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Vencendo o Panico_Manual Terapeutas_Bernard Range

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Vencendo o Pânico: 
Instruções Passo a Passo para quem 
Trata Ataques de Pânico
Manual de Tratamento para Terapeutas
Bernard Rangé
Professor do Departamento de Psicologia Clínica
Instituto de Psicologia
UFRJ
Este é um manual passo-a-passo para orientar terapeutas no tratamento do Transtorno do Pânico
(TP) e da Agorafobia (AGO). Inclui uma série de etapas a serem cobertas em cada sessão. Está
baseado em evidências comprovadas pela pesquisa científica sobre esses transtornos, que podem ser
mais detalhadamente encontradas em Wolfe e Maser1. Esse livro é o resultado de uma conferência
internacional com a participação de 25 especialistas em TP e AGO que chegaram a um conjunto de
conclusões consensuais sobre estes quadros. 
Estão aqui descritas também algumas estratégias de intervenção, baseadas na experiência pessoal
do autor, que complementam os dados confirmados na literatura. Certos aspectos do tratamento
decorrem desta experiência pessoal, especialmente quando dizem respeito ao enfrentamento de
problemas de natureza mais pessoal de cada paciente. Neste sentido, isto significa que estão em teste
experimental quanto a sua validade.
Há vários objetivos neste manual. Em primeiro lugar, avaliar a efetividade de treinamentos à
distância para o TP e a AGO. Considerando a escassez de oferta de tratamento cognitivo-
comportamental no Brasil, excluindo os grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, seja no
Sistema Nacional de Saúde ou fora dele; considerando as grandes distâncias de nosso país e os
recursos financeiros exíguos da maioria da população que dificultam a mobilidade física das pessoas,
pode-se especular que um tipo de intervenção bastante estruturado, pode se prestar satisfatoriamente
a este objetivo. 
Em segundo lugar, pretende avaliar a efetividade de tratamentos de curta duração. A literatura já
demonstrou a efetividade de tratamentos de doze sessões. Há evidências, ainda inconclusivas, de que
tratamentos de 3,5 horas, acompanhados de biblioterapia, podem produzir mudanças positivas. Por
outro lado, o tratamento aqui proposto visa examinar a necessidade de certas medidas terapêuticas
que exigem uma quantidade um pouco maior do este tempo mínimo. Daí o autor ter chegado ao
número de 8 sessões que inclui todos os elementos mínimos já confirmados como efetivos 
1Wolfe, B. e Maser, J. (1994). 
2
(informação sobre o problema e o método de tratamento, treino de relaxamento, restruturação
cognitiva, exposição interoceptiva) mais alguns que ainda requerem mais evidências sobre sua
necessidade: restruturação de crenças perfeccionistas e de padrões recorrentes de comportamento
não-assertivo.
É muito comum a associação de TP e AGO com outros transtornos da ansiedade [Transtorno da
Ansiedade Generalizada (TAG), Fobia Social (FS) e Fobias Específicas (FE)], com síndromas
depressivas [Episódio Depressivo Maior (DM), Distimia (D)], com Abuso ou Dependência de
Substâncias (DS) e Transtornos de Personalidade (TP). Há muita discussão ainda quanto ao
transtorno primário em cada destes casos. Há fortes evidências de que (pelo menos) uma
comorbidade dificulta muito o tratamento do TP e da AGO. Por este motivo, esse programa inclui
também uma entrevista estruturada para detectar transtornos de personalidade e escalas para avaliar
a presença de outros transtornos do Eixo 1. Caso seja identificado algum transtorno de
personalidade, recomenda-se que o paciente não seja incluído no Programa de Treinamento à
Distância (PTD). Por isso, cada colaborador receberá uma cópia traduzida da Entrevista Estruturada
para Transtornos da Personalidade [Structured Clinical Interview for Disorders - Personality
Disorders (SCID-TP)]. 
Além destes instrumentos, cada colaborador receberá um conjunto de escalas que servirão para
avaliar a efetividade da intervenção. Elas deverão ser aplicadas depois do SCID-TP, podendo ser
levadas pelo paciente para ser preenchidas em casa. Devem ser devolvidas ao terapeuta na primeira
sessão de tratamento. Estas escalas não devem ser copiadas e usadas comercialmente. 
Mais abaixo haverá uma descrição do PTD. Antes disso será feita uma revisão do conhecimento
sobre esses problemas.
Fenomenologia
O Diagnostic and Statistical Manual IV (DSM-IV: American Psychiatric Association, 1994), define 
um Ataque de Pânico separadamente do Transtorno de Pânico:
 
3
"Um período discreto de medo ou desconforto intenso no qual quatro ou mais dos seguintes
desenvolveram-se abruptamente e alcançaram um pico dentro de dez minutos:
1. palpitações ou ritmo cardíaco acelerado; 
2. suor; 
3. tremer ou sacudir-se; 
4. sensações de falta de ar ou de asfixia; 
5. sensações de sufocamento; 
6. dor ou desconforto no peito; 
7. náusea ou mal estar abdominal; 
8. sentir-se tonto, desequilibrado, desmaiando; 
9. desrealização (sentimentos de irrealidade) ou despersonalização (sentir-se 
 destacado de si mesmo); 
10. medo de perder o controle ou ficar louco; 
11. medo de morrer; 
12. parestesias (sensações de dormência ou formigamento); 
13. calafrios ou ondas de calor" (APA, 1994)
O DSM-IV faz distinções entre ataques inesperados (não sinalizados), ataques predispostos 
situacionalmente e ataques situacionalmente disparados (sinalizados). Os primeiros parecem "vir do
nada" e não revelam estar associados com qualquer "gatilho" situacional. São essenciais para um 
diagnóstico de transtorno do pânico, apesar de ocorrerem em outros transtornos também. Os 
segundos não ocorrem invariavelmente depois de uma exposição a certas situações ou sinais, apesar 
de que a presença destes sinais aumenta a probabilidade de um ataque. Os últimos ocorrem 
invariavelmente ou imediatamente a partir da exposição a um "gatilho" situacional e são 
característicos de fobias específicas e sociais. 
Os critérios diagnósticos do DSM-IV para Agorafobia são os seguintes:
"A. Ansiedade de estar em lugares ou situações dos quais a fuga possa ser difícil (ou 
embaraçosa) ou nas quais um socorro pode não estar disponível na eventualidade de ter 
um ataque de pânico inesperado ou situacionalmente predisposto ou de ocorrer sintomas 
como pânico. Medos agorafóbicos tipicamente envolvem conjuntos característicos de 
situações que incluem estar fora de casa sozinho; estar numa multidão ou esperar em uma 
fila; estar em uma ponte ou viajar em ônibus, trem ou automóvel.
Nota: considerar o diagnóstico de Fobia Específica se a evitação é limitada a uma ou 
poucas situações específicas, ou Fobia Social se a evitação é limitada a situações sociais.
B. As situações são evitadas (por exemplo, viajar é restringido) ou são suportadas com 
pronunciado mal estar ou ansiedade de ter um ataque de pânico ou sintomas como de 
pânico, ou requerem a presença de uma companhia.
C. A ansiedade ou evitação fóbica não é melhor justificada por outro transtorno mental, 
como Fobia Social (por exemplo, evitação limitada a situações sociais pelo medo de sentir-
se embaraçado), Fobias Específicas (por exemplo, evitação limitada a uma única situação 
como elevadores), Transtorno Obsessivo-Compulsivo (por exemplo, evitação de sujeira 
em alguém com uma obsessão sobre contaminação), Transtorno do Estresse Pós-
Traumático (por exemplo, evitação de estímulos associados com um agente estressor 
severo), ou Transtorno de Ansiedade de Separação (por exemplo, evitação de afastar-se de 
casa ou de parentes)." (APA, 1994)
Os critérios para diagnóstico do Transtorno do Pânico com Agorafobia são os seguintes:
4
"A.Tanto (1) como (2): (1) ataques de pânico inesperados recorrentes; (2) pelo menos um
dos ataques foi seguido por um mês (ou mais) de um (ou mais) dos seguintes: (a) 
preocupação persistentesobre ter ataques adicionais; (b) preocupação sobre as implicações 
do ataque ou de suas conseqüências (por exemplo, perder controle, ter um ataque 
cardíaco, "ficar louco"); (c) uma mudança significativa no comportamento relacionado aos
ataques. 
B. A presença de agorafobia.
C. Os ataques de pânico não são devidos aos efeitos psicológicos diretos de alguma 
substância (por exemplo, um abuso de droga, um medicamento) ou uma condição médica 
geral (por exemplo, hipertiroidismo).
D. Os ataques de pânico não são melhor justificados por outro transtorno mental, como 
Fobia Social (por exemplo, evitação limitada a situações sociais pelo medo de sentir-se 
embaraçado), Fobias Específicas (por exemplo, evitação limitada a uma única situação 
como elevadores), Transtorno Obsessivo- Compulsivo (por exemplo, evitação de sujeira 
em alguém com uma obsessão sobre contaminação), Transtorno do Estresse Pós-
Traumático (por exemplo, evitação de estímulos associados com um agente estressor 
severo), ou Transtorno de Ansiedade de Separação (por exemplo, evitação de afastar-se de 
casa ou de parentes)." (APA, 1994)
Os critérios diagnósticos para Transtorno do Pânico sem Agorafobia são idênticos aos critérios 
para Transtorno de Pânico com Agorafobia com exceção às referências a medos e evitação 
agorafóbica.
Na CID-10 publicado pela Organização Mundial de Saúde (1990), que é o sistema de 
classificação psiquiátrico adotado no Brasil, o Transtorno de Pânico é descrito como:
"Repetidos ataques de intensa ansiedade que não se restringem a uma situação ou 
circunstância determinada, sendo, portanto, imprevisíveis. Uma das fobias impossibilita o 
diagnóstico. Os sintomas variam de pessoa a pessoa, mas são comuns: palpitações, dor no 
peito, sensação de desfalecimento, vertigem e sentimentos de irrealidade 
(despersonalização ou desrealização); medo de estar morrendo, enlouquecendo ou 
perdendo o controle. As crises duram alguns minutos, mas podem ser mais prolongadas. A
freqüência e curso são variáveis e predomina em mulheres. O local, atividade ou situação 
em que se deu a crise passa a ser evitado.
Diretrizes diagnosticas: o diagnóstico exige diversos ataques de grande intensidade: i) 
dentro de cerca de um mês; ii) em circunstâncias nas quais não havia perigo objetivo; iii) 
os ataques não se restringem a situações determinadas e são imprevisíveis; iv) não deve 
haver sintomas ansiosos nos intervalos entre as crises (podendo existir ansiedade 
antecipatória)." (OMS, 1990)
Para que você, terapeuta, possa se familiarizar mais com o trabalho com a terapia cognitivo-
comportamental, vamos fazer uma revisão dos principais conceitos e técnicas.
5
Introdução à Terapia Cognitiva
Os últimos anos têm testemunhado um desenvolvimento vertiginoso de uma abordagem
psicoterapêutica denominada terapia cognitiva (Beck e col., 1979; Beck e col., 1985; Beck e
Freeman, 1990; Beck e col., 1993; Alford e Beck, 1997). Baseia-se no modelo cognitivo segundo o
qual afeto e comportamento são determinados pelo modo como um indivíduo avalia cada
acontecimento do mundo à sua volta. Suas cognições (eventos verbais ou pictóricos do sistema
consciente) mediam as relações entre os impulsos aferentes do mundo externo e as reações
(sentimentos e comportamento). O modelo esquemático é o seguinte:
Mundo externo  Interpretações  Afetos  Comportamentos
Distingue-se da psicanálise, do behaviorismo e da psiquiatria biológica na medida em que estes
entendem que a ação de um indivíduo está baseada em um determinismo fora do seu controle,
enquanto a terapia cognitiva (TC) supõe que a origem da ação encontra-se na consciência, logo sob
seu poder.
Historicamente, a TC teve como precursora a terapia racional-emotiva (Ellis, 1962), mas foi
Aaron T. Beck quem lhe deu os contornos atuais. Originalmente um psicanalista interessado em
avaliar empiricamente e teoria psicanalítica da melancolia, começou a perceber em seus atendimentos
certas características do processamento cognitivo de seus pacientes e a relação destas com os
sintomas por eles apresentados. Pouco a pouco foi desenvolvido seu modelo cognitivo e uma prática
correspondente, submetendo-os a verificações experimentais que as validaram (Alford e Beck,
1997). Na mesma época, as terapias comportamentais também começaram a valorizar
progressivamente os aspectos cognitivos (Bandura, 1969; Mahoney, 1973) com o conseqüente
desenvolvimento de uma abordagem cognitivo-comportamental (Barlow, 1994). 
Fundamentos teóricos da terapia cognitiva e do funcionamento cognitivo
As interpretações que um indivíduo faz do mundo estruturam-se progressivamente durante seu
desenvolvimento formando crenças, regras ou esquemas. Estes ajudam a orientar, organizar,
selecionar suas novas interpretações, bem como ajudam a estabelecer critérios de avaliação de
eficácia ou adequação de sua ação no mundo. Numa analogia, pode-se dizer que funcionam tal como
as regras gramaticais na regulação do comportamento verbal.
Esquemas são espécies de "fórmulas" que uma pessoa tem a seu dispor para lidar com situações
regulares de maneira a evitar todo o complexo processamento que existe quando uma situação é
nova. Orientam e ajudam a uma pessoa a selecionar os detalhes relevantes do ambiente e a evocar
6
dados arquivados na memória também relevantes para sua interpretação. Os esquemas podem se
organizar em compostos mais complexos chamados constelações cognitivas, que se manifestam
através de prontidões (sets) cognitivas, entendidas como estados de ativação cognitiva que preparam
um indivíduo para um certo tipo de atividade cognitiva específica (detecção de perigo, apreciação
estética etc.).
Entre os esquemas de um indivíduo, um deles tende a se estruturar como mais central,
condensador das experiências recorrentes e/ou marcante de sua relação com as pessoas significativas
de sua formação. Essa crença central se marca por uma concepção negativa que o indivíduo faz de
si e de suas relações com o mundo. Tem aspectos dogmáticos, que tendem a gerar julgamentos
globais ("o mundo é injusto"), extremados ("não tenho valor"), absolutos ("sou má"), irreversíveis
("serei sempre incompetente"), arbitrários ("tudo dá errado para mim”), únicos ("todo mundo é
forte e só eu sou fraca"), ou qualitativos ("sou um fracasso completo").
Uma crença central funciona como uma matriz das interpretações momentâneas das relações de
um indivíduo com o mundo. Quando ativada tende a tornar a ação do indivíduo mais incapacitada.
Por este motivo, cada pessoa tende a desenvolver suposições condicionais ou secundárias que a
capacitem a funcionar melhor. Estas tendem a ser mais hipotéticas ou condicionais e se apresentam
como suposições “se..., então...”, sendo uma mais positiva e a outra mais negativa. Assim, se uma
pessoa acredita que seja incapaz, ela poderia desenvolver hipóteses como: “se estudar com mais
afinco, posso tirar notas melhores”, que poderiam ajudá-la a aumentar sua motivação e seus
esforços; ou outra como “se fracassei é porque de fato sou incapaz”, que a conduziriam a estados
depressivos.
Estas suposições condicionais mediam as relações que disparam pensamentos automáticos que,
pelas características de seus conteúdos, geram sentimentos de medo, tristeza, raiva etc. Todos estes
fatores determinam a espécie e amplitude das reações emocionais e comportamentais. Os quadros 1
e 2 descrevem a relação entre experiências precoces, crenças centrais, suposições condicionais,
estratégias comportamentais básicas, pensamentos automáticos, afetos e comportamentos.
7
Quadro 1. Diagrama de Conceituação Cognitiva
Dados relevantes da infância
Mãe crítica; comparavacom irmão; exigente
Pai distante
Irmão capaz
Crença Central
Não tenho valor
Crenças Condicionais
+ Se tentar fazer as coisas direito, posso ter sucesso
- Se não conseguir, mereço morrer
Estratégias Comportamentais
Pedir ajuda, chorar, fugir
Situação 1
Nadando na academia de ginástica (e
sentindo taquicardia, tonteira, dormência,
sensações de falta de ar e enjôo)
Situação 2
Assistindo aula na faculdade 
(e sentindo as mesmas sensações)
Situação 3
Vendo TV em casa 
(e sentindo falta de ar intensa)
Pensamentos Automáticos
“Estou tendo um ataque cardíaco!”
“Vou morrer!”
Pensamentos Automáticos
“Dessa vez não escapo do ataque
cardíaco !”
“Vou morrer!”
Pensamentos Automáticos
“Vou morrer sufocada”
Significado
Impotência
Significado
Vulnerável
Significado
Impotente, vulnerável
Emoção
Pavor
Emoção
Medo, ansiedade, pavor
Emoção
Pavor, desespero
Comportamento
Pedir ajuda
Chorar
Parar de nadar
Comportamento
Ir ao banheiro
Telefonar para o marido
Chorar
Comportamento
Tentar respirar mais
Pedir ajuda
Chorar
8
Quadro 2. Exemplo das relações entre os elementos do quadro 1
Crença Central
(Não tenho valor)

Crença Intermediária
(Se não conseguir fazer algo,
mereço morrer)

Situação  Pensamentos Automáticos  Reações
Nadando  “Vou ter um ataque cardíaco”.  Emocional(Pavor)

Comportamental
(Chorar)

Fisiológica
(Taquicardia)
Em condições normais, um estado de prontidão cognitiva varia de acordo com mudanças na
estimulação. Se houver uma persistência através de diversas situações, o estado está evidenciando
uma tendenciosidade que denuncia a ativação de um modo. [A noção de modo corresponde ao
conceito utilizado em eletrônica que define modos de funcionamento de equipamentos (p. ex.: modo
rádio FM, modo rádio AM, modo gravador, modo CD em um equipamento de som)]. Um modo
ativado significa que o indivíduo fica funcionando apenas naquela função (em looping). Há, por
exemplo, modos negativistas, narcisistas, vulneráveis, eróticos etc. O modo de funcionamento típico
de uma pessoa comum quadro de ansiedade, e o TP é um deles, é o modo de vulnerabilidade.
A ativação de um modo estimula a ativação de esquemas correspondentes e de determinados
estados cognitivos; estes, por sua vez, irão disparar pensamentos automáticos, que são verbalizações
(ou imagens) encobertas específicas, discretas, telegráficas, reflexas, autônomas e idiossincráticas,
sentidas como plausíveis e razoáveis. Os pensamentos automáticos vão gerar as emoções
correspondentes e através deles pode-se descobrir as crenças e suposições que os geram. Isto
tornará possível descobrir os tipos de distorções cognitivas que sustentam as patologias com que nos
defrontamos, de maneira a poderem ser tratadas. Cada patologia tende a funcionar com tipos
específicos de distorções cognitivas. 
Resumidamente, pode-se dizer que qualquer emoção depende da avaliação que um indivíduo faz
de uma situação. A percepção de um copo de água envolve uma avaliação positiva ou neutra,
9
conforme a sede, ou de perigo se houver possibilidade de que ela possa estar contaminada; uma
emoção de alegria, indiferença ou medo corresponderá àquela percepção. A idéia de contaminação
pode ocorrer em função de evidências sobre a qualidade da água ou da ativação de pensamentos
automáticos relacionados a perigo que denunciam a existência de determinados esquemas
idiossincráticos de um indivíduo e a ativação de um modo de vulnerabilidade. A ocorrência de medo
conseqüente a um evento sobre o qual não há evidências de perigo sugere a existência de distorções
no processamento cognitivo que podem requerer uma intervenção reparadora. O quadro 3 evidencia
alguns tipos mais comuns de distorções cognitivas.
10
Quadro 3. Distorções Cognitivas
1. Pensamento Dicotômico: é a tendência de interpretar todas as experiências em termos de categorias opostas e
polarizadas (preto/branco, tudo/nada, sempre/nunca, perfeição/fracasso, absoluta segurança/ perigo total). Ex.: "um
sinal imprevisto do meu corpo significa perigo iminente"; ou "se eu não me sair sempre bem (no trabalho etc.), isto
significa que sou um fracasso".
2. Abstração Seletiva: é a tendência a focalizar apenas um detalhe retirado de um contexto, ignorando outros aspectos
também importantes, e conceber a totalidade da experiência com base no fragmento. Ex.: "sou impotente" (após uma
falha erétil).
3. Inferência Arbitrária: é a tendência a chegar a uma conclusão (ou regra) na ausência de provas suficientes, ou por
meio de um raciocínio lógico falho. Ex.: "não sou atraente para as mulheres" (depois de algumas tentativas de corte
infrutíferas).
4. Hipergeneralização: é a tendência a ver um evento negativo único como parte de um padrão interminável de
perigos ou sofrimentos. Ex.: "se eu senti medo aqui, vou sentir sempre de novo"; ou "tudo sempre dá errado para mim"
(depois de bater com o carro)
5. Desqualificação do Positivo: é a tendência a rejeitar experiências ou fatos positivos por insistir que "não contam",
por qualquer motivo. Ex.: "sou burra e doente" (mesmo tendo passado em dois vestibulares); ou "não perdi o controle
ainda" (desconsiderando que nunca aconteceu nada durante inúmeros ataques de pânico).
6. Erro Oracular: é a tendência a antecipar que "as coisas vão dar errado" de qualquer maneira, sem base para essa
afirmação. Ex.: "eu sei que vou ser rejeitada".
7. Raciocínio Emocional: é a tendência a tomar as próprias emoções como provas de uma "verdade". Ex.: "se sinto
pânico é porque essa situação é muito perigosa).
8. Rotulação: é a tendência a descrever erros ou medos por características estáveis do comportamento, por rótulos
pessoais. Ex.: "eu sou um fracasso" ao invés de "falhei nisso").
9. Tirania dos "Deveria": é a tendência a dirigir a própria vida em termos de "deverias" e "não deverias", por
avaliações de "certo" ou "errado", em vez de dirigi-la por seus desejos. Ex.: "eu deveria estudar mais" em vez de "eu
quero (ou não quero) estudar mais".
10. Personalização: é a tendência a se ver como causador de fatos ruins, sem o ser, de fato. Ex.: "se algo acontecer ao
meu casamento, a culpa é só minha".
11. Leitura Mental: é a tendência a antecipar negativamente, sem provas, o que as pessoas vão pensar sobre você.
Ex.: "se entrar em pânico aqui todos vão pensar que sou doente".
12. Catastrofização: é a tendência a exagerar a probabilidade e a magnitude dos efeitos de uma situação antecipada. 
Ex.: “meu filho deve ter sido sequestrado” (ao ver que o filho de 20 anos não está na cama às quatro da madrugada); 
ou “posso ter um ataque cardíaco” (ao sentir o coração acelerado).
Repare se você não está fazendo julgamentos: 
 globais ("o mundo é injusto"), 
 extremados ("se não for aprovada sempre, não tenho valor"), 
 absolutos ("toda homem é mau caráter"), 
 irreversíveis ("serei sempre incompetente"), 
 arbitrários ("se há uma chance de uma coisa dar errado, dará), 
 únicos ("todo mundo é forte e só eu sou fraca"), ou 
 qualitativos ("sou um fracasso completo").
Veja se estas avaliações não parecem mais corretas: 
 graduadas ("mais freqüentemente eu ganho o jogo, algumas dá empate e umas 10% das vezes eu 
 perco"); 
 relativas ("dependendo de como eu ajo, ela age diferente comigo"); 
 complexas ("os homens são, às vezes, honestos e outras, egoístas"); 
 fundamentadas ("se nunca enlouqueci ou morri numa crise pânico é porque isso, de fato, não 
 acontece); 
 reversíveis ("a situação está difícil, mas pode melhorar"); 
 quantitativas ("se meu salário é equivalente ao dos colegas, logo não devo ser pior que eles")
11
Quadro 4. Distorções Cognitivas em Transtornos da Ansiedade
MAGNIFICAÇÃO: ver uma situação (ou aspectosdela) como muito mais perigosos do que de fato 
ela é (p.ex., ver os seus sintomas de ansiedade como uma prova de um desastre iminente).
MINIMIZAÇÃO: fazer uma interpretação que diminui (1) a sua habilidade em lidar com uma 
situação; (2) a importância dos fatores não ameaçadores de uma situação; ou (3) a presença de 
fatores de socorro numa situação. 
PENSAMENTO TUDO OU NADA: acreditar que você é ou (1) uma pessoa totalmente competente
como (do tipo Superhomem ou Mulher-Maravilha) (2) um cara totalmente incompetente. (Se você 
não é o número 1, então você deve ser o número 2). Também pensar que seu nível de ansiedade ou é
nenhum (0%) ou é total (100%).
PERSONALIZAÇÃO: identificação extremada com situações de perigo potencial sem ter bons 
motivos (p.ex., acreditar que seu avião vai se espatifar, ficar nervoso quando você vê algo ruim 
acontecendo com alguém).
ATENÇÃO SELETIVA: focalizar a maior parte ou inteiramente os aspectos ameaçadores de uma 
situação e ignorar o contexto relevante em torno dela. Também lembrar apenas situações que foram 
difíceis para você lidar no passado (misteriosamente esquecendo as vezes em que você lidou bem).
ERRO ORACULAR: assumir que você sabe o futuro e que ele será negativo de alguma forma 
grande [mesmo que o que você teme tenha acontecido raramente (ou mesmo nunca) ou ser muito 
improvável, considerados outros aspectos].
HIPERGENERALIZAÇÃO: ver um incidente assustador único ou o caso de seu enfrentamento 
fraco como uma prova de um padrão negativo que é então assumido como estendendo-se 
infinitamente para o futuro. 
SUPOSIÇÕES COMUNS EM ESTADOS DE ANSIEDADE
1. VULNERABILIDADE: “se uma vez eu já fiquei ansioso(a) ou tive pânico nessa situação (ou 
numa similar), vai acontecer outra vez”.
2. ESCALADA: “se eu tiver essa ansiedade pequena ela vai crescer sempre mais e eu vou (1) 
enlouquecer; (2) perder totalmente o controle; (3) desmaiar ou (4) morrer asfixiado ou ter um 
ataque cardíaco”.
3. DESAMPARO: “tenho alguns sintomas de ansiedade; assim, vou ficar (em pouco tempo) 
completamente desamparado(a) porque não consigo enfrentar ou aguentar esses sentimentos”.
O tipo de distorção cognitiva mais característico nos transtornos da ansiedade e, especificamente,
no TP/AGO é a catastrofização. Catastrofizar representa exagerar a probabilidade e/ou a magnitude
dos efeitos de uma situação. Há claramente exageros na probabilidade (“vou morrer” concebido
como 99% certo) e magnitude (é o fim de tudo). Num transtorno da ansiedade também se faz uma
avaliação dos recursos pessoais para lidar com a situação e estes recursos são, em geral, sub-
avaliados. 
12
Domínio Pessoal
Um dos esquemas mais fundamentais de um indivíduo é o de domínio pessoal (Beck, 1979). É
constituído pelo conjunto de objetos tangíveis ou não que são relevantes para uma pessoa. No centro
do domínio está seu conceito de si mesmo, seus atributos físicos e suas características pessoais, suas
metas e valores. Aninhados em torno do centro há objetos animados ou inanimados nos quais há
investimentos e incluem, tipicamente, sua família, amigos, bens materiais e posses. Os outros
componentes de seu domínio variam em grau de abstração: escola, trabalho, grupo social,
nacionalidade e valores intangíveis como liberdade, justiça ou moralidade. A natureza da resposta
emocional - perturbada ou não - depende da pessoa perceber os eventos como adicionando (alegria /
euforia), subtraindo (tristeza / depressão), ameaçando (medo / pânico) ou invadindo / coagindo
(raiva / hostilidade) seu domínio. A seguir, no quadro 5, alguns exemplos de tipos de acontecimentos
que podem levar a várias emoções:
Quadro 5. Acontecimentos e Emoções
Tristeza (algo de valor foi perdido)
a) perda de objeto tangível ou fonte de gratificação ou valorização (morte de parente, perda do emprego);
b) perda do objeto intangível (auto-estima diminuída);
c) reversão no valor de um ativo (descoberta de falta grave de cônjuge);
d) fantasia de perda futura como ocorrendo já;
e) perda hipotética (não houve mas poderia haver);
f) pseudoperda (percepção incorreta de um evento como perda).
Alegria (percepção ou expectativa de ganho)
a) expansão do domínio por incorporação de algo novo de algum valor (amor, bens, metas);
b) antecipação de expansão;
c) aumento em autoavaliação.
Medo (percepção de ameaça iminente)
a) ameaça de injúria física, doença, etc.;
b) ameaça de rejeição social;
c) ameaça de desastre econômico;
d) ameaça de perda de objeto tangível intangível valiosa);
Raiva
a) ataque deliberado (físico, verbal, coerção, privação, oposição, invasão) ao domínio;
b) frustração por restrição/impedimento deliberado ou não de direitos;
c) ataque à auto-estima por ação não deliberada;
d) ataques hipotéticos (violação de regras, como no trânsito por exemplo, mesmo quando não há dano);
13
Definição e Princípios
A TC é uma abordagem ativa, diretiva e estruturada usada no tratamento de uma variedade de
problemas psiquiátricos, fundamentada no modelo cognitivo e caracterizada pela aplicação de uma
variedade de procedimentos clínicos como introspecção, insight, teste na realidade e aprendizagem,
que visam aperfeiçoar discriminações e corrigir concepções equivocadas que se supõe basear
sentimentos, atitudes e ações perturbadas. 
Uma sólida relação terapêutica é uma condição necessária para uma TC efetiva. Atributos como
empatia, interesse genuíno, calor humano, autenticidade devem estar presentes em todo terapeuta
cognitivo. A relação é vista como um esforço colaborativo entre terapeuta e paciente. Juntos
estabelecem os objetivos da terapia e de cada sessão, prazo e duração do contrato terapêutico, os
"sintomas-alvo", as tarefas etc. Assim, fica clara a participação ativa do paciente em seu processo de
mudança.
A TC usa primariamente o método socrático. De forma alguma ela pode ser persuasiva.
Transcorre fundamentalmente em torno de perguntas que o terapeuta faz para o paciente questionar
os fundamentos de suas crenças e, na ausência destes, poder modificá-las. Os questionamentos que
motivam as restruturações giram em torno fundamentalmente sobre evidências que sustentam as
crenças e pensamentos automáticos e sobre outras alternativas possíveis de se interpretar a situação.
A falta de evidências e a descoberta de outras interpretações podem abalar a confiança nos
pensamentos automáticos e crenças, tornando-os hipóteses, entre outras, sujeitas a verificação.
Assim a TC visa ajudar ao paciente a processar as informações de um modo semelhante ao que um
cientista usa em seu trabalho e que o próprio paciente também usa quando envolvido em situações
não prejudicadas por um processamento falho, como por exemplo quando investiga as razões de um
vazamento de água, ou uma falha elétrica ou ainda um tremor na direção de um veículo.
A TC é orientada para o problema, não para a personalidade. É estruturada e diretiva para atingir
seus objetivos de mudança da situação problemática específica. Para isso, se baseia em um modelo
educacional que objetiva ensinar ao paciente recursos para lidar sozinho com novas situações com
as quais se defronte no futuro. Para atingir seus objetivos, a TC utiliza um método indutivo, pois
toma as evidências dos dados como instrumento de avaliação da credibilidade das hipóteses.
O trabalho de casa é considerado um aspecto central da TC, uma vez que o trabalho
desenvolvido nas sessões é limitado no tempo e que o tempo fora das sessões pode ser utilizado para
novas experiências e exercícios corretivos de suas crenças disfuncionais. A resistência em realizá-los
deve ser examinada nas sessões, de modo a detectar possíveis fatores que estimulem a evitação.
Processo terapêutico
14
Parteda sintomatologia de um paciente pode ser atribuída à incompreensão do que lhe acontece.
É fundamental, seja como elemento de aliança terapêutica, seja como por respeito a seus direitos
como paciente, seja como já parte do processo de mudança uma explicação detalhada da base
lógica da TC, de sua compreensão dos problemas e da compreensão possível, até o momento, da
problemática trazida pelo paciente. Este passo inicial é fundamental para um certo alívio do
sofrimento do paciente pela possibilidade dele sentir-se compreendido; pelo correspondente aumento
de esperança de resolução de seus problemas; pelo estabelecimento de uma aliança terapêutica
produtiva; por seu comprometimento com um contrato de trabalho firmado em bases de cooperação
mútua; e pelo entendimento do que se pretende fazer, do que se espera do paciente e como isso se
insere no processo e resultado.
Já se viu que o enfoque da TC se baseia na idéia de que pensamentos geram os sentimentos e os
comportamentos que constituem a queixa do paciente. A detectação desses pensamentos durante a
sessão, quando estão "quentes" e "vivos", é crucial para uma adequada demonstração das distorções
cognitivas em ocorrência. Mas é importante que, desta experiência, o paciente aprenda a detectar
por si mesmo os pensamentos disfuncionais como um primeiro passo para aprender a manejá-los.
Para isso, usam-se os Registros Diários de Pensamentos Disfuncionais (RDPD), onde, tomando-se
os afetos como marcadores, sejam por ele registrados os eventos situacionais (dia, hora, situação),
emocionais (sentimentos, reações corporais) e cognitivos (pensamentos e imagens) relevantes. As
sessões seguintes envolverão análises e discussões detalhadas dos RDPD. Ver o quadro 5 a seguir.
15
Quadro 5. Registro Diário de Pensamentos Disfuncionais
Dia/Hora Situação
Descrever: 
1. o que está acontecendo que 
possa ter levado à emoção
2. Corrente de pensamento, 
devaneio ou lembrança que possa 
ter levado à emoção 
Sentimentos
1. Especificar a emoção (ex.: 
triste, ansioso, zangado etc.)
2. Assinalar a intensidade da 
emoção numa escala de 0 a 
100
Pensamentos Automáticos
1. Anotar o(s) pensamento(s) associados à 
emoção da forma como apareceram na mente
2. Indicar o grau de convicção para cada 
pensamento numa escala de 0 a 100
Resposta Alternativa
1. Anotar cada resposta racional para o(s) 
pensamento(s) registrado(s) lendo as perguntas 
abaixo.
2. Avaliar o grau de convicção em cada resposta 
racional (0-100)
Reavaliação
1. Reavaliar o grau de convicção em 
cada pensamento automático
(PA = 0-100)
2. Reavaliar a intensidade de cada 
emoção (E = 0-100)
Perguntas para ajudar a compor uma resposta alternativa: (1) quais são as provas que o meu pensamento é verdadeiro? Não verdadeiro? (2) Há explicações alternativas? (3) O que é o pior que poderia acontecer? Eu poderia 
superar isso? É tão catastrófico assim? Qual o melhor que poderia acontecer? Qual o resultado mais provável, mais realista? (4) Se (um amigo meu) estivesse na situação e tivesse esse pensamento, o que eu diria para ele? (5) O 
que eu deveria fazer a esse respeito? (6) Qual é o efeito da minha crença no pensamento automático? Qual poderia ser o efeito de mudar o meu pensamento? Reavalie a convicção nos pensamentos automáticos e nos 
sentimentos associados. 
 Traduzido e adaptado pelo autor a partir de um modelo de Judy Beck (1996) por Bernard Rangé
A análise dos RDPD permitirá o estabelecimento em conjunto dos "sintomas-alvo" (desânimo,
tristeza, ansiedade, falta de concentração, evitações, ideações suicidas etc.), dependendo do quadro
apresentado pelo paciente e de suas necessidades mais imediatas. A alteração das cognições que
sustentam estes “sintomas-alvo” é o passo seguinte, logicamente necessário dentro do modelo.
Uma vez que o paciente tenha adquirido uma compreensão da lógica do processo e a detectar os
pensamentos disfuncionais, é chegado o momento de generalizar o tratamento para fora do contexto
terapêutico. A aprendizagem realizada pelo paciente de como questionar suas crenças disfuncionais
poderá ser realizada por ele próprio em seu dia-a-dia e será registrada nos RDPD para posterior
análise nas sessões. 
As técnicas terapêuticas destinam-se a identificar, testar na realidade e corrigir concepções
errôneas e, com isso, ajudar ao paciente a pensar mais objetiva e realisticamente. Envolvem ensinar
ao paciente a observar e controlar seus pensamentos automáticos depois dele reconhecer os
vínculos entre cognições, afetos e comportamento; a examinar evidências pró e contra seus
pensamentos automáticos; a substituir os pensamentos automáticos tendenciosos por outros mais
orientadas para a realidade; e a aprender a identificar e alterar as crenças disfuncionais que
sustentam e geram os pensamentos automáticos.
Não há obstáculos para o uso complementar de medicamentos apesar de que este uso tende a
facilitar atribuições externas (aos medicamentos) em detrimento de atribuições internas (de aquisição
de recursos pessoais) que tendem a tornar os pacientes mais vulneráveis a recidivas.
Uma relação terapêutica distingue-se de outras relações interpessoais. O estabelecimento de uma
boa relação terapêutica é fundamental para o sucesso de qualquer intervenção terapêutica, inclusive,
como se viu, na TC. Uma exagerada submissão ao método, uma inconstância no seu uso, uma
excessiva cautela prejudicam a relação terapêutica e a evolução satisfatória da terapia. Igualmente,
qualquer aspecto de didatismo exagerado ou persuasão serão contraproducentes. Deprimidos e
ansiosos tendem a estabelecer relações dependentes, o que descaracteriza o processo e a estrutura da
TC. Uma superficialidade no exame dos significados de uma experiência precisa ser substituída por
uma ênfase contínua em auto-exploração. A TC maximiza seus resultados quanto mais os problemas
são trabalhados enquanto estão "fervendo", isto é, quando ocorrem na própria sessão; donde a
necessidade de recriá-los ou até mesmo provocá-los nas sessões. Como já se viu, cuidados devem
ser tomados com "insights" intelectuais apenas e com resistências a fazer as tarefas de casa. O êxito
será consideravelmente aumentado com a utilização de técnicas comportamentais, uma vez que a
psicoterapia comportamental elaborou um conjunto formidável de conhecimentos sobre princípios
que regulam a ação já transformados em procedimentos altamente eficazes de mudança. (Rangé,
1995a; 1995b).
Para que você possa ajudar mais o seu paciente vamos rever um material conveniente de ser
usado com ele e que ele também o receberá. 
Tratamento do Transtorno do Pânico e da Agorafobia (resumo)
O tratamento estruturado do TP e da AGO consiste de uma série de passos como os seguintes.
Pré-Tratamento
SESSÃO # 1: Triagem
1. Avaliação geral do problema (entrevista inicial)
2. Informação sobre a pesquisa
3. Ficha de Caracterização de Casos
Roteiro para Entrevista de Triagem
- Bom dia, meu nome é ... como é o seu?
- ...
- O que trouxe você até nós? (o paciente responde e o terapeuta faz perguntas variadas para tentar definir por alto o
problema)...
(............................................)
- Bom, (nome da pessoa), parece que você tem um problema que se relaciona com o nosso trabalho. Estamos fazendo
uma pesquisa sobre tratamento de estados de ansiedade. Somos pesquisadores trabalhando sob a orientação do(a)s
Dr(a)s. _____, professores universitários e profissionais especialistas nestes problemas. 
Nos propomos a oferecer a você um tratamento considerado efetivo para problemas deste tipo, mas queremos
investigar novos procedimentos que podem ajudar a torná-lo mais efetivo. Queremos verificar se a melhora pode ser
maior e mais rápida. Este é onosso objetivo e precisamos da sua ajuda para aprender a tratar melhor você e outras
pessoas como você. O tratamento vai consistir de três sessões de avaliação, por meio de testes, durante uma semana;
depois por seis sessões (semanas) de tratamento; e, por fim, mais duas sessões de testes (outra semana), para avaliar o
grau de mudança. Gostaríamos de contar com sua ajuda para que depois de doze semanas, seis meses, um ano e dois
anos, você aceitasse se submeter a novas reavaliações.
Há, hoje em dia, dois tratamentos considerados efetivos para estes problemas: remédios e psicoterapia. Você poderá
escolher o que você preferir. 
Os remédios podem produzir efeitos de três a seis semanas. Este tratamento pode exigir de você experimentar
graus variados de ansiedade, até os efeitos começarem a se produzir. Exige também que você tome os remédios
conforme a recomendação médica. Eles podem produzir, além de algum alívio, alguns efeitos colaterais desagradáveis
como boca seca, aumento no ritmo cardíaco, sonolência etc.
A psicoterapia também pode produzir resultados de três a seis semanas, mas pode exigir de você experimentar
graus variados de ansiedade, até os efeitos começarem a se produzir. Exige de você uma participação ativa, o
aprendizado e o exercício de algumas técnicas para que você as possa utilizar sozinho(a) e enfrentamento gradual de
situações que são, hoje, ainda difíceis para você. A psicoterapia não produz efeitos colaterais.
Ainda não podemos dizer com certeza se você apresenta exatamente o problema que queremos estudar. Primeiro,
teremos que avaliar. Se for confirmado, você participará de nosso tratamento, no grupo de sua preferência. Se não se
confirmar o diagnóstico, mas se você ainda quiser ajuda, você poderá ser atendido(a) por nossa equipe da (DPA),
qualquer que for o problema emocional.
- Estou à sua disposicão para esclarecer qualquer dúvida que você tiver. Você concorda em participar? 
18
SESSÃO # 2: Questionários: (para fazer em casa)
1. Questionário de Pânico
2. Questionário de Crenças de Pânico
3. Escala de Pânico e Agorafobia 
4. Inventário Beck de Ansiedade
5. Inventário Beck de Depressão
6. Questionário de Cognições Agorafóbicas
7. Questionário de Sensações Corporais
8. Inventário de Mobilidade
9. Questionário de Qualidade de Vida SF-36
10. EBA (Escala Brasileira de Assertividade)
SESSÃO # 3: SCID-P:
1. SCID para Transtornos de Personalidade
Tratamento
SESSÃO # 1: Objetivo: Informar
1. Informar sobre o problema (Transtorno de Pânico e Agorafobia)
2. Informar sobre o tratamento (Terapia cognitivo-comportamental)
3. Tarefa de casa: parte 1 do material “VENCENDO O PÂNICO” da versão dos 
pacientes e que inclui os textos: Informação sobre o Transtorno do Pânico, Fisiologia e 
Psicologia do Medo e da Ansiedade e Fisiologia da Hiperventilação.
SESSÃO # 2: Objetivo: Treinar Habilidades de Manejo
1. Discutir leituras: enfatizar aspectos importantes de cada texto, reforçar modelo cognitivo, 
explicar exposição interoceptiva.
2. Introduzir a estratégia ACALME-SE
3. Provocar exercício de hiperventilação no quarto passo e usar a estratégia SPAEC
4. Introduzir treino respiratório
5. Solicitar RDPDs
6. Tarefa de casa: parte 2 do material “VENCENDO O PÂNICO” da versão dos 
pacientes que inclui o preenchimento de RDPDs e o treino de relaxamento respiratório. 
SESSÃO # 3: Objetivo: Conscientização Corporal
1. Análise dos RDPDs
2. Treino em relaxamento
3. Exposição interoceptiva (tonteira, taquicardia, falta de ar etc.)
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4. Tarefas de casa: parte 3 do material “VENCENDO O PÂNICO” da versão dos 
pacientes que inclui o treino de relaxamento muscular e o treino de habituação 
interoceptiva. 
SESSÃO # 4: Objetivo: Fortalecer Auto-eficácia
1. Análise dos RDPDs 
2. Discussão da Crença # 1, de Ellis.
3. Treino em Assertividade (primeira parte: elogiar outros)
4. Construção da hierarquia de ansiedade para exposição situacional 
5. Tarefas de casa: parte 4 do material “VENCENDO O PÂNICO” da versão dos 
pacientes; (b) fazer exercícios de relaxamento respiratório e muscular; (c) preencher 
RDPDs; (d) elogiar outras pessoas. 
SESSÃO # 5: Objetivo: Manejo existencial
1. Análise dos RDPDs 
2. Treino em Assertividade (segunda parte: dizer não)
3. Exposição situacional da primeira situação da hierarquia de ansiedade
4. Introduzir noção de ‘hedonismo responsável’, incluindo a discussão da Crença # 2 de Ellis
5. Tarefas para casa: parte 5 do material “VENCENDO O PÂNICO” da versão dos 
pacientes e (a) preencher RDPDs; (b) solicitar Curtograma; (c) fazer auto-exposições; (d) 
dizer “não” para outras pessoas.
SESSÃO # 6: Objetivo: Manejo existencial (segunda parte)
1. Análise dos RDPDs 
2. Análise do Curtograma e incentivar o cliente a fazer o que gosta mas não faz
3. Fazer mais exposições situacionais da hierarquia
4. Treino em assertividade (terceira parte: pedir coisas, ajuda etc. a outros )
5. Discussão da Crença # 3 de Ellis
6. Tarefas para casa: parte 6 do material “VENCENDO O PÂNICO” da versão dos 
pacientes e (a) preencher RDPDs; (b) solicitar Lista de Desejos; (c) continuar a fazer auto-
exposições; (d) pedir coisas ou ajuda para outras pessoas;
SESSÃO # 7: Objetivo: Manejo existencial (terceira parte)
1. Análise dos RDPDs 
2. Verificar se o cliente fez coisas que lhe dessem prazer como indicado no Curtograma
2. Análise da Lista de Desejos e incentivar o cliente a planejar um futuro realizador e feliz
3. Fazer mais exposições situacionais da hierarquia
4. Treino em assertividade (quarta parte: pedir mudanças no comportamento dos outros )
5. Análise de situações negativas de vida; discutir idéia de pânico como “freio” 
6. Tarefas para casa: parte 7 do material “VENCENDO O PÂNICO” da versão dos 
20
pacientes e (a) preencher RDPDs; (b) continuar a fazer auto-exposições; (d) pedir 
mudanças no comportamento de outras pessoas;
IMPORTANTE: LEVAR QUESTIONÁRIOS DO PÓS-TESTE !
SESSÃO # 8: Objetivo: ENCERRAMENTO
1. Rever e analisar tarefas (RECOLHER OS QUESTIONÁRIOS DE PÓS-TESTE ! )
2. Análise de iniciativas existenciais
3. Fazer novamente exercícios de relaxamento muscular e respiratório e de exposição 
interoceptiva 
4. Informações para prevenir recaídas
5. Marcar o próximo pós-teste
6. Pedir avaliação do trabalho feito (ganhos com tratamento, dificuldades, sugestões)
7. Despedidas
Pós-teste
SESSÃO # 1: Reaplicar questionários
1. Questionário de Pânico
2. Questionário de Crenças de Pânico
3. Escala de Pânico e Agorafobia 
4. Inventário Beck de Ansiedade
5. Inventário Beck de Depressão
6. Escala de Cognições Agorafóbicas
7. Escala de Sensações Corporais
8. Escala SCL-90
9. Inventário Brasileiro de Assertividade
21
Programa de Treinamento à Distância (PTD)
Sessão 1
Objetivo: Estabelecer Rapport, Oferecer Informação Básica sobre o Problema e o
 Tratamento, Coletar Informações e Estabelecer Metas do Tratamento.
Metas e tarefas:
1. Estabelecer rapport. Essa sessão deverá ser eminentemente clínica, uma vez que o rapport entre o
paciente com pânico e o terapeuta é crítico para o sucesso da terapia. Um tempo considerável, deve
ser dedicado ao estabelecimento de uma relação de confiança. Para isso, é necessário que tenha
clareza sobre cada aspecto de cada intervenção. Outro aspecto importante é sua capacidade de
empatia, de aceitação incondicional e de autenticidade. Uma compreensão precisa do modelo
cognitivo é também fundamental. 
2. Coleta de Dados: fazer perguntas específicas sobre a queixa principal: compreensão das 
condições, conflitos etc. presentes no ataque inicial; como são os ataques (o que sente, o que pensa, 
o que faz), freqüência de ocorrência, primeira ocorrência, situações em que costumam ocorrer,estratégias de enfrentamento (auxílio médico, fugas e evitações, busca de apoio, etc.).
3. Situação Existencial: dados sobre família, relações sociais, afetivas e sexuais, vida acadêmica / 
profissional, lazer, uso de substâncias (legais ou ilegais). Se já não tiver sido informado, perguntar 
especificamente sobre problemas, dificuldades, conflitos, insatisfações na vida. Atenção para 
verbalizações ou descrições de situações que possam expressar motivos inaceitáveis para a cultura 
de formação do paciente (p.ex.: “Não podia ir para a frente nem para trás...”).
4. Oferecer informação sobre o problema (ver Informação sobre Transtorno do Pânico,Fisiologia e 
Psicologia do Medo e da Ansiedade e Fisiologia da Hiperventilação).
5. Oferecer informação sobre o tratamento: apresentar a terapia cognitivo-comportamental.
6. Estabelecer metas do tratamento: identificar situações de ansiedade, reconhecer pensamentos 
ansiosos e usar estratégias de enfrentamento apropriadas. Provocar mudanças pertinentes na vida.
22
Informação sobre o Transtorno do Pânico
Você tem um problema bastante conhecido,
que tem até um nome, é muito comum e é
bastante bem tratável. O nome deste problema
é Transtorno de Pânico e ele consiste em crises
de pânico súbitas, repentinas, imprevistas,
espontâneas e recorrentes que incluem várias
sensações como vertigem, tonteira, taquicardia,
sudorese, sensações de falta de ar,
formigamento, calafrios e muitas outras. Por
causa delas, as pessoas tendem a acreditar que
estão frente a um perigo como morte iminente,
por ataque cardíaco ou asfixia, ou desmaio,
queda, perda de controle, loucura etc. É tão
freqüente que atinge cerca de 3% da
população. Você não é o(a) único(a): aqui no
Grande Rio isso representa cerca de 300.000
pessoas. 
Como estas crises acontecem de repente,
em situações variadas, e são muito
assustadoras, as pessoas tendem a procurar, no
início deste processo, ajuda médica, em geral
cardiológica, por pensarem que se trata de um
problema cardíaco. Aos poucos, com a
repetição delas, começam a se sentir inseguras
e pouco confiantes em ficar sozinhas ou saírem
à rua desacompanhadas. Com isso passam a
fazer muitas coisas apenas com a companhia de
alguém, na idéia de que se acontecer algo, o
acompanhante poderá tomar providências,
como levá-las a um médico ou para casa ou
outro local sentido como seguro.
Às vezes este problema começa de forma
mais gradual, sem grandes crises, mas com um
progressivo aumento na insegurança de fazer
coisas sozinho(a) ou de enfrentar certas
situações como passar em túneis, andar em
conduções públicas (como ônibus, metrô,
trens, aviões), freqüentar cinemas, teatros ou
casas de espetáculos, andar em elevadores,
pegar engarrafamentos etc. A idéia costuma ser
a de que, como alguma crise ou mal estar pode
acontecer numa situação dessas e, como a fuga
delas é muitas vezes difícil, o melhor é evitá-
las, para não correr o risco, seja de acontecer o
perigo imaginado, seja de experimentar o
intenso desconforto das sensações.
Há debates ainda sobre as causas desse
problema. Alguns médicos defendem que se
trata de um problema bioquímico que só é
tratável com remédios. Há argumentos fortes a
favor desta posição, mas também há
problemas, como os efeitos secundários que
estas medicações produzem, o fato de quase
2/3 dos pacientes voltam a ter crises, uma vez
suspenso o tratamento e ainda as evidências de
cura de tratamentos não medicamentosos como
a psicoterapia cognitivo-comportamental. A
nossa posição é que, quando as crises são
muito intensas e freqüentes, o uso de
medicação torna-se necessário. Mas quando
são menos freqüentes ou mais brandas, uma
intervenção estritamente psicológica é mais
desejável. Por que? Porque pensamos que a
causa deste problema é psicológica (o que não
exclui a ocorrência de processos bioquímicos
cerebrais). São dois motivos principais:
Em primeiro lugar, é preciso a gente
entender que o modo da gente pensar afeta,
isto é, determina o que se sente. Qualquer
situação com que nos deparamos,
automaticamente nos faz pensar coisas boas ou
ruins sobre ela. Numa situação, se eu penso
que estou em perigo, sinto medo; se penso que
vai acontecer uma coisa ótima, fico alegre.
Assim, qualquer sentimento é sempre causado
por algum pensamento. Mas as duas avaliações
contidas nestes pensamentos podem estar
erradas: de repente, eu descubro que não estou
em perigo e o medo passa; e o que eu pensei
que iria acontecer de bom era um engano, e
não fico mais alegre. É assim que muitas vezes
as coisas se passam na nossa cabeça e na nossa
vida.
Quando ficamos preocupados com certos
problemas, tendemos a sentir ansiedade. Sentir
medo ou ansiedade significa ter aquelas
sensações. Se, com certas sensações do corpo,
eu ou você pensamos que vamos ter um ataque
cardíaco, como é que não vamos ficar
apavorados? Estamos acreditando mesmo que
corremos perigo. E se corremos perigo (ou
pensamos que corremos), como não sentir
medo? A ocorrência daquelas sensações
(produzidas por idéias de perigo) confirma
mais ainda a idéia de um ataque cardíaco
iminente, o que faz aumentar ainda mais a
intensidade das sensações, e assim por diante.
Rapidamente, portanto, numa espiral, acontece
a crise de pânico. Mas, já reparou que tudo
aquilo de pior que você prevê nunca acontece?
Ora, isto significa que estamos avaliando mal
ou pensando errado sobre estas situações. As
23
avaliações que fazemos sobre estas sensações
estão incorretas e precisam, portanto, ser
reformuladas. Todas estas coisas fazem com
que fiquemos meio como um radar reparando
em tudo em volta e, sobretudo, em tudo no
nosso próprio corpo. Por causa disso qualquer
alteração ou sensação "estranha" no nosso
corpo quase sempre acaba sendo interpretada
como um sinal de uma doença perigosíssima ou
de um perigo fatal e iminente. Mas a gente
pensar que alguma coisa é perigosa não quer
dizer que, obrigatoriamente, ela seja, por mais
que o nosso pensamento pareça verdadeiro. Às
vezes nos enganamos mesmo quando
pensamos que estamos certíssimos. Por isso, o
tratamento consiste, em parte, em ensinar a
você a descobrir quando você está pensando
certo e quando está pensando errado, para
você poder deixar de ter medo de coisas que
não são verdadeiras ou reais. Por isso a nós
vamos discutir os seus pensamentos que
ocorrem nas sessões e os que ocorrem fora
delas (e que você vai trazer anotados). Você
vai aprender a testá-los para ver se são
verdadeiros ou se são lógicos. Por exemplo, eu
quero que você respire forte e rápido por dois
minutos. Após 30 ou 40 segundos, ou mais um
pouco, pare e preste atenção no que você está
sentindo. Não são sensações semelhantes às
que você teve quando em pânico? (Ex.:
taquicardia, sudorese, boca seca etc.). Veja,
primeiro, como você pode fazer coisas com seu
corpo, sem querer. Mesmo sem perceber, numa
situação de estresse ou preocupação,
respiramos profundamente. Isto pode, como
vimos neste exercício, provocar sensações
"estranhas" no nosso corpo (como essas que
você acabou de sentir, semelhantes às de
ansiedade). Assim, fica fácil interpretá-las
(erradamente) como sinais de ataque cardíaco
ou desmaio, por exemplo, e não apenas como
(verdadeiramente) sinais de ansiedade
decorrente de preocupações.
Você vai aprender que uma coisa é algo ser
perigoso e outra é algo ser desagradável. Você
já viu e sabe que o que se passou com você é
algo muito desagradável. Mas é perigoso? Se
apesar de sentir as sensações desagradáveis,
nunca acontecenada do que você pensa que
vai acontecer, isto não será uma prova de que
as suas sensações não são sinais de perigo?
Descobrir isso significa que você pode ter estas
sensações, apesar delas serem muito
desagradáveis, e que você não precisa fugir
delas de que qualquer modo,
desesperadamente, pois nada de perigoso está
acontecendo. O problema se reduz apenas a
você aprender a minimizar a intensidade com
que elas aparecem, para não serem tão
desconfortáveis. Para isso você vai aprender a
relaxar e a respirar de uma forma que produza
relaxamento; vai aprender a examinar os seus
pensamentos para poder torná-los mais
realistas e verdadeiros, que não possuam idéias
de ameaça irreais e falsas. Conseguir mudar
seus pensamentos ajudará, como vimos, a você
deixar de sentir medo. Para exercitar tudo isso,
será necessário você se expor gradualmente às
situações que produzem ansiedade e às
sensações que ela produz no seu corpo, de
modo a que você passe a reconhecer e
compreender o que se passa com você, nos
seus pensamentos e no seu corpo. Assim, você
vai conseguir se acalmar nas próprias
situações.
Com isso, você poderá (1) testar suas idéias
distorcidas; (2) verificar que são falsas; (3)
descobrir que não precisa fugir
desesperadamente em busca de ajuda; (4)
reconhecer que, sozinho(a), você poderá
superar e resolver tudo até se acalmar; e (5)
reconhecer que você não precisa de um
acompanhante para ter segurança. Você terá
então aprendido a manejar seu
medo/ansiedade/pânico e estará praticamente
bom(boa).
Mas faltará ainda alguma coisa. O outro
aspecto é que ficamos assim, com Transtorno
de Pânico, quando temos medo de tomar
decisões ou agir de modo independente,
autônomo, confiante e seguro em nossas vidas.
Principalmente quando uma ou mais coisas
estão insatisfatórias ou ruins na nossa vida da
gente e não sabemos o que fazer para mudá-las
(ou sabemos, mas temos medo de fazer o que
queremos). Elas nos incomodam e provocam
sentimentos ruins, desagradáveis, que a gente
tenta negar, evitar percebê-los. Aí, qualquer
situação que nos faça pensar que podemos
perder o controle sobre eles nos ameaça, pelo
contato com eles e pela idéia de perda de
controle que pode nos levar a fazer desejamos
mas temos medo de fazer. Isto pode produzir
crises de pânico que seguem a espiral que
descrevi antes. Vamos precisar ver o que está
insatisfatório na sua vida e o que falta para ela
fique satisfatória, como você quer que ela seja.
24
Vamos precisar ajudar a você a se reorientar
na vida: em vez de ficar se preocupando com o
que há de ruim, com o que pode acontecer de
ruim, vamos tentar fazer com que você consiga
se orientar para o que há de bom, gostoso,
positivo, desejável, realizador. Só manejar
crises, não é o suficiente; é preciso acabar com
aquilo que começou a provocá-las. E isto, só
com essa reorientação de vida.
25
Fisiologia e Psicologia do Medo e da Ansiedade
Embora uma definição verdadeira da ansiedade
que cubra todos os seus aspectos seja muito
difícil de ser alcançada (apesar das muitas
publicações referentes ao assunto), todos
conhecem este sentimento. Não há uma só
pessoa que nunca tenha experimentado algum
grau de ansiedade, seja por estar entrando em
uma sala de aula justo antes de uma prova, ou
por acordar no meio da noite certo/a de que
ouviu algum ruído estranho do lado de fora da
casa. Contudo, o que é menos conhecido é que
sensações, tais como fortes tonteiras, manchas
e borrões dos olhos, dormências ou
formigamentos, músculos duros e quase
paralisados e sentimentos de falta de ar que
podem levar até a sensações de sufocamento
ou asfixia, podem também fazer parte da
reação de ansiedade. Quando estas sensações
ocorrem e as pessoas não entendem o por quê,
a ansiedade pode aumentar até níveis de
pânico, já que elas imaginam que podem estar
tendo alguma doença. 
Ansiedade é a reação ao perigo ou à
ameaça. Cientificamente, ansiedades imediatas
ou de curto período são definidas como
reações de luta-e-fuga. São assim denominadas
porque todos os seus efeitos estão diretamente
voltados para lutar ou fugir de um perigo.
Assim, o objetivo número um da ansiedade é o
de proteger o organismo. Quando nossos
ancestrais viviam em cavernas, era-lhes vital
uma reação automática para que, quando
estivessem defrontados com um perigo, fossem
capazes de uma ação imediata (atacar ou
fugir). Mas mesmo nos dias agitados de hoje,
este é um mecanismo necessário. Imagine que
você está atravessando a rua quando de
repente um carro, à toda velocidade, vem em
sua direção, buzinando freneticamente. Se você
não experimentasse absolutamente nenhuma
ansiedade, você seria morto. Contudo, mais
provavelmente, sua reação de luta-e-fuga
tomaria conta de você e você correria para sair
do caminho dele para ficar em segurança. A
moral desta estória é simples  a função da
ansiedade é proteger o organismo, não
prejudicá-lo. Seria totalmente ridículo da parte
da natureza desenvolver um mecanismo cuja 
função primordial fosse a de proteger o
organismo e, por assim fazer, o prejudicar. 
A melhor forma de pensar sobre todos os
sistemas de resposta de luta-e-fuga (ansiedade)
é lembrar que todos estão voltados para deixar
o organismo preparado para uma ação imediata
e que seu objetivo primordial é protegê-lo. 
Quando alguma forma de perigo é percebida
ou antecipada, o cérebro envia mensagens à
uma seção de nervos chamados de sistema
nervoso autônomo. Este sistema possui duas
subsecções ou ramos: o sistema nervoso
simpático e o sistema nervoso parassimpático.
São exatamente estas duas subsecções que
estão diretamente relacionadas no controle dos
níveis de energia do corpo e de sua preparação
para a ação. Colocado de uma forma mais
simples, o sistema nervoso simpático é o
sistema da reação de luta-e-fuga que libera
energia e coloca o corpo pronto para ação;
enquanto que o parassimpático, é o sistema de
restauração que traz o corpo a seu estado
normal. 
Um aspecto importante é que o sistema
nervoso simpático tende muito a ser um
sistema “tudo-ou-nada”. Isto é, quando
ativado, todas as suas partes vão reagir. Em
outras palavras: ou todos os sintomas são
experimentados ou nenhum deles o são. É raro
que ocorra mudanças em apenas uma parte do
corpo somente. Isto talvez explique o fato de
ataques de pânico envolverem tantos sintomas
e não apenas um ou dois. 
Um dos efeitos principais do sistema
nervoso simpático é a liberação de duas
substâncias químicas no organismo: adrenalina
e noradrenalina, fabricadas pelas glândulas
supra-renais. Estas substâncias, por sua vez,
são usadas como mensageiras pelo sistema
nervoso simpático para continuar a atividade
de modo que, uma vez que estas atividades
comecem, elas freqüentemente continuam e
aumentam durante um certo período de tempo.
Contudo, é muito importante observar que a
atividade no sistema nervoso simpático é
interrompida de duas formas. Primeiramente,
as substâncias que serviam como mensageiras -
adrenalina e noradrenalina  são de alguma
forma destruídas por outras substâncias do
corpo. Segundo, o sistema nervoso
parassimpático  que geralmente tem efeitos
opostos ao sistema nervoso simpático  fica
26
ativado e restaura uma sensação de
relaxamento. É importante perceber que, em
algum momento, o corpo cansará da reação de
luta-ou-fuga e ele próprio ativará o sistema
nervoso parassimpático para restaurar um
estado de relaxamento. Emoutras palavras, a
ansiedade não pode continuar sempre
aumentando e entrar numa espiral sempre
crescente que conduza a níveis possivelmente
prejudiciais. O sistema nervoso parassimpático
é um protetor “embutido” que impede o
sistema nervoso simpático de se desgovernar.
Outra observação importante é que as
substâncias mensageiras, adrenalina e
noradrenalina, levam algum tempo para serem
destruídas. Assim, mesmo depois que o perigo
tenha passado e que seu sistema nervoso
simpático já tenha parado de reagir, você ainda
se sentirá alerta e apreensivo por algum tempo,
porque as substâncias ainda estão “flutuando”
em seu sistema. Você deve sempre lembrar-se
que isto é absolutamente natural e sem perigo.
Aliás, isto é uma função adaptativa porque,
num ambiente selvagem, o perigo geralmente
tem o hábito de atacar de novo, e é útil ao
organismo estar preparado para ativar o mais
rápido possível a reação de luta-e-fuga. 
A atividade no sistema nervoso simpático
produz uma aceleração do batimento cardíaco,
como também um aumento na sua força. Isto é
vital para a preparação da luta-ou-fuga, já que
ajuda a tornar mais veloz o fluxo de sangue e
assim melhora a distribuição de oxigênio nos
tecidos e a remoção de produtos inúteis nos
mesmos. É devido a isso que experimentamos
um batimento cardíaco acelerado ou muito
forte típicos de períodos de alta ansiedade ou
pânico. Além da aceleração do batimento
cardíaco, há também uma mudança no fluxo do
sangue. Basicamente, o sangue é redirigido
sendo “reduzido” em algumas partes do corpo
onde ele não é tão essencial naquele momento
(através do estreitamento dos vasos
sangüíneos) e é direcionado às partes onde é
mais essencial (através da expansão dos vasos
sangüíneos). Por exemplo, o fluxo de sangue é
reduzido na pele, nos dedos das mãos e dos
pés. Este mecanismo é útil para que, se a
pessoa for atacada ou ferida de alguma forma,
este mesmo mecanismo impedirá que a pessoa
morra por hemorragia. Por isso, durante a
ansiedade, a pele fica pálida e sentimos frio em
nossas mãos e pés, e até mesmo algumas vezes,
podemos sentir dormências ou formigamentos.
Por outro lado, o sangue é direcionado aos
músculos grandes, como os das coxas ou os
bíceps, o que ajuda o corpo em sua preparação
para ação.
A reação de luta-e-fuga está associada
também com o crescimento da velocidade e
profundidade da respiração. Isto tem uma
importância óbvia para a defesa do organismo,
já que os tecidos precisam de mais oxigênio
para estarem preparados para a ação. As
sensações provocadas por este aumento na
função respiratória podem, contudo, incluir
sensações de falta de ar, de engasgar ou
sufocar, e até mesmo dores e pressões no
peito. Também importante é o efeito colateral
decorrente do crescimento na função
respiratória, especialmente se nenhuma
atividade real ocorra, que é a de haver uma
redução real do fluxo de sangue para a cabeça.
Por ser uma quantidade insignificante, não
chega a ser perigoso para a saúde, mas produz
uma série de sintomas desagradáveis (mas sem
prejuízo algum) e que podem incluir tonteiras,
visão borrada, confusão, fuga da realidade e
sensações de frio e calor fortes.
A ativação da reação de luta-e-fuga produz
um aumento na transpiração. Isto tem funções
adaptativas importantes, como por exemplo,
tornar a pele mais escorregadia para que, dessa
forma, fique mais difícil para um predador
agarrar um corpo e também para resfriá-lo de
modo a evitar um superaquecimento. 
A ativação do sistema nervoso simpático
produz uma série de outros efeitos, nenhum
dos quais sendo de modo algum prejudiciais ao
corpo. Por exemplo, as pupilas se dilatam para
permitir a entrada de mais luminosidade, o que
pode resultar em uma visão borrada, manchas
na frente dos olhos e assim por diante. Ocorre
também uma redução na produção de saliva,
resultando em uma boca seca. Há uma redução
na atividade do sistema digestivo, o que
geralmente produz náuseas, uma sensação de
peso no estômago e também constipação ou
diarréia. Por fim, diversos grupos de músculos
se tencionam preparando-se para a reação de
luta-e-fuga e isso resulta em sintomas de
tensão, muitas vezes estendendo-se a dores
reais como também a tremores.
Acima de tudo, a reação de luta-e-fuga
resulta em uma ativação geral do metabolismo
corporal. Por isso uma pessoa pode sentir
sensações de calor e frio e, porque este
27
processo utiliza muita energia, depois a pessoa
se sente geralmente cansada e esgotada. 
Como já mencionado antes, a reação de
luta-e-fuga, prepara o corpo para a ação 
seja atacar ou fugir. Por isso, não é
surpreendente que os impulsos avassaladores
associados com esta reação sejam os de
agressão e de desejo de fugir. Quando estes
não são capazes de serem realizados (devidos à
coação social), os estímulos serão
freqüentemente expressos por comportamentos
como bater os pés, marcar passos ou insultar
pessoas. Isto é, os sentimentos produzidos são
como os de quem está preso e está precisando
fugir.
O efeito número um da reação de luta-e-
fuga é alertar o organismo para a possível
existência do perigo. Portanto, há uma
mudança automática e imediata na atenção
para pesquisar o ambiente em busca de
ameaças em potencial. Por isso, passa a ser
muito difícil concentrar-se em tarefas diárias
quando alguém está ansioso. Pessoas ansiosas
freqüentemente se queixam de ficarem
facilmente distraídas durante tarefas do dia-a-
dia; de não conseguirem se concentrar e de
terem problemas de memória. Às vezes uma
ameaça óbvia não pode ser encontrada.
Infelizmente, a maioria das pessoas não aceita
o fato de não encontrar uma explicação para
alguma coisa. Portanto, em muitos casos,
quando as pessoas não conseguem explicar
seus sentimentos, elas tendem a procurar em si
próprias. Em outras palavras, “se nada exterior
está me deixando ansioso, então deve haver
algo de errado comigo mesmo”. Neste caso, o
cérebro inventa uma explicação como “eu devo
estar morrendo, perdendo controle ou ficando
louco”. Como já vimos, nada poderia ser
menos verdadeiro, já que a função primordial
da reação de luta-e-fuga é a de proteger o
organismo, e não de prejudicá-lo. Por isso
mesmo, são pensamentos compreensíveis.
Até agora, nós observamos as reações e os
componentes da ansiedade em geral ou da
reação de luta-e-fuga. Contudo, você pode
estar se perguntando como tudo isto se aplica a
ataques de pânico. Afinal, por que a reação de
luta-e-fuga é ativada durante um ataque de
pânico, já que não há, aparentemente, nada a
temer? 
De acordo com uma grande quantidade de
pesquisas, parece que pessoas que
experimentam ataques de pânico têm medo
(i.é, o que causa o pânico) das próprias
sensações da reação de luta-e-fuga. Assim,
ataques de pânico podem ser vistos como uma
série de sintomas físicos inesperados e uma
reação de pânico ou de medo desses sintomas.
A segunda parte deste modelo é fácil de ser
compreendida. Como já visto antes, a reação
de luta-e-fuga (onde os sintomas físicos têm
um papel importante) levam ao cérebro a
procurar perigos. Quando o cérebro não
consegue encontrar nenhum perigo óbvio, ele
passa a procurar no interior da pessoa e inventa
um perigo como “estou morrendo, estou
perdendo controle, etc.”. Como as
interpretações dos sintomas físicos são
assustadoras, é compreensível o aparecimento
do medo e do pânico. Por sua vez, estes dois
sentimentos produzem mais sintomas físicos, e
por isso se introduz um ciclo de sintomas,medo, sintomas, medo e assim por diante. A
primeira parte do modelo é mais difícil de ser
compreendida: por que você experimenta os
sintomas físicos da reação de luta-e-fuga se
você não está com medo? Existem muitas
formas para que estes sintomas sejam
produzidos; não apenas através do medo. Por
exemplo, você está estressado e isto resulta em
um aumento da produção de adrenalina e
outras substâncias que, de tempo em tempo,
produzem estes sintomas. Este aumento na
produção de adrenalina pode ser quimicamente
mantido no organismo, mesmo depois do
desaparecimento do fator que gerava este
estresse. Outra possibilidade, é que você tende
a respirar um pouco mais rápido
(hiperventilação sutil) devido a um hábito já
aprendido, e isto também pode produzir estes
sintomas. Como a hiper-respiração é menos
intensa, você pode se acostumar com esta
forma de respiração, e não reparar que você
está hiper-ventilando. Uma terceira
possibilidade é que você esteja experimentando
mudanças naturais em seu corpo (o que todos
experimentam, mas nem todos as percebem) e,
justamente por estar constantemente
verificando e monitorando seu corpo, você
passa a reparar muito mais nestas sensações do
que outras pessoas. Além das duas outras
razões já descritas que produzem sintomas
físicos (estresse e hiper-respiração), você
também poderá se tornar consciente destes
sintomas físicos como resultado de um
28
processo denominado condicionamento
interoceptivo. Como os sintomas físicos
ficaram associados com o trauma do pânico,
eles se tornaram sinais significativos de perigos
e ameaças a você (isto é, eles se tornaram
estímulos condicionados). Como resultado, é
muito provável que você se torne altamente
sensível a estes sintomas e reaja com receio,
simplesmente devido à experiências passadas
de pânico com as quais elas foram associadas.
Como conseqüência deste tipo de associação
condicionada, é possível que sintomas
produzidos por atividades regulares sejam
também levadas ao ponto de uma crise de
pânico. 
Mesmo que não estejamos certos do fato do
por que alguém experimenta os sintomas
iniciais, assegure-se de que eles são uma parte
da reação de luta-e-fuga e por isso inofensivos
a qualquer pessoa.
Obviamente então, uma vez acreditando
convictamente (100%) que estas sensações
físicas não são perigosas, o medo e o pânico
desaparecerão e você não mais experimentará
ataques de pânico. É claro que, quando
diversos ataques já tenham sido
experimentados por você, e que você tenha
interpretado erradamente estes sintomas muitas
vezes, esta interpretação errada torna-se
bastante automática, e assim passa a ser muito
difícil de, conscientemente, convencer-se de
que estes sintomas são inofensivos.
Resumindo, a ansiedade é cientificamente
conhecida como a reação de luta-e-fuga, sendo
sua função primordial a de ativar o organismo e
de protegê-lo do perigo. Associadas à esta
reação, estão uma série de mudanças mentais,
físicas e comportamentais. É importante notar
que, uma vez o perigo tenha desaparecido,
muitas dessas mudanças (especialmente as
físicas) continuarão, praticamente com controle
autônomo sobre si próprias, devido ao
aprendizado e a outras mudanças corporais de
longo prazo. Quando os sintomas físicos
surgem na ausência de uma explicação óbvia,
as pessoas costumam interpretar erradamente
os sintomas de luta-e-fuga como indicativos de
sérios problemas mentais ou físicos. Neste
caso, as próprias sensações podem se tornar
ameaçadoras e, justamente por isso, podem
desencadear uma nova reação de luta-e-fuga.
Muitas pessoas, quando experimentam os
sintomas da reação de luta-e-fuga, acreditam
estar ficando loucas. Elas costumam mais
freqüentemente relacionar tais sintomas com
uma doença mental grave, conhecida como
esquizofrenia. Observemos um pouco a
esquizofrenia para compararmos o quão
freqüente isto ocorre.
Esquizofrenia é um transtorno grave
caracterizado por fortes sintomas como por
exemplo, fala e pensamento deslocados,
algumas vezes levando a balbucios, delírios ou
crenças estranhas (p.ex., que mensagens estão
sendo recebidas desde o espaço) e alucinações
(ouvir vozes falarem dentro da própria cabeça).
Também, a esquizofrenia parece ser em grande
parte um transtorno com base genética,
ocorrendo fortemente em famílias.
A esquizofrenia geralmente se inicia de
forma gradual e não de repente (como em um
ataque de pânico). Também, justamente porque
ocorre em famílias, apenas uma certa
proporção de pessoas tende a tornar-se
esquizofrênica, e ainda, em outras pessoas,
nenhuma quantidade de estresse causaria como
conseqüência o transtorno em questão. Um
terceiro ponto também muito importante, é que
pessoas esquizofrênicas exibem alguns dos
sintomas leves do transtorno por grande parte
de suas vidas (p.ex., pensamentos estranhos e
fala florida). Desta forma, se essas
características não tiverem sido ainda
percebidas em sua personalidade, a maior
probabilidade é de você não se tornar
esquizofrênico. Esta chance diminui mais ainda
se você já tem mais de 25 anos, já que a
esquizofrenia surge geralmente no final da
adolescência até os 20 anos. Finalmente, se
você já passou por entrevistas com um
psicólogo ou psiquiatra, você pode estar certo
de que eles saberiam imediatamente
diagnosticá-lo como esquizofrênico.
Algumas pessoas acreditam que vão “perder
o controle” quando entrarem em pânico.
Presumivelmente, elas acham que vão se
paralisar completamente e ficarão incapazes de
se mover, ou que não vão saber o que estão
fazendo e por isso vão sair disparados matando
pessoas, ou gritando obscenidades e se
envergonhando diante de outros. Por outro
lado, podem não saber o que possa acontecer,
mas podem também experimentar um
sentimento dominante de “catástrofe iminente”.
Considerando nossas discussões anteriores,
podemos agora saber de onde surge este
sentimento. Durante uma crise de ansiedade o
29
corpo está preparado para ação e neste
momento há um enorme desejo de fuga.
Contudo, a reação de luta-e-fuga não está
preparada e treinada a prejudicar terceiros (que
não sejam uma ameaça) e não produzirá
paralisia. Ao invés disso, toda a reação é
direcionada a afastar o organismo. Além disso,
nunca houve nenhum caso registrado de
alguém que tenha se descontrolado a tal ponto.
Mesmo que a reação de luta-e-fuga o faça
sentir-se um pouco confuso, irreal e distraído,
você ainda é capaz de pensar e funcionar
normalmente. Simplesmente pense sobre quão
freqüentemente as outras pessoas nem notam
que você está tendo um ataque de pânico.
Muitas pessoas têm receio do que lhes pode
acontecer como conseqüência a seus sintomas,
talvez devido a alguma crença de que seus
nervos podem se esgotarem e elas possam
talvez entrar em colapso. Como já discutido
anteriormente, a reação de luta-e-fuga é
produzida dominantemente por atividade no
sistema nervoso simpático, que é combatida
pelo sistema nervoso parassimpático. O sistema
parassimpático é, de certa forma, é uma
salvaguarda contra a possibilidade do sistema
simpático “danificar-se”. Os nervos não são
como fios elétricos e a ansiedade não é capaz
de danificá-los, prejudicá-los ou desgastá-los.
E a pior coisa que poderia acontecer durante
um ataque de pânico seria que a pessoa poderia
desmaiar, sendo que, se isso acontecesse, o
sistema nervoso simpático interromperia sua
atividade e a pessoa recuperaria seus sentidos

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