Buscar

Aula 02 - Princípios do Direito Administrativo(1)

Prévia do material em texto

Direito Administrativo – Princípios do Direito Administrativo
Professor Barney Bichara
Aula 02
(atualização em 03/03/2017)
OBS: complementação com a aula do Professor Matheus Carvalho
	- Regime jurídico-administrativo: Conceito. Princípios expressos e implícitos da administração pública. (p. 91 a 129 – Maria Sylvia Zanella Di Pietro, 29ª edição, Editora Forense)
REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIOS ADMINISTATIVOS
1. Regimes jurídicos da Administração
É uma expressão ampla que se refere tanto ao regime jurídico de direito público quanto ao regime jurídico de direito privado, que a Administração Pública pode se sujeitar. 
A partir dessa ideia, desenvolvemos o seguinte raciocínio: se essa expressão é ampla e abrange os dois regimes, precisamos caracterizar cada um desses regimes.
Administração Pública atuando com regime jurídico de direito público: a Administração Pública ostenta a qualidade de autoridade, ostenta a qualidade de poder público e se posiciona verticalmente em relação ao destinatário. Assim, a ordem jurídica reconhece poderes à Administração para que ela possa realizar um fim (interesse público).
	Aí lembraremos de uma regra:
Regra n. 1: Todas as vezes que a Administração Pública precisar atuar na qualidade de poder público, precisará agir segundo o regime jurídico de direito público. No entanto, o Estado poderá descentralizar o exercício da atividade administrativa, isto é, o Estado decide que não exercerá determinada atividade administrativa, transferindo a outra pessoa o encargo. Se o Estado descentralizar uma atividade, a qual exija poderes e prerrogativas para seu desempenho, o regime jurídico será de direito público. 
Exemplo: poder de polícia. Segundo a jurisprudência e a doutrina, a pessoa jurídica de direito privado não pode exercer poder de polícia. Tal poder relaciona-se a uma atividade administrativa que requer, para ser exercido, prerrogativas públicas. Outro exemplo de atividade que exige poderes e prerrogativas (regime jurídico de direito público) é a intervenção do Estado na propriedade.
Administração Pública atuando com o regime jurídico de direito privado: Atuando com tal regime, a relação tornar-se horizontal em relação ao destinatário, pois a Administração perde poderes e prerrogativas, A Administração não atua com autoridade. 
Quando a Administração Pública atua segundo o regime jurídico de direito privado? Quando a atividade a ser exercida/desempenhada não requerer o exercício de prerrogativas públicas. Então, quando o Estado ou a pessoa para a qual descentralizou não depende de poderes para agir/atuar, nós podemos definir que o regime é de direito privado.
Exemplo: serviço público de educação, de saúde, de pesquisa, de proteção à criança, ao idoso,
Ao desempenhar o serviço público de educação a Administração Pública precisará atuar como autoridade? Não precisa de prerrogativas públicas. Estas atividades podem ser atuadas segundo o regime jurídico de direito privado.
Regra n. 2: Quando a Administração Pública atua segundo o regime jurídico de direito público ou segundo o regime jurídico de direito privado? Quando a lei assim o estabelecer. É a lei que vai definir o regime jurídico.
Professor citou o exemplo de uma antiga Lei Federal editada pela União, a qual instituiu o regime jurídico de direito privado para Conselhos Profissionais. A Lei foi revogada em razão do poder de polícia dos Conselhos (fiscalizar profissões). Por isso, os Conselhos Profissionais não podem agir segundo o regime jurídico de direito privado, porque o exercício do poder de polícia requer prerrogativas públicas. Foi ajuizada a ADI 1717 contra essa lei. A própria União recuou e revogou esta lei. O equívoco desta lei é que ela deu personalidade jurídica de direito privado aos Conselhos Profissionais, já ela deveria ter personalidade de direito público por exercer o poder de polícia. Felizmente, foram manejados meios constitucionais e ilegalidade foi corrigida.
Observação: Quando a Administração Pública atua segundo o regime jurídico de direito privado sempre haverá a incidência de normas de direito público, que derrogam parcialmente o regime jurídico de direito privado, contudo, tais normas de direito público não desnaturam o regime jurídico – continua sendo predominantemente de direito privado. 
Exemplo: Lei n. 8666/93, art. 62, § 3º, inc. I: “Aplica-se o disposto nos arts. 55 e 58 a 61 desta Lei e demais normas gerais, no que couber: I - aos contratos de seguro, de financiamento, de locação em que o Poder Público seja locatário, e aos demais cujo conteúdo seja regido, predominantemente, por norma de direito privado.
2. Regime jurídico administrativo
Conceito: É a expressão doutrinária que se refere a um conjunto de princípios e a um conjunto de regras que dá identidade ao Direito Administrativo, cujos fundamentos/pilares são:
a) Princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse particular, que se traduz em poderes reconhecidos à Administração. Visa satisfazer o interesse público propriamente dito, concedendo à Administração Pública algumas prerrogativas. Não está expresso na CF/88. Como exemplos de sua aplicação temos os atributos dos atos administrativos (presunção de legitimidade, autoexecutoriedade e imperatividade), Poderes da Administração (poder de polícia), contratos administrativos (cláusulas exorbitantes, art. 58 da Lei 8.666/93), intervenção na propriedade (requisição, art. 5º, XXV, CF, desapropriação, art. 5º, XXIV, CF).
b) Princípio da indisponibilidade do interesse público, que se traduz em restrições impostas à Administração. É consequência da própria supremacia do interesse público. O interesse público não está à livre disposição do administrador, não há liberalidade. É um contrapeso/limitação ao princípio da supremacia do interesse público. O administrador exerce função pública, significando que a atividade é exercida em nome e no interesse do povo. Assim, o administrador é mero representante e não tem titularidade sobre o interesse público, não podendo, por esse motivo, dispô-lo.
Atenção:
O regime jurídico administrativo se traduz na dialética “poderes-limitações”/“prerrogativas-restrições”. Todo o Direito Administrativo é construído a partir da citada dialética. A mesma ordem jurídica que dá poderes, é a mesma que impõe limitações. É estas duas ideias centrais que fundamentam o regime jurídico administrativo.
O Celso Antônio Bandeira de Mello, em uma expressão doutrinária, fala: “as pedras de toque do regime jurídico administrativo são o princípio da supremacia do interesse público e o princípio da indisponibilidade do interesse público”. 
Em outras, segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, a caracterização do Direito Administrativo e a base de seu regime jurídico se delineiam em função da consagração de dois princípios, por ele denominados pedras de toque: o princípio da supremacia do interesse público e o princípio da indisponibilidade do interesse público, dos quais se extraem inúmeros princípios, dentre eles o princípio da legalidade, que também tem como implicações os princípios da finalidade, da razoabilidade, da proporcionalidade, da motivação e da responsabilidade do Estado, além de outros.
Assim, todos os institutos do Direito Administrativo sofrem a influência/influxo dessas duas ideias principais, que fundamentam os poderes e as restrições.
	 Já caiu!
(TJMS-2012): Segundo o sistema jurídico-positivo atual, o princípio da supremacia do interesse público não possui afirmação expressa na Constituição Federal de 1988, apesar do seu reconhecimento como princípio constitucional implícito estruturante do regime jurídico administrativo. (V).
3. Princípios do Direito Administrativo
3.1. Enumerações e classificações cf. autores
Abaixo, enumeração dos princípios cf. cada autor (inclusive o título, p. ex.: “princípios básicos” ou “princípios constitucionais”). 
Princípios básicos da Administração Pública, cf. Hely Lopes Meirelles: 
1. Legalidade.
2. Moralidade.
3. Impessoalidade ou finalidade (para o autor, impessoalidade é sinônimo de finalidade).4. Razoabilidade e proporcionalidade.
5. Publicidade.
6. Eficiência.
7. Segurança jurídica.
8. Motivação.
9. Ampla defesa e contraditório.
10. Interesse público ou supremacia do interesse público (para o autor, as expressões traduzem a mesma ideia).
Princípios constitucionais no Direito Administrativo brasileiro – princípios expressos e implícitos, conforme Celso Antônio Bandeira de Mello. 
Veja que o Bandeira de Mello categoriza os princípios (princípios explícitos e implícitos) e amplia o rol de princípios que compõe o regime jurídico administrativo.
1. Princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado.
2. Princípio da legalidade.
3. Princípio da finalidade (para o autor, o princípio da finalidade é intrínseco ao princípio da legalidade; descumprir a finalidade da lei é descumprir a própria lei).
4. Princípio da razoabilidade.
5. Princípio da proporcionalidade.
6. Princípio da motivação.
7. Princípio da impessoalidade.
8. Princípio da publicidade.
9. Princípio do devido processo legal e ampla defesa.
10. Princípio da moralidade administrativa.
11. Princípio do controle judicial dos atos administrativos (sistema inglês). (obs.: Só o Bandeira de Mello trata em sua classificação desse princípio).
12. Princípio da responsabilidade do Estado por atos administrativos (CF, art. 37, § 6º). (obs.: Só o Bandeira de Mello trata em sua classificação desse princípio).
13. Princípio da eficiência (para o autor, é também conhecido como princípio da boa administração, não bastando apenas cumprir a lei).
14. Princípio da segurança jurídica.
Princípios administrativos, cf. José dos Santos Carvalho Filho. 
Ele classifica os princípios em:
1. Princípios expressos (CF, art. 37, caput) (expressão “LIMPE”)
a) Princípio da legalidade.
b) Princípio da impessoalidade.
c) Princípio da moralidade.
d) Princípio da publicidade.
e) Princípio da eficiência.
Observação: “expresso” = princípio escrito/positivado. O princípio poderá estar expresso na Constituição, no Capítulo da Constituição dedicado à Administração, no Capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais (p. ex.: CF, art. 5º, inc. LV – princípio do devido processo legal) e na legislação ordinária (Lei 9784/99, em seus art. 2º e 50, preveem o princípio da motivação). Portanto, José dos Santos Carvalho Filho restringiu como “expresso” apenas os princípios da CF, art. 37, caput, o famoso “LIMPE” (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência).
CF/88
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:  (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Art. 5º. 
(....)
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Lei 9784/99
Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.
§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados.
§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.
2. Princípios reconhecidos
a) Princípio da supremacia do interesse público.
b) Princípio da autotutela (é um princípio expresso na Lei n. 9.784/99, art. 53).
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
c) Princípio da indisponibilidade.
d) Princípio da continuidade dos serviços público (é um princípio expresso na Lei n. 8.987/95 em seu art. 6º, § 1º). Portanto, é um princípio expresso lei ordinária.
Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
e) Princípio da segurança jurídica (proteção e confiança).
f) Princípio da precaução (obs.: Só o José dos Santos trata desse princípio da precaução).
3. Princípio da razoabilidade.
4. Princípio da proporcionalidade.
Princípios da Administração Pública, cf. Maria Sylvia Zanella Di Pietro
1. Legalidade.
2. Supremacia do interesse público.
3. Impessoalidade.
4. Presunção de legitimidade ou veracidade.
5. Especialidade.
6. Controle ou tutela.
7. Autotutela.
8. Hierarquia.
9. Continuidade do serviço público.
10. Publicidade.
11. Moralidade administrativa.
12. Razoabilidade e proporcionalidade.
13. Motivação.
14. Eficiência.
15. Segurança jurídica, proteção e confiança e boa-fé.
	Observação: Maria Sylvia Zanella Di Pietro traz alguns princípios que os outros juristas não trazem, tais como: presunção de legitimidade ou veracidade; especialidade; controle ou tutela e hierarquia.
	
Conclusão: Não há uniformidade quanto à categorização e quanto ao número de princípios do regime jurídico administrativo. Isso varia conforme a doutrina adotada; alguns mais concisos; alguns mais prolixos, mas a ideia é a mesma. 
3.2. Princípios
3.2.1. Legalidade
Este princípio está na base do estado do direito.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, enquanto o princípio da supremacia do interesse público e da sua indisponibilidade é da essência de qualquer Estado, de qualquer sociedade juridicamente organizada, "o da legalidade é específico do Estado de Direito, é justamente aquele que o qualifica e que lhe dá identidade própria, por isso, considerado princípio basilar do regime jurídico-administrativo”.
O art. 2º da Lei 9784/99 traz um conceito de legalidade. É o artigo mais importante para a matéria “princípios”, porque ele conceitua cada um dos princípios da administração. Há conceitos normativos de cada um dos princípios da administração, previstos no art. 2º, § único dessa Lei. 
Lei n. 9.784/99, 
Art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
I - atuação conforme a lei e o Direito”.
	“Atuação conforme a lei e o Direito”: é o princípio da legalidade, ou o que alguns preferem chamar de princípio da juridicidade. A Administração observa a lei e o Direito, ou seja, não adianta fazer só o que a lei manda, é necessário agir de acordo com todos os princípios e regras que compõem o ordenamento jurídico. A Administração deve cumprir a lei, os regulamentos, as instruções e demais normasaplicáveis. Enfim, cumprir todos os atos normativos e agir conforme o Direito (p. ex.: outros princípios e regras). É a chamada legalidade em sentido amplo, ou como alguns preferem, o princípio da juridicidade.
	Então, não basta cumprir a lei, tem que cumprir a lei e o Direito. É o que está expresso no art. 2º, § único, inciso I da Lei 9784/99, que conceitua legalidade.
	A legalidade do cidadão está prevista no art. 5º da Constituição. É a legalidade constitucional.
	A legalidade da Administração está prevista no art. 37, caput da CF/88. É a legalidade administrativa. A Administração não faz o que quer; não há vontade. A vontade é substituída pela ideia de função pública. 
No Direito Privado, nós temos a autonomia da vontade, isto é, tudo é permitido, exceto o proibido.
Portanto, podemos olhar o princípio da legalidade por dois ângulos:
a) Direito privado: o particular pode tudo, desde que não esteja vedado ou proibido na lei. CRITÉRIO DE NÃO CONTRADIÇÃO À LEI. 
b) Direito público: o administrador só pode o que está autorizado na lei. CRITÉRIO DE SUBORDINAÇÃO À LEI. O administrador tem liberdade nos limites da lei. A Lei estabelece a liberdade, garante a conduta discricionária.
3.2.1.1.Reserva de Lei X Princípio da Legalidade
O princípio da legalidade consiste em fazer o que a lei determina. A reserva de lei é muito mais restrita, significa selecionar uma matéria, reservar uma matéria a uma determinada espécie normativa, reserva de lei. É a escolha da espécie normativa. 
Hoje a legalidade tem sido vista em sentido amplo (“alargamento do princípio da legalidade”), o que era a simples conferência de lei vai além: também é conferência das regras e normas constitucionais, isso inclui os princípios constitucionais. Se o ato viola um princípio da constituição, estará violando também o princípio da legalidade.
Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o Estado Democrático de Direito pretende vincular a lei aos ideais de justiça, ou seja, submeter o Estado não apenas à lei em sentido puramente formal, mas ao Direito, abrangendo todos os valores inseridos expressa ou implicitamente na CF/88. Isso significa a ampliação do controle judicial, que deverá abranger a validade dos atos administrativos não só diante da lei, mas também perante o Direito.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello há situações excepcionais que rompem com a legalidade, previstas na Constituição, que distorcem a legalidade. Elas representam uma transitória constrição a esse princípio e são expressamente mencionadas na Constituição Federal:
a) medida provisória; 
b) estado de defesa; e 
c) estado de sítio.
	 Já caiu!
(TJPR-2014): A Constituição Federal de 1988 autoriza restrições pontuais e transitórias ao princípio da legalidade, tais como a medida provisória, o estado de defesa e o Estado de sítio. (V). (Também cobrado: MPMG-2014)
3.2.2. Impessoalidade
	O princípio da impessoalidade costuma ser abordado em dois dispositivos da CF/88: O art. 37, §1º e o art. 37º, 6º.
CF/88 
Art. 37, § 1º: “A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”.
Os atos, programas, obras, serviços e campanhas desenvolvidos pela autoridade não são atribuídos à pessoa da autoridade em razão da teoria do órgão. 
A teoria do órgão traduz o princípio da impessoalidade: o Estado é pessoa jurídica, a qual se consubstancia em sujeito de direitos e obrigações. O Estado, internamente, é composto por órgãos, os quais possuem atribuições fixadas pela lei, mas executadas por agentes públicos. O ato praticado pelo agente é, portanto, mera execução legal das atribuições fixadas pelo órgão, isto é, o ato do agente não é do agente e, sim, imputado ao órgão (imputação volitiva). Em suma, o ato é impessoal, pois não é imputado ao agente, mas ao órgão que integra a pessoa jurídica.
	A mesma ideia está no art. 37, §6º da CF, que trata da responsabilidade objetiva do Estado:
CF/88
Art. 37, § 6º: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
	
	De novo temos a teoria do órgão. O Estado é uma pessoa jurídica, portanto, sujeito de direitos e obrigações. Internamente, o Estado é formado por órgãos, cujas atribuições são fixadas pela lei e exercidas pelo agente público, de modo que o ato praticado pelo agente não é atribuído pelo agente, mas, sim, imputado ao órgão, o qual integra a pessoa jurídica. 
Assim, o dano é causado pelo próprio Estado. O ato do agente é um ato impessoal, pois não se refere a pessoa dele (consequentemente, não responde). Por isso que quem é incumbido de reparar o dano é a pessoa jurídica, e não o agente.
Agora, vamos para a Lei 9784/99, em seu art. 2º, § único, inciso III:
Lei n. 9.784/99
Art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades”.
“Objetividade no atendimento do interesse público”: Aqui está previsto o princípio da impessoalidade. A Administração enxerga todos de forma igual e impessoal, atuando de forma objetiva, sem preferir nem preterir, já que todos são iguais. É outro aspecto da impessoalidade contido aqui na Lei 9784/99.
Observação: Para Hely Lopes Meirelles (doutrina tradicional), impessoalidade é sinônimo de finalidade. Ele sustentava que os dois princípios eram sinônimos, afirmando que após 1988 o princípio da finalidade/imparcialidade foi substituído pela impessoalidade. É o que está expresso na Lei n. 9.784/99, a qual conceitua finalidade como impessoalidade.
A Constituição Federal conta com algumas regras que representam aplicações concretas desse princípio, a exemplos, o art. 37, inciso II, que institui a exigência de concurso público para o exercício de cargos ou empregos públicos; e o art. 37, inciso XXI, que ordena a aplicação do procedimento licitatório como instrumento eficaz para que a Administração celebre o melhor contrato possível, além de outros.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, o princípio da impessoalidade “traduz a ideia de que a Administração tem de tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismo, nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa”. E completa: “o princípio em causa não é senão o próprio princípio da igualdade ou isonomia”.
Outra aplicação deste princípio reside na matéria de exercício de fato, quando se reconhece a validade aos atos praticados por funcionário irregularmente investido no cargo ou função, sob fundamento de que os atos são do órgão e não do agente público.
Os art. 18 a 21 da Lei 9.784/99, também se inserem como aplicação do princípio da impessoalidade. Isto porque contém normas de impedimento e suspeição quanto ao processo administrativo, da mesma forma que existe no processo judicial. São hipóteses de presunção de parcialidade.
Lei 9.784/99 
Art. 18. É IMPEDIDO de atuar em processo administrativo o servidor ou autoridade que:
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;
II - tenha participado ou venha a participar como perito, testemunha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau;
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou respectivo cônjuge ou companheiro.
Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimentodeve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se de atuar.
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedimento constitui falta grave, para efeitos disciplinares.
Art. 20. Pode ser arguida a SUSPEIÇÃO de autoridade ou servidor que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins até o terceiro grau.
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser objeto de recurso, sem efeito suspensivo.
3.2.3. Moralidade
	Também consta na Lei 9784/99:
Lei n. 9.784/99, 
Art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”.
	
	A lei vai conceituar moralidade como atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé.
Lembre-se que a moralidade integra o patrimônio público. A noção de patrimônio público não é restrita ao contexto econômico. 
Patrimônio público é o conjunto de bens e valores de titularidade do Estado, ainda que os bens e valores não tenham conteúdo patrimonial, como é o caso da moralidade. 
É possível o manejo de ação civil pública para proteger o princípio da moralidade, ainda que não envolva dano patrimonial de natureza econômica.
3.2.3.1. Tema polêmico. Nepotismo (Súmula Vinculante 13 do STF)
Súmula Vinculante nº 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.
Com a EC nº 45/2004 e a criação do CNJ e do CNMP foram publicadas resoluções que vedam o nepotismo (resoluções nº 07/CNJ e 01/CNMP). 
A Resolução Nº 07 do CNJ foi questionada com a ADC nº 12 e o STF declarou a constitucionalidade da norma e afirmou que representava a aplicação de vários princípios constitucionais, como a moralidade, impessoalidade, eficiência e isonomia. 
Além disso, o STF determinou que o CNJ pode fazer o controle administrativo do cumprimento das suas resoluções. 
A vedação do parentesco (cônjuge, companheiro e parente em linha reta ou colateral até o 3º grau) fica para os cargos em que não são previstos a realização de concurso púbico.
Vedações de parentesco na mesma pessoa jurídica: entre a autoridade nomeante e o nomeado em cargo de comissão ou função gratificada/função de confiança; entre servidor que ocupa cargo de direção, chefia ou assessoramento e o servidor que ocupa cargo em comissão ou função gratificada; designações recíprocas (nepotismo cruzado). 
Agentes políticos estão fora da aplicação da Súmula Vinculante nº 13 de acordo com o STF (Reclamação 6650, 7834; AgRcl 66750). 
STJ também já decidiu que a prática de nepotismo configura ato de improbidade administrativa (ofensa aos princípios da Administração Pública) – Resp 1009926.
ATENÇÃO2: Aplicação da súmula vinculante sobre nepotismo deve levar em conta qualificação do nomeado para o cargo: Citando precedentes como a RCL 17627 (de relatoria do ministro Luís Roberto Barroso), a RCL 11605 (do ministro Celso de Mello), o ministro Fux enfatizou que, quanto aos cargos políticos, deve-se analisar, ainda, se o agente nomeado possui a qualificação técnica necessária ao seu desempenho e se não há nada que desabone sua conduta.
ATENÇÃO2: É inconstitucional lei estadual que excepciona a vedação da prática do nepotismo, permitindo que sejam nomeados para cargos em comissão ou funções gratificadas de até dois parentes das autoridades estaduais, além do cônjuge do Governador. STF. Plenário. ADI 3745/GO, rel. Min. Dias Toffoli, 15/5/2013 (Info 706).
ATENÇÃO3: O próprio STF fez uma restrição à aplicação da súmula vinculante – e vem a reafirmando, como através RE 825.682: ressalvada a situação de fraude à lei (como por exemplo troca de favores), agentes políticos, como secretários estaduais e municipais, não estão submetidos à tal vedação. São cargos de natureza política, não administrativa, que demandam um elevado grau de confiança caracterizados por ter um munús decorrente da Constituição Federal. Caso que aconteceu no Ceará: Cid Gomes (à época, Governador do Estado) nomeou seu irmão, Ciro Gomes, como Secretário de Saúde. E os Conselheiros do Tribunal de Contas podem ser incluídos nessa exceção? Segundo o STF, NÃO! Os Conselheiros de Tribunais de Contas são considerados cargos administrativos, a eles então também é aplicado a vedação nepotismo – decisão do STF na Rcl 6702.
ATENÇÃO4: Para o STF, no julgamento do RE 678.574, a vedação ao nepotismo não se aplica às contratações realizadas pelos serviços notariais – exercem atividade estatal, mas não ocupam cargo público. Podem, assim, contratar parentes pela CLT.
OBSERVAÇÃO: O que se entende por transnepotismo? Transnepotismo ou nepotismo cruzado, o Professor Marcelo Pilon, em seu artigo “Nepotismo, Nepotismo Cruzado e Transnepotismo” afirma que: “(...) muitos estão tentando burlar a decisão do STF em relação ao nepotismo; surgem novas formas de nepotismo. É recorrente nos meios de comunicação a utilização de neologismos como: “nepotismo-cruzado” e “transnepotismo”. Podemos considerar “Nepotismo-Cruzado” a nomeação por parte dos membros do Judiciário, Executivo e Legislativo da União, Estados, Distrito Federal e municípios, de parentes uns dos outros. É a migração de servidores não concursados “dentro de um poder”, por exemplo, na Câmara de Vereadores, o vereador X contrata para atuar em seu gabinete o filho do vereador Y que em contrapartida contrata a esposa do vereador X. A meu ver, o “Transnepotismo” seria uma troca de favores “entre os poderes”, a migração de indivíduos não concursados de um Poder para outro, por exemplo: o prefeito do município “J” contrata para atuar no município, em cargo comissionado, o filho do vereador “Z” que em contrapartida contrata para o seu gabinete o cunhado do prefeito; há também casos onde o vereador declara sua “lealdade” ao executivo após o mesmo ter contratado seu parente ou apadrinhado. O mais trágico, e de certo, nada bom para a democracia e o equilíbrio entre os poderes, é a possibilidade do “transnepotismo” e troca de favores entre o Executivo e o Judiciário, com ou sem troca de parentes para cargos comissionados
3.2.4. Publicidade
	No art. 5º, XXXIII da CF trata do direito de petição. Se a Constituição reconheceu o direito constitucional de pedir a informação, a Constituição criou para a Administração a obrigação pública de informar. E o dever de informar se traduz no princípio da publicidade. 
Uma das finalidades da publicidade é informar. Entretanto, há ressalvas ao sigilo quando envolver questão imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, definidos em lei. A Lei n. 12.527/2011 trouxe as hipóteses de sigilo.
CF/88 
art. 5º, inc. XXXIII: “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”;
´
	Na CF/88 há algumas exceções à publicidade (garantia de sigilo):
· Art. 5º, X da CF/88 (são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas). O administrador não pode, com fundamento na publicidade, violar tais valores, sob pena de indenizar os lesados. 
· Art. 5º, XXXIII da CF/88 (segurança do Estado ou da sociedade). 
· Art. 5º, LX da CF/88 (processos que correm em sigilo).Em processos tanto judiciais quanto administrativos. Ex. processo administrativo no âmbito do CRM sobre erro médico de determinado médico. Só publica quando se tem o resultado.
	O princípio da publicidade também consta da Lei 9784/99:
Lei n. 9.784/99,
Art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição”.
“Divulgação oficial dos atos administrativos”: É condição de eficácia dos atos administrativos, que significa início de produção de efeitos. Os atos só começam a produzir efeitos a partir de sua publicidade. Exemplo disso é o início da contagem de prazo de um contrato, que seria a partir da data da publicação. Art. 61, parágrafo único, da Lei 8666/93:
Lei 8666/93:
Art. 61.  (...) 
Parágrafo único.  A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial, que é condição indispensável para sua eficácia, será providenciada pela Administração até o quinto dia útil do mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor, ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
A publicidade também representa o início de contagem de prazo. Ex. de notificação de multa de trânsito. O prazo começa do dia em que a notificação é recebida e não da data de postagem ou expedição.
Publicidade também é mecanismo de controle e fiscalização, pois permite que o titular do poder tome ciência do que está acontecendo no poder público, o que lhe dá oportunidade de se insurgir contra as ilegalidades dos administradores.
OBS: PUBLICIDADE versus PUBLICAÇÃO: A publicidade é diferente de publicação. No convite não há publicação de edital, pois há a carta-convite. Quando encaminho a carta aos convidados estou realizando a publicidade. A publicidade é muito mais ampla que publicação. Já a publicação é uma das hipóteses de publicidade. A publicidade deve cumprir o formalismo previsto na lei (portas abertas, edital x vezes).
OBS: É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias. STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral) (Info 782).
3.2.5. Eficiência
	O princípio da Eficiência foi inserido na CF/88 pela Emenda Constitucional nº 19/98 (Reforma Administrativa)
Contexto: Busca-se por mudança no paradigma da Administração Pública, isto é, busca a modificação da forma como a Administração é gerida.
Busca-se romper com o modelo burocrático e formal de gerir a coisa pública. Tal modelo (burocrático), focado no procedimento, na forma e na legalidade estrita revelou-se caro, lento e ineficiente. A administração esqueceu-se de dar resultados, de maximizar recursos.
Assim, no contexto das modificações globais da década de 1990, há a reforma do Estado brasileiro, a qual rompe com o modelo burocrático e implanta o modelo de administração pública gerencial. Tal modelo é focado no resultado, na qualidade e na eficiência. Não significa dizer que o procedimento, a forma e a legalidade deixaram de ser importantes. Só que tais características não são fins em si mesmas, pois não podemos esquecer do resultado.
A EC n. 19/98 é a reforma constitucional que eleva ao nível constitucional toda essa necessidade de mudança. A eficiência é o “slogan” da EC n. 19/98, a qual é o ápice do movimento de reforma do Estado, quando positiva na Constituição a ideia de uma administração gerencial focada no resultado e na qualidade.
Exemplos: A estabilidade passou de dois para três anos para melhor avaliação do servidor público; avaliação de desempenho; contrato de gestão (art. 37, §8º, CF/88); subsídio.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello tal princípio nada mais é do que o princípio da boa administração do Direito italiano. Ser eficiente é fazer uma boa administração.
Para Hely Lopes, eficiência é um princípio ao lado de outros princípios. Então, a Administração não pode, a pretexto de ser eficiente, esquecer-se dos outros princípios. E todos compõem o regime jurídico administrativo, a qual se sujeita a Administração.
3.2.6. Especialidade - citado por Maria Sylvia Zanella Di Pietro
Princípio da especialidade significa que quando o Estado cria uma pessoa jurídica da administração pública indireta, essa pessoa jurídica só poderá atuar/agir dentro da área prevista na lei de sua criação. 
Exemplo: União cria a FUNAI - Fundação Nacional de Assistência ao Índio - para prestar serviço público de assistência ao índio. A Fundação possui independência para agir e atuar, mas é especializada na prestação de assistência ao índio.
Vejamos o art. 237 da Lei 6404/76, que é o melhor exemplo normativo de especialidade:
Lei n. 6.404/1976
Art. 237: “A companhia de economia mista somente poderá explorar os empreendimentos ou exercer as atividades previstas na lei que autorizou a sua constituição”.
Exemplo: O Banco do Brasil é sociedade de economia mista criada pela União para explorar atividades econômicas e financeiras. Portanto, o Banco do Brasil somente poderá explorar atividades econômicas e financeiras.
3.2.7. Controle ou tutela – citado por Maria Sylvia Zanella Di Pietro
Princípio do controle ou tutela: Os entes federativos, através de órgãos da administração direta exerce controle/fiscaliza sobre as pessoas jurídicas da administração indireta. 
Não há hierarquia, há controle; não há autotuela, há tutela; não há subordinação, há vinculação.
	Temos esse princípio expresso nos arts. 4º e 6º do Dec. Lei 200/67:
Dec. Lei n. 200/67
Art. 4°: “A Administração Federal compreende: (...)
Parágrafo único. As entidades compreendidas na Administração Indireta vinculam-se ao Ministério em cuja área de competência estiver enquadrada sua principal atividade.”.
Art. 6º “As atividades da Administração Federal obedecerão aos seguintes princípios fundamentais.
(...)
V – Controle”.
Exemplos: Ministério da Educação exerce tutela sobre as autarquias federais universidades federais; Ministério do Meio Ambiente exerce tutela sobre o IBAMA; Ministério das Minas e Energia exerce tutela sobre a Petrobrás; Ministério da Fazenda exerce tutela sobre o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Casa da Moeda; Ministério das Telecomunicações exerce tutela sobre os Correios e ANATEL.
3.2.8. Autotutela
Vejamos o art. 53 da Lei 9784/99:
Lei n. 9.784/1999 
Art. 53: “A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos”.
Autotutela é poder de revisão. A Administração pode rever os seus próprios atos para anular atos ilegais; rever para revogar atos inconvenientes; rever a requerimento (direito constitucional de petição) ou de ofício.
OBS: A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-se necessária a instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa. Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo. STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013 (Info 732). STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info 763)
3.2.7. Hierarquia - citado por Maria Sylvia Zanella Di Pietro
	Encontramos a regra da hierarquia no art. 12 da Lei 9784/99:
Lei n. 9.784/99
Art. 12: “Um órgão administrativo e seu titularpoderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes”.
A Administração pode delegar sua competência a órgão hierárquico inferior ou a outro órgão ou entidade mesmo sem relação hierárquica. Assim, a Lei previu a possibilidade de delegação dentro da relação hierárquica (poder hierárquico) e fora da relação hierárquica (não é poder hierárquico).
	Vejamos agora o art. 15 da Lei 9784/99:
Lei n. 9.784/99
Art. 15: “Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior”.
Avocar é chamar o exercício de uma competência fixada por lei para outro. No entanto, o art. 15 acima exige relação hierárquica.
A delegação pode ser dentro ou fora da relação hierárquica. Já a avocação, necessariamente depende da relação hierárquica.
3.2.8. Continuidade dos serviços públicos
	O serviço público não pode parar, não pode ser interrompido, pois ele é prestado no interesse público.
	Trata-se de princípio expresso na Lei de Serviços Públicos, em seu art. 6º:
Lei n. 8987/1995
Art. 6º: “Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
(...)
§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade”.
Em suma, o serviço público não pode parar. No entanto, há hipóteses legítimas de interrupção (não configura descontinuidade):
· Emergência: não notificação.
· Ordem técnica, segurança das instalações, inadimplemento, considerado o interesse da coletividade: notificação.
Jurisprudência do STJ quanto ao princípio da continuidade dos serviços públicos:
“É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente o usuário, desde que precedido de notificação”.
AgRg no AREsp 412822/RJ; AgRg no REsp 1090405/RO; AgRg no Ag 1270130/RJ; AREsp 473348/MG; AREsp 335531/PE; AREsp 452420/SP
AREsp 149611/SP; AREsp 088590/RJ
“É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que precedido de notificação”
AgRg no REsp 1090405/RO; REsp 1298735/RS; AgRg no REsp 1184594/MT; AgRg no Ag 1048299/RJ; AgRg no Ag 780147/RS; AREsp 149611/SP
“É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o direito à saúde e à integridade física do usuário”
Aplicação da teoria dos direitos fundamentais: O caso do usuário com doença grave, que precisa da energia elétrica para o funcionamento de aparelhos.
REsp 853392/RS; AREsp 452420/SP
“É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente pessoa jurídica de direito público, desde que precedido de notificação e a interrupção não atinja as unidades prestadoras de serviços indispensáveis à população”.[footnoteRef:1] [1: (DPEPE-2015-CESPE): Segundo o entendimento jurisprudencial dominante no STJ relativo ao princípio da continuidade dos serviços públicos, não é legítimo, ainda que cumpridos os requisitos legais, o corte de fornecimento de serviços públicos essenciais, em caso de estar inadimplente pessoa jurídica de direito público prestadora de serviços indispensáveis à população. ] 
AgRg no AgRg no AREsp 152296/AP; AgRg no Ag 1270130/RJ; AgRg na SS 001764/PB; EAREsp 281559/AP; REsp 992040/RN; AREsp 276036/MA
“É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente unidade de saúde, uma vez que prevalecem os interesses de proteção à vida e à saúde”.
AgRg no Ag 1329795/CE; AgRg no REsp 1142903/AL; REsp 734440/RN; AREsp 183983/SP
“É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente unidade de saúde, uma vez que prevalecem os interesses de proteção à vida e à saúde”.
AgRg no Ag 1329795/CE; AgRg no REsp 1142903/AL; REsp 734440/RN; AREsp 183983/SP
“É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a inadimplência do usuário decorrer de débitos pretéritos, uma vez que a interrupção pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo”.
AgRg no AREsp 484166/RS; AgRg no REsp 1351546/MG; AgRg no AREsp 462325/RJ; REsp 1222882/RS; AgRg no AgRg no AREsp 152296/AP; AgRg no AREsp 412849/RJ; AgRg no AREsp 360181/PE; AgRg no AREsp 345638/PE; AgRg no REsp 1261303/RS; AREsp 270291/SP
“É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por débitos de usuário anterior, em razão da natureza pessoal da dívida”.
AgRg no AREsp 196374/SP; AgRg no AREsp 416393/RJ; AgRg no REsp 1381468/RN; REsp 1442585/SP; AREsp 438643/RJ; AREsp 364203/RS; AREsp 175965/SP
“É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório, por configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, sendo cabível a indenização ao consumidor por danos morais”.
REsp 811690/RR; AREsp 452420/SP
“É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito decorrer de irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada unilateralmente pela concessionária”.
AgRg no AREsp 346561/PE; AgRg no AREsp 370812/PE; AgRg no AREsp 368993/PE; AgRg no AREsp 358735/SP; AgRg no AREsp 332891/PE; AREsp 265927/SP; AREsp 321645/RS; AREsp 357000/SP; AREsp 408395/SP
“O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel que originou o débito, e não sobre outra unidade de consumo do usuário inadimplente”.
REsp 662214/RS; REsp 1379083/RS
3.2.9. Razoabilidade e Proporcionalidade
Vejamos o art. 2º da Lei 9784/99:
Lei n. 9.784/99 
Art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público”.
O art. 2º, § único, inciso VI da Lei 9784/99 vai conceituar razoabilidade e proporcionalidade. 
A razoabilidade e a proporcionalidade não são expressões sinônimas. 
A proporcionalidade é adequação entre meios e fins – aspecto da razoabilidade, isto é, toda conduta razoável deve ser proporcional. 
A razoabilidade é algo maior. Traduz um comportamento dentro de um padrão de normalidade.
	 Já caiu!
(TJSP-2014-VUNESP): No que diz respeito ao princípio da razoabilidade, é correto afirmar que demanda que o administrador escolha sempre a maneira mais correta de atender o interesse público, descabendo a utilização de critérios subjetivos e pessoais. (V).
3.2.10. Motivação
	Nos termos do art. 2º da Lei 9784/99, motivação é a indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão. Motivar é explicar, justificar sua decisão. É expor o fato e o direito que justifica a decisão.
Lei n. 9.784/99
Art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
VII – indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão”.
	Vejamos o art. 50 da Lei 9784/99:
Lei n. 9.784/99
 Art. 50: “Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; 
	OBS: Esta regra não vale para Súmula Vinculante e decisões com efeitos erga omnes.
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo”.
	
	No art. 50 da Lei 9784/99 temos as hipóteses em que a motivação é obrigatória. Logo, nos demais casos a motivação não é obrigatória.
Observação: os incisos acima trazem hipóteses em que a União (Lei n. 9.784/99 é Lei federal) deve motivar os atos administrativos. Portanto, ela é só aplicável a União.
3.2.11. Segurança jurídica, proteção à confiança e boa-fé
Lei n. 9.784/99 
Art. 2º: “A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação”.
	
	A Administração faz o que a lei manda. A lei pode ser interpretada de formas diferentes, em razão do tempo, do espaço e de quem interpretada.
	A Administração pode mudar a interpretação. O que ela não pode é aplicar nova interpretação a fato velho, porque isso viola segurança jurídica. 
	O princípio da segurança jurídica pode ser estudado sob dois primas: 
1) OBJETIVO - refere-se à irretroatividade das normas e à proteção dos atos perfeitamente realizados, em relação a modificações legislativas posteriores. 
2) SUBJETIVO - trata justamente da preservação das expectativas legítimas da sociedade com a produção de harmonia das relações jurídicas (princípio da proteção da confiança). 
	Segundo a jurisprudência do STF, o princípio da proteção da confiança dos administrados constitui a face subjetiva do princípio da segurança jurídica. Essa face objetiva relaciona-se com o caráter psicológico daquele que acreditou estar atuando conforme o direito. Assim, a caracterização da confiança legítima do administrado para com a administração depende necessariamente da boa-fé do administrado, que acreditou nas expectativas geradas pela atuação estatal. Logo, não se admite a invocação do princípio da proteção da confiança quando o administrado atua de má-fé perante a administração. Tampouco se admite a invocação do princípio em comento nos casos em que o particular sabe que está albergado por medida judicial precária, como nos casos de posse precária em cargo público via decisão liminar. 
Ainda nesse cenário de confiança e expectativa entre administração e administrado, os tribunais superiores vem admitindo a aplicação do venire contra factum proprium (proibição do comportamento contraditório) no âmbito do direito administrativo. Ora, se existe todo um aparato principiologico regulando essa relação entre particular e Estado, não haveria motivo para se negar a aplicação deste consectário do princípio da boa-fé e do respeito aos deveres anexos de lealdade, cooperação e informação da Administração Pública perante os seus administrados, atuando de modo a não surpreendê-los.
ATENÇÃO: A jurisprudência dos Tribunais Superiores não admite a aplicação deste princípio no caso de situações flagrantemente inconstitucionais. 
3.3. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre princípios da administração pública
Consta no material de apoio outras decisões, as quais não foram citadas na aula.
A nomeação de cônjuge, companheiro, ou parente, em linha reta, colateral ou por afinidade, até o 3º grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a CF. [Súmula vinculante 13]
O nepotismo a Constituição, mais especificamente os princípios da Administração Pública, previstos no art. 37, caput, da CF.
Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida. [Súmula 636]
A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. [Súmula 473]
A Súmula 473 do STF traduz o princípio da autotutela. É um princípio sumulado e positivado em lei ordinária.
A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos. [Súmula 346]
A Súmula 346 do STF também traduz o princípio da autotutela. 
Possibilidade de um ato administrativo, caso evidenciada a violação direta ao texto constitucional, ser anulado pela Administração Pública quando decorrido o prazo decadencial previsto na Lei 9.784/1999 [RE 817338 Tema 839 da repercussão geral]
Mesmo passado o prazo decadencial, a Administração anular ato administrativo caso evidenciada clara violação direta ao texto da Constituição. 
Segundo a posição que prevalece no STF, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as falhas.
(exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União. Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores. Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram a inscrição combatida” [STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016]
OBS: O Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores, ou seja, ele impede que a administração atual seja punida com a restrição de recebimento de repasses de outras esferas, por exemplo.
"O Supremo Tribunal já assentou que diante de indícios de ilegalidade, a Administração deve exercer seu poder-dever de anular seus próprios atos, sem que isso importe em contrariedade ao princípio da segurança jurídica. Nesse sentido, as súmulas 346 e 473 deste Supremo Tribunal: 'A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos' (Súmula 346).'A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial' (Súmula 473)." [AO 1483, RelatoraMinistra Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgamento em 20.5.2014, DJe de 3.6.2014]
OBS: A decisão acima do STF um equívoco: “revogação”. Correto: anulação.
Ao Estado é facultada a revogação de atos que repute ilegalmente praticados; porém, se de tais atos já decorreram efeitos concretos, seu desfazimento deve ser precedido de regular processo administrativo. 2. Ordem de revisão de contagem de tempo de serviço, de cancelamento de quinquênios e de devolução de valores tidos por indevidamente recebidos apenas pode ser imposta ao servidor depois de submetida a questão ao devido processo administrativo, em que se mostra de obrigatória observância o respeito ao princípio do contraditório e da ampla defesa. (...) O recorrente pretendeu ver reconhecida a legalidade de seu agir, com respaldo no verbete da Súmula nº 473 desta Suprema Corte, editada ainda no ano de 1969, sob a égide, portanto, da Constituição anterior. (...) A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988,
No impeachment, todas as votações devem ser abertas, de modo a permitir maior transparência, controle dos representantes e legitimação do processo. No silêncio da Constituição, da Lei 1.079/1950 e do Regimento Interno sobre a forma de votação, não é admissível que o Presidente da Câmara dos Deputados possa, por decisão unipessoal e discricionária, estender hipótese inespecífica de votação secreta prevista no RI/CD, por analogia, à eleição para a Comissão Especial de impeachment. Em uma democracia, a regra é a publicidade das votações. O escrutínio secreto somente pode ter lugar em hipóteses excepcionais e especificamente previstas. Além disso, o sigilo do escrutínio é incompatível com a natureza e a gravidade do processo por crime de responsabilidade. Em processo de tamanha magnitude, que pode levar o Presidente a ser afastado e perder o mandato, é preciso garantir o maior grau de transparência e publicidade possível.
Nesse caso, não se pode invocar como justificativa para o voto secreto a necessidade de garantir a liberdade e independência dos congressistas, afastando a possibilidade de ingerências indevidas. Se a votação secreta pode ser capaz de afastar determinadas pressões, ao mesmo tempo, ela enfraquece o controle popular sobre os representantes, em violação aos princípios democrático, representativo e republicano. Por fim, a votação aberta (simbólica) foi adotada para a composição da Comissão Especial no processo de impeachment de Collor, de modo que a manutenção do mesmo rito seguido em 1992 contribui para a segurança jurídica e a previsibilidade do procedimento. [ADPF 378 MC, rel. p/ o ac. min. Roberto Barroso, j. 16-12-2015, P, DJE de 8-3-2016]
A norma depreendida do art. 37, caput, da CF/88 para a definição de nepotismo – em especial os princípios da moralidade, da impessoalidade e da eficiência – não tem o condão de diferenciar as pessoas tão somente em razão de relação de matrimônio, união estável ou parentesco com servidor efetivo do poder público, seja para as selecionar para o exercício de cargos de direção, chefia ou assessoramento no âmbito da Administração Pública, seja para excluir sua aptidão para o desempenho dessas funções. [MS 28.485, rel. min. Dias Toffoli, j. 1-11-2014, 1ª T, DJE de 4-12-2014.] = Rcl 18.564, rel. p/ o ac. min. Dias Toffoli, j. 23-2-2016, 2ª T, DJE de 3-8-2016
Os cargos políticos são caracterizados não apenas por serem de livre nomeação ou exoneração, fundadas na fidúcia, mas também por seus titulares serem detentores de um munus governamental decorrente da Constituição Federal, não estando os seus ocupantes enquadrados na classificação de agentes administrativos. Em hipóteses que atinjam ocupantes de cargos políticos, a configuração do nepotismo deve ser analisado caso a caso, a fim de se verificar eventual "troca de favores" ou fraude a lei. Decisão judicial que anula ato de nomeação para cargo político apenas com fundamento na relação de parentesco estabelecida entre o nomeado e o chefe do Poder Executivo, em todas as esferas da federação, diverge do entendimento da Suprema Corte consubstanciado na Súmula Vinculante 13. [Rcl 7.590, rel. min. Dias Toffoli, j. 30-9-2014, 1ª T, DJE de 14-11-2014.]
OBS: A SV 13 não se aplica aos cargos em comissão ocupados por agentes políticos (Ministros, Secretários Estaduais e Secretários Municipais), que são os únicos cargos em comissão titularizados por agentes políticos. Não é regra, devendo ser analisado o caso concreto (se o único requisito considerado para declarar a ilegalidade da nomeação foro parentesco: não se aplica aos agentes políticos, isto é, não se aplica a SV).
	 Já caiu!
(MPSP-2015): Sobre a proibição da prática de nepotismo, é correto afirmar que ressalvada situação de fraude à lei, a nomeação de parentes para cargos públicos de natureza política não configura nepotismo na Administração Pública. BL: SV 13, STF.
OBS: A jurisprudência do STF preconiza que, ressalvada situação de fraude à lei, a nomeação de parentes para cargos públicos de natureza política não desrespeita o conteúdo normativo do enunciado da Súmula Vinculante 13." (RE 825682 AgR, Relator Ministro Teori Zavascki, 2ª Turma, j. 10.2.2015)
(MPAM-2015-FMP): A vedação ao nepotismo decorre diretamente do artigo 37, caput, da Constituição da República, em especial dos princípios da impessoalidade e da moralidade, os quais informam sobremaneira a conduta retilínea e ética a ser exigida da Administração Pública nacional. BL: SV 13, STF.
(MPAM-2015-FMP): A proibição do nepotismo consubstanciada nos precedentes do Supremo Tribunal Federal, inclusive na súmula vinculante em apreço, deve levar em observância o assento constitucional dos cargos políticos, os quais não resultam em tese abrangidos pela envergadura daquela vedação, salvo modulações casuísticas demonstráveis para efeito de se verificar nepotismo cruzado ou fraude à legislação. BL: SV 13, STF.
OBS: Com efeito, a doutrina, de um modo geral, repele o enquadramento dos Conselheiros dos Tribunais de Contas na categoria de agentes políticos, os quais, como regra, estão fora do alcance da Súmula Vinculante nº 13, salvo nas exceções acima assinaladas, quais sejam, as hipóteses de nepotismo cruzado ou de fraude à lei." (Rcl 6702 MC-AgR, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. 4.3.2009)
(MPGO-2013): Em tema de nepotismo, é correto, consoante a jurisprudência dominante do STF, afirmar que o cargo de Secretário Municipal tem natureza essencialmente política, não sendo apanhado pelas normas jurídicas que proíbem a prática de nepotismo. Daí por que é juridicamente acertada a nomeação de irmão do Prefeito para o cargo de Secretário Municipal da Fazenda. BL: SV 13, STF.
(MPDFT-2013): A vedação do nepotismo não exige a edição de lei formal que o coíba, uma vez que decorre diretamente dos princípios encartados no art. 37 da Constituição do Brasil. BL: SV 13, STF.
(MPDFT-2013): As regras relativas à proibição do nepotismo não são aplicáveis a situações que envolvam cargos de natureza política. BL: SV 13, STF.
(TJSP-2013-VUNESP): A Súmula Vinculante n.º 13 do STF, que proíbe o nepotismo na esfera dos três poderes da República, não alcança os serviços extrajudiciais de notas e de registro, pois estes têm caráter privado e seus titulares não exercem cargo público efetivo nem ocupam cargo público (ADI 2.602-0 do STF) e nada os impede de contratar parentes pelo regime da CLT. BL: SV 13, STF.

Mais conteúdos dessa disciplina