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PATOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR/Aula Patologia Sistema Cardiovascular UNINASSAU - ALUNOS.pdf UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau MEDICINA VETERINÁRIA PATOLOGIA ESPECIAL DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Profa. Dra. Danielle Nascimento Silva Patologia do Sistema Cardiovascular • Componentes: • Sistema vascular sanguíneo • Coração • Artérias • Capilares • Veias • Sistema vascular linfático Funções: 1 - Manutenção do fluxo sanguíneo para os tecidos 2 - Fornecimento de O2 e nutrientes para os tecidos 3 - Remoção de CO2 e catabólitos dos tecidos 4 - Distribuição de hormônios 5 - Termorregulação 6 - Excreção adequada de urina • Débito cardíaco (DC) ➢Quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto ➢O débito cardíaco pode ser alterado pela: ➢Frequência cardíaca (FC) ➢Débito sistólico (DS) ➢Volume de sangue ejetado pelo ventrículo a cada batimento cardíaco ➢Equação: DC = FC x DS • Alterações post mortem • Rigor mortis ➢O coração possui pequena reserva de glicogênio por conta do seu trabalho ininterrupto (primeiro músculo a entrar em rigor mortis) ➢Ventrículo direito (VD) - Menos potente - Esvaziamento incompleto ➢Ventrículo esquerdo (VE) - Musculatura mais desenvolvida, expulsa todo o sangue ➢A presença de coágulo no VE é indicativa de rigor mortis incompleto e sugere Insuficiência Cardíaca (IC) • Alterações post mortem Coagulação sanguínea ➢Célula endotelial - tromboquinase coagulação ➢Enzimas celulares e bacterianas - Liquefação do coágulo – Embebição • Embebição por hemoglobina ➢Manchas avermelhadas no endotélio, endocárdio, epicárdio e vizinhanças ➢Hemólise do coágulo / destruição das hemácias - Liberação e difusão da hemoglobina • Alterações post mortem Manchas esbranquiçadas • Alterações sem significado clínico ➢Palidez difusa ou maculosa do miocárdio ou manchas “pó de giz” no endocárdio que não se correlaciona com nenhuma alteração microscópica detectável ➢Para sugerir necrose, degeneração ou inflamação nas camadas do coração, este achado deve ser associado a outras alterações... • Alterações congênitas - Persistência do ducto arterioso (PDA) ➢Um a oito dias após o nascimento – contração acentuada da parede muscular do ducto arterioso interrompe o fluxo sanguíneo pelo ducto (normal) ➢Consequências do PDA ➢Hipertrofia concêntrica do VD devido ao aumento da pressão pulmonar ➢Dilatação do AE devido ao aumento do fluxo sg oriundo dos pulmões. ➢Hipertrofia excêntrica do VE devido ao maior volume sg vindo do circuito pulmonar. ➢Maior predisposição à trombose devido ao turbilhonamento ➢Cianose quando há mistura do sg arterial com venoso • Alterações congênitas - Persistência do arco aórtico direito • Situação normal: ➢A aorta se desenvolve à partir do 4º arco aórtico esquerdo • Situação anormal: ➢Aorta ascende do lado direito da linha média, à direita do esôfago e traqueia • Consequências: ➢Compressão extraluminal esofágica ao nível da base cardíaca – megaesôfago secundário • Sinais clínicos: ➢Regurgitação, má condição corporal, subdesenvolvimento, pneumonia por aspiração • Outras alterações congênitas ➢Defeito do septo interventricular ➢Defeito do septo atrial ➢Estenose da artéria pulmonar ➢Estenose aórtica ou subaórtica ➢Tetralogia de Fallot ➢Fibroelastose endocárdica ➢Displasia do miocárdio (ventricular direita arritmogênica) • PERICÁRDIO • HIDROPERICÁRDIO ➢ Agudo ou crônico ➢ Tamponamento ➢ Associado a lesão vascular: fibrina ➢- Doença do coração de amora ➢ Causas: ICC, hipertensão pulmonar, IR e hipoproteinemia • HEMOPERICÁRDIO ➢ Idiopática em cães – raças ➢ Ruptura de hemangiossarcomas ou tumores da base do coração ➢ Ruptura atrial espontânea em cães ou ruptura da aorta em equinos ➢ Injeções intra-cardíacas • Consequências: ➢Tamponamento cardíaco rápido seguido de morte súbita ➢Morte por choque cardiogênico associado à insuficiência cardíaca aguda ATROFIA SEROSA DA GORDURA ➢ Anorexia, inanição ou caquexia PERICARDITE ➢ Fibrinosa: + comum. Hematógena ➢ Supurativa: bovinos B o vi n o • Carbúnculo sintomático • • Hemoglobinú ria bacilar • Infecções umbilicais (E. coli) • Pericardites traumáticas Su ín o s • Polisserosite (Doença de Glasser) • Pneumonia enzoótica • Pasteurelose Eq u in o s • Infecções por Streptococcus sp. C an in o • Uremia Fe lin o • Ocorrência rara (ocasionalme nte associada a PIF) • MIOCÁRDIO ➢ Alterações Primárias ou secundárias (compensatória) • EXCÊNTRICA – sobrecarga de volume ➢ Insuficiências valvulares e defeitos septais • CONCÊNTRICA – sobrecarga de pressão ➢ Estenose valvular, hipertensão sistêmica e a doença pulmonar • HIPERTROFIA VENTRÍCULO DIREITO ➢ Cães: dirofilariose e estenose pulmonar ➢ Equinos: DPOC ➢ Bovinos: “doença do peito inchado” • HIPERTROFIA VENTRÍCULO ESQUERDO ➢ Cães: estenose subaórtica ➢ Felinos: hipertireoidismo ➢ Cães/gatos: hipertensão sistêmica • - Hipertireoidismo e IRC (gatos) e ao hiperadrenocorticismo (cães) • HIPERTROFIA BIVENTRICULAR ➢ Cardiomiopatia hipertrófica • INFILTRAÇÃO GORDUROSA ➢ Numerosos adipócitos entre fibras miocárdicas ➢ Obesidade • DEGENERAÇÃO GORDUROSA ➢ Acúmulo de gotículas lipídicas no sarcoplasma ➢ Distúrbios sistêmicos: anemia e toxemia • DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA ➢ Antraciclinas (exp.: Doxorrubicina) ➢ Congestão passiva crônica, ascite e dilatação ➢ Vacuolização do sarcoplasma • NECROSE DO MIOCÁRDIO ➢ Intoxicação por atb ionóforos - Bovinos, equinos e coelhos ➢ Deficiência de Se e Vit. E – Bovinos, suínos e equinos ➢ Intoxicação por Tetrapterys spp. e Cassia ocidentalis – Bovinos ➢ Febre aftosa (coração tigrado) – jovens ➢ Cinomose, Parvovirose, Herpesvirus: cães jovens ➢Miopatia de captura e síndrome do stress suíno (rabdomiólise = síndrome do exercício forçado) - Consequências ?? • MIOCARDIOPATIA DILATADA/CONGESTIVA ➢ Felinos, macho, meia idade. Def. taurina ➢ Cães grande porte – Doberman, Dálmata, São bernardo e Boxer • - Hereditária ? • - Lesões características de ICC. Dilatação biventricular • MIOCARDIOPATIA RESTRITIVA ➢ Infrequente ➢ Gatos ➢ Compromete o preenchimento ventricular • - Fibrose difusa do endocárdio do VE • - Excesso de bandas moderadoras no VE INFLAMAÇÃO ➢ Infecções disseminadas, via hematógena, em doenças sistêmicas • Classificação morfológica das miocardites Supurativa (bactérias piogênicas) Necrosante (toxoplasmose) Hemorrágica (carbúnculo sintomático) Linfocítica (infecções virais) • Ovinos: • - Cisticercose - lesão focal (Cysticercus ovis) • Bovinos: • - Carbúnculo sintomático • - Febre aftosa • - Sarcocystis sp. • - Cisticercose – lesão focal (Cysticercus bovis) • Cães: • - Streptococcus spp. • - Parvovirose • - Toxoplasmose • Suínos: • - Encefalomiocardite • - Cisticercose - lesão focal (Cysticercus cellulosae) • NEOPLASIAS Rabdomiomas - raros Rabdomiossarcomas - raros Hemangiossarcomas (Primário AD ou metastático) - Cães Linfossarcoma (Leucose bovina) Quemodectomas – cães braquicefálicos Melanomas malignos - metastático • ENDOCÁRDIO • ENDOCARDIOSE ➢ Cães idosos. Raças peq. ou miniatura. Genética ? ➢ Causa mais comum ICC em cães ➢ Insuficiência valvular: dilatação atrial e “lesões de jato” ➢ Mitral > tricúspide. Rara pulmonar e aórtica ➢ Válvulas encurtadas, espessadas (nodulares), lisas e brilhantes ➢ Complicações: ruptura cordas tendíneas e parede AE ➢ Micro: proliferação fibroblástica com depósito de mucopolissacarídeos ácidos (glicosaminoglicanos) • ENDOCARDITE ➢ Valvular e/ou mural ➢ Em geral, por infecções bacterianas ➢ Raramente - S. vulgaris e infecção micótica ➢ MACRO: Massas extensas aderidas, friáveis, amareladas a acinzentadas, irregulares, com aspecto de couve-flor (“vegetações”). Pode ocluir ➢ Mitral > tricúspide > aórtica > pulmonar • ENDOCARDITE ➢ Bovinos: mais nas valvas AV direita ➢ Outras sp.: mais nas valvas AV esquerda ➢ Patogenia complexa e incerta ➢ Infecções extracardíacas – bacteremia ➢ Bovinos: Arcanobacterium pyogenes ➢ Suínos: Streptococcus spp. e Erysipelothrix rhusiopathiae ➢ Cães/gatos: Streptococcus spp. e E. coli • - Morte por IC (disfunção valvular) ou bacteremia • ENDOCARDITE ULCERATIVA AE – IR cães • CISTOS SANGUÍNEOS VALVULARES ➢ Válvulas AV ruminantes neonatos ➢ Regressão espontânea ➢Não gera anormalidades ➢Funcional • HEMORRAGIAS SUB-ENDOCÁRDICAS ➢ Lesão frequente no epi, mio e endocárdio ➢ Tamanho variado: petéquias (1 a 2 mm ø) a equimoses (2 a 10 mm ø) e sufusões (difusas) ➢ Morte por septicemias, endotoxemia, anóxia ou eletrocussão ➢ Equinos: mortes por qualquer causa – hemorragias agônicas epi e endocárdio • Insuficiência cardíaca • Insuficiência cardíaca aguda (ICA) ➢Parada súbita da contração cardíaca efetiva hipóxia e morte cerebral ➢Coração normal ou dilatado ➢Congestão pulmonar e sistêmica • Causas comuns: ➢Tamponamento cardíaco, necroses extensas do miocárdio, arritmias, desequilíbrio eletrolítico grave. • Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) ➢Processo lento, em consequência da perda gradual da eficiência cardíaca de bombeamento ➢O coração apresenta-se doente, todos os mecanismos compensatórios foram suplantados e os sinais clínicos e as lesões extra cardíacas estão presentes • Causas da ICC: ➢Cardiomiopatias, lesões inflamatórias ou degenerativas do miocárdio, alterações cardíacas congênitas, doenças pulmonares crônicas (cor pulmonale), estenose ou insuficiência valvulares • Coração aumentado ➢ Hipertrofia do ventrículo esquerdo e do septo interventricular ➢Cavidade do ventrículo esquerdo pequena ➢ Dilatação do átrio esquerdo ICCE Tosse Dispneia Congestão pulmonar Fibrose alveolar Células da IC nos pulmões (hemossi derina) Edema pulmonar ICC esquerda ICCD Congestão passiva crônica do fígado Esplenome galia congestiva Edema subcutâneo Hidrotórax Ascite Hidroperi cárdio Congestão generalizada ICC direita ➢ Fígado em noz moscada ➢Edema generalizado (anasarca) • VASOS • ANEURISMAS ➢ Artérias > veias ➢ Causas: • - Deficiência de cobre em suínos • - Spirocerca lupi em cães • - Strongylus vulgaris em equinos • - A maioria é idiopática ➢Consequências • RUPTURA AÓRTICA ➢ Trauma grave ➢ Espontâneo ➢Equinos: • - Atividades físicas acentuadas • - Trauma grave tórax (quedas) • - Artéria carótida interna.: bolsa gutural – Aspergyllus sp. • - Artéria uterina média: parto (éguas) e torção ou prolapso uterino (vacas) • HIPERTROFIA ARTERIAL ➢ Hipertrofia das células musculares lisas da túnica média ➢ Artérias pulmonares – gatos • - Aelurostrongulus abstrusus • - Toxocara sp. • - Dirofilaria immitis ➢ Bovinos – hipóxia e hipertensão pulmonar (IC dir. devido altas altitudes) ➢ Artérias uterinas em fêmeas prenhes • ARTERIOESCLEROSE ➢ Idade - Frequente - Sem alterações clínicas ➢ Fibrose da íntima das grandes art. elásticas ➢ Perda da eslasticidade (“endurecimento das artérias”) e estenose ➢ Maior frequência na aorta abdominal e locais de ramificação de artéria onde o fluxo sanguíneo é turbulento ➢ Placas brancas, levemente elevadas e firmes ➢ Espessamento e fibrose da íntima e acúmulo de mucopolissacarídeos • ATEROESCLEROSE ➢ Importante no homem e esporádica em animais ➢ Raramente causa infartos cardíaco ou cerebral ➢ Acúmulo de placas lipídicas (ateroma), tecido fibroso e cálcio nas paredes dos vasos. ➢Eventual estenose ➢ Dietas com alto teor colesterol: suínos e coelhos ➢ Cães com hipercolesterolemia por hipotireoidismo ➢ Artérias espessadas, firmes e branco–amareladas ➢ Glóbulos lipídicos no citoplasma das células musculares lisas e macrófagos na túnica média e íntima ➢ Poder ter necrose e fibrose • TROMBOSE ➢Fatores predisponentes: ➢ Lesão endotelial (arterites) ➢ Turbulência (lesão vascular ou valvular) ou estase (ICC) ➢ Hipercoagulabilidade (amiloidose e doenças renais) ➢Exemplos: ➢ Tromboembolismo aorta abdominal – Cardiomiopatia ➢ Trombose das art. mesentéricas – Strongylus vulgaris ➢ Trombose das art. pulmonares - Dirofilariose • EMBOLIA ➢ Oclusão das artérias por: ➢ Fragmentos de trombos (tromboembolismo) ➢ Células neoplásicas e bactérias ➢ Bolhas de ar ➢ Fragmentos de pelos ➢ Fragmentos de parasitos ➢ Gorduras – fraturas • - Sépticos ou assépticos • SÍNDROME DA VEIA CAVA ➢ Associada à drenagem de abscessos hepáticos para veia hepática ou cava caudal • INFLAMAÇÃO • Vasculite (arterite ou flebite): • - Exemplos: ➢ Estrongilose equina ➢ Espirocercose canina ➢ Dirofilariose canina ➢ PIF ➢ Salmonelose • - Flebite complicada por trombose - risco de embolia séptica – endocardite e a abscessos pulmonares ➢ Peste suína ➢ Erisipela suína ➢ Abscessos hepáticos ➢ Injeções de soluções irritantes ➢ Cateteres venosos • ONFALOFLEBITE ➢ Frequente em animais devido à contaminação bacteriana do umbigo após o parto ➢ Pode causar septicemia, poliartrite supurativa, abscessos hepáticos e umbilicais • DILATAÇÃO ➢ Varicosidade / varicose / varicocele ➢ Flebectasia • - Frequente em mulheres, mas incomum em animais • NEOPLASIAS ➢ Hemangiomas: pele cães, massas avermelhadas repletas de sangue e bem circunscritas ➢ Hemangiossarcomas: baço, AD e pele. Massa avermelhada, irregular e infiltrativa • VASOS LINFÁTICOS • LINFANGIECTASIA ➢ Dilatação dos vasos linfáticos ➢Causa: anomalia congênita ou obstrução da drenagem linfática por neoplasias • LINFANGITE ➢ Vasos espessos, semelhantes a cordões, mais na porção distal dos membros ➢ Pode haver linfedema ➢ Lesões supurativas podem ulcerar ➢ Doença de Johne – Mycobacterium avium paratuberculosis ➢ Tuberculose – Mycobacterium spp. LINFANGITE ➢Actinobacilose – Actinobacillus ligneresii ➢ Esporotricose – Sporothrix schenckii ➢ Mormo – Burkholderia (Pseudomonas) mallei ➢ Linfadenite caseosa dos caprinos e ovinos – Corynebacterium ovis • NEOPLASIAS ➢ Linfangioma ➢ Linfangiossarcoma ➢ Carcinoma metastático Slide 1: UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau MEDICINA VETERINÁRIA PATOLOGIA ESPECIAL DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Slide 28 Slide 29 Slide 30 Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36 Slide 37 Slide 38 Slide 39 PATOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR/2018, Sonne et al. Alterações congênitas em coração.pdf 1184 Pesq. Vet. Bras. 38(6):1184-1189, junho 2018 DOI: 10.1590/1678-5150-PVB-5457 RESUMO.- As alterações congênitas do coração e dos grandes vasos (ACCGV) são definidas como defeitos morfológicos associados ao nascimento e são as anomalias congênitas mais frequentes dos animais domésticos. O objetivo deste trabalho foi determinar a frequência de diagnósticos de ACCGV em cães no Rio Grande do Sul, com ênfase na Região Metropolitana de Porto Alegre, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2016. Do total de 7.903 necropsias de cães, 27 morreram espontaneamente ou foram submetidos à eutanásia devido às ACCGV, representando 0,3% dos casos. Em 11,1% dos cães apresentaram dois distúrbios congênitos no coração ou nos grandes vasos, totalizando 30 alterações. A idade variou de um dia a 12 anos, com a idade mediana de quatro meses. Em 81,5% acometeu cães com raça, e 18,5% sem raça definida. Em relação ao sexo, 51,8% dos cães eram machos e 48,2%, fêmeas. Estenose subaórtica foi a alteração mais frequente, seguido por defeito do septo atrial, persistência do arco aórtico direito, persistência do ducto arterioso, estenose pulmonar e defeito do septo interventricular, e fibroelastose endocárdica. Dos casos múltiplos, as combinações encontradas foram: persistência do ducto arterioso associado com defeito do septo atrial, estenose subaórtica com defeito do septo interventricular, e defeito do septo atrial e ventricular. TERMOS DE INDEXAÇÃO: Coração, distúrbios cardíacos congênitos, estenose subaórtica e pulmonar, defeito de septo, persistência do arco aórtico, persistência ducto arterioso, caninos. INTRODUÇÃO As alterações congênitas do coração e dos grandes vasos (ACCGV) são definidas como defeitos morfológicos associados ao nascimento (MacDonald 2006) e são as anomalias congênitas mais frequentes dos animais domésticos (Ocarino et al. 2016). Diversos processos estão envolvidos na patogênese dessas ABSTRACT.- Argenta F.F., Pavarini S.P., Driemeier D. & Sonne L. 2018. [Congenital abnormalities of the heart and large vessels of dogs]. Alterações congênitas do coração e dos grandes vasos em cães. Pesquisa Veterinária Brasileira 38(6)1184-1189. Setor de Patologia Veterinária, Departamento de Patologia Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9090, prédio 42505, Porto Alegre, RS 91540-000, Brazil. E-mail: lusonne@yahoo.com.br Congenital alterations of the heart and large vessels (CAHLV) are defined as morphological defects associated with birth and are the most frequent congenital anomalies of domestic animals. The aim of this study was to determine the frequency of CAHLV in dogs in Rio Grande do Sul, with emphasis in the Metropolitan Region of Porto Alegre, from January 2000 to December 2016. Of the 7,903 necropsied dogs, 27 died spontaneously or were submitted to euthanasia due to CAHLV, representing 0.3% of the cases. In 11.1% of the dogs, there were two congenital disorders in the heart or in the great vessels, totaling 30 changes. The age of affected dogs ranged from one day to 12 years, with the median age of four months. In 81.5% it affected dogs with breed, and 18.5%, without breed defined. In 51.8% were males, and 48.2%, females. Subaortic stenosis was the most frequent alteration, followed by atrial septal defect, persistent right aortic arch, patent ductus arteriosus, pulmonic stenosis, ventricular septal defect, and endocardial fibroelastosis. Of the multiple cases, the combinations found were: patent ductus arteriosus associated with atrial septal defect, subaortic stenosis with ventricular septal defect, and atrial and ventricular septal defect. INDEX TERMS: Heart disorders, congenital disorders, subaortic and pulmonic stenosis, atrial and septal defect, persistent right aortic arch, patent ductus arteriosus, dogs. Vet 2569 pvb-5457 SA Alterações congênitas do coração e dos grandes vasos em cães1 Fernando F. Argenta2, Saulo P. Pavarini2, David Driemeier2 e Luciana Sonne2* 1 Recebido em 26 de maio de 2017. Aceito para publicação em 14 de junho de 2017. 2 Setor de Patologia Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Av. Bento Gonçalves 9090, prédio 42505, Porto Alegre, RS 91540-000, Brasil. *Autor para correspondência: lusonne@yahoo.com.br Sumário Alterações congênitas do coração e dos grandes vasos em cães [Congenital abnormalities of the heart and large vessels of dogs]. Argenta F.F., Pavarini S.P., Driemeier D. & Sonne L. 1184-1189 1185 Pesq. Vet. Bras. 38(6):1184-1189, junho 2018 Alterações congênitas do coração e dos grandes vasos em cães alterações, como etiologias tóxicas, físicas ou nutricionais (Miller et al. 2013, Ocarino et al. 2016), porém em cães, são frequentemente hereditárias (Robinson & Robinson 2016). A gravidade dos sinais clínicos depende do grau da lesão, muitas vezes podem levar ao surgimento rápido de sinais clínicos de insuficiência cardíaca ou podem possibilitar que o cão chegue até a idade adulta (Ocarino et al. 2016). As ACCGV podem ser derivadas de falhas no fechamento das comunicações cardiovasculares fetais, como a persistência do ducto arterioso e defeitos nos septos atrial e interventricular; falhas no desenvolvimento valvular normal, como a estenose pulmonar e subaórtica; mau posicionamento de grandes vasos, como a persistência do arco aórtico direito, e outras anomalias, como a fibroelastose do endocárdio (Miller et al. 2013). O reconhecimento precoce das ACCGV é de grande importância, pois fornece um prognóstico favorável, visto que algumas anomalias podem ser corrigidas cirurgicamente (Darke 1989, Oliveira et al. 2011). Este trabalho tem como objetivo determinar a frequência das ACCGV em cães no Rio Grande do Sul, com ênfase na Região Metropolitana de Porto Alegre, no período de 16 anos, abordando seus aspectos epidemiológicos e patológicos. MATERIAL E MÉTODOS Foram revisados os laudos de necropsias de caninos arquivados do Setor de Patologia Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (SPV-UFRGS) no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2016, e selecionados para o estudo os casos diagnosticados com alterações congênitas do coração e dos grandes vasos. Dados referentes à identificação do cão, como raça, sexo e idade, além do histórico clínico, lesões macroscópicas e microscópicas, e os diagnósticos foram analisados e compilados. RESULTADOS Foram analisados laudos de necropsia de 7.903 cães, destes, 685 morreram ou foram submetidos à eutanásia devido a doenças cardiovasculares, dentre estas, as alterações congênitas foram diagnosticadas em 3,9% (27/685) dos casos, e em relação ao número total de necropsias a frequência foi de 0,3% (27/7903). Dos 27 cães, 11,1% (3/27) apresentaram combinação de dois distúrbios congênitos no coração ou nos grandes vasos, totalizando 30 alterações. Do total dos casos analisados, 96,5% (26/27) eram oriundos da Região Metropolitana de Porto Alegre, e nos 3,7% (1/27) restantes, Região Nordeste Rio-grandense. De uma maneira geral, a idade variou de um dia a 12 anos, com a mediana de quatro meses (idade média de 22,2 meses). Em relação ao sexo, 51,8% (14/27) eram machos e 48,2% (13/27) fêmeas. Em 81,5% (22/27) dos casos acometeram cães com raça, e os 18,5% (5/27) restantes, sem raça definida (SRD). Dentre as raças, Boxer, Buldogue francês, Dachshund, Fila brasileiro e Pinscher foram as mais acometidas, representando 9,1% (2/22) dos casos. O diagnóstico, número de casos e a porcentagem das ACCGV em cães estão detalhados no Quadro 1. Estenose subaórtica Do total de 30 ACCGV, 11 cães foram diagnosticados com estenose subaórtica, representando 36,7% dos casos. Quanto ao sexo, 63,6% (7/11) eram fêmeas e 36,4% (4/11), machos. A idade variou de dois meses a 12 anos, com a idade mediana de quatro meses (média de 37,2 meses). Em 81,8% (9/11) dos casos afetou cães com raça, e os 18,2% (2/11) restantes, SRD. As raças acometidas foram Dachshund (18,2% (2/11), e Dálmata, Yorkshire terrier, Pinscher, Boxer, Lhasa Apso, Rotweiller e Sharpei (9,1% (1/11), cada). Dos casos combinados, em um cão observou persistência do forme oval concomitante com a estenose subaórtica. Em 54,5% (6/11) dos casos diagnosticados com estenose subaórtica foi relatada morte súbita. Em relação aos sinais clínicos descritos pelos tutores/veterinários clínicos, 45,5% (5/11) dos cães apresentaram dificuldade respiratória, e cianose e secreção nasal, em 9,1% (1/11), cada. À necropsia, todos os casos apresentaram uma camada espessa de tecido conjuntivo fibroso no ventrículo esquerdo abaixo das válvulas semilunares aórticas (Fig.1A), com consequente hipertrofia do ventrículo esquerdo e discreta dilatação da aorta. Em relação às lesões extracardíacas, todos os cães apresentaram graus variados de edema e congestão pulmonares, com inúmeros macrófagos alveolares contendo pigmento acastanhado (hemossiderina) em seus interiores (células da falha cardíaca) identificados à microscopia. Congestão passiva crônica do fígado e ascite foram relatadas em 63,6% (7/11) e 18,2% (2/11), respectivamente. Defeito do septo atrial Sete cães foram diagnosticados com defeito do septo atrial, representando 23,3% do total das ACCGV. Destes, 71,4% (5/7) eram machos e 28,6% (2/7), fêmeas. A idade variou de um dia a três anos, com a idade mediana de cinco meses (média de 8,8 meses). Todos os cães eram de raça definida, sendo estas: Buldogue inglês, Buldogue francês, Spitz alemão, Fila brasileiro, Bichon Frisé, Pitbull e Boxer, representando 14,3% (1/7) cada. Em 28,6% (2/7) dos casos identificaram alterações congênitas combinadas, como persistência do ducto arterioso (14,3%, 1/7) e defeito interventricular (14,3%, 1/7) concomitantes com o defeito do septo atrial. Morte súbita foi relatada em 42,8% (3/7) dos casos e os principais sinais clínicos relatados foram dificuldade respiratória, descrita em 42,3% (3/7) dos casos, seguido por secreção nasal e cianose, com 28,6% (2/7) e 14,3% (1/7), respectivamente. À necropsia identificou-se nos sete casos, um orifício de diâmetro variado comunicando os dois átrios (Fig.1B) com consequente dilatação do ventrículo direito. Em relação às Quadro 1. Alterações congênitas do coração e dos grandes vasos, número de casos e porcentagem de cães diagnosticados no Setor de Patologia Veterinária, UFRGS Diagnóstico Número de casos Porcentagem (%) Estenose subaórtica 11 36,7 Defeito do septo atrial 7 23,3 Persistência do arco aórtico direito 4 13,3 Persistência do ducto arterioso 3 10,0 Estenose pulmonar 2 6,7 Defeito do septo interventricular 2 6,7 Fibroelastose endocárdica 1 3,3 TOTAL 30 100 Fernando F. Argenta et al.1186 Pesq. Vet. Bras. 38(6):1184-1189, junho 2018 lesões extracardíacas, 85,7% (6/7) dos casos apresentaram graus variados de edema e congestão pulmonares, com inúmeras células da falha cardíaca no interior de alvéolos, identificadas à microscopia. Congestão passiva crônica do fígado, ascite e hidrotórax foram identificadas em 42,3% (3/7), 14,3% (1/7) e 14,3% (1/7), respectivamente. Persistência do arco aórtico direito Quatro cães foram diagnosticados com persistência do arco aórtico direito, representando 13,3%. Essa anomalia afetou 75% (3/4) fêmeas, e 25% (1/7), machos. A idade dos cães acometidos variou de dois meses a seis meses, com a idade mediana de três meses (média de 3,5 meses). Quanto à raça, 50% (2/4) eram SRD, e os outros 50%, com raça, sendo essas, Buldogue francês e Pinscher, representando 25% (1/4) cada. Os sinais clínicos relatados nestes casos foram caracterizados por regurgitação, identificada em 100% (4/4) dos cães acometidos, seguido por cianose e dificuldade respiratória, descrito em 25% (1/4), cada. À necropsia, nos quatro casos observou-se a persistência do arco aórtico direito, caracterizada pela formação de um ligamento fibroso sobre o esôfago e traqueia (Fig.1C), causando a dilatação da porção cranial esofágica (megaesôfago) (Fig.1D). Em 50% (2/4) dos cães apresentaram áreas multifocais de consolidação pulmonar, que à microscopia, caracterizaram-se por broncopneumonia por aspiração. Persistência do ducto arterioso Três cães apresentaram persistência do ducto arterioso (10%), destes, 66,7% (2/3) eram fêmeas e 33,3% (1/3) machos. A idade variou de 10 dias a quatro meses, com a mediana de três meses (média de 2,4 meses). Todos os cães apresentavam raça definida, sendo estas: Buldogue francês, Maltês e Shih Tzu, representando 33,3% (1/3) cada. Em 33,3% (1/3) dos Fig.1. Aspectos macroscópicos das alterações congênitas do coração e de grandes vasos em cães. (A) Estenose subaórtica com camada de tecido conjuntivo fibroso esbranquiçado no ventrículo esquerdo abaixo das válvulas semilunares aórticas. (B) Defeito do septo atrial, caracterizado por orifício comunicando os dois átrios. (C) Persistência do arco aórtico direito, caracterizada pela formação de um ligamento fibroso sobre o esôfago e traqueia, causando a dilatação da porção cranial esofágica. (D) Megaesôfago no cão com persistência do arco aórtico direito da figura anterior. (E) Persistência do ducto arterioso, comunicação à aorta e à artéria pulmonar (F) Estenose pulmonar com camada espessa de tecido conjuntivo fibroso abaixo das válvulas semilunares pulmonares, com dilatação da artéria pulmonar. 1187 Pesq. Vet. Bras. 38(6):1184-1189, junho 2018 Alterações congênitas do coração e dos grandes vasos em cães casos observou persistência do ducto arterioso concomitante com defeito do septo atrial. Morte súbita foi relatada em 33,3% (1/3), e dificuldade respiratória foi o sinal clínico identificado em 66,7% (2/3). Observou-se na necropsia dos três casos, comunicação entre a aorta e a artéria pulmonar sem a formação do ligamentum arteriosum (Fig.1E), com dilatação destas e consequente hipertrofia das câmaras cardíacas esquerda e direita. Edema e congestão pulmonares, além de células da falha cardíaca, foram relatados em todos os casos, e congestão passiva crônica do fígado em 33,3% (1/3). Estenose pulmonar Dois cães foram diagnosticados com estenose pulmonar (6,7%), sendo estes, machos, de raça definida (Poodle e Fila brasileiro). Em um caso a idade foi de seis meses, e no outro, oito anos. Não foram relatadas informações referentes aos sinais clínicos. Macroscopicamente, os dois cães apresentaram estreitamento do lúmen da artéria pulmonar, devido a camada espessa de tecido conjuntivo fibroso abaixo das válvulas semilunares pulmonares, com consequente hipertrofia concêntrica do ventrículo direito e dilatação da artéria pulmonar (Fig.1F). Em um caso se observou acentuado edema e congestão pulmonares, com células da falha cardíaca, ascite e congestão passiva crônica do fígado. Defeito do septo interventricular Dois cães foram diagnosticados com defeito do septo interventricular (6,7%). Um caso acometeu fêmea SRD de dois meses de idade, e o outro, macho da raça Bichon Frisé com três meses de idade. Os dois cães apresentavam combinações das ACCGV, sendo estas: estenose subaórtica, e defeito do septo atrial concomitantes com o defeito do septo interventricular. Morte súbita foi relatada na fêmea. Os sinais clínicos foram descritos no cão macho e foram caracterizados por dificuldade respiratória, secreção nasal e cianose. Na necropsia observou um orifício de tamanho variado no septo interventricular, envolvendo a porção membranosa, com hipertrofia excêntrica do ventrículo esquerdo e hipertrofia concêntrica do ventrículo direito. Os dois cães apresentaram graus variados de edema e congestão pulmonares, com células da falha cardíaca identificadas à microscopia. Fibroelastose endocárdica Um cão foi diagnosticado com fibroelastose endocárdica, representando 3,3% do total das ACCGV. O cão era macho, SRD e de dois meses de idade. Dificuldade respiratória, secreção nasal e cianose foram os sinais clínicos relatados. Macroscopicamente, o coração do canino afetado apresentou múltiplas e moderadas áreas esbranquiçadas no endocárdio, com hipertrofia secundária dos ventrículos e dilatação do átrio direito. Ascite, hidrotórax, edema e congestão pulmonares e congestão passiva crônica do fígado foram as lesões extracardíacas identificadas. DISCUSSÃO No presente trabalho, a frequência das ACCGV diagnosticadas através da necropsia foi de 0,3% do total de necropsias de cães, e em relação às doenças cardiovasculares, representou 3,9% dos casos. Dado semelhante é descrito na literatura, onde a frequência foi de aproximadamente 0,5%, porém, os casos foram analisados através do exame post mortem, e também pela avaliação clínica cardíaca (Patterson 1968, Mulvihill & Priester 1973). Em diversos estudos retrospectivos realizados através da análise clínica de cães com doenças cardiovasculares, a frequência de ACCGV variou de 17% a 23,5% (Baumgartner & Glaus 2003, Oliveira et al. 2011). Na pesquisa de Oliveira et al. (2011), apenas 4,4% dos cães com ACCGV foram diagnosticados através da necropsia. A combinação entre duas ACCGV foi identificada em 11,1% dos casos. Em pesquisas semelhantes, a frequência de casos combinados variou de 8,2% a 15% (Baumgartner & Glaus 2003, Oliveira et al. 2011). Os casos de defeito do septo interventricular do presente estudo estavam associados com outras ACCGV. Robinson & Robinson (2016) descrevem que esse defeito, embora ocorra mais comumente como uma alteração isolada, em muitas ocasiões observa-se combinação, como ocorre na tetralogia de Fallot ou na persistência do ducto arterioso. A idade dos caninos com ACCGV variou de um dia a 12 anos, com a mediana de quatro meses (idade média de 22,2 meses). Em pesquisas semelhantes, a idade média variou de 11 a 42 meses (Tidholm 1997, Oliveira et al. 2011). O diagnóstico de ACCGV em cães ocorre frequentemente antes do primeiro ano de vida (Mulvihill & Priester 1973, Buchanan 1999), porém, cães com ACCGV podem atingir a fase adulta, pois a gravidade dos sinais clínicos está relacionada com o grau da lesão (Ocarino et al. 2016). Em relação à predisposição sexual, pesquisadores descreveram que a estenose pulmonar é mais comum em machos (Tidholm 1997, Oliveira et al. 2011) e a persistência do ducto arterioso, em fêmeas (Tidholm 1997, Oliveira et al. 2011, Miller et al. 2013), dados que corroboram com o presente trabalho. Cães com raça foram os mais acometidos, semelhante ao descrito por Oliveira et al. (2011), e isto provavelmente ocorre por questões de consanguinidade das raças. No presente estudo, Boxer, Buldogue francês, Dachshund, Fila brasileiro e Pinscher foram as mais acometidas. Pesquisadores sugerem que a estenose subaórtica é mais comum em raças de grande porte, como Pastor alemão, Golden retriever e Rottweiler (MacDonald 2006, Miller et al. 2013, Robinson & Robinson 2016). Boxer é uma das principais raças predispostas ao desenvolvimento de ACCGV (Chetboul et al. 2006, Bussadori et al. 2009, Oliveira et al. 2011), e Pinscher e Buldogue francês foram frequentemente diagnosticados com ACCGV em um estudo semelhante (Oliveira et al. 2011). Estenose subaórtica foi a alteração mais frequente, este dado está de acordo com os descritos na literatura (Tidholm 1997, Baumgartner & Glaus 2003, Egenvall et al. 2006, MacDonald 2006). As falhas no desenvolvimento valvular, como a estenose subaórtica e estenose pulmonar, juntamente com a persistência do ducto arterioso, são as ACCGV mais comuns em cães, conforme relatado por diversos pesquisadores (Patterson 1968, Buchanan 1999, Oliveira et al. 2011, Miller et al. 2013, Robinson & Robinson 2016). No presente estudo, essas alterações representaram mais de 50% dos diagnósticos. Dificuldade respiratória, secreção nasal e cianose foram os principais sinais clínicos descritos. Regurgitação foi relatada nos cães com persistência do arco aórtico direito no presente estudo. A maioria dos casos de ACCGV é assintomática, porém, Fernando F. Argenta et al.1188 Pesq. Vet. Bras. 38(6):1184-1189, junho 2018 sinais relacionados com insuficiência cardiorrespiratória, como dispneia (Tidholm 1997, Miller et al. 2013), síncope, intolerância ao exercício, cianose, taquipneia e tosse podem ser observados (MacDonald 2006). A gravidade dos sinais clínicos é variável e depende do grau da lesão (Ocarino et al. 2016). Em alguns casos, o defeito pode ser incompatível com a vida (Miller et al. 2013). Diversos pesquisadores relatam que morte súbita pode ocorrer nas ACCGV, principalmente, na estenose subaórtica e pulmonar (Kienle et al. 1994, MacDonald 2006, Robinson & Robinson 2016). No presente estudo, morte súbita foi relatada pelos tutores/veterinário clínico em 11 cães, representando 40,7%. Macroscopicamente, todas as ACCGV encontradas no presente estudo corroboram com os achados descritos na literatura (Miller et al. 2013, Ocarino et al. 2016, Robinson & Robinson 2016). Hipertrofia do miocárdio e dilatação vascular sobrejacente à estenose foram achados frequentes. Para Robinson & Robinson (2016), a maioria dos casos de ACCGV reflete-se no aumento grosseiro do coração e na alteração do tamanho ou disposição dos grandes vasos. A hipertrofia concêntrica nos cães com estenose subaórtica e pulmonar do presente estudo está relacionada com a sobrecarga de pressão decorrente da obstrução do fluxo sanguíneo (Ocarino et al. 2016), e nos casos de defeitos de septos, os ventrículos sofreram hipertrofia excêntrica devido à sobrecarga de volume, e concêntrica por causa da sobrecarga de pressão (Robinson & Robinson 2016). No presente estudo, todos os cães com defeito no septo interventricular apresentavam um orifício na porção superior (membranosa), que é o local mais frequente deste achado (Miller et al. 2013). Nos casos de persistência do ducto arterioso, a hipertrofia do ventrículo esquerdo e direito ocorreu em razão do desvio de sangue do lado esquerdo para o direito, com sobrecarga do volume sanguíneo e aumento de pressão (Ocarino et al. 2016). O megaesôfago identificado em todos os casos de persistência do arco aórtico direito é causado pela compressão do ligamento sobre o esôfago, comprimindo-o sobre a traqueia, no qual ocasiona dilatação esofágica e regurgitação (Ocarino et al. 2016). Na fibroelastose endocárdica, há múltiplas áreas esbranquiçadas no endocárdio, que microscopicamente, consistem em deposição de tecido conjuntivo fibroso (Larsson et al. 1997), assim como relatado no caso do presente estudo. Edema e congestão pulmonares, ascite, e congestão passiva crônica do fígado foram lesões extracardíacas frequentes no presente estudo, e são comuns em casos de insuficiência cardíaca em cães (Ocarino et al. 2016, Robinson & Robinson 2016). A formação de edema nestes casos ocorreu principalmente pelo aumento da pressão hidrostática, decorrente da estase do fluxo sanguíneo (Ocarino et al. 2016). Células da falha cardíaca nos alvéolos pulmonares, identificadas à microscopia, foi um achado comum nos cães com ACCGV. Estas células são originadas devido ao aumento na eritrofagocitose, decorrente da estase do fluxo sanguíneo no leito capilar pulmonar nos casos de insuficiência cardíaca. As lesões hepáticas identificadas também estão relacionadas com a hipertensão portal consequente da insuficiência cardíaca (Miller et al. 2013). Dois cães com persistência do arco aórtico direito apresentaram concomitantemente, broncopneumonia por aspiração, e isso pode estar relacionado com a dificuldade de deglutição nestes animais, decorrente a dilatação esofágica presente nessa alteração (Miller et al. 2013). CONCLUSÕES As alterações congênitas do coração e dos grandes vasos (ACCGV) são doenças importantes em cães de raças definidas. A idade é bastante variável, com a idade mediana de quatro meses. Clinicamente caracterizam-se por sinais de insuficiência cardíaca, como dificuldade respiratória, secreção nasal e cianose, e morte súbita. Estenose subaórtica foi o defeito mais comumente encontrado, seguido por defeito do septo atrial e persistência do arco aórtico direito. Múltiplos defeitos podem ocorrer no mesmo cão. As combinações encontradas frequentemente são: persistência do ducto arterioso associada com o defeito do septo atrial, estenose subaórtica com defeito do septo interventricular, e defeito atrial e ventricular. Edema e congestão pulmonares, ascite, e congestão passiva crônica do fígado são lesões extracardíacas frequentes nos casos de ACCGV. O conhecimento da frequência destas anomalias é fundamental para o diagnóstico diferencial e para determinar um tratamento adequado. REFERÊNCIAS Baumgartner C. & Glaus T.M. 2003. Angeborene herzerkrankungen beim hund: eine retrospektive analyse. Schweiz. Arch. Tierheilkunde 145(11):527-536. http://dx.doi.org/10.1024/0036-7281.145.11.527. Buchanan J.W. 1999. Prevalence of cardiovascular disorders, p.458-463. In: Fox P.R., Sisson D.D. & Moise N.S. (Eds), Textbook of Canine and Feline Cardiology. 2nd ed. W.B. Saunders, Philadelphia. Bussadori C., Pradelli D., Borgarelli M., Chiavegato D., D’Agnolo G., Menegazzo L., Migliorini F., Santilli R., Zani A. & Quintavalla C. 2009. Congenital heart disease in boxer dogs: results of 6 years of breed screening. Vet. J. 181(2):187- 192. http://dx.doi.org/10.1016/j.tvjl.2008.02.008. PMid:18400530. 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Bras. 38(1):94-98, janeiro 2018 DOI: 10.1590/1678-5150-PVB-4787 94 RESUMO.- Descrevem-se os aspectos epidemiológicos, clí- nicos, patológicos e imuno-histoquímicos de um surto de parvovirose cardíaca em filhotes de cães. O surto ocorreu em um canil localizado na cidade de Parnamirim, Rio Gran- de do Norte, região Nordeste do Brasil. De uma ninhada de nove filhotes, um foi natimorto e seis morreram entre 35-57 dias de idade após apresentarem sinais clínicos car- diorrespiratórios com evolução de 10 minutos a três dias. Dos seis filhotes que morreram, dois foram encaminhados para necropsia. No exame macroscópico, ambos os animais apresentaram discreta efusão pericárdica, coração marca- damente globoso, difusa palidez nas superfícies epicárdica e miocárdica e dilatação da cavidade ventricular esquerda. Nos pulmões, observaram-se áreas multifocais avermelha- das na superfície pleural e ao corte fluía líquido espumoso e levemente avermelhado. O fígado estava difusamente au- mentado de tamanho, com acentuação do padrão lobular e com áreas pálidas entremeadas por áreas escuras que, ao corte, se aprofundavam ao parênquima. Microscopica- mente observou-se miocardite linfohistiocítica, necrosan- te, associada a fibrose intersticial e corpúsculos de inclu- Surto de parvovirose cardíaca em filhotes de cães no Brasil¹ Erick P.F. Souto², Roberio G. Olinda², Dilane B.B. Almeida³, Verônica M. Rolim4, David Driemeier4, Verônica M.T. Nobre5, Franklin Riet-Corrêa5 e Antônio F.M. Dantas5* ABSTRACT.- Souto E.P.F., Olinda R.G., Almeida D.B.B., Rolim V.M., Driemeier D., Nobre V.M.T., Riet-Corrêa F. & Dantas A.F.M. 2018. [Outbreak of parvoviral myocarditis in puppies in Brazil.] Surto de parvovirose cardíaca em filhotes de cães no Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira 38(1):94-98. Hospital Veterinário, Laboratório de Patologia Animal, CSTR, Uni- versidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos, Av. Universitária s/n, Bairro Santa Cecília, Patos, PB 58708-110, Brazil. E-mail: dantas.af@pq.cnpq.br We describe the epidemiological, clinical, pathological and immunohistochemical as- pects of parvoviral myocarditis outbreak in puppies. The outbreak occurred in a kennel located in Parnamirim, Rio Grande do Norte, Northeastern of Brazil. In a litter of nine pups, one was stillbirth and six died between 35-57 days of age after cardiopulmonary clinical signs with evolution of 10 minutes to three days. Of the six puppies that died, two were sent for necropsy. On gross examination, both animals had discreet pericardial effusion, marke- dly distended heart, diffuse pallor in epicardial and myocardial surfaces and dilation of the left ventricular cavity. The lungs were observed multifocal reddish areas in the pleural sur- face and at cutting flowed foamed and slightly red liquid. The liver was diffusely increased in size, with lobular standard accentuation and pale areas interspersed with dark areas wich deepened in the parenchyma. Microscopically observed linfohistiocítica myocarditis, necrotizing, associated with interstitial fibrosis and basophilic intranuclear viral inclusions corpuscles in cardiomyocytes. In the lungs there were edema and interstitial pneumonia and in the liver was noted centrilobular to mediozonal degeneration and necrosis associa- ted with congestion and hemorrhage. The diagnosis was confirmed by immunohistoche- mistry. The parvoviral myocarditis can occasionally occur in puppies of bitches that have not been effectively vaccinated. This clinical form of the disease characterized by cardiores- piratory changes and hyperacute or acute death of the affected animals. INDEX TERMS: Parvoviral myocarditis, newborn dog disease, viral myocarditis, Parvovirus. 1 Recebido em 30 de maio de 2016. Aceito para publicação em 9 de dezembro de 2016. ² Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Av. Universitária s/n, Bairro Santa Cecília, Patos, PB 58708-110, Brasil. ³ Médica Veterinária autônoma, Affetto Pet Home Care, Rua Lúcia Vivei- ros 649, Bairro Neópolis, Natal, RN 59086-005, Brasil. ⁴ Setor de Patologia Veterinária (SPV), Faculdade de Veterinária (Fa- Vet), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS 91540-000, Brasil. 5 Docentes do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, UFGC, Av. Universitária s/n, Bairro Santa Cecília, Patos, PB 58708-110, Brasil. *Autor para correspondência: dantas.af@pq.cnpq.br Pesq. Vet. Bras. 38(1):94-98, janeiro 2018 95Surto de parvovirose cardíaca em filhotes de cães no Brasil sões virais basofílicos intranucleares em cardiomiócitos. Nos pulmões observou-se pneumonia intersticial e edema, e no fígado notou-se degeneração e necrose centrolobular a mediozonal associada à congestão e hemorragia. O diag- nóstico foi confirmado por imuno-histoquímica. A forma miocárdica da parvovirose canina pode ocorrer ocasional- mente em filhotes de cadelas que não foram efetivamente vacinadas. Essa forma clínica da doença caracteriza-se por alterações cardiorrespiratórias e morte hiperaguda ou agu- da dos animais afetados. TERMOS DE INDEXAÇÃO: Parvovirose cardíaca, doença de cães neonatos, miocardite viral, Parvovirus. INTRODUÇÃO Parvovirus canino é reconhecido como o agente etiológico das duas principais formas da parvovirose canina, a enteri- te necrótica, com altas taxas de morbidade e mortalidade, e a miocardite não supurativa, vista apenas ocasionalmen- te e com poucos relatos na literatura científica (Sime et al. 2015, Ocarino et al. 2014). As apresentações clínico-pato- lógicas das infecções por Parvovirus canino estão significa- tivamente relacionadas à idade do animal no momento da infecção (Robinson et al. 1980, Sime et al. 2015). A miocardite por Parvovirus canino pode ocorrer atra- vés de infecção intrauterina ou em filhotes com até oito se- manas de idade (Robinson et al. 1980, Lenghaus & Studdert 1984, Decaro & Greene 2012, Ocarino et al. 2014, Strom et al. 2015). Os cães morrem de forma repentina ou após um curto episódio de dispneia, vocalização, agitação e ânsia de vômito (Carpenter et al. 1980, Decaro & Greene 2012), podendo apresentar lesões generalizadas de insuficiência cardíaca congestiva aguda (Miller et al. 2013). Os cães que sobrevivem à forma aguda da doença podem tornar-se car- diopatas e desenvolver insuficiência cardíaca congestiva crônica (Decaro & Greene 2012, Sime et al. 2015). Geral- mente nessa forma miocárdica da doença não se observam lesões no intestino, local primário da infecção na grande maioria dos casos (Miller et al. 2013, Sime et al. 2015). O objetivo desse trabalho é descrever os achados epide- miológicos, clínicos, patológicos e imuno-histoquímicos da primeira descrição de um surto de parvovirose cardíaca em filhotes de cães no Brasil. MATERIAL E MÉTODOS Foram acompanhados casos de mortalidade em filhotes de cães. Os animais foram encaminhados para necropsia no Laboratório de Patologia Animal do Hospital Veterinário da Universidade Fe- deral de Campina Grande, Patos, Paraíba. Os dados epidemiológicos e sinais clínicos foram obtidos com o proprietário e o médico veterinário que acompanharam os ani- mais. Os filhotes foram necropsiados e fragmentos teciduais dos principais órgãos foram coletados, fixados em formol tamponado a 10%, clivados, processados rotineiramente e corados com he- matoxilina e eosina (HE). Secções histológicas do coração foram também submetidas à técnica de coloração de Tricrômico de Mas- son (TM) para evidenciação do tecido conjuntivo no miocárdio. Fragmentos de coração foram submetidos à imuno-histoquí- mica (IHQ) pelo método streptavidina-biotina ligada à peroxidase. A recuperação antigênica foi realizada com protease XVI (Sigma) durante 15 minutos. Para o bloqueio das reações inespecíficas utilizou-se leite desnatado em pó a 5%. Como anticorpo primário, utilizou-se anticorpo monoclonal anti-parvovirus (MCA 2064) na diluição de 1:1000 durante 14-16 horas (overnight) na tempe- ratura de 4°C. Posteriormente, utilizou-se anticorpo secundário biotinalado conjugado a streptavidina (kit LSAB, Dako) durante o período de 40 minutos, com 20 minutos em cada etapa. A revela- ção foi realizada com cromógeno 3-amino-9-etilcarbazol (AEC) e a contra coloração com hematoxilina de Meyer, montadas em meio aquoso. Controles positivos foram inseridos simultaneamente com as lâminas testadas e consistiam de casos testados previamente. RESULTADOS Em um canil localizado na cidade de Parnamirim, Rio Gran- de do Norte, região Nordeste do Brasil, eram criadas três cadelas adultas da raça Rottweiler e um cão macho sem raça definida. Todos os animais receberam vermífugo e vacinas comerciais contra raiva, parvovirose, cinomose, hepatite infecciosa canina, tosse dos canis, parainfluenza, coronavirose, e leptospirose causada pelos sorovares Lep- tospira canicola, L. grippotyphosa, L. icterohaemorrhagiae, e L. pomona, mas ocorriam atrasos na revacinação anual. Para combater ectoparasitas o proprietário aplicava pro- dutos à base de Fipronil nos cães e pulverizava o ambiente com produtos à base de Cipermetrina ou Amitraz. Em janeiro de 2015, uma das cadelas pariu uma ninha- da com nove filhotes, sendo um natimorto. Os oito filhotes remanescentes apresentavam-se clinicamente hígidos, pe- savam em média 0,5 kg cada, receberam colostro nas pri- meiras horas de vida e foram amamentados pela mãe até aproximadamente os 40 dias, sendo inserida ração comer- cial para filhotes a partir do vigésimo dia de vida. Os filhotes receberam vermífugo aos 15, 30 e 45 dias de vida e vaci- nas comerciais, aos 45 dias, contra parvovirose, cinomose, hepatite infecciosa canina, tosse dos canis, parainfluenza, coronavirose e leptospirose causada pelos sorovares L. ca- nicola e L. icterohaemorrhagiae. A cadela e os filhotes foram mantidos em um ambiente controlado para ectoparasitas e com acesso restrito a pessoas e outros animais. O primeiro filhote morreu aos 35 dias de vida. Num in- tervalo de aproximadamente 10 a 20 dias da primeira mor- te ocorreram mais cinco óbitos. Apenas dois filhotes não adoeceram. A idade, sexo, manifestações clínicas e evolu- ção clínica apresentados pelos animais doentes estão rela- cionados no Quadro 1. Quadro 1. Dados epidemiológicos, manifestações clínicas e evolução clínica em filhotes de cães com parvovirose cardíaca Cão Idadea Sexo Manifestações clínicas Evolução 1 35 F Extensão dos membros, contrações Aproxima- 2 46 M abdominais, vocalizações damente 3 50 F contínuas, taquicardia, 10 minutos 4 51 F dispneia, midríase e sopro 5 53 M cardíaco à auscultaçãob 6 57 F Cansaço, inquietação, inapetência, 3 dias soluços, vocalizações, contrações abdominais, taquicardia, dispneia, vômito, pescoço distendido e sopro cardíaco à auscultação a Dias, b Manifestações clínicas apresentadas pelos cães 1-5. Pesq. Vet. Bras. 38(1):94-98, janeiro 2018 96 Erick P.F. Souto et al. Dos seis filhotes que morreram, os animais 5 e 6 foram encaminhados para necropsia. O exame externo revelou bom estado corporal e mucosas pálidas. À necropsia, em ambos os animais, havia discreta efusão pericárdica, o co- ração estava marcadamente globoso e difusamente páli- do na superfície epicárdica (Fig.1A), e havia dilatação da cavidade ventricular esquerda com palidez miocárdica (Fig.1B). Nos pulmões, havia áreas multifocais avermelha- das na superfície pleural e ao corte fluía líquido espumoso e levemente avermelhado. Os fígados estavam difusamente aumentados de tamanho, com evidenciação do padrão lo- bular e com áreas pálidas entremeadas por áreas escuras que, ao corte, se aprofundavam ao parênquima. Além disso, foram vistos múltiplos filamentos de fibrina na superfície capsular e discreta quantidade de líquido avermelhado na cavidade abdominal. No exame histopatológico dos cães foi observada mio- cardite linfohistiocítica multifocal moderada (Fig.1C) e fibrose intersticial moderada (cão 5) e acentuada (cão 6). Os cardiomiócitos apresentavam-se necróticos, com perda Fig.1. Parvovirose miocárdica em filhotes caninos. (A) Coração marcadamente globoso e difusamente pálido. (B) Secção transversal do coração evidenciando dilatação da cavidade ventricular esquerda e palidez miocárdica. C) Infiltrado inflamatório linfohistiocítico multifocal moderado (setas). HE, obj.10x, Bar = 50µm. (D) Corpúsculo de inclusão viral intranuclear basofílico em cardiomiócito (seta). Inset, observa-se inclusão intranuclear. HE, obj.40x, Bar = 20µm. (E) Tecido conjuntivo fibroso substituindo as fibras cardí- acas. TM, obj.40x, Bar = 20µm. (F) Corpúsculo de inclusão viral intranuclear fortemente imunomarcado em vermelho (seta). Inset, evidencia-se imunomarcação do corpúsculo de inclusão viral. IHQ, obj.20x, Bar = 50µm. Pesq. Vet. Bras. 38(1):94-98, janeiro 2018 97Surto de parvovirose cardíaca em filhotes de cães no Brasil multifocal das estriações, eosinofilia citoplasmática e frag- mentação ocasional. No núcleo de alguns cardiomiócitos verificou-se material basofílico, homogêneo, pontilhado, de formato alongado e medindo aproximadamente 15x30 µm, preenchendo o núcleo e deslocando a cromatina nuclear perifericamente, característico de corpúsculo de inclusão viral intranuclear (Fig.1D, inset). Nos pulmões observou- -se pneumonia intersticial focalmente extensa e modera- da, caracterizada por espessamento dos septos interalve- olares por infiltrado inflamatório mononuclear moderado e hiperplasia de pneumócitos tipo II. No lúmen alveolar havia material fortemente eosinofílico, amorfo e homogê- neo (edema), formação de membranas hialinas, e marcada quantidade de macrófagos com citoplasma vacuolizado, ocasionalmente com pigmento marrom intracitoplasmáti- co (hemossiderina). Havia ainda necrose de pneumócitos tipo II, congestão e hemorragia. Nos fígados havia degene- ração e necrose centrolobular a mediozonal, acentuada, por vezes formando pontes, associada à congestão e hemorra- gia. No baço do cão 5 havia proliferação centrofolicular mo- derada e em outras áreas discreta rarefação da população linfoide, além de necrose multifocal discreta. Nas secções histológicas dos corações coradas por TM evidenciou-se tecido conjuntivo fibroso substituindo as fibras cardíacas (Fig.1E). Os corpúsculos de inclusões vi- rais observados nos cardiomiócitos foram fortemente imu- nomarcados pelo anticorpo monoclonal anti-parvovirus (MCA 2064) em vermelho por IHQ (Figura 1F, inset). DISCUSSÃO O diagnóstico de cardiomiopatia dilatada e miocardite causada por Parvovirus canino foi realizado com base nos achados epidemiológicos, clínicos e patológicos, e confir- mado pela técnica imuno-histoquímica. Todos os seis filho- tes acometidos nesse surto apresentavam-se dentro do in- tervalo epidemiológico que predispõe a forma miocárdica da doença, até oito semanas de idade. Essa predisposição se deve ao característico tropismo do Parvovirus canino por células com alta capacidade mitótica (Parrish 1995, Sime et al. 2015), o que pode ser observado no miocárdio de filhotes de cães até aproximadamente 45 dias de vida (Lenghaus & Studdert 1982, Lenghaus & Studdert 1984). Os filhotes eram mantidos isolados, em contato unica- mente com a mãe durante os primeiros 30 dias de vida, e sob estritas medidas higiênico-sanitárias adotadas pelo proprietário. Essa condição sugere que a fonte de infecção dos filhotes tenha sido a mãe, seja por um processo infec- cioso intrauterino ou pós-natal. Não podendo ser excluída a possibilidade de infecção por outras vias de transmissão e/ou fontes de infecção, já que além da mãe existiam outros cães no canil. Todos os cães adultos do canil foram efeti- vamente vacinados, mas houve um atraso de aproximada- mente quatro meses na revacinação no ano da ocorrência do surto. Esse atraso pode ter contribuído para que a cade- la tenha se tornado uma fonte de infecção para os filhotes e/ou tenha comprometido a transferência da imunidade passiva. A vacinação ou exposição natural das cadelas ao agente possibilita o desenvolvimento de altos títulos de anticor- pos, os quais podem ser transferidos aos filhotes, de forma transplacentária ou pelo colostro, conferindo-os proteção no período neonatal, de maior susceptibilidade (Meunier et al. 1984, Parrish 1995). Assim, essa forma da doença é descrita ocorrendo apenas ocasionalmente e em neonatos ou filhotes que não receberam imunidade passiva ou nasce- ram de cadelas não vacinadas (Meunier et al. 1984, Decaro & Greene 2012). Em estudos nos quais as cepas virais foram identifica- das, o Parvovirus canino tipo C tem demonstrado grande importância em casos de parvovirose entérica em animais previamente vacinados (Decaro et al. 2006, Rolim et al. 2014), o que evidencia uma ineficiência das vacinas comer- ciais ante esta cepa viral, já identificada no Brasil (Streck et al. 2009). A maioria dos filhotes morreu rapidamente num in- tervalo de dez minutos após apresentarem manifestações cardiorrespiratórias e em apenas um filhote a doença teve evolução de três dias. Esses achados são comumente vistos na forma miocárdica da parvovirose canina, pois a morte geralmente é súbita e por vezes sem sinais clínicos prévios (Lenghaus & Studdert 1984), mas pode-se obser- var ocasionalmente dispneia, choro, agitação, ânsia de vô- mito, alterações no eletrocardiograma e sopros cardíacos (Carpenter et al. 1980, Robinson et al. 1980, Gagnon et al. 1980, Lenghaus & Studdert 1984, Decaro & Greene 2012). Alguns animais podem sobreviver à fase aguda da doença, mas subsequentemente podem apresentar um quadro de insuficiência cardíaca crônica, tornando-se cardiopatas por toda a vida (Lenghaus & Studdert 1984). É possível que a infecção intrauterina do Parvovirus canino possa ter contribuindo para a ocorrência de um natimorto, apesar de não existirem evidências de que a in- fecção intrauterina ocorra espontaneamente, essa via de infecção já foi reproduzida experimentalmente (Lenghaus & Studdert 1984, Meunier et al. 1984). Os dois filhotes da ninhada que não apresentaram sinais clínicos passaram por avaliação clínica e não demonstra- ram nenhuma alteração cardiorrespiratória, o que sugere que não tenham sido infectados. Essa forma miocárdica da doença pode resultar na completa perda da ninhada (Len- ghaus & Studdert 1984), pois usualmente todos os filhotes da ninhada são infectados (Decaro & Greene 2012). As lesões microscópicas observadas nos animais ne- cropsiados foram características da forma miocárdica da infecção por Parvovirus canino. No caso 1, predominava a necrose de cardiomiócitos e os corpúsculos de inclusões virais intranucleares, enquanto no caso 2 havia um dis- creto predomínio de fibrose. A lesão primária é a necrose multifocal dos cardiomiócitos com secundário infiltrado inflamatório de intensidade variável. Os corpúsculos de in- clusões virais intranucleares basofílicos em cardiomiócitos são característicos (Robinson et al. 1980, Strom et al. 2015) e vistos mais frequentemente na fase aguda da doença. À medida que o processo patológico se cronifica, a fibrose passa a predominar (Lenghaus & Studdert 1984). Uma alteração promovida pela miocardite aguda é a cardiomiopatia dilatada (Elamm et al. 2012), vista em am- bos os animais necropsiados. A evolução de miocardite Pesq. Vet. Bras. 38(1):94-98, janeiro 2018 98 Erick P.F. Souto et al. para cardiomiopatia dilatada envolve três fases com prová- vel sobreposição entre elas, que se iniciam com a lesão mio- cárdica e ativação da imunidade inata, inflamação miocár- dica aguda com ativação da imunidade inata e adaptativa, e fibrose com consequente remodelamento cardíaco (Elamm et al. 2012, Mason 2003, Sime et al. 2015). Em ambos os cães foi possível observar lesões caracte- rísticas de insuficiência cardíaca congestiva, de caráter agu- do. As alterações circulatórias e degenerativas observadas nos pulmões e no fígado desses animais não são específicas da doença, mas achados comuns a quadros de insuficiência cardíaca congestiva esquerda ou mista, que podem ocorrer secundariamente a diferentes cardiopatias (Robinson & Robinson 2016). A pneumonia intersticial vista em ambos os casos, também já descrita, é provável que seja secun- dária à insuficiência circulatória e não pela ação direta do Parvovirus canino no parênquima pulmonar (Lenghaus et al. 1980). Também não foram observadas lesões nas células epiteliais das criptas intestinais nesses animais, o que cor- robora com os dados presentes na literatura científica que sugerem que na forma miocárdica da doença geralmente não se observam lesões nos intestinos (Miller et al. 2013). A cardiomiopatia dilatada secundária a infecção pelo Parvovirus canino deve ser diferenciada das demais cardio- miopatias dilatadas vistas nos cães que, embora as causas permaneçam desconhecidas, fatores genéticos, predisposi- ção familiar em cães de grande porte, deficiência nutricional de taurina e carnitina e hipotireoidismo têm sido reconhe- cidos como possíveis causas (Robinson & Robinson 2016). CONCLUSÃO A forma miocárdica da parvovirose canina pode ocorrer ocasionalmente em filhotes de cadela que não foi efetiva- mente vacinada e caracteriza-se por alterações cardiorres- piratórias e morte hiperaguda ou aguda dos filhotes afeta- dos, não existindo relatos anteriores de acompanhamento de casos no Brasil. Agradecimentos.- Ao CNPq pelas bolsas concedidas a E.P.F. Souto (mes- trado) e R.G. Olinda (doutorado). REFERÊNCIAS Carpenter J.L., Roberts R.M., Harpster N.K. & King N.W. 1980. Intestinal and cardiopulmonary forms of parvovirus infection in a litter of pups. J. Am. Vet. Med. Assoc. 176(11):1269-73. Decaro N. & Greene C.E. 2012. Canine viral enteritis, p.67-75. In: Greene C.E. (Ed.), Infectious Diseases of the Dog and Cat. 4th ed. Saunders, El- sevier, St Louis, MO. Decaro N., Martella V., Desario C., Bellacicco A.L., Camero M., Manna L., D’Aloja D. & Buonavoglia C. 2006. First detection of canine parvovirus type 2c in pups with haemorrhagic enteritis in Spain. J. Vet. Med. 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