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UNIDADE 1 AVA DIREITO Processual Constitucional

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Objetivos
Seção 2 de 5
UNIDADE 1.
Tutela das liberdades fundamentais
OBJETIVOS DA UNIDADE
Compreender a teoria geral das garantias constitucionais;
Compreender sobre a utilização do habeas corpus;
Identificar o cabimento do habeas data.
TÓPICOS DE ESTUDO
Clique nos botões para saber mais
Teoria geral das garantias constitucionais
+
Habeas corpus
+
Habeas data
+
Teoria geral das garantias constitucionais
Seção 3 de 5
A teoria geral dos direitos humanos e a teoria geral do Estado têm, em seu desenvolvimento histórico, o mesmo escopo e objetivo: a limitação do poder estatal e a proteção do ser humano contra as arbitrariedades.
O desenho do sistema de proteção de direitos humanos e os contornos atribuídos ao Estado Democrático de Direito são formas de fixar limites aos abusos cometidos pelos governantes e por aqueles que agem em nome do Estado, formulando mecanismos judiciais de tutela e defesa da dignidade humana.
Desse modo, ao lado das declarações de direitos, começaram a ser definidos e garantidos instrumentos para assegurar o gozo desses direitos. Há autores que defendem que se trata de direitos-garantias ou de direitos instrumentais. Não é possível nem necessário fazer uma correspondência direta entre cada um dos direitos humanos (ou direitos fundamentais) e os instrumentos previstos para assegurar o respeito a tais direitos. Porém, desenhou-se um sistema de ações e garantias constitucionais para o gozo dos direitos fundamentais, facilitando a sua efetivação – e dificultando a sua violação.
No âmbito das classificações dos direitos fundamentais, intenta-se, por vezes, distanciar os direitos das garantias. Há, no Estatuto Político, direitos que têm como objeto imediato um bem específico da pessoa (vida, honra, liberdade física). Há também, outras normas que protegem esses direitos indiretamente, ao limitar, por vezes procedimentalmente, o exercício do poder. São essas normas que dão origem aos direitos-garantia, às chamadas garantias fundamentais.
As garantias fundamentais asseguram ao indivíduo a possibilidade de exigir dos Poderes Públicos o respeito ao direito que instrumentalizam. Vários direitos previstos nos incisos do art. 5º da Constituição se ajustam a esse conceito. Vejam-se, por exemplo, as normas ali consignadas de direito processual penal.
Nem sempre, contudo, a fronteira entre uma e outra categoria se mostra límpida – o que, na realidade, não apresenta maior importância prática, uma vez que a nossa ordem constitucional confere tratamento unívoco aos direitos e garantias fundamentais (MENDES; BRANCO, 2012, p. 192-193).
Segundo Paulo Bonavides (2003), garantias constitucionais são garantias que disciplinam e protegem os direitos fundamentais, ao mesmo tempo que orientam o funcionamento das instituições nos limites da Constituição. Desse modo, para compreender o alcance das garantias constitucionais, deve-se vislumbrá-las sempre como instrumento para o respeito a um direito. A principal diferença é que a garantia constitucional visa, em geral, responder à pergunta “como eu garanto determinado direito?”.
PRINCIPAIS AÇÕES CONSTITUCIONAIS
As ações constitucionais são divididas em dois grupos: ações relacionadas à proteção de direitos fundamentais e ações relacionadas à proteção da ordem constitucional. Ambos os grupos estão previstos na Constituição Federal, mas há grandes diferenças em relação ao seu conteúdo e à legitimidade ativa.
As ações relacionadas à proteção de direitos fundamentais são chamadas também de remédios constitucionais e “possuem natureza híbrida: representam ações regidas pelo Direito Processual, mas, ao mesmo tempo, são inseridas na Constituição e desempenham a função de proteger direitos fundamentais” (RAMOS, 2014, p. 772). Nesse grupo, estão inseridos o habeas corpus, o habeas data, o mandado de segurança individual, o mandado de segurança coletivo, o mandado de injunção, a ação popular, a ação civil pública e o direito de petição. São ações que podem ser manejadas por qualquer pessoa que se enquadre na situação de violação de direito específico.
As ações relacionadas à proteção da ordem constitucional voltam-se ao controle concentrado de constitucionalidade. Nesse caso, o objetivo é verificar se determinada norma jurídica ou situação jurídica viola a Constituição. Aqui se insere a ação direta de inconstitucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade, ação direta de inconstitucionalidade por omissão, ação de descumprimento de preceito fundamental e representação interventiva. Trata-se de ações que podem ser propostas por um rol específico de legitimados e que tramitam e são julgadas no Supremo Tribunal Federal. A ação civil pública e a ação popular, principalmente, podem realizar o controle difuso de constitucionalidade DIREITO DE PETIÇÃO E DIREITO DE OBTER CERTIDÕES
Tanto o direito de petição quanto o direito de obter certidões são direitos-garantias atípicos. Isso porque eles podem ter por objeto o exercício de qualquer outro direito fundamental material ou não, isto é, podem se esgotar em si mesmos – diferentemente dos outros direitos-garantias. Ambos os direitos são previstos no art. 5, inciso XXXIV, da Constituição Federal, nos seguintes termos:
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal (BRASIL, 1988).
O direito de petição se insere na construção histórica de direitos humanos como petition of rights (em português, petição de direitos), voltada a uma manifestação escrita do indivíduo, dirigida ao Poder Público, para que faça ou deixe de fazer algo. Trata-se de um instrumento tradicional no direito constitucional brasileiro, previsto já na Constituição Imperial de 1824 e pode se voltar a defesa de interesse individual ou coletivo.
Da mesma forma, o direito de obter certidões é voltado ao fornecimento de informações pelo Poder Público sobre determinada situação, ou para a defesa de direitos. Tanto o direito de petição quanto o direito de obter certidões são garantidos sem a cobrança de taxas ou necessidade de representação por advogado. Podem ser exercidos por pessoa física, jurídica ou ente despersonalizado, mas são voltados à Administração Pública (órgãos públicos ou instituições privadas que realizam função pública).
Por fim, o direito de petição não significa que haja qualquer direito a ter o pedido deferido. Porém, o indivíduo provoca a autoridade e demanda uma resposta, positiva ou negativa, que deve ser dada em um tempo razoável e comunicada ao peticionante. A Administração Pública pode regulamentar, em seu âmbito, o direito de petição, desde que não signifique a imposição de obstáculos ou prejuízos às pessoas que exerçam esse direito.
CITANDO
O inciso XXXIII do art. 5º da Constituição Federal estabelece o “direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. Trata-se de uma das aplicações possíveis do direito de petição e que foi regulamentada pela Lei de Acesso à InConsiderando a teoria geral das garantias constitucionais, analise as alternativas e, a seguir, assinale a correta:
Garantias constitucionais são instrumentos de efetivação dos direitos fundamentais, ambos previstos na Constituição Federal de 1988.
Garantias constitucionais e direitos fundamentais são expressões sinônimas e intercambiáveis, não existindo diferença conceitual entre ambas.
Direito de petição e direito de obter certidões são direitos fundamentais, mas não são garantias constitucionais para exercício deHabeas corpus
Seção 4 de 5
O habeas corpus é uma ação constitucional que possui os mais antigos registros e a mais larga utilização. Há referências aos primórdios desse meio de impugnaçãono direito antigo lusitano-português e no direito romano, extraindo sua denominação da fórmula latina “Tomes o corpo de delito e venhas submeter ao Tribunal o homem e o caso” (DI PIETRO, 2020). Porém, não há dúvida de que seu registro mais seguro se dá no direito inglês a partir da Magna Carta, em 1215, com evoluções posteriores no Habeas Corpus Act de 1679 e de 1816.
Magna Carta Libertatum era uma carta legal inglesa, que exigia que o rei João da Inglaterra proclamasse certos direitos, respeitasse certos procedimentos legais e aceitasse que sua vontade poderia estar vinculada pela lei.
Figura 1. Magna Carta Libertatum. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06/05/2021.
O desenvolvimento do instituto do habeas corpus na tradição anglo-saxã refletiu no direito brasileiro, surgindo, inicialmente, no Código de Processo Criminal do Império, em 1832. A primeira Constituição que previu o habeas corpus foi a Constituição de 1891, criando-se uma doutrina brasileira que defendia a ampliação do seu escopo para além do direito à liberdade, diante da inexistência de limitação no texto constitucional. Em 1926, uma reforma constitucional encerrou as divergências e limitou o habeas corpus à proteção do direito de locomoção.
Quadro 2. Surgimento do habeas corpus no Direito Brasileiro.
Habeas corpus é a garantia da liberdade individual diante do poder estatal. Voltando-se à teoria geral das garantias fundamentais, o habeas corpus é uma garantia que se destina a um direito específico – a liberdade de locomoção.
O habeas corpus está relacionado à ideia de prisão ou de violação do direito de ir e vir. Destina-se, assim, a reprimir ou a prevenir prisões ilegais. Realizando a leitura do habeas corpus dentro do desenho do art. 5 da Constituição Federal, deve-se recorrer a essa ação sempre que houver ameaça à liberdade:
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança (BRASIL, 1988).
Trata-se, assim, de importante instrumento de tutela dos direitos fundamentais. Não se trata de um recurso, mas de uma ação própria, ou ação impugnativa. Pode ser utilizada sempre que a liberdade de locomoção está em jogo. Por essa razão, o Supremo Tribunal Federal editou as súmulas 693 e 695, que vedam a utilização do habeas corpus quando a pena privativa de liberdade já está extinta ou quando se trata de condenação exclusivamente em pena de multa (ou quando se trata de processo cuja infração penal só se comine a pena de multa). São hipóteses que não está, em regra, ameaçada a liberdade de locomoção.
CABIMENTO, HIPÓTESES E ESPÉCIES
O habeas corpus é um instrumento que pode ser utilizado em qualquer hipótese de restrição ilegal de liberdade, ou de ameaça de restrição. O Código de Processo Penal traz um rol de cabimento do habeas corpus, que é meramente exemplificativo, não sendo exaustivo.
O habeas corpus é cabível quando não houver justa causa, seja para a prisão ou seja para uma ação ou investigação penal. Assim, pode-se recorrer ao habeas corpus para questionar a falta de fundamentação adequada de uma prisão ou para questionar que não estão presentes os requisitos para a instauração de um inquérito policial (ou uma investigação penal ministerial) ou para a deflagração de uma ação penal.
O habeas corpus também é cabível quando: (i) a prisão tiver sido determinada por autoridade incompetente; (ii) quando não se verifica mais o motivo que justificou a prisão; (iii) quando a punibilidade já está extinta; (iv) quando o processo está eivado por nulidade; e (v) quando já se ultrapassou o tempo da prisão previsto em lei. Essas são as hipóteses previstas no Código de Processo Penal, mas que são amplas o suficiente para abarcar os casos de prisão ilegal, em que se identifica, de plano, que se trata de restrição indevida de liberdade.
A regulamentação do habeas corpus está incluída no Código de Processo Penal, até por conta de seu escopo de tutela do direito à liberdade e, exatamente por conta da maior parte dos casos de restrição ilegal de liberdade ocorrerem no campo penal. Em geral, são comuns prisões ilegais em autos de prisão em flagrante, inquéritos policiais, ações penais e execuções criminais.
Porém, o uso do habeas corpus não se restringe ao âmbito penal. É possível – e também ocorre com certa frequência – a sua utilização para questionar a restrição de liberdade praticada por hospitais, clínicas de saúde, instituições de longa permanência para idosos (antigos asilos ou casas geriátricas), serviços de acolhimento para crianças e adolescentes (antigos abrigos) e comunidades terapêuticas. Na área psiquiátrica, o habeas corpus é rotineiramente usado para questionar a internação involuntária ou compulsória desnecessária e contra a vontade do paciente.
Deve-se ressaltar que as punições disciplinares não podem ser reanalisadas em sede de habeas corpus, por expressa vedação constitucional (art. 142, § 2, da Constituição Federal). Porém, esse dispositivo deve ser interpretado em conjunto com a garantia insculpida no art. 5, LXVIII, da Constituição, a qual permite que o habeas corpus seja utilizado para o controle da regularidade da punição em seu aspecto formal. No entanto, nos termos da Súmula 694 do Supremo Tribunal Federal, não é cabível habeas corpus para discutir o tipo de sanção aplicada (“Não cabe habeas corpus contra a imposição de pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública”).
Por fim, o habeas corpus pode ser preventivo ou repressivo. Habeas corpus repressivo é o tipo mais comum e é utilizado quando a prisão ou restrição da liberdade já ocorreu. Seu objetivo é cessar a limitação do direito à liberdade. Habeas corpus preventivo é quando se deseja evitar a prisão ou a limitação do direito à liberdade – podendo ser utilizado para evitar a prisão ou conduções coercitivas em investigações criminais. Outra classificação possível é entre habeas corpus individual e habeas corpus coletivo, que será abordada em subtópico subsequente.
CONTINUE
COMPETÊNCIA
A competência para o julgamento de habeas corpus está prevista na Constituição Federal e nas Constituições Estaduais, com algumas especificações nas leis de organização judiciária estaduais e nos regimentos internos dos tribunais. A principal regra é que o habeas corpus é sempre dirigido para o nível superior àquele da autoridade coatora naquele espaço (princípios da hierarquia e da territorialidade).
Autoridade coatora é a pessoa responsável pela restrição do direito à liberdade. Pode ser o(a) Delegado(a) de Polícia, o(a) Promotor(a) de Justiça, o(a) diretor(a) do estabelecimento de saúde ou de assistência social, o(a) juiz(a), a Turma Julgadora ou o Tribunal.
Quadro 4. Autoridade coatora.
A identificação correta da autoridade coatora é importante, para além dos aspectos processuais, para a correta identificação da competência. Assim, um habeas corpus contra ato de um(a) Delegado(a) de Polícia deve ser interposto no juízo de direito do local dos fatos. Da mesma forma, um habeas corpus contra o dirigente de um estabelecimento de saúde ou de assistência social, também deve ser interposto no juízo de direito do local dos fatos. Já um habeas corpus contra ato de um(a) Promotor(a) de Justiça, deve ser interposto no Tribunal de Justiça (houve, durante algum tempo, divergências sobre o tema, mas foi pacificadopelos Tribunais Superiores que a competência é do Tribunal de Justiça, independentemente de previsão na Constituição estadual).
Os demais casos seguem a mesma lógica recursal em matéria criminal – um habeas corpus contra a decisão de um(a) juiz(a) deve ser impetrado no Tribunal de Justiça, enquanto um habeas corpus contra um acórdão de uma turma julgadora do Tribunal de Justiça deve ser interposto no Superior Tribunal de Justiça. O Diagrama 1 ajuda a identificar o trâmite judicial recursal, incluindo as justiças especializadas.
Diagrama 1. Organograma do Poder Judiciário brasileiro. Fonte: BRASIL. Acesso em: 06/05/2021.
O Código de Processo Penal traz um dispositivo que deixa clara essa organização da competência: “Art. 650. § 1 - A competência do juiz cessará sempre que a violência ou coação provier de autoridade judiciária de igual ou superior jurisdição” (BRASIL, 1941). Existe alguma discussão acerca do cabimento de habeas corpus em face de decisão monocrática de desembargador ou de ministro do Superior Tribunal de Justiça. Tem prevalecido a ideia de que devem ser esgotados os recursos cabíveis para um julgamento colegiado. De qualquer forma, o habeas corpus, se interposto, será sempre impetrado no Tribunal Superior (Superior Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Federal, conforme o caso).
Por fim, a Constituição Federal também traz algumas competências específicas em razão do paciente, isto é, aquele que sofre a restrição em sua liberdade de locomoção:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores [o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente]; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
(...)
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea "a", [os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais] ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral (BRASIL, 1988).
Desse modo, autoridades sujeitas à jurisdição dos Tribunais Superiores, seja como pacientes, seja como autoridades coatoras, podem ter a competência para seu julgamento junto a estes Tribunais, caso se enquadrem nas previsões do art.102 ou 105 da Constituição Federal. Vale destacar que o Supremo Tribunal Federal possui competência para o julgamento de habeas corpus em relação a ato de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das casas do Congresso Nacional.
A Constituição traz, ainda, a previsão da competência dos Tribunais Regionais Federais, dos juízes federais, da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral (Tribunal Regional Eleitoral e Tribunal Superior Eleitoral). São previsões que seguem, em geral, a regra de territorialidade e de hierarquia, já apresentadas. Atentando-se para a regra geral da competência para julgamento de habeas corpus, deve-se, portanto, verificar se a Constituição Federal ou a Constituição estadual trazem alguma previsão diversa para o julgamento dessa ação constitucional, o que pode ser encontrado, ainda, nas leis de organização judiciária de cada estado ou nos regimentos internos dos tribunais.
Por fim, destaque-se que compete às turmas recursais o julgamento de habeas corpus em relação à decisão do juizado especial. Por sua vez, o habeas corpus em relação à decisão da turma recursal será impetrado perante o Tribunal de Justiça – sendo importante recordar que houve superação da Súmula 690 do Supremo Tribunal Federal (“Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra decisão de turma recursal de Juizados Especiais Criminais”).
EXPLICANDO
Os habeas corpus perante juízes eleitorais e trabalhistas ou perante TRE e TRT, ou mesmo TSE e TST, são cabíveis só nas matérias específicas de sua competência: restrição da liberdade de locomoção em situação relacionada a condições de trabalho e restrição da liberdade de locomoção em contexto eleitoral, respectivamente. Da mesma forma, não apresentamos a competência no âmbito da Justiça Federal: sempre que falamos em juiz de direito e TJ, que é a justiça comum estadual, pode-se aplicar a mesma explicação e raciocínio para casos de competência da Justiça Federal perante o juiz federal e TRF.
CONTINUE
LEGITIMADOS, PROCEDIMENTO, DECISÕES E RECURSOS
O habeas corpus é a ação judicial que possui a menor formalidade possível. Pode ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outra pessoa. Aquele que está sofrendo restrição ilegal da sua liberdade – coação ilegal ou constrangimento ilegal – é chamado de paciente.
Pode ser o próprio paciente que impetra o habeas corpus ou outra pessoa. Se for impetrado por outra pessoa em favor do paciente, o impetrante pode ser pessoa física ou jurídica ou ente despersonalizado.
Essa diferença é relevante porque o habeas corpus pode ser impetrado somente em favor de pessoa física. Porém, o impetrante pode ser pessoa jurídica, ente despersonalizado, outra pessoa física, o próprio paciente ou o Ministério Público.
O habeas corpus coletivo possui algumas diferenças, em especial a distinção entre impetrante e pacientes. Isso porque o habeas corpus coletivo é voltado a um grupo de pessoas, definido ou definível, mas pode ser impetrado por uma pessoa física, pessoa jurídica, ente despersonalizado ou pelo Ministério Público.
Não há, também, qualquer formalidade na petição – deve-se apenas indicar o impetrante (isto é, quem está apresentando a ação), o paciente (isto é, quem está sofrendo a restrição de sua liberdade) e a autoridade coatora (isto é, quem está restringindo a liberdade). Não se exige a representação por advogado – de modo que qualquer pessoa pode apresentar o pedido, independentemente de quem seja a autoridade coatora e qual seja a competência para sua análise.
Mais importante que a forma do pedido é a sua instrução. Por se tratar de uma ação célere e com vistas a cessar uma restrição indevida na liberdade de locomoção, a ideia é que toda a documentação seja apresentada em conjunto com o pedido. Não há previsão de fase de instrução e, também, não se pretende realizar qualquer reanálise processual caso se trate de habeas corpus interposto em relação à prisão decorrente de decisão judicial.
Historicamente, essa ação previa que o julgador determinasse à autoridade coatora para que apresentasse a pessoa presa. Essa prática foi substituída pelo “pedido de informações”, no qual a autoridade coatora apresenta a justificativa da restrição da liberdade, realizando uma defesa de sua atuação e juntando os documentos relacionados:
A especialidade do processo no plano da cognição reside justamente no fato de o juiz não poder conhecer nada senão mediante prova pré-constituída. Qualquer alegação que dependa de prova diversa da documental não pode ser conhecida em habeas corpus (SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2019, p. 1129).
O habeascorpus é, em regra, julgado com base nesses dois grupos de documentações: pedido de habeas corpus com os documentos juntados pelo impetrante e informações prestadas pela autoridade coatora com eventual documentação apresentada. Quando o habeas corpus é interposto perante o juiz de primeiro grau, não há necessidade de participação do Ministério Público, embora o órgão ministerial seja intimado da decisão (para eventual recurso, seja em caso de concessão ou de denegação). Porém, quando o habeas corpus é interposto junto ao Tribunal, há abertura de vistas ao Ministério Público para apresentação de parecer.
Há, ainda, algumas especificidades no procedimento que são importantes de consignar.
Inicialmente, há possibilidade de pedido de liminar. Trata-se de pedido para proteção imediata da liberdade do paciente, o qual se trata de uma construção jurisprudencial com base na previsão existente para o mandado de segurança. A ideia é de que se é cabível a antecipação da tutela no caso de violação de outro direito líquido e certo diverso do direito à liberdade, da mesma forma, deve ser permitida e concedida a tutela antecipada para casos em que se verifique, de plano, a violação ao direito de liberdade.
No entanto, consolidou-se nos Tribunais Superiores o entendimento acerca do não cabimento de habeas corpus em relação ao indeferimento de liminar – trata-se do que está estabelecido na Súmula 691 do Supremo Tribunal Federal (“Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar”). Esse entendimento não é insuperável, de modo que é possível apresentar, no caso concreto, os motivos pelos quais o Tribunal deve afastar a aplicação da Súmula 691, notadamente quando se negou a aplicação de precedente do STF sobre o assunto.
Figura 2. Primeiro habeas corpus no qual foi concedida liminar no Brasil. Fonte: BRASIL, 2016.
Como uma ação mandamental, o habeas corpus determina a soltura da pessoa que está presa ilegalmente (ou evita sua prisão). Em casos específicos, o habeas corpus pode ser concedido a fim de ser extinguir a ação penal (trancamento do processo) ou o inquérito policial, ou mesmo extinguir a punibilidade. Considerando que a ação se limita à prova pré-constituída, a coisa julgada também se limita ao que foi apresentado, não havendo qualquer óbice à interposição de novo habeas corpus em caso de denegação, apresentando uma melhor argumentação ou outros documentos.
No âmbito recursal, pode-se utilizar, em sede de habeas corpus, os recursos comuns na litigância criminal – isto é, recurso em sentido estrito em relação ao habeas corpus concedido ou denegado pelo juízo singular em primeiro grau; e recurso especial e recurso extraordinário, caso concedido ou denegado pelo Tribunal de Justiça.
Além desses recursos, a Constituição prevê a possibilidade de interposição de recurso ordinário em habeas corpus para o Superior Tribunal de Justiça, da decisão denegatória proferida pelos Tribunais de Justiça; assim como recurso ordinário em habeas corpus para o Supremo Tribunal Federal, da decisão denegatória proferida por Tribunal Superior.
Contudo, é muito comum a utilização de novo habeas corpus da decisão denegatória de habeas corpus devido à tramitação mais célere, o que também se justifica diante da necessidade de cessar a restrição ilegal à liberdade.
//Quadro 5. Teses do Superior Tribunal de Justiça sobre habeas corpus
Clique para fazer download do quadro abaixo:
quadro5.pdf
83.9 KB
CONTINUE
Com base no que foi visto, relacione as autoridades coatoras e a competência para julgamento do habeas corpus:
· 
· 
· 
· Turma do STJ.
· Juiz de Direito.
· Delegado de Polícia.
· Juiz de Direito.
· Supremo Tribunal Federal.
· Tribunal de Justiça.
Habeas data
Seção 5 de 5
O habeas data foi uma inovação trazida pela Constituição Federal de 1988, voltada para o conhecimento e a retificação de dados existentes em bancos de dados públicos ou de caráter público.
A ideia é garantir o âmbito de proteção da dignidade humana em relação a informações pessoais que estejam arquivadas em bancos de dados públicos ou de caráter público, ainda que mantidos por organizações particulares. O texto constitucional assim o prevê:
Artigo 5º, LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo (BRASIL, 1988).
O seu uso foi regulamentado pela Lei nº 9.507/1997, que repete a previsão do art. 5, inciso LXXII, da Constituição Federal, e incluiu mais uma possibilidade: “Art. 7º, inciso III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável”.
Assim como o habeas corpus, o habeas data é uma ação mandamental. Como uma ação constitucional, a legislação prevê a gratuidade tanto do habeas data quanto do procedimento administrativo, em quaisquer das hipóteses (acesso a informações, retificação de dados ou anotação de justificação).
Vale destacar que o habeas data é uma ação mandamental que costuma tramitar de forma pública. Desse modo, quando se tratar de informações que o titular deseja que seja resguardado o sigilo, deve buscar os meios tradicionais de acesso à informação, inclusive judiciais.
CONTINUE
OBJETO, SIGILO E SEGURANÇA, E PRÉVIO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
O objeto do habeas data pode ser tanto o conhecimento da informação quanto a sua retificação. Desse modo, busca-se resguardar o direito à informação pessoal, não servindo à garantia de vista de processo administrativo ou à obtenção de informações sobre terceiros (como, por exemplo, responsáveis por agressões ou por denúncias contra o impetrante).
A informação pode estar inserida em qualquer banco de dados público ou de caráter público. A Lei nº 9.507/1997 esclarece que são considerados de caráter público as informações e/ou os bancos de dados que podem ser transmitidos a terceiros, isto é, que não são de uso exclusivo do órgão depositário das informações.
Há, ainda, um procedimento regulado para a obtenção, retificação ou esclarecimento das informações no âmbito administrativo, em especial com prazos para apreciação. Esse procedimento prévio é obrigatório para a utilização do habeas data:
Art. 2° O requerimento será apresentado ao órgão ou entidade depositária do registro ou banco de dados e será deferido ou indeferido no prazo de quarenta e oito horas.
Parágrafo único. A decisão será comunicada ao requerente em vinte e quatro horas.
Art. 3° Ao deferir o pedido, o depositário do registro ou do banco de dados marcará dia e hora para que o requerente tome conhecimento das informações.
Art. 4° Constatada a inexatidão de qualquer dado a seu respeito, o interessado, em petição acompanhada de documentos comprobatórios, poderá requerer sua retificação.
§ 1° Feita a retificação em, no máximo, dez dias após a entrada do requerimento, a entidade ou órgão depositário do registro ou da informação dará ciência ao interessado.
§ 2° Ainda que não se constate a inexatidão do dado, se o interessado apresentar explicação ou contestação sobre o mesmo, justificando possível pendência sobre o fato objeto do dado, tal explicação será anotada no cadastro do interessado (BRASIL, 1997).
Deve-se diferenciar, ainda, as informações individuais pessoais e as informações que podem ter o sigilo resguardado a título de proteção da segurança do Estado e da sociedade. Trata-se da leitura diferenciada da garantia de habeas data em relação ao direito de obtenção de informações previsto no inciso XXXIII do art. 5 da Constituição:
(...) todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadasaquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (BRASIL, 1988).
O inciso XXXIII traz uma limitação que não é repetida nem no dispositivo relativo ao habeas data nem na Lei nº 9.507/1997: aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Essa diferença de tratamento se deve à qualidade das informações. O habeas data tutela as informações individuais personalíssimas, as quais não podem ser negadas ou resguardadas em relação ao seu titular. Já o direito à informação do inciso XXXIII se refere a qualquer informação de interesse do peticionário e que, por não dizerem respeito a suas informações pessoais, podem sofrer limitações em benefício da sociedade e do Estado. As restrições de informação são previstas pela Lei de Acesso à Informação – Lei nº 12.527/2011.
Vale destacar que a Súmula 2, do Superior Tribunal de Justiça, trata da necessidade de tentativa prévia junto à autoridade administrativa: “Não cabe o habeas data (CF, art. 5, LXXII, letra "a") se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa”.
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LEGITIMADOS E COMPETÊNCIA
A competência para julgamento do habeas data é mais simples do que a competência para habeas corpus. Trata-se de competência inteiramente delimitada pela lei, tanto em relação à impetração quanto à competência recursal.
Art. 20. O julgamento do habeas data compete:
I - originariamente:
a) ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de Ministro de Estado ou do próprio Tribunal;
c) aos Tribunais Regionais Federais contra atos do próprio Tribunal ou de juiz federal;
d) a juiz federal, contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na Constituição do Estado;
f) a juiz estadual, nos demais casos (BRASIL, 1997).
Em relação ao Superior Tribunal de Justiça, é importante ressaltar que, por Emenda Constitucional (EC 23/1999), foi atribuído o julgamento de habeas data contra ato dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ao lado dos Ministros de Estado. Além disso, há previsão na Constituição Federal também de habeas data em matéria eleitoral e trabalhista, sendo aplicável o mesmo regramento adotado para os juízes federais e Tribunais Regionais Federais.
Quanto à competência recursal, deve-se seguir as regras já apresentadas especificamente na Lei nº 9.507/1997:
II - em grau de recurso:a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a decisão denegatória for proferida em única instância pelos Tribunais Superiores;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, quando a decisão for proferida em única instância pelos Tribunais Regionais Federais;
c) aos Tribunais Regionais Federais, quando a decisão for proferida por juiz federal;
d) aos Tribunais Estaduais e ao do Distrito Federal e Territórios, conforme dispuserem a respectiva Constituição e a lei que organizar a Justiça do Distrito Federal;
III - mediante recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos na Constituição (BRASIL, 1997).
Se a competência para julgamento do habeas data possui algumas diferenças em relação ao habeas corpus, a legitimação ativa e passiva é totalmente diversa. Isso porque o legitimado ativo é o titular do direito à informação pessoal, não podendo ser impetrado para defender o direito à informação de terceira pessoa. Já a legitimação passiva segue a mesma construção do mandado de segurança: a autoridade coatora é aquela autoridade pública (ou responsável pelo banco de dados de caráter público) que detém a informação que se pretende conhecer, retificar ou esclarecer. Nesse caso, assim como em mandados de segurança, a pessoa jurídica à qual está vinculada a autoridade coatora é notificada para conhecimento da demanda, prestar informações e pode, inclusive, recorrer da decisão.
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PROCEDIMENTO, DECISÕES E RECURSOS
O habeas data exige a recusa administrativa anterior. Caso a autoridade não apresente as informações ou se recuse a prestá-las ou a retificá-las, ou ainda a anotar os esclarecimentos, é cabível o habeas data. A petição inicial deve seguir os requisitos básicos da legislação processual civil e ser instruída com as provas previstas na Lei nº 9.507/1997, inclusive em relação à omissão no fornecimento das informações ou da retificação ou anotação pleiteadas:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão (BRASIL, 1997).
Assim, o juiz determina a notificação da autoridade coatora para que preste as informações no prazo de dez dias. Prestadas as informações ou esgotado o prazo, o Ministério Público recebe os autos para apresentação de parecer em até cinco dias e, na sequência, “os autos serão conclusos ao juiz para decisão a ser proferida em cinco dias”, segundo o art. 12 da Lei 9.507/1997 (BRASIL, 1997). Esse prazo é impróprio, isto é, não gera consequências para o juiz em caso de sua desobediência.
O julgamento procedente é comunicado por meios mais rápidos (correio, telegrama, radiograma ou telefonema) e fixado dia e horário para apresentação das informações ao impetrante ou a apresentação da retificação ou das anotações ao juízo.
No âmbito recursal, em caso de indeferimento preliminar ou em caso de sentença concessiva ou denegatória, cabe apelação. Destaque-se que “quando a sentença conceder o habeas data, o recurso terá efeito meramente devolutivo” (art. 15, parágrafo único, da Lei nº 9.507/1997). Caso a decisão denegatória do habeas data não tiver apreciado o mérito, é possível sua reapresentação (art. 18 da Lei nº 9.507/1997).
EXPLICANDO
O habeas data não é o instrumento adequado para corrigir informações que forem controversas. Não há fase de instrução, pois é uma ação mandamental. Assim, se houver necessidade de produção de provas, deve ser utilizada ação ordinária cabível (declaratória ou constitutiva).
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Considerando as características do habeas data, analise as alternativas e, a seguir, assinale a correta:
· O habeas data pode ser utilizado para realizar anotações em bancos de dados públicos que contenham informações verídicas sobre o titular, mas que possam ser explicadas mediante anotação.
· O habeas data pode ser utilizado para realizar prova de informações existentes em bancos de dados públicos que podem ser inverídicas e retificadas mediante a colheita de prova testemunhal conhecida.
· O habeas data pode ser utilizado para acessar informações contidas em bancos de dados mantidos por instituições privadas de análise de crédito que as compartilham com outros órgãos privados.
Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?!
SINTETIZANDO
O estudo das garantias constitucionais envolve retomar os objetivos da teoria geral dos direitos humanos e a teoria geral do Estado, em especial no âmbito da proteção do indivíduo por meio da limitação do poder estatal. A diferença entre direitos e garantias fundamentais reside especificamente no conteúdo de ambos. Quando estamos diante de um direito, o seu objeto é a proteção da dignidade humana. Já quando estamos diante de uma garantia, seu objeto é a efetivação de um direito, o qual, por sua vez, visa à proteção da dignidade humana.
Esses conceitos não são estanques e determinada previsão constitucional pode configurar um direito e uma garantia – ou ora um direito, ora uma garantia, dependendo da situação concreta. Um bom exemplo dessa situação é o direito de petição, que pode ser uma garantia do próprio direito de petição ao poder público ou pode ser a garantia de outro direito que se pretenda exercitar – como, por exemplo, o conhecimento daquelesque efetuaram a prisão. A distinção não tem tanta relevância porque direitos e garantias estão previstos em uma mesma seção da Constituição e, também, podem estar espalhados no texto constitucional.
A Constituição prevê ações constitucionais de dois tipos: as garantias constitucionais e as ações que visam à proteção da ordem constitucional. Fazem parte do primeiro grupo, o habeas corpus, o habeas data, o mandado de segurança individual, o mandado de segurança coletivo, o mandado de injunção individual, o mandado de injunção coletivo, a ação popular, a ação civil pública e o direito de petição. Já do segundo grupo fazem parte a ação direta de inconstitucionalidade, a ação declaratória de constitucionalidade, a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, a ação de descumprimento de preceito fundamental e a representação interventiva.
Na sequência, estudamos o habeas corpus, que é uma ação constitucional que se destina ao direito de liberdade de locomoção. Trata-se de instrumento que pode ser usado sempre que ocorra restrição ilegal de liberdade ou ameaça de restrição. Em linhas gerais, o habeas corpus em face de decisão judicial é impetrado perante a autoridade judicial de grau hierárquico superior, salvo previsão diversa na Constituição Federal ou Constituição Estadual. Já quando se trata de habeas corpus contra ato de delegado de polícia ou particular, o habeas corpus é apresentado junto ao juiz de direito.
Por fim, abordamos o habeas data, que objetiva a proteção dos dados pessoais e da intimidade, garantindo a proteção da dignidade humana. Por meio dessa garantia, pode-se obter informações, retificar informações ou realizar anotações quanto a informações, constantes em bancos de dados públicos ou que possuam caráter público. A competência, os requisitos e o trâmite são previstos na Lei nº 9.507/1997.

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