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Artigo Cientifico IPOG - Pandemia e Legislação Trabalhista

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1 
 
 
 A legislação trabalhista no Brasil e a Pandemia: Uma 
reflexão sobre o trabalho em tempos de crise 
 
Nome completo - e-mail do autor (fonte 12, negrito) 
Nome do curso 
Instituto de Pós-Graduação - IPOG 
Cidade, UF, data completa (dia, mês e ano) 
 
 
Resumo 
A presente pesquisa tem como objetivo principal estabelecer reflexões sobre a 
legislação brasileira trabalhista e a pandemia, criando pontes históricas e socias sobre 
como em momentos de crise os direitos trabalhistas são colocados sobre ataques em 
favor do benefício dos empregadores. Para isso é feito um breve histórico desde a 
criação da CLT, na Era Vargas até Reforma trabalhista no governo de Michael Temer. 
Em seguida vem uma serie de problematizações acerca da precarização do trabalho 
na pandemia e como a legislação trabalhista atua para remediar essas precarizações 
 
Palavras-chave: Legislação Trabalhista. Pandemia. Precarização. CLT. Trabalho 
 
1. Introdução 
É quase que um consenso absoluto dizer que a pandemia do COVID-19, 
alterou de diversas formas a sociedade no Brasil e no restante do mundo. E com as 
relações de trabalho não seria diferente, já que em uma sociedade capitalista o 
trabalho é um dos pilares para manutenção e perpetuação do sistema (Marx, 2013)1. 
Com diversos setores da vida social paralisados ou funcionando de maneira adaptada, 
muitas das relações de trabalho tiveram que ser alteradas, seja para home office2, 
sendo realizadas com quantidade mínima de funcionários presenciais ou funcionando 
com diversas medidas de segurança médica para uma realidade pandêmica. 
Pensando nisso esse trabalho tem por objetivo principal entender, refletir e 
problematizar as relações de trabalho e as leis criadas durante o período da pandemia 
do coronavírus. 
 
1 É importante deixar claro que quando falamos de “trabalho” neste trecho e em quase todos outros que virão 
durante o presente texto, estamos nos referindo ao conceito de trabalho descrito por Marx em seu livro O Capital 
(2013), como um acordo mercadoria l entre empregador e empregado, onde um trabalhador vende sua força de 
trabalho e produtividade por capital. Diferenciado de um conceito mais amplo do léxico trabalho. 
2 Termo vindo da Língua Inglesa que pode ser traduzido escritório em casa, trata-se de uma nomenclatura para 
especificar a relação de emprego onde o trabalhador não precisa estar de forma presencial na empresa para cumprir 
suas obrigações empregatícias. 
2 
 
 
Ao falar de legislação trabalhista se faz oportuno discutir brevemente como 
essas leis surgem no Brasil e como elas se estabelecem nos dias atuais. Os primeiros 
rascunhos de leis que garantem os direitos trabalhistas começaram a ser rabiscados 
no século XVIII, nas indústrias carvoeiras na Inglaterra. Leis essas que foram 
adquiridas através das reivindicações e organizações feitas pelos próprios 
trabalhadores, que buscavam por melhores condições de trabalho nas fábricas. O que 
corrobora com a afirmação feita pelo Dr. Silvano Alves Alcântara no livro “Legislação 
trabalhista e rotinas trabalhistas” onde o autor fala sobre o início das lutas trabalhistas 
no Inglaterra. 
Falando do Brasil, especificamente, quando se trata de leis trabalhistas temos 
três momentos importantes. O início dos direitos trabalhistas em terras brasileiras no 
governo Getúlio Vargas com a criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), 
que garantem a maiorias dos direitos que conhecemos hoje, como salário mínimo, 
jornada de 8 horas diárias, férias e liberdade sindical. Durante ditadura militar que 
vários desses direitos foram tomados, como o direito a greve. E o recente governo 
Temer que homologou uma reforma trabalhista. Discutiremos no desenvolvimento do 
texto qual é o papel de cada um desses momentos na formação identitária das 
relações trabalhista no nosso país. (ALCANTARA, 2006) 
O trabalho a distância, remoto, home office, teletrabalho seja qual for a 
nomenclatura dada para essa forma de trabalho não se iniciou na pandemia, na 
verdade esse tipo de emprego vem ganhando seu espaço no mundo corporativo 
desde do final da década de 90, com a popularização dos computadores e com acesso 
à internet se tornando cada vez maior e mais comum. Porém, só em 2017, com a lei 
13.467 essa pratica foi de fato regulamentada e entrou na CLT. 
Dito isso, o presente trabalho se concentrará em analisar as relações de 
direito, trabalho, pandemia e como essa adversidade que foi a COVID-19 alterou o 
mundo do trabalho e como essas alterações se refletem nesse período pós-
pandêmico. Perpassando primeiramente por um histórico sobre a luta por direitos 
trabalhistas no nosso país, para em seguida conseguir fazer problematizações acerca 
3 
 
 
das medidas tomadas no período pandêmico e como elas se mostram após o “fim” 
desse período. 
2. Desenvolvimento 
Legislação Trabalhista no Brasil: Um Breve Histórico 
Foi no controverso governo de Getúlio Vargas em 1934 que as primeiras leis 
trabalhistas foram criadas no Brasil, porém o verdadeiro marco aconteceu com a 
criação da CLT em 1943, que homologava todas leis referente aos direitos dos 
trabalhadores em um único documento, ao todo foram escritos 922 artigos. A CLT 
hoje ainda é o principal documento governamental que define leis e direitos dos 
trabalhadores no Brasil. 
 
Figura 1 - Recorte do jornal impresso do Estadão sobre a criação da CLT 
 Muito do que foi decretado nessa primeira versão de 1943 permanece 
inalterada até os dias de hoje, como a carga horaria de 8 horas diárias, o direito a 
férias remuneradas, a liberdade sindical. Contudo, é importante destacar que essas 
conquistas trabalhistas só aconteceram por que as organizações sindicais (não 
vinculadas ao estado), estavam cada vez mais fortes, e as organizações operarias 
inspiradas por movimentos estrangeiros cada vez mais próximos de greves e motins. 
E como era de comum no século XX, até mesmo nas periferias do capitalismo como 
é o caso do Brasil, o medo de ideologias comunistas. As historiadoras Heloisa Starling 
e Lilia Schwarz (2015) relatam que Vargas tinha um objetivo duplo com a criação da 
CLT. 
4 
 
 
Numa (das partes da proposta), Vargas criou as leis de proteção ao 
trabalhador – jornada de oito horas, regulação do trabalho da mulher e do 
menor; lei de férias, instituição da carteira de trabalho e do direito a pensões 
e à aposentadoria. Na outra, reprimiu qualquer esforço de organização dos 
trabalhadores fora do controle do Estado – sufocou, com particular violência, 
a atuação dos comunistas. Para completar, liquidou com o sindicalismo 
autônomo, enquadrou os sindicatos como órgãos de colaboração com o 
Estado e excluiu o acesso dos trabalhadores rurais aos benef ícios da 
legislação protetora do trabalho. (STARLING, SCHWARZ, 2015. p. 3) 
As medidas de Vargas de acordo com as historiadoras foram em muito 
inspiradas nas de Benito Mussolini, líder fascista italiano, que com a Carta del Lavoro3 
reprimiu as organizações sindicais do operariado e manteve afastado qualquer sinal 
de ameaça de revolta comunista ou anarquista. No Brasil, durante o Estado Novo4 
Vargas usou da CLT para controlar as massas trabalhadoras, junto com uma 
exaltação da sua personalidade nas rádios e a violência militar nas ruas, reprimindo 
qualquer sinal de ameaça ao governo vigente. (FAUSTO, 2001) 
 
Figura 2 - Getúlio Vargas assoma a CLT, em 1943 
Foi em 1963, que o então presidente João Goulart sanciona a Lei 4.214/1963, 
o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR), que estendia os direitos previstos na CLT aos 
trabalhadores urbanos para os trabalhadores rurais como direito a sindicatos, salário 
mínimo, férias e repouso remunerados, aviso prévio e indenizações. Sendo a primeira 
lei que pensava em especifico nos camponeses, até então esquecidos das políticas 
públicas pelos líderes populistas. É importante ressaltar que nesse período as 
associações de trabalhadores do campo estavam cadavez mais fortes e organizadas, 
tendo como maior exemplo as ligas dos camponeses. Entretanto, em um movimento 
 
3 A Carta del Lavoro, que pode ser traduzida para Carta do Trabalho foi o documento decretado na Itália 
fascista de Mussolini que apresentava as orientações que guiariam as relações de trabalho na sociedade italiana 
em especial entre empregadores, trabalhadores e Estado 
4 Estado Novo, ou Terceira República Brasileira, foi um período histórico de uma ditadura brasileira cabeceada 
por Getúlio Vargas que se iniciou em 10 de novembro de 1937, se mantendo até 29 de outubro de 1945. 
Caraterizada pelo anticomunismo, a exaltação do nacionalismo e por seu t ruculento autoritarismo. 
5 
 
 
contracorrente após, a criação do ETR, grandes números de trabalhadores do campo 
foram mandados embora de seus trabalhos pelos fazendeiros que se recusavam a 
arcar com os novos direitos. Passando agora a contratar volantes (trabalhadores 
temporários), que não gozavam das mesmas leis que trabalhadores permanentes, 
assim isentando ruralistas de arcar com os adquiridos direitos do povo do campo. 
(FAUSTO, 2001) 
Quando os militares em 1964 tomaram o poder através do golpe de estado, 
logo declaram que os direitos trabalhistas conquistados pelo povo permaneceriam 
sem alterações e a classe trabalhadora continuaria a gozar de tais direitos: 
O Comando Supremo da Revolução, tendo tomado conhecimento de que 
indivíduos ligados ao peleguismo e que infestam os meios sindicais estão 
desenvolvendo campanhas e boatos para provocar inquietações nos meios 
operários, vem uma vez por todas esclarecer os seguintes pontos: 1 – A 
Revolução vitoriosa levada a cabo pelas Forças Armadas, com apoio do 
povo, considera irreversíveis as conquistas sociais legítimas contidas na 
legislação trabalhista em vigor; 2 – Os trabalhadores continuarão em pleno 
gozo de seus direitos, agora mais do que antes, porque estão livres da 
inf luência político-partidária; 3 – A Justiça do Trabalho permanece em pleno 
funcionamento em sua missão de defesa dos justos interesses e de 
harmonizar as divergências entre empregados e empregadores; 4 – O 
Comando Supremo da Revolução está certo de que os trabalhadores 
brasileiros saberão não dar ouvidos a estes boatos, desprezando os 
elementos perturbadores, saberão cumprir seus deveres e obrigações, 
inseparáveis que são dos direitos constantes da legislação trabalhista 
brasileira. (CESARINO, 1970, p. 88) 
Entretanto, o que se vê durante regime militar é um desmonte de varias 
dessas leis. Salários estagnados, sindicatos passam a serem ilegais, assim como a 
Liga dos camponeses e a UNE (União Nacional dos Estudantes), o consagrado 
historiador brasileiro Boris Fausto aponta em seu livro “Trabalho Urbano e Conflito 
social” aponta que mais de 230 artigos da CLT foram modificados ou revogados logo 
nos 5 primeiros anos do regime, esse desmonte dos direitos trabalhistas foi justificada 
sob uma prerrogativa de “recuperar economia do país”. (FAUSTO, 1976) 
6 
 
 
 
Figura 3 - A Passeata dos Cem Mil em 26 de junho 1968 
Após o fim da ditadura militar e a reorganização democrática do país, muitos 
dos decretos que foram alterados e revogados voltaram a serem oficiais. E o Brasil 
um grande período sem grandes alterações nos direitos trabalhistas. Até constituição 
de 1988, que com a pressão da sociedade civil fortaleceu os direitos trabalhistas e 
conquistou outros como: proteção contra demissões arbitrarias, piso salarial, licença 
maternidade. 
Após a tomada do poder da então presidenta eleita Dilma Rousseff por meio 
de um impeachment, Michael Temer assume o poder em 2016 e logo começam as 
movimentações para uma reforma trabalh ista, sob justificativa que a CLT está 
desatualizada e que uma reforma é essencial para “recuperar a economia e gerar 
empregos”, discurso similar com o que aconteceu no desmonte da CLT durante o 
regime militar. Amparado por um discurso neoliberalista, ideologia está que vem 
ganhando cada vez mais espaço no discurso político brasileiro, com a ideia que para 
geração de empregos os direitos dos trabalhadores devem ser retirados ou atenuados 
em favor dos empregadores. 
 A pesquisadora social e professora de economia da USP (Universidade de 
São Paulo) Valquíria Padilha, alega que o conceito vendido pela reforma trabalhista, 
sustentado pelo discurso liberal, que os empregados podem negociar questões 
trabalhistas diretamente com os empregadores sem auxilio e aparato do estado é 
fantasioso, porque em um país com nível de desemprego tão alto como é o caso do 
Brasil, o empregado tem muito pouco o que barganhar, o que abre espaço para 
7 
 
 
exploração, já que o trabalhador tem muito mais a perder do que o empresário. Como 
é o caso da lei aprovada na reforma sobre banco de horas extras. (HERMANSON, 
2019) 
 
Figura 4 – Parlamentares protestando contra reforma trabalhista de 2017 
Neste sentido, essa reforma trabalhista foi discretamente desenhada para 
fortalecer empregadores, deixando os interesses do mercado acima das 
necessidades do proletariado. Com essa construção, no dia de 13 de julho de 2017 
por meio da Lei no 13.467, a reforma trabalhista é aprovada. 
O objetivo desse tópico não foi apenas resumir os quase 80 anos desde a 
criação da CLT, foi também apontar como direitos trabalhistas sempre foram 
conquistados através de organização e luta civil e como de tempos em tempos, esses 
direitos duramente conquistados são questionados decorrer da história, sempre com 
motivações muito parecidas. 
Pandemia e a precarização do trabalho 
A pandemia do COVID-19, também conhecida como pandemia de 
coronavírus, é uma pandemia ainda em curso5, causada pela doença SARS-CoV-2. 
 
5 Apesar de que o grande surto da doença já tenha passado e as medidas de isolamento esteja m mais frouxas, 
devido a vacinação e outros fatores, o Covid-19 ainda é considerado uma pandemia pela OMS (Organização 
Mundial de Saúde). E justamente por se trata r de eventos que ainda estão em andamento, é importante ressaltar 
que apesar do esforço na autoria deste texto é impossível ter distanciamento histórico para analisar esses eventos 
com muita precisão, por ainda não existir uma distância cronológica dos fatos para analises e reflexões mais gerais. 
8 
 
 
Identificada pela primeira vez em Wuhan, na China em dezembro de 2019, o vírus em 
questão de meses se espalhou por todo o mundo. Causando mais de 6 milhões e 
meio de óbitos por todo globo e levando a sociedade a adotar severas medidas de 
isolamento e distanciamento social. Medidas essa que por sua vez impactou de forma 
severa o mundo do trabalho, aumentando o desemprego, por que vários setores 
tiveram que parar de funcionar ou funcionar com equipes reduzir, um aumento 
gigantesco da categoria de home office entre outras mudanças e adaptações que 
impactaram fortemente o mundo do trabalho. 
 
Figura 5 – A Times Square, rua mais movimentada do mundo em 2020 em Nova Iorque 
Falando especificamente sobre legislação brasileira o home office, trabalho 
remoto, trabalho à distância ou qualquer outra nomenclatura para serviços 
remunerados desenvolvidos fora das instalações dos empregadores é entendido 
como teletrabalho e foi em 2017 com a reforma trabalhista que surge nos decretos 
oficiais que leis que regulamentam essa modalidade de trabalho, mesmo que essa 
pratica de trabalho aconteça um tanto quanto a isso e de forma até expressiva, claro 
que não tanto quanto nesse momento “pós” COVID. A Lei 13.467/2017 define essa 
modalidade da seguinte forma “a prestação de serviços preponderantemente fora das 
dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de 
comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo”. 
A precarização dos trabalhos vem sendo desenhada muito antes da 
pandemia, contudo foi com o surto do coronavírus que isso ficou ainda mais exposto. 
 
Dito isso, em qualquermomento que esta pesquisa se refere a pandemia do COVID-19 como algo que já passou 
trata-se de uma abstração teoria. 
9 
 
 
Um importante dado a se levar em conta quando muitos dos trabalhos que eram 
desenvolvidos nas dependências do empregador e com a pandemia se tornaram 
trabalhos remotos é que a maioria dos brasileiros não tem tecnologia adequada para 
realizar seus serviços em home office. 
Góes, Martins e Nascimento (2020) apontam baseados nos dados fornecidos 
pelo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplica (Ipea), que apenas 22,7% dos 
trabalhadores brasileiros tem acesso a material tecnológico para realizar o 
teletrabalho de suas casas e a lei do teletrabalho de 2017, exime os empregadores 
de fornecer esse material, deixando explicito apenas que caso o empregador ofereça 
esses recursos eles não podem ser inseridos como parte da remuneração. E com os 
serviços agora sendo feitos nas residências dos empregados parte dos gastos para 
os realizar como energia, acesso a internet, entre outros passam a ser do funcionário, 
já que na legislação que se refere ao teletrabalho os patrões são eximidos de qualquer 
obrigação de arcar ou auxiliar nestes custos (BRASIL, 2020). Outro fator importante a 
se destacar é que mesmo entre os 22,7% que dispõem de tecnologia adequada para 
desempenhar o teletrabalho, da forma inesperada que a realidade da pandemia os 
jogou para essa nova modalidade, sem preparação para tal impossibilita que a maioria 
possa desempenhar suas funções com a mesma eficácia que antes, já que não 
tiveram preparação para tal. 
 
Figura 6 – O trabalho remoto na pandemia 
 Esse movimento de precarização do trabalho e passar parte dos custos do 
trabalho para os próprios funcionários também ocorre em outro setor que teve grande 
crescimento nos últimos anos e com a pandemia, que são os serviços oferecidos por 
10 
 
 
aplicativos, que em tese conecta servidores com consumidores de forma simples e 
rápida. Esse tipo de relação ganhou notoriedade em 2013, com a empresa Uber, que 
tem como proposta comercial unir motoristas a passageiros usando seu aplicativo. 
Contudo, esse tipo de relação não se resume a um serviço ou a uma empresa, sendo 
que atualmente existem uma variedade imensa de aplicativos que oferecem os mais 
variados trabalhos como motoristas, entregadores, professores, cuidadores, 
domesticas. Todos com a ideia que o próprio trabalhador vai gerir seu trabalho 
quando, em vias de fato essas empresas detentoras das tecnologias ficam com boa 
parte do lucro dos serviços realizados e eximem de obrigações com direitos 
trabalhistas e fiscais. (SLEE, 2017) 
 
Figura 7 – Entregador de aplicativo de delivery 
durante pandemia em 2021 
Em um artigo que relata exatamente sobre trabalhadores que foram demitidos 
na pandemia e começaram a trabalhar como entregadores nesses aplicativos, Lucila 
Bezerra escreve e expõe relato, exatamente sobre a questão discutida acima sobre 
esse movimento de transferir parte dos custos da realização do trabalho para o próprio 
trabalhador: 
Vale ressaltar que todos os equipamentos individuais de proteção, seja álcool 
em gel, máscara e luva, é tudo sob o custo do motoqueiro, ou ciclista. Não 
temos suporte. [...] Eu estava pilotando, tinha óleo na pista e eu acabei 
sofrendo um acidente. Como não estamos assegurados, quem custeou todos 
os gastos com as escoriações que tive fui eu mesmo (Bezerra, 2020). 
Empresas de telemarketing, como a empresa de telefonia e internet Oi, 
também adotaram o teletrabalho na pandemia em grande escala e mesmo após fim 
do isolamento social e o afrouxamento das medidas de distanciamento, grande parte 
das equipes de telemarketing dessas empresas continuam trabalhando em 
11 
 
 
modalidade de home office, deixando nítido como essas relações que de alguma 
forma passam custos que normalmente seriam dos empregadores para os 
funcionários são lucrativos para as empresas, mesmo que para isso o trabalhador seja 
cada vez mais explorado. E com o desemprego em níveis tão altos impendem que os 
empregados possam de fato negociar isso como o discurso liberal prega. 
Talvez os mais afetados com a precarização do trabalho na pandemia sejam 
os profissionais da saúde, que são a linha de frente em combate ao vírus. O Brasil é 
o país com o maior número de trabalhadores da enfermagem mortos por Covid-19 no 
mundo. Com Hospitais com superlotação, enfermeiros trabalhando muito além das 40 
horas semanais e muitas vezes em condições extremas, evitar a contaminação é uma 
tarefa quase impossível como denúncia o jornalista Dondossola (2020) em sua 
pesquisa que reúne relatos sobre profissionais da saúde, usando fraudas para evitar 
idas no banheiro, dormindo em colchonetes no chão. 
Como os profissionais de saúde são o grupo de risco com mais contato com 
o vírus, acabam que mesmo que quando não estão no trabalho se cria um 
distanciamento da própria família por medo de levar o vírus para casa, assim criando 
um medo constante e um sentimento de solidão nesses trabalhadores, que na maioria 
não tem acesso a apoio psicológico profissional para orientar e tratar essas questões. 
Poderíamos citar e discorrer sobre outras profissões que que foram altamente 
precarizadas durante a pandemia, como é o caso dos professores, principalmente os 
do ensino básico regular, que se nenhum preparo tiveram que se adaptar ao trabalho 
remoto, o que causou roubos gigantescos na educação brasileira que estudiosos 
teorizam que só vão poder serem de fato observados com alguma precisão daqui 
anos. 
Expostas problemáticas advindas com a pandemia, pode ser observado que 
desde a criação dos direitos trabalhistas, que por sua vez foi criada como uma 
alternativa para conter o descontentamento da sociedade civil, a CLT vem momentos 
e momentos históricos sendo colocada sob dúvida, mas nunca em favor de melhores 
condições trabalhistas para os empregados. Mas, sempre apoiados em discursos 
falaciosos sobre recuperação da economia nacional e criação de empregos, mas o 
percentual de desemprego não desce e desde a reforma trabalhista em 2017, que se 
12 
 
 
apoiou nesse discurso, o desemprego no Brasil só aumentou. O que corrobora com a 
problemática levanta no decorrer do artigo que o nível auto de desemprego é bom 
para os empregadores, por que deixa os trabalhadores sem opção de escolha, ou é 
explorado e aceita ter seus direitos negligenciados ou são mandados embora e 
subsistidos pelo enorme numero de pessoas que procuram emprego. A pandemia 
deixou claro essa precarização do trabalho que já vem sendo desenhada há tempos, 
jogando luz sobre contradições e falácias. 
3. Conclusão 
Pensar em direitos trabalhistas, é pensar nos trabalhadores, ou ao menos em 
tese deve ser. Dito isso, é curioso como desde o inicio dos direitos trabalhistas no 
Brasil com a criação da CLT no governo de Getúlio Vargas, o interesse principal 
parece não ser o trabalhador. Se desdobrando para pandemia a precarização do 
trabalho acentua um desmonte de relações trabalhistas concretas e com aparato dos 
diretos conquistados, para relações de trabalho que cada vez mais benéficas para os 
empregadores, mesmo que isso aumente a exploração da classe trabalhadora e as 
impeça de ascender economicamente. 
 No todo destas construções, se estendendo-se com a pandemia, nas mais 
diversas modalidades: os canais de trabalho e os contratos empregatícios 
precarizados adquirem maior dimensão em uma conjuntura de reforma trabalhista 
calcadas em ideologias liberais, que por sua vez refletem nas políticas negativas do 
governo durante a pandemia na questão trabalhista, isto é, a exploração do 
trabalhador é um projeto. 
As oportunidades de trabalho inclinam-se a se tornarem cada vez mais 
distantes de empregos que estejam associados aos direitos trabalhistas decretados 
na CLT, principalmente o trabalho remoto (home office) e os empregos via aplicativos 
de serviços(Uber, 99 Pop, Ifood, Rapii, GetNinja, etc.). Neste sentido, esse estudo 
também se coloca como uma alerta para que mais estudos e pesquisas para criar um 
arcabouço teórico que evidencie cada vez mais a necessidade de que essas 
modalidades de trabalho, sejam amplamente regulamentadas de acordo com a CLT 
e que os trabalhadores que nela desejem atuar possam ser amparados pelos direitos 
que foram conquistados pelo povo. Pensando assim, é importante ressaltar que esse 
estudo não tem como foco e nem se conclui que esses tipos de trabalho devam deixar 
de existir ou serem extintos de alguma forma, mas que eles se adequem a moldes 
13 
 
 
que atendem necessidades dos trabalhadores e dos consumidores e não só dos 
empregadores e detentores das tecnologias (no caso dos apps). E não só as politicas 
publicas dessas modalidades devem ser inseridas, como as já existentes devem ser 
ainda mais fortalecidas. Para assim de vez combater o desemprego e aumentar o 
poder aquisitivo da população em geral, que beneficia tanto o trabalhador com 
qualidade de vida, quanto os empresários fazendo o capital girar e o estado com 
arrecadação maior de impostos. E superar essa ideia de idiocrata de periferia do 
capitalismo que só funciona se explorar a população trabalhadora a exaustão e a 
recompensando monetariamente com salários que mão dão para necessidades 
básicas. 
Este artigo, então conclui-se que há um movimento cilício de ataques e 
desmonte as leis trabalhistas, se embasando sempre em benefício dos interesses 
econômicos dos empregadores, mesmo que isso force uma exploração trabalhadora. 
Que a pandemia foi sim um evento sem precedentes, que fez que os empregos 
precarizados aumentassem em níveis antes jamais vistos, mas ela não é a única 
culpada por esse aumento da precarização dos trabalhos e que já vinha sendo 
organicamente desenhado a algum tempo esse desmonte das leis trabalhistas, mas 
o surto de coronavírus no mundo acelerou o processo, jogando luz sobre a questão. 
E deixando claro que nestes momentos de crise que os trabalhadores e os pequenos 
empreendedores são os mais afetados, principalmente aqueles de situação 
econômica mais fragilizada. 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
Referências 
ALCANTARA, Silvano Alves. Legislação trabalhista e rotinas trabalhistas. São 
Paulo, 2006. 
ANTUNES, Ricardo. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil II. São Paulo: 
Boitempo, 2013 
ASSIS, Denise. Home Office promete ser um dos principais legados da pandemia 
do coronavírus. In: AUGUSTO, Cristiane B.; SANTOS, Rogério D. Pandemia e 
pandemônio no Brasil. São Paulo: Tirant Lo Blanch, 2020. 
BEZERRA, Lucila. Precarização: trabalhadores demitidos na pandemia se 
tornaram entregadores de apps. Brasil de fato, Seção Geral, São Paulo. 
BRASIL. Decreto n° 13.467/2017. Brasília: Diário Oficial da União, 2020. 
BRASIL. Ministério Público do Trabalho. Procuradoria Geral do Trabalho. Nota 
técnica: GT COVID 19:11/2020. Brasília: MPT/PGT, 2020. 
CESARINO, Junior. Direito Social, 1970. 
DONDOSSOLA, Edivaldo. Imagens mostram profissionais da saúde dormindo no 
chão do Hospital do Maracanã. G1, Seção Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial do 
Estado, 2001. 
FAUSTO, Boris. Trabalho Urbano e Conflito Social. São Paulo: Difel, 1976. 
HERMANSON, Marcos. O que mudou em 76 anos de CLT? Conheça as principais 
alterações desde a Era Vargas, passando pela Constituição de 88 e a reforma 
trabalhista. São Paulo: Brasil de Fato, 2019. 
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