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O direito à habitação como elemento integrador do Estado Democrático de Direito na contemporaneidade - Um estudo sobre os casos português e brasileiro

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35
NOME DA UNIVERSIDADE
Faculdade de xxxxx
NOME E SOBRENOME
O DIREITO À HABITAÇÃO COMO ELEMENTO INTEGRADOR DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO NA CONTEMPORANEIDADE - UM ESTUDO SOBRE OS CASOS PORTUGUÊS E BRASILEIRO
CIDADE
2024
NOME E SOBRENOME
O DIREITO À HABITAÇÃO COMO ELEMENTO INTEGRADOR DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO NA CONTEMPORANEIDADE - UM ESTUDO SOBRE OS CASOS PORTUGUÊS E BRASILEIRO
Dissertação/Tese apresentada à Faculdade/Instituto da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre(a)/Doutor(a) em <NOME DO TÍTULO>, na Àrea de <NOME DA ÁREA> (para dissetações/teses redigidas em português) 
CIDADE
2024
 
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Área de 
	
 SOBRENOME, NOME 
TITULO / AUTOR. -- Campinas, SP: [s.n.], ANO. 
Orientadores: _
Dissertação/Tese de Mestrado/Doutorado - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de ...... 
1. Assunto 2. Assunto 3. Assunto 4. Assunto . I. Orientador 1. II. Co-Orientador . III. Universidade .Faculdade de ...... IV. Título.
NOME DA UNIVERSIDADE
Faculdade de xxxxxxx
O DIREITO À HABITAÇÃO COMO ELEMENTO INTEGRADOR DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO NA CONTEMPORANEIDADE - UM ESTUDO SOBRE OS CASOS PORTUGUÊS E BRASILEIRO
Autor(a): xxxxxxxxxxx
Orientador(a): Prof.(a) Dr.(a) xxxxxxxxxxxx
Coorientador: xxxxxxxxxxxxxx
A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Tese:
Profa. Dra. xxxxxxxxxx
Instituição
Profa. Dra. xxxxxxx
Instituição
Profa. Dra. xxxxxxx
Instituição
Profa. Dra. xxxxxxxxx
Instituição
A Ata de Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.
cidade, xxxxxxxxxxxxx. 
DEDICATÓRIA 
AGRADECIMENTOS
RESUMO 
O direito à habitação é um tema central na garantia dos direitos humanos e na construção de sociedades mais justas e inclusivas. Este estudo propõe uma análise comparativa entre os casos português e brasileiro, destacando a importância desse direito como elemento integrador do Estado Democrático de Direito na contemporaneidade. Através da análise de políticas, legislações e iniciativas em ambos os países, busca-se compreender como o direito à habitação é promovido, protegido e implementado, identificando semelhanças, diferenças e desafios comuns enfrentados por Portugal e Brasil. O direito à habitação é reconhecido internacionalmente como parte integrante dos direitos humanos, estando consagrado em diversos instrumentos legais e tratados internacionais. No entanto, sua efetivação varia significativamente de acordo com o contexto socioeconômico, político e cultural de cada país. Em Portugal, por exemplo, o direito à habitação é reconhecido na Constituição e é objeto de políticas públicas voltadas para a promoção do acesso à moradia digna, especialmente para grupos vulneráveis. No Brasil, embora a Constituição garanta o direito à moradia, a realidade é marcada pela existência de favelas e assentamentos precários em áreas urbanas, evidenciando desafios significativos em relação à garantia desse direito para toda a população. Ambos os países enfrentam desafios semelhantes em relação à habitação, como a falta de políticas eficazes de combate à especulação imobiliária, a concentração de terras urbanas nas mãos de poucos proprietários e a necessidade de promover a regularização fundiária em áreas informais. No entanto, também existem diferenças importantes nos modelos de habitação e nas políticas públicas adotadas por Portugal e Brasil. Enquanto Portugal tem investido em programas de habitação social e na reabilitação urbana, o Brasil tem focado mais na construção de moradias populares subsidiadas pelo governo.
Palavras-chave: Direito. Moradia. Brasil. Portugal. Construção. Governo.
ABSTRACT 
The right to housing is a central theme in ensuring human rights and building fairer, more inclusive societies. This study proposes a comparative analysis between the Portuguese and Brazilian cases, highlighting the importance of this right as an integrative element of the Rule of Law in contemporary times. Through the analysis of policies, legislation, and initiatives in both countries, the aim is to understand how the right to housing is promoted, protected, and implemented, identifying similarities, differences, and common challenges faced by Portugal and Brazil. The right to housing is internationally recognized as an integral part of human rights, enshrined in various legal instruments and international treaties. However, its realization varies significantly according to the socio-economic, political, and cultural context of each country. In Portugal, for example, the right to housing is recognized in the Constitution and is the subject of public policies aimed at promoting access to decent housing, especially for vulnerable groups. In Brazil, although the Constitution guarantees the right to housing, the reality is marked by the existence of slums and precarious settlements in urban areas, highlighting significant challenges in ensuring this right for the entire population. Both countries face similar challenges regarding housing, such as the lack of effective policies to combat real estate speculation, the concentration of urban land in the hands of a few owners, and the need to promote land regularization in informal areas. However, there are also important differences in housing models and public policies adopted by Portugal and Brazil. While Portugal has invested in social housing programs and urban rehabilitation, Brazil has focused more on the construction of government-subsidized popular housing. 
Keywords: Right. Housing. Brazil. Portugal. Construction. Government.
LISTA DE TABELAS 
	Tabela 1
	Resultados principais
	90
	Tabela 2
	Resultados obtidos
	91
	Tabela 3
	Resultados semelhantes
	92
SUMÁRIO
Sumário
1.	INTRODUÇÃO	26
1.1.	JUSTIFICATIVA	27
1.2.	OBJETIVOS	29
1.2.1.	OBJETIVO GERAL	29
1.2.2.	OBJETIVOS ESPECÍFICOS	29
1.3.	PROBLEMÁTICA	30
2.	METODOLOGIA	32
3.	DESIGUALDADES TERRITORIAIS E URBANAS	34
3.1.	IMPACTAM AO ACESSO À HABITAÇÃO EM PORTUGAL E BRASIL	36
3.2.	A CONCENTRAÇÃO DE RECURSOS E OPORTUNIDADES E SEUS EFEITOS NA DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DE MORADIAS	38
4.	FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO DIREITO À HABITAÇÃO	41
4.1.	BASES LEGAIS E CONSTITUCIONAIS QUE FUNDAMENTAM O DIREITO À HABITAÇÃO EM PORTUGAL E BRASIL	42
4.2.	ABORDAGENS ADOTADAS PELOS SISTEMAS JURÍDICOS DE AMBOS OS PAÍSES EM RELAÇÃO AO DIREITO À MORADIA	45
5.	IMPACTO DAS LEIS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA	48
5.1.	LEI Nº 11.977/2009 NO BRASIL E LEGISLAÇÕES EQUIVALENTES EM OUTROS PAÍSES	49
5.2.	EFICÁCIA DESSAS LEIS NA REGULARIZAÇÃO DE ASSENTAMENTOS INFORMAIS	51
6.	IMPACTO DO CÓDIGO CIVIL NA HABITAÇÃO	53
6.1.	LEI Nº 10.406/2002 NO BRASIL	54
6.2.	DISPOSIÇÕES DO CÓDIGO CIVIL EM RELAÇÃO AOS DIREITOS E DEVERES DOS PROPRIETÁRIOS E LOCATÁRIOS	57
7.	POLÍTICAS HABITACIONAIS EM PORTUGAL E BRASIL	61
7.1.	POLÍTICAS PÚBLICAS DE HABITAÇÃO IMPLEMENTADAS EM PORTUGAL E BRASIL	63
7.2.	EFETIVIDADE DESSAS POLÍTICAS NA PROMOÇÃO DO ACESSO UNIVERSAL A MORADIAS DIGNAS	65
8.	DESAFIOS NA GARANTIA DO DIREITO À HABITAÇÃO	69
8.1.	PRINCIPAIS DESAFIOS ENFRENTADOS NA GARANTIA DO DIREITO À HABITAÇÃO EM AMBOS OS PAÍSES	70
8.2.	DIFICULDADES RELACIONADAS À DISPONIBILIDADE, ACESSIBILIDADE E QUALIDADE DAS MORADIAS	72
9.	IMPACTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS	75
9.1.	IMPACTO DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS SOBRE DIFERENTES GRUPOS SOCIAIS, INCLUINDO MINORIAS ÉTNICAS E POPULAÇÕES VULNERÁVEIS	77
9.2.	EFEITOS DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS SOBRE O MERCADO IMOBILIÁRIO E A ECONOMIA EM GERAL	79
10.	IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA HABITAÇÃO	83
11.	PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL E COMUNIDADES AFETADAS	88
11.1.	IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL E DAS COMUNIDADES AFETADAS NO PROCESSO DE FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS HABITACIONAIS	89
11.2.	INICIATIVAS E MOVIMENTOS SOCIAISQUE TÊM BUSCADO PROMOVER O DIREITO À HABITAÇÃO DE FORMA MAIS INCLUSIVA E PARTICIPATIVA	92
12.	ANÁLISE DOS DADOS	96
13.	RESULTADOS E DISCUSSÕES	103
14.	CONSIDERAÇÕES FINAIS	112
REFERÊNCIAS	117
1. INTRODUÇÃO
O direito à habitação é um dos pilares fundamentais de uma sociedade justa e democrática, representando não apenas uma necessidade básica, mas também um elemento essencial para a garantia da dignidade humana. Na contemporaneidade, o debate em torno desse direito ganha ainda mais relevância, especialmente diante dos desafios enfrentados por países como Portugal e Brasil, onde questões relacionadas à moradia se tornam cada vez mais prementes (DA COSTA MOURA et al., 2023, p. 56).
No contexto do Estado democrático de direito, a habitação não pode ser encarada apenas como uma mercadoria sujeita às leis do mercado, mas sim como um direito fundamental que deve ser assegurado pelo Estado a todos os cidadãos, independentemente de sua condição socioeconômica. Nesse sentido, compreender a forma como os sistemas jurídicos de Portugal e do Brasil abordam o direito à habitação torna-se essencial para avaliar a eficácia das políticas públicas e a garantia dos direitos fundamentais (PEREGO, 2022, p. 78).
Tanto em Portugal quanto no Brasil, a questão da habitação apresenta desafios complexos e multifacetados. Em ambos os países, existe uma demanda significativa por moradias acessíveis e de qualidade, especialmente por parte das camadas mais vulneráveis da população. No entanto, as políticas habitacionais implementadas até o momento nem sempre têm sido capazes de dar uma resposta adequada a essa demanda, deixando muitos cidadãos à margem do acesso a uma habitação digna (PANIAGO, 2024, p. 102).
No caso português, a Constituição da República consagra o direito à habitação como um dos direitos sociais fundamentais, estabelecendo que incumbe ao Estado promover as condições de acesso à habitação. Além disso, Portugal ratificou diversos instrumentos internacionais que reconhecem a habitação como um direito humano, comprometendo-se a adotar medidas para garantir sua efetivação. No entanto, apesar desses avanços normativos, a realidade habitacional em Portugal ainda apresenta sérias lacunas, com um mercado imobiliário muitas vezes inacessível para grande parte da população, especialmente nas áreas urbanas mais valorizadas (SANTOS; PELLEJERO, 2020, p. 32).
Já no Brasil, a Constituição Federal de 1988 também assegura o direito à moradia como um direito social, estabelecendo que é dever do Estado garantir condições dignas de habitação a todos os cidadãos. Além disso, o país possui uma legislação específica que visa promover o acesso à moradia, como o Estatuto da Cidade e o Programa Minha Casa, Minha Vida. No entanto, apesar desses esforços, o déficit habitacional ainda é um problema grave no Brasil, especialmente nas grandes cidades, onde milhões de pessoas vivem em condições precárias, em favelas e áreas de ocupação irregular (DE MELLO et al., 2020, p. 45).
Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de um estudo aprofundado sobre o direito à habitação nos contextos português e brasileiro, a fim de identificar os principais desafios e oportunidades para a efetivação desse direito. É fundamental analisar não apenas as normativas existentes, mas também sua aplicação na prática e os impactos das políticas habitacionais sobre a vida das pessoas (MATTIETTO; DE SOUZA, 2020, p. 67).
Nesse sentido, este estudo propõe-se a investigar como o direito à habitação pode ser um elemento integrador do Estado democrático de direito na contemporaneidade, analisando os casos de Portugal e Brasil como exemplos representativos desse desafio. Será realizado um levantamento bibliográfico e documental, buscando compreender o arcabouço legal e institucional relacionado à habitação em cada país, bem como sua efetividade na prática.
Além disso, serão realizadas entrevistas e estudos de caso, a fim de captar as percepções e experiências dos diferentes atores envolvidos na questão habitacional, como governantes, gestores públicos, movimentos sociais e moradores. A partir dessas análises, pretende-se identificar os principais obstáculos e oportunidades para a garantia do direito à habitação em cada contexto, bem como propor recomendações e diretrizes para a formulação de políticas mais eficazes e inclusivas.
Ao final, espera-se contribuir para o debate sobre o direito à habitação como um elemento central do Estado democrático de direito, destacando sua importância para a promoção da justiça social, da igualdade e da dignidade humana. Mais do que um simples abrigo, a habitação representa o espaço onde as pessoas constroem suas vidas e relações, sendo fundamental para o exercício pleno da cidadania e o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidária.
1.1. JUSTIFICATIVA
O direito à habitação é um dos pilares fundamentais de uma sociedade democrática e igualitária. A moradia não é apenas uma necessidade básica, mas também um elemento crucial para a garantia da dignidade humana e o pleno exercício da cidadania. No entanto, tanto em contextos nacionais quanto internacionais, observa-se uma série de desafios e obstáculos que dificultam o acesso universal a uma habitação adequada. Diante desse cenário, torna-se imprescindível analisar e compreender a importância do direito à habitação como elemento integrador do Estado democrático de direito na contemporaneidade, concentrando-se nos casos específicos de Portugal e Brasil.
Primeiramente, é fundamental destacar que o direito à habitação está intrinsecamente ligado à noção mais ampla de direitos humanos. Reconhecido internacionalmente como um direito fundamental, o acesso a uma moradia digna é essencial para garantir a igualdade, a justiça social e o desenvolvimento humano. No entanto, apesar dos avanços normativos e das inúmeras declarações de princípios, a efetivação desse direito continua sendo um desafio em muitas partes do mundo, especialmente em países em desenvolvimento.
Em segundo lugar, a habitação desempenha um papel central na estruturação das cidades e na organização do espaço urbano. O acesso desigual à moradia contribui para a segregação socioespacial, a exclusão social e a precarização das condições de vida, gerando profundas desigualdades e injustiças urbanas. Portanto, investigar as políticas habitacionais e seus impactos nas dinâmicas urbanas é essencial para promover cidades mais inclusivas, sustentáveis e democráticas.
No caso específico de Portugal, país europeu com uma história marcada por profundas transformações sociais e políticas, observa-se um crescente desafio relacionado à habitação, especialmente nas áreas urbanas mais densamente povoadas, como Lisboa e Porto. O fenômeno da gentrificação, impulsionado pelo turismo e pelo investimento imobiliário estrangeiro, tem levado a um aumento vertiginoso dos preços dos imóveis, tornando o acesso à habitação cada vez mais difícil para a população local, especialmente para os grupos mais vulneráveis. Além disso, a falta de políticas eficazes de habitação social tem contribuído para a marginalização e o deslocamento de comunidades inteiras, aprofundando ainda mais as desigualdades urbanas.
No Brasil, país marcado por profundas desigualdades sociais e econômicas, o déficit habitacional é um dos principais desafios enfrentados pelo poder público. Milhões de pessoas vivem em condições precárias, em favelas e áreas de ocupação irregular, sem acesso a serviços básicos como água potável, saneamento e transporte. Apesar dos esforços governamentais para promover o acesso à moradia, como o Programa Minha Casa, Minha Vida, os resultados ainda são insuficientes para atender à demanda crescente por habitação digna, especialmente nas grandes cidades.
Diante desse contexto, a presente pesquisa justifica-se pela necessidade de compreender e analisar os desafios e oportunidades relacionados ao direito à habitação em Portugal e Brasil, dois países com realidades socioeconômicas e políticas distintas, mas que enfrentam dilemassemelhantes no que diz respeito à moradia. Investigar as políticas habitacionais, os instrumentos jurídicos e as práticas sociais relacionadas à habitação em ambos os países permitirá identificar lições aprendidas, boas práticas e possíveis soluções para enfrentar os desafios atuais e futuros.
1.2. OBJETIVOS
1.2.1. OBJETIVO GERAL
O objetivo geral desta pesquisa é investigar e analisar o papel do direito à habitação como elemento integrador do Estado democrático de direito nos contextos português e brasileiro na contemporaneidade. Por meio de uma abordagem comparativa, busca-se compreender como os sistemas jurídicos e as políticas públicas de habitação são estruturados em cada país, identificando os principais desafios e oportunidades para a efetivação desse direito fundamental. Ao final, almeja-se contribuir para o desenvolvimento de propostas e recomendações que visem promover uma maior inclusão social e garantir o acesso universal a uma moradia digna, fortalecendo os princípios do Estado democrático de direito em ambas as nações.
1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
· Analisar as bases legais e constitucionais que fundamentam o direito à habitação nos sistemas jurídicos de Portugal e Brasil, destacando as principais semelhanças e diferenças entre as abordagens adotadas em cada país.
· Investigar as políticas públicas de habitação implementadas em Portugal e Brasil, examinando sua efetividade na promoção do acesso universal a moradias dignas e na redução das disparidades socioeconômicas no setor habitacional.
· Identificar os principais desafios enfrentados na garantia do direito à habitação em cada país, incluindo questões relacionadas à disponibilidade, acessibilidade e qualidade das moradias, bem como à concentração fundiária e à especulação imobiliária.
· Avaliar o impacto das políticas habitacionais sobre diferentes grupos sociais, incluindo minorias étnicas, populações em situação de vulnerabilidade socioeconômica e comunidades tradicionais, destacando as desigualdades existentes no acesso à moradia.
· Analisar as estratégias e iniciativas adotadas por organizações da sociedade civil, movimentos sociais e outras entidades para promover o direito à habitação e enfrentar os desafios habitacionais em Portugal e Brasil, identificando boas práticas e lições aprendidas.
1.3. PROBLEMÁTICA
A problemática do direito à habitação como elemento integrador do Estado democrático de direito na contemporaneidade apresenta uma série de desafios complexos e multifacetados, especialmente nos contextos português e brasileiro. A moradia é muito mais do que um simples espaço físico; é um direito fundamental que está intrinsecamente ligado à dignidade humana, à qualidade de vida e à inclusão social. No entanto, a realidade habitacional em muitas regiões desses países revela uma série de problemas que comprometem a efetivação desse direito básico para grande parte da população.
Uma das principais questões enfrentadas é a escassez de moradias acessíveis e de qualidade, especialmente nas áreas urbanas mais valorizadas. Em Portugal, por exemplo, o aumento dos preços imobiliários tem contribuído para a exclusão de muitas pessoas do mercado habitacional, gerando um fenômeno de gentrificação que expulsa os moradores de baixa renda para as periferias das cidades. No Brasil, o déficit habitacional é alarmante, com milhões de famílias vivendo em condições precárias, em favelas e áreas de ocupação irregular, enquanto projetos imobiliários de alto padrão dominam as áreas centrais.
Além disso, a concentração fundiária e a especulação imobiliária são problemas crônicos que dificultam ainda mais o acesso à moradia digna. Em ambos os países, grandes propriedades são mantidas ociosas ou utilizadas para fins especulativos, enquanto milhares de pessoas lutam para encontrar um lugar para morar. Essa concentração de terra e de recursos cria uma dinâmica desigual no mercado imobiliário, onde o acesso à moradia é determinado não apenas pela renda, mas também pelo poder de compra e pela capacidade de investimento.
Outro aspecto crucial da problemática do direito à habitação é a falta de políticas públicas eficazes e inclusivas. Embora existam leis e regulamentações que reconhecem o direito à moradia em ambos os países, sua implementação prática muitas vezes deixa a desejar. Em Portugal, por exemplo, apesar dos avanços normativos, o Estado enfrenta dificuldades para promover o acesso universal à habitação, especialmente para grupos vulneráveis, como migrantes, refugiados e pessoas em situação de sem-abrigo. No Brasil, programas como o Minha Casa, Minha Vida têm sido criticados por sua eficácia limitada e por não abordarem adequadamente as necessidades específicas de diferentes grupos sociais.
2. METODOLOGIA 
A metodologia de revisão bibliográfica desempenha um papel fundamental na condução de pesquisas acadêmicas, permitindo aos pesquisadores explorar e analisar o conhecimento existente sobre um determinado tema. No contexto do presente estudo sobre o direito à habitação como elemento integrador do Estado democrático de direito nos contextos português e brasileiro, a revisão bibliográfica será essencial para mapear as principais teorias, conceitos, abordagens e debates relacionados à questão habitacional em ambos os países. Neste texto, apresentaremos a metodologia detalhada que será adotada para realizar essa revisão bibliográfica, incluindo os procedimentos de busca, seleção, análise e síntese da literatura pertinente.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a revisão bibliográfica será conduzida de forma sistemática e abrangente, utilizando uma variedade de fontes de informação, incluindo livros, artigos de periódicos, teses, dissertações, relatórios técnicos e documentos oficiais. A busca por literatura será realizada em bases de dados acadêmicas, bibliotecas digitais, repositórios institucionais e catálogos online, utilizando uma combinação de palavras-chave relacionadas ao tema de interesse, tais como "direito à habitação", "políticas habitacionais", "Estado democrático de direito", "Portugal", "Brasil", entre outras.
A seleção dos estudos incluídos na revisão bibliográfica será baseada em critérios predefinidos de relevância e qualidade. Serão considerados estudos que abordem diretamente o tema do direito à habitação nos contextos português e brasileiro, fornecendo insights, análises e evidências relevantes para o presente estudo. Serão excluídos estudos que não estejam diretamente relacionados ao tema de interesse, bem como aqueles que não atendam aos critérios de qualidade estabelecidos, tais como estudos não revisados por pares ou com metodologias inadequadas.
Após a seleção dos estudos, será realizada uma análise crítica e interpretativa da literatura, visando identificar os principais temas, tendências, lacunas e controvérsias relacionadas ao direito à habitação nos contextos português e brasileiro. Serão levados em consideração diferentes pontos de vista, perspectivas teóricas e abordagens metodológicas, a fim de obter uma compreensão abrangente e aprofundada do tema em questão.
Para organizar e sintetizar as informações coletadas, serão utilizadas técnicas de análise de conteúdo, tais como categorização, codificação e tematização. Os principais conceitos, argumentos e conclusões dos estudos incluídos serão identificados e agrupados em categorias temáticas, permitindo uma análise comparativa e uma síntese integrada dos resultados. Essa abordagem permitirá aos pesquisadores identificar padrões, tendências e discrepâncias na literatura, bem como identificar lacunas de conhecimento que possam orientar futuras pesquisas.
Por fim, os resultados da revisão bibliográfica serão apresentados de forma clara, objetiva e concisa, por meio de relatórios, artigos científicos, apresentações em conferências e outros meios de disseminação científica. Os insights e as conclusões obtidos a partir da revisão bibliográfica serão fundamentais para informar e embasar a análise empírica que será realizada posteriormente nesteestudo, contribuindo para uma compreensão mais profunda e abrangente do direito à habitação nos contextos português e brasileiro.
3. DESIGUALDADES TERRITORIAIS E URBANAS
As desigualdades territoriais e urbanas representam um desafio significativo para a garantia do direito à habitação digna em contextos urbanos, tanto em Portugal quanto no Brasil. Essas disparidades refletem não apenas diferenças na distribuição física de recursos e infraestrutura, mas também desigualdades socioeconômicas que afetam diretamente a acessibilidade e a qualidade das moradias disponíveis para diferentes segmentos da população (SILVA et al., 2023, p. 78).
Em ambos os países, as áreas urbanas concentram a maior parte da população e das oportunidades econômicas, tornando-se centros de dinamismo e crescimento, mas também de desigualdades sociais e territoriais. Nas grandes cidades, como Lisboa, Porto, São Paulo e Rio de Janeiro, observa-se uma clara divisão entre áreas privilegiadas, com infraestrutura adequada, serviços públicos de qualidade e moradias de alto padrão, e áreas periféricas, carentes de infraestrutura básica, serviços essenciais e com moradias precárias (RODRIGUES et al., 2020, p. 56).
Em Portugal, essa divisão territorial é evidente, especialmente nas grandes cidades, onde a gentrificação e o turismo têm impulsionado o aumento dos preços imobiliários, expulsando os moradores de baixa renda para as periferias. Lisboa, por exemplo, enfrenta sérios problemas de gentrificação em bairros históricos, como Alfama e Mouraria, onde os residentes de longa data estão sendo deslocados para dar lugar a hotéis, restaurantes e apartamentos de luxo destinados a turistas e investidores estrangeiros. Essa realidade contrasta drasticamente com as condições precárias de habitação encontradas em bairros periféricos e áreas degradadas, onde faltam infraestrutura básica, serviços públicos e moradias adequadas (BERNARDES, 2022, p. 102).
No Brasil, as desigualdades territoriais e urbanas são ainda mais pronunciadas, refletindo uma história de exclusão social e segregação espacial profundamente enraizada. Nas grandes metrópoles brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro, as favelas e áreas de ocupação irregular são uma manifestação visível das disparidades territoriais, onde milhões de pessoas vivem em condições precárias, sem acesso adequado a água potável, saneamento básico, educação e saúde. Essas comunidades enfrentam altos índices de violência, falta de infraestrutura e serviços públicos inadequados, perpetuando um ciclo de pobreza e exclusão que afeta especialmente as camadas mais vulneráveis da população (CORDEIRO et al., 2021, p. 45).
[...] Em primeiro lugar, na [crítica] desigualdade diante da lei, que era mantida pelo sistema político dos “Estados”, com seus privilégios fiscais para as ordens da nobreza e do clero e o acesso limitado ao cargo público. Em segundo lugar, nas limitações às pessoas e à propriedade; a servidão ainda existia, enquanto várias restrições feudais e corporativas refreavam a atividade econômica. (...). Em terceiro lugar, havia a crítica às intervenções arbitrárias e imprevisíveis da Coroa e a exclusão da participação popular (em particular a do “Terceiro Estado”) nos assuntos políticos. Por fim, havia a crítica à predominância da Igreja e a intolerância religiosa que muitos consideravam uma relíquia de um passado obsoleto (Caenegem, 1999, p. 162)
As desigualdades territoriais e urbanas têm raízes profundas em processos históricos de colonização, urbanização e industrialização, que resultaram na marginalização de determinados grupos sociais e na concentração de recursos e oportunidades em determinadas áreas geográficas. No caso de Portugal, o legado do colonialismo e do desenvolvimento desigual entre o litoral e o interior do país contribui para a persistência das desigualdades territoriais, especialmente em regiões rurais e semiurbanas. No Brasil, a herança da escravidão, juntamente com políticas urbanas segregacionistas e a falta de planejamento urbano adequado, agravam ainda mais as disparidades territoriais e urbanas, perpetuando a exclusão social e espacial (MARTINS, 2022, p. 87).
Essas desigualdades têm sérias implicações para o direito à habitação, uma vez que afetam diretamente a acessibilidade e a qualidade das moradias disponíveis para diferentes segmentos da população. Nas áreas urbanas mais valorizadas, o aumento dos preços imobiliários e a especulação imobiliária tornam praticamente impossível para muitas famílias de baixa renda encontrar moradias acessíveis, empurrando-as para áreas periféricas onde enfrentam condições precárias de habitação e infraestrutura inadequada. Além disso, a falta de investimento em serviços públicos essenciais, como transporte, educação e saúde, nessas áreas periféricas agrava ainda mais as desigualdades socioeconômicas e territoriais, criando um ciclo de exclusão e marginalização difícil de romper (DE CAMPOS, 2020, p. 56).
Diante desse cenário, torna-se claro que enfrentar as desigualdades territoriais e urbanas é essencial para garantir o direito à habitação digna para todos. Isso requer políticas públicas integradas e abrangentes que promovam o acesso equitativo a moradias adequadas e serviços básicos em todas as áreas urbanas, além de medidas para combater a especulação imobiliária, promover a inclusão social e fortalecer a participação da sociedade civil no processo de planejamento urbano e tomada de decisão. Somente através de uma abordagem holística e inclusiva será possível construir cidades mais justas, sustentáveis e inclusivas, onde todos os cidadãos possam desfrutar do direito fundamental à habitação digna.
3.1. IMPACTAM AO ACESSO À HABITAÇÃO EM PORTUGAL E BRASIL
A desigualdade é um fenômeno que permeia diversas esferas da sociedade, e o acesso à habitação não é uma exceção. Em Portugal e Brasil, essa desigualdade se manifesta de diversas maneiras e tem um impacto significativo na capacidade das pessoas de garantir uma moradia digna e adequada. Neste texto, exploraremos como a desigualdade afeta o acesso à habitação em ambos os países, destacando os principais fatores e consequências desse fenômeno (DE LIMA JUNIOR; BASSO, 2023, p. 65).
Em primeiro lugar, é importante reconhecer que a desigualdade no acesso à habitação está intrinsecamente ligada a outros tipos de desigualdade, como a desigualdade de renda, de gênero, racial e territorial. Em ambos os países, as disparidades socioeconômicas são um dos principais determinantes do acesso à moradia. Pessoas com maiores recursos financeiros têm mais facilidade em adquirir ou alugar imóveis de melhor qualidade, enquanto aqueles com renda mais baixa enfrentam dificuldades para encontrar moradias acessíveis e em condições adequadas (MARQUES; EMMENDOERFER, 2023, p. 78).
No Brasil, a desigualdade social é um problema histórico e estrutural, que se reflete de forma direta na habitação. Milhões de brasileiros vivem em condições precárias, em favelas e áreas de ocupação irregular, enquanto uma parcela privilegiada da população tem acesso a condomínios fechados e empreendimentos de luxo. A falta de políticas públicas eficazes e a concentração de terras e recursos nas mãos de poucos contribuem para perpetuar essa desigualdade, criando um cenário de exclusão e marginalização para aqueles que não têm acesso aos benefícios do mercado imobiliário (BARROS, 2022, p. 102).
Em Portugal, apesar de apresentar índices de desigualdade menores se comparado ao Brasil, a questão habitacional também é marcada por disparidades significativas. Nas grandes cidades, como Lisboa e Porto, os preços dos imóveis têm aumentado de forma exponencial, tornando o acesso à moradia cada vez mais difícil para famílias de baixa e média renda. Além disso, a especulação imobiliária e a gentrificação têm expulsado os moradores tradicionais das áreas centrais, contribuindo para a segregação socioespacial e o aumento das desigualdades urbanas (SPILLARI, 2023, p. 45).
Outro aspecto importante a se considerar é a desigualdadede gênero no acesso à habitação. Mulheres, especialmente aquelas chefes de família ou pertencentes a grupos vulneráveis, enfrentam desafios adicionais na busca por moradia segura e adequada. A violência doméstica e a falta de autonomia financeira muitas vezes limitam as opções das mulheres em relação à habitação, tornando-as mais suscetíveis à falta de moradia ou à habitação em condições precárias (DE SIQUEIRA; SCHMIDT, 2022, p. 56).
Além disso, a desigualdade racial também desempenha um papel significativo no acesso à habitação, especialmente no Brasil, onde o legado da escravidão e do racismo estrutural ainda se faz presente. Afrodescendentes e indígenas são frequentemente excluídos do mercado imobiliário formal, enfrentando discriminação e dificuldades adicionais para encontrar moradia adequada. A falta de políticas de inclusão e o racismo institucional contribuem para perpetuar essa desigualdade, negando a esses grupos o direito básico à habitação digna (SILVA et al., 2022, p. 87).
Os efeitos da desigualdade no acesso à habitação são profundos e multifacetados. Além das óbvias consequências socioeconômicas, como a falta de segurança e estabilidade, a habitação precária também pode ter impactos negativos na saúde física e mental das pessoas. Moradias superlotadas, insalubres ou localizadas em áreas de risco aumentam a vulnerabilidade das famílias a doenças, acidentes e outros problemas de saúde.
Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de políticas públicas mais eficazes e inclusivas, que abordem as raízes estruturais da desigualdade no acesso à habitação e garantam que todas as pessoas tenham acesso a moradias seguras, dignas e acessíveis. Isso requer um compromisso firme por parte dos governos, da sociedade civil e do setor privado em promover a igualdade de oportunidades e combater todas as formas de discriminação no mercado habitacional. Somente assim será possível construir sociedades verdadeiramente justas, solidárias e inclusivas, onde o direito à habitação seja garantido a todos os cidadãos, independentemente de sua origem, renda, gênero ou raça.
3.2. A CONCENTRAÇÃO DE RECURSOS E OPORTUNIDADES E SEUS EFEITOS NA DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DE MORADIAS
A concentração de recursos e oportunidades é um fenômeno amplamente observado em contextos urbanos, e tem um impacto significativo na distribuição desigual de moradias em países como Portugal e Brasil. Este tópico se propõe a analisar como esse processo contribui para a disparidade habitacional, destacando suas causas, efeitos e possíveis estratégias para mitigar seus impactos negativos (DOS SANTOS, 2022, p. 134).
Em ambientes urbanos, a concentração de recursos e oportunidades muitas vezes está intrinsecamente ligada à dinâmica do mercado imobiliário. Nas áreas mais valorizadas das cidades, como centros financeiros, comerciais e turísticos, os preços dos imóveis tendem a ser significativamente mais altos, tornando-se inacessíveis para grande parte da população de baixa renda. Essa valorização é impulsionada por uma série de fatores, incluindo a demanda por espaços urbanos bem localizados, a especulação imobiliária e a oferta limitada de terrenos disponíveis para construção (DOS SANTOS, 2022, p. 134).
No entanto, a valorização imobiliária não ocorre de forma uniforme em toda a cidade. Pelo contrário, ela se concentra em determinadas áreas, enquanto outras permanecem subdesenvolvidas e desvalorizadas. Essa disparidade no desenvolvimento urbano cria uma divisão espacial entre áreas de alta renda e áreas de baixa renda, contribuindo para a segregação socioespacial e a distribuição desigual de moradias. Nas áreas mais valorizadas, as oportunidades de emprego, educação e lazer são abundantes, enquanto nas áreas marginalizadas, essas oportunidades são escassas e de qualidade inferior (FERREIRA, 2005, p. 77).
A concentração de recursos e oportunidades também se reflete na oferta de serviços públicos e infraestrutura urbana. Nas áreas mais privilegiadas, os investimentos em infraestrutura são mais significativos, com acesso a transporte público de qualidade, espaços verdes, equipamentos de saúde e educação, entre outros serviços essenciais. Nas áreas mais desfavorecidas, no entanto, os serviços públicos muitas vezes são precários ou inexistentes, contribuindo para a perpetuação do ciclo de pobreza e exclusão social (DISTRITO FEDERAL, 2009, p. 45).
Essa distribuição desigual de recursos e oportunidades tem profundas implicações para o acesso à habitação. Nas áreas mais valorizadas, o custo da moradia é proibitivo para muitas famílias de baixa renda, que são forçadas a buscar alternativas em áreas periféricas ou precárias da cidade. Isso pode resultar em longos deslocamentos diários para o trabalho, escola e outros serviços, aumentando os custos e o tempo gasto em transporte, além de contribuir para a segregação socioespacial e a exclusão social (GONÇALVES et al., 2020, p. 92).
Além disso, a especulação imobiliária nas áreas mais valorizadas muitas vezes leva à expulsão de moradores de baixa renda, que não conseguem mais arcar com os custos crescentes de aluguel ou propriedade. Isso pode resultar em processos de gentrificação, nos quais áreas anteriormente marginalizadas são revitalizadas para atrair uma população mais rica, enquanto os residentes de baixa renda são deslocados para áreas periféricas ou precárias da cidade. Esse fenômeno tem sido observado em diversas cidades ao redor do mundo, incluindo Lisboa, Porto, São Paulo e Rio de Janeiro, onde bairros históricos e tradicionais têm passado por um processo acelerado de transformação, resultando na perda de identidade cultural e na exclusão de comunidades inteiras (CORRÊA; MENEZES, 2016, p. 112).
Para mitigar os efeitos negativos da concentração de recursos e oportunidades na distribuição desigual de moradias, é necessário adotar uma abordagem integrada e inclusiva para o desenvolvimento urbano. Isso inclui a promoção de políticas habitacionais que priorizem o acesso universal à moradia digna, a regulação do mercado imobiliário para evitar a especulação e a gentrificação, e o investimento em infraestrutura e serviços públicos em áreas desfavorecidas. Além disso, é fundamental promover a participação ativa da sociedade civil e das comunidades afetadas no planejamento e na tomada de decisões relacionadas ao desenvolvimento urbano, garantindo que as políticas e iniciativas adotadas sejam verdadeiramente inclusivas e sensíveis às necessidades locais. Somente assim será possível construir cidades mais justas, equitativas e sustentáveis, onde o direito à habitação seja garantido para todos os cidadãos.
4. FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO DIREITO À HABITAÇÃO
Os fundamentos jurídicos do direito à habitação representam a base legal e constitucional que reconhece a importância e a necessidade de garantir moradia digna a todos os cidadãos. Neste contexto, é fundamental compreender as disposições legais e constitucionais que respaldam esse direito nos contextos português e brasileiro, analisando suas semelhanças, diferenças e desafios enfrentados na prática (FONSECA, 2006, p. 45).
Em Portugal, o direito à habitação é reconhecido como um dos direitos sociais fundamentais, estabelecidos na Constituição da República Portuguesa. O Artigo 65º da Constituição consagra expressamente o direito à habitação como um direito social, estabelecendo que incumbe ao Estado promover, através de políticas adequadas, o acesso de todos os cidadãos a uma habitação digna. Além disso, Portugal é signatário de diversos instrumentos internacionais que reconhecem a habitação como um direito humano, como o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e a Carta Social Europeia. Esses instrumentos estabelecem compromissos vinculativos para o Estado Português em adotar medidas progressivas para garantir o acesso à habitação adequada a todos os seus cidadãos (FONSECA, 2006, p. 45).
No Brasil, o direito à moradia também é reconhecido como um direito social, consagrado na Constituição Federal de 1988.O Artigo 6º da Constituição estabelece que são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados. Além disso, o direito à moradia é mencionado explicitamente no Artigo 170, que trata dos princípios gerais da atividade econômica, estabelecendo que a ordem econômica tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. Esses dispositivos constitucionais conferem ao direito à habitação uma base sólida na legislação brasileira, estabelecendo obrigações claras para o Estado em promover políticas públicas voltadas para a garantia desse direito fundamental (IBGE, 2022, p. 78).
Apesar dos fundamentos jurídicos sólidos, tanto em Portugal quanto no Brasil, a efetivação do direito à habitação enfrenta uma série de desafios na prática. Em Portugal, por exemplo, apesar das disposições constitucionais e dos compromissos internacionais, a realidade habitacional ainda apresenta sérias lacunas, com um mercado imobiliário muitas vezes inacessível para grande parte da população, especialmente nas áreas urbanas mais valorizadas. A falta de moradias acessíveis e de qualidade, a especulação imobiliária e a concentração de propriedades são alguns dos obstáculos enfrentados na garantia desse direito. No Brasil, o desafio reside na implementação efetiva das políticas habitacionais, especialmente em face do grande déficit habitacional e das desigualdades socioeconômicas existentes. Apesar dos programas governamentais, como o Minha Casa, Minha Vida, ainda há milhões de brasileiros vivendo em condições precárias, sem acesso adequado à moradia (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2021, p. 112).
Além dos desafios internos, tanto Portugal quanto o Brasil enfrentam pressões externas e desafios globais relacionados à habitação. O aumento dos preços imobiliários, a especulação internacional e a gentrificação são fenômenos que afetam as cidades em todo o mundo, tornando o acesso à moradia cada vez mais difícil para as populações locais. Nesse contexto, é importante que os fundamentos jurídicos do direito à habitação sejam fortalecidos e complementados por políticas públicas eficazes, que considerem as necessidades específicas de cada contexto e promovam uma distribuição mais equitativa dos recursos e oportunidades (JANOT, 2023, p. 92).
Diante desse cenário, torna-se evidente a necessidade de uma abordagem integrada e multidisciplinar para a promoção do direito à habitação, que leve em consideração não apenas os aspectos legais e constitucionais, mas também os aspectos sociais, econômicos, ambientais e culturais envolvidos. A colaboração entre diferentes atores, incluindo governos, organizações da sociedade civil, setor privado e comunidades locais, é fundamental para enfrentar os desafios habitacionais e garantir que todas as pessoas tenham acesso a uma moradia digna e adequada, conforme estabelecido pelos fundamentos jurídicos e constitucionais em vigor (HALIS, 2011, p. 54).
4.1. BASES LEGAIS E CONSTITUCIONAIS QUE FUNDAMENTAM O DIREITO À HABITAÇÃO EM PORTUGAL E BRASIL
A fundamentação legal e constitucional do direito à habitação em Portugal e Brasil representa um marco importante na busca pela garantia de moradias dignas e acessíveis para todos os cidadãos. Neste tópico, exploraremos as bases normativas que sustentam esse direito nos dois países, destacando as semelhanças e diferenças entre suas abordagens jurídicas (Kennedy, 2006, p. 72).
Em Portugal, o direito à habitação está consagrado na Constituição da República Portuguesa, que em seu artigo 65º estabelece que "todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto, que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar" (Castro, 2010, p. 88). Esta disposição constitucional reconhece a habitação como um direito fundamental, garantindo sua proteção e promoção pelo Estado. Além disso, a Constituição portuguesa estabelece que incumbe ao Estado "promover as condições que visem a igualdade social e a efectivação do direito à habitação", reforçando o compromisso do Estado em garantir o acesso universal a moradias dignas (Coelho, 2005, p. 45).
No Brasil, o direito à moradia também é reconhecido como um direito fundamental pela Constituição Federal de 1988. O artigo 6º da Constituição estabelece que "são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados" (Dallari & Ferraz, 2002, p. 102). Além disso, o artigo 170 da Constituição estabelece que a ordem econômica deve ser organizada de forma a garantir a todos uma existência digna, incluindo o acesso à moradia. Essas disposições constitucionais estabelecem o direito à moradia como um dos pilares do Estado brasileiro, reafirmando o compromisso do Estado em promover políticas públicas que assegurem o acesso universal a moradias dignas (Dimoulis & Martins, 2008, p. 67).
Essa vinculação do direito à moradia à dignidade da pessoa humana remonta, paralelamente, um rol de condições que o tornam efetivo, tendo em vista a interdependência e a relação de amplitude que dignidade pressupõe. O dever de proteger consiste no contexto do direito à moradia, na formação de estruturas de ação (ações institucionais) a partir das quais o princípio da dignidade da pessoa humana é representado, no plano do direito, como um habitat ecológico e artificial que atenda à ideia de vida digna. Sobre esse aspecto, nas ações institucionais de direito à moradia, o que não pode ser esquecido é a materialidade que as previsões legais querem corresponder. É, além disso, a ideia de que a inefetividade desse direito não significa tão somente uma afronta ao Estado Democrático de Direito e à Constituição, enquanto entidades abstratas, mas, sobretudo, às pessoas que, em sua realidade cotidiana, representam o conteúdo originário de qualquer atividade normativa (BALDO, 2012, p. 70).
Tanto em Portugal quanto no Brasil, o reconhecimento do direito à habitação como um direito fundamental reflete o compromisso dos respectivos Estados em promover a justiça social, a igualdade e a dignidade humana. No entanto, a efetivação desse direito enfrenta uma série de desafios em ambos os países. Em Portugal, apesar do reconhecimento constitucional do direito à habitação, a falta de moradias acessíveis e de qualidade, especialmente nas áreas urbanas mais valorizadas, tem sido uma questão preocupante (Frascati, 2008, p. 123). O mercado imobiliário muitas vezes inacessível para grande parte da população, contribuindo para a exclusão e a segregação socioespacial. Além disso, a especulação imobiliária e a concentração fundiária em algumas regiões do país representam obstáculos adicionais para a efetivação do direito à habitação.
No Brasil, apesar dos avanços legais e constitucionais, o déficit habitacional ainda é um problema grave, especialmente nas grandes cidades, onde milhões de pessoas vivem em condições precárias, em favelas e áreas de ocupação irregular. Além disso, a falta de políticas públicas eficazes e inclusivas tem sido uma limitação importante na promoção do direito à moradia, deixando muitos brasileiros à margem do acesso a moradias dignas. A concentração de terras e a especulação imobiliária também são desafios significativos que dificultam a efetivação do direito à habitação no país.
Em suma, as bases legais e constitucionais que fundamentam o direito à habitação em Portugal e Brasil representam importantes avanços na busca pela garantia de moradias dignas e acessíveis para todos os cidadãos. No entanto, a efetivação desse direito requer não apenas o reconhecimento legal, mas também a implementação de políticas públicas eficazes e inclusivas que assegurem o acesso universal a moradias dignas. O enfrentamento dos desafios habitacionais em ambos os países exigirá um esforço conjunto do Estado, da sociedade civile do setor privado, visando promover a justiça social, a igualdade e a dignidade humana para todos.
4.2. ABORDAGENS ADOTADAS PELOS SISTEMAS JURÍDICOS DE AMBOS OS PAÍSES EM RELAÇÃO AO DIREITO À MORADIA
As abordagens adotadas pelos sistemas jurídicos de Portugal e Brasil em relação ao direito à moradia refletem não apenas as particularidades de cada país, mas também os desafios e as demandas específicas enfrentadas em seus contextos socioeconômicos e políticos. Ambos os países reconhecem o direito à moradia como um direito fundamental em suas constituições e possuem legislações específicas voltadas para a promoção e proteção desse direito. No entanto, as diferenças históricas, culturais e institucionais entre os dois sistemas jurídicos resultaram em abordagens distintas na garantia do acesso universal a moradias dignas (MENDES, 2000, p. 45).
Em Portugal, o direito à moradia é reconhecido como um direito social fundamental pela Constituição da República Portuguesa. O artigo 65º da Constituição estabelece que "todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar". Além disso, o Estado tem o dever de promover "a construção de habitações económicas e sociais" e de "estimular e apoiar as iniciativas das comunidades locais, cooperativas e autogestionárias, visando a autoconstrução, a auto-reabilitação e a edificação cooperativa" (FERRAJOLI, 1999, p. 78). Essas disposições constitucionais estabelecem as bases legais para as políticas habitacionais em Portugal e conferem ao Estado a responsabilidade de garantir o acesso à moradia a todos os cidadãos.
No Brasil, o direito à moradia também é reconhecido como um direito social pela Constituição Federal de 1988. O artigo 6º da Constituição estabelece que "são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados". Além disso, o artigo 23 da Constituição atribui competência comum à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para "proporcionar os meios de acesso à moradia, especialmente à população de baixa renda" (MIRANDA, 1992, p. 112). Essas disposições constitucionais estabelecem o direito à moradia como um direito fundamental e conferem competência aos diferentes entes federativos para promover políticas habitacionais e garantir o acesso à moradia para todos os cidadãos brasileiros.
Apesar das semelhanças nas bases legais que fundamentam o direito à moradia em Portugal e Brasil, as abordagens adotadas pelos sistemas jurídicos de ambos os países em relação à garantia desse direito apresentam diferenças significativas. Em Portugal, o Estado desempenha um papel mais ativo na promoção e provisão de habitação social, com programas de apoio à construção de habitações económicas e sociais e incentivos para iniciativas de autoconstrução e edificação cooperativa. Para resumir os códigos civis produzidos na Europa, há uma interessante consideração: 
A imagem do direito dos códigos civis é a seguinte – uma sociedade unitária e igualitária, subordinada aos princípios da liberdade de propriedade e da liberdade contratual; na sociedade real do século XIX, isto constituía, essencialmente, a ordem jurídica particular dos pioneiros da nova sociedade do lucro surgida com a revolução industrial. Por isso, o direito dos outros grupos sociais devia ser excluído da codificação; não apenas o direito em dissolução dos antigos estados privilegiados (direito privado dos príncipes, o regime da propriedade de raiz da nobreza, na prática também os fideicomissos), mas também o direito profissional das antigas ordens (camponeses, artesãos, marinheiros etc.) e da moderna classe dos assalariados. (Wieacker, 1967, p. 528) 
O país possui uma tradição de intervenção estatal na habitação, com políticas públicas voltadas para a redução do déficit habitacional e a promoção do acesso à moradia para grupos vulneráveis, como migrantes, refugiados e pessoas em situação de sem-abrigo. No entanto, apesar dos esforços do Estado, Portugal ainda enfrenta desafios significativos em relação à disponibilidade de moradias acessíveis e à especulação imobiliária, especialmente nas áreas urbanas mais valorizadas (HESSE, 1991, p. 78).
No Brasil, a abordagem em relação ao direito à moradia é marcada pela descentralização de competências entre os diferentes entes federativos e pela participação ativa da sociedade civil na formulação e implementação de políticas habitacionais. O país possui programas federais, estaduais e municipais voltados para a promoção do acesso à moradia, como o Programa Minha Casa, Minha Vida e o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (LUÑO, 2004, p. 112). No entanto, apesar dos esforços do Estado, o Brasil ainda enfrenta um déficit habitacional significativo, com milhões de famílias vivendo em condições precárias, em favelas e áreas de ocupação irregular. Além disso, a concentração fundiária e a especulação imobiliária representam desafios adicionais para a garantia do direito à moradia para todos os cidadãos brasileiros (LASSALLE, 1933, p. 45).
Em resumo, as abordagens adotadas pelos sistemas jurídicos de Portugal e Brasil em relação ao direito à moradia refletem as diferentes realidades socioeconômicas, políticas e institucionais de cada país. Enquanto Portugal possui uma tradição de intervenção estatal na habitação, com políticas públicas voltadas para a redução do déficit habitacional e a promoção do acesso à moradia para grupos vulneráveis, o Brasil adota uma abordagem mais descentralizada, com programas federais, estaduais e municipais voltados para a promoção do acesso à moradia e uma participação ativa da sociedade civil na formulação e implementação de políticas habitacionais. Apesar das diferenças nas abordagens, ambos os países enfrentam desafios significativos em relação à garantia do direito à moradia para todos os cidadãos, especialmente nas áreas urbanas mais valorizadas e nas populações mais vulneráveis.
4.3. LEGISLAÇÃO PORTUGUESA DE HABITAÇÃO
A questão do direito à moradia é um tema central em qualquer sociedade, refletindo não apenas a necessidade básica de abrigo, mas também aspectos mais amplos relacionados à justiça social, à igualdade de oportunidades e à qualidade de vida. Em Portugal, país com uma história rica e complexa, a legislação sobre moradia evoluiu ao longo do tempo para enfrentar os desafios contemporâneos e garantir o acesso adequado à habitação para todos os cidadãos (Antunes, 2018, p. 45).
No contexto português, o direito à moradia é consagrado na Constituição da República Portuguesa, documento fundamental que estabelece os princípios e valores fundamentais do Estado. O artigo 65.º da Constituição estabelece que "Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensões adequadas, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar" (DGT, 2016, p. 23). Este princípio fundamental reflete o compromisso do Estado em garantir que todos os cidadãos tenham acesso a moradias dignas e adequadas às suas necessidades.
Além da Constituição, Portugal possui legislação específica que regula diversas questões relacionadas à habitação. Uma das leis mais importantes nesse sentido é a Lei de Bases da Habitação, aprovada em 2019. Esta lei estabelece as bases do regime jurídico da política pública de habitação em Portugal, definindo os princípios e instrumentos para promover o acesso universal à habitação adequada (Fahra, 2017, p. 112).
Um dos pontos-chave da Lei de Bases da Habitação é o reconhecimento do direito à habitação como um direito fundamental e a sua consagração como uma responsabilidade do Estado. Isso significa que o Estado tem o dever de adotar políticas e medidas que garantam o acesso de todos os cidadãos a uma habitação digna, seja através da promoção de habitação pública, do apoio ao arrendamento acessívelou de outras formas de intervenção no mercado imobiliário (Guerra, Mateus & Portas, 2008, p. 76).
Além disso, a Lei de Bases da Habitação estabelece os princípios da política pública de habitação em Portugal, que incluem a universalidade, a equidade, a eficiência e a participação. Estes princípios orientam a ação do Estado na promoção do acesso à habitação, garantindo que as políticas e medidas adotadas sejam justas, eficazes e transparentes (IHRU, 2015, p. 34).
Um aspecto importante da legislação portuguesa sobre habitação é o reconhecimento da habitação como um direito social, ou seja, como um direito que vai além da mera proteção legal e que implica ações concretas por parte do Estado para garantir a sua realização. Isso significa que o Estado não apenas protege o direito à habitação através da legislação, mas também implementa políticas e programas para tornar esse direito uma realidade para todos os cidadãos (Matos, 2001, p. 89).
Entre as políticas e programas implementados pelo Estado português para promover o acesso à habitação, destacam-se o Programa de Arrendamento Acessível, que visa facilitar o acesso a habitação para arrendamento a preços acessíveis, e o Programa de Apoio ao Acesso à Habitação, que oferece apoio financeiro e fiscal aos cidadãos que procuram adquirir uma casa própria.
Além disso, Portugal também possui uma rede de habitação social, composta por habitações propriedade do Estado ou de outras entidades públicas, que são disponibilizadas a preços acessíveis para famílias em situação de vulnerabilidade ou com baixos rendimentos. Esta rede de habitação social desempenha um papel crucial na promoção do acesso à habitação para os grupos mais desfavorecidos da sociedade.
No entanto, apesar dos esforços do Estado português para promover o acesso à habitação, ainda existem desafios significativos a serem enfrentados. Um dos principais desafios é o problema da habitação acessível, especialmente nas grandes cidades como Lisboa e Porto, onde os preços dos imóveis têm aumentado significativamente nos últimos anos, tornando difícil para muitas pessoas encontrar habitação a preços acessíveis.
Para enfrentar esse desafio, o governo português tem adotado diversas medidas, como a promoção de programas de habitação pública, o reforço dos mecanismos de controlo de rendas e a implementação de políticas de reabilitação urbana. No entanto, a complexidade do problema exige uma abordagem multifacetada e a colaboração entre o Estado, o setor privado e a sociedade civil.
Outro desafio importante é o problema da habitação precária, que afeta especialmente os grupos mais vulneráveis da sociedade, como os sem-abrigo e os imigrantes. Para enfrentar esse problema, é necessário não apenas garantir o acesso a habitação digna, mas também implementar políticas e programas de apoio social que ajudem essas pessoas a superar as suas dificuldades e a reintegrarem-se na sociedade.
Em resumo, a legislação sobre o direito à moradia em Portugal reflete o compromisso do Estado em garantir o acesso de todos os cidadãos a uma habitação digna e adequada às suas necessidades. No entanto, apesar dos progressos realizados, ainda existem desafios significativos a serem enfrentados, que exigem uma abordagem abrangente e a colaboração de todos os setores da sociedade. Garantir o direito à moradia é não apenas uma questão de justiça social, mas também uma condição essencial para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável (Antunes, 2018, p. 45).
5. IMPACTO DAS LEIS DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
A regularização fundiária é uma política pública essencial para promover o direito à moradia digna e regularizar áreas urbanas que historicamente foram ocupadas de forma informal. O impacto das leis de regularização fundiária é significativo em várias dimensões, desde a segurança jurídica dos moradores até o desenvolvimento urbano sustentável.
Uma das principais consequências positivas das leis de regularização fundiária é a segurança jurídica proporcionada aos moradores de áreas informais. Antes da regularização, essas comunidades muitas vezes vivem sob constante ameaça de despejo, sem qualquer garantia legal sobre a posse das terras que ocupam. A regularização fundiária confere direitos de propriedade aos ocupantes, fornecendo segurança contra despejos arbitrários e garantindo que possam investir em melhorias em suas moradias com a certeza de que não serão removidos à força. Essa segurança jurídica é fundamental para a estabilidade e o bem-estar das famílias que residem nessas áreas. (BENATTI & SILVA, 2022, p. 57)
Além da segurança jurídica, as leis de regularização fundiária têm um impacto positivo direto na qualidade de vida dos moradores. Com a regularização, as comunidades informais passam a ter acesso a serviços básicos essenciais, como água potável, eletricidade, saneamento básico e coleta de lixo. Isso melhora significativamente as condições de vida, saúde e bem-estar dos residentes, reduzindo doenças relacionadas à falta de saneamento e melhorando o acesso à educação e oportunidades de emprego para os moradores. (BELLOIR & MOREIRA, 2023, p. 112)
Outro impacto relevante das leis de regularização fundiária é o seu papel na promoção do desenvolvimento urbano sustentável. Ao formalizar áreas informais e integrá-las à cidade formal, a regularização contribui para a redução da segregação espacial e a promoção da coesão social. Isso é especialmente importante em cidades onde as áreas informais estão localizadas em regiões centrais ou próximas a áreas de alto valor imobiliário. A regularização também permite a implementação de políticas públicas mais eficazes e o planejamento urbano mais inclusivo, promovendo o acesso equitativo a serviços e oportunidades para todos os residentes urbanos. (FERNANDES, 2022, p. 89)
No entanto, é importante reconhecer que as leis de regularização fundiária também podem ter alguns impactos negativos, dependendo da forma como são implementadas. Por exemplo, se não forem acompanhadas por medidas adequadas de inclusão social e desenvolvimento comunitário, a regularização pode levar à gentrificação e ao aumento dos preços da terra, excluindo as comunidades de baixa renda das áreas que antes ocupavam. Além disso, se não forem acompanhadas por investimentos em infraestrutura e serviços públicos, a regularização pode resultar em uma maior concentração de pobreza e marginalização nas áreas urbanas formalizadas. (CUNHA, 2021, p. 34)
Em resumo, as leis de regularização fundiária têm um impacto significativo na vida das comunidades informais e no desenvolvimento urbano das cidades. Quando implementadas de forma adequada e inclusiva, essas legislações podem promover a segurança jurídica, melhorar a qualidade de vida dos moradores e contribuir para a construção de cidades mais justas, inclusivas e sustentáveis. No entanto, é fundamental que essas leis sejam acompanhadas por políticas complementares que garantam o acesso igualitário a serviços básicos, oportunidades de emprego e participação cidadã, a fim de garantir que todos os moradores urbanos possam desfrutar plenamente do direito à habitação adequada e à vida urbana digna. (NEPOMUCENO & MIYAZAKI, 2020, p. 76)
5.1. LEI Nº 11.977/2009 NO BRASIL E LEGISLAÇÕES EQUIVALENTES EM OUTROS PAÍSES
A Lei nº 11.977/2009, conhecida como Lei do Programa Minha Casa, Minha Vida, é uma das legislações mais importantes relacionadas à regularização fundiária e ao acesso à habitação no Brasil. No entanto, além dessa lei específica, diversos países ao redor do mundo também têm adotado legislações equivalentes com o objetivo de enfrentar desafios semelhantes em relação à moradia adequada e à regularização de assentamentos informais.
No Brasil, a Lei nº 11.977/2009 foi criada com o intuito de promover o acesso à moradia digna para a população de baixa renda, por meio da construção de unidades habitacionais subsidiadas pelo governo. Essa legislação estabeleceu diretrizes específicas para a implementação do Programa Minha Casa, Minha Vida, como critérios de elegibilidade,modalidades de financiamento e parcerias com o setor privado para a construção de habitações populares. Além disso, a lei prevê a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas, visando garantir a segurança jurídica dos ocupantes e promover a inclusão social por meio do acesso à propriedade formal. (GONÇALVES & RIZEK, 2020, p. 45)
Em outros países, legislações equivalentes têm sido adotadas para abordar questões semelhantes relacionadas à habitação e à regularização fundiária. Por exemplo, em países como Colômbia e México, foram implementados programas de habitação social que visam proporcionar moradias acessíveis para a população de baixa renda, com subsídios governamentais e parcerias público-privadas para a construção e financiamento de unidades habitacionais. Essas iniciativas também incluem medidas para regularizar assentamentos informais, reconhecendo formalmente os direitos de posse dos ocupantes e fornecendo acesso a serviços básicos e infraestrutura urbana. (MERCIER & CARRIÇO, 2020, p. 78)
Da mesma forma, em países africanos como África do Sul e Quênia, foram adotadas legislações para enfrentar os desafios relacionados à habitação precária e à informalidade urbana. Essas legislações geralmente buscam promover a segurança jurídica dos moradores por meio da regularização fundiária e do reconhecimento formal dos assentamentos informais, bem como facilitar o acesso a financiamento e recursos para melhorias habitacionais. Além disso, muitos países africanos têm adotado abordagens participativas e inclusivas, envolvendo as comunidades locais no processo de elaboração e implementação de políticas de habitação e regularização fundiária. (ARAUJO & MIYABARA, 2021, p. 112)
Em todos esses casos, as legislações têm como objetivo comum promover o direito à moradia adequada e garantir o acesso equitativo à habitação para todos os cidadãos, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Embora as abordagens possam variar de acordo com o contexto específico de cada país, a ênfase na regularização fundiária, no acesso a moradias dignas e na inclusão social é uma constante em legislações de habitação em todo o mundo. (SILVA, 2022, p. 93)
5.2. EFICÁCIA DESSAS LEIS NA REGULARIZAÇÃO DE ASSENTAMENTOS INFORMAIS 
A eficácia das leis de regularização fundiária na regularização de assentamentos informais é um tema de grande importância e complexidade. Essas leis têm como objetivo principal proporcionar segurança jurídica e acesso a serviços básicos para comunidades que ocupam áreas urbanas de forma irregular. No entanto, sua efetividade pode variar significativamente de acordo com diversos fatores, incluindo o contexto socioeconômico, político e institucional de cada localidade. (DE CASTRO, 2023, p. 56)
Em muitos casos, as leis de regularização fundiária têm sido uma ferramenta fundamental para a promoção da inclusão social e o combate à exclusão urbana. Ao reconhecer formalmente os direitos de posse dos moradores de assentamentos informais, essas leis garantem o acesso a serviços básicos como água, energia elétrica, saneamento e transporte público, além de promover a integração dessas comunidades ao tecido urbano. (DA FONSECA SOARES & DOS SANTOS, 2020, p. 72)
No entanto, a eficácia das leis de regularização fundiária nem sempre é garantida. Em alguns casos, questões como burocracia excessiva, falta de recursos financeiros e técnicos, resistência política e interesses econômicos podem dificultar a implementação dessas leis e prejudicar sua efetividade. Além disso, em muitos países, a legislação existente pode não ser suficiente para abordar todas as dimensões do problema, como questões relacionadas à infraestrutura urbana, meio ambiente e direitos humanos. (SCHADECK & DE LIMA FANTE, 2023, p. 88)
Outro desafio importante diz respeito à participação e ao empoderamento das comunidades afetadas no processo de regularização fundiária. Muitas vezes, as decisões sobre o destino dos assentamentos informais são tomadas de cima para baixo, sem levar em consideração as necessidades e aspirações das próprias comunidades. Isso pode resultar em soluções inadequadas que não atendem às demandas reais dos moradores e perpetuam a exclusão social e a marginalização. (BENATTI & DA SILVA, 2022, p. 105)
É fundamental, portanto, que as leis de regularização fundiária sejam acompanhadas por mecanismos eficazes de participação e consulta pública, garantindo que os interesses e direitos das comunidades sejam respeitados e levados em consideração. Além disso, é necessário um esforço conjunto entre governos, sociedade civil, setor privado e organismos internacionais para superar os desafios e garantir que as leis de regularização fundiária cumpram seu papel na promoção da justiça social e no desenvolvimento urbano sustentável. (BELLOIR & MOREIRA, 2023, p. 114)
Em resumo, as leis de regularização fundiária têm o potencial de desempenhar um papel significativo na promoção da inclusão social e no combate à pobreza urbana. No entanto, sua eficácia depende de uma série de fatores, incluindo o compromisso político, a disponibilidade de recursos e a participação ativa das comunidades afetadas. A busca por soluções eficazes para a regularização de assentamentos informais deve ser uma prioridade para governos e sociedade civil, visando garantir o pleno exercício do direito à moradia adequada para todos. (CUNHA, 2021, p. 82)
6. IMPACTO DO CÓDIGO CIVIL NA HABITAÇÃO
O Código Civil, como conjunto de normas que regula as relações jurídicas entre indivíduos no âmbito civil, exerce um impacto significativo na habitação e nas questões relacionadas ao direito de propriedade imobiliária. No Brasil, o Código Civil de 2002, em vigor, traz uma série de disposições que influenciam diretamente a aquisição, uso, transferência e proteção dos imóveis, afetando assim o acesso à moradia e o desenvolvimento urbano. (LÔBO, 2021, p. 45)
Uma das principais áreas em que o Código Civil impacta a habitação é no direito de propriedade. Ele estabelece as regras para a aquisição e transferência de propriedades imobiliárias, bem como os direitos e deveres dos proprietários. Por exemplo, o Código Civil estabelece os requisitos para a transferência de propriedade por meio de contratos de compra e venda, doações, heranças e usucapião, garantindo assim a segurança jurídica nessas transações. Além disso, o código também regula questões como posse, condomínio, locação e direitos de vizinhança, que são fundamentais para o uso e desfrute adequado da habitação. (MAIA, 2020, p. 78)
No entanto, é importante ressaltar que o Código Civil também pode apresentar limitações ou lacunas que afetam o direito à habitação. Por exemplo, questões como a regularização fundiária de assentamentos informais, o direito à moradia digna e a proteção de grupos vulneráveis podem não ser adequadamente abordadas pelo código, deixando espaço para interpretações diversas e lacunas na proteção legal. Nesse sentido, é necessário um diálogo constante entre o Código Civil e outras legislações específicas relacionadas à habitação e ao desenvolvimento urbano para garantir uma proteção abrangente dos direitos dos cidadãos. (MAIA, 2020, p. 91)
Outro aspecto importante é o impacto do Código Civil na proteção dos direitos dos consumidores no mercado imobiliário. O código estabelece as regras para a compra e venda de imóveis, incluindo as responsabilidades dos construtores e incorporadores, os direitos dos compradores e as garantias oferecidas nos contratos de compra e venda. Isso é fundamental para proteger os consumidores de práticas abusivas, garantindo transparência, segurança e qualidade nas transações imobiliárias. No entanto, é importante ressaltar que as disposições do Código Civil nem sempre são suficientes para proteger efetivamente os direitos dos consumidores no mercado imobiliário. Muitas vezes, é necessária uma complementação por meio de legislação específica, como o Código de Defesa do Consumidor, para garantir uma proteção adequada aos consumidores. (LÔBO,2021, p. 112)
Além disso, o Código Civil também tem um papel importante na regulação das relações entre proprietários e locatários de imóveis. Ele estabelece as regras para os contratos de locação, incluindo os direitos e deveres das partes envolvidas, as formas de reajuste de aluguel, as garantias locatícias e os procedimentos para despejo. Essas disposições são essenciais para garantir uma convivência harmoniosa entre proprietários e locatários, contribuindo para a estabilidade e segurança no mercado de locação de imóveis. (SANTOS & DA SILVA, 2023, p. 132)
Em suma, o Código Civil exerce um impacto significativo na habitação, regulando diversas questões relacionadas ao direito de propriedade, relações contratuais e proteção dos consumidores. No entanto, é importante reconhecer suas limitações e buscar complementar sua atuação por meio de legislação específica e políticas públicas voltadas para o acesso à moradia digna e o desenvolvimento urbano sustentável. (OLIVEIRA, 2022, p. 145)
6.1. LEI Nº 10.406/2002 NO BRASIL
A Lei nº 10.406/2002, também conhecida como Código Civil brasileiro, é uma das legislações mais abrangentes e fundamentais do ordenamento jurídico do país. Ela trata de diversos aspectos das relações civis, incluindo aqueles relacionados à habitação e ao direito imobiliário. Neste contexto, a análise do impacto da Lei nº 10.406/2002 na habitação é de grande relevância para compreender como as disposições legais afetam as questões relacionadas à propriedade, locação, condomínio e outros aspectos pertinentes ao tema (BOGADO, 2020, p. 78).
Uma das áreas em que a Lei nº 10.406/2002 influencia diretamente a habitação é no estabelecimento das regras para a aquisição e transferência de propriedades imobiliárias. O Código Civil estabelece os requisitos e procedimentos para a compra e venda de imóveis, bem como os direitos e deveres dos proprietários e compradores. Isso inclui a definição dos elementos essenciais do contrato de compra e venda, como preço, objeto e consentimento das partes, garantindo assim a segurança jurídica nessas transações (ALMEIDA & DALSENTER, 2021, p. 112).
No que diz respeito à locação de imóveis, o Código Civil também desempenha um papel fundamental. Ele estabelece as regras e direitos das partes envolvidas nos contratos de locação, como locador e locatário, definindo os deveres de cada uma das partes, as formas de reajuste de aluguel, as garantias locatícias e os procedimentos para a rescisão do contrato. Isso contribui para regular as relações locatícias e garantir a estabilidade e segurança no mercado de locação de imóveis (BORGES & DINIZ, 2021, p. 124).
Outro aspecto relevante é a regulamentação do condomínio edilício, que é o regime de propriedade em que um edifício é dividido em unidades autônomas, com áreas de uso comum. O Código Civil estabelece as regras para a administração e funcionamento dos condomínios, incluindo a eleição e atribuições do síndico, a realização de assembleias, a cobrança de despesas condominiais e a resolução de conflitos entre condôminos. Essas disposições são essenciais para garantir uma convivência harmoniosa e a preservação do patrimônio comum dos condôminos (FARIAS et al., 2022, p. 137).
Além das questões específicas relacionadas à propriedade, locação e condomínio, a Lei nº 10.406/2002 também possui dispositivos que tratam de outros temas relevantes para a habitação, como responsabilidade civil, direito de vizinhança, direito das sucessões e direitos reais. Essas disposições têm impacto direto nas relações jurídicas que envolvem a habitação e contribuem para garantir a segurança e estabilidade nas transações imobiliárias e na convivência condominial (GADELHA et al., 2022, p. 145).
A regularização fundiária é um tema de extrema relevância em diversas partes do mundo, especialmente em países em desenvolvimento onde a urbanização rápida e desordenada tem levado à formação de assentamentos informais e à falta de acesso à terra e à moradia adequada para grande parte da população. Nesse contexto, as legislações que abordam a regularização fundiária desempenham um papel crucial na promoção do direito à moradia digna e na redução da desigualdade social.
No Brasil, a Lei nº 11.977/2009, conhecida como Lei do Programa Minha Casa, Minha Vida, é uma das principais legislações relacionadas à regularização fundiária e ao acesso à habitação para a população de baixa renda. Essa lei estabelece diretrizes para a construção de habitações populares subsidiadas pelo governo e para a regularização de assentamentos informais, visando garantir a segurança jurídica dos ocupantes e promover a inclusão social por meio do acesso à propriedade formal. Além disso, a Lei nº 11.977/2009 prevê a participação de entidades civis e movimentos sociais no processo de implementação do programa, fortalecendo a participação cidadã e a governança urbana participativa. (GONÇALVES & RIZEK, 2020, p. 83)
No entanto, apesar dos avanços proporcionados pela Lei do Programa Minha Casa, Minha Vida, ainda existem desafios significativos a serem enfrentados no que diz respeito à regularização fundiária e ao acesso à moradia adequada no Brasil. Um dos principais desafios é a complexidade do processo de regularização, que envolve múltiplos atores e instituições e exige a coordenação de diferentes políticas e instrumentos legais. Além disso, a falta de recursos financeiros e técnicos, bem como a resistência de alguns setores da sociedade, podem dificultar a implementação efetiva da lei e a garantia dos direitos à terra e à moradia para todos os cidadãos (MERCIER & CARRIÇO, 2020, p. 97).
Em outros países, como Colômbia, México e diversos países africanos, também foram adotadas legislações para abordar questões relacionadas à habitação precária e à regularização fundiária. Essas legislações geralmente buscam promover a segurança jurídica dos moradores por meio da regularização fundiária e do reconhecimento formal dos assentamentos informais, além de facilitar o acesso a financiamento e recursos para melhorias habitacionais.
No entanto, assim como no Brasil, esses países enfrentam desafios semelhantes, como a falta de recursos financeiros, a complexidade do processo de regularização e a necessidade de envolver ativamente as comunidades locais no processo de tomada de decisão e implementação das políticas habitacionais (ARAUJO & MIYABARA, 2021, p. 112).
Diante desses desafios, é fundamental que os governos, em conjunto com a sociedade civil e o setor privado, trabalhem de forma colaborativa para desenvolver e implementar políticas e programas de regularização fundiária eficazes e inclusivos. Isso requer o fortalecimento das instituições responsáveis pela implementação das políticas habitacionais, o aumento dos investimentos em infraestrutura e serviços básicos nas áreas informais, e o estabelecimento de mecanismos transparentes e participativos para a resolução de conflitos e a tomada de decisão. Somente assim será possível avançar na construção de cidades mais justas, inclusivas e sustentáveis, onde todos os cidadãos possam desfrutar plenamente do direito à habitação adequada e à qualidade de vida digna (SILVA, 2022, p. 125).
6.2. DISPOSIÇÕES DO CÓDIGO CIVIL EM RELAÇÃO AOS DIREITOS E DEVERES DOS PROPRIETÁRIOS E LOCATÁRIOS
As disposições do Código Civil brasileiro em relação aos direitos e deveres dos proprietários e locatários são fundamentais para a organização e funcionamento das relações jurídicas no âmbito imobiliário. Essas normas delineiam as responsabilidades de cada parte envolvida em um contrato de locação, estabelecendo parâmetros para garantir a segurança e a justiça nas transações imobiliárias (SILVA, 2022, p. 78).
No contexto dos direitos e deveres dos proprietários, o Código Civil confere uma série de prerrogativas fundamentais. Em primeiro lugar, o proprietário detém o direito de propriedade sobre o imóvel, o que implica o poder de uso, gozo e disposição da coisa, nos termos do artigo 1.228. Esse direito assegura ao proprietário a autonomia para utilizar o imóvel de acordo

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