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SAÚDE-MENTAL

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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 
1 ASPECTOS CONCEITUAIS ....................................................................... 5 
2 FUNÇÕES PSÍQUICAS E PSICOPATOLOGIA ......................................... 8 
2.1 Definições de funções psíquicas compostas ...................................... 10 
2.2 Delírio, alucinações e ilusão ............................................................... 12 
2.3 Diversos fenômenos da psicopatologia .............................................. 15 
3 PROMOÇÃO EM SAÚDE MENTAL ......................................................... 19 
3.1 A doença mental e a zona cinzenta que a separa da normalidade .... 20 
3.2 Facetas da psicopatologia .................................................................. 22 
4 O QUE É DOENÇA MENTAL? ................................................................ 24 
5 ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE MENTAL ............................. 26 
5.1 Educação em saúde: definições ......................................................... 27 
5.2 Política Nacional de Saúde Mental ..................................................... 29 
5.3 O que são os Centros de Atenção Psicossocial? ............................... 30 
5.4 Quais são as principais ações do profissional em saúde mental nos 
Centros de Atenção Psicossociais? ....................................................................... 32 
5.5 Atenção à saúde mental de crianças e adolescentes ........................ 32 
5.6 Ações do profissional no Centro de Assistência Psicossocial Álcool e 
Drogas........ ........................................................................................................... 34 
5.7 Ação do profissional em educação em saúde mental e saúde da 
família......... ........................................................................................................... 35 
6 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM SAÚDE MENTAL ............................... 37 
6.1 Como utilizar os instrumentos de avaliação ....................................... 38 
6.2 Como escolher a escala a ser usada ................................................. 40 
6.3 Selecionando os instrumentos específicos ......................................... 41 
 
6.4 Entrevistas diagnósticas e instrumentos de triagem .......................... 42 
6.4.1 Entrevistas diagnósticas ........................................................... 43 
6.4.2 Instrumentos de triagem ............................................................ 46 
6.5 Limitações .......................................................................................... 49 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 49 
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 51 
 
 
INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. 
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e 
todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em 
perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que 
serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos!
 
5 
 
1 ASPECTOS CONCEITUAIS 
Conforme elucida Tavares (2019) a compreensão sobre a doença mental é 
fundamental para diferenciar o sofrimento psíquico não patológico e o transtorno 
mental. Não se deve tratar como patologia o sofrimento comum, que todos passamos 
ao longo da vida, correndo o risco de fomentar uma indústria da doença. Igualmente 
errado seria deixar de reconhecer a gravidade e a necessidade de intervenção em 
uma pessoa que padece de um transtorno mental. 
Não é possível conhecer completamente uma área do conhecimento sem 
conhecer a sua história. Ao contrário do que podemos acreditar intuitivamente, o 
conceito de saúde e de doença são mutáveis e passaram por diversas transformações 
ao longo do tempo. Tais definições sofrem influência da cultura, da religião, do 
momento histórico, da política e da ciência. 
O registro mais antigo de concepções biológicas de saúde e doença remonta 
ao século V a.C por Hipócrates. Em sua obra Corpus Hippocraticum, Hipócrates 
identificou uma divisão clara do processo de saúde. Saúde/doença com religião, 
chamada doença sagrada: para mim não parece mais divino ou sagrado do que os 
outros, mas é da mesma natureza que outras doenças. Tal natureza seria de origem 
biológica, baseada no equilíbrio entre quatro fluidos do corpo: bile amarela, bile negra, 
fleuma e sangue. 
Ainda que muito influente, a escola hipocrática não impediu a influência 
religiosa sobre cuidado em saúde. Em diversos momentos históricos, a doença era 
considerada uma punição divina pelos pecados cometidos e, portanto, a saúde seria 
medida pela devoção e obediência aos ditames religiosos. 
Por exemplo, a masturbação é considerada uma doença que causa desnutrição 
devido à perda de sêmen e transtornos mentais. Outro conceito de saúde é místico e 
reconhecido na cultura oriental. Os chakras são vórtices de energia em rotação que 
ocorrem em sete partes do corpo. A saúde ocorre quando há harmonia nessa energia, 
enquanto a doença decorre do desequilíbrio nos chakras. 
A homeopatia usou a lógica de cura por meio de companheiros. É uma terapia 
que utiliza uma modulação de substâncias cujos efeitos em indivíduos saudáveis 
 
6 
 
correspondem às manifestações do distúrbio no paciente. Comportamentos que vão 
além do preconizado pela cultura atual também são considerados indícios de doença. 
Nos Estados Unidos, no século XIX, a vontade de fugir ou a falta de motivação para o 
trabalho forçado era diagnosticada como "histeria" e "histeria etíope", duas "doenças" 
tratadas com folga. 
Por fim, em 1948, a Organização Mundial da Saúde – OMS, forja o seguinte 
conceito: Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não 
apenas a ausência de doença. Tal concepção amplia os horizontes do que significa 
saúde, pois se baseia em um tripé físico, biológico, psicológico, mental e 
social/cultural. Também amplia a consciência de saúde, mudando o paradigma 
puramente curativo que se concentra apenas no tratamento de doenças para a 
importância da prevenção de doenças, promoção da saúde e reabilitação. 
Assim, para existir saúde a nível individual e coletivo, torna-se imprescindível a 
existência de saneamento básico, o acesso à alimentação saudável, as políticas de 
imunização, o acesso a lazer e atividade física, a educação em saúde, dentre outros 
(TAVARES, 2019). 
O governo brasileiro e o Ministério da Saúde não têm uma definição autoral de 
saúde ou de saúde mental, mas a Constituição Federal de 1988 assegura a 
universalidade da assistência em saúde em seu art. 196: 
 
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros 
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). 
 
Esse direito representa uma ruptura com os modelos de saúde adotados até 
então, no qual o acesso aos serviços de saúde eram exclusividade dos trabalhadores 
com carteirade trabalho assinada e seus dependentes. Também assegura que não 
deverá ocorrer qualquer forma de exclusão por classe social, etnia, idade, credo, 
orientação sexual, naturalidade ou quaisquer outros motivos. Uma crítica ao art. 196 
argumenta que ele coloca o cidadão em uma posição passiva e infantilizada, como se 
a saúde fosse um bem concreto que pudesse ser dado a alguém sem exigir nenhuma 
ação por parte do indivíduo. 
 
7 
 
O Estado pode fornecer assistência, promoção e educação em saúde, pode 
promover acesso à alimentação balanceada e barata, fomentar a prática de atividades 
físicas, garantir saneamento básico, realizar imunização e prevenção de agravos, 
entre outros. No entanto, o indivíduo deve ser solidariamente responsável pela sua 
própria saúde, pois só ele tem o dever de praticar os hábitos de vida recomendados 
para garantir a sua saúde física e mental. 
O conceito de saúde e de saúde mental é dinâmico e reflete o momento 
histórico de sua construção. Atualmente, vivemos em uma era que almeja a percepção 
holística e integrativa da saúde, incorporando diversas visões sobre a saúde e 
concretizado no conceito de saúde proposto pela Organização Mundial da Saúde 
(OMS). Não se trata de uma superação ou evolução dos modelos anteriores, mas, 
sim, da valorização e integração deles. Existem críticas a este conceito proposto pela 
OMS. 
Uma delas seria de que o conceito é idealizado e utópico, já que o completo 
bem-estar físico, mental e social é inatingível a qualquer ser humano. Ninguém pode 
ser considerado saudável se o conceito de saúde for interpretado de forma concreta 
e literal. Alternativamente, pode-se interpretar que cada indivíduo está em um 
processo de saúde/doença contínuo e mutável. Outra crítica se refere à possibilidade 
de o conceito fomentar um Estado excessivamente paternalista e intervencionista, 
podendo assumir posturas autoritárias justificadas pela busca do completo bem-estar 
social (TAVARES, 2019). 
Ainda de acordo com o autor supracitado, diferentes culturas e indivíduos 
podem ter ideias diferentes sobre quais elementos constituem o bem-estar social, não 
é somente no campo teórico que encontraremos implicações da caracterização da 
saúde mental. As óticas previamente explanadas podem ser percebidas no cotidiano 
clínico ao se entrevistar clientes e seus familiares. Os mais diversos sintomas 
psiquiátricos podem ser interpretados como possessão demoníaca, encosto, falta de 
Deus no coração ou outras explicações de cunho religioso, direcionando o tratamento 
à reza, sessões de descarrego, exorcismo ou cirurgia espiritual. Tal interpretação tem 
potencial de ser nociva ao cliente caso o afaste ou atrase o início de intervenções com 
embasamento científico. 
Comportamentos que se desviam significativamente das expectativas culturais 
ainda podem ser caracterizados como doença mental. O transtorno de personalidade 
 
8 
 
dependente, por exemplo, é caracterizado por uma tomada de decisão diária 
extremamente difícil, desacordo com outras pessoas, tomada de iniciativa e se 
considerar uma pessoa autônoma e independente. 
Uma mulher com tais traços seria considerada portadora de transtorno mental 
na cultura ocidental do século XXI, porém, teria status de esposa exemplar pela sua 
submissão ao marido em culturas muçulmanas tradicionais. Devemos tomar o cuidado 
de não posicionar a compreensão biológica da saúde como modelo correto ou 
absoluto. Essa visão trouxe inquestionáveis avanços a todas as áreas da medicina. 
Entretanto, sua utilização de forma única e restrita resultou em décadas de 
aplicação do modelo biomédico, hospitalocêntrico, curativista e centrado no 
especialista. Suas limitações são claras na psiquiatria e na medicina psicossomática, 
mas mesmo doenças de etiologia inquestionavelmente biológica devem ser avaliadas 
sob a ótica biopsicossocial. 
Uma parasitose, por exemplo, não deve ser tratada exclusivamente com a 
prescrição de anti-helmínticos. Também deve ser realizada educação em saúde sobre 
lavagem de mãos, higiene pessoal, cuidados com alimentos, verificação de acesso a 
água tratada e saneamento básico, rastreio de familiares e envolvimento dos pais em 
todo o processo de tratamento (TAVARES, 2019). 
2 FUNÇÕES PSÍQUICAS E PSICOPATOLOGIA 
Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmar que não existe uma 
definição específica, ou oficial, para a saúde mental, tem-se o uso dessa expressão 
para a descrição de níveis de qualidade de vida cognitiva e emocional, acrescida pelas 
capacidades funcionais de se relacionar com o mundo e a sociedade (TAVARES, 
2019). 
Conforme proposto por Cordioli et al. (2005), a verificação do estado mental é 
uma forma de pesquisa sistemática que aborda sinais e sintomas que podem indicar 
mudanças na função mental durante uma entrevista psiquiátrica. Apesar disso, os 
autores alertam que esse exame do estado mental deve fazer parte do exame clínico 
do paciente, não sendo realizado exclusivamente por psiquiatras, pois pode trazer à 
 
9 
 
tona indícios importantes de transtornos neurológicos, metabólicos, de intoxicações 
ou de efeitos de uso de drogas. 
Essas avaliações do paciente são realizadas principalmente por meio de 
entrevistas, sendo assim, deverá ser realizada conjuntamente com uma observação 
cuidadosa do indivíduo, onde, as informações recebidas durante a entrevista podem 
ser extremamente valiosas para a compreensão da dinâmica emocional do paciente, 
o que auxiliará na intervenção e no planejamento de ações de tratamento mais 
adequadas, independentemente do adoecimento que o motivou a buscar 
acompanhamento de saúde. Porém, vale ressaltar que o diagnóstico efetivo de um 
transtorno psicológico, e/ou uma psicopatologia, deverá ser realizado com a 
complementação de instrumentos e feita por profissionais bem capacitados 
(DALGALARRONDO, 2019). 
As funções psíquicas são analisadas por ordem, mas deve-se destacar que 
essa separação é apenas uma estratégia de abordagem, pois, como mostra 
Dalgalarrondo (2019), não existem funções e variações psíquicas distintas, as 
alterações mentais são divididas em compartimentos. Quando uma “parte” adoece, 
todo o indivíduo adoece. Dalgalarrondo (2019) apresenta a seguir as funções 
psíquicas avaliadas no exame do estado mental que mais afetam os principais grupos 
de transtornos: psicoorgânicos, de humor e personalidade e psicóticos (Quadro 1): 
 
Quadro 1 - Funções psíquicas no exame do estado atual mental: 
 
Funções mais afetadas 
nos transtornos 
psicoorgânicos: 
Funções mais afetadas 
nos transtornos do 
humor e da 
personalidade: 
Funções mais afetadas 
nos transtornos 
psicóticos: 
Nível de consciência Afetividade Sensopercepção 
Atenção* Vontade Pensamento 
Orientação Psicomotricidade Juízo de realidade 
Memória Personalidade Vivência do Eu e 
alterações do self 
Inteligência 
 
10 
 
Linguagem** 
*Também nos quadros 
afetivos (mania, 
principalmente). 
 
**Também nas psicoses 
Fonte: Adaptado de Dalgalarrondo (2019). 
 
Cordioli et al. (2005) apresenta como forma de estabelecer uma ordem de 
análise dos aspectos do indivíduo, o funcionamento mental que é dividido em funções 
mentais/psíquicas, que são: 
 Consciência. 
 Atenção. 
 Sensopercepção. 
 Orientação. 
 Memória. 
 Inteligência. 
 Afetividade. 
 Pensamento. 
 Juízo crítico. 
 Conduta. 
 Linguagem. 
Essas divisões são também chamadas de funções psíquicas elementares. A 
divisão dessa forma proporciona maior facilitação para o diagnóstico de síndromes 
específicas, pois permite a observação de grupos de funções alterados. Além dessas, 
existem ainda as funções psíquicas compostas, que resultam de agrupamentos e 
somatórios de atividades e capacidades, tanto mentais quanto comportamentais. 
2.1 Definições de funções psíquicas compostas 
Segundo Dalgalarrondo (2019), existem três definições psíquicas, são elas:11 
 
 Eu: desenvolve-se na criança, de forma progressiva, ao longo do primeiro ano 
de vida, formando a percepção de ser único, relativamente autônomo e 
separado dos demais indivíduos e objetos. 
 
 Self: juntamente com a percepção do Eu, a percepção de self tem seu início na 
infância e pode ser considerado como a soma e tudo o que possa ser chamado 
de “seu” no sentido mais íntimo. 
 
 Personalidade: pode ser definida como o conjunto integrado de traços 
psíquicos, ou seja, o modo como uma pessoa sente, pensa, reage, se comporta 
e se relaciona com outras pessoas e o meio. 
Além das funções mentais, tem-se a divisão, assim como anteriormente citado, 
para fins didáticos e de melhor compreensão do quadro dos pacientes e as divisões 
das funções psicofisiológicas, que são definidas pela correlação entre os fenômenos 
psíquicos e fisiológicos que ocorrem no indivíduo. As funções psicofisiológicas são 
divididas, conforme apresentado por Cordioli et al. (2005), em: Sono; apetite; 
sexualidade. 
A entrevista é o principal meio de análise das funções psíquicas por meio do 
exame mental, ao realizá-la deverão ser avaliados alguns aspectos que o examinador 
terá que observar, analisar e registrar primariamente. 
 Aparência: a forma como o indivíduo se apresenta em suas roupas e modos. 
 
 Desempenho psicológico e comportamental: refere-se à maneira como a 
atividade física se correlaciona com o desempenho psicológico e pode ser 
classificada, por avaliação, em normal, atrasada ou acelerada. 
 
 Atitude em relação ao examinador: observe as ações do paciente em relação 
ao examinador, especialmente em relação à sua resposta. 
 
 Atividade verbal: avaliada por meio da comunicação do indivíduo com o 
examinador, com a percepção das características da fala. Várias formas de 
classificação e descrição da habilidade verbal incluem fala rápida ou arrastada, 
 
12 
 
vozes altas ou sussurrantes e a presença de distúrbios da fala, como fala 
arrastada, e disartria. 
 
 Sentimentos despertados: refere-se ao momento em que o avaliador expressa 
a impressão emocional geral transmitida pelo paciente. 
A seguir, alguns aspectos da alteração das funções psíquicas serão melhor 
descritos, principalmente aqueles relacionados à percepção sensorial. 
2.2 Delírio, alucinações e ilusão 
Uma das funções mentais é a sensopercepção. Para melhor compreendê-la, é 
importante a compreensão das definições de sensação e percepção. Conforme 
apresentado por Dalgalarrondo (2019), a sensação é considerada um fenômeno 
passivo, produzido por estímulos físicos, químicos ou biológicos, que produz 
estimulação no receptor. Esses estímulos podem ser gerados tanto de dentro quanto 
de fora do corpo. 
A percepção é considerada um fenômeno ativo, uma vez que o sistema nervoso 
geralmente a constrói a partir da síntese de estímulos sensoriais, agregando fatores 
como experiências passadas presentes na memória do indivíduo e ao contexto em 
que está inserida, para dar sentido às experiências vividas. Em outras palavras, ela 
pode ser entendida como a compreensão do indivíduo sobre o estímulo recebido. 
Sendo assim, Cordioli et al. (2005) apresentam que a sensopercepção é designada 
pela capacidade do indivíduo de perceber e interpretar os estímulos que se 
apresentam aos órgãos do sentido. 
As formas de sensação, são as seguintes: visuais, táteis, auditivas, 
gustativas, olfativas, proprioceptivos e cinestésicos. As alterações de 
sensopercepção podem ser classificadas como quantitativas e qualitativas, 
sendo as qualitativas mais importantes nas psicopatologias, pois envolvem 
as ilusões e as alucinações (DALGALARRONDO, 2019). 
Quando falamos de alucinações, descrevemos um fenômeno em que ocorre a 
percepção distorcida ou alterada de um objeto real e presente, ou seja, quando os 
estímulos sensoriais são realmente confundidos ou mal interpretados pelos 
indivíduos. Os delírios tendem a ocorrer com diminuição da excitação ou redução do 
 
13 
 
nível de consciência, como no caso do delirium, quando a consciência reduzida leva 
à distorção dos processos perceptivos: 
Além disso, podem também ocorrer em situações de deslocamentos de 
retina, distúrbios de acomodação visual, lesão temporal posterior e 
intoxicações agudas por substâncias psicoativas (DALGALARRONDO, 
2019). 
As ilusões podem ser auditivas, por exemplo, quando o indivíduo escuta seu 
nome ser chamado ou ouve palavras significativas para si, ou podem ser táteis, como 
no caso de membros fantasmas, no qual o indivíduo que teve algum membro 
amputado pode ter sensações locais como coceira, dor e formigamento. 
No entanto, as ilusões mais comuns são as visuais, nas quais monstros, 
animais e pessoas podem ser vistas a partir de objetos, como roupas 
penduradas (Dalgalarrondo, 2019). As ilusões visuais podem ainda ser 
classificadas como (Cordioli et al, 2005): Dismegalopsias: quando objetos 
ou pessoas passam a ter tamanhos ou estar em distâncias irreais. 
Macropsias: quando objetos ou pessoas passam a ter tamanhos maiores e 
distâncias tornam-se muito próximas. Micropsias: quando objetos ou 
pessoas passam a ter tamanhos menores e distâncias tornam-se muito mais 
distantes. Miragens: ilusões causadas por distorção óptica relacionada ao 
ambiente atmosférico, como a visualização de água em meio ao deserto de 
areias. Ao contrário das ilusões, que precisam ter um estímulo externo para 
a ocorrência, as alucinações ocorrem na ausência destes, ou seja, a 
alucinação pode ser considerada como a percepção de um objeto ou pessoa, 
sem que este esteja realmente presente, portanto, sem o estímulo sensorial 
respectivo (DALGALARRONDO, 2019). (Grifo nosso) 
Muitas são as classificações das alucinações. Dentre os grandes grupos, 
podemos destacar as seguintes: 
 Visuais simples: também chamadas de fotópsias, em que o indivíduo enxerga 
cores e pontos brilhantes. 
 Visuais complexas: são aquelas que apresentam figuras de pessoas vivas ou 
mortas, partes do corpo, entidades como: anjos, demônios, fantasmas e 
santos, objetos inanimados, animais ou crianças. 
 Visuais em estados normais e fisiológicos: como fadiga e emoção intensa, 
ou em adormecimento. Nesse último caso, podem ser: Hipnagógicas: que 
ocorrem imediatamente antes de dormir. Hipnopômpicas: que ocorrem pouco 
antes de acordar, podendo também ocorrer em estados semicomatosos. 
 Auditivas simples/elementares: o indivíduo ouve ruídos primários, como 
zumbidos, burburinhos e cliques. 
 
14 
 
 Auditivas complexas: a mais frequente é a audioverbal. Nesta, o indivíduo é 
capaz de escutar vozes, que geralmente o ameaçam e insultam, sendo 
congruentes com o humor. 
 Alucinações schneiderianas: são alucinações audioverbais em que o 
indivíduo escuta vozes que comandam ou comentam ações, tanto corriqueiras 
do paciente como de ação não planejada. 
 Táteis: relacionadas com o equilíbrio e a localização espacial do indivíduo. 
 Olfativas: que também podem ocorrer em auras enxaquecosas. 
 De presença: onde ocorre a sensação da presença de outra pessoa. 
 Extracampinas: indivíduo enxerga objetos fora do campo de visão, como atrás 
da cabeça. 
 Autoscopia: o indivíduo visualiza a si próprio projetado no espaço. 
 Somáticas: o indivíduo sente alterações no seu próprio organismo. 
As alucinações têm maior ocorrência nos transtornos psicóticos, com especial 
destaque para a esquizofrenia, e nas síndromes cerebrais orgânicas. 
(DALGALARRONDO, 2019) 
Outra importante função mental é a do pensamento, que é definida por ser 
um conjunto de funções que se integram, sendo capazes de realizar a 
associação de conhecimentos novos e antigos, de integrar os estímulos 
recebidos externos e internos e, além desses, de analisar, abstrair, julgar, 
concluir, sintetizar e criar (CORDIOLI et al. 2005). 
Para Cordioli et al. (2005) a saúde mental possui três aspectos importantes 
relativos à função mental do pensamento os quais devemser avaliados, conforme se 
observa a seguir: 
 A produção/forma, que se refere à forma como o indivíduo é capaz de organizar 
as suas ideias, sendo considerada: normal, quando a produção de pensamento é 
lógica e coerente; ilógica, quando o indivíduo não segue padrões de coerência, 
muitas vezes acrescentando informações falsas ou indevidas em suas falas; e 
mágica, que é determinada por um pensamento irreal, fantasioso, desagregado 
em tempo e espaço e que pode, diversas vezes, estar relacionada a misticismos, 
ações de força do pensamento, entre outros. 
 
 
15 
 
 O curso está interligado pelo número de ideias e pela velocidade com que se 
movem no pensamento. Em termos de quantidade, pode-se dizer que é 
abundante ou raro. Quanto à velocidade, ela pode ser classificada como rápida, 
lenta ou travada. 
 
 O conteúdo, das ideias do pensamento, propriamente ditas, que são avaliadas 
quanto a sua conexão ou não com a realidade, refletindo aspectos do mundo 
interno ou externo. Sua avaliação pode definir se existe o risco de perigo para si 
e para os outros. Sendo ele o responsável por demonstrar as preocupações do 
paciente. Esse é o aspecto que demonstra a ocorrência de delírios. 
Portanto, temos que o delírio pode ser definido como uma ideia falsa ou uma 
crença irreal pertencente à alteração da função mental do pensamento, 
apresentam que as ideias supervalorizadas, que incluem os delírios, podem 
ser do tipo persecutórias ou paranoides. (CORDIOLI et al, 2005) 
Cordioli et al. (2005) orienta que nos casos mencionados, o indivíduo acredita 
estar sendo perseguido ou observado, por exemplo. Existem alguns tipos específicos 
de delírio, que são melhores expostos a seguir: 
 Bizarro: definido como aqueles que apresentam crenças absurdas, falsas e 
implausíveis. 
 Niilista: onde o indivíduo crê que esteja morto ou que as pessoas ao seu redor 
estão mortas, ou, ainda, que não existem ou que se acabaram. 
 Capgras: onde o indivíduo acredita que seus familiares, ou pessoas próximas, 
deixaram de ser elas mesmas, sendo trocados por impostores. 
 Cotard: delírio em que o indivíduo acredita que as pessoas não são reais, são 
apenas bonecos. 
2.3 Diversos fenômenos da psicopatologia 
Conforme demonstrado anteriormente a psicopatologia possui várias 
concepções, gerando diversas regras referentes aos seus elementos, tanto 
conceitualmente quanto operacionalmente. Diversas são as circunstâncias e causas 
psicopatológicas que vão desde transtornos orgânicos até transtornos situacionais 
 
16 
 
estressantes, passando por aqueles que envolvem incidentes na vida do indivíduo, 
incluindo a perda de um ente querido, um acidente grave, entre outros. Assim, Ávila 
(2015) menciona que esses fenômenos, de uma maneira geral, podem ser 
considerados como o campo de estudo das perturbações mentais, assim, um estudo 
dos transtornos que afetam as funções cognitivas, afetivas e de atitudes dos 
indivíduos. 
Cordioli et al. (2005) menciona ainda que é importante destacar que os 
transtornos mentais são influenciados por questões culturais às quais o indivíduo é 
trazido, ressaltando que a saúde mental é relevante nos campos de pesquisa em 
saúde geral, pois se relacionam intimamente com a saúde humana presente. Além do 
mais, o mesmo autor também mostra que uma pessoa considerada mentalmente 
saudável é aquela que é capaz de se adaptar às mudanças cotidianas, resolver 
problemas que surgem para continuar realizando suas atividades diárias com 
competência e, assim, ser capaz de estabelecer metas e aproveitar a vida. 
Sendo assim, pode-se considerar a presença de doenças mentais nos casos 
em que o sujeito demonstra incompetência ao lidar com a vida diária, com as 
alterações das realidades a que está acostumado, tendo, portanto, situações 
de prejuízo de julgamento, que afetam diretamente as situações cotidianas 
(CORDIOLI et al, 2005). 
Como apontado, as situações culturais, em relação ao ambiente e ao tipo de 
sociedade em que o indivíduo está inserido, exercem grande influência nas questões 
relacionadas à psicopatia. Corroborando com esse pensamento a OMS, em 2002, 
destacou a violência como um dos maiores problemas de saúde pública. Situações 
geradoras de estressores que podem afetar um objetivo, e muitas vezes membros de 
sua família, fazem parte da realidade cotidiana, como situações de violência entre 
indivíduos, incluindo maus-tratos e negligências infantis, além de outras situações 
presentes em toda a sociedade, podendo se tratar tanto de desastres naturais, como 
também ser geradas por situações de agressão, estupro ou acidente de carro grave, 
entre outros. 
Tais situações, ocorridas tanto na infância como na vida adulta, podem 
desencadear graves psicopatologias, das quais citam-se, de forma geral: Mais 
especificamente, a ocorrência de sintomas relacionados ao transtorno de estresse 
pós-traumático, como na vida adulta, tais situações, relacionadas às psicopatologias 
 
17 
 
de base, poderão ocasionar diversos prejuízos, como sociais e profissionais, e 
alterações no sistema neuroimunoendócrino. Podendo ser estes prejuízos 
comportamentais divididos em internalizantes e externalizantes (Quadro 2): 
Quadro 2 - Comportamentos que podem ser apresentados na vida adulta de 
crianças que sofreram estresse precoce: 
 
Internalizantes Externalizantes 
Ansiedade Agressividade 
Depressão Delinquência 
Queixas somáticas Comportamentos sexuais inadequados 
ou prejudiciais 
Inibição 
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019). 
 
Entre os distúrbios mais comuns na população, destacados por Cordioli et al. 
(2005) em termos de prevalência, houve depressão e ansiedade, ambas 
apresentadas de forma independente e em relação às comorbidades, onde, em sua 
pesquisa, ele ressalta que, por meio do imenso envolvimento do trauma no 
desencadeamento de doenças mentais, foi publicada em 2013 a quinta edição do 
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). 
Nesta publicação, há uma seção que descreve especificamente as condições 
psiquiátricas relacionadas ao trauma, conhecidas como trauma e transtornos 
relacionados ao estresse, que incluem as seguintes categorias: 
 Transtorno de apego relativo. 
 Transtorno de interação social desinibida. 
 Transtorno de estresse pós-traumático. 
 Transtorno de estresse agudo. 
 Transtornos de adaptação. 
 Transtorno relacionado a trauma e a estressores não especificado. 
 
Germano et al. (2018) menciona que: 
 
18 
 
Outro transtorno relacionado a trauma e a estressores especificado, além das 
situações de psicopatologias que se apresentam de maneira geral à 
população, podemos destacar, também, aquelas recorrentes associadas às 
profissões que estão constantemente expostas a situações de violência, 
exposição a agressividade, hostilidade e tragédias, que causam desgastes 
físicos e emocionais aos que trabalham (GERMANO et al. 2018). 
Os autores supracitados observam que, de acordo com um estudo sobre 
estresse em todo o mundo, a profissão de policial, especificamente policial e vigilância 
policial, é uma das mais estressantes. Somada à profissão policial, ou aos 
profissionais da segurança pública em geral, a profissão médica é também uma das 
mais estressantes e psicogênicas, e relativamente às psicopatologias relacionadas às 
profissões, destacam que, no Brasil, utiliza-se a classificação de Schilling para a 
sistematização de doenças, onde, os grupos principais são distribuídos da seguinte 
maneira (Quadro 3): 
 
Quadro 3 - Classificação de Schilling para a sistematização de doenças 
 
Grupo I: 
O trabalho é considerado como uma causa necessária ao aparecimento de uma 
doença. 
Grupo II: 
O trabalho é considerado como um fator que pode contribuir, porém não é uma 
condição necessária. 
Grupo III: 
O trabalho é o principal provocador de um distúrbio preexistente, porém latente, ou 
um agravador de uma doença já estabelecida.Fonte: Adaptado de GERMANO et al. (2018). 
 
A síndrome de Burnout se destaca como uma das principais causas associadas 
ao trabalho. Suas principais características são um estado de exaustão, frustração e 
desinteresse pelo trabalho, o que gera um sentimento de decepção, frio, indiferença 
e miséria. Tal síndrome pode ser delineada como um estado físico e psicológico de 
fadiga ou esgotamento profissional (FREITAS et al, 2018). Em síntese, podemos 
 
19 
 
inferir que a psicopatia tem duas formas principais de se expressar, uma por motivos 
orgânicos e outra relacionada ao meio em que o indivíduo é inserido. 
Em ambos os casos, a identificação de alterações na função mental, podem 
causar: delírios, alucinações entre outros, deve ser analisada cuidadosamente por 
meio de métodos de teste, sendo realizado por meio de entrevista que irá determinar 
tais alterações, sendo promovida por profissionais especialistas, os quais serão 
responsáveis pelo diagnóstico efetivo de um problema de saúde mental, que será 
encaminhado quando necessário a outros profissionais de saúde, juntamente com as 
devidas informações fornecidas para melhor identificar e direcionar os tratamentos. 
3 PROMOÇÃO EM SAÚDE MENTAL 
Vários hábitos de vida e traços de personalidade estão relacionados à menor 
incidência e prevalência de doenças mentais. Pessoas com maior espiritualidade e 
envolvimento religioso têm menor propensão ao desenvolvimento de transtornos 
mentais e autorrelato de maiores níveis de felicidade. Nunca se deve estimular um 
cliente a exercer uma religião específica, sob o risco de minar o relacionamento 
profissional-cliente ou mesmo realizar conduta antiética. Porém, é possível fomentar 
o cliente a se aproximar de seu credo e se reintegrar à sua comunidade religiosa. 
Diversos estudos correlacionam a prática de atividades físicas com maior 
saúde mental, melhora de sintomas depressivos e ansiosos. Ademais, a prática de 
atividade física auxilia nos controles pressórico e glicêmico, na manutenção de peso 
saudável e na menor incidência de câncer e doenças cardiovasculares. O sono 
preservado contribuiu para a manutenção e recuperação da saúde mental, e a boa 
higiene no sono tem papel fundamental no sono de qualidade. Veja no (Quadro 4) as 
recomendações sobre esse cuidado. 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
Quadro 4 - Higiene do sono: 
 
O que fazer O que não fazer 
Ter ambiente propício ao sono: quarto 
escuro, silencioso, com boa 
temperatura, cama confortável e com 
tamanho adequado. 
Tomar café ou cafeinados, fumar ou 
ingerir bebidas alcoólicas nas horas 
precedentes ao horário de dormir. 
Ter horários regulares para dormir e 
acordar, mesmo aos finais de semana. 
Assistir televisão e usar computador ou 
celular logo antes de dormir. 
Praticar atividades físicas 
preferencialmente pela manhã. 
Realizar exercícios físicos nas três horas 
precedentes ao sono. 
Praticar leitura, atividades calmas e 
relaxantes antes de dormir. 
Fazer grandes refeições próximo ao 
horário de dormir. 
Usar a cama somente para dormir e para 
atividade sexual. 
Tirar cochilos ao longo do dia. 
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019). 
 
Por fim, a prática da meditação tem ganhado destaque tanto na promoção da 
saúde mental quanto no tratamento de transtornos mentais. Tal prática pode ser 
treinada diretamente ou em conjunto com ioga, reiki ou mesmo incorporada dentro de 
um tratamento psicoterápico. Trata-se de um processo que leva a um estado mental 
caracterizado pela atenção não julgadora ao momento presente, incluindo as 
sensações, os pensamentos, o ambiente, o estado corporal e a consciência enquanto 
encoraja a abertura, a curiosidade e a aceitação. 
3.1 A doença mental e a zona cinzenta que a separa da normalidade 
A separação dos processos psíquicos normais dos patológicos não pode 
prescindir dos modelos humanísticos para a completa apreensão dos fenômenos 
mentais. É necessário integrar diferentes referencias teóricos, como o psicológico, o 
social e o biológico. Além disso, o conceito de normalidade e de saúde em 
psicopatologia é muito controverso (Quadro 5). 
 
21 
 
 
Quadro 5 - Critérios de normalidade: 
 
Conceito de Normalidade Descrição 
 
 
Normalidade como ausência de doença. 
O normal seria simplesmente aquele que 
não tem um transtorno mental. Trata-se 
de um critério falho ao definir a 
normalidade por aquilo que ela não é. 
Ademais, isso é muito estigmatizante. 
 
 
Normalidade ideal. 
Aqui se estabelece de forma arbitrária 
uma normal utópica, supostamente mais 
"evoluída", perfeitamente inserida a 
critérios socioculturais e ideológicos 
arbitrários. 
 
 
Normalidade estatística. 
Trata-se de um conceito de normalidade 
baseado em dados quantitativos, e não 
qualitativos. O normal seria aquilo que é 
menos frequente, nos extremos da 
curva. 
 
 
Normalidade como bem-estar. 
Aqui se enquadra o conceito adotado 
pela OMS. É um conceito muito vasto e 
impreciso, já que bem-estar não pode 
ser definido objetivamente, além de ser 
demasiadamente utópico. 
 
 
 
Normalidade como processo. 
Aqui leva-se em conta os aspectos 
dinâmicos do desenvolvimento 
psicossocial, do movimento de 
desestruturação e reestruturação dos 
ciclos da vida. Trata-se de um conceito 
particularmente útil na avaliação de 
crianças e adolescentes. 
 
22 
 
 
 
Normalidade subjetiva. 
A decisão da normalidade e da doença 
fica a cargo da percepção do próprio 
indivíduo. Critério falho em qualquer 
caso de transtorno mental com baixo 
insight, como ocorre na esquizofrenia e 
fase maníaca do transtorno bipolar. 
 
 
 
Normalidade funcional. 
O patológico acontece na medida em 
que produz sofrimento para o próprio 
indivíduo e/ou seu grupo social. A 
disfuncionalidade se dá por prejuízos 
acadêmicos, laborais, conjugais, 
familiares e sociais. 
 
 
 
Normalidade como liberdade. 
A doença mental seria a perda de 
liberdade existencial, a fossilização das 
possibilidades existenciais. O normal 
dispõe de senso de realidade, senso de 
humor, tem capacidade de relativizar os 
problemas e encontrar prazer na 
realidade. 
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019). 
 
Assim, não existe um conceito único e definitivo de normalidade, de forma que 
vários podem ser utilizados de acordo com cada contexto clínico. 
3.2 Facetas da psicopatologia 
Diferentemente do que ocorre em outras áreas da saúde, não existe uma única 
teoria ou um único agente etiológico que explique o fenômeno dos transtornos 
mentais. Sendo assim, é importante que o profissional psiquiátrico conheça os 
diferentes referenciais teóricos, apresentados a seguir (Quadro 6): 
 
Quadro 6 - Conceitos de psicopatologia: 
 
 
23 
 
Conceito de psicopatologia Descrição 
 
Psicopatologia descritiva. 
O interesse está na forma das alterações 
psíquicas, na estrutura dos sintomas e 
na sua presença ou ausência. 
 
 
Psicopatologia dinâmica. 
O foco está no conteúdo das vivências, 
na experiência individual, nos 
movimentos internos e nos desejos e 
temores do indivíduo, os quais não são 
necessariamente classificáveis. 
 
 
Psicopatologia Biológica. 
O adoecimento ocorre por falhas no 
cérebro, com processos neuroquímicos 
desregulado provocando os sintomas 
clínicos. 
 
 
 
Psicopatologia existencial. 
O indivíduo é visto como uma "existência 
singular", que é essencialmente histórico 
e humano, apenas habitando o corpo 
biológico. O adoecimento se dá como 
uma forma trágica de ser no mundo, uma 
existência dolorosa para si e para os 
outros. 
 
 
Psicopatologia comportamental 
cognitivista. 
A doença se dá por meio de 
comportamentos disfuncionais 
realizados por representações cognitivas 
disfuncionais, aprendidas e reforçadas 
pelas experiência pessoal e 
sociofamiliar. 
 
 
Psicopatologia psicanalítica. 
Para a psicanálise, o ser humano é 
dominado por conflitos e desejos 
inconscientes.A doença se dá pela 
interação entre tais conflitos com as 
normais culturais e com a possibilidade 
de satisfação desses desejos. 
 
24 
 
 
 
 
Psicopatologia categorial. 
As doenças mentais são compreendidas 
como específicas e individualizadas e 
são constituídas por um conjunto de 
sinais e sintomas específicos, havendo 
uma fronteira nítida entre cada 
transtorno mental. 
 
 
 
 
Psicopatologia dimensional. 
Este modelo é antagônico à 
psicopatologia categorial, argumentando 
ser mais próximo da realidade, pois o 
conjunto de queixas apresentadas pelos 
indivíduos dificilmente se enquadram 
exclusivamente em uma categoria. Cria-
se então o “espectro bipolar”, “espectro 
da esquizofrenia”, etc. 
 
 
Psicopatologia sociocultural. 
Os transtornos mentais seriam 
comportamentos desviantes que surgem 
a partir da discriminação, da pobreza, da 
migração, do estresse, da 
desmoralização, etc. 
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019). 
 
Percebe-se que não existe um único referencial psicopatológico capaz de 
englobar toda complexidade do ser humano. Cada modelo apresentado terá suas 
fortalezas e limitações. Diante das situações clínicas, caberá ao profissional 
compreender o indivíduo da forma mais completa possível e, consequentemente, 
utilizar o referencial mais adequado a cada caso e a cada momento. 
4 O QUE É DOENÇA MENTAL? 
Conhecendo os múltiplos conceitos de saúde mental, normalidade e 
psicopatologia, fica claro que não é possível realizar um conceito definitivo de saúde 
 
25 
 
mental. Qualquer modelo de doença mental será, inevitavelmente, limitado e 
incompleto. 
A classificação das doenças mentais foi realizada por um conselho de 
especialistas da associação américa de psiquiatria e publicado no Manual Diagnóstico 
e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, do inglês Diagnostic and Statistical 
Manual of Mental Disorders), que atualmente se encontra em sua quinta edição (DSM-
5), lançada em 2013. A classificação internacional das doenças (CID) segue modelo 
semelhante ao DSM. 
O conselho elaborador do DSM optou por utilizar o conceito psicopatológico 
categorial: cada transtorno mental é descrito como um conjunto de sinais e sintomas 
descritos ao longo de determinados critérios diagnósticos. Utilizam-se diferentes 
conceitos de normalidade, com predomínio da normalidade funcional, ou seja: 
transtorno mental que surge assim que surgem sinais e sintomas levando a limitações 
objetivas no trabalho, na vida conjugal, nas relações familiares, no desempenho 
acadêmico e na vida social ou pelo menos sofrimento psicológico subjetivo. 
Os sintomas que levam a esse sofrimento nominado clinicamente significativo 
podem ser experiências vivenciadas na normalidade como tristeza, medo ou 
ansiedade, porém em intensidade, frequência e duração exacerbados. Também 
podem ocorrer sintomas que normalmente não ocorrem na normalidade, como é o 
caso das alucinações e delírios. Vale ressaltar que qualquer experiência que faça 
parte de um contexto religioso, cultural ou político-partidário nunca pode ser 
considerada sintoma ou doença mental. 
Uma desvantagem do diagnóstico categorial é que os transtornos mentais nem 
sempre se enquadram completamente nas fronteiras de um único transtorno. Por 
exemplo, aquele que padece de depressão frequentemente terá queixas relacionadas 
à ansiedade, podendo ou não se enquadrar em um diagnóstico adicional. Além disso, 
alguns transtornos mentais ocorrem juntos com mais frequência do que 
individualmente, como é o caso dos transtornos de personalidade. Estatisticamente, 
se as comorbidades psiquiátricas são mais frequentes do que um único diagnóstico, 
deve-se inferir que os dois transtornos são, na verdade, manifestações de uma única 
doença, e não de dois ou mais diagnósticos separados. 
Como os critérios diagnósticos foram definidos por um conselho de 
especialistas, eles são vulneráveis a falhas e vieses humanos. Grupos de pesquisa 
 
26 
 
tentam classificar os transtornos mentais de acordo com um mecanismo 
etiopatogênico biológico subjacente como disfunção do sistema serotoninérgico, 
noradrenérgico, etc. 
Apesar de tais limitações, optou-se pelo diagnóstico categorial por conta de 
uma série de vantagens. Primeiramente, ele permite uniformizar o diagnóstico 
psiquiátrico ao redor do mundo, possibilitando a troca de informações confiáveis por 
pesquisadores e profissionais de saúde. Sem uma padronização diagnóstica não seria 
possível comparar os achados de um estudo com outro já que cada um utilizou 
critérios distintos para classificar os enfermos. 
Também permite a realização de pesquisas clínicas sobre a efetividade do 
tratamento medicamentoso ou não medicamentoso, levantamento de dados 
estatísticos e epidemiológicos e investigação de mecanismos fisiopatogênicos. Sem 
embasamento científico, a psiquiatria não seria diferente do curandeirismo. Vale 
ressaltar que a realização de um diagnóstico formal é apenas uma parte da avaliação 
psiquiátrica. 
Os demais elementos excluídos do diagnóstico podem e devem ser avaliados 
na prática clínica. Assim, o profissional deve investigar o contexto sociocultural, os 
relacionamentos familiares, as percepções do cliente sobre o próprio adoecimento e 
as características psicológicas podendo utilizar o referencial psicanalítico, cognitivo 
comportamental, interpessoal, sistêmico, etc. 
5 ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE MENTAL 
Muitas são as ações de educação que ocorrem na saúde da família voltadas 
para a saúde mental. Em cada uma delas, a atuação do profissional é fundamental 
para tornar o paciente um sujeito ativo em relação às suas escolhas, tanto no que diz 
respeito à manutenção como na mudança de hábitos que tornarão sua vida mais 
saudável em diversos aspectos. 
A saúde mental e as atividades de promoção em saúde ocorrem no âmbito das 
unidades básicas e nos centros especializados, onde o profissional tem papel 
fundamental para orientação do tratamento adequado para cada caso, seguindo as 
orientações do Ministério da Saúde, conforme as políticas direcionadas. Neste 
 
27 
 
capítulo, você vai ver como são constituídos os conceitos de educação e promoção 
em saúde e a maneira como eles se aplicam na saúde mental. 
Verá, ainda, as ações governamentais e a estruturação básica dos centros de 
tratamentos especializados de atendimento psicossocial. Além disso, serão 
apresentadas as ações esperadas do profissional e da equipe de saúde na atuação 
em saúde mental e saúde da família. 
5.1 Educação em saúde: definições 
Os conceitos de educação em saúde, educação na saúde e promoção à saúde 
estão altamente vinculados. Conforme apresentado por Falkenberg et al. (2014), 
existe uma diferenciação entre os conceitos que deve ser clareada ao entendimento 
geral: educação em saúde e educação na saúde. Além disso, a promoção em saúde 
se apresenta como um terceiro conceito vinculador dos demais. 
A educação em saúde, conforme definição do Ministério da Saúde (2006), tem 
como objetivo que a população se aproprie de conhecimentos sobre saúde que gerem 
autonomia para que possam debater estas questões vinculadas as suas 
necessidades. Sendo assim, a educação em saúde prioriza e valoriza os 
conhecimentos prévios da população, não somente se utilizando daqueles 
desenvolvidos a partir do conhecimento científico, de forma a enfatizar a educação 
popular em saúde, voltada às necessidades de cada população e vinculadas ao meio 
em que estão. 
As ações de educação em saúde podem ser definidas como as medidas 
práticas apresentadas pelas equipes de saúde que irão auxiliar os pacientes nas 
ações de promoção em saúde, realizadas pelas diversas instituições e pelos agentes 
da saúde (FALKENBERG et al. 2014; KESSLER et al. 2018). 
 A educação na saúde é um conceito direcionado aos profissionais, pois se 
baseia na construção de conhecimentos científicos relativos à formaçãodaqueles que 
atuam diretamente nas áreas da saúde, de forma a envolver preceitos de ensino, 
didática e orientação curricular. 
Sendo assim, Falkenberg et al. (2014) enfatizam que a educação permanente 
em saúde, definida pelas ações educativas que objetivam a transformação das 
 
28 
 
práticas profissionais, deverá agregar maior conhecimento dos profissionais que 
atuam nos setores de saúde, de forma a gerar melhorias nas ações que qualificam os 
processos de trabalho, levando em consideração a realidade regional de onde se 
inserem. 
 Os conceitos de promoção em saúde são definidos por aspectos 
comportamentais, de estilo de vida e hábitos regulares, condições sociais e 
ambientais onde o indivíduo está inserido, se apropriando dos conhecimentos 
necessários para melhorar sua qualidade de vida atual, seja com a manutenção ou 
com a mudança de hábitos. A promoção em saúde visa a tornar o paciente um sujeito 
ativo e responsabilizado por seus cuidados e ações que propiciem uma melhoria em 
sua qualidade de vida, na presença ou não de doenças ativas, sejam estas de ordem 
física ou mental. 
Nas comunidades, essas ações de promoção em saúde são normalmente 
realizadas nas unidades básicas de atendimento e têm grandes vantagens, pois 
conseguem direcionar as atividades para um grupo de pessoas em uma área definida, 
em que já existe o conhecimento por parte dos profissionais sobre as condições 
sociais locais. Dessa maneira, é possível avaliar quais doenças crônicas são 
prevalentes e quais formas de ação trarão resultados mais expressivos para que os 
paciente/moradores locais sejam atraídos para a responsabilidade de serem ativos 
em seus processos de mudança e melhoria. 
Além disso, as unidades básicas e suas equipes são capazes de oferecer 
acesso universal para as orientações, tanto relacionadas com estilos saudáveis de 
vida quanto prevenção e cuidados relacionados às doenças crônicas ou 
transmissíveis (VAZ; FURTADO, 2007 apud KESSLER et al. 2018). 
Além dos serviços oferecidos pelas unidades básicas, existem outros centros 
de ajuda vinculados que podem e devem ser utilizados quando existem situações mais 
específicas. Quando ocorre a verificação que o problema maior do paciente está 
vinculado a questões de saúde mental, existem os CAPSs, que apresentam ações 
especializadas para esses casos, tanto relacionados aos transtornos mentais 
orgânicos quanto aos de dependência de substâncias psicoativas, e que têm 
atendimentos direcionados para todas as faixas etárias. 
 
29 
 
Para melhor compreender como as ações são realizadas, é interessante saber, 
primeiramente, como são constituídos os serviços de saúde mental regidos pela 
Política Nacional de Saúde Mental. 
5.2 Política Nacional de Saúde Mental 
 
 Coordenada pelo Ministério da Saúde (2018), a Política Nacional de Saúde 
Mental é uma das ações do Governo Federal compreendida por diretrizes e 
estratégias que organizam a assistência à população com necessidades específicas 
de atendimentos voltados aos transtornos mentais e abusos de substâncias 
psicoativas (BRASIL, 2018). 
Tais diretrizes envolvem todas as esferas governamentais: Governo Federal, 
Estados e Municípios. A estrutura de atendimento é definida pela Rede de Atenção 
Psicossocial (RAPS), instituída pela Portaria MS/GM nº 3.088, de 23 de dezembro de 
2011, e formada pelos componentes descritos a seguir (BRASIL, 2014; BRASIL, 
2018): 
 
 Atenção Básica em Saúde, composta por: Unidade Básica de Saúde; Núcleo 
de Apoio à Saúde da Família; Consultório na Rua; Centros de Convivência e 
Cultura; Atenção psicossocial estratégica, composta pelos CAPSs, em suas 
diferentes modalidades. 
 
 Atenção de urgência e emergência, composta por: SAMU 192; Sala de 
Estabilização; UPA 24 horas e portas hospitalares de atenção à 
urgência/pronto socorro, Unidades Básicas de Saúde (UBS); Atenção 
Residencial de Caráter Transitório, composta pelas Unidades de Acolhimento 
adulto e infanto-juvenil e pelo Serviço de Atenção em Regime Residencial; 
Atenção hospitalar, por meio de leitos de saúde mental (enfermaria 
especializada) em hospitais gerais; Estratégias de desinstitucionalização, como 
os serviços residenciais terapêuticos e o programa: De Volta para Casa; 
Estratégias de reabilitação psicossocial, com iniciativas de trabalho e renda a 
partir de empreendimentos solidários e cooperativas sociais. 
 
30 
 
5.3 O que são os Centros de Atenção Psicossocial? 
 
 Os CAPS são unidades de saúde especializadas que fazem parte da Política 
Nacional de Saúde Mental, centros especializados voltados para o atendimento de 
pessoas que tenham necessidades relacionadas a transtornos mentais severos, tanto 
de ordem orgânica, como depressão, quanto relacionadas ao abuso de substâncias 
psicoativas, como álcool e drogas (BRASIL, 2019). 
Goiás (2019) menciona ainda que se tratam de atendimentos voltados para 
uma assistência multiprofissional de cuidados terapêuticos que variam conforme cada 
quadro de saúde, e, que realizam atendimentos prioritários às pessoas com 
transtornos de ordem mental, em uma área territorial preestabelecida. 
Além disso, deverão ser capacitados para os atendimentos de pacientes com 
transtornos mentais severos, seguindo o regime de tratamento intensivo, semi-
intensivo e não intensivo (BRASIL, 2014). 
Esses centros têm caráter aberto e comunitário. O ingresso pode ocorrer de 
forma espontânea, no sistema portas abertas, ou por meio do encaminhamento formal 
realizado pelas UBS (BRASIL, 2002; BRASIL, 2019; GOIÁS, 2019). Os CAPSs são 
constituídos de três modalidades: CAPS I, CAPS II e CAPS III. Essas modalidades 
apresentam atendimentos definidos por ordem crescente de complexidade e 
abrangência populacional, conforme definido pela Portaria nº 336, de 19 de fevereiro 
de 2002, do Ministério da Saúde (Quadro 7): 
 
Quadro 7 - Tipos e modalidades de CAPS: 
 
CAPS I 
Voltado para regiões com população entre 20 e 70 mil habitantes. Atendem todas 
as faixas etárias e todos os tipos de transtornos mentais, incluindo álcool e drogas. 
CAPS II 
Voltado para regiões com população entre 70 e 200 mil habitantes. Atendem todas 
as faixas etárias e todos os tipos de transtornos mentais, incluindo álcool e drogas. 
CAPS i II 
 
31 
 
Voltado para regiões com população de cerca de 200 mil habitantes. Atendem 
crianças e adolescentes afetados por todos os tipos de transtornos mentais, 
incluindo álcool e drogas. 
CAPS III 
Voltado para regiões com população acima de 200 mil habitantes. Têm atendimento 
permanente (24 horas), incluindo acolhimento noturno e permanência em 
observação, com até cinco vagas. Atendem todas as faixas etárias e todos os tipos 
de transtornos mentais, incluindo álcool e drogas. A permanência de um mesmo 
paciente no acolhimento noturno é limitada a sete dias corridos ou 10 dias 
intercalados em um período de 30 dias. 
CAPS AD (Álcool e Drogas) II 
Voltado para regiões com população superior a 70 mil habitantes. Atendem todas 
as faixas etárias exclusivamente para os casos de abuso de substâncias 
psicoativas, como álcool e drogas. Atendem cinco dias por semana, em dois turnos, 
ao menos, e devem manter de dois a quatro leitos para observação. 
CAPS AD III 
Têm as mesmas características do CAPS III, porém são voltados exclusivamente 
para o atendimento aos usuários de álcool e drogas. 
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019). 
 
Conforme definido pela Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002, do 
Ministério da Saúde, os atendimentos são definidos da seguinte maneira, em função 
do quadro clínico atual de sua doença: 
 Intensivo: destinado a pacientes que necessitam de acompanhamento diário. 
 Semi-intensivo: destinado a pacientes que necessitam de acompanhamento 
frequente, mas não diário, conforme estabelecido por seu plano terapêutico. 
 Não intensivo: destinado aos pacientes que podem terum acompanhamento 
de menor frequência, conforme estabelecido em seu plano terapêutico e em 
função de seu quadro clínico. 
 
32 
 
5.4 Quais são as principais ações do profissional em saúde mental nos 
Centros de Atenção Psicossociais? 
 
 O profissional tem papel fundamental nas equipes de saúde de atendimento de 
todas as modalidades de CAPS. Cabe ao profissional a realização do atendimento 
acolhedor, buscando entender as motivações que levaram o paciente a buscar o 
serviço, seja por conta própria ou por encaminhamento. As ações devem ser voltadas 
para a avaliação inicial, com uso de técnicas e testes, conforme cada caso, em 
atendimento de consulta individual. Além disso, o profissional também poderá atuar 
realizando atividades em grupos, como oficinas terapêuticas e aquelas voltadas para 
atividades de reinserção social. 
Para os usuários que buscam auxílio na reabilitação quando estão em situação 
de abuso de substâncias psicoativas, como álcool e drogas, os profissionais têm ao 
seu alcance técnicas de entrevista e encorajamento à mudança que podem ser 
utilizados. 
O estudo e a compreensão dessas técnicas tornam o trabalho mais 
direcionado, individualizado, buscando ações concretas que o usuário poderá utilizar 
ao logo de seu tratamento e posteriormente a ele, de forma que se sinta como principal 
sujeito da mudança, sendo responsabilizado por suas ações e melhorias nas 
condições de vida e saúde (BRASIL, 2014). 
5.5 Atenção à saúde mental de crianças e adolescentes 
Não é atribuição da escola realizar a identificação de patologias relacionadas à 
saúde mental de crianças e adolescentes. No entanto, o espaço escolar é um 
ambiente propício tanto para a promoção de ações, acolhidas e criação de espaços 
reflexivos que possam auxiliar na identificação de alterações comportamentais, como 
para gerar um local de espaço onde se sintam, muitas vezes, mais à vontade para 
falar sobre questões próprias. Conforme descrito por Sadock et al. (2017), a 
manifestação de psicopatologias em crianças e adolescentes está diretamente 
relacionada com sua idade e seu grau de desenvolvimento. 
 
33 
 
Para Sadock et al. (2017) alguns transtornos, como déficit de atenção, somente 
poderão ser diagnosticados quando existirem situações em que haja a necessidade 
de manutenção da atenção, como no caso das escolas. Em decorrência da 
variabilidade de apresentações de transtornos mentais em crianças e adolescentes, 
diversas ações e serviços são propostos, visando reconhecer e adequar tratamentos 
correspondentes à complexidade de cada situação (BRASIL, 2014). 
Conforme apresentado pela OMS (2014), a RAPS tem componentes estruturais 
de atendimento. Quando se trata dos cuidados de crianças e adolescentes, alguns 
destes assumem papeis mais efetivos. No atendimento de atenção básica, dentro das 
UBS, as ações de promoção de saúde mental apresentam pontos positivos a serem 
destacados, como a proximidade das unidades com as famílias, as escolas e os 
centros de convivência que integram o território de atuação. 
Isso gera maior vínculo, efetivando os trabalhos de prevenção e cuidados dos 
transtornos mentais, bem como auxilia na redução de danos aos casos de 
envolvimento com álcool e drogas. Além disso, a UBS tem papel importante no fluxo 
de encaminhamento aos outros componentes da RAPS, como os CAPS. 
Ainda em relação à atenção básica, as equipes que atuam nos serviços de 
Consultório de Rua têm um poder de atuação sobre aqueles que não estão no 
ambiente escolar, pois as ações são itinerantes, direcionadas ao público em situação 
de rua. A abordagem de crianças e adolescentes, nesses casos, além de estar 
condizente com o princípio da proteção integral, tratada pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente, tem papel de geração de vínculo com os serviços, pois se demonstra 
disponível para o acolhimento destes e suas demandas. 
Quando se trata de atenção psicossocial estratégica, o CAPS tem papel 
especial, conforme mostrado anteriormente. Qualquer modalidade de CAPS é capaz 
de receber e auxiliar crianças e adolescentes, porém o CAPS i II tem um 
direcionamento exclusivo para esse público (BRASIL, 2014 apud BRASIL, 2018). 
Inúmeras vezes o atendimento de urgência e emergência nos transtornos 
mentais infanto-juvenis também se faz necessário. Crianças e jovens estão sujeitos a 
situações de urgência tanto por conta de transtornos mentais orgânicos como em 
decorrência do abuso de substâncias psicoativas, como álcool e drogas. 
Nesses casos, o atendimento pode ocorrer por meio de qualquer um dos pontos 
de atenção da rede de urgência: SAMU 192, UPA 24 horas, unidades hospitalares de 
 
34 
 
atenção à urgência/pronto socorro, UBS, entre outros. Nos casos em que existe a 
necessidade de internação hospitalar, é assegurado à criança o direito de permanecer 
com acompanhante, mesmo que esta esteja em situação de privação de liberdade, 
como nos casos de cumprimento de medidas socioeducativas (BRASIL, 2014). 
5.6 Ações do profissional no Centro de Assistência Psicossocial Álcool e 
Drogas 
O CAPS AD é uma das modalidades existentes e atua exclusivamente para 
atendimento aos transtornos mentais relacionados ao uso, ao abuso e à dependência 
de substâncias psicoativas, como álcool e drogas, tanto para crianças e adolescentes 
quanto para adultos. Conforme descrito na Portaria nº 336/2002, a assistência 
prestada inclui: 
 Atendimento individual: medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre 
outros. 
 Atendimento em grupos. 
 Atendimento em oficinas terapêuticas. 
 Visitas e atendimentos domiciliares. 
 Atendimento à família. 
 Atividades comunitárias. 
 
 Conforme explica Soares et al (2011), o profissional é capaz de contribuir em 
diversos aspectos, mesmo quando realiza atividades em conjunto com diversos 
profissionais, pois tem a capacidade de avaliar situações de ordem clínica ou 
orgânica, sendo responsável pelo cuidado ao paciente, respeitando suas 
individualidades e necessidades, e sendo um elo entre os pacientes e os demais 
profissionais. 
Dentre as diversas atividades realizadas pelos profissionais no CAPS AD, a 
reabilitação psicossocial é uma das principais, de modo a reinserir o indivíduo na 
comunidade como um todo. Uma das principais atividades realizadas pelos 
profissionais no CAPS AD, tanto infanto-juvenil como adulto, além do atendimento 
individual, é a realização de grupos terapêuticos. Os grupos terapêuticos, conforme 
 
35 
 
apresentado por Bourguignon et al (2010), são constituídos basicamente pelas 
modalidades de acolhimento, acompanhamento e oficinas. 
O grupo de acolhimento é o primeiro em que o paciente se insere, pois nele é 
apresentado o funcionamento da unidade para aqueles que vão ao serviço como 
demanda espontânea e/ou encaminhados por outros serviços. Além desse grupo, 
outro momento considerado como inicial promovido pelo profissional é o atendimento 
individual, em que é coletada a história de vida, é traçado o plano terapêutico e é 
realizado o encaminhamento aos demais profissionais da unidade, conforme 
necessidade do paciente. 
Os grupos de acompanhamento têm por objetivo discutir as estratégias 
utilizadas para os tratamentos, portanto, trata-se de um grupo com demanda mais 
específica, no qual se reúnem aqueles com necessidades e histórias similares, sendo, 
normalmente, organizados conforme faixas etárias, gênero e tipo de drogas utilizadas, 
de forma a agregar conhecimentos e trocas de experiências (BOURGUIGNON et al. 
2010). 
Já as oficinas, conforme detalhadas por Bourguignon et al. (2010), são 
atividades que acontecem de forma mais frequente nos CAPS AD, comumente 
voltadas para aqueles que necessitam de atenção mais intensiva. As oficinas podem 
ser divididas ou classificadas conforme o tipo de atividade a que se propõem, como 
as produtivas voltadas para atividades que poderão gerar renda,as educativas com 
aprendizagens de técnicas e habilidades, as terapêuticas com espaço para reflexão e 
expressão artística e as informativas que trabalham com a exposição de informações 
relacionadas aos tratamentos dos pacientes do grupo. Além do profissional, demais 
profissionais que trabalham no CAPS AD poderão realizar atividades similares, 
variando conforme suas áreas de conhecimento e sua atuação. 
5.7 Ação do profissional em educação em saúde mental e saúde da família 
A atenção especializada em saúde mental e a saúde da família estão 
intimamente ligadas. Os atendimentos em locais especializados, como o CAPS, e em 
locais mais generalistas, como as UBS, compõe uma via de mão dupla, em que ambas 
atuam de forma complementar. Da mesma maneira que a unidade básica pode 
 
36 
 
realizar o encaminhamento ao serviço especializado, após o tratamento, o paciente 
retornará para seus atendimentos de rotina em sua unidade de referência. 
Os profissionais da saúde da família, conhecendo o indivíduo, sua comunidade 
e seus hábitos, tornam-se protagonistas para auxiliar nos tratamentos de saúde 
mental. São eles que irão auxiliar a manutenção, junto com o serviço especializado, 
das mudanças de vida, tanto para doenças crônicas ou orgânicas como para aqueles 
casos de abuso de álcool e outras drogas (VAZ; FURTADO, 2007 apud KESSLER et 
al. 2018). Veja o (Quadro 8) a seguir: 
 
Quadro 8 - Habilidades clínicas do profissional em saúde da família e saúde mental: 
 
Conduzir entrevistas 
Facilitar o acesso à avaliação médica. Reconhecer os principais sinais e sintomas, 
orientando e referenciando para assistência clínica ou psiquiátrica. 
Escuta ativa 
Compreender o paciente. Compreender o modo como vê seus problemas. 
Instrumentos de triagem 
Para identificação de abuso de substâncias psicoativas. Para identificação de 
transtornos mentais orgânicos, como demência e depressão. 
Promover ações preventivas e de auxílio ao tratamento 
Direcionadas às populações de risco de sua região de atuação. Para auxiliar o 
paciente a ser autônomo no controle de suas ações. 
Orientação medicamentosa 
Encorajar a adesão ao tratamento. Avaliar respostas de tratamento e efeitos 
colaterais. 
Planos de cuidados 
Programar e gerenciar planos de cuidados terapêuticos. Instituir tratamentos de 
apoio como terapias comportamentais e plano de redução de danos. 
Fonte: Adaptado de TAVARES (2019). 
 
Torna-se mais comum conseguir a proximidade familiar para que se tenha 
ainda mais progressos na recuperação dos pacientes de saúde mental. A participação 
da família nos tratamentos tem se mostrado de suma importância, ou seja, além do 
 
37 
 
tratamento ao paciente, a educação em saúde mental deve ser expandida para a 
educação em saúde da família. Quando a família recebe orientações adequadas, 
torna-se capaz de, junto com o profissional, auxiliar o paciente em seu processo de 
mudança de hábitos, facilitando o entendimento sobre a responsabilização do cuidado 
ao próprio paciente e auxiliando na reinserção social, de forma a tornar as atividades 
diárias mais efetivas e produtivas. 
6 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM SAÚDE MENTAL 
De acordo com Gorenstein; Wang; Hungerbühler (2016) a invenção dos 
psicofármacos, que ocorreu na década de 1960, estimulou a elaboração e ainda a 
aplicação de instrumentos de avaliação, de modo que a psicometria como ciência se 
remontou ao fim do século XIX, a partir de vários estudos experimentais em psicologia. 
Entretanto, a necessidade de definir a eficácia dos medicamentos demandou o 
desenvolvimento de mecanismos capazes de identificar as mudanças na 
sintomatologia em função da intervenção terapêutica bem como de uma metodologia 
que buscasse de forma específica selecionar pacientes. 
Assim, a psicometria passou a ser uma disciplina própria de estudo, que a partir 
de técnicas estatísticas complexas, tornou-se sofisticada. Inicialmente a proposta era 
utilizar escalas de avaliação em todas as pesquisas o que se entendia que iria garantir 
o rigor científico que ajudaria a incorporar essa disciplina na prática clínica. 
Após mais de meio século do ingresso dos primeiros instrumentos, existe ainda 
a necessidade de uma ampla disseminação do conhecimento, tanto teórico como 
prático, para sua correta utilização: Escalas; questionários; inventários; entrevistas; e, 
instrumentos de avaliação. Se tratam de termos existentes no vocabulário de clínicos 
e pesquisadores brasileiros de diversas áreas. Embora muitas pessoas acreditam que 
as ferramentas de avaliação são úteis, poucas sabem exatamente por que, e em quais 
condições as ferramentas de avaliação são usadas. 
Para os autores supracitados é importante que se saiba não apenas os 
benefícios, mas também as desvantagens para o clínico, tanto para o pesquisador 
quanto para o paciente, de forma que deve sempre identificar: por que, para que e 
como usar instrumentos de avaliação? Outro termo frequentemente usado é: 
 
38 
 
Validação, pois entende-se a necessidade de validar uma escala antes de usá-la em 
uma pesquisa. Muitos pesquisadores percebem que além de simplesmente traduzir 
um instrumento, uma escala também deve ser validada antes de aplicá-la em um 
idioma/ambiente diferente do original. 
6.1 Como utilizar os instrumentos de avaliação 
Gorenstein; Wang; Hungerbühler (2016) elucidam que, em primeiro lugar, deve-
se notar que a escala de avaliação de saúde mental é uma ferramenta padronizada 
composta por um conjunto de itens que podem quantificar características espirituais, 
psicológicas ou comportamentais que nem sempre podem ser observadas. 
Determinar a presença de um sintoma envolve necessariamente a subjetividade do 
paciente e/ou avaliador. As escalas são adequadas para estimar a intensidade, 
frequência ou curso dos sintomas, mas não são usadas para diagnóstico clínico, 
sendo baseadas em entrevista diagnóstica. 
O uso sistemático de escalas padronizadas pode ajudar a identificar aqueles 
que precisam de tratamento, monitoramento ou intervenção. Além de complementar 
o diagnóstico clínico, uma escala é utilizada para avaliar as características clínicas de 
uma determinada doença, documentando sua gravidade e o nível de cuidado 
necessário. Durante o tratamento, o uso de escalas sensíveis à mudança ajuda a 
monitorar a melhora e os efeitos colaterais da intervenção. Essas avaliações também 
são importantes para determinar o prognóstico e determinar as decisões de 
tratamento ou processos administrativos. 
Os pacientes, por sua vez, também se beneficiam do uso de escalas 
padronizadas, pois fornecem sinais e sintomas e evitam perdê-los em relação ao 
problema. Quando os sintomas são quantificados e vinculados de acordo com um 
sistema de consenso (por exemplo, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais - DSM ou a Classificação Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados à Saúde - CID), haverá uma melhora na consistência dos resultados, 
de vez em quando ou entre os examinadores. 
A padronização da linguagem é essencial para melhorar a comunicação entre 
profissionais e pacientes. No entanto, as escalas padronizadas não são isentas de 
 
39 
 
desvantagens. Um aspecto a ser considerado é o custo associado ao seu uso, tempo 
do paciente e do clínico, necessidades de treinamento, custos de aquisição de 
equipamentos e materiais e equipamentos associados. Assim, o uso indiscriminado 
de instrumentos pode levar à detecção inadequada de muitos casos em que não há 
real necessidade de tratamento. Portanto, é necessário considerar os custos e 
benefícios da adoção de uma determinada escala ao considerar todos os participantes 
da pesquisa. 
A construção deve seguir princípios teóricos que se supõem adequados, e a 
ferramenta geradora deve ter fortes propriedades psicométricas. Dentre as 
propriedades atribuídas às escalas de avaliação, destacam-se a confiabilidade e a 
validade. A confiabilidaderefere-se à qualidade de uma medição em relação à sua 
precisão, ou seja, quanto mais confiável for um dispositivo, menor será o erro devido 
ao viés ou ao acaso. 
Confiabilidade, reprodutibilidade e estabilidade da escala são termos 
equivalentes, garantindo que os efeitos de uma intervenção sejam registrados 
adequadamente. Essas propriedades são especialmente importantes no caso de 
ensaios clínicos cujas conclusões dependem da confiabilidade de medidas repetidas. 
A validade refere-se à capacidade de um instrumento de medir o que deve medir. Os 
pesquisadores devem certificar que a escala pode de fato medir o impacto de 
interesse, ou seja, a estrutura medida pela escala. Confiabilidade e validade foram 
determinadas usando diferentes metodologias. 
Um instrumento que apresenta boa evidência de qualidades psicométricas em 
seu idioma original pode ter suas propriedades alteradas e prejudicadas ao ser 
traduzido para outro idioma. A maioria das escalas usadas no Brasil são feitas em 
inglês. As primeiras aqui adotadas foram traduzidas e aplicadas em pesquisas sem 
estudos formais de sua qualidade. Talvez, a necessidade de atuação competitiva em 
nível internacional no campo da psicofisiologia tenha levado pesquisadores brasileiros 
a optar por utilizar ferramentas ainda não validadas em nosso país. Por exemplo, a 
Escala de Declínio de Hamilton, amplamente utilizada desde a década de 1980, só 
recentemente (em 2014) recebeu seu merecido reconhecimento doméstico. 
A simples tradução de um instrumento, muitas vezes não é adequada ou 
suficiente para começar a usá-lo. Expressões idiomáticas sem semelhanças 
linguísticas e culturais devem ser adaptadas ao português brasileiro, bem como à 
 
40 
 
cultura local e comportamentos socialmente aceitáveis. Além disso, a apresentação 
clínica, o curso e o prognóstico de muitos transtornos psiquiátricos podem ser 
influenciados por fatores socioculturais. 
O instrumento final, após processos de tradução e adaptação transcultural, 
ainda necessita de estudos adicionais de validação no novo ambiente para que sua 
equivalência possa ser estabelecida na população alvo. Solicitar a validação 
transcultural de uma ferramenta é um processo demorado e trabalhoso, mas 
necessário. 
6.2 Como escolher a escala a ser usada 
De acordo com Gorenstein; Wang; Hungerbühler (2016) ao longo das últimas 
décadas, diversos instrumentos de avaliação foram traduzidos, recompilados, 
validados e publicados na literatura científica nacional. Cada vez mais essas escalas 
estão sendo utilizadas em pesquisas e na prática clínica no Brasil. Esse cenário 
aparentemente favorável reflete a necessidade de estabelecer critérios que orientem 
a seleção do instrumento mais adequado para cada objetivo. 
A existência de informações adequadas de medidas psicométricas e os 
objetivos de pesquisa contextualizados da escala foram fundamentais para a seleção. 
Seria imprudente usar uma longa entrevista estruturada, que requer treinamento 
especializado, para avaliar um aspecto específico da patologia, como uma fobia 
específica. 
Também é importante saber exatamente como usar e interpretar os resultados 
e evitar erros devido a fatores que interferem nas medições. 
É necessário o uso correto do instrumento, ou seja, conhecendo seus pontos 
fortes, pontos fracos, bem como os fatores que afetam os escores, os cuidados 
necessários na aplicação e interpretação do instrumento, resultados, de forma crítica 
observando as limitações da ferramenta, pois a dificuldade de objetivar e quantificar a 
doença mental é um dos maiores obstáculos para o avanço da pesquisa em saúde 
mental. A escala de classificação não é uma ferramenta de fácil utilização. 
[...] a não observação dos limites e as dificuldades da utilização e da análise 
de resultados das escalas de avaliação psiquiátrica foram o maior demolidor 
 
41 
 
do otimismo inicial quanto ao potencial desses instrumentos. (GORENSTEIN; 
WANG; HUNGERBÜHLER, 2016) 
O destruidor a que o autor se refere acima de tudo é o mau uso da balança. A 
pontuação total da escala é uma aproximação e nem sempre reflete a complexidade 
do fenômeno psíquico. Por exemplo, um indivíduo cuja pontuação geral no Inventário 
de Depressão de Beck é consistente com depressão leve pode ser clinicamente grave 
se tiver uma pontuação alta em ideação suicida. Por outro lado, uma pontuação alta 
nem sempre indica um caso de depressão maior. Portanto, o uso da escala de 
classificação é independente do julgamento e interpretação clínica. 
6.3 Selecionando os instrumentos específicos 
A ampla e crescente gama de medidas utilizadas em saúde mental impossibilita 
a inclusão de todas as medidas disponíveis para todas as áreas relacionadas em um 
único livro impresso. A seleção dos instrumentos incluídos revelou-se uma tarefa 
extremamente difícil e, para diminuir a subjetividade e desproporção das áreas 
abrangidas, foram adotados diversos critérios de inclusão: 
1. O instrumento está traduzido para o português. 
2. As evidências de confiabilidade e validade das escalas já foram publicadas, isto 
é, o material foi revisado por especialistas, e há disponibilidade suficiente de 
informações para avaliar a qualidade psicométrica do instrumento. 
3. Os dados dessas escalas podem ser obtidos diretamente do paciente ou 
informante. 
4. As escalas são de fácil aplicação, sem a necessidade de equipamentos 
sofisticados suplementares. Nos casos em que várias escalas para a mesma 
finalidade preencherem esses critérios, terão primazia as mais utilizadas de 
acordo com a literatura científica. 
Gorenstein; Wang; Hungerbühler (2016) entendem a necessidade de uma 
inclusão de ferramentas internacionalmente bem estabelecidas para permitir a 
comparação intercultural. Ferramentas cuja aplicabilidade estava limitada a uma 
população ou finalidade específica (por exemplo, a Escala de Hipocondria 
institucionalizada para pacientes geriátricos) não foram incluídas. 
 
42 
 
A publicação do livro Clinical Rating Scales in Psychiatry and Forense Medicine, 
em 2000, foi a primeira iniciativa a reunir em livro o conhecimento existente sobre a 
aplicação dessas ferramentas no Brasil. Por muitos anos, esta compilação preencheu 
um vácuo editorial diante da necessidade acadêmica no país. 
Felizmente, no entanto, várias ferramentas psicométricas foram validadas e 
publicadas na literatura científica nos últimos 15 anos. O entusiasmo gerado por esse 
cenário crescente nos impulsionou a ampliar a iniciativa anterior, desenvolvendo uma 
obra atualizada que fosse abrangente e de fácil consulta. No entanto, isso não é 
definitivo. O processo de introdução e validação das novas escalas está em 
andamento. O desenvolvimento recente dos conceitos de saúde mental e a aplicação 
dos avanços da neurociência enfatizam a natureza dinâmica do assunto. Os autores 
supracitados mencionam a necessidade de uma atualização antes de 15 anos. 
6.4 Entrevistas diagnósticas e instrumentos de triagem 
Gorenstein; Wang; Hungerbühler (2016) mencionam que a partir da segunda 
metade do século XX, houve uma importante mudança nas práticas do diagnóstico 
psiquiátrico. Juntamente com a ênfase na confiabilidade da avaliação psicopatológica, 
foram realizados estudos epidemiológicos sobre os transtornos mentais que afetam 
os indivíduos que vivem na comunidade. Em paralelo, a necessidade de comprovar a 
eficácia das substâncias psicoativas após 1960 impulsionou as pesquisas sobre 
entrevistas diagnósticas e escalas de avaliação. 
Disfunção, diminuição da qualidade de vida e consequências socioeconômicas 
relacionadas com a presença de transtornos mentais comuns, como ansiedade, 
depressão e abuso de substâncias psicoativas, são fatores tão importantes quanto 
aqueles associados com problemas físicos comuns, como hipertensão, diabetes, 
artrite, asma ou dor nas costas. 
Portanto, a detecção de pessoas com transtornos mentais

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