Doutor em 
Desenvolvimento Rural PGDR-UFRGS. Professor Orientador do Curso de Especialização em 
Gestão de Cooperativas da ESCOOP. E-mail: dcotrim@emater.tche.br. 
Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
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one of the three forms to certification of organics in Brazil. This system entered into 
force through the regulation of the law of certification of organic products (Law 
10.831 of 23/12/2013). In order to identify the interest of these cooperatives in 
participating in these participatory organization of certification it were administered 
questionnaires directly to the leaders of these cooperatives, moment in which were 
identified, through the majority of the respondents, the interest in participating in this 
model to certification of organics products, and the difficulties faced by the 
cooperatives for developing the organic production in this region. To the development 
of this technology and model of agricultural production, the respondents suggest, 
among other actions, state incentives, considering that the private suppliers of 
chemical and genetic inputs, do not have this interest. 
 
Key-words: Certification of Organic Products; Participatory Guarantee System; 
Agricultural Cooperatives. 
1 INTRODUÇÃO 
A agricultura moderna, iniciada na década de 50, vem introduzindo 
tecnologias industriais na agricultura ininterruptamente, desde o seu início. O 
aumento da produção e da produtividade de alimentos é uma realidade, que, no 
entanto, também promove efeitos negativos, pois compromete os ecossistemas 
naturais, contamina as águas, elimina a biodiversidade e produz alimentos com 
resíduos químicos, os quais são consumidos pela população, comprometendo a 
segurança alimentar. 
A importância e as justificativas para a produção orgânica de alimento são 
várias, principalmente quanto aos aspectos de utilização intensa de agrotóxicos nos 
sistemas agrícolas brasileiros. Nos últimos anos, o Brasil vem se destacando como 
um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, aplicando nos seus 
sistemas de produção agrícola o equivalente a 5 litros de agrotóxicos por habitante, 
tendo recebido, inclusive, em 2010, o título de campeão mundial no uso de 
agroquímicos. 
Para identificar alguns dos efeitos do uso em grande escala de agrotóxicos 
em nossa agricultura, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) 
desenvolve o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos nos Alimentos 
(PARA), o qual é realizado anualmente em todos os estados brasileiros. Estas 
análises estão encontrando altos índices de alimentos com resíduos de agrotóxicos 
em todo o país, chegando à média, segundo a ANVISA, de 30 % das amostras de 
Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
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alimentos analisados com quantidade maior de agrotóxicos do que o permitido pela 
Organização Mundial da Saúde. 
Esta conjuntura de insegurança alimentar faz com que as pessoas bem 
informadas e conscientes do problema procurem cada vez mais alimentos mais 
saudáveis, principalmente, os produzidos com tecnologias orgânicas. 
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), na 
agricultura orgânica não é permitido o uso de substâncias que coloquem em risco a 
saúde humana e o meio ambiente. Não são utilizados fertilizantes sintéticos solúveis 
agrotóxicos e transgênicos. 
Nos últimos 10 anos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento 
Agrário (MDA), a produção orgânica brasileira cresceu em média 25 % ao ano, 
colocando o Brasil em 5º lugar em área agrícola cultivada com produtos orgânicos, 
sendo destes, 75% exportados. 
Na região de abrangência do estudo, são poucas as unidades de produção 
produzindo produtos orgânicos com tecnologias ecológicas, tendo como hipótese de 
causa desta situação a dificuldade da certificação dos produtos orgânicos, uma 
exigência mundial de garantia para estes produtos. 
Em janeiro de 2011, entrou em vigor no Brasil a regulamentação da Lei de 
Certificação de Produtos Orgânicos (Lei 10.831 de 23/12/2003), a qual, entre outras 
medidas, prevê três modalidades de certificação, quando anteriormente havia 
somente uma possibilidade, a Certificação por Auditoria. Com esta lei, foram criados 
novos sistemas de certificação dos produtos orgânicos, além da Certificação por 
Auditoria, que ainda continua: o SPG (Sistema Participativo de Garantia) e a 
Certificação por Controle Social de Venda direta. Esta última, sem o uso do selo 
oficial. 
Os Sistemas Participativos de Garantia (SPG), junto com a Certificação por 
Auditoria, compõem o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica 
(SISORG). Para o seu bom funcionamento, o Sistema Participativo de Garantia 
caracteriza-se peloCONTROLE SOCIAL e pela RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA, 
o que possibilita a geração de credibilidade adequada às diferentes realidades 
sociais, culturais, políticas, institucionais, organizacionais e econômicas. 
Este modelo de certificação SPG envolve consumidores, cooperativas 
agropecuárias e outras organizações da região, que de forma conjunta, poderiam 
certificar a produção orgânica desta região e possibilitariam a oferta de alimentos 
Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
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mais saudáveis à população, abrindo novos mercados e agregando valor aos 
produtos dos agricultores familiares. 
Esta ação pode significar o início de um processo de transição da agricultura 
convencional para a agricultura ecológica ou orgânica nesta região. Isto foi revelado 
durante as entrevistas realizadas diretamente através da aplicação de questionários 
com perguntas abertas a seis dirigentes de pequenas cooperativas agropecuárias da 
região estudada. Os entrevistados declararam, na sua maioria, o interesse de 
participar de uma organização de certificação de produtos orgânicos na modalidade 
de SPG, e que esta seria uma forma de desenvolver a produção orgânica da região. 
Este estudo objetivou identificar se há interesse, dificuldades e vantagens de 
cooperativas do ramo agropecuário, localizadas na região de Frederico Westphalen-
RS, em participar da organização de uma certificadora de produtos orgânicos via 
Sistema Participativo de Garantia (SPG), que é uma das três possibilidades de 
obter-se o selo oficial brasileiro de produto orgânico, SISORG, do Ministério da 
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 
Uma das hipóteses é que realmente há o interesse em criar uma SPG/OPAC 
na região delimitada com a participação destas cooperativas, para certificar os 
produtos orgânicos. Outra hipótese é que a produção orgânica não se desenvolve 
na região de abrangência deste estudo, tendo como principais causas a dificuldade 
de cumprir a exigência de certificação dos produtos orgânicos e o desconhecimento 
da atual legislação brasileira dos produtos orgânicos. 
Este artigo ainda contém o referencial teórico sobre o tema e o resultado da 
pesquisa qualitativa, com a abordagem deste estudo de caso, obtido através de 
entrevistas com a utilização de questionários aplicados diretamente aos dirigentes 
de cooperativas agropecuárias de pequeno porte, da região pesquisada. 
2 METODOLOGIA: 
A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, com a abordagem realizada 
através de estudo de caso de 6 (seis) cooperativas do ramo agropecuário, 
localizadas no território de Frederico Westphalen-RS. 
Como técnica de pesquisa, foram utilizadas entrevistas estruturadas e diretas, 
com questões abertas aos dirigentes de cooperativas agropecuárias de pequeno 
porte. 
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Este método foi utilizado para identificar as cooperativas interessadas em 
participar de um SPG/OPAC e, também, as dificuldades junto a estas cooperativas 
para implantar a produção e a comercialização de produtos orgânicos. 
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
3.1 O COOPERATIVISMO E SUA ORIGEM 
Em âmbito oficial do cooperativismo mundial, a fundação do cooperativismo 
teve seu início na "Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale", em 21 de 
dezembro de 1844 no bairro de Rochdale, em Manchester (Inglaterra). Na época, 27 
tecelões e uma tecelã procuravam uma alternativa econômica para atuarem no 
mercado, frente ao capitalismo ganancioso que os submetia a preços abusivos, 
exploração da jornada de trabalho de mulheres e crianças (que trabalhavam até 
16h) e para fugir do desemprego provocado pela Revolução Industrial. 
Naquele momento, aquelas pessoas mudavam os padrões econômicos da 
época e davam origem ao movimento cooperativista. Cerca de dez anos mais tarde, 
o "Armazém de Rochdale" já contava com 1.400 cooperantes. Com isso, o sucesso 
do empreendimento passou a ser um exemplo para outros grupos. 
O cooperativismo acabou evoluindo e conquistando um espaço próprio, 
definido por uma nova forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento 
social. Por sua forma igualitária e social, o cooperativismo é aceito e reconhecido 
como fórmula democrática para a solução de problemas socioeconômicos. 
No Brasil, podemos verificar que a construção de um estado cooperativista 
começou em 1610, com a fundação das primeiras reduções jesuíticas nas Missões 
do Rio Grande do Sul. 
Entretanto, somente dois séculos depois, em 1847, é que a história registra o 
início do movimento cooperativista no Brasil. Foi quando o médico francês Jean 
Maurice Faivre, adepto das ideias reformadoras de Charles Fourier, fundou nos 
sertões do Paraná, juntamente com um grupo de europeus, a colônia Tereza 
Cristina, organizada em bases cooperativas. Apesar de sua breve existência, essa 
organização contribuiu, na memória coletiva, como elemento formador do 
cooperativismo brasileiro. 
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Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
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Cooperativismo vem da palavra cooperação e é uma doutrina cultural e 
socioeconômica que consagra os princípios fundamentais de liberdade humana, 
apoiada por um sistema de educação e participação permanente. 
Foi no ano de 1995, no Congresso Centenário da Aliança Cooperativa 
Internacional (ACI), em Manchester (Inglaterra), que se reuniram cooperativistas de 
todos os continentes para definirem Cooperativa, Valores e Princípios. 
Segundo a ACI, que representa o sistema cooperativo em âmbito mundial, 
cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, 
para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, 
por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida. 
De acordo com o X Congresso Brasileiro de Cooperativismo (Brasília -1988), 
a cooperativa fundamenta-se na economia solidária e se propõe a obter um 
desempenho econômico eficiente, através da qualidade e da confiabilidade dos 
serviços que presta aos próprios associados e aos usuários. 
No Brasil, são treze ramos de cooperativas com atuação socioeconômica. No 
Rio Grande do Sul, segundo o Relatório da OCERGS – Gestão 2011, as 
cooperativas que gozam de maior popularidade, em ordem descendente, são as 
Cooperativas de Crédito, Cooperativas Agropecuárias, Cooperativas de 
Infraestrutura, Cooperativas Habitacionais, Cooperativas de Trabalho, Cooperativas 
de Educação, Cooperativas de Interesse Social. 
3.2 PRODUTOS ORGÂNICOS 
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) apresenta que 
na agricultura orgânica não é permitido o uso de substâncias que coloquem em risco 
a saúde humana e o meio ambiente. Não são utilizados fertilizantes sintéticos 
solúveis, agrotóxicos e transgênicos. 
Para ser considerado orgânico, o produto tem que ser produzido em um 
ambiente de produção orgânica, onde se utiliza, como base do processo produtivo, 
os princípios agroecológicos que contemplam o uso responsável do solo, da água, 
do ar e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais 
(MAPA). 
Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
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3.2.1 Garantia da Qualidade Orgânica 
A legislação brasileira prevê os Sistemas Participativos de Garantia,que se 
caracterizam pelo Controle Social e pela Responsabilidade Solidária. Há diferentes 
maneiras de garantir a qualidade orgânica dos seus produtos: a Certificação, os 
Sistemas Participativos de Garantia e o Controle Social na Venda Direta sem 
Certificação. 
Os chamados Sistemas Participativos de Garantia, junto com a Certificação 
por Auditoria, compõem o SISTEMA BRASILEIRO DE AVALIAÇÃO DA 
CONFORMIDADE ORGÂNICA – SISORG. Para o seu bom funcionamento, o 
Sistema Participativo de Garantia caracteriza-se pelo CONTROLE SOCIAL e pela 
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA, o que possibilita a geração de credibilidade 
adequada às diferentes realidades sociais, culturais, políticas, institucionais, 
organizacionais e econômicas. 
3.2.2 Certificação por Auditoria 
Segundo o MAPA, o mecanismo de certificação se dá por meio de empresas, 
com ou sem fins lucrativos. Mais conhecidas como Certificadoras, estas empresas 
realizam inspeções e auditorias, seguindo procedimentos básicos estabelecidos por 
normas reconhecidas internacionalmente. Uma exigência é não ter nenhum tipo de 
ligação com o processo produtivo que estão avaliando. 
Ainda de acordo com o MAPA, as certificadoras devem garantir que cada 
unidade de produção e de comercialização certificada cumpra com todas as 
exigências, durante todas as etapas do Processo de Certificação. 
Cada unidade de produção certificada tem que apresentar um registro do tipo 
de produção que permita a obtenção de informações para realizar verificações 
necessárias sobre a produção, o armazenamento, o processamento, as aquisições e 
as vendas. 
Segundo o Ministério responsável pela certificação de produtos orgânicos no 
Brasil, as inspeções realizadas pelas certificadoras devem seguir procedimentos 
objetivos, com acesso a todas as instalações, registros e documentos das unidades 
de produção. As unidades de produção devem ser inspecionadas, no mínimo, uma 
Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
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vez por ano, sendo que no intervalo entre as vistorias são utilizados outros 
mecanismos de controle. 
No caso da certificadora estabelecer seu custo de certificação com base em 
um percentual sobre a produção certificada, ela é obrigada a oferecer também outra 
modalidade de cobrança. 
3.2.3 Sistemas Participativos de Garantia – SPG 
Os Sistemas Participativos de Garantia caracterizam-se pelo controle social e 
pela responsabilidade solidária, podendo abrigar diferentes métodos de geração de 
credibilidade adequados a diferentes realidades sociais, culturais, políticas, 
institucionais, organizacionais e econômicas. 
Segundo o MAPA, o Controle Social é um processo de geração de 
credibilidade, necessariamente reconhecido pela sociedade, organizado por um 
grupo de pessoas que trabalham com comprometimento e seriedade. Ele é 
estabelecido pela participação direta dos seus membros em ações coletivas para 
avaliar a conformidade dos fornecedores aos regulamentos técnicos da produção 
orgânica. 
Conforme orientação do MAPA, a Responsabilidade Solidária acontece 
quando todos os participantes do grupo comprometem-se com o cumprimento das 
exigências técnicas para a produção orgânica e responsabilizam-se de forma 
solidária nos casos de não cumprimento delas. 
O Sistema Participativo de Garantia (SPG) é formado, basicamente, por dois 
componentes: 
a) os membros do sistema – são pessoas físicas ou jurídicas que fazem parte 
de um grupo classificado em duas categorias: a) Os fornecedores, 
constituídos pelos produtores, distribuidores, comercializadores, 
transportadores e armazenadores; b) Os colaboradores, constituídos pelos 
consumidores e suas organizações, técnicos, organizações públicas ou 
privadas, ONGs e organizações de representação de classe. 
b) organismo participativo de avaliação da conformidade – OPAC – é uma 
organização que assume a responsabilidade formal pelo conjunto de 
atividades desenvolvidas num SPG. A estrutura organizacional é 
constituída por uma Comissão de Avaliação e um Conselho de Recursos, 
Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
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ambos compostos por representantes dos membros de cada Sistema 
Participativo de Garantia. 
O SPG promove as visitas de verificação da conformidade, com objetivo de 
troca de experiências entre os participantes do sistema e de orientação aos 
fornecedores para que eles possam resolver possíveis não conformidades e 
melhorar a qualidade dos sistemas produtivos. 
Segundo o MAPA, as visitas de verificação da conformidade são realizadas 
pelas COMISSÕES DE AVALIAÇÃO e pelas visitas de pares. Elas acontecem, no 
mínimo, uma vez por ano, no grupo ou no fornecedor individual. A participação dos 
fornecedores na atividade do SPG e nas reuniões do OPAC é necessária, como 
forma de utilização de outras formas de avaliação. 
3.3 A REDE ECOVIDA DE CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA 
Esta rede é composta por familiares, técnicos e consumidores reunidos em 
associações, cooperativas e grupos informais que, juntamente com pequenas 
agroindústrias, comerciantes ecológicos e pessoas comprometidas com o 
desenvolvimento da agroecologia, organizam-se em torno da Rede Ecovida. 
Depois da auditoria realizada pelo Ministério da Agricultura – MAPA (de 30/11 
a 2/12 de 2010), a Associação Ecovida – Organismo Participativo de Avaliação de 
Conformidade (OPAC) está credenciada oficialmente pelo MAPA, o que significa o 
reconhecimento da capacidade da Rede Ecovida e a possibilidade de suas 
instâncias afirmarem a qualidade ecológica de seus produtos/unidades produtivas: 
Rede ECOVIDA de Certificação. 
A Rede Ecovida é composta por 26 núcleos, sendo que o 26º Núcleo é 
chamado de Vale do Rio Uruguai, localizado em Santa Catarina, nos municípios de 
Saltinho, Palmitos, Descanso, Tunápolis, e, no Rio Grande do Sul, nos municípios 
de Erval Seco e Cristal do Sul, estas últimas cidades, localizadas na abrangência do 
COREDE do Médio Alto Uruguai. 
Neste Núcleo são: 31 famílias certificadas; 4 associações agroecológicas; 4 
feiras municipais; 2 cooperativas; 1 agroindústria. 
Projetos desenvolvidos: Na Cooperbiorga, através dos associados 
certificados pela Ecovida, são embalados e comercializados diversos produtos 
orgânicos com uma agroindústria de óleos vegetais extravirgens orgânicos. 
Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
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Através do apoio da Cooperbiorga, os produtos dos agricultores do Núcleo 
Vale do Rio Uruguai são comercializados nas feiras municipais e regionais. 
3.4 ALIMENTOS ORGÂNICOS NA MERENDA ESCOLAR 
A Lei da Merenda Escolar, No. 11.947, sancionada em junho de 2011, 
determina que, no mínimo, 30% da merenda escolar seja comprada diretamente de 
agricultores familiares, sem licitação. Os recursos são do Fundo Nacional de 
Desenvolvimento da Educação (FNDE), repassados ao Programa Nacional de 
Alimentação Escolar (PNAE), e abrangem todas as escolas públicas e filantrópicas 
do país, da educação infantil ao ensino de jovens e adultos. Os produtos 
agroecológicos ganham especial distinção na Lei da Merenda, devem ser 
priorizados na compra para a merenda escolar e seus preços podem ser até 30% 
superiores aos produtos convencionais. 
4 RESULTADO DA PESQUISA – A VISÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA 
PELAS COOPERATIVAS 
Nesta pesquisa qualitativa foram aplicados diretamente 6 (seis) questionários 
contendo 10 (dez) perguntas abertas sobre produção e certificação de produtos 
orgânicos,para presidentes e administradores de pequenas cooperativas do ramo 
agropecuário da Região de Frederico Westphalen-RS, que abrange 42 municípios 
dos COREDES, Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea. 
Estas cooperativas são a COOPRAFF, de Frederico Westphalen-RS; 
cooperativa EXTREMO NORTE, de Alpestre; COOPERAMETISTA, de Ametista do 
Sul-RS; COOCAMPO, de Liberato Salzano-RS; COOPAFS, de Sarandi-RS e 
COOPERVALE, de Pinheirinho do Vale-RS. 
Sobre o que seria um produto orgânico, observou-se pontos de vista 
semelhantes entre os entrevistados, demonstrando um conhecimento básico sobre o 
tema, pois se ressaltou que é o resultado da utilização de técnicas, que, além de 
possibilitarem a obtenção de alimentos livres de resíduos químicos, são saudáveis 
aos agricultores, aos consumidores e ao meio ambiente. 
Quanto ao que significa um produto orgânico e sobre a importância da 
produção orgânica para as cooperativas, foi demonstrado interesse pela maioria dos 
Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes 
do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea/RS 
 
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dirigentes entrevistados, os quais manifestaram o desejo de um modelo de 
agricultura que promova melhor qualidade de vida para os agricultores e 
consumidores, garantindo a produtividade e a rentabilidade competitiva no mercado 
da cooperativa e dos agricultores associados. Na visão de alguns, o produto 
orgânico é um produto ainda diferenciado, comparando-se aos produtos 
convencionais. 
Em relação aos associados, outra manifestação da importância da produção 
orgânica pelas cooperativas se destacou devido à existência de muitos casos de 
câncer entre os agricultores, o que é uma preocupação majoritária dos dirigentes. 
Foi apontado que, provavelmente, esta alta incidência desta grave doença seria em 
consequência da utilização elevada de agrotóxicos nas atividades agrícolas. Os 
associados acreditam que a agricultura orgânica diminuiria esta incidência. 
Entretanto, não houve unanimidade nas respostas quanto à importância dos 
produtos orgânicos para as organizações cooperativas e associados. Dois dos seis 
entrevistados avaliaram que, no momento, não consideram a produção orgânica 
como importante. Um deles declarou: 
Os nossos clientes locais ainda não enxergam os produtos orgânicos 
como importantes, não pagariam mais por estes produtos, pois dão mais 
importância aos produtos coloniais. 
Quando questionados se a direção conhecia a nova legislação brasileira de 
produtos orgânicos, que entrou em vigor a partir de janeiro de 2011, a qual prevê 
novas modalidades de certificação dos produtos orgânicos, foi unânime o 
desconhecimento desta nova legislação. Esta realidade demonstra a necessidade 
de mais divulgação desta legislação para o público de potencial interesse. Apenas o 
conhecimento da existência desta legislação que permite maiores possibilidades de 
certificação dos produtos orgânicos, possivelmente, possibilitaria avanços nesta 
área. 
A maioria das cooperativas declarou que fariam parte do Sistema Participação 
de Certificação – SPG, o qual permite organizar uma estrutura regional participativa 
de certificação de orgânicos, principalmente se for mais barata para os produtores. 
Sim, participaria de um SPG, porque há associados que têm interesse em 
produzir orgânicos. Teria orientação de como produzir orgânicos. 
Capítulo XXII - Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, 
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Porque a cooperativa foi criada com o objetivo de produção e 
comercialização de alimentos saudáveis, este sistema de certificação 
poderia viabilizar mais facilmente a produção orgânica. 
Várias cooperativas declararam que teriam capacidade de produzir e oferecer 
ao mercado e à comunidade regional considerável diversidade de produtos 
orgânicos, se facilitada a sua certificação, tais como: o tomate, a alface, o repolho, o 
chuchu, a couve-flor, a couve-brócolis, o alho, a cenoura, a mandioca, a batata-
doce, a moranga cabutiá, e também frutíferas, como várias espécies e variedades 
de citros, pêssego e caqui. Em termos de grãos e cereais, destacou-se o feijão, o 
arroz colonial e a pipoca. Produtos processados de origem vegetal, como sucos, 
farinhas, panificados, doces e conservas, têm potencial de serem produzidos. 
Observa-se, assim, que há uma gama de produtos que permitiriam abastecer 
esta região com variedade e qualidade de produtos orgânicos. 
Esta condição favoreceria a população regional se conseguisse ofertar, com 
regularidade e nas condições que os consumidores locais desejam, estes produtos 
diferenciados, o que não foi explorado por esta pesquisa. Quando se perguntou se 
haveria interesse da cooperativa em desenvolver a produção orgânica, a maioria 
respondeu que sim, há interesse, mas houve cooperativa que declarou que 
inicialmente não, devido a questões culturais entre os produtores e os consumidores 
locais. Os entrevistados reclamaram, também, que não haveria apoio político e 
técnico, nem incentivos a este tipo de atividade. 
Inicialmente não tenho interesse na produção orgânica, falta apoio político 
e, também, o local não dá importância para este tipo de produto. 
Uma liderança de cooperativa declarou que, por enquanto, não tem interesse 
na produção orgânica, pois não há conhecimento técnico. 
Quero que provem que é possível produzir uva orgânica. 
Neste caso, os produtores pensam em produzir com Manejo Integrado de 
Pragas (MIP), utilizando uma certificação de que a uva não apresenta resíduos de 
agrotóxicos, pois haveria mercado para este produto (uva in natura), permitindo 
alcançar melhor preço. 
O SEBRAE ofereceu uma consultoria para produção de uva ‘sem 
resíduos de agrotóxicos’”. A seu ver a produção livre de resíduos de 
agrotóxicos é uma necessidade. Alerta que: “tem produtor de uva que 
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aplica ‘veneno’ e comercializa, dentro do período de carência, eu já vi isto 
acontecer. 
4.1 A CERTIFICAÇÃO DOS PRODUTOS ORGÂNICOS NA VISÃO DAS 
COOPERATIVAS 
Quando perguntado aos entrevistados se sabiam que o sistema de 
certificação por Sistema Participativo de Garantia – SPG permitia organizar uma 
estrutura regional participativa de certificação de produtos orgânicos, com a 
participação de cooperativas e outras organizações, e que o SPG poderia ser uma 
forma de certificação mais barata para os produtores; se a cooperativa se disporia a 
participar como membro desta organização, e o porquê desta posição, as respostas 
foram, em sua maioria, que sim, participariam de uma organização que viabilizasse a 
certificação de produtos orgânicos na região. 
Várias respostas foram dadas para justificar esta resposta positiva majoritária 
de aprovação desta modalidade de certificação orgânica por SPG, destacando-se 
que este modelo de certificação poderia viabilizar e impulsionar a produção orgânica 
pelos associados das cooperativas, pois há vários agricultores que têm interesse em 
produzir produtos orgânicos. 
Esta avaliação positiva quanto ao novo sistema de certificação de produtos 
orgânicos por SPG, em vigor no Brasil desde janeiro 2011, tem, porém, restrições, 
de acordo com alguns dirigentes, devido à falta de conhecimento técnico da 
agricultura orgânica, pelas cooperativas da região. 
Não entra na cabeça produzir orgânicos neste momento, quero que se 
comprove que é possível tecnicamente produzir orgânicos. 
Houve resposta positiva no sentido de que há vários associados que têm 
interesse em produzir produtosorgânicos e, por isso, a necessidade de viabilizar 
uma certificação de orgânicos com custo menor. Durante as entrevistas, os 
dirigentes manifestaram, de maneira majoritária, que este modelo de certificação por 
SPG, atuando em nível regional, facilitaria a certificação e impulsionaria a produção 
de orgânicos. 
Nesta questão, que envolve a criação de uma Certificadora na região no 
modelo de uma SPG, houve duas respostas negativas quando foi manifestado que, 
inicialmente, não gostariam de participar de uma organização para viabilizar um 
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SPG. Como justificativa, relataram que tiveram experiências negativas em termos de 
produção de uva orgânica, quando, no passado, a cooperativa incentivou esta 
tecnologia e não conseguiram certificação, apesar de conseguirem produzir uvas 
utilizando técnicas que não utilizassem agrotóxicos e nem adubos químicos solúveis. 
Esta situação gerou desgaste entre a cooperativa e os produtores. 
Por sua vez, no mercado local desta cooperativa e municípios vizinhos, a 
produção orgânica ainda não é vista como importante pelos consumidores. 
Das atividades produtivas desenvolvidas pelas cooperativas visitadas e em 
relação ao interesse em certificar produtos orgânicos, foi citada uma gama 
diversificada de produtos que desperta atual interesse de produção orgânica pela 
maioria das cooperativas. 
4.2 DIFICULDADES E POTENCIAIS APONTADOS PARA VIABILIZAR A 
AGRICULTURA ORGÂNICA 
A variedade de produtos apresentada pelas cooperativas demonstra um 
potencial interessante, considerando que existe somente uma cooperativa com 
produção certificada de produtos orgânicos atuando na região (COOPERBIORGA), 
sendo, no entanto, uma filial da matriz que tem sede em Mondaí-SC. 
Foi, também, solicitado que os entrevistados citassem as três principais 
dificuldades que as cooperativas poderiam ter, para a implantação da produção 
orgânica nas suas atividades produtivas, sendo apresentado abaixo o total de 
dificuldades não coincidentes apontadas entre todos os entrevistados: 
A obtenção do conhecimento técnico da produção orgânica pelos agricultores, 
associados das cooperativas e técnicos foi uma das dificuldades apontadas e que 
aparece como um dos fatores limitantes para a evolução desta modalidade de 
agricultura. Outra preocupação se refere à comercialização, pois a procura da 
produção orgânica pelos consumidores, segundo os entrevistados, é maior nos 
grandes centros, se comparada a esta região, o que se relaciona a outra dificuldade 
apontada que é a falta de conhecimento da população sobre as vantagens dos 
produtos orgânicos. 
Outra dificuldade apresentada por um dirigente de uma cooperativa de 
produção de uva e vinho é a necessidade tecnológica de cobertura plástica dos 
parreirais, o que facilitaria a produção orgânica de uvas. Esta técnica depende de 
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investimentos que os produtores, no momento, não pensam em realizar, mas que 
deve ser considerada em curto prazo, pois traria várias vantagens, tais como: 
diminuir a aplicação de fungicidas, que atualmente passa de 12 aplicações; eliminar 
o risco de prejuízos com granizo e geadas; poder tornar a colheita mais precoce, 
agregando maior valor à produção de uvas. 
A dificuldade encontrada para a certificação da produção orgânica foi 
apontada como uma das causadoras da não adoção desta tecnologia pelas 
cooperativas. 
A assistência técnica para a agricultura orgânica foi uma necessidade apontada 
para avançar na produção orgânica regional. Os entrevistados reclamam da falta de 
engenheiros agrônomos que atuem neste tipo de agricultura. Esta assistência poderia 
ser uma iniciativa das cooperativas e, também, do poder público local, mas os 
produtores queixam-se da falta de apoio do poder público para este segmento. 
Deveria haver mais investimentos nesta área. 
A falta de motivação e persistência dos produtores em superar os obstáculos 
também foi apontada como uma dificuldade enfrentada para o avanço da produção 
orgânica. Há necessidade da regularidade de produção para atender a demanda dos 
compradores, exigindo uma estrutura de produção e de comercialização de 
orgânicos que ainda não existe nesta região. 
Analisando as dificuldades apontadas pelos dirigentes das cooperativas 
pesquisadas, percebe-se que são vários os desafios para tornar a produção 
orgânica uma realidade na região, mas que a facilitação da certificação poderia 
estimular a vencer cada uma das dificuldades apontadas. Estes desafios 
envolveriam vários atores da região, pertencentes às mais variadas instituições e 
organizações, desde a Emater, como responsável pela ATER pública estadual, as 
cooperativas, os sindicatos dos trabalhadores rurais, as universidades, os órgãos de 
pesquisa agropecuária e as prefeituras municipais. 
Quando perguntado se a direção avaliava que há oportunidades de produção 
e comercialização de produtos orgânicos no município e região, a maioria respondeu 
que sim, apontando as seguintes oportunidades avaliadas pelos entrevistados: as 
feiras de produtos orgânicos nos municípios, na região e no Estado; o Programa 
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); os pontos de vendas. Diante destas 
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possibilidades, as cooperativas poderiam se preparar para atender as oportunidades 
de mercado para os produtos orgânicos. 
No quesito oportunidades de comercialização para os produtos orgânicos, 
observa-se que foram apresentadas poucas alternativas, possivelmente porque 
estes produtos não fazem parte do dia a dia das cooperativas, não havendo muito 
conhecimento deste mercado por parte dos administradores das cooperativas 
pesquisadas. 
No que diz respeito a sugestões ou observações que os entrevistados 
poderiam fazer em relação à certificação e produção de produtos orgânicos, eles 
responderam que: 
Produzir orgânicos é uma prática séria, que exige vários conhecimentos e 
seriedade por parte dos produtores, e que a nova legislação dos produtos orgânicos, 
com as novas possibilidades de certificação, pode facilitar a produção de orgânicos 
pelos agricultores familiares. 
Os agricultores pensam que sair do cultivo convencional para o orgânico é 
muito difícil, e que poderiam iniciar com o Manejo Integrado de Pragas – MIP, para 
depois evoluir para a produção orgânica. 
Uma das grandes preocupações é em relação aos programas públicos, que 
iniciam e podem não ter continuidade. Esta preocupação aparece, também, em 
relação à Emater: 
Um técnico pode iniciar o trabalho e logo ser transferido, não havendo 
continuidade. 
Um dirigente de cooperativa declarou que um dos fatores que inviabiliza a 
implantação da agricultura orgânica em certos locais é que muitas propriedades dos 
agricultores de frutas e olerícolas, nos municípios, estão cercadas por áreas de 
produção de grãos, que utilizam grande volume de agrotóxicos, o que 
impossibilitaria a certificação de produtos orgânicos. 
A certificação de produtos orgânicos, no seu modelo tradicional (auditoria) é 
inviável para pequenos produtores devido ao alto custo da certificação, mas a 
possibilidade de certificar a produção orgânica via SPG incentivaria a produção 
deste tipo produto. Na visão do dirigente: 
Não é difícil produzir o difícil é conseguir a certificação, o selo de produto 
orgânico. 
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Na opinião de um cooperativista, seria papel do Estado incentivar a produção 
de produtos orgânicos, visto que as empresas fabricantes e vendedoras de insumos 
químicos não irão fazê-lo e a sociedade necessita desta iniciativa. 
Em relação às sugestões e observações dos entrevistados, observa-se que 
houve mais colocações no sentido da possibilidade e da importância de viabilizar um 
sistema de certificação de produtos orgânicos que facilite a participação dos 
agricultores familiares da região. 
Destacou-se, também, nestas sugestões, a necessidade de capacitação de 
agricultores e técnicos na produção orgânica. Na opinião dos dirigentes das 
cooperativas há necessidade de programas e apoio técnico permanente para este 
tipo de produção. 
Houve observações em relação à falta de conscientização da população local 
quanto à importância da produção orgânica como fornecedora de alimentos 
saudáveis, o que impediria a implantação desta tecnologia pelos produtores em 
alguns locais, pois não haveria a valorização esperada. 
5 CONCLUSÃO 
Várias e diferenciadas dificuldades foram apresentadas pelos dirigentes das 
cooperativas agropecuárias entrevistados, apontando caminhos e soluções que 
podem ser implementados pelas cooperativas, instituições de pesquisa e de 
extensão rural. O poder público, nos seus três níveis, os agricultores e os 
consumidores também teriam responsabilidades quanto à realização de ações para 
que ocorram avanços na produção orgânica desta região, com o intuito de produzir 
alimentos saudáveis, sem causar danos ao meio ambiente. 
Destaca-se, neste sentido, a necessidade de capacitação de agricultores e 
técnicos, dado o desconhecimento das técnicas de produção de orgânicos pelos 
agricultores, somado à falta de técnicos capacitados atuando nestes municípios e 
cooperativas. 
Em alguns municípios foi destacada a falta de demanda de produtos 
orgânicos por parte dos consumidores locais, demonstrando o desconhecimento dos 
benefícios destes produtos à saúde e ao meio ambiente. Parece não ser de 
conhecimento ou existir falta de consciência dos consumidores de certos municípios 
da região quanto aos perigos do consumo de alimentos produzidos com agrotóxicos 
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em excesso e com o atual descontrole de resíduos destas substâncias químicas nos 
alimentos do Brasil, conforme constatado pelo PARA – Anvisa. Esta situação mostra 
a necessidade da realização de um trabalho de informação da população em relação 
a estes aspectos negativos e às vantagens para a saúde humana quanto ao 
consumo de alimentos com boa qualidade sanitária. 
Há locais de abrangência de cooperativas, se comprovada a análise do 
entrevistado, em que haverá pouca possibilidade de evolução da agricultura 
orgânica, pois se observa que, nos locais onde evoluiu esta tecnologia de produção 
orgânica no Estado do Rio Grande do Sul, a comunidade demandou este tipo de 
produto, dando suporte para que os agricultores produzissem e comercializassem a 
sua produção na chamada cadeia curta, ou seja, próximo ao local de produção. 
Ao mesmo tempo, foi considerável o apoio obtido à implantação de uma 
certificadora de produtos orgânicos nesta região, no modelo do Sistema Participativo 
de Garantia (SPG). Esta possibilidade foi apontada como um potencial 
impulsionador da adoção, pelos agricultores, da produção orgânica. Como exemplo, 
foi citada nas entrevistas a realização de, em média, 12 aplicações de fungicidas e 
inseticidas nos parreirais de uva em cada safra, e este fator é apontado como um 
fator da saída de jovens do meio rural, pela rejeição à utilização exagerada de 
agrotóxicos pelos pais, nos sistemas de produção. 
Como não existe a produção de produtos orgânicos nas cooperativas 
entrevistadas, nem em seus municípios, há desconhecimento das técnicas de 
produção e do mercado deste tipo de produto, por isso, o mercado institucional do 
PNAE¹ e as feiras locais são apontados como potencial mercado inicial para estes 
produtos na região. 
A assistência técnica foi reivindicada, além da capacitação de agricultores e a 
participação do Estado neste processo de implantação e desenvolvimento da 
produção orgânica. É importante que, após iniciado o processo, deva ser dada 
continuidade, pois este foi um dos medos apontados em relação a este tema. 
Ao Estado cabe regular e incentivar a produção, a educação alimentar, 
garantir a qualidade sanitária e o consumo de produtos saudáveis através de 
programas específicos, mas aponta-se que deverá sair da sociedade, representada 
pelos consumidores de alimentos e pelos produtores, principalmente, a partir de 
suas organizações como as cooperativas, a ação de efetivar a produção e o 
consumo de produtos orgânicos. 
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Observou-se a necessidade de identificarem-se, através de pesquisa junto 
aos consumidores urbanos desta região, potenciais consumidores de produtos 
orgânicos, o interesse que os mesmos possuem pela aquisição e consumo de 
produtos originários da agricultura orgânica, como também, as condições e as 
especificações básicas destes produtos. 
Outra conclusão foi que a produção orgânica teve como potenciais causas de 
sua não evolução na região a dificuldade de certificação dos produtos orgânicos 
através do sistema de auditoria, pois esta se tornava muito cara para a baixa escala 
de produção que tinham; não havia disposição de pagamento por preço maior para 
estes produtos pelos consumidores locais, e, além disso, havia o desconhecimento 
tecnológico de produção dos produtores. 
É possível concluir que já existe em ação um núcleo de um SPG da Rede 
Ecovida atuando em dois municípios da região em estudo, através de uma 
associação e a filial de uma cooperativa, a Cooperbiorga. Seria possível aproveitar 
esta estrutura já existente, para certificar a produção de outras cooperativas que 
tenham interesse em produzir e certificar produtos orgânicos via Sistemas 
Participativos de Garantia, através desta Rede. 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Desenvolvimento 
sustentável: orgânicos. Brasilia, DF, [2012?]. Disponível em: <http:// www. 
agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos>. Acesso em: 01 dez. 
2012. 
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Mecanismos de 
controle para a garantia da qualidade orgânica. Brasília: Mapa/ACS, 2009. 
CENTRO DE ESTUDOS E PROMOÇÃO DA AGRICULTURA DE GRUPO – 
CEPAGRO. Merenda Escolar terá 30% dos produtos direto da agricultura 
familiar. Itacorubi, 2011. Disponível em: <http://www.cepagro.org.br/news/25/54/>. 
Acesso em: 11 dez. 2012. 
LAKATOS, E. M.va Maria; MARCONI, M. A. arina de Andrade. Fundamentos de 
metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 
RAMBO, A.rthur B.; ARENDT, Isabel. C. Cooperar para prosperar: a terceira via. 
Porto Alegre: Sescoop/RS, 2012. 216 p. 
REDE AGROECOLOGICA ECOVIDA. [S.l., 2013?]. Disponível em: <http://www. 
ecovida.org.br>. Acesso em: 01 jul. 2013.

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