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LivroTeórico-ELetrasV2_2022-45-46

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Poemas
 § Lírica
Destes penhascos fez a natureza
O berço, em que nasci: oh quem cuidara.
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza.
Quando cheios de gostos, e de alegria
Estes campos diviso florescentes,
Então me vêm as lágrimas ardentes
Com mais ânsia, mais dor, mais agonia.
Aquele mesmo objeto, que desvia
Do humano peito as mágoas inclementes,
Esse mesmo em imagens diferentes
Toda a minha tristeza desafia.
Se das flores a bela contextura
Esmalta o campo na melhor fragrância,
Para dar uma ideia de ventura;
Como, ó Céus, para os ver terei constância,
Se cada flor me lembra a formosura
a bela causadora de minha ânsia?
RaMos, péRicles euGênio da silva (oRG.). poeMa de cláudio 
Manuel da costa. são paulo: cultRiX, 1976, p. 72.
Glossário
constância: firmeza, ânimo
contextura: ligação, firmeza
divisar: avistar
inclementes: severas, rigorosas
ventura: sorte, felicidade
 § Épica
Na poesia épica, o poema Vila Rica é inspirado nas 
epopeias clássicas, que trata da penetração ban-
deirante, da descoberta das minas, da fundação de 
Vila Rica e das revoltas locais. Hoje, no conjunto da 
obra do autor sobrepõe-se a lírica: 
Enfim serás cantada, Vila Rica, 
Teu nome alegre notícia, e já clamava; 
Viva o senado! viva! repetia 
Itamonte, que ao longe o eco ouvia.
3.2. Tomás Antônio Gonzaga
Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) é, muito provavel-
mente, o mais conhecido poeta árcade do Brasil, contudo, 
seu nascimento se deu no Porto, em Portugal, tendo mi-
grado ainda muito pequeno ao nosso país. Tomás viveu 
na Bahia, foi estudar na Europa (Coimbra) e, somente no 
seu retorno, é que se instalou em Vila Rica, pouco tempo 
depois, tornou-se um inconfidente.
O resultado disso foi um exílio para Moçambique, local em 
que, apesar da saudade e dos sofrimentos do movimento 
inconfidente, viveu uma vida tranquila, casando-se, envol-
vendo-se com a política local e, também, enriquecendo.
A poesia do autor divide-se em Marília de Dirceu (sendo 
este seu pseudônimo) e Cartas chilenas. Marília é o imagi-
nário da mulher mais humana, com a qual o pastor bucóli-
co vive no campo. Em Cartas chilenas, o que vemos é uma 
sátira do governo local.
Poemas
 § Lírica
Lira 77
Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro
fui honrado pastor da tua aldeia;
vestia finas lãs e tinha sempre
a minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
nem tenho a que me encoste um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
de mor rebanho ainda ser o dono;
prezava o teu semblante, os teus cabelos
ainda muito mais que um grande trono.
Agora que te oferte já não vejo,
além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava, apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
de ver-te ao menos compassivo o rosto.
Ah! Minha bela, se a fortuna volta.
Se o bem, que já perdi, alcanço e provo
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo,
Romper a nuvem que os meus olhos cerra,
Amar no céu a Jove e a ti na terra!
Se não tivermos lãs e peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
e os panos feitos com lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mãos cosido.
Nas noites de serão nos sentaremos
cos filhos, se os tivermos, à fogueira:
entre as falsas histórias, que contares,
lhes contarás a minha, verdadeira.
Pasmados te ouvirão; eu, entretanto,
ainda o rosto banharei de pranto
 § Satírica
A obra é um jogo de disfarces. Fanfarrão Minésio 
é o pseudônimo do governo; chilenas equivale a 
mineiras; Santiago, de onde são assinadas, equivale 
a Vila Rica. O autor das cartas é identificado como 
Critilo, e seu destinatário, Doroteu
Não cuides, Doroteu, que brandas penas
me formam o colchão macio e fofo;
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não cuides que é de paina a minha fronha
e que tenho lençóis de fina holanda,
com largas rendas sobre os crespos folhos;
custosos pavilhões, dourados leitos
e colchas matizadas não se encontram
na casa mal provida de um poeta,
aonde há dias o rapaz que serve
nem na suja cozinha acende o fogo.
Mas nesta mesma cama tosca e dura,
descanso mais contente do que dorme
aquele só põe o seu cuidado
em deixar a seus filhos o tesouro
que ajunta, Doroteu, com mão avara,
furtando ao rico e não pagando ao pobre.
Aqui... mas onde vou, prezado amigo?
Deixemos episódios que não servem,
e vamos prosseguindo a nossa história.
Apenas, Doroteu, o nosso chefe
as rédeas manejou do seu governo,
fingir nos intentou que tinha uma alma
amante da virtude. Assim foi Nero.
Governou aos romanos pelas regras
da formosa justiça, porém logo
trocou o cetro de ouro em mão de ferro.
Manda, pois, aos ministros lhe deem listas
de quantos presos as cadeias guardam:
faz a muitos soltar e aos mais alenta
de vivas, bem fundadas esperanças
[...]
O povo, Doroteu, é como as moscas
que correm ao lugar, aonde sentem
o derramado mel; é semelhante
aos corvos e aos abutres, que se ajuntam
nos ermos, onde fede a carne podre.
À vista, pois, dos fatos, que executa
o nosso grande chefe, decisivos
da piedade que finge, a louca gente
de toda a parte corre a ver se encontra
algum pequeno alívio à sombra dele.
in: toMás antônio GonzaGa. são paulo: abRil educação, 
1980. p. 66-70. liteRatuRa coMentada
4. Nativismo Épico
4.1. Basílio da Gama 
Basílio da Gama (1741-1795) nasceu na cidade que é hoje 
é Tiradentes. Estou em escola jesuítica e, depois, foi estudar 
na Europa e lá, na Itália, conseguiu uma proeza: entrou 
na Arcádia Romana. Voltou para a colônia portuguesa em 
1767, porém, no ano seguinte, foi acusado de ter contato 
com os jesuítas – nesse momento iluminista, havia, por 
parte da coroa portuguesa, uma perseguição aos jesuítas. 
Para ser julgado, Basílio foi levado a Lisboa. Contudo, con-
seguiu livrar-se da prisão ao estabelecer relações com o 
conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal. Basílio pro-
duziu um poema em homenagem à filha do conde, que 
muito lhe agradou. Diz-se, também, que Basílio produziu 
seu famoso épico "O Uraguai" sob tutela do Marquês de 
Pombal, e, por isso, há uma clara mensagem contra os 
jesuítas na narrativa.
Aspectos Gerais de O Uraguai
 § Temática: A luta travada por portugueses e espanhóis 
contra índios e jesuítas é narrada por Basílio da Gama, 
desde os preparativos até a conclusão. 
 § Estrutura: Cinco cantos que não seguem a forma 
clássica, são versos brancos e sem rimas.
 – Canto I: as tropas aliadas reúnem-se para comba-
ter os índios e os jesuítas.
 – Canto II: o exército avança e há uma tentativa de 
negociação com os chefes indígenas Sepé e Cacam-
bo. Sem acordo, trava-se a luta, que termina com a 
derrota e a retirada dos índios.
 – Canto III: Cacambo ateia fogo à vegetação em vol-
ta do acampamento aliado e foge para sua aldeia. 
O padre Balde, vilão da história, faz prender e matar 
Cacambo para que seu filho sacrílego Baldeta possa 
casar-se com Lindoia, esposa de Cacambo, e tomar 
a posição do chefe indígena morto. Em uma visão, 
Lindoia prevê o terremoto de Lisboa e a expulsão 
dos jesuítas por Pombal.
 – Canto IV: no mais bonito dos cinco cantos são re-
tratados os preparativos do casamento de Baldeta 
com Lindoia. Chorando a morte do marido, não quer 
casar-se. Entra num bosque e deixa-se picar por uma 
cobra venenosa. Chegam os brancos, que cercam a 
aldeia. Todos fogem. Antes, porém, os padres man-
dam queimar as casas e a igreja.
 – Canto V: o líder português Gomes Freire de An-
drada prende os inimigos na aldeia próxima. Há 
referências ao domínio universal da Companhia de 
Jesus e a seus crimes.
 § A guerra: ao contrário do que tratam os épicos, a 
guerra como elemento admirável e janela para os 
heróis representantes da nação, na obra de Gama, a 
guerra é criticada. 
 § O fato histórico: o genocídio deSete Povo das Mis-
sões, os indíos são os inimigos dos portugueses e espa-
nhóis, contudo, na narrativa, sobre eles recai a aura da 
inocência e os "vilões" se tornam os jesuítas.
 § Lindóia: a cena da morte de Lindóia será grande refe-
rência para a construção do projeto nacional romântico.

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