Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Brasília-DF. Diagnóstico Das Doenças infecciosas e avanços nas Rotinas LaboRatoRiais Elaboração Priscila Dallé da Rosa Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS ........................................................ 11 CAPÍTULO 1 CITOMEGALOVÍRUS, DENGUE E HEPATITE ................................................................................. 11 CAPÍTULO 2 HIV, HPV E HTLV ....................................................................................................................... 34 CAPÍTULO 3 MONONUCLEOSE INFECCIOSA E RUBÉOLA ............................................................................ 45 UNIDADE II DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS ................................................ 50 CAPÍTULO 1 ENTEROCOCCIAS, ESTAFILOCOCCIAS E ESTREPTOCOCCIAS .................................................. 50 CAPÍTULO 2 INFECÇÕES POR CLAMÍDIAS E CLAMIDÓFILAS, INFECÇÃO POR MICOPLASMAS E LEPTOSPIROSE HUMANA ...................................................................................................... 69 CAPÍTULO 3 MENINGITES BACTERIANAS AGUDAS, SÍFILIS E TUBERCULOSE .................................................... 75 UNIDADE III DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR PROTOZOÁRIOS ......................................... 86 CAPÍTULO 1 AMEBÍASE E TRIPANOSOMÍASE AMERICANA ............................................................................ 86 CAPÍTULO 2 LEISHMANIOSES E MALÁRIA .................................................................................................... 91 CAPÍTULO 3 PROTOZOOSES EMERGENTES................................................................................................ 100 UNIDADE IV DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR HELMINTOS .............................................. 110 CAPÍTULO 1 ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA E FILARIOSE BANCROFTIANA ............................................. 110 CAPÍTULO 2 HIDATIDOSE, NEUROCISTICERCOSE E TOXOCARÍASE ............................................................. 115 UNIDADE V DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS ................................................. 120 CAPÍTULO 1 MICOSES CUTÂNEAS ............................................................................................................ 121 CAPÍTULO 2 MICOSES SISTÊMICAS ........................................................................................................... 128 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 142 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Este Caderno de Estudos foi elaborado com o objetivo de fornecer ao aluno os subsídios necessários para compreensão e identificação das principais doenças infecciosas, com uma abordagem ampla em todos os tipos de diagnósticos disponíveis. Serão estudadas as principais doenças infecciosas causadas por microrganismos e, também, doenças sexualmente transmissíveis, assim como os métodos para isolamento e identificação dos agentes causadores de infecções. Dar-se-á ênfase no diagnóstico das doenças bacterianas, hepatites virais e viroses, doenças fúngicas e parasitárias, avaliando a patogênese, as manifestações clínicas, a transmissão, o tratamento e, principalmente, os avanços dos diagnósticos nas rotinas laboratoriais. Todos esses tópicos serão discutidos no decorrer dos capítulos. O aluno será levado a refletir sobre os grupos de risco aos quais essas doenças infecciosas são comumente relacionadas. Além disso, será possível compreender mais claramente a evolução dos diagnósticos, não só com relação aos aspectos clínicos, mas também no que diz respeito ao tratamento e às formas de transmissão, pois entendemos que conhecer os detalhes de cada doença seja passo primordial para um diagnóstico correto e rápido. Por fim, o aluno terá como objetivo na disciplina aprender ferramentas para: identificar, diagnosticar e tratar pacientes com doenças infecciosas, não observando somente o ambiente clínico. Ao final do curso, a avaliação será feita mediante os exercícios propostos, levando em consideração fatores técnicos, poder de decisão e análise do contexto individual para cada evento aprendido no decorrer da disciplina. “Diagnosticar é descobrir a vida.” (DOUTORA PRISCILA DALLÉ – PPGCM/UFRGS). Objetivos » Adquirir conhecimento sobre as principais doenças infecciosas. » Identificar as características morfológicas, sintomatológicas e patogênicas. 9 » Identificar procedimentos e diagnósticosa serem realizados. » Definir a melhor metodologia para identificação e tratamento do microrganismo. » Identificar laboratorialmente as bactérias, os fungos, os parasitas e os vírus. » Avaliar o melhor método de análise e de diagnóstico a serem empregados. » Buscar constantemente por atualizações de portarias e normativas laboratoriais. » Aperfeiçoamento do profissional que deseja atuar no mercado de análises clínicas. 10 11 UNIDADE I DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Serão ofertados, nesta Unidade, tópicos sobre vírus, referindo-se às doenças ocasionadas por esses microrganismos, que são objeto de interesse para a Vigilância Epidemiológica, assim como aos esquemas de tratamento. Reitera- se, nesta parte do Caderno de Estudos, o propósito de apresentar as principais doenças causadas por vírus no nosso país, com informações essenciais e atualizadas, que se destacam como tema de maior relevância para o especialista clínico em diagnósticos, trazendo, também, atualizações nos diagnósticos mais importantes. Convidamos você, profissional da saúde, a explorar todo o texto e assugestões de estudo. Seja bem-vindo! CAPÍTULO 1 Citomegalovírus, dengue e hepatite Citomegalovírus (CMV) CMV (HHV-5) pertence à família do herpes vírus humano (beta) 5, que é a mesma família do vírus da catapora, herpes simples, herpes genital e do herpes zoster. Consequências mais graves relacionam-se à patogenia nos imunodeprimidos e às anomalias congênitas, como pode ser observado nas figuras 1A e 1B, respectivamente. O Citomegalovírus é considerado uma doença cosmopolita. No Brasil, revela uma prevalência maior em crianças do que em adultos, porém a suscetibilidade é geral. Seu reconhecimento é necessário pela forte associação com neoplasias. Esse vírus nunca abandona o organismo da pessoa infectada. Permanece em estado latente e qualquer baixa na imunidade do hospedeiro pode reativar a infecção (CHIN, 2002). 12 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS A reativação do quadro infeccioso está associada à deficiência do sistema imunológico. Nos imunodeprimidos, lesões ulceradas e dolorosas podem comprometer todo o aparelho digestivo (boca, garganta, faringe, esôfago, estômago, intestino grosso e delgado). Nos pacientes com AIDS, a complicação mais comum é a coriorretinite, que pode levar à cegueira, mas existem outras complicações, como comprometimento dos intestinos, do fígado e do sistema nervoso central, que resultam em perda do movimento dos membros inferiores e em mielite e encefalite. Figura 1. A. Exemplo de lesões de membranas mucosas e pele, ao redor da cavidade. B. Um recém-nascido com infecção congênita com CMV, apresentando hematomas múltiplos e trombopenia severa. Fonte: http://enfermagemmassoterapia.blogspot.com.br/2012/03/citomegalovirus.html; http://citomegalovirus.blogspot.com.br/. Transmissão O CMV pode ser transmitido por vários mecanismos, como através da placenta (CMV congênita), no interior do canal do parto, no aleitamento materno, sexualmente, pela saliva, por transfusão de sangue, ou até mesmo por objetos. A transmissão pode se dar pelas seguintes formas: » Por via respiratória: tosse, espirro, fala, saliva, secreção brônquica e da faringe servem de veículo para a transmissão do vírus. » Por transfusão de sangue; por transmissão vertical da mulher grávida para o feto. » Por via sexual: neste caso, ele é considerado causador de doença sexualmente transmissível. » Por objetos como xícaras e talheres, embora esse tipo de transmissão seja pouco comum, ela é possível porque o citomegalovírus não é destruído pelas condições ambientais. 13 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I É quase impossível viver sem ser infectado, em algum momento, pelo citomegalovírus. O período de incubação varia de alguns dias a poucas semanas. Achados clínicos Nos pacientes imunodeprimidos, lesões ulceradas e dolorosas podem comprometer todo o aparelho digestivo. Nos pacientes com AIDS, pode levar à cegueira, pneumonite ou hepatite. Em adultos imunocompetentes, pode causar a mononucleose heterófilo negativa, caracterizada por febre, letargia, presença de linfócitos anormais. E, para o recém-nascido, pode apresentar microcefalia, convulsões, surdez, icterícia, hepatoesplenomegalia e púrpura (MS, 2010). Aluno, talvez você nunca tivesse dado a verdadeira importância para esse vírus. A partir deste primeiro capítulo, se surpreenderá com a diversidade de métodos de diagnóstico. E verá que a detecção desse vírus faz parte da rotina laboratorial, principalmente em mulheres grávidas. Agora, chega de conversa e vamos estudar! Tratamento O tratamento na gravidez tem como objetivo aliviar os sintomas e diminuir a carga do vírus na corrente sanguínea da mulher grávida, sendo, normalmente, recomendado o uso de medicamentos antivirais, como o Aciclovir ou o Valaciclovir, ou injeções de imunoglobulinas. Podem ser utilizados os seguintes fármacos: ganciclovir, valganciclovir, cidoflovir e fomivirsen (MS, 2010). Diagnóstico O diagnóstico laboratorial da infecção pelo CMV pode ser feito por diferentes métodos, que incluem exame direto de amostras por microscopia eletrônica, demonstração de células com corpúsculos de inclusão característicos (Figura 2A), detecção de antígenos ou DNA viral, isolamento viral em culturas celulares de secreção de garganta ou de urina (frequentemente utilizado para RN, a fim de detectar precocemente a infecção congênita). Há, também, várias metodologias imunológicas, tais como a de fixação do complemento, de aglutinação passiva em látex ou de reação de imunofluorescência indireta e 14 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS de testes imunoenzimáticos (ELISA – Enzyme linked immunosorbent assay – ensaio imunoenzimático), demonstrados na figura 2B e 2C, juntamente com o equipamento, que pode utilizar tanto soro como plasma para detectar anticorpos do CMV (FERREIRA, 2001). Na pesquisa sorológica contra o CMV, os anticorpos da classe IgM estão presentes apenas na fase aguda da infecção, e os da classe IgG também aparecem na fase aguda, mas persistem por toda a vida. Os testes para determinação de títulos de anticorpos (elevação igual ou superior a quatro vezes) também podem ser úteis. E, nas biópsias pulmonares, células multinucleadas ou células com inclusões intranucleares proeminentes podem ser observadas (ROIT, 1995, p. 29.6). Figura 2. A. Citomegalia com corpos de inclusão nucleares (HE, 100x). B. Sistema de ELISA. C. Kit CMV Brite Turbo (anticorpo monoclonal primário C10/C11, específico para a proteína pp65 do CMV). Fonte: http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?pid=S0872-81782010000400003&script=sci_arttext; http://spanish. everychina.com/f-z51f538c/p-91994723/showimage.html; http://dpmdiagnostica.com.br/site/diagnostico-precoce-das- infeccoes-por-citomegalovirus-cmv/. Diagnóstico avançado Outra forma de diagnóstico é a detecção do antígeno pp65 no interior dos neutrófilos (antigenemia) circulantes no sangue. Essa forma tem sido utilizada tanto em centros de células tronco hematopoiética, como de órgãos sólidos (http://www.rbconline.org.br/artigo/diagnostico-laboratorial- dacitomegalovirose-em-pacientes-transplantados/. Acesso em: 08 out. 2020.) O Kit CMV Brite Turbo tem como vantagem ser simples, rápido e com alta sensibilidade para o diagnóstico precoce das infecções por CMV (Figura 2C). Existem, também, as técnicas que detectam proteínas virais, presentes na célula infectada como resultado da replicação viral, como a técnica de antigenemia, que é metodologicamente mais simples do que a técnica de isolamento viral por biologia molecular (ERICE et al., 1992; LANDRY et al., 1993). http://www.rbconline.org.br/artigo/diagnostico-laboratorial-dacitomegalovirose-em-pacientes-transplantados/ http://www.rbconline.org.br/artigo/diagnostico-laboratorial-dacitomegalovirose-em-pacientes-transplantados/15 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Outros métodos de biologia molecular também vêm sendo estudados. A técnica de NASBA (amplificação do RNAm do gene UL65) vem sendo descrita como mais sensível ou de igual sensibilidade (GOOSSEN et al., 1999), em relação às técnicas de antigenemia e de isolamento viral. Em alguns estudos, as técnicas de NASBA e de antigenemia apresentaram igual sensibilidade, entretanto a técnica de antigenemia foi capaz de detectar a presença de replicação viral mais precocemente, em um dos pacientes acompanhados no estudo de Sleman. O teste de captura híbrida também apresenta resultados variáveis, havendo relato de maior sensibilidade (VEAL et al., 1996) ou de menor sensibilidade (MAZZULLI et al., 1996 e 1999), em relação à técnica de antigenemia. Outros métodos, como “Branched-DNA signal amplification assay” (Ensaio de Amplificação de Sinal de DNA Ramificado) e o Real Time PCR (PCR em tempo real), vêm sendo comparados com o padrão-ouro, porém nenhum deles conseguiu, até o momento, substituir, definitivamente, o método de antigenemia, que é menos dispendioso e tem apresentado relevante valor preditivo (CHERNOFF, 1997; BOECKH; BOIVIN, 1998). A técnica de PCR qualitativo, para detecção do genoma do CMV, tem seu emprego limitado, pois apresenta baixo valor preditivo. A maioria dos transplantados soropositivos apresenta PCR positivo, mesmo na ausência de doença invasiva. Entretanto, quando se trata do PCR quantitativo, diversos estudos têm relacionado seu alto valor preditivo em relação ao aparecimento de doença invasiva. Há mais alguma coisa que eu devo saber? » O CMV é um dos agentes pesquisado no painel TORCH, que inclui exames para toxoplasmose, rubéola e herpes simples, usado em triagem de mulheres grávidas para excluir infecções prejudiciais ao bebê. » CMV é o principal causador de complicações pós-transplante, com incidência de até 70%, em especial nos primeiros meses pós-transplante. (Fonte: http://www.rbconline.org.br/artigo/ diagnostico-laboratorial-dacitomegalovirose-em-pacientes- transplantados/. Acesso em: 08 out. 2020.) http://www.rbconline.org.br/artigo/diagnostico-laboratorial-dacitomegalovirose-em-pacientes-transplantados/ http://www.rbconline.org.br/artigo/diagnostico-laboratorial-dacitomegalovirose-em-pacientes-transplantados/ http://www.rbconline.org.br/artigo/diagnostico-laboratorial-dacitomegalovirose-em-pacientes-transplantados/ 16 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Dengue O vírus da dengue (RNA) é um arbovírus do gênero Flavivirus, pertencente à família Flaviviridae, com quatro sorotipos conhecidos: DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4 (MS, 2010, p. 131). É uma doença febril aguda causada por um vírus, sendo um dos principais problemas de saúde pública no mundo. O tempo médio do ciclo é de 5 a 6 dias, e o intervalo entre a picada e a manifestação da doença é chamado de período de incubação. Geralmente os sintomas se manifestam a partir do 3o dia depois da picada do mosquito. Na dengue hemorrágica, o quadro clínico se agrava rapidamente, apresentando sinais de insuficiência circulatória e choque, podendo levar a pessoa à morte em até 24 horas. De acordo com estatísticas do Ministério da Saúde, cerca de 5% das pessoas com dengue hemorrágica morrem. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100 milhões de pessoas se infectem anualmente com a dengue em mais de 100 países de todos os continentes, exceto a Europa. Infelizmente, cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em consequência da dengue. No mesmo momento em que o mundo volta os esforços para a contenção da pandemia do novo coronavírus, o COVID-19 ou vírus Chinês, neste ano de 2020, a transmissão da gripe H1N1 e da dengue também preocupam. Isso porque o momento também é propício para a disseminação dessas doenças. A doença do vírus Chinês foi identificada, pela primeira vez, em Wuhan, na província de Hubei, República Popular da China, em dezembro de 2019, mas o primeiro caso foi reportado no dia 31 de dezembro do mesmo ano. Acredita-se que o vírus tenha uma origem zoonótica. Uma grande variedade de animais pode ter servido como “hospedeira” do vírus, especialmente o morcego, conhecido por ser portador de um número considerável de coronavírus diferentes. Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou o surto uma pandemia. Até 14 de julho de 2020, pelo menos 13.060.239 casos da doença foram confirmados, em pelo menos 188 países e territórios. A questão é que todas essas enfermidades podem apresentar sintomas muito parecidos, como febre, tosse, coriza, dor de cabeça e de garganta, sendo bastante complexo diferenciá-las, o que muitas vezes só é possível por meio de testes sorológicos específicos para cada patologia. Além da H1N1, a dengue também é uma doença que preocupa, neste momento. O Brasil registrou mais de 300 mil casos da doença somente nas primeiras dez semanas de 2020, de acordo com dados do Ministério da Saúde. https://pt.wikipedia.org/wiki/Wuhan https://pt.wikipedia.org/wiki/Hubei https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Popular_da_China https://pt.wikipedia.org/wiki/Zoonose https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Mundial_da_Sa%C3%BAde https://pt.wikipedia.org/wiki/Pandemia 17 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Transmissão A dengue pode ser transmitida por duas espécies de mosquitos, Aedes aegypti e Aedes albopictus, que picam durante o dia e a noite, ao contrário do mosquito comum, que pica durante a noite. Os transmissores de dengue, principalmente o Aedes aegypti, proliferam-se dentro ou nas proximidades de habitações, em recipientes onde se acumula água limpa (vasos de plantas, pneus velhos, cisternas). O seu principal vetor de transmissão é o mosquito Aedes aegypti, que se desenvolve em áreas tropicais e subtropicais. Este mosquito transmite outras doenças, como febre amarela, chikungunya e zika vírus. Achados clínicos Alterações cutâneas incluem diversos achados, como erupção morbiliforme, que pode ser pruriginosa e que gera descamação residual; algumas manifestações hemorrágicas discretas, como epistaxe, petéquias e sangramento gengival. Mais gravemente, apresenta-se o extravasamento capilar de plasma, que é responsável pela hemoconcentração e trombocitopenia. Manifestações cutâneas da dengue hemorrágica incluem lesões hemorrágicas disseminadas, como petéquias e equimoses, mas também instabilidade hemodinâmica com pulso filiforme, pressão arterial convergente, extremidades frias, confusão mental e choque (LUPY, 2007). Na Figura 3, temos exemplificação dos sintomas da dengue clássica, na qual são comuns a manifestação de febre alta, de cansaço, de falta de apetite, de náusea, de vômito, de manchas vermelhas pelo corpo, de dor nas articulações e nos músculos. Figura 3. Sintomas da dengue clássica. Dor nas articulações e músculos Manchas vermelhas na pele Dor de cabeça Náusea e vômito Cansaço e falta de apetite Febre alta Fonte: https://www.mdsaude.com/doencas-infecciosas/sintomas-da-dengue/. 18 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS A melhor forma de se evitar a dengue é combater os focos de acúmulo de água, locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença. Veja mais dicas sobre isso no site a seguir, além do mapa com índice de risco do Brasil e epidemiologia: » http://www.dengue.org.br/mosquito_aedes.html. Tratamento O paracetamol é a medicação de escolha para tratamento da febre e para analgesia. Os anti-inflamatórios não esteroides estão contraindicados no tratamento da dengue. Além disso, deve-se evitar a aspirina no tratamento da dengue clássica, porque ela pode estar associada à síndrome de Reye e exacerbar as manifestações hemorrágicas. A seguir, o Quadro 1 apresenta o tratamento para diferentes casos de dengue, conformeo Guia de Bolso de Doenças Infecciosas e Parasitárias, do Ministério da Saúde. Quadro 1. Tratamento dos casos suspeitos de dengue. Grupo Caracterização Conduta A Paciente com prova do laço negativa e ausência de manifestação hemorrágica. Ausência de sinais de alarme. Hidratação oral. Antitérmicos e analgésicos. B Prova do laço positiva ou manifestação hemorrágica. Espontânea. Ausência de sinais de alarme. Se hemograma normal. Hidratação oral. Antitérmicos e analgésicos. Se hematócrito aumentado em até 10% do valor basal ou na ausência desse. Criança: ≥38% e £ 42% Mulheres: ≥40% e £ 44% Homens: ≥45% e £ 50% Tratamento ambulatorial com hidratação oral vigorosa. Antitérmicos e analgésicos. Se hematócrito aumentado em até 10% do valor basal ou na ausência desse. Criança:>42% Mulheres:> 44% Homens:>50% Hidratação oral supervisionada ou parenteral. Antitérmicos e analgésicos. C Presença de algum sinal de alarme. Manifestação hemorrágica presente ou ausente. Hidratação venosa rápida, em unidade com capacidade para realizar hidratação venosa sob supervisão médica, por um período mínimo de 24h.D Choque. Fonte: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_infecciosas_parasitaria_guia_bolso.pdf. 19 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Diagnóstico O diagnóstico laboratorial da dengue é complexo. É igualmente difícil o diagnóstico clínico e exige uma metodologia capaz de diferenciar as fases clínicas da doença, principalmente a infecção primária, de curta duração (FERREIRA, 2013). A prova do laço deverá ser realizada obrigatoriamente, em todos os casos suspeitos de dengue durante o exame físico. Existem outras técnicas, a fim de diagnosticar a patologia, como a inibição de hemaglutinação e teste de neutralização, porém essas não são utilizadas na rotina. É recomendado o hemograma para todos os pacientes com dengue, em especial para aqueles que se enquadrem nas seguintes situações: lactentes (menores de 2 anos); gestantes; adultos com idade acima de 65 anos com hipertensão arterial ou outras doenças cardiovasculares graves, diabetes mellitus, doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme), doença renal crônica, doença acidopéptica e doenças auto-imunes. Diagnóstico sorológico O método de escolha para o diagnóstico sorológico da dengue é o por ELISA, que detecta anticorpos antidengue a partir da coleta realizada no sexto dia do início dos sintomas. Diagnóstico por detecção de vírus ou antígenos virais O isolamento viral deve ser orientado pela vigilância epidemiológica, com o objetivo de monitorar os sorotipos circulantes. A coleta deve ser feita até o quinto dia após o início dos sintomas, e a detecção de antígenos virais, pela técnica de imuno-histoquímica de tecidos. E também existe o diagnóstico molecular realizado pelo RT-PCR (Real Time – PCR/PCR em tempo real). Diagnóstico laboratorial nos óbitos suspeitos Todo óbito deve ser investigado e deve-se coletar sangue para isolamento viral e/ou sorologia, além de tecidos para estudo anatomopatológico e isolamento viral. O procedimento deve ser feito tão logo seja constatado o óbito, e fragmentos de fígado, pulmão, baço, gânglios, timo e cérebro devem ser retirados. Para isolamento viral, o material deve ser colocado em recipiente estéril, enviado imediatamente para o laboratório e acondicionado em nitrogênio líquido ou gelo seco. 20 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Caso não seja possível o envio imediato para análise da amostra, deverá ser acondicionado em geladeira (4°C), por até seis horas; para o exame histopatológico, o material deve ser colocado em frasco com formalina tamponada, para manter o material conservado, e, assim, transportado em temperatura ambiente. Acesse os links abaixo, que possuem informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado: » http://www.dengue.org.br/. Acesso em: 30 out. 2020. » http://www.ioc.fiocruz.br/pages/informerede/corpo/hotsite/dengue/ arquivos/dengue_manejo_clinico.pdf. Acesso em: 30 out. 2020. Hepatite No Brasil, as hepatites virais mais comuns são as causadas pelos vírus A, B, C e D. Milhões de pessoas, no Brasil, são portadoras dos vírus B ou C e não sabem. Pode ocorrer a evolução da doença, tornando-se crônical, e causar danos mais graves ao fígado, como cirrose e câncer. A evolução das hepatites varia conforme o tipo de vírus. Os vírus A e E apresentam apenas as formas agudas de hepatite. Isto quer dizer que, após uma hepatite A ou E, o indivíduo pode se recuperar completamente, eliminando o vírus de seu organismo. Por outro lado, as hepatites causadas pelos vírus B, C e D podem apresentar tanto formas agudas, quanto crônicas de infecção, sendo considerada crônica quando a doença persiste no organismo por mais de seis meses. Hepatite A (HAV) É uma doença infecciosa aguda, causada pelo vírus da hepatite A, que produz inflamação e necrose do fígado. É também conhecida como “hepatite infecciosa”. Transmissão É fecal-oral, por contato entre indivíduos ou por meio de água ou alimentos contaminados pelo vírus. http://www.dengue.org.br/ http://www.ioc.fiocruz.br/pages/informerede/corpo/hotsite/dengue/arquivos/dengue_manejo_clinico.pdf http://www.ioc.fiocruz.br/pages/informerede/corpo/hotsite/dengue/arquivos/dengue_manejo_clinico.pdf 21 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Achados clínicos Geralmente, é assintomática, no entanto, se houver sintomas, os mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. O fígado parece até uma gelatina. Na maioria dos casos, a HAV é uma doença de caráter benigno e curável. Em menos de 1% dos casos, causa insuficiência hepática aguda grave, que pode ser fulminante. Diagnóstico Os testes sorológicos mais utilizados são os imunoenzimáticos (ELISA), de micropartículas (MEIA), imunofluorescentes (ELFA) e os quimioluminescentes. Na hepatite A, no caso de hepatite aguda, o diagnóstico é baseado na detecção do anti-HAV IgM em indivíduos com apresentação clínica e laboratorial compatíveis. A detecção anti-HAV IgG ou anti-HAV total significa exposição prévia e imunidade ao HAV. Quadro 2. Painel sorológico da hepatite A (+ reagente, - não reagente). Hepatite A Condição Anti-HAV IgM Anti- HAV IgG Aguda + - ou + Imunidade - + Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_infecciosas_parasitaria_guia_bolso.pdf. Hepatite B (HBV) É uma doença infecciosa, também chamada de soro-homóloga. Único vírus da hepatite que tem o material genético composto por DNA, os demais são pelo RNA. Transmissão A hepatite B (VHB) é considerada uma doença sexualmente transmissível, podendo ser transmitida durante a gestação ou no parto. O VHB está presente no sangue e nas secreções, como o esperma e o leite materno. Também pode ser transmitida pelo compartilhamento de material perfurocortante, tais como seringas e agulhas, de higiene pessoal ou de confecção de tatuagem e colocação de piercings, e por transfusão de sangue contaminado (MURRAY, 2006). 22 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Assista ao vídeo e teste seus conhecimentos nas provas ofertadas no site de aperfeiçoamento profissional para o analista clínico: » http://www.telelab.aids.gov.br/index.php/component/k2/item/94- diagnostico-de-hepatites-virais/94-diagnostico-de-hepatites-virais Achados clínicos A evolução de uma hepatite aguda consiste em três fases: prodrômica ou pré-ictérica, com aparecimento de febre, astenia, dores musculares ou articulares e sintomas digestivos. A evolução é de mais ou menos quatro semanas. A segunda fase é a ictérica, em que há um abrandamento dos sintomas digestivos e o surgimento da icterícia, que pode ser de intensidade variável, sendo, às vezes, precedida de colúria.A hipocolia pode surgir por prazos curtos, de sete a dez dias, e, às vezes, é acompanhada de prurido. E a terceira fase é a convalescença, onde desaparece a icterícia e retorna a sensação de bem-estar. A recuperação completa ocorre após algumas semanas, mas a astenia pode persistir por vários meses. É possível que 90 a 95% dos pacientes adultos acometidos possam evoluir para a cura. Quando a reação inflamatória do fígado, nos casos agudos sintomáticos ou assintomáticos, persiste por mais de seis meses, considera-se que a infecção está evoluindo para a forma crônica. (Disponível em: http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/hepatites_abcde.pdf. Acesso em: 30 out. 2020). Tratamento A medicação é feita com os análogos dos nucleósidos, como a lamivudina e o adefovir, que têm um efeito antivírico potente, mas que necessitam de uma administração mais prolongada do que o Peginterferon Alfa-2ª, para obterem taxas de resposta semelhantes. Tenofovir e entecavir O Interferon consiste em uma injeção subcutânea, de agulha superfina, que deve ser aplicado uma vez por semana. A Ribavirina é uma cartela de cápsulas, e a indicação é de aproximadamente 4 comprimidos por dia. A dose varia de pessoa a pessoa, de acordo com o peso e a resistência aos efeitos colaterais que cada um apresenta. Há uma Portaria para Hepatite B, que aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para hepatite B crônica e coinfecções, no âmbito do Sistema http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/hepatites_abcde.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/hepatites_abcde.pdf 23 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Único de Saúde (SUS). É a Portaria n. 42, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, de 7 de dezembro de 2016. Dentre as inovações oferecidas pelo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas, estão a substituição dos medicamentos alfainterferona pela alfapeguinterferona, aos portadores de hepatite B, e de lamivudina e adefovir por tenofovir e entecavir. A substituição da lamivudina é explicada por este medicamento apresentar reduzida barreira genética e por propiciar o aparecimento de resistência viral, que induz a casos de reativação da doença. A alfainterforna acarreta problemas de adesão ao tratamento, tanto em virtude de efeitos colaterais quanto de dificuldades na administração do medicamento, principalmente nas localidades endêmicas com difícil acesso aos serviços de saúde. Já o adefovir apresenta efeitos colaterais, devido à alteração da função renal, e, ainda, a indução da resistência por mutação do vírus da hepatite B. Diagnóstico Nas hepatites virais agudas, os marcadores bioquímicos apresentam relação AST/ALT aumentada de 8 a 50 vezes em relação ao limite superior de valores de referência, fosfatase alcalina aumentada 3 vezes em relação ao limite superior de referência e o tempo de protrombina inferior a 15 segundos. Os marcadores sorológicos do HBV possuem íntima relação com as partes dos vírus e expressam diferentes momentos da doença. As técnicas imunológicas revelam-se fundamentais não apenas para o diagnóstico, mas também se mostram muito úteis no seguimento da infecção viral, na avaliação do estado clínico do paciente e na monitorização da terapêutica específica. O primeiro marcador a ser detectado é o DNA viral, que pode aparecer até 3 semanas antes do aparecimento do HBsAg, sendo o período da janela terapêutica. O Anti-HBc aparece dias depois do HBsAg. Muitos laboratórios utilizam o teste rápido para detectar a presença do Antígeno da Austrália (A), ou HbsAg, que é o primeiro marcador da doença, detectável no soro antes do aparecimento dos sintomas e que aparece em altos níveis na fase aguda da doença. A sua presença no sangue pode vir antes dos sintomas e de alterações de exames do fígado. Se o resultado for positivo, o diagnóstico deverá ser confirmado com a realização de exames complementares, para pesquisa de outros marcadores, que compreendem a detecção direta da carga viral, por meio de um teste de biologia molecular que identifica a presença do DNA viral (HBV-DNA). http://www.aids.gov.br/pt-br/legislacao/portaria-no-42-de-7-de-dezembro-de-2016 24 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS O teste rápido tem uma sensibilidade analítica menor que a dos imunoensaios de laboratório. Tal fato é influenciado diretamente pela janela diagnóstica desses testes, que pode ser maior do que é observada nos imunoensaios laboratoriais, implicando a não indicação do seu uso como testes de triagem em bancos de sangue. No entanto, no Brasil, a sua utilização em populações de risco na busca de infecções ativas tem demonstrado elevada sensibilidade, além de oferecer as vantagens da simplicidade de execução e resultados imediatos. O Ministério da Saúde indica o uso do teste rápido em redes de serviços de saúde sem infraestrutura laboratorial ou localizadas em regiões de difícil acesso, como também para Programas do Ministério da Saúde, tais como Rede Cegonha, Programa de Saúde da Família, Consultório na Rua, Quero Fazer, dentre outros, além de ser utilizado no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e Unidade de Testagem Móvel (UTM). Esse tipo de teste também é utilizado nos segmentos populacionais flutuantes e em populações vulneráveis, tais como homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, pessoas que fazem uso de drogas, pessoas privadas de liberdade, indivíduos em situação de rua, indígenas, quilombolas e indivíduos nascidos em áreas endêmicas. No teste de biologia molecular, a reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real permite o diagnóstico e a quantificação dos vírus que causam hepatite por meio da detecção da síntese do amplicon (material genético amplificado) durante a reação de PCR, utilizando uma sonda fluorescente ligada a um neutralizador e anelada à sequência-alvo, geralmente o Sybr Green. Durante cada reação de PCR, a DNA polimerase, mediante sua atividade nuclease, libera o fluorocromo repórter, que, então, emitirá fluorescência. A quantidade de fluorescência liberada durante o ciclo de amplificação será detectada pelo sistema detector e interpretada por um software, que a quantificará. Essa quantidade será proporcional à quantidade de amplicons gerados a cada ciclo de PCR e, consequentemente, à quantidade inicial de ácido nucleico. Perfil sorológico da hepatite B HBV DNA (DNA do vírus da hepatite B): » HBsAg (Antígeno de superfície do vírus da hepatite B): é o primeiro marcador que aparece no curso da infecção pelo HBV, ele declina a níveis indetectáveis em até 6 meses. » HBeAg (Antígeno “e” do vírus da hepatite B): é um marcador de replicação viral. Sua positividade indica alta infecciosidade. 25 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I » Anti-HBe (Anticorpo contra o antígeno “e” do vírus da hepatite B): surge após o desaparecimento do HBeAg, indicando o fim da fase replicativa. » Anti-HBcT (Anticorpos totais contra o corion do vírus da hepatite B): é um marcador de hepatite B aguda. » Anti-HBcM (Anticorpos IgM contra o corion do vírus da Hepatite B): é um marcador de Infecção recente, encontrado no soro em até 8 meses após a infecção. Também é um marcador de fase aguda. » Anti-HBcG (Anticorpos IgG contra o corion do vírus da Hepatite B): é o marcador de longa duração, presente nas infecções agudas e crônicas. Representa contato prévio com o vírus. » Anti-HBs (Anticorpo contra o antígeno de superfície do vírus da hepatite B): é o único anticorpo que confere imunidade ao HBV. Está presente no soro após o desaparecimento do HBsAg, sendo indicador de cura e imunidade. Está presente isoladamente em pessoas vacinadas (MURRAY, 2006). Quadro 3. Painel sorológico da hepatite B (+ reagente, - não reagente). Interpretação dos Resultados Anti-HBcT Anti-HBcM Anti-HBcG HBsAg Anti-HBs HBeAg Anti-HBe HBV DNA Incubação- - - + - + - + Fase aguda + + -ou+ + - + - + Fase crônica + - + + - -ou+ - -ou+ Portador + - + + - - + - Recuperação + - + - + - + - Imunização - - - - + - - - Infecção pregressa + - + - + - -ou+ - Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_infecciosas_parasitaria_guia_bolso.pdf. Hepatite C (HCV) O vírus C, assim como o vírus causador da hepatite B, está presente no sangue. Estima-se que 3% da população mundial esteja infectada pelo vírus da Hepatite C. Em torno de 85% das pessoas infectadas pelo vírus da Hepatite C evoluem para doença crônica, sendo que 25% da população total terá cirrose. Esse tipo de hepatite aumenta o risco de câncer do fígado e ainda não existe vacina contra ela. 26 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Transmissão A transmissão pode se dar por transfusão de sangue; por compartilhamento de material para uso de drogas; por material de higiene pessoal (objetos que furam ou cortam) ou para confecção de tatuagem e colocação de piercings; na gravidez, quando a mãe infectada passa para o filho; em relações sexuais sem proteção com uma pessoa infectada (sendo esta a forma mais rara de infecção). Achados clínicos O surgimento de sintomas em pessoas com Hepatite C aguda é muito raro. Entretanto, quando aparecem, incluem cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. Quando a reação inflamatória persiste, sem melhora, por mais de seis meses, comum em 80% dos casos, os profissionais de saúde consideram que a infecção evoluiu para a forma crônica. Tratamento As possibilidades de tratamento são por meio do uso de Interferon, de Ribavirina, de Glecaprevir com Pibrentasvir e de Velpatasvir com Sofosbuvir. O Interferon consiste em uma injeção subcutânea, de agulha superfina, que deve ser aplicado uma vez por semana. A Ribavirina é uma cartela de cápsulas e a indicação é de aproximadamente 4 comprimidos por dia. A dose varia de pessoa a pessoa, de acordo com o peso e resistência aos efeitos colaterais que cada um apresenta. O Ministério da Saúde publicou a última atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C e Coinfecções em 2018. Esse documento foi aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), por meio da Portaria SCTIE/MS n. 84, de 19 de dezembro de 2018. Entre as principais alterações do documento, está a inclusão de dois esquemas terapêuticos: o glecaprevir em associação com pibrentasvir; e velpatasvir em associação com sofosbuvir, ambos com o uso aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A indicação dessas duas novas opções terapêuticas se junta ao esquema que compreende a associação de sofosbuvir/daclatasvir, pangenotípico já ofertado desde 2015. Além dessas opções, o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas manteve 27 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I as indicações para ledipasvir/sofosbuvir (genótipo 1), elbasvir/pibrentasvir (genótipos 1 e 4), ribavirina e alfapeginterferona (para algumas situações pediátricas). Uma das principais medidas adotadas pelo Brasil foi a universalização do tratamento, que passou a ser ofertado pelo SUS a todas as pessoas diagnosticadas com Hepatite C, independentemente de dano no fígado. O Ministério da Saúde publicou a última atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C e Coinfecções em 2018. Esse documento foi aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), por meio da Portaria SCTIE/MS n. 84, de 19 de dezembro de 2018. Entre as principais alterações do documento, está a inclusão de dois esquemas terapêuticos: o glecaprevir em associação com pibrentasvir; e velpatasvir em associação com sofosbuvir, ambos com o uso aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Em 2020 foi publicada uma nova Portaria, a Portaria n. 1537, de 12 de junho de 2020, do Ministério da Saúde, que transfere, para seu componente estratégico do tratamento medicamentoso selecionado pelo órgão responsável, a responsabilidade de aquisição e distribuição, a estados e municípios, dos medicamentos para o tratamento da Hepatite C no Brasil. Essa nova Portaria altera a Portaria de Consolidação n. 5, de 28/09/2017, para dispor sobre o Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais, e a Portaria de Consolidação n. 6, de 28/09/2017, para incluir os medicamentos do Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais no Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica. Diagnóstico A Hepatite C é triada, obrigatoriamente, no sangue dos doadores, conforme a RDC no 34/2014, da ANVISA. Realiza-se dois testes em paralelo, a detecção de anti-HCV e a detecção de ácido nucleico viral por biologia molecular. Os primeiros exames a serem realizados são análises sanguíneas, para verificar a existência de anticorpos, embora a sua presença não signifique que o vírus permaneça no organismo. Os anticorpos anti-VHC podem apenas corresponder a uma hepatite antiga e curada (Quadro 3), pelo que é necessário recorrer a testes mais específicos para avaliar se a infecção está ativa. Os testes de determinação do HCV-RNA permitem identificar se há presença do HCV no sangue, o que sucede após o vírus ter se multiplicado nas células do fígado. 28 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS O teste sorológico anti-HCV indica que o indivíduo teve contato com o vírus C. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que o diagnóstico da infecção ativa seja confirmado com o teste molecular quantitativo de carga viral. Quadro 4. Painel sorológico da hepatite C (+ reagente, - não reagente). Hepatite C Condição Anti-HCV HCV RNA Aguda + + Crônica + - ou + Fonte: http://www.aids.gov.br/sites/default/files/ABCDE_guia_bolso_menor.pdf. No laudo, a amostra com resultado negativo, não reagente, no imunoensaio para teste do anti-HCV, será definida como: Amostra não reagente para o anticorpo contra o HCV. O laudo deverá ser liberado com a seguinte ressalva: “Em caso de suspeita de infecção pelo HCV, uma nova amostra deverá ser coletada 30 dias após a data da coleta desta amostra para a realização de um novo teste”. A amostra com resultado reagente, positiva, no imunoensaio para detectar o anti-HCV, será definida como: “Amostra reagente para o anticorpo contra o HCV”. Quando realizado o teste por biologia molecular, e este der resultado negativo, ou seja, a amostra com carga viral indetectável, deverá ser liberado o laudo como: “Amostra indetectável para HCV-RNA”. O laudo deverá ser liberado com a seguinte observação: “Em caso de suspeita de infecção pelo HCV, uma nova amostra deverá ser coletada 30 dias após a data da coleta desta amostra para a realização de um novo teste” (FERREIRA, 2001). A amostra com carga viral detectável, com PCR positivo e quantitativo, deverá ser liberada como: “Amostra com HCV-RNA detectável”. O laudo com resultado reagente para o anti-HCV e com carga viral detectável deverá ser liberado com a seguinte observação: “A presença do anti-HCV e do HCV-RNA é indicativa de infecção ativa pelo HCV”. Além das informações citadas anteriormente, os laudos devem conter os resultados de todos os testes realizados, incluindo valores de cut-off, carga viral e a unidade de medição do método utilizado (FERREIRA, 2001). Em indivíduos menores de 18 meses, podem haver anticorpos maternos e, por isso, é indicada a detecção direta do vírus para o diagnóstico. Dessa forma, não podem ser aplicados testes sorológicos, apenas métodos por biologia molecular a partir do RNA do vírus, utilizando a técnica quantitativa da carga viral pelo PCR quantitativo em Tempo Real. http://www.aids.gov.br/sites/default/files/ABCDE_guia_bolso_menor.pdf 29 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Quadro 5. Resumo das HepatitesA, B e C. Hepatite A Hepatite B Hepatite C Como se pega? Contágio fecal-oral. Pelo contato direto com água e alimentos contaminados. O contágio ocorre por secreções e pelo sangue. Relações sexuais sem preservativo, agulhas, seringas e materiais de manicure contaminados. O contágio se dá pelo sangue e/ou por secreções. Tem prevenção? Lavar as mãos após ir ao banheiro, lavar alimentos, tomar água fervida e filtrada, saneamento básico. Usar preservativo nas relações sexuais, não compartilhar material de manicure, nem agulhas e seringas. Recomendável a vacinação. Semelhante a Hepatite B, no entanto não há vacina. Quais os sintomas? Mal-estar, indisposição, dores no corpo, cabeça, barriga, náusea, vômito, febre, icterícia. Pode ser confundida com uma gripe leve. Os sintomas nem sempre aparecem. Pode ter a pele e os olhos amarelos, enjoos, febre e dor na região do fígado, falta de apetite, urina escura, fezes claras. Casos mais graves podem evoluir para cirrose, câncer e morte. Pele e olhos amarelados, enjoos, mal-estar, dores no fígado, falta de apetite, urina escura, fezes claras. Os casos mais graves evoluem para câncer e morte. Qual o tratamento? Repouso e descanso. Medicamento conforme o sintoma do paciente. Contínuo, sem prazo para terminar. Remédios e injeções (Interferon) não curam, mas conseguem controlar a multiplicação do vírus. A medicação deve ser tomada com acompanhamento médico, porque provoca vários efeitos colaterais. Mais complicado e agressivo que o da Hepatite B. Precisa de injeção e comprimido. Às vezes o paciente precisa repetir o tratamento, que dura em média um ano. Qual o custo do tratamento? Baixo Alto, em média em um ano se gasta 10 mil reais. Altíssimo, em média 62,4 mil reais por ano. Fonte: Secretária Estadual da Saúde e hepatologista Marcelo Nooara, disponível em: http://www.savk.org.br/fique_ hepatite.htm#1. Hepatite D (HDV) O vírus da Hepatite D, ou delta, é um dos menores vírus RNA animais. Tão pequeno que é incapaz de produzir seu próprio envelope proteico e de infectar uma pessoa. Esse vírus depende da presença do vírus da hepatite do tipo B para infectar uma pessoa. Portanto, na maioria dos casos, a Hepatite D ocorre juntamente com o vírus da hepatite B, ambas por transmissão parenteral. Transmissão Ocorre da mesma forma que para o vírus B. Achados clínicos Da mesma forma que as outras hepatites, a do tipo D pode não apresentar sintomas ou apresentar sinais discretos da doença. Quando ocorrem, os sintomas mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômito, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. Nos casos de infecção pelo vírus D em portadores do vírus B, o fígado pode sofrer danos severos, como cirrose ou, até mesmo, formas fulminantes de hepatite. 30 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Pelo caráter grave dessa forma de hepatite, o diagnóstico deve ser feito o mais precocemente possível. É a principal causa de cirrose hepática em crianças e adultos jovens do Norte do Brasil. Tratamento Até agora, ainda não surgiu qualquer tratamento totalmente eficaz, apenas o Interferon alfa tem proporcionado alguns resultados positivos: somente um em cada dois casos tem uma redução significativa da multiplicação do vírus, no entanto, geralmente a doença recidiva quando se interrompe o tratamento (Disponível em: http://www.roche.pt/hepatites/hepatited/tratamento.cfm. Acesso em: 28 nov. 2015). Diagnóstico A identificação do vírus pode ser feita por sorologia anti-HDV, pela identificação do antígeno HDV no soro ou na biópsia hepática (pela imunohistoquímica) ou por PCR. Anticorpos contra o vírus da Hepatite D estão demonstrados no Quadro 6. No caso de se tratar de uma coinfecção, o diagnóstico é feito com base no aparecimento de antígenos e de anticorpos específicos no sangue, durante o período de incubação ou de doença. Os anticorpos anti-HDV se desenvolvem tarde, na fase aguda, e normalmente diminuem após a infecção. Na superinfecção, o HBV já se encontra no organismo antes da fase aguda, surgem anticorpos contra o HDV das classes IgM e IgG, sendo que este último persiste por tempo indefinido. Quadro 6. Painel sorológico da hepatite D (+ reagente, - não reagente). Hepatite D Resultados Condição Anti-HDV Ausência de infecção - Infecção + Fonte: http://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22181/mod_resource/content/1/Hepatites%20-%20Manual%20 Aula%202.pdf. http://www.roche.pt/hepatites/hepatited/tratamento.cfm http://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22181/mod_resource/content/1/Hepatites%20-%20Manual%20Aula%202.pdf http://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22181/mod_resource/content/1/Hepatites%20-%20Manual%20Aula%202.pdf 31 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Hepatite E (HEV) De ocorrência rara no Brasil e comum na Ásia e África, a hepatite do tipo E é uma doença infecciosa viral, causada pelo vírus HEV. Transmissão A transmissão é fecal-oral, por contato entre indivíduos ou por meio de água ou alimentos contaminados pelo vírus (LEVINSON, 2010). Achados clínicos Pode ser assintomática. Os sintomas mais comuns são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. Diagnóstico É realizado por exame de sangue, no qual se procura por anticorpos anti-HEV. Na maioria dos casos, a doença não requer tratamento. É proibido o consumo de bebidas alcoólicas, recomendado repouso e dieta pobre em gorduras. A internação só é indicada em pacientes com quadro clínico mais grave, principalmente mulheres grávidas. A interpretação do exame é igual à Hepatite A. Diagnóstico avançados Diagnósticos imunológicos predominam, tendo os testes de 2a e 3a gerações, que estão reunidos resumidamente no Quadro 7, e diferentes formatos do teste imunocromatográfico, na Figura 5, nos quais, por capilaridade, o tampão contendo a amostra vai se dissipando na fase sólida do suporte e, dessa forma, encontrará o anticorpo (ou antígeno, dependendo se o teste é direto ou indireto) que está fixado na posição do controle positivo e na posição da amostra. Caso o teste seja para pesquisa de anticorpos, haverá antígenos imobilizados (usualmente proteínas sintéticas) na membrana de nitrocelulose, para a captura dos anticorpos presentes na amostra. Caso a pesquisa seja para antígenos, haverá anticorpos imobilizados para a captura dos antígenos presentes na amostra. Quando ocorre esta ligação do antígeno com o seu anticorpo, pode se observar a formação de uma linha rosa, precipitação desse complexo. O padrão de reatividade apresentado por amostras fracamente reagentes é muito similar ao apresentado por amostras não reagentes, por isso existe uma dificuldade na interpretação do teste. 32 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Para ter acesso a particularidades de cada teste, acesse ao manual: http://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22181/mod_resource/content/1/ Hepatites%20-%20Manual%20Aula%202.pdf. Acesso em: 7 abr. 2020. Existem, também, testes moleculares, como o PCR e PCR em tempo real, para detecção do vírus da hepatite. Quadro 7. Diagnósticos laboratoriais existentes no mercado para diagnosticar os diferentes tipos de hepatites. HAV Anti-HAV IgM (diagnóstico da infecção aguda) e Anti-HAV IgG (estudos epidemiológicos). Métodos: ELISA e Quimioluminescência. HBV Testes sorológicos (superfície viral: HBsAg e anti-HBs; core viral anti-HBc IgM ou IgG; antígeno “e” HBeAg e anti HBe). Métodos: Biologia Molecular – Hibridação (b-DNA) e PCR (mais sensível). HCV Testes sorológicos de triagem: ELISA e Quimioluminescência. Testes sorológicosconfirmatório: Immunoblot. HDV HDAg e Anti- HDV IgM. Fonte: Ferreira, 2001. Figura 4. Exemplos de testes rápidos (TR), (1a) Imunocromatografia de fluxo lateral; (1b) Imunocromatografia de dupla migração –DPP; (1c) imunoconcentração; (1d) fase sólida. Fonte: http://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22181/mod_resource/content/1/Hepatites%20-%20Manual%20 Aula%202.pdf. Como funcionam os testes da figura 4? » A amostra é colocada no local indicado, na membrana (área A). » A solução tampão é colocada sobre a amostra. » Os anticorpos da amostra fluem lateralmente pela membrana, passando pela área I, onde se inicia a ligação com o conjugado e prosseguem em direção à área de teste (T). http://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22181/mod_resource/content/1/Hepatites%20-%20Manual%20Aula%202.pdf http://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/22181/mod_resource/content/1/Hepatites%20-%20Manual%20Aula%202.pdf 33 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I » Na área T, o complexo anticorpo-conjugado liga-se aos antígenos do agente infeccioso investigado, formando uma linha (ou banda) colorida. » O conjugado não ligado ao anticorpo e o excesso do complexo imune continuam a migração, ao longo da membrana de nitrocelulose, em direção à área C, onde são capturados por anticorpos anti-imunoglobulina, formando outra linha (ou banda) colorida. Como se interpreta esse tipo de teste? » Reagente: quando houver formação de duas linhas coloridas – uma, na área de teste (T) e outra, na área de controle (C). » Não reagente: quando houver formação de uma linha colorida, somente na área de controle (C). » Inválido: quando não houver linha colorida, na área de controle (C). Obs.: Para ser considerado válido, um teste rápido deve sempre apresentar a linha controle visível, ao final da reação, independentemente do resultado da amostra. 34 CAPÍTULO 2 HIV, HPV e HTLV HIV HIV é o vírus da imunodeficiência humana, retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae, e tem como características o período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença, infecção dos linfócitos e supressão do sistema imune. Os infectados pelo (HIV) sofrem uma destruição exacerbada dos linfócitos T CD4+, uma das principais células-alvo do vírus, por isso a contagem de linfócitos T CD4+ é um importante marcador dessa imunodeficiência, sendo utilizada tanto para estimar o prognóstico como para avaliar a indicação de início de terapia antirretroviral (Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt- br. Acesso em: 15 out 2020). Transmissão Ter o HIV não é a mesma coisa que ter Aids, pois existem muitos soropositivos que vivem anos sem apresentarem sintomas e sem desenvolverem a doença. Mas, podem transmitir o vírus a outras pessoas por relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento seringas contaminadas ou de mãe para filho, durante a gravidez e a amamentação. Tratamento Antiretrovirais: » Inibidores Nucleosídeos da Transcriptase Reversa: Abacavir, Didanosina, Lamivudina, Tenofovir e Ziduvidina. » Inibidores Não Nucleosídeos da Transcriptase Reversa: Efavirenz, Nevirapina e Etravirina. » Inibidores de Protease: Atazanavir, Darunavir, Fosamprenavir, Lopinavir, Nelfinavir, Ritonavir, Saquinavir e Tipranavir. http://www.aids.gov.br/pt-br http://www.aids.gov.br/pt-br 35 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I » Inibidores de fusão: Enfuvirtida. » Inibidores da Integrase: Dolutegravir e Raltegravir. » Inibidores de Entrada: Maraviroc. » Combinações de medicamentos: Lamiduvina associado com Zidovudina; Lamiduvina associado com Tenofovir e Efavirenz. Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente, pelo SUS (Sistema Único de Saúde), todos os medicamentos antirretrovirais e, desde 2013, o SUS garante tratamento para todas as pessoas vivendo com HIV. Atualmente, existem 21 medicamentos, em 37 apresentações farmacêuticas. Aderir ao tratamento para as pessoas que possuem o HIV é muito difícil pelos efeitos colaterais da medicação e a disciplina de seguir a prescrição medicamentosa. Sendo necessário seguir à risca, pois quando o paciente não segue todas as recomendações médicas, o vírus pode ficar resistente aos medicamentos antirretrovirais e isso diminui as alternativas de tratamento. As diretrizes do tratamento para HIV/Aids são constantemente revisadas, sendo disponibilizadas no endereço eletrônico: http://www.aids.gov.br/pt-br/ profissionais-de-saude/hiv/protocolos-clinicos-e-manuais. Acesso em: 20 out. 2010. Pela primeira vez na história, pesquisadores afirmam ter conseguido eliminar o vírus da imunodeficiência humana (HIV ) de um paciente, por meio de medicamentos. A pesquisa foi realizada por brasileiros, pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenada pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz. Ela foi desenvolvida pelo acompanhamento de um homem de 34 anos, que foi diagnosticado com o vírus em 2012, e, após sete anos de tratamento, deixou de apresentar o vírus no organismo, em março de 2019. Esse estudo avaliou um grupo de pacientes, e os que apresentaram uma melhora nos resultados foram tratados com dois antirretrovirais a mais que o coquetel antiaids padrão, o Dolutegravir e o Maraviroc, além de um antirreumático (Auranofina) e da forma ativa da vitamina B3 (nicotinamida). Acesse a notícia na íntegra: https://www.jornalopcao.com.br/reportagens/ pesquisa-brasileira-livra-paciente-de-hiv-e-se-aproxima-da-cura-da- aids-267515/. 36 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Achados clínicos Candidose do esôfago; citomegalovirose; herpes simples mucocutânea; leucoencefalopatia multifocal progressiva; pneumonia Pneumociystis carinii; toxoplasmose cerebral; micobacteriose disseminada. Diagnóstico As técnicas utilizadas para detectar o vírus HIV são a determinação sorológica de anticorpos circulantes, a detecção e a quantificação de antígenos virais (Agp24), a detecção e a quantificação de genoma viral. Os testes moleculares melhoraram sensivelmente o monitoramento da doença, avaliando não só o prognóstico, como também a resposta à terapia antirretroviral, com as técnicas de amplificação genômica ou de sinais, empregando as tecnologias RT-PCR, nucleic acid sequence-based amplification (NASBA) e branched-DNA (b-DNA), que permitem avaliações quantitativas do RNA viral no plasma, mesmo no início da infecção. Para crianças com idade inferior a 15 meses, nascidas de mães soropositivas, é realizada a determinação qualitativa do cDNA viral, não podendo realizar técnicas sorológicas devido à permanência de anticorpos maternos, que ocasionariam um resultado falso-positivo. Também é recomendada a detecção do cDNA viral em casos de infecção recente, com período inferior a 2 a 3 meses, nos quais não tenham havido, ainda, a soro conversão, e em casos de indícios com resultados de testes sorológicos duvidosos ou indeterminados (FERREIRA, 2013). A partir de 18 meses de vida, as amostras de soro ou plasma devem ser submetidas, inicialmente, a um imunoensaio (ELISA), na etapa denominada triagem sorológica. As amostras com resultados reagentes ou inconclusivos, nesta primeira etapa, deverão ser submetidas a uma etapa de confirmação sorológica, composta de um segundo imunoensaio (diferente do primeiro) e testes confirmatórios, tais como a Imunofluorescência indireta, Imunoblot ou Western blot, de acordo com a Portaria no 59/GM/MS, de 28 de janeiro de 2003, e a Portaria SVS/MS no 34, de julho de 2005. O diagnóstico será confirmado por meio da realização de um teste de triagem para detecção de anti-HIV-1 e anti-HIV-2 e, pelo menos, um teste confirmatório. Em caso de resultado positivo, uma nova amostra deverá ser coletada, para confirmar a positividade da primeira amostra. 37 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Em casos especiais, na impossibilidade de realização de diagnóstico laboratorial convencional, este diagnóstico também pode ser realizado utilizando-se testes rápidos. Nessa situação, são usados dois testes em paralelo, com metodologiasdiferentes. As amostras que apresentarem resultados positivos nos dois testes rápidos terão seu resultado definido como “amostra positiva para o HIV”. Deverá ser realizado um terceiro teste rápido. Quando o terceiro teste apresentar resultado positivo, a amostra será considerada “positiva para o HIV”. A positividade de dois testes rápidos, usados conforme o fluxograma da Portaria no 151/SVS/MS, de 16/10/2009, fornece o diagnóstico de HIV, não sendo necessário realizar o confirmatório. Consideram-se não infectados os indivíduos que apresentarem: » uma amostra não reagente em testes de detecção para anticorpos anti-HIV; » uma amostra negativa em dois testes rápidos. Em caso de resultados discordantes nos dois primeiros ensaios, realiza-se um terceiro teste rápido. Quando este terceiro teste resultar negativo, considera-se a amostra “negativa para o HIV”. Diagnóstico avançado Além de amostras de sangue periférico e de sangue total, para detectar o vírus do HIV, existem, atualmente, no mercado, testes rápidos para amostras de fluído oral, como pode ser visualizado na Figura 5, na qual é apresentado o kit de diagnóstico, com um cronômetro para marcar o tempo para leitura do teste rápido. Para realização do teste, é necessário prestar sempre atenção no prazo de validade do kit e escrever, no suporte e no frasco, o nome da pessoa a ser testada, a fim de organizar o fluxo da rotina laboratorial e evitar troca de amostras. O coletor deve ficar acima dos dentes e contra as gengivas do paciente, dessa forma, deve ser passado, com ligeira fricção, tanto na gengiva inferior como na superior. Insira o coletor no frasco identificado e quebre a haste, feche-o e agite-o. Em seguida, coloque 2 gotas no poço 1. Após 5 minutos, coloque 4 gotas no poço 2. E, então, marque os 10 minutos, passado o tempo, faça a leitura do teste rápido. Se houver apenas a linha rosa do controle, a amostra é não reagente, se houver tanto a linha rosa do teste quanto a do controle, a amostra é reagente. E, se não aparecer a linha reativa da área do controle, o teste deverá ser repetido, pois, dessa forma, encontra-se invalidado. 38 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Figura 5. Teste rápido que detecta os anticorpos contra o HIV no fluido oral. Fonte: http://telelab.aids.gov.br/moodle/pluginfile.php/29039/mod_resource/content/1/cartela-dpp-hiv-fluido-oral.pdf. Métodos comerciais de amplificação e detecção por RT-PCR: » AmpliPrep/COBAS TaqMan HIV-1Test. » NucliSens EasyQ HIV-1 (bioMerieux). » RealTime HIV-1 Assay (Abbott). HPV O HPV é o Papilomavírus Humano, é um vírus de DNA e está dividido em três grupos: » HPV associado a verrugas cutâneas (gamapapilomavírus); » HPV associado a mucosas anogenital (alfapapilomavírus), Figuras 6 A e B; e » HPV associado a lesões cutâneas de portadores de epidermodisplasia verruciforme, uma doença rara de base hereditária (betapapilomavírus), observado na figura 6 C. Figura 6. A – Condiloma acuminata; B – Condimona perianal; C – verrugas espalhadas por todo corpo, principalmente nas extremidades. Fonte: https: http://drgustavomelo.com.br/verrugas-no-anus-condilomas-e-hpv/; http://blogmelinterativo.blogspot.com. br/2011/10/hpv-no-homem.html. https://www.google.com.br/search?q=HPV&rlz=1C1AVNC_enBR568BR569&es_sm=122&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAcQ_AUoAWoVChMI4NWHiqJyQIVCReQCh0H0AFm&biw=1280&bih=675#imgrc=oPmOAHnb_ZqruM%3A>;<http://blogmelinterativo.blogspot.com.br/2011/10/hpv-no-homem.html https://www.google.com.br/search?q=HPV&rlz=1C1AVNC_enBR568BR569&es_sm=122&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAcQ_AUoAWoVChMI4NWHiqJyQIVCReQCh0H0AFm&biw=1280&bih=675#imgrc=oPmOAHnb_ZqruM%3A>;<http://blogmelinterativo.blogspot.com.br/2011/10/hpv-no-homem.html 39 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Diagnóstico Atualmente, existem mais de 100 tipos de HPV, alguns deles podendo causar câncer, principalmente no colo do útero e do ânus. Entre esses associados a mucosas anogenital (alfapapilomavírus), destacam-se o HPV 16 e 18, responsáveis por cerca de 70% de todos os tumores dessas localizações anatômicas no mundo (FERREIRA, 2013). Transmissão A principal via de transmissão do HPV é através do contato sexual. Esse vírus infecta a pele e mucosas dos seres humanos, tais como vulva, vagina, colo de útero e pênis. Também é possível a transmissão do HPV de mãe para filho, no momento do parto. No entanto, somente um pequeno número de crianças desenvolve papilomatose respiratória juvenil. Achados clínicos A infecção pelo HPV normalmente causa verrugas de tamanhos variáveis. No homem, é mais comum na cabeça do pênis (glande) e na região do ânus. Na mulher, os sintomas mais comuns do HPV surgem na vagina, vulva, região do ânus e colo do útero. As lesões do HPV também podem aparecer na boca e na garganta. Tanto o homem quanto a mulher podem estar infectados pelo vírus sem apresentar sintomas. Tratamento O tratamento será remoção mecânica da lesão, que poderá ser feito a laser, por eletrocauterização ou com ácido tricloroacético de 80% a 90%. No mercado existem os medicamentos Efurix e Ixium. O primeiro interfere na síntese do DNA (ácido desoxirribonucleico) e, em menor extensão, na formação do RNA (ácido ribonucleico), logo, o vírus é inibido; quanto ao segundo medicamento, não está esclarecido seu mecanismo de ação, mas ele age como um imunomodulador do ser humano. Também foram desenvolvidas duas vacinas para prevenir a infecção por HPV, a vacina bivalente e a vacina quadrivalente. Esta previne contra quatro tipos de HPV: o 16 e 18, presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero, e o 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas genitais. Já a bivalente é específica para os subtipos de HPV 16 e 18. 40 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Diagnóstico » A presença de verrugas ano-genitais. » Exame citopatológico (Papanicolau), no qual se faz uma coleta de células esfoliadas da mucosa uterina próxima à cérvice, fazendo, então, o esfregaço sobre a lâmina, que será corada e analisada ao microscópio, a fim de detectar as características patognomônicas, como coilocitose, binucleação e hiperceratose (FERREIRA, 2001). » Colposcopia e peniscopia: reagentes químicos para contraste com o ácido acético e com Iodo (teste de Schiller), que não detecta o vírus, mas sim as alterações celulares. » Exame histológico. » Testes moleculares. Diagnóstico avançado O teste de amplificação de sinal é baseado na tecnologia de ácidos nucleicos recombinantes, porém não há amplificação do material genético viral, mas sim do sinal provocado pela presença do DNA de HPV nas células esfoliadas da cérvice. O primeiro teste, no Brasil, foi da captura híbrida. Trata-se de um teste que utiliza um método de hibridização do DNA viral, provindo da amostra com sondas sintéticas de RNA complementar (MURRAY, 2006). O teste com base em PCR é baseado na homologia existente no gene L1 (450 pb), entre os diferentes tipos de HPV. No mercado temos o kit Linear Array HPV Genotyping Test®. O teste Arrays se baseia numa sonda aderida a um suporte sólido, na qual se hibridiza ao gene E1, emite fluorescência, que será detectada por um leitor e interpretada por um software, PapilloCheck®. O RNA mensageiro viral, que codifica duas oncoproteínas E6 e E7, Proofer® e o Aptima®. E, por fim, a Hibridização in situ se baseia na hibridização de sondas HPV específicas, marcadas com compostos radioativos ou calorimétricos, sobre um corte histológico de material fixado e parafinado (FERREIRA, 2013). 41 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I HTLV-I e HTLV-II Existem dois tipos desse Vírus T linfotrópico humano: o HTLV-I e o HTLV-II. O primeiro está associado a doenças graves neurológicas degenerativas e hematológicas, como a leucemia e o linfoma de células T humanas do adulto. A infecção pelo HTLV-II não está claramenteassociada com qualquer outra doença. O vírus foi, primeiramente, isolado de dois pacientes com leucemia de células pilosas, mas nenhuma evidência de infecção de HTLV-II foi encontrada em outros 21 pacientes adicionais com essa mesma doença. Transmissão A transmissão desse vírus é por relações sexuais sem proteção com uma pessoa infectada, compartilhamento de seringas e agulhas durante o uso de drogas e da mãe infectada para o recém-nascido (também chamado de transmissão vertical), principalmente pelo aleitamento materno. Achados clínicos A leucemia em adultos, neoplasia de células T CD4+, é observada em adultos infectados pelo vírus da leucemia de células T humanas tipo 1 (HTLV-1). Mais frequente em região onde o HTLV-1 é endêmico (Sul do Japão, África ocidental, bacia do Caribe) e caracterizada por lesões cutâneas, linfadenopatia generalizada, hepatoesplenomegalia, linfocitose no sangue periférico e hipercalcemia. A aparência das células tumorais é extremamente variável, mas as células com núcleos multilobulados, descritas como células em “trevo” ou em “flor”, são, frequentemente, encontradas nos tecidos envolvidos e no sangue periférico. A maioria dos pacientes apresenta doença de progressão rápida e o óbito ocorre após um período entre alguns meses a um ano, mesmo com quimioterapia agressiva (KUMAR et al., 2005). Tratamento Não há tratamento específico para a infecção. Para os casos nos quais existem sintomas comprovados de doença associada ao HTLV-I, o tratamento irá depender de uma avaliação neurológica, assim como estadiamento do grau de comprometimento, tempo de evolução e presença de outras infecções virais. 42 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Diagnóstico As amostras de soro são triadas para anticorpo anti-HTLV-I e II, usando dois testes imunoenzimáticos autorizados, de fabricantes diferentes, preparados com antígenos do HTLV-I e II, a partir do lisado total do vírus e algumas proteínas recombinantes. Essa triagem é realizada, obrigatoriamente, no sangue dos doadores, conforme a RDC no 34/2014, da ANVISA, pela detecção de anticorpos específicos, voltados a constituintes antigênicos das diferentes porções do vírus no soro ou plasma. Podendo ser avaliada a pesquisa de segmentos de DNA pró-viral em células do sangue periférico. Em vista dos prognósticos muito diferentes associados às infecções por HTLV I e II, é fundamental essa distinção. Pesquisa de anticorpos por imunofluorescência indireta (IFA) para HTLV-I/II foi realizada em alguns laboratórios. Nenhum dos testes adicionais foi autorizado pelo Food and Drug Administration (FDA), mas eles estão disponíveis em instituições de pesquisa, bancos de sangue, alguns laboratórios de saúde pública, laboratórios industriais e como testes “in-house”, em alguns laboratórios de diagnóstico. Espécimes de soro sem imunoreatividade para qualquer produto de gene HTLV, em testes adicionais mais específicos, são considerados falso-positivos. Vários estudos que envolvem amplificação de provírus apoiaram a precisão destes critérios diagnósticos; são consideradas infectadas as pessoas cujos espécimes satisfazem os critérios para positividade com HTLV-I ou HTLV-II. Os ensaios imunoenzimáticos, EIA ou ELISA, podem ser observados na Figura 7 à esquerda. Os testes confirmatórios para detectar o retrovírus são por imunofluorescência indireta, radioimunoprecipitação, imunoquimioluminescência ou Western-blot (MURRAY, 2006). E a metodologia do Western-blot (Figura 7, direita) é utilizada como ensaio confirmatório e discriminatório, detectando os antígenos do tipo HTLV-I +rgp46-I(MTA-1)+rgp46-II(K55)+GD21, apresentando um custo de R$250,00 reais por tira teste. 43 DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS │ UNIDADE I Figura 7. Da esquerda para direita, técnica de triagem que utiliza o kit ELISA para detectar HTLV e, ao lado, a técnica de Western-blot, utilizada para teste confirmatório. Fonte: http://www.rapidtest.com/index.php?i=HIV-ELISA-kit&id=165&cat=16; http://i-base.info/guides/testing/appendix-3-how- hiv-tests-work. Outra metodologia que se assemelha no custo é a imunocromatográfica, que são tiras de nylon recobertas de proteínas recombinantes. Mais recentemente, antígenos recombinantes do HTLV-I, -II e gp21e foram incorporados ao ELISA, melhorando a especificidade e a sensibilidade. Tais testes adicionais devem ser capazes de identificar anticorpos para proteínas do core (gag) e do envelope (env) HTLV-I/II. O EIA de 3a geração tem um custo por pocinho da placa de ELISA de 5 reais, os testes disponíveis no mercado são Murex® HTLV-I+II, Abbott, que são peptídeos sintéticos env gp46 HTLV-I e HTLV-II + rgp21 HTLV-I, essa reação da peroxidase é lida em 450 nm, detecta IgG, IgM, IgA. Outro é o BioELISA HTLV-1+2 5.0, Biokit, que possuem três proteínas combinantes de HTLV-I e HTLV-II, em que forma um conjugado com uma proteína de fusão tripla e a enzima peroxidase, 492 nm, detecta as mesmas três imunoglobulinas: IgG, IgM, IgA. E o Gold Elisa HTLV-1/2, REM. E os testes moleculares têm um custo bem inferior a 35 reais, utilizando-se a técnica de PCR-RFLP tax HTLV-1 e 2. Essa técnica é realizada por PCR, com os primers específicos para o vírus, após a amplificação desse produto (como pode ser visto na imagem da esquerda da Figura 8) é tratado com uma enzima de restrição e se diferencia em 2 tipos de perfil, sendo com uma banda o HTLV-1, e com duas bandas de menor peso molecular o tipo HTLV2 (Figura 8). Outra técnica de biologia molecular é o PCR-TR, que utiliza um indicador fluorescente, que é SYBER Green, ou sondas específicas para reação, como a Taqman, porém seu custo é um pouco maior, custa cerca de 45 reais. A vantagem é que é um teste quantitativo, podendo avaliar o grau de infecção pelo número de cópias formadas no determinado tempo da amplificação desse produto de PCR. 44 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Figura 8. Técnicas de biologia molecular para diagnosticar HTLV. Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/360709/. 45 CAPÍTULO 3 Mononucleose infecciosa e rubéola Mononucleose infecciosa O vírus responsável pela doença é o Epstein-Barr, da família Herpesviridae, transmitido pela saliva contaminada por contato íntimo entre as pessoas, daí o nome doença do beijo. É uma síndrome infecciosa que acomete principalmente indivíduos entre 15 e 25 anos de idade. A porta de entrada é a mucosa da boca e a faringe da pessoa que não teve contato anterior com o vírus, mas as células do tecido linfoide são o alvo da infecção pelo Epstein-Barr, que faz parte da família do herpesvírus. Admite-se, também, que ele possa infectar as células epiteliais da faringe e que essa infecção explique por que esse vírus esteja implicado no aparecimento do carcinoma da nasofaringe. A partícula viral infecciosa do vírus Epstein-Barr (EBV) tem três componentes: » nucleoide; » capsídeo; » envelope. O núcleo contém o DNA viral em formato linear e um nucleocapsídeo com 162 capsômeros. O genoma do EBV é uma molécula de DNA de fita dupla, de aproximadamente 184.000 pares de bases (OLIVEIRA, 2012). Transmissão Inter-humano, pelo contato íntimo de secreções orais (saliva). É rara a transmissão através de transfusão sanguínea ou contato sexual. Achados clínicos Uma síndrome viral aguda, caracterizada clinicamente por febre, dor de garganta, linfadenopatia e esplenomegalia; essa infecção pode ser assintomática (CHIN, 2002). 46 UNIDADE I │ DIAGNÓSTICO DAS PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS Tratamento O tratamento da mononucleose é fundamentalmente sintomático, visando o alívio dos sintomas e o combate da febre e da dor de garganta. Além disso, o paciente deve permanecer em repouso e evitar situações que possam favorecer a ocorrência de um trauma abdominal. Diagnóstico As alterações laboratoriais incluem leucocitose, reações leucemoides, trombocitopenia
Compartilhar