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O Anel de Vidro
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou.
Assim também o eterno amor que prometeste,
— Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.
Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, —
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou
Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste.
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste.
O anel de vidro - Análise
O valor que aquele anel tinha para a bela (possivelmente, tá parecendo arcaísmo, canção de sesta) era o mesmo que o amor. Para ela, a saudade que ela sentia, se firmava no anel, que enquanto o amor existisse, o anel também existiria. Desse modo, o quebrar do anel significa o fim do amor, o fim daquilo que ela tanto cultivou e que pensou ser eterno, se quebrou, e que acabou. De um outro modo, o anel representava o próprio amor que o rapaz sentia por ela, por deixá-la só, e ir a guerra (como era costume no tempo em que a poesia fora escrita), o amor, que não foi conservado, tratado, se acabou. O amor que o rapaz dera não era forte, era de vidro, frágil, fraco, não era um amor verdadeiro.
O poema O Anel de Vidro é um retrato perfeito da singularidade da poética de Manuel Bandeira. Ao se fazer a leitura do título do poema a primeira expectativa que o leitor constrói é a imagem de uma ciranda repleta de rimas bem casadas e uma estrutura perfeita, já que o mesmo remete à cantiga de roda Ciranda Cirandinha. Porém na medida em que autor apresenta os versos é perceptível a liberdade na organização das palavras e idéias, não estando eles presos às criteriosas estruturas dos poemas de outros períodos literários. Um exemplo dessa liberdade ocorre na primeira estrofe “Aquele pequenino anel que tu me deste,/— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou/Assim também o eterno amor que prometeste,/— Eterno! era bem pouco e cedo se acabou”. Percebamos que os termos Ai de mim e Eterno aparecem separados do restante da frase em que fazem parte dando a entender que se tratam de uma informação adicional dada pelo autor. Essas interrupções mostram a liberdade do autor em escrever de forma livre sem rebuscamentos. Percebe-se ainda nesse poema que por mais que o tema esteja relacionado a uma decepção amorosa há uma ausência de drama e melancolismo. As palavras são colocadas com tanta firmeza a ponto da situação retratada ser plausível de acontecer com qualquer pessoa. A última estrofe retrata a autenticidade das palavras de Manuel Bandeira, “Não me turbou, porém, o despeito que investe/Gritando maldições contra aquilo que amou./De ti conservo no peito a saudade celeste/Como também guardei o pó que me ficou/Daquele pequenino anel que tu me deste. 
Outro ponto que chama a atenção nesse poema é o fato dele retratar um fato do cotidiano que é a decepção amorosa de forma poética sem perder o teor de veracidade. Quanto à estrutura do poema é perceptível a liberdade na distribuição dos versos e estrofes. O Anel de vidro apresenta três estrofes, sendo as duas primeiras com 4 versos e a última com 5 versos.
Você mencionou em seu texto que o tema do poema está relacionado à “decepção amorosa”, mas sem drama ou melancolismo, próprios do Romantismo. Essa oposição é uma das características do Modernismo, e tantas outras características modernas que você destacou muito bem no poema de Bandeira!
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, 27 de dezembro de 1947
O bicho - Análise
Este poema de Manuel Bandeira relata uma cena cotidiana, em que qualquer pessoa poderia se deparar com situação semelhante. O autor utiliza uma linguagem coloquial e acessível, recorrendo à simplicidade, característica tão marcante em sua obra.
Há uma surpresa preparada para o leitor… o texto se inicia com refinada transitoriedade, talvez se perceba até mesmo o silêncio de uma rua vazia, ecoando alguns movimentos solitários e pontuais. Porém, há perplexidade quando se anuncia que o bicho descrito, que poderia se passar despercebido, na realidade é um homem.
Como se pode observar, este poema foi escrito na cidade do Rio de Janeiro, dois dias após o Natal, portanto a cena se teria realizado no eco das festas comemorativas e de fartura. O personagem estaria buscando restos das alegrias de outras pessoas, evidenciando aí as desigualdades sociais de uma cidade urbana.
O poema intensifica a dinâmica da fome: não examinar nem cheirar demonstra ações imediatas e vorazes, próprias de um ser irracional, a que se reduz um homem diante a calamidade. Estar rebaixado além do cão, do gato e do rato introduz o impacto emocional do expectador, que impotente observa. Impotente, porém não passivo, pois denuncia através da palavra as condições de sofrimento e desumanidade da miséria. Ver uma pessoa na rua numa grande cidade revirando o lixo talvez não causasse tamanha comoção, pois que o hábito de conviver com a pobreza banaliza-a. Manuel Bandeira a coloca no seu devido patamar de sensação: a da repúdia, a da lamentação, pois este olhar verdadeiro diante um homem em necessidades extremas é o de identificação, de empatia.