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Aula 09 - Controle concentrado-abstrato II (continuacao)

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Direito Constitucional – Controle de Constitucionalidade
Professor Marcelo Novelino
Aula 09 – Intensivo I 
	- Controle de Constitucionalidade II (Instrumentos de controle concentrado-abstrato - Parte II): Objeto (continuação). Participação de órgãos e entidades. Liminar. (p. 193 a 230)
CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE (CONTINUAÇÃO)
	RELEMBRANDO… 
4. OBJETO
O objeto é a lei ou ato normativo impugnado. A lei ou ato normativo impugnado devem atender a certos requisitos para que possam ser objeto de ADI, ADC ou ADPF.
O objeto da ADI e da ADC está previsto no art. 102, I, a, da CF.
CF, art. 102, I: Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo (aspecto material) federal ou estadual (aspecto espacial) e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo (aspecto material) federal (aspecto espacial).
4.1. Pedido: Adstrito
Antes de analisarmos o que pode ou não ser objeto, importante destacarmos que ele está relacionado ao pedido.
O pedido de um processo constitucional objetivo é a declaração de (in)constitucionalidade da lei. 
Como o objeto principal da ação é exatamente a declaração de inconstitucionalidade para assegurar a supremacia constitucional, vale a regra da adstrição. Ou seja, se o legitimado questionou a constitucionalidade de determinado dispositivo, o STF deve ficar adstrito ao dispositivo impugnado (ele não pode analisar a constitucionalidade de toda a lei ou de outras leis).
Exemplo: Se é proposta uma ADI questionando o art. 21 do CC, não pode o STF analisar todo o CC à luz da CF.
Obs. Não confundir com a causa de pedir que está relacionada ao parâmetro e é aberta (o fato de um legitimado invocar a violação a um dispositivo da constituição não impede que o STF analise a violação de outros dispositivos constitucionais).
→ Parâmetro → Norma violada → Aberto;
→ Objeto → Norma violadora → Adstrito.
Porém, existem duas exceções, ou seja, situações nas quais mesmo sem ter sido provocado acerca dele, o STF pode declarar o dispositivo inconstitucional:
i. Interdependência entre dois dispositivos: Se um dispositivo depende de outro, não tem sentido um deles ser invalidado e o outro, só porque não houve provocação, permanecer na lei.
Exemplo: Questiona-se apenas o art. 1º de uma lei, o qual é interdependente com o art. 2º. O STF pode se manifestar tanto sobre o art. 1º quanto sobre o art. 2º.
ii. Inconstitucionalidade indireta consequente: A inconstitucionalidade consequente ocorre quando o vício de uma norma atinge outra dela dependente. Há uma norma inconstitucional e, por isso, ela acaba gerando também a inconstitucionalidade de outra norma que depende dela.
Exemplo: É questionada uma lei e há um decreto cuja inconstitucionalidade é consequente da lei, mesmo sem ter sido provocado sobre o decreto o STF pode declará-lo inconstitucional.
Em ambos os casos utiliza-se da técnica da inconstitucionalidade por arrastamento ou por atração (precedente: ADI n. 4451-MC-Ref.).
4.2. Perspectivas
A análise do objeto da ADI, ADC e ADPF deve ser feita sob três perspectivas distintas: (i) material (o conteúdo do ato); (ii) temporal (em que momento o ato foi feito); (iii) espacial (de onde o ato emanou).
Obs e Atenção. A análise não se faz pelo nome. 
Exemplo: um decreto, ou mesmo uma portaria, podem ou não ser objeto de ADI. Quanto a perspectiva material: se qualquer deles violar diretamente a CF pode; se estiver tratando de assunto contido em decreto, que por sua vez está tratando de assunto contido em lei, não pode.
CONTINUANDO…
4.2.1. Perspectiva material
(A) Perspectiva material da ADI e ADC
Para que um ato possa ser objeto de ADI ou ADC, ele deve ser: (i) lei ou ato normativo; (ii) vigente e eficaz; (iii) que viole diretamente a constituição.
i. Lei ou ato normativo: 
· Lei: o termo lei deve ser interpretado em sentido estrito, ou seja, abrange leis ordinárias e complementares. Hodiernamente admite-se como objeto de ADI e ADC qualquer tipo de lei, com ou sem efeitos concretos. 
Obs. até o julgamento da ADI n. 4048-MC, o STF não admitia como objeto leis de efeitos concretos (forma de lei, mas conteúdo de ato administrativo) (v.g. lei que concede a alguém o título de cidadão honorário: possui destinatário certo e objeto determinado).
· Atos normativos: os atos normativos são gerais e abstratos, com capacidade de inovar na ordem jurídica e produzidos pelos poderes públicos. São exemplos: (i) emendas à CF; (ii) MP’s; (iii) decretos legislativos; (iv) resoluções; (v) regimentos internos; (vi) atos do poder executivo com força normativa; (vii) tratados e convenções internacionais comuns; (viii) atos primários editados por pessoas jurídicas de direito público; (ix) decisões proferidas em processo administrativo. Não vale como objeto atos de efeitos concretos.
Em resumo: Pode ser qualquer lei (em sentido estrito), seja de efeito geral ou concreto. Já ato normativo só pode se for geral e abstrato.
ii. (…) vigente e eficaz: deve assim ser em razão de que se não estiver mais dentro do ordenamento jurídico ou se não tiver mais aptidão para produzir os efeitos que lhes são próprios, não estará a lei ou o ato normativo mais ameaçando a supremacia da constituição.
Por isso não são admitidas como objeto leis temporárias após o fim da vigência, normas de eficácia suspensa pelo SF (52, X, CF), e normas de efeito concreto já exaurido.
Caso a revogação ou exaurimento da eficácia ocorram após a propositura da ação, restará prejudicada por perda superveniente do objeto, salvo se houver fraude processual ou houver julgamento pelo STF por ausência de prévia comunicação a ele a respeito da revogação.
Ademais, a revogação do ato normativo originalmente combatido não impede a análise da inconstitucionalidade quando a alteração implementada pela norma revogadora não é substancial.
iii. (…) que viole diretamente a constituição: quando há uma violação diretamente à constituição (não há um ato interposto entre a CF e o ato impugnado), admite-se ADI e ADC. 
Se houver um ato interposto (v.g. impugna-se um decreto por ele violar a lei) ele será inconstitucional apenas de forma reflexa ou oblíqua e, sendo a inconstitucionalidade apenas indireta, inviabiliza-se o cabimento do controle normativo abstrato. A análise dos atos tipicamente regulamentares, de natureza secundária, deve ocorrer no plano da legalidade.
Acrescente-se, por fim, que não se admite como objeto norma declarada constitucional pelo Plenário do STF, mesmo quando em controle difuso, salvo se houver mudanças significativas ou quando da superveniência de argumentos nitidamente mais relevantes. 
(…) 
→ Detalhamento de aspectos relevantes à perspectiva material da ADI e ADC:
Não são admitidos como objeto de ADI e ADC:
(a) Atos tipicamente regulamentares: O nome do ato é irrelevante (v.g. decreto, portaria, resolução, instrução normativa). Deve ser analisado se entre o ato e a CF há um ato interposto: caso o ato tipicamente regulamentar esteja ligado diretamente à CF, a inconstitucionalidade será direta ou antecedente e, portanto, poderá ser objeto de controle. Assim, um decreto poderá ser objeto de ADI ou ADC quando violar frontalmente a CF (v.g. decreto autônomo na ADI n. 3664). 
Na hipótese de violação oblíqua ou reflexa (inconstitucionalidade indireta), o ato não pode ser admitido como objeto de ADI ou ADC.
(b) Normas constitucionais originárias: A Constituição possui dois tipos de normas, as elaboradas pelo Poder Constituinte Originário e as elaboradas pelo Poder Derivado Reformador ou Revisor.
· Normas elaboradas pelo Poder Constituinte Originário: não poderão ser objeto de controle, em razão do princípio da unidade da Constituição, que afasta a tese da hierarquia entre normas constitucionais (v.g. ADI 4097, do PSC).
· Normas elaboradas pelo Poder Derivado Reformador ou pelo Poder Derivado Revisor: devem observar as limitações previstas na CF (temporais, circunstancias,formais e materiais). Em caso de não observância poderão ser objeto de controle de constitucionalidade.
(c) Lei ou norma de efeitos concretos já exauridos: As leis de efeitos concretos, segundo a jurisprudência atual do STF, podem ser objeto de controle (v.g. ADIs n. 4048, 4049, 4050 e 4051). No entanto, leis ou normas de efeitos concretos com eficácia exaurida não poderão ser objeto de controle concentrado porque, se não produzem mais efeito (falta de aptidão para serem aplicadas ao caso concreto), não ameaçam a supremacia da Constituição.
(d) Leis temporárias: leis temporárias são aquelas que vigem apenas durante um prazo pré-fixado. Caso o período de vigência tenha se esgotado, não poderá a lei temporária ser objeto de ADI ou ADC porque não estará mais produzindo efeitos e, portanto, não ameaçará a supremacia da Constituição.
Exceção: se a lei temporária ainda estiver em seu período de produção de efeitos e for impugnada em tempo adequado (ou seja, a ADI ou ADC for proposta enquanto a lei temporária ainda estiver produzindo efeitos), o STF admite que tal lei seja objeto de controle de constitucionalidade, mesmo que a sua eficácia fique exaurida posteriormente (ADI n. 4426).
(e) Normas revogadas: a norma revogada não produz mais efeitos e, portanto, não ameaça a supremacia da Constituição. Portanto, em regra, não são admitidas como objeto de controle de constitucionalidade. 
No entanto, o STF admite duas exceções:
· Fraude processual: Segundo o STF, se houver fraude processual, mesmo estando revogada a norma pode continuar sendo objeto de ADI.
Exemplo: ADI n. 3306 → (i) a Câmara Legislativa do DF aprovou determinada lei, a qual fora objeto de ADI no STF. No entanto, antes do julgamento da ação pelo Tribunal, a Câmara revogou a lei, para que a ADI perdesse o objeto. (ii) Posteriormente, a Câmara editou uma segunda lei com conteúdo idêntico à primeira, a qual fora novamente impugnada no STF. Mas, antes de julgá-la, o Tribunal tomou conhecimento de nova revogação e extinguiu a ação. (iii) A Câmara, não contente, editou uma terceira lei com o mesmo conteúdo das anteriores. (iv) Isso se justifica em razão de que a lei produz efeitos até a sua revogação, mas caso o STF declarasse a lei inconstitucional, a decisão, em regra, teria efeitos retroativos (“ex tunc”) e, portanto, a lei não teria validade em momento algum. Assim, a Câmara Legislativa optou por revogá-la para que produzisse efeitos durante o período em que ela esteve em vigor. (v) O STF reconheceu que o procedimento adotado burlava a jurisdição constitucional e que ficou caracterizada a fraude processual. (vi) Portanto, mesmo a lei tendo sido novamente revogada, a ADI prosseguiu até o julgamento final.
· Quando o julgamento de mérito é realizado sem que o Tribunal seja informado da revogação da lei: Ocorre quando o STF julga a ADI e só depois de fazer o julgamento avisam ele que a lei já havia sido revogada. É comum ocorrer com leis estaduais.
Exemplo1: ADI 951-ED → Nesses embargos de declaração, um dos legitimados aviou que a lei foi declarada inconstitucional, mas a lei já havia sido revogada antes do julgamento. O STF respondeu que, de fato, quando a lei é revogada antes do julgamento, em regra, a ADI perde o objeto. Porém, nesse caso ele não foi cientificado de que a lei havia sido revogada, tendo gastado seu tempo e exercido a jurisdição constitucional, não havendo sentido em simplesmente ignorar o julgamento que foi feito. Portanto, para aproveitar o ato, houve a declaração de inconstitucionalidade proferida, declarando-se a lei inconstitucional durante o período no qual esteve em vigor. 
Exemplo2: ADI 3147-ED → Um decreto autônomo foi objeto de impugnação em ADI, mas foi revogado por outro decreto. A distinção em relação à ADI n. 951-ED é que o segundo ato possuía conteúdo idêntico ao do primeiro já revogado. O STF decidiu que embora o decreto tenha sido revogado, o novo decreto possuía conteúdo idêntico ao anterior e, portanto, o julgamento deveria ser aplicado para ambos. Em outras palavras, quando um ato normativo é revogado por outro, de idêntico conteúdo, a decisão pode abranger ambos.
(B) Perspectiva material da ADPF
O objeto da ADPF está previsto na L. 9.882/99, em seu art. 1º, dispondo que o seu objeto é evitar ou reparar (preventiva ou repressiva) lesão a preceito fundamental (parâmetro), resultante de ato do Poder Público.
Lei n. 9.882/99, art. 1º: A argüição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.
A expressão “ato do Poder Público” é mais ampla que “lei ou ato normativo” (utilizada na ADC e ADPF). Portanto, há possibilidade de que um ato do Poder Público possa ser impugnado em ADPF mesmo não sendo lei ou ato normativo.
Dentro dessa perspectiva material, define-se o objeto da ADPF como qualquer ato do Poder Público que viole, diretamente, preceito fundamental da Constituição.
Não são admitidos como objeto de ADPF:
(a) Atos tipicamente regulamentares: eles não violam, diretamente, preceito fundamental da Constituição. Não havendo violação direta, não se admite a ADPF. É o mesmo raciocínio da ADC e da ADI.
Obs. Lembrar que todas as ações de controle objetivo de constitucionalidade exigem que a violação seja direta e antecedente, salvo no caso do arrastamento (inconstitucionalidade consequente).
(b) Normas constitucionais originárias: o princípio da unidade da Constituição afasta a tesa da hierarquia entre normas constitucionais, por isso normas originárias não são admitidas como objeto.
(c) Súmulas comuns e vinculantes:
· Súmula comum: é apenas a sedimentação de um entendimento adotado pelo Tribunal. Portanto, por, apenas, consolidar uma jurisprudência sobre determinado tema, não faz sentido que seja objeto de ADPF (ADPF 80/AgR). 
Obs. Ao menos não fazia sentido antes do advento do Novo CPC, o qual valorizou o sistema de precedentes: consta do diploma processual que os Tribunais devem observar as súmulas de Tribunais Superiores. Portanto, atualmente a súmula comum possui uma eficácia maior do que possuía anteriormente. O STF poderá, diante de tal cenário, modificar o seu entendimento.
· Súmula vinculante: ela possui um caráter normativo, mas o STF não a admite como objeto de ADPF pela ausência do caráter subsidiário (inexistência de outro meio similarmente eficaz para sanar a lesividade). 
A Lei que regulamenta a súmula vinculante possui mecanismo próprio: o pedido de cancelamento ou revisão da súmula. 
Por haver procedimento específico com a mesma efetividade, imediaticidade e amplitude da ADPF, o caráter subsidiário não é atendido (ADPF 147/AgR).
(d) Propostas de Emendas à Constituição: a PEC não é ato pronto e acabado do Poder Público, mas apenas um ato em elaboração que pode sequer chegar a ser aprovado (ADPF 43/AgR).
(e) Vetos: não se admite ADPF em relação a veto em razão de que o veto deve ser analisado no âmbito político pelo Parlamento, o qual pode derrubá-lo (CF, art. 57, § 3º, IV) (ADPFs 01 e 73).
(f) Decisões judiciais transitadas em julgado: não se admite em razão de que, nesta hipótese, a ADPF seria utilizada como sucedâneo da ação rescisória (ADPF 288/MC). 
Obs. No entanto, se as ações judiciais ainda não transitaram em julgado, poderão ser objeto de ADPF. 
Exemplo: ADPF n. 101 → Nesse caso concreto, o objeto da ADPF abordou decisões judiciais autorizativas da importação de pneus usados. O STF entendeu que tais decisões violavam dois preceitos fundamentais: o direito ao meio ambiente equilibrado e o direito à saúde das pessoas.
(g) Leis revogadas: (tema polêmico – não há entendimento consolidado).
· Pela impossibilidade: ADPF n. 49 → O Min. Menezes Direito, como relator, manifestou-se pela não admissão de ADPF que tinha como objeto lei revogada. Foi utilizado o mesmo raciocínio aplicado à ADI e à ADC, pelo qual estando a lei revogada não há ameaça à supremacia da Constituição.
· Pela possibilidade: ADPF n. 33 → o Min. Gilmar Mendesentende ser possível haver ADPF que tenha como objeto lei revogada, mencionando tal posição em questão obter dicta (não fez parte da ratio decidendi).
Obs. o CESPE entende que lei revogada pode ser objeto de ADPF.
4.2.2. Perspectiva temporal
A perspectiva material pauta-se pelo momento em que o ato surgiu. No Brasil, em regra, não se admite inconstitucionalidade superveniente, a qual se dá quando o ato surge de acordo com a constituição e se torna incompatível depois (salvo mutação constitucional ou inconstitucionalidade progressiva). A inconstitucionalidade, portanto, deve ser originária, ou seja, já ter nascido incompatível com a constituição.
(A) Perspectiva temporal na ADC e ADI
Na ADC o objeto deve ser norma posterior ao parâmetro invocado. 
Norma posterior ao parâmetro invocado não se confunde com norma posterior à constituição, pois o parâmetro invocado pode ser uma emenda à CF.
Exemplo: Lei de 99 não pode ser objeto de ADC se o parâmetro for uma EC de 04.
Obs. a ADC não é norma originária, ao passo que foi criada pela EC 3/93. 
→ Pergunta: atos anteriores à criação da ADC poderão ser objeto desta ação? 
→ Resposta: Sim, leis e atos normativos, anteriores à EC n. 3/93, podem ser objeto de ADC (v.g. ADC 01 teve por objeto a LC 70/91).
(B) Perspectiva temporal na ADPF
A ADPF pode ter como parâmetro normas anteriores ou posteriores a ele. Veja-se que a ADPF não é arguição de inconstitucionalidade, mas arguição de descumprimento de preceito fundamental e o termo “descumprimento” é mais amplo que o termo “inconstitucionalidade”.
Assim, se aplicarmos uma norma anterior à CF que não foi recepcionada por ela, embora essa norma não seja inconstitucional, estar-se-á descumprindo a constituição, pois há a aplicação de algo em descompasso com a lei maior.
Lei n. 9.868/99, art. 1º: (…) Parágrafo único. Caberá também argüição de descumprimento de preceito fundamental:
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição;
(…).
4.2.3. Perspectiva espacial
A perspectiva espacial refere-se ao local, dentro da Federação (esferas federal, estadual e municipal), de onde o ato emanou.
(A) Perspectiva espacial da ADC 
A ADC somente admite como objeto lei ou ato normativo federal.
Obs. Lei ou ato normativo dos Estados ou do Distrito Federal não pode ser objeto de ADC.
(B) Perspectiva espacial da ADI
A ADI admite como objeto lei ou ato normativo federal e estadual.
Obs. O DF possui competência híbrida (acumula a competência estadual ou municipal). Caso a lei ou o ato normativo do DF possua conteúdo estadual poderá ser objeto de ADI. No entanto, caso possua conteúdo municipal, não.
Súmula 642, STF: Não cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal derivada da sua competência legislativa municipal.
(C) Perspectiva espacial da ADI
A ADPF admite como objeto lei ou ato do Poder Público federal, estadual ou municipal.
Obs. o DF possui competência híbrida (acumula a competência estadual e municipal). Portanto, o ato do Poder Público do DF poderá ser objeto de ADPF, seja derivado da competência estadual ou municipal.
DICA: Para não confundir isso em prova coloque sempre na ordem alfabética: ADC (1 esfera), ADI (2 esferas) e ADPF (3 esferas).
5. PARTICIPAÇÃO DE ÓRGÃOS E ENTIDADES
5.1. “Amicus Curiae”
(A) Conceito
O “amicus curiae”, em tradução literal, é um “amigo da Corte”. Tem-se que o “amicus curiae” é alguém que pode contribuir para a decisão a ser dada pelo Tribunal.
(B) Papel
O “amicus curiae” exerce importante papel no âmbito do controle de constitucionalidade em razão da ausência de partes formais no controle concentrado, a qual enseja uma dificuldade na elaboração de uma “síntese” dos aspectos materiais discutidos, por não haver argumentos antagônicos. 
Assim, o “amicus curiae” contribui para: (i) pluralizar o debate constitucional; e (ii) conferir maior legitimidade democrática à decisão.
O “amicus curiae” traz ao STF argumentos, os quais contribuem para pluralizar o debate e conferir maior legitimidade democrática à decisão, porque são órgãos ou entidades representativas da sociedade. Tal papel está relacionado ao método concretista da constituição aberta de Peter Häberle.
(C) Natureza Jurídica
1ª Corrente (Fredie Didier Jr. e Marcelo Novelino) – minoritária: o “amicus curiae” é um auxiliar do juízo. 
2ª Corrente (a maioria dos Ministros do STF) – MAJORITÁRIA: o “amicus curiae” é uma espécie de intervenção de terceiros, figurando como exceção à inadmissibilidade da intervenção de terceiros no controle concentrado.
Obs. Atualmente, esta figura está regulamentada também no art. 138 do CPC, o qual se encontra no capítulo referente às intervenções de terceiro.
(D) Admissibilidade nas espécies de controle
Embora a previsão legal do amicus curiae seja apenas a Lei 9.868, que trata apenas da ADI, aplica-se a figura do “amicus curiae”, por analogia, à ADC e à ADPF, segundo o STF.
A figura do “amicus curiae” é também admitida no controle difuso-concreto. 
(E) Admissibilidade em concreto e requisitos necessários
A entrada no processo pode ser ¹requerida pelo próprio “amicus curiae” (v.g. a entidade interessada pede para atuar como tal), ou ²solicitada pelo STF de ofício (v.g. em tema de alta complexidade, o STF requer que grande autoridade fale sobre o assunto – HC 82.484).
Quando a participação é requerida pelo interessado, cabe ao Relator admiti-lo ou não. O despacho de admissão é irrecorrível, enquanto o despacho de inadmissão é recorrível por agravo ao Plenário.
Nesse passo, são os requisitos de admissibilidade previstos no art. 7º, §2º, da Lei 9.868/99 a (i) relevância da matéria e a (ii) representatividade do postulante.
Além desses dois requisitos, no âmbito do controle abstrato, o STF tem exigido que o requerente seja pessoa jurídica: órgão ou instituição. O Supremo entende que a lei menciona apenas órgão ou instituição de forma que não são admitidas pessoas físicas.
Obs. No controle difuso pode ser pessoa física.
Ademais, o STF tem exigido pertinência temática, ou seja, aquele que pede para participar deve demonstrar que o conteúdo impugnado afeta, de alguma forma, o seu interesse.
Obs. Marcelo Novelino entende ser equivocada essa exigência, pois o papel do “amicus curiae” é contribuir para a decisão e não defender interesse próprio. Portanto, a seu ver, o STF acabou desconfigurando a essência desse instituto.
Em resumo, são os requisitos de admissibilidade atualmente requeridos:
· Requisito objetivo: relevância da matéria.
· Requisito subjetivo: representatividade do postulante;
· Pessoa jurídica órgão ou instituição;
· Pertinência temática.
(F) Forma de manifestação
A forma de manifestação do “amicus curiae” pode ser oral (pedir para ingressar e fazer sustentação oral) ou escrita (pedir para apresentar memoriais escritos).
O mais comum é que ele apresente pedido de ingresso já com memoriais e peça, também, para fazer sustentação oral. O STF pode admitir os dois, um dos dois, ou mesmo nenhum.
(G) Prazo para ingresso
Não há prazo legal para ingresso.
Em regra, o STF admite o requerimento de ingresso do “amicus curiae” até a solicitação de julgamento do processo pelo Relator, que é quando se dá a inclusão na pauta de julgamento. 
No entanto, o STF vem admitindo várias exceções a esta regra, permitindo-se a participação de amicus curiae cujo requerimento de ingresso foi feito mesmo após a inclusão na pauta de julgamento.
Exemplo: RE n. 597.064.
(H) Análise comparativa: controle concentrado e abstrato e controle difuso incidental/concreto
· Controle concentrado abstrato:
Lei n. 9.868/99, art. 7º: Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade [regra].
(…) 
§ 2º: O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir [não admissão: cabimento de agravo interno], observado o prazo fixado no parágrafo anterior [vetado], a manifestação deoutros órgãos ou entidades [STF não admite pessoas físicas, como ‘amicus curiae’, no controle concentrado abstrato].
· Controle difuso incidental/concreto:
CPC, art. 138: O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
1º: A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos [regra – aplicada ao controle concentrado abstrato], ressalvadas a oposição de embargos de declaração [não é aplicado ao controle concentrado abstrato] e a hipótese do § 3º.
2º: Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
3º: O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.
Vejamos as principais diferenças:
i. Quanto aos legitimados:
· Controle concentrado abstrato (Lei n. 9.868/99): órgãos ou entidades.
· Controle difuso incidental/concreto (CPC): pessoa natural ou jurídica.
ii. Quanto aos recursos:
· Controle concentrado abstrato (Lei n. 9.868/99): “amicus curiae” não tem legitimidade para requerer medida cautelar nem para interpor recurso.
· Controle difuso incidental/concreto (CPC): pode opor embargos declaratórios e recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.
5.2. Procurador-Geral da República
Conforme o art. 103, §1º, da CF/88, o PGR deve ser intimado em “todos” os processos de competência do STF.
CF, art. 103, § 1º: O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.
Porém, considerando a grande demanda de processos que chega à Corte, o STF interpreta a regra da CF, art. 103, §1º, com temperamentos, no sentido de que não é necessário que o PGR seja formalmente intimado a se manifestar em todos os processos, mas sim que possua conhecimento da tese discutida. Então, se ele foi intimado a se manifestar sobre determinada tese em determinado processo, essa manifestação vale para todos os outros processos que abordem a mesma tese.
Especificamente em relação ao controle concentrado abstrato, a atuação do PGR é a seguinte: além de lhe ser possibilitada a propositura da ação, ele tem o poder/dever de participar em todos os processos, atuando como “custos constitutionis” (fiscal da supremacia da Constituição) Assim, ele protege a ordem constitucional objetiva de violações. 
ATENÇÃO: Inclusive, o PGR pode se manifestar contrariamente a uma ação proposta por ele mesmo (ADI n. 4975).
Conforme visto, o que não pode ocorrer é a desistência.
5.3. Advogado-Geral da União
Como não há autor e réu nas ações de controle abstrato, o AGU possui importante função, distinta da que ele exerce normalmente (CF, art. 131). Nesses processos o AGU age na função de “defensor legis”, defendendo a presunção de constitucionalidade das leis (é como se fosse um curador).
CF, art. 103, § 3º: Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado.
A função do AGU é diferente da exercida pelo PGR, o qual emite pareceres objetivando a proteção da ordem constitucional objetiva. O AGU é obrigado a defender o ato impugnado (curador da presunção de constitucionalidade).
→ Pergunta: Como o AGU é o chefe da Advocacia-Geral da União, estaria ele obrigado a defender também as leis estaduais? 
→ Resposta: Sim. Embora o AGU possua função geral de chefe da Advocacia-Geral da União, ao atuar no âmbito do controle abstrato ele está atuando em uma função especial de “defensor legis”, devendo defender o ato impugnado, não importa de onde emanou.
Por isso, o entendimento é de que cabe a ele defender a lei ou o ato normativo federal ou estadual.
Entretanto, STF adota o entendimento de que, excepcionalmente, o AGU não está obrigado a defender o ato impugnado nas seguintes hipóteses:
i. Tese jurídica já declarada inconstitucional pelo STF;
ii. O ato for contrário ao interesse da União;
Obs. Para Marcelo Novelino é um entendimento equivocado, pois o AGU atua como “defensor legis” e não defensor da União.
iii. O ato cuja defesa seja inviável: entende-se que, se o ato for claramente incompatível com a constituição, não é possível obrigar o AGU a defender o ato. Ademais, há uma impossibilidade de sanção ao AGU caso não defenda o ato.
6. LIMINAR
6.1. Quórum (de Presença/Votação e de Julgamento)
Existem dois quóruns diferentes, o quórum de presença ou de votação (número mínimo de Ministros presentes para que o julgamento possa ser realizado) e o quórum de julgamento (número mínimo de votos para conceder ou não a liminar).
(A) Regra
Em regra, o quórum necessário para julgamento da liminar é o da maioria absoluta dos membros (6 de 11) e o quórum de presença/votação é o de 08 Ministros (de 11).
Portanto:
· Quórum de julgamento: maioria absoluta;
· Quórum de votação: 08 de 11.
Lei n. 9.868/99, art. 22: A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.
(B) Exceções (liminar concedida monocraticamente)
No caso da ADC não há exceções. A liminar somente poderá ser concedida pelo Plenário, pois a lei já tem presunção de constitucionalidade. 
Lei n. 9.868/99, art. 21: O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.
Tratando-se de ADI há duas exceções:
· Poderá conceder liminar, monocraticamente, o Presidente do Tribunal, ou quem o estiver substituindo, durante o período de recesso.
Nesse caso, após o período de recesso, o feito irá para o Relator, o qual, também monocraticamente, pode modificar essa decisão caso entenda necessário. 
· Poderá conceder liminar, monocraticamente, o Relator, em caso de extrema urgência e perigo de grave lesão. 
Nesse caso, a decisão deve ser referendada posteriormente pelo Pleno.
Lei n. 9.868/99, art. 10: Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta será concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do Tribunal, observado o disposto no art. 22 (quórum de 8 Min), após a audiência dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias.
Por fim, no caso da ADPF existem as mesmas exceções:
· Poderá conceder liminar, monocraticamente, o Presidente do Tribunal, ou quem o estiver substituindo, durante o período de recesso.
Obs. A lei fala que o relator concederá em período de recesso, mas quem fica no plantão é o presidente.
· Poderá conceder liminar, monocraticamente, o Relator, em caso de extrema urgência e perigo de grave lesão. 
ADPF: Lei n. 9.882/99, art. 5º: O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida liminar na argüição de descumprimento de preceito fundamental. 
§1º: Em caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave, ou ainda, em período de recesso, poderá o relator conceder a liminar, ad referendum do Tribunal Pleno.
6.2. Eficácia Objetiva e Subjetiva
(A) Aspecto geral
Com relação à ADI, ADC e ADPF, os efeitos da liminar são sempre erga omnes e vinculantes. 
O efeito “erga omnes” (efeito contra todos) é inerente ao controle abstrato, dada a inexistência de partes formais. Se não existem partes formais, não faria sentidoque a decisão fosse “inter partes”.
(B) ADC
No caso da ADC, o efeito da liminar é a suspensão do julgamento de processos, nos quais a constitucionalidade da lei seja discutida. A razão disso é que já existe uma presunção de constitucionalidade das leis e, portanto, não há sentido em conceder uma liminar dizendo que a lei é constitucional. 
Destaque-se que o prazo máximo da suspensão é de 180 dias. Se em 180 dias o feito não for julgado, a liminar exaure a sua eficácia.
Lei n. 9.868/99, art. 21, parágrafo único: Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União [antes de publicada não produzirá efeitos] a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia.
Obs. A parte dispositiva desta liminar apenas produz efeitos após publicada no Diário Oficial da União. Ora, como ela tem efeitos erga omnes, para que todos tenham conhecimento da liminar é necessário que haja uma publicação.
(C) ADI
Tratando-se de ADI, o efeito da liminar é a suspensão da vigência e eficácia da norma. Ademais, embora a Lei n. 9.868/99 não possua nenhuma previsão específica de suspensão de processos no caso de ADI, o STF tem aplicado por analogia o artigo 21 da Lei n. 9.868/99.
Lei n. 9.868/99, art. 21, parágrafo único: Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União [antes de publicada não produzirá efeitos] a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia.
(D) ADPF
No caso da ADPF, a lei determina a ¹suspensão da tramitação de processos e de ²efeitos de decisões judiciais ou de medidas, salvo se decorrentes da coisa julgada (pois nesse caso é hipótese de cabimento de ação rescisória).
Lei n. 8.882/99, art. 5º, § 3º: A liminar poderá consistir na determinação de que juízes e tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto da arguição de descumprimento de preceito fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada.
Obs. Efeitos da negativa da liminar. 
Ao negar a liminar, o STF está dizendo simplesmente que os pressupostos de cabimento da liminar não estão presentes. Assim, a negativa da liminar não produz nenhum tipo de efeito.
6.3. Eficácia Temporal
(A) ADC
No caso da ADC não há que se falar em eficácia temporal, pois o efeito da liminar suspenderá o julgamento dos processos, obviamente daquele momento em diante.
(B) ADI
Tratando-se de ADI, em regra, o efeito da suspensão na concessão de uma liminar é “ex nunc” (a partir da decisão). Veja que ao julgar uma liminar o STF não está dizendo que a lei é inconstitucional, mas apenas que ela aparentemente é inconstitucional e, por isso, a suspensão não possui efeitos retroativos.
Porém, excepcionalmente, o STF pode fazer uma modulação temporal dos efeitos da decisão, dando-lhe efeitos “ex tunc” (eficácia retroativa). A utilização da modulação depende do caso concreto (v.g. excepcional interesse social, segurança jurídica, etc). 
Lei n. 9.868/99, art. 11, § 1º: A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc [regra], salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa [efeito ‘ex tunc’ – exceção].
Quando uma lei é suspensa, em regra, a legislação revogada pela nova lei impugnada voltará a produzir efeitos novamente. Trata-se do fenômeno do efeito repristinatório tácito (tácito porque a decisão do STF não faz nenhuma menção expressa à lei anterior, a qual havia sido revogada pela lei suspensa).
Para que não haja o efeito repristinatório, o STF deve manifestar-se expressamente acerca disso.
Lei n. 9.868/99, art. 11, § 2º: A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.
(C) ADPF
No que se refere à ADPF, em regra, o efeito da suspensão na concessão de uma liminar é “ex nunc” (a partir da decisão). Ressalte-se que, embora a Lei n. 9.882/99 não discipline o tema, aplica-se, por analogia, o art. 11, §1º, da Lei n. 9.868/99.
(D) Aspecto comum – Obrigatoriedade
Por fim, seja na ADI, ADC ou ADPF, a obrigatoriedade da decisão se dá a partir da publicação (e não do trânsito em julgado) do dispositivo da decisão no DOU e DJU. 
Essa necessidade de publicação decorre do fato de que o processo objetivo inerente às ações de controle abstrato não possui partes formais, sendo as decisões, por natureza, dotadas de efeitos erga omnes. Havendo efeitos erga omnes, para que as pessoas tenham ciência do decidido é preciso dar publicidade.
Lei n. 9.868/99, art. 11: Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo solicitar as informações à autoridade da qual tiver emanado o ato, observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido na Seção I deste Capítulo.
Lei n. 9.868/99, art. 21, parágrafo único: Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União [antes de publicada não produzirá efeitos] a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia.
7. DECISÃO DE MÉRITO
7.1. Quórum
Essa matéria referente ao quórum é igual para ADI, ADC e ADPF.
Ao contrário da liminar, em que pode ocorrer uma concessão monocrática pelo relator ou Presidente do Tribunal, a decisão de mérito é analisada exclusivamente pelo Plenário do STF. 
A única exceção a esta regra é a possibilidade do relator, monocraticamente, não admitir a ação. Porém, dessa decisão que indefere a petição inicial, cabe agravo para o Plenário.
O quórum de presença/votação é de, no mínimo, de 8 (2/3) Ministros presentes (Lei n. 9.868/99, art. 22 e Lei n. 9.882/99, art. 8º).
L. 9.868/99 (ADI e ADC), art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.
L. 9.882/99 (ADPF), art. 8o A decisão sobre a arguição de descumprimento de preceito fundamental somente será tomada se presentes na sessão pelo menos dois terços dos Ministros.
O quórum de julgamento, ou seja, necessário para a declaração da (in)constitucionalidade é de 6 Ministros (maioria absoluta do STF). 
Lei n. 9.868/99, art. 23: Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade.
Se o quórum mínimo de seis ministros não é alcançado para proclamar a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade, a decisão não produzirá efeitos “erga omnes” e efeitos vinculantes em relação àquele ponto.
Obs. A lei 9.882/99, em sua redação original, exigia para o julgamento de uma ADPF o quórum de 2/3 (o quórum de decisão era o mesmo de votação). Porém, o Presidente da República vetou esse dispositivo por entender que seria demasiadamente rígido e inviabilizaria o procedimento da ADPF. Assim, a lei da ADPF não prevê quórum, aplicando-se por analogia o mesmo da lei das ADI e ADC.
Caso preenchido o quórum de presença/votação (08 Ministros ou 2/3), mas não o quórum de julgamento (06 Ministros), a decisão não produzirá efeitos erga omnes e vinculante. 
Exemplo: O STF vai julgar a (in)constitucionalidade de uma lei e estão presentes 08 Ministros (quórum de presença/votação preenchido). Para que seja declarada sua (in)constitucionalidade, 06 desses Ministros devem se manifestar no mesmo sentido.
Assim,se 05 votarem pela inconstitucionalidade e 03 pela constitucionalidade, não haverá quórum mínimo para declarar a lei constitucional ou inconstitucional, de forma que os efeitos da decisão não serão erga omnes e vinculante. 
STF, ADI 4.165/DF: (…) o Tribunal julgou a ação improcedente, por maioria. Quanto à eficácia erga omnes e ao efeito vinculante da decisão em relação ao §4º do art. 2º da Lei n. 11.738/08, o Tribunal decidiu que tais eficácias não se aplicam ao respectivo juízo de improcedência, contra os votos dos Senhores Ministros Joaquim Barbosa (Relator) e Ricardo Lewandowski.
7.2. Recorribilidade
A decisão de mérito nas ações de controle abstrato (ADI, ADC e ADPF) é uma decisão irrecorrível, o que é óbvio, já que o STF é a última instância em âmbito nacional.
Excepciona-se a possibilidade de oposição de embargos declaratórios, que embora possam ter efeitos infringentes, não têm o objetivo de alterar a decisão (visam o esclarecimento de um ponto omisso, contraditório ou obscuro).
Em mesmo passo, não cabe ação rescisória contra decisão proferida em sede de ADI, ADC e ADPF.
Lei n. 9.868/99, art. 26: A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.
Lei n. 9.882/99, art. 12: A decisão que julgar procedente ou improcedente o pedido em argüição de descumprimento de preceito fundamental é irrecorrível, não podendo ser objeto de ação rescisória.

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